Wednesday, December 21, 2005

Nas terras da Escandinávia

memorial de Sarah Victoria Batland

Lema da Rainha: Guds hjælp, folkets kærlighed, Danmarks styrke.*


As festas finalmente se aproximaram. Eu contava os dias para a chegada do natal, a mais importante comemoração do ano para mim. Já haviam passado três dias desde que o Expresso Hogwarts havia me deixado no centro de Londres, onde a seleção de armários de papai já estava à minha espera. Felizmente dessa vez Amiel estava no meio da tropa. Amiel é o segurança que me acompanha desde os três anos de idade. É fiel às ordens de papai, mas não me trata como uma prisioneira. È meu aliado, companheiro, confidente. Amigo, pode-se dizer.

Em Hornebek, na Dinamarca,
as folhas caem sobre o mar.
Vão em lufadas cair nas ondas,
caem nas barcas que vão pescar.


Eu não podia estar mais feliz. Danna havia embarcado de mala e cuia para a colônia de férias, acompanhada pelos comparsas da escola. Não que eu odeie a minha irmã, sei que o Natal é época de encher o coração de amor, paz e perdão, mas tenho que confessar que me sinto muito mais tranqüila, calma e segura quando ela está longe. Serão três semanas inteirinhas de paz e harmonia, onde poderei estudar em paz, ler meus livros e passear com meu melhor amigo.

Sim, Melchior veio comigo à Dinamarca, nós sempre costumamos passar as festas de fim de ano juntos. Como a família dele é judia, eles não comemoram o Natal. Melchior então passa as férias comigo, e nós sempre nos divertimos muito. Esses três dias fizeram muito a nós dois, sinto nossa amizade novamente sólida. Os ressentimentos foram esquecidos e voltamos a nos entender pelo olhar, como acontecia quando éramos crianças.

Há folhas secas por sobre as redes,
caem nas velas, todas doiradas...
São cor das barbas dos pescadores,
lá vão levadas, lá vão levadas...


Para comemorar essa reaproximação, resolvemos por em prática algo que há muito planejávamos, mas que ainda não havíamos tido a oportunidade de realizar. Obviamente a comissão de gorilas iria conosco, mas todos eles era subordinados a Amiel. Ele nos faria companhia, e os outros deveriam vigiar de longe. Caso precisássemos de algo, eles estariam à disposição. Do contrário, não havia necessidade de uma jaula humana ao nosso redor. O vento estava gelado, e a temperatura negativa. Mesmo assim, o sol brilhava no céu. Seria um lindo dia.

Iríamos visitar a Igreja e as Pedras Rúnicas da Colina Jelling. Amiel contou-nos várias histórias que aprendera quando criança sobre a origem das runas. Como sabemos, A Dinamarca é o berço do conhecimento das Runas, e a colina Jelling possui túmulos e pedras rúnicas que são exemplos notáveis de cultura nórdica pagã, enquanto uma outra pedra rúnica e a igreja ilustram a cristianização do povo dinamarquês em meados do século X. A Dinastia Batland tomou as rédeas da Dinamarca nesta mesma época, fato que fez com que minha curiosidade em conhecer este lugar e buscar informações sobre meus antepassados crescesse a cada dia. Mesmo o país estando, há quatro anos, sob o domínio da Rainha Margrethe II (desde 1972), pertencente à Dinastia Oldenberg, os Batland ainda são lembrados e admirados por muitos dinamarqueses.

Minha alma, doida de mar e Outono,
em Hornebek se foi deitar,
entre gaivotas e folhas secas,
a sonhar alto, para sonhar...


Passamos o dia inteiro entre as construções religiosas e as runas. Havia um ar de mistério, de doce contemplação nestes lugares. Visitamos também a catedral de Roskilde, erigida entre os séculos XII e XIII. Mais uma vez, foi Amiel quem contou a história. A primeira catedral gótica construída de tijolo na Escandinávia e inspirou a expansão deste estilo ao longo da Europa setentrional. Se tornou o mausoléu da família real dinamarquesa do século XV em diante. Foram acrescentadas varandas e capelas laterais até o fim do século XIX. Provê um resumo visível do desenvolvimento da arquitetura religiosa européia.

Visitamos também a escultura da Pequena Sereia, símbolo da Copenhague trouxa, que Melchior ansiava por conhecer, e a estátua do escritor de histórias infantis Hans Christian Andersen. Como eu, Melchior havia crescido lendo seus contos. A nostalgia tomou conta do momento, e nos vimos a relembrar as histórias de nossa infância, e tudo que imaginávamos para o futuro.

Tem nos cabelos algas e algas
que o vento brusco vem levantar...
Em Hornebek, na Dinamarca,
onde vão folhas por sobre o mar.


Vimos o sol se pôr por detrás das montanhas, um espetáculo incrível. Quando voltamos para casa, a neve começou a cair. Os flocos brancos emaranhavam-se aos meus cabelos, e fizeram deste dia um daqueles que ficam em nossas memórias para sempre.


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N.A: O poema citado chama-se Em Hornebek, na Dinamarca, de autoria de António Patrício (1878-1930).

*tradução: A ajuda de Deus, o amor do povo, a grandeza da Dinamarca.