Wednesday, December 29, 2010


Lembranças de Artemis A. C. Chronos

- Ei, eu já briguei com você uma vez por que me meti nas suas coisas. Agora não vou fazer isso, pelo contrário, eu vou te apoiar, seja como for. – Tuor falou de um jeito que me fez olhar para ele de outro jeito. Com essas palavras eu notei como ele parecia mais maduro. – Que foi?

- Nada... Fiquei admirada. – Eu falei, e sorri, ele ficou um pouco indignado.

- Admirada?! Eu aqui querendo te ajudar e você me zoando?! – Ele falou, fingindo irritação e eu ri.

- Não é isso. Obrigada de verdade, Tuor. Não ia suportar sem seu apoio também. – Eu falei sincera. Estávamos sentados em poltronas perto de uma enorme janela da Grifinória. Eu me levantei e me apoiei no parapeito olhando a lua. Pouco depois ele se juntou a mim, ficando do meu lado. Eu não mais falei com Stefan e Tuor falou para ele me dar um tempo, que agradeci e muito. Tuor também pediu que ele não brigasse mais com Damon, se ainda queria ter algo comigo.

- Eu já falei. Briguei com você por uma bobeira minha, porque quis me meter na sua vida. Sou mais útil te ouvindo, te apoiando e apenas se necessário te dar um puxão de orelha! – Ele falou e puxou minha orelha. Eu reclamei e afastei sua mão com um tapa de leve.

- Idiota. Mas obrigada. – Eu falei novamente e sorri para ele. Ele sorriu de volta.

- De nada, sou seu amigo não sou? Mas você não me engana tá? Sei que percebeu que era o Damon. – Ele falou, a mesma coisa que Keiko falou quando contei, e eu sorri um pouco culpada. – Acho que você precisa de um tempo pra pensar, um tempo pra você mesma. Amanhã vamos voltar pra casa, pensa com calma e tenha esse tempo só pra você tá?

- Ta bem, papai. – Eu falei e ele sorriu.

- Muito bem, princesa, se precisar basta me chamar! – Ele falou e eu dei um tapa no seu ombro, enquanto ríamos.

********

- Filha, você já parou pra pensar por que sente tanta dúvida? – Mamãe me perguntou, na minha primeira noite em casa. Eu tentei evitar mostrar que estava triste e chateada, mas ela notou, e assim que fui para meu quarto, ela foi me ver. Eu me abri pra ela e contei tudo. Agora eu estava debaixo das cobertas, com a cabeça em seu colo. Eu havia chorado novamente e ela acariciava meus cabelos com carinho. Ela ouviu sem interromper e sem me julgar.

- Não sei mãe... Me sinto podre por não saber me decidir.

- Não é com relação a isso que me refiro. Talvez você não consegue decidir entre os dois irmãos, porque pode não gostar de nenhum dos dois.

- Mas eu gosto do Stefan, ele é um bom namorado. E o Damon ao sei jeito também é uma ótima pessoa.

- Querida, seu namoro já começou errado. Você era muito nova para ter um relacionamento sério. Ainda te falta amadurecer mais. Sei que os dois devem ter suas qualidades, mas não é isso que significa gostar como amor. Você gosta de seus irmãos, de seus sobrinhos, de seus amigos, mas não é por isso que namora com eles, é?

- Como é amar, então, mãe?

- Quando você finalmente sentir isso, você vai saber. – Ela falou ficando vermelha e sei que pensava em papai. – É um sentimento quente. É como se você estivesse completo. Um simples sorriso é suficiente para você se sentir bem e alegre. – Ela falou, com os olhos brilhando e eu a observava ávida.

- Como você descobriu que amava papai? – Ela ficou ainda mais vermelha e eu ri.

- Foi no olhar. Lembro-me até hoje da primeira vez que nos vimos no trem de Hogwarts. Foi como se me visse dentro do olhar dele. Lembro-me também que morri de ciúmes de sua tia Alex no dia!

- Sério?! Por que?!

- Os Chronos e os Mcgregors são amigos e aliados há gerações, então Lu e Alex estavam juntos. Os dois sempre foram próximos, e se gostam muito, mas são como irmãos. Naquele dia senti ciúmes dela, queria estar no lugar dela, próxima assim daquele garoto que mexeu comigo. Claro que na época eu não percebi nada disso, era muito nova ainda, e só fui entender isso tudo 2 anos depois, quando começamos a namorar. Sua tia Alex que nos juntou, e ela logo me falou e mostrou que o Lu era como seu irmão gêmeo.

Nós continuamos conversando por mais algumas horas, e eu me senti muito bem, conseguindo me acalmar e tranqüilizar. Ela falou o mesmo que minhas amigas e amigos, que eu precisava de um tempo para mim apenas. Eu acabei dormindo e ela me cobriu. A última coisa que lembro de pensar antes de dormir era de que Tuor estava certo e de que ele tinha tido o mesmo efeito que minha mãe sobre mim.

- O que houve? – Alucard perguntou, quando Mirian saiu do quarto. Antes de responder, Mirian porém o beijou com carinho e ele retribuiu o beijo.

- Nada, garotos apenas. – Ela falou rindo e saiu andando. Alucard ficou com uma cara engraçada, misturando sorriso, surpresa, ciúme e até mesmo um pouco de irritação. – Você, não vêm? Ela já está dormindo...

Mirian falou, e continuou andando. Alucard sorriu, indo atrás dela.

*******

No dia de Natal sempre passávamos juntos, mas mudávamos a cada ano onde iríamos nos reunir. Esse ano seria na casa de Tia Celas, Tio Isaac e Gaia, que agora moravam perto de Yorkshire e iriam estar todos lá. Eu e meus pais fomos logo na manhã do dia 23, e quando chegamos lá, Griffon, Emily, Luky, Bela, Seth, Luna, Mina, Luthien, Tio Xeno, Vovô e Vovó. Além deles, Gaia me falou que o próprio Joseph passaria o Natal conosco. Apesar de ser Natal e ninguém querer falar dos último acontecimentos, era inevitável, ainda mais em uma família onde todos os membros eram aurores.

- Foi horrível entrar em mais uma cidade atacada por eles. Não havia sobrado uma única pessoa. – Papai falou, quando conversava com todos. Apenas as crianças estavam dormindo, e eles me deixaram participar.

- Se para mim já é ruim estar em um lugar onde uma pessoa sofreu, imagino para vocês ao entrarem naquela cidade devastada. – Vovô falou sério.

- E ainda teve o ataque ao trem. Eles estavam atrás da Lizzie, estão decididos a tornar essa guerra séria. – Seth falou, olhando em seguida para Gaia.

- E sabemos que podem haver outros ataques. – Tio Isaac falou, olhando protetoramente para Gaia. Era bonito o modo como os dois eram próximos: ela o considerava como seu verdadeiro pai e ele sua verdadeira filha. – Precisamos tomar medidas mais drásticas.

- Eu também acho. – Eu falei, meio tímida, mas vi mamãe me incentivando e continuei. – Acho que deveríamos aumentar o número de investidas do clã, precisamos achá-los antes que eles nos achem.

- Eu também acho isso. Precisamos tomar a iniciativa com urgência. Os Ministérios também querem agir logo, é a hora de nos unirmos. – Emily falou e todos concordaram. A família Chronos iria a caça.

******

- Eu vou com você! – Eu falei, pegando um casaco, quando Gaia falou que ia à cidade comprar algumas coisas de última hora. Já estava anoitecendo e todos estavam arrumando a ceia de Natal, preparando as decorações e escondendo os presentes.

- Vamos juntos também! – Logo todos os nossos sobrinhos falaram e cada um pegou um casaco, doidos para poder andar pela cidade.

- Cuidado, querem que eu peça a Isaac para ir junto? – Celas perguntou, preocupada.

- Não, mãe, não tem problema. Vamos rápido e já voltamos. – Gaia falou, beijando a mãe antes de sair. Cada um de nós os beijou também e saímos.

Fomos conversando alegres pela estrada de terra que levava até a cidade. A casa de Tia Celas era um pouco afastada da cidade e era ligada a esta por uma estrada de terra, que percorríamos com facilidade caminhando. Mina e Luthien iam contando animadas as coisas novas que tinham aprendido e visto em Hogwarts, enquanto Bela e Luky contavam as primeiras visitas a Hogsmead, de como era lindo o vilarejo e cheio de novas pessoas. Eu contava alegre sobre as Olimpíadas e Gaia contava de como era bom trabalhar com a mãe e com Joseph também. Talvez pelo clima de alegria e desconcentração, não percebemos antes.

Eu percebi tarde demais, um pouco antes de Luthien e Mina. Foi como um banho de água fria, pois senti meu ar sendo sugado. Era instinto assassino, intenso e puro. Já era noite agora e estávamos afastados da casa, mas ainda longe da cidade, de modo que mesmo papai e Seth demorariam para chegar até ali, pelo menos uns 5 minutos, pois aquela região inteira tinha feitiços anti-aparatação.

Gaia percebeu também e agiu mais rápido do que eu, já acostumada com as caçadas e ritmos de aurores. Ela fez um arco com a varinha e conjurou uma barreira ao nosso redor, a tempo de impedir de algo chocar-se contra nós. Eu saquei a varinha também e puxei meus sobrinhos para atrás de mim.

- Muito bem, filha, muito bem. – Uma voz fria e cruel falou. Assim que ele falou eu senti meu sangue gelar e a noite pareceu mais escura e fria.

Um homem surgiu a nossa frente, os olhos brilhando em vermelho intenso. Vários homens surgiram ao nosso redor, cercando-nos em um círculo, eram oito vampiros. Mina e Luthien mostraram as pressas, com os olhos injetados, enquanto todos apontavam a varinha. O vampiro, Maxmilliam, pareceu sentir nojo olhando para minhas sobrinhas e eu me coloquei entre eles.

- Eu não sou sua filha, seu maldito. – Gaia falou com raiva. Maxmilliam era o pai biológico de Gaia, enquanto era humano, mas após sua traição e tentativa de tomar o poder do clã, ele usou-a como refém para tentar obrigar que fizessem o que ele queria. Ele era jurado de morte pelo Clã, dentre os mais procurados por nós.

- É sim, e no meu papel de pai, aceitei de bom grado essa missão... Exterminar você.

- Você não merece ser chamado de pai dela. – Eu falei. Expandi minha aura e uma chuva fina começou a cair. Porém Gaia falou em minha mente: “Não revele seus poderes! Não se mostre a eles. Lute com feitiços apenas.”

- Fique calada, sua verme, não estou aqui por você. Não temos o menor interesse em você, além de sua morte e de sua família.

- Senhor, devemos ser rápidos, os outros estão a caminho. – O outro vampiro falou, o rosto fixo em mim, enquanto seus olhos desciam pelo meu corpo. Senti com nojo o que ele pensava e preferia não ter notado.

- Aquele outro ataque foi ridículo, erramos em confiar uma tarefa tão digna e pura como o expurgo a um ser fraco como aquele. – Ele falou, fechando os punhos e havia raiva em sua voz e em seus olhos. O modo como ele fechou os punhos e depois os abriu me mostrou que ele não estava brincando. – Falhamos em destruir a outra abominação. E quando se quer um serviço bem feito, faça você mesmo... Foi com prazer que recebi essa missão, e fui enviado para extinguir outra abominação... E acabo encontrando as outras duas aberrações... – Ele falou, olhando novamente com nojo para minhas sobrinhas. Elas tremiam, tanto de medo quando de excitação, e as bloqueei mais. Bela e Luky também tremiam, mas ele protegia a irmã e Gaia os protegia com o corpo. – Matem todos.

Assim que ele ordenou, os vampiros saltaram a frente. Eu e Gaia gritamos “Incendius” ao mesmo tempo e duas bolas de fogo acertaram vampiros no ar, mas eles caíram no chão e se levantaram. Meus sobrinhos nos imitaram e lançaram pequenas labaredas. Apontei minha varinha para uma delas e manipulei o fogo como Justin havia me ensinado, prendendo um vampiro com uma corda em chamas, fazendo-o virar cinzas.

Outro vampiro, porém, surgiu diante de mim e mordeu meu pulso. Eu gritei de dor, mas me surpreendi quando ele gritou de dor também e caiu de joelhos gritando. Uma coisa que Justin havia dito para mim há algum tempo me veio à mente.

“As magias mais poderosas são as mais antigas, pois a natureza, o homem, os espíritos e os elementos eram como um só. O seu sangue, Artemis, é antigo e poderoso, ele é sagrado, é o sangue de um Deus. E você também tem consumido muito a água sagrada de Avalon. Eu tenho certeza: seu sangue é como uma arma contra impuros. Seu sangue é capaz de matar um vampiro e caso um deles te morda, você não será afetada pela maldição e ele será queimado de dentro para fora.”

Nesse momento, os outros chegaram.

Maxmilliam estava duelando com Gaia, quando Isaac o atingiu com um poderoso feitiço no peito, fazendo-o voar para trás em chamas. Toda minha família surgiu, gritando desafios e lançando feitiços. Emily e Griffon tinham suas lanças na mão, enquanto mamãe disparava flechas de luz. Os vampiros tentaram recuar, mas foram atacados por trás. Joseph surgiu gritando de ódio, junto de Derfel e mais outro executor. Os vampiros foram massacrados, porém Maxmilliam conseguiu fugir.

- Vocês estão bem? – Mamãe perguntou, correndo para nós. Mina e Luthien logo correram para os pais e os abraçaram, chorando. Bela e Luky fizeram o mesmo, enquanto Joseph abraçava Gaia com força, beijando-a como se tivesse medo de perdê-la. Eu podia ver que ele tinha nos olhos medo, muito medo. Tia Celas e Tio Isaac a abraçaram assim que ele a soltou. Meus pais e meus avôs correram para mim, assustados com o sangue que pingava no solo. A ferida já se fechava, limpada pela água da chuva que eu tinha invocado. Mas mesmo assim, mamãe e vovó fecharam os olhos, curando-me.

- Eles estavam esperando a melhor oportunidade. – Derfel falou para papai, após certificar que estávamos bem. – Maxmilliam ordenou que um outro grupo atacasse a cidade, por isso demoramos a chegar, nos desculpem.

- Obrigado, Derfel, fizeram um ótimo trabalho. – Luna falou sorrindo, enquanto abraçava com preocupação Mina.

- Você está mesmo bem? – Joseph perguntou para Gaia, que continuava abraçada a ele. Ela agora chorava também. – Eles lhe fizeram mal, está machucada?

- Não está tudo bem... Só estou abalada... Tive medo pelas crianças. – Ela falou e abraçou Luthien. Logo Mina, Bela e Luky correram para abraça-la, e eu os abracei também.

- Não acredito que aquele verme teve a coragem de atacar a própria filha! – Papai falou cheio de raiva.

- Ele não é meu pai, tio. Meu pai é você, Isaac. – Gaia falou, olhando para Isaac. Vi quando lágrimas se formaram em seus olhos, mas ele sorriu.

- E você é minha filha, Gaia, me perdoe por não te proteger.

- Perdoe-me, eu deveria ter vindo antes, me desculpa. – Joseph falou, os olhos baixos.

- Vocês não precisam se desculpar. – Gaia falou, sorrindo e foi abraçar cada um deles.

Nós voltamos para a casa, ainda assustados, mas logo Luna nos animou, lembrando que ainda era Natal. Derfel e o outro vampiro se despediram, dizendo que queriam voltar para os seus, mas agradeceram o convite. Joseph não mais saiu do lado de Gaia o resto da noite. Foi uma comemoração estranha, pois ainda estávamos assustados, mas ainda foi um Natal e estávamos todos bem.


Sunday, December 26, 2010

Wishing Well

Várias lembranças de Artemis A. C. Chronos

- Vem logo Tuor, deixa de ser medroso! – Eu falei, puxando-o pela mão, enquanto mamãe sorria.

- Arte, nem todos tem a coragem e vontade que você tem de ficar perto deles assim. – Tia Morgan falou, rindo também. Carlinhos gargalhou e bateu no ombro de Tuor.

- Garoto, você vai deixar uma menina ser mais corajosa que você?! Não tem orgulho? – Ele perguntou rindo e Tuor fechou a cara.

- Não estou com medo! Mas assim do nada? Deixa eu me preparar! – Ele resmungou e eu ri.

- Se você não vai, sou obrigada a fazer isso. – Eu falei, largando ele. Ele me olhou desconfiado, mas virei as costas pra ele. – Fidelus, vem cá.

Eu chamei e Fidelus veio imediatamente. Ele estivera parado ao longe, olhando desconfiado para Tuor, mas chegou perto de mim cheio de alegria. Ele deixou-se acariciar por mim que fiz com felicidade. Tuor ficou paralisado com o olhar do velho dragão.

- Não precisa ter receio, Tuor. Ele é bondoso e carinhoso, está tão desconfiado quanto você. Ele sabe que você não fará nada contra ele. – Eu falei e Fidelus soltou um pequeno rugido. – Você confia em mim? – Eu apelei e ele suspirou.

- Isso não vale... – Ele resmungou, mas deu um passo a frente. Papai o empurrou e ele quase caiu do meu lado, ficando cara a cara com Fidelus. Os dois se encaram por um longo tempo e ao mesmo tempo olharam pra mim, como se procurassem ajuda ou respostas.

- Vocês são alguns dos meus melhores amigos, sejam amigos também. – Eu falei, meio autoritária.

Tuor suspirou e esticou a mão a frente. Fidelus recuou a cabeça um pouco, olhando pra mim como se estivesse indignado, mas sorri para ele com carinho.. Eu lhe disse que Tuor era bondoso e não queria mal. Ele não precisava que eu falasse isso, ele podia perceber muito bem como Tuor era uma boa pessoa.

Fidelus esticou o pescoço a frente e deixou-se acariciar por Tuor. Foi uma cena que ficará marcada na minha mente para sempre, até pelo que houve. Apenas eu vi, pois sabia que ninguém mais percebeu, talvez apenas Fidelus, mas surgiu uma luz ao redor dos dois, como se estivessem ligados por algo. Eu não sei bem porque fiquei com lágrimas nos olhos.

Tuor sorriu e começou a gargalhar, enquanto todos o aplaudiam. O dragão também ficou feliz e eu sorri, abraçando o seu enorme focinho. Então eu chamei outros dragões e logo estávamos cercados por vários dragões e fiz Tuor acariciar cada um deles.

*********

- Foi divertido. – Ele falou, ao final do dia. Meus pais estavam conversando com Morgan e Carlinhos enquanto tomavam chá e eu e Tuor tomávamos cerveja-amantegada, sentados em uma pedra diante do mar, com Fidelus enroscado perto de mim e me deixando apoiar nele. – Foi demais. Eles são criaturas maravilhosas. – Ele falou e Fidelus soltou um rugido feliz.

- Ele disse que gosta de você. – Eu falei e Tuor sorriu, enquanto Fidelus soltava um barulho indignado, como se não quisesse que eu contasse.

- Eu também gostei de você, garotão! – Ele falou, acariciando as asas de Fidelus, que relaxou ainda mais.

- Fico feliz. Vocês dois são algumas das coisas mais importantes pra mim. – Eu falei sorrindo. Tuor sorriu também, mas ficou um pouco vermelho.

- Acho que depois de hoje consigo até invocar um patrono. – Ele falou rindo, mas eu fingi estar chocada.

- Você não sabe invocar um patrono? – Eu perguntei e ele assentiu. – Como assim você é amigo de um membro dos Chronos e não sabe invocar um patrono!! Vai invocá-lo agora! Levanta! – Eu falei autoritária e o fiz se levantar, ele levantou animado e eu saquei a varinha. Fidelus se afastou um pouco, curioso. – Pensa na sua memória mais feliz, mas pense com força! E repita Expectrus Pratonus!

Eu falei, enquanto pensava na hora em que nos abraçamos quando fizemos as passes nas Olimpíadas. Minha águia prateada saiu de minha varinha e pousou em Fidelus, que se remexeu como se encontrasse um velho amigo. Eu fiquei curiosa para ver qual seria o patrono de Tuor.

- Vamos! Tente!

- Tudo bem, mas nunca tinha conseguido. – Ele falou e repetiu o feitiço. Houve uma luz prateada em sua varinha, mas o patrono não tomou forma. Fidelus nos olhava com intensidade.

- Não é essa a lembrança correta! Pense em algo mais feliz.

Então ele fechou os olhos corando e nesse momento, talvez por causa de Fidelus, eu pude ver sua mente e seu coração e soube que memória ele usaria. Ele pensou na mesma coisa que eu, na nossa reconciliação. Houve um clarão de prata e um lobo prateado surgiu no ar, levitando ao redor de Tuor, acariciando-o com carinho, enquanto Tuor ria e gritava que tinha conseguido. O lobo pousou lentamente no chão e olhou alegre para nós dois. Minha águia alçou vôo para perto dele e os dois ficaram parados no chão nos olhando. Fidelus soltou um rugido baixo, como se risse. Tuor sorriu para mim e eu fui apertar sua mão para parabenizá-lo.

Nesse momento, Fidelus me empurrou com sua calda e com uma de suas asas empurrou Tuor, e nós dois caímos um nos braços do outro. Ficamos assim abraçados nos olhando, porém nos soltamos sem graça. Mamãe nos chamou para ir embora nessa hora.

Eu me despedi de Fidelus, e ralhei com ele, mas ele rugiu como se risse, divertido e alegre.

Não era para aquele abraço ter sido assim! O que deu em nós para ficarmos daquele jeito?

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- Feche os olhos? O que você vê? – Eu perguntei, minha voz soando solene.

- Não vejo nada... – Haley falou, sem jeito.

- Só o escuro. – Justin respondeu, um pouco mais a vontade, mas também sem jeito. Eu tinha feita os dois beberam um pouco da água sagrada e os pedi que se deitassem no gramado ao redor do tempo de Chronos, olhando as estrelas. Eu os tinha levado juntos para Avalon por dois motivos: queria ensiná-los a ver outros mundos, como eu fazia, e sabia que conseguiriam, já que eram tão ligados ao mundo dos espíritos. E também porque eu sentia que ainda faltava confiança nos dois. Eles se gostavam, isso era claro, mas faltava confiança e cumplicidade, e enquanto eles não aprendessem a se conhecer e confiar, não teriam como ficar juntos. Queria que nesses momentos eles se sentissem próximos e conhecessem mais um ao outro.

- Demora um pouco para perceber... Acreditem. – Eu falei novamente. – Sintam o vento em seus rostos.

Assim que falei vi quando os dois prenderam a respiração e vi lágrimas formando-se em seus olhos.

- Segurem as lágrimas, fiquem calmos, há lágrimas ruins e há lágrimas boas. Essas são boas, pois são as lágrimas que vocês derramam por aqueles que amam e pelo mundo. Fechem os olhos, o que vocês sentem?

- Eu estou sentindo algo... O vento é diferente, tem um cheiro novo... Pareço estar fora de meu corpo, fora do mundo. – Justin foi o primeiro a perceber e eu sorri, pois sabia que seria ele o primeiro.

- Haley, você também. Solte-se, sinta a liberdade. Feche os olhos o que você vê? – Eu repeti e ela sorriu.

- Há tanta luz... Estou mesmo em outro lugar... Até a sensação na pele é diferente... Espere, eu vejo um santuário! – Ela falou ofegante e eu sabia para onde ela estava indo.

- Eu estou vendo uma espécie de santuário também... Mas ele é tão antigo. Não, é uma cidade inteira, mas muito antiga... Porque está no escuro? – Eles tinham ido a lugares diferentes. Haley estava em um lugar próximo, mas Justin estava mais longe.

- Abram os olhos, já viajaram muito por um dia no Reino de Sonho. – Eu falei e os dois abriram os olhos. Eles tocaram o rosto, percebendo apenas agora as lágrimas. Eles se entreolharam e vi que havia companheirismo ali, Justin se sentia culpado por não revelar tudo que sente para Haley, e ela sentia-se culpada também, mas principalmente admirada, pois ele era muito mais do que ela imaginava. Eu sorri para os dois.

- Parabéns! Vocês conseguiram! – Eu falei feliz. Haley me abraçou alegre, ainda com lágrimas nos olhos.

- Era tão lindo! E era um outro mundo mesmo! Mas não era de espíritos, era vivo!

- Você sabe onde estivemos, não sabe? – Justin perguntou, sentando-se e olhando as estrelas. – Você que nos enviou para lá? Para onde fui era muito antigo, os elementos que compõem aquele mundo são antigos... Mas me era familiar.

- Não escolhi para onde irem. Suas almas foram guiadas para onde vocês deveriam ir. Mas pude ver para onde foram. Haley você visitou um lugar ligado intensamente à Chronos e seu passado, pois você foi a primeira a vê-lo e porque aquele lugar é um local sagrado, de amor, carinho e bondade. – Eu falei e Haley olhou curiosa para Chronos que sorriu caloroso para ela. – Justin você visitou um lugar antigo, também ligado a Chronos, porém foi para um lugar onde houve guerra e muito sangue. Sua alma precisava visitar aquele lugar, para entender mais o ciclo do universo. - Justin assentiu, olhando para Chronos, que sorriu, ainda calado.

- Podemos fazer de novo? – Haley perguntou, animada, mas ela ficou um pouco tonta e caiu sentada. Justin a apoiou e vi quando os dois trocaram olhares, mas se afastaram. Eu sorri.

- Não, estão muito fracos. Já fizeram muito por hoje. Depois tentaremos novamente, vou ensiná-los a visitar outros mundo, ou pelo menos vê-los. A ligação que vocês têm com o mundo dos espíritos permitirá isso. Mas peço que não tentem sozinhos, pois correm o risco de ficarem perdidos, já que eu os mantenho ligados aqui. E é perigoso vagar demais pelo mundo do Sonho.

Mamãe, que assistira tudo calada solenemente, parabenizou Haley e a mim com orgulho e nós três saímos de Camelot, na direção do poço, para que fossemos embora. Justin ficou para trás um pouco, pois eu sabia que ele queria falar com Chronos.

- Eu estou admirado... Ela é mais poderosa do que eu imaginava. Ela é magnífica. – Ele falou sincero, observando Artemis ao longe. Ele podia ver o aro branco que marcava-a como rainha em seus cabelos, assim como a veste sagrada, um vestido branco longo, com detalhes em azul e negro. Ele, porém, sabia que ninguém via aquilo.

- Ela ainda está desenvolvendo os poderes, ela está longe de usar todos os seus poderes.

- Ela ficará mais poderosa do que isso? Ela é capaz de manipular a realidade... Ela não consegue como eu controlar todos os elementos, mas aqueles que ela controla, como a água e a luz, ela os controla com poder total. Fora que ela também tem controle sobre as trevas, sem ser engolida por elas. Nunca vi isso em ninguém, Chronos. Por que ela é tão poderosa?

- Justin, você já ouviu as lendas sobre Arthur? De que ele retornaria à Bretanha quando ela precisasse e lutaria por ela?

- Sim, mas não são invenções? Quero dizer, quem existiu foi Arturia, a Rainha, achei que essa lenda tinha sido inventada, pois Arturia realmente morreu.

- Essa lenda tem um fundo de verdade. Arturia morreu, mas permanece vivo o espírito da Rainha. É a Rainha que retorna à Bretanha quando ela precisa, e não Arturia. Ela foi a primeira e a mais poderosa até hoje, por isso é a referência. Sempre que a Bretanha corre perigo, da família Chronos, de meus descendentes, nasce uma menina que receberá meus poderes e meus exércitos. Ela é a Rainha, aquela que é capaz de mudar o mundo, mover os céus e rachar a terra. Era para ter existido uma Rainha nas Eras de Voldemort, porém a Rainha optou por se sacrificar, dando mais poder e proteção para o resto da família, e para que outra Rainha fosse escolhida. Uma Rainha que libertaria o mundo das ações dos malditos, principalmente Cadarn.

- E essa Rainha é a Arte? – Justin perguntou, curioso e preocupado. – Ela é apenas uma garota ainda, não pode carregar todo esse peso.

- Por isso eu digo que ela ainda não tem todos os seus poderes. Arte ainda tem muito o que aprender, muito a conhecer. Apenas quando ela realmente estiver pronta, ela se tornará a Rainha.

- Ela estará pronta?

- Não sei... Isso depende de sua força de vontade, algo que depende exclusivamente dela. Além disso, depende também de meus treinos, dos seus, de seus pais, resumindo, depende de tudo que ela ainda tem que aprender com todos. – Chronos falou, sério.- A verdade, Justin, é que ela está no limiar, na fronteira.

- Não entendi... – Justin falou, porém ele percebia que era algo sério, pois Chronos tinha um semblante preocupado, e quando Chronos olhou para ele, Justin sentiu um calafrio, como se percebesse algo ruim. – Há perigo não há? Não apenas para a vida dela, pois isso já sabemos, há algo mais...

- Desde Arturia não há alguém tão poderoso quanto ela, não minto ao dizer que se ela tivesse nascido nas Eras Negras era teria sido uma ameaça a Voldemort, uma grande ameaça. Mas isso é perigoso também. Grandes poderes trazem grandes preocupações e dificuldades. Ela pode se tornar uma Grande Rainha, justa e poderosa, amável e bondosa. Mas pode também decair para um mal tão intenso que trará ruína apenas com o olhar. – Chronos falou e Justin sentiu um arrepio. Ele também sabia que se Arte decidisse seguir caminhos sombrios, o mundo enfrentaria um caos intenso, maior do que muitos que passaram por este mundo. - Vocês estão acostumados com a idéia de que o bem e o mal são absolutos, que não há como ter os dois, mas tem. Artemis é um equilíbrio dos dois, o que ela tem de luz, há de trevas. Mas mesmo essas trevas são benignas, são as trevas que protegem e cuidam. Porém, um deslize e ela será tomada pelo lado negro, e aí, nem eu poderei pará-la.

Justin sentiu-se irrequieto, porém Chronos mais nada falou e começou a descer a colina, seguido por Justin, que estava pensativo.

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Close your eyes, what do you see?
Takes a while to believe
Feel the wind kissing your chin
Hold your cries make your wish
Dream away, breath...

Why did it take so long to understand?
Black sheep of the flock will soon be
banned
Don't lose your hope, wish away

(Journey to the sacred ground of Dreamland)
To one's heart's content I'll be free again
(Visions telling secrets on the Dreamland)
And my fortune ends
in the Wishing Well

N.A.: Wishing Well, Angra.


Wednesday, December 22, 2010


Depois do ataque de pânico que tive no trem, minha mãe precisou ir até o vagão me tirar de lá. Só quando ouvi a voz dela comecei a acalmar e reagir novamente, e pude sair da posição que estava e caminhar para fora do trem. Foi um primeiro dia de férias muito ruim, trancada dentro de casa tentando recuperar o controle da situação. Mamãe foi muito paciente e ficou comigo o tempo inteiro, até que tivesse certeza de que eu já estava bem.

Quando consegui me acalmar e voltar ao normal, as coisas começaram a melhorar. Sempre passávamos o Natal em Londres na casa do tio George, mas dessa vez estávamos em St. James, na casa do tio Brendan, pai de Nigel e Otter. Mamãe sempre ficava mais sentimental quando estava em St. James. Ela havia crescido naquele bairro, naquela mesma rua onde meu tio morava, e ficava muito nostálgica.

Na véspera do Natal o resto da família chegou, e ninguém pretendia ir embora antes do Réveillon. Tio Scott, tio Ben e Nick, é claro, faziam parte dessa família. Nick agora estava ficando famoso por causa da banda, já que com os estudos da Academia de Aurores terminados eles tinham mais tempo para se dedicar à música. E Becky, que havia gravado algumas faixas com eles e cantava em alguns shows, estava embarcando naquela fama repentina. Era muito engraçado andar na rua com eles e a todo instante alguém nos parar para pedir autografo ou tirar uma foto.

Foi por causa de um desses cercos de fãs que ganhei o pior castigo que minha mãe poderia ter inventado. Estava uma noite com Rupert e o resto da banda na pizzaria dos meus tios, em Covent Garden, quando um grupo de meninas apareceu e ao reconhecer os meninos, começaram a berrar e avançaram em cima deles. Rupert logo correu da confusão e pulou pra trás do balcão, voltando a ajudar meus tios a servir, e alguém agarrou minha mão e me puxou para fora do aglomerado de garotas. Quando sai do meio delas vi que era James.

- Precisando de socorro? – ele continuou segurando minha mão e sorriu.
- Ninguém manda andar com gente famosa, acabo sendo esmagada por fãs histéricas.
- Acho que a noite com eles já era – ele apontou para um grupo de garotos e garotas na porta da pizzaria – Estamos indo para Hyde Park, se quiser pode vir também.

Olhei para meus primos soterrados no meio das meninas e depois para Rupert, já de avental e cheio de notinhas de pedido nas mãos. Aquela noite não ia evoluir de forma alguma, então fui até o balcão e avisei minha tia que estava saindo, me juntando a James e seus amigos. Pelo celular avisei minha mãe que estava saindo da pizzaria com meus amigos, mas não especifiquei qual deles. Com sorte, ela deduziria que eram Jamal e JJ, que eram os únicos que moravam em Londres, e não pegaria no meu pé.

Já passava das 21h quando chegamos ao Hyde Park e eram poucas as pessoas que se aventuravam a caminhar por lá com toda aquela neve. Não demorou muito alguns dos amigos dele puxaram garrafas de cerveja das mochilas e começaram a beber, mas ele e outros quatro não se juntaram a eles, e optei por ficar com esse segundo grupo. Podia apostar minha vida que minha mãe sentiria o cheiro da cerveja há quilômetros se eu ao menos segurasse uma garrafa. Não sei dizer quanto tempo ficamos batendo papo no parque. Estava achando ótimo sair um pouco do mesmo circulo de amigos, conversar bobagens com pessoas novas e dar risada a toa. Sabia apenas que era tarde, pois o movimento de pessoas na rua diminua cada vez mais.

- Onde você estava quando o vampiro invadiu o trem? – James perguntou e me assustei.
- Vampiro? Como assim?
- Quando o trem parou, foi um vampiro. Também não vi, mas é o boato que correu o trem depois que voltamos a nos mover.
- Não sabia disso.
- Onde você estava? Vi que voltou pra cabine dos monitores com o Menken, mas depois não a vi mais.
- Eu fiquei por lá mesmo – tentei desconversar, não queria entrar naquele assunto.
- Está tudo bem?

Fiz que sim com a cabeça e não soou muito convincente, mas ele não insistiu. Ao invés disso, ele se aproximou mais um pouco e ficamos a centímetros um do outro. Sabia exatamente o que ele pretendia, mas não me movi e deixei que ele fosse adiante. A mão direita dele escorregou para a minha cintura e a esquerda foi direto para a minha nuca, me puxando pra cima dele. Quando ele me beijou, esqueci tudo de estressante que aconteceu nos últimos dias, incluindo o pânico no trem e o surto do Zach em Hogsmeade. De repente não tinha mais vontade de sair dali, poderia ficar naquele parque frio pra sempre.

Infelizmente, o “para sempre” foi interrompido pela sirene de um carro de polícia. Nos afastamos assustados e quando olhei para o lado, a turma que estava bebendo estava pulando o cercado do parque e correndo para o meio da rua, mas a maioria foi pega pelos policiais. James, eu e os outros quatro que não estavam bebendo continuamos no mesmo lugar, e um dos policias parou na nossa frente. Ele perguntou se também estávamos ingerindo bebida alcoólica e lembrou que era crime por sermos menores de idade, mas negamos. Mesmo assim ele obrigou a todos nós a entrar na viatura, alegando que já passava da meia noite e não era permitido circular naquela área àquela hora sem um responsável. Meu sangue gelou quando ele disse a hora. Minha mãe ia me matar.

Os amigos de James foram deixados em casa primeiro e James seria o último, o que me levou a ser despejada na penúltima parada. O policial já havia telefonado para minha casa e meus pais já estavam esperando na porta quando desci da viatura acompanhada dele. Ambos pareciam muito brabos, mas minha mãe estava quase espumando. Eles agradeceram ao policial e mamãe apertou meu ombro com tanta força quando me puxou para dentro de casa que achei que meu osso poderia esfarelar.

- VOCÊ PERDEU O JUIZO? – ela berrou assim que papai fechou a porta. Sem duvida James conseguiu ouvir do carro.
- Clara, você tem idéia do quanto estávamos preocupados? – papai não berrava, mas também estava possesso – Ligamos para todos os seus amigos e ninguém sabia onde você estava!
- COM QUEM VOCÊ ESTAVA? – mamãe ainda berrava e dessa vez papai não tentou acalmá-la.
- Desculpa! Não sabia que ia voltar tão tarde, só sai pra dar uma volta! – tentei me justificar, mas já sabia que era uma causa perdida – Estava com o James e alguns amigos dele no Hyde Park, nada demais!
- Quando você não diz onde está, com quem está e que horas vai voltar, é alguma coisa sim senhora! – papai disse nervoso.
- Até que volte para a escola, está de castigo! – agora mamãe não berrava mais, mas seu tom era ameaçador, o que era pior que gritar – Está PROIBIDA de se afastar de seu pai e eu por mais que um metro e meio.
- Como assim?
- Isso mesmo que ouviu. Vai estar sempre ao lado de um de nós dois, e se você de afastar mais que um metro e meio, garanto que vai se arrepender pelo resto da sua vida!
- E como eu vou dormir se não posso me afastar?
- Seu colchão cabe no chão do nosso quarto – papai respondeu apoiando aquela loucura e desisti de lutar. Se ele estava do lado dela, eu não tinha a menor chance.
- O castigo começa agora – mamãe apontou para a escada – Vá buscar suas coisas e coloque no chão do nosso quarto.

Abaixei a cabeça derrotada e quando subi as escadas, vi papai me seguir como uma sombra. Mamãe havia se superado daquela vez, e eu teria o pior recesso de Natal que se pode imaginar. Seriam três longas semanas.

Sunday, December 19, 2010

Mudanças

Lembranças de Artemis A. C. Chronos

A última visita do ano à Hogsmead estava finalmente chegando e eu estava animada! Eu e Stefan precisávamos de um tempo a sós depois de tanta coisa que aconteceu na Austrália e seria o dia ideal.

Porém, já na manhã daquele sábado, meu humor sofreu um baque grande. E o dia só ia piorar.

- Arte, leia isso. – Hiro falou, me passando uma edição do profeta diário. Eu peguei curiosa e preocupada, pois ele tinha um semblante estranho. Notei que as pessoas olhavam e apontavam para mim e meus sobrinhos.

“Outra cidade desaparece do mapa!

Pela segunda vez em um mês, a população inteira de uma cidade desaparece completamente da noite para o dia.

O primeiro caso, já levado aos nossos leitores anteriormente, ocorreu próximo a divisa entre França e Alemanha, na cidadezinha de Flonlmel. No início de Abril, toda a população, um total de 6 mil habitantes, desapareceu completamente, sem deixar vestígios. Moradores de cidades vizinhas encontraram a cidade completamente vazia, sem um único morador.

Na noite passada, o mesmo ocorreu à pequena cidade de Sillinhem no interior da Alemanha. Novamente, toda a população sumiu sem deixar pistas, desaparecendo como se evaporassem no ar da noite pro dia.

O Ministério da Magia Alemão pediu ajuda aos demais Ministérios, e uma força tarefa foi enviada para as duas cidades. A força tarefa é composta por bruxos e aurores dos Ministérios Alemão, Francês, Britânico e Bulgário, e tem como objetivo descobrir o que aconteceu às cidades. Porém até o momento não foi encontrada nenhuma pista. Não há sinais de magia, de encantamentos e nem mesmo de chaves de portais, e os arquivos de Monitoramento do Ministério Alemão não indica qualquer aparatação ou outra magia para remoção de corpos.

Outro fato intrigante presente nos dois casos é o estado dos cemitérios das cidades. Nas duas cidades, seus cemitérios foram totalmente destruídos, com covas reviradas e lápides destruídas, e a pior notícia: sumiço dos corpos. Disso os aurores têm certeza: os corpos dos cemitérios foram transformados em Inferis. Portanto, não apenas os bruxos da região, mas como todos os bruxos devem tomar cuidado e rever com seus pais e parentes como se prevenir contra um Inferi. Para ajuda-los, preparamos um encarte com informações úteis na página 5.

O Clã Chronos está participando das investigações, e estas estão sendo lideradas pelo auror Aragon Mithrand, Classe 9 do clã, porém os líderes do clã também participam ativamente das investigações

- Nossas equipes de investigação estão trabalhando em conjunto com a Força Tarefa Ministerial, mas ainda não conseguimos achar provas suficientes para o que houve. Porém, peço-lhes que não se precipitem, nem tenham medo sem necessidade. Há realmente algum perigo por trás disso tudo, os Inferi são prova concreta disso, mas tomaremos todas as precauções para que todo mal possa ser evitado. Qualquer informação que tenhamos, passaremos a vocês imediatamente. – O Sr. Alucard Chronos, um dos líderes do clã, falou em uma comitiva de imprensa realizada na sede alemã do clã. Logo depois ele deu a palavra a Aragon.

- O que o Senhor Chronos lhes disse é verdade: evitaremos a qualquer custo qualquer mal que possa ser causado a sociedade, portanto não há necessidade para pânico. E gostaríamos de desmentir também qualquer boato de Comensais da Morte em ação. Mantemos vigilância constante para evitar novos ataques.

Aragon e Alucard responderam mais algumas perguntas antes de se retirarem para continuar as investigações. Nosso repórter, porém, consegue sentir o cheiro de algo no ar, e nos garante que há alguma coisa que eles não nos contaram. Porém devemos acreditar que o clã fará de tudo para evitar danos a pessoas inocentes, o que eles já provaram serem capazes em anos de proteção a nossa sociedade.”

Eu larguei o jornal em cima da mesa, os olhos arregalados e o coração batendo forte. Apenas de ler aquela notícia eu pude ver e sentir o sofrimento de todas aquelas pessoas da cidade. Elas com certeza foram vítimas de Cadarn.

- Foram os vampiros, não foram? – Keiko falou, apreensiva, sentando do meu lado. Todos eles haviam lido o jornal e agora meus amigos se sentavam ao meu redor. Meus sobrinhos estavam próximos também e Tuor olhava assustado em volta.

- Foram. Não acredito que eles estão fazendo essas coisas horríveis. – Eu falei, ainda pálida e com os olhos em lágrimas. Eu sentia uma raiva enorme, como jamais senti.

- É horrível... Eles estão usando inocentes! – Haley falou, também com os olhos em lágrimas. Todos eles cresceram em meio a aurores e ouvindo histórias dos vampiros e da guerra, menos Justin, Tuor e Julian, mas saber daquela atrocidade abalou a todos.

- Ei, Arte, está tudo bem? – Stefan perguntou, passando a mão na minha cabeça. Ele olhou para todos e parecia muito preocupado. Eu esfreguei o rosto e sorri para ele, me animando um pouco.

- Tudo bem. – Eu respondi, beijando-o quando ele se abaixou. Meus amigos se dispersaram, sabiam que queríamos conversar.

-Eu vi o nome de seu pai no jornal, aconteceu alguma coisa?

- Não. São coisas do clã, não quero falar sobre isso.

- Arte, porque não me conta?

- Não, Stefan, não quero você envolto em nada do clã.

- Você não confia em mim, é isso? – Vi como ele ficou chateado. Eu acariciei seu rosto e o beijei antes de responder.

- Não, eu confio muito em você. Mas quero que nosso namoro seja normal, não quero você envolto nos perigos que o clã enfrenta. Por favor, não quero falar sobre isso. – Eu pedi e notei que ele queria falar mais algo. Ele sabia apenas que minha família era um clã de aurores, mas nada sabia além disso.

- Se você quer assim... Posso te encontrar em Hogsmead hoje? Preciso ir urgentemente à biblioteca para pegar um livro e terminar um trabalho de Aritmancia.

- Achei que ia ficar comigo o dia todo. – Eu fiz beicinho, e ele me beijou.

- Desculpa, irei o mais rápido que puder para te ver, tudo bem?

- Tudo bem, mas vá rápido. – Eu falei e ele logo levantou, beijando-me intensamente antes de sair. Fiquei olhando-o sair do salão, pensativa.

Senti que alguém me observava e assustada com a notícia, procurei rapidamente quem era. Damon me observava da mesa da Sonserina, com um sorriso, eu o ignorei e continuei tomando café. Meus sobrinhos conversavam comigo mentalmente, enquanto eu os acalmava e pedia que não pensassem nas coisas horríveis que aquele jornal significava. Mina e Luthien eram as mais sensíveis aquela notícia e as tranqüilizei. Algo estava a caminho, os vampiros estavam se agitando.

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- Oi, Arte, o Stefan não vem? – Tuor perguntou ao andar do meu lado. Ele ainda estava meio assustado, mas estava novamente alegre. Sorri para ele antes de responder.

- Não, ele vai me encontrar no vilarejo, ele tem que terminar alguns trabalhos.

- Quer que eu te acompanhe até ele chegar? – Ele perguntou, mas eu agradeci.

- Não, obrigada. Você também precisa se divertir. – Eu falei, e ele sorriu. Uma garota da Corvinal acenou para ele sorrindo.

- Qualquer coisa... Bem, tente me achar! – Ele falou e eu ri.

- Vai logo lá, antes que ela fique com ciúme! – Eu falei, acenando para ela também. Ele foi correndo até ela, sorrindo, e eles trocaram um beijo rápido quando chegaram perto. Tuor passou a mão pela sua cintura e começaram a andar juntos, enquanto eu os observava.

Fazia frio, então logo me enrolei no cachecol com as cores da Grifinória e fui passar um tempo andando pelas lojas de Hogsmead. Todos os meus amigos estavam ocupados, fossem vendo coisas pessoais ou em encontros e eu queria que Stefan chegasse logo. Fiquei pensando em Tuor e na garota abraçados e me peguei desejando que Stefan chegasse logo para ficar assim. Estava ficando sonhadora, pensei rindo.

Encontrei com Bela e por um tempo ela e umas amigas andaram comigo pelas lojas do vilarejo, fazendo compras pro Natal que se aproximava. Eu não via a hora de rever meus pais e meus irmãos, além de meus tios e primos. Estava curiosa em saber como Gaia e Joseph estavam se saindo, e preocupada também. Depois de um tempo, Bela me convidou para ir tomar algo quente com elas, mas disse que esperaria Stefan, e fui para a entrada do vilarejo. Lá achei um banco e me sentei, lendo um livro que Luna tinha me mandado, um livro dela que seria publicado em breve. Pensei logo em como Lenneth adoraria aquele livro e me peguei pensando na nossa amizade, e infelizmente, lembrei de Damon, de Leonora e de Milena. Sacudi a cabeça irritada e voltei a ler, quando me chamaram.

- Desculpa a demora, Arte! – Stefan chamou e veio correndo até mim.

Eu sorri para ele, feliz por ele ter finalmente chegado. Mas notei algo estranho, ele parecia diferente. Estava com as mesmas roupas que estivera de manhã, mas tinha um ar diferente, mas livre e tranqüilo.

- Achei que ia demorar mais.

- Não resisti a ficar longe de você. – Ele falou e me puxou para um beijo muito caliente, me segurando pela cintura e me puxando para perto dele. Eu retribui o beijo com vontade, mas então percebi tudo. Aquele não era o Stefan... Era o Damon!

Mas não consegui largá-lo. O beijo era bom e eu queria muito companhia naquele dia e me entreguei aquele beijo, passando meus braços em volta de seu pescoço e segurando-o. Mas então aconteceu.

- Seu imbecil! – Alguém gritou e no segundo seguinte, Damon foi empurrado para longe de mim. – Como se atreve!

Eu fiquei assustada e horrorizada! Stefan, o verdadeiro, aparecera, vermelho pela corrida e pela raiva. Ele deu um soco em Damon antes que o outro pudesse fazer algo e Damon caiu no chão, com o lábio sangrando.

- Como você pôde, Artemis! – Stefan falou acusador e eu fiquei irritada.

- Eu não sabia! Achei que era você! – Eu gritei para ele, que estava de costas para mim. As pessoas começavam a apontar, assustados.

- O que você queria? Largou sua namorada sozinha num dia como esses, queria que alguém viesse tomá-la de você! E eu fui! E ela gostou! – Damon gritou.

Stefan correu para acertá-lo, mas agora Damon desviou e deu um soco na sua barriga e logo os dois começaram a brigar feio, rolando na neve. As pessoas começaram a chegar, alarmadas e eu comecei a chorar, enquanto gritava para que parassem.

- PAREM! – Eu perdi a paciência e saquei a varinha. Lancei um feitiço no meio dos dois e eles foram jogados em sentidos opostos. Levantei a mão e ambos levitaram no chão. Damon tinha o lábio sangrando e um roxo no braço, e o nariz pingava sangue. Stefan tinha um olho roxo, várias escoriações e machucados, ofegando muito, com as vestes rasgadas. – ODEIO VOCÊS DOIS!

Eu gritei e sai correndo chorando. Os dois caíram no chão. Pessoas logo os seguraram, mas Stefan se soltou e correu atrás de mim. Ele segurou meu braço, me puxando com força.

- Por que fez isso? – Ele gritava.

- Eu não sabia que era ele! Achei que era você! Agora me solta. – Eu me soltei dele, mas ele me segurou de novo.

- Não acredito que você foi capaz disso Artemis... – Ele começou a falar. – Eu confio em você, acredito em você e você me trai com meu irmão?

- Eu estava te esperando, seu idiota! Estava querendo te ver! Mas ele apareceu se passando por você!! O que queria que eu fizesse?! Estava com saudades!

- Você podia ter notado.

- Vocês são gêmeos idênticos! Como queria que eu notasse?

- Não, você fez de propósito! Você quis beijar o Damon! – Ele mal terminou de falar e eu dei um tapa no rosto dele. Ele ficou um pouco chocado, mas eu estava com raiva e chorava.

- Odeio você, Stefan, odeio vocês dois! Seu idiota! Como ousa falar isso?! – Eu falei e virei as costas, ele me segurou de novo. – Não ouse tocar em mim.

Eu falei com raiva e senti quando minha energia o fez se soltar. Ele ficou parado me olhando e eu sai correndo sem olhar pra trás.

Parei em um lugar afastado da vila e me sentei em um muro e comecei a chorar.

Naquela hora eu só conseguia pensar em quatro pessoas que eu queria que estivessem ali: Keiko, Haley, Clara e... Tuor.

Pouco depois, Haley apareceu, também chorando e cabisbaixa. Ela olhou surpresa pra mim e se sentou do meu lado. Ela me abraçou e eu chorei mais contando tudo que tinha acontecido. Ela me acalmou e contou o porque de estar triste.

Depois Clara se juntou a nós, também chateada e estranha.

Passamos o resto do dia falando mal de todos os garotos e querendo ir logo embora.

Não via a hora de chegar em casa... Ah, eu também queria a minha mãe.