Monday, August 29, 2011


- Bom dia, Cenoura – Julian falou animado quando apareci para o café.
- Bom dia – respondi sério e sentei ao seu lado.
- Alguém acordou mal humorado... – Justin comentou rindo e os olhei atravessado.

Sim, eu estava de mau humor. Como se não bastasse ter tido que dormir sem uma chance de resposta ao ataque de Amber, ela havia me ignorado por completo hoje. Desci para o salão comunal disposto a consertar o que quer que eu tenha feito de errado, mas quando tentei falar com ela, fui ignorado. Ela simplesmente virou a cara e me deixou falando sozinho.

- Nós ouvimos ontem, na escada – Julian tentava não rir – Cara, ela acabou com você.
- Foram três ganchos certeiros – Justin deu um tapa nas minhas costas, rindo – Aposto que doeram.
- Ela é maluca! Não fiz nada demais e ela surtou. E me ignorou hoje. Não vou mais pedir desculpas, se ela não quer mais falar comigo, que seja.
- Tem certeza disso? – Justin perguntou sério, sem rir.
- Sim, tenho! – peguei uma torrada da bandeja e levantei, saindo do salão.

Se ela queria me ignorar, então ia fazer o mesmo jogo. Vamos ver quem vence.

ºººººº

Já estávamos no final da primeira semana de aula e eu já estava querendo desistir da aposta que fiz comigo mesmo. Continuava sendo ignorado por Amber e aquilo estava me torturando. Demorou muito tempo até que conseguíssemos nos entender e, passado o inicio conturbado, ela agora era minha melhor amiga. Ela era a única com quem podia conversar sobre o que quisesse, sem ter que ouvir piadinhas. Amber não era a pessoa mais fácil do mundo de se conviver, mas eu tinha aprendido a gostar do seu jeito esquisito e por mais que fosse difícil admitir, estava sentindo sua falta.

- Ei – Jamal se aproximou do muro onde eu estava sentado há horas.
- Oi – ele puxou o caderno que estava na minha mão e o acertou com força na minha cabeça – Ei! Por que fez isso?
- Pra ver se seus neurônios voltam a funcionar – ele me devolveu o caderno e sentou no muro – Será que não aprendeu nada que lhe ensinei nesses dois últimos anos?
- Do que você está falando?
- Amber! Justin me contou o que aconteceu, não acredito que você pisou na bola desse jeito.
- Ah não, você também? Ela que surtou, não tive culpa.
- Sim, você teve! Quando uma garota lhe dá seu telefone, ela espera que você ligue. E se é uma garota bonita, você liga!
- Mas eu não fiz por mal! Já tentei me desculpar, mas ela não quer me ouvir. E agora anda com a Kaley pra cima e pra baixo e ela parece um cão de guarda, não me deixa chegar perto.
- Acabei de ver as duas vindo pra cá quando sai. Quando elas chegarem ao pátio, vou afastar Kaley da Amber e o resto é por sua conta. Peça desculpas, se ajoelhe, qualquer coisa, mas recupere essa amizade que me custou um ano de ensinamentos pra você conquistar.

Jamal bateu de leve nas minhas costas e desceu do muro, esperando as meninas passar. Elas saíram do saguão de entrada logo depois, mas ao invés de desviarem para a direção do jardim, caminharam na nossa direção. Pulei do muro na mesma hora quando elas pararam na nossa frente. Houve uma troca de cumprimentos bem sem graça e um longo momento de silêncio, quebrado por Kaley.

- Acho que eles precisam conversar a sós – ela disse olhando para Jamal e ele lhe estendeu o braço.
- É, isso já ta constrangedor demais pra ter platéia – Jamal comentou e os dois riram, saindo do pátio.
- Desculpa! – falamos ao mesmo tempo.
- Por que está se desculpando? – perguntei surpreso.
- Por ter me exaltado no salão comunal. Minha reação foi exagerada, não devia ter gritado com você.
- Não, você tinha razão por estar com raiva, eu pisei na bola. Somos amigos, você é minha melhor amiga, não há motivos para só nos falarmos aqui. Esse é nosso ultimo ano, não quero perder contato com você só porque não vamos mais nos ver todos os dias.
- Isso não vai acontecer, nós vamos manter contato.
- Com certeza. Vou ligar pra você tantas vezes que vai me pedir pra deixá-la em paz, você vai ver.
- Idiota – ela falou séria, mas depois sorriu.
- Também senti sua falta.
- O que tanto você escreve ai? – ela apontou pro caderno que tinha nas mãos – Carrega ele pra todo lado desde que voltamos.
- Ah, ainda não é nada demais – apoiei o caderno no muro e desfiz o laço, abrindo para ela poder ver – Estou pensando em escrever um livro e estou anotando algumas idéias.
- Um livro? – ela pareceu surpresa – Pensei que queria ser Curandeiro.
- Eu quero, não desisti disso, mas sempre tive vontade de escrever um livro. Estou com essa idéia na cabeça desde que comecei a ajudar Artemis com alguns registros.
- Já pensou em um tema?
- Sim. Quero contar a nossa história.
- Eu e você? – ela me olhou sem entender.
- Não, do mundo bruxo. Quer escrever para os trouxas.
- Ah, isso faz mais sentido. É uma boa idéia.
- Pensei em contar a história da 2ª guerra bruxa, mas pra isso teria que pedir muitas autorizações.
- Isso daria ótimos livros, talvez sete. Um pra cada ano do Harry Potter em Hogwarts, afinal, as coisas começaram a acontecer quando ele chegou aqui.
- Sete? Não sei nem se consigo escrever um!
- Como você pretende contar a história da 2ª guerra em um único livro?
- Acho que tem razão.
- Eu sempre tenho razão.
- Senti falta da sua modéstia também – brinquei e ela riu – Bom, então vou precisar de mais de um livro pra contar tudo, mas isso só vai acontecer se o primeiro for bom. O problema é que continuo sem saber como conduzir isso. Não queria contar só a história do tio Harry.
- Então conte a história sob o ponto de vista de várias personagens. O foco principal vai acabar sendo ele, tudo leva a ele, mas isso não quer dizer que você precise narrar a história por ele. Foram tantas pessoas envolvidas, deve ter milhões de histórias paralelas. Aposto que o professor Longbottom tem várias delas pra contar.
- Você é um gênio.
- Você só está falando o óbvio.
- Quer me ajudar?
- Não sei, não sou muito boa com histórias. Você é que é o bom em escrever.
- Agora é você que está dizendo o óbvio. Sei que sou melhor que você nisso, mas você é boa com idéias e adora me corrigir, vai ser de grande ajuda. E se me ajudar a fazer esse livro sair, coloco seu nome na dedicatória.
- Ah, o sonho de toda garota – ela fez uma careta como se estivesse encantada e rimos.

Comecei a mostrar a ela o que já tinha anotado, como descrições detalhadas de Hogwarts, Beco Diagonal, Hogsmeade e algumas outras locações, assim como um catalogo quase completo dos animais mágicos, e Amber me ajudou a avaliar o que era importante incluir e o que precisávamos mudar para não dar pistas demais. Com a ajuda dela, agora tinha mais certeza que aquele livro poderia se tornar uma realidade. A paz estava restabelecida.

Saturday, August 27, 2011


Memórias de Artemis A. C. Chronos

- O que ele está fazendo aqui? – Haley perguntando chocada, em uma voz misturando surpresa, raiva e, tenho certeza que ela não queria demonstrar, alegria, ao ver Justin acenando para nós. Ela então olhou para mim e para Clara e seus olhos se estreitaram. – Vocês sabiam!
- Sabíamos mesmo, ele me contou quando visitei a sua tribo. – Eu respondi e Clara ecoou.
- E a mim por coruja, qual o problema, Haley? Que eu saiba você nem queria saber da existência dele!
- E passou o último ano tentando fingir que ele não existia. Fizemos o que nos pediu. – Eu dei de ombros. Haley bufou e pareceu que ia nos bater, mas virou as costas para nós no momento em que Justin chegava até nós e nos abraçava alegre.
- Ela não muda, não é? – Ele comentou.
- Teimosa e cabeça-dura como sempre. – Eu confirmei.

----------------

- Foi mais fácil do que eu imaginava! – Bela falou, respirando aliviada. Eu ri e a abracei, enquanto continuávamos andando pelo corredor do terceiro andar. – Estava muito nervosa.
- Não tinha por que estar nervosa. Você merece o cargo de monitora e agiu muito bem guiando os alunos novos e dando as novas senhas. – Eu falei e ela sorriu mais ainda.
- E aquela sala dos monitores! É linda! E o banheiro, não sabia que vocês tinham um banheiro exclusivo e tão lindo! – Ela falou animada.

Voltávamos da sala dos monitores e já era bem tarde, por volta das 23. Após levarmos os alunos para seus salões comunais e termos certeza que ninguém circulava pelo castelo, todos os monitores se reuniram na sala. Foi a primeira reunião tendo eu e Rupert como monitores-chefes e foi muito divertida. Conversamos muito e animamos os novos monitores, parabenizando-as por isso. Bela fora escolhida como a nova monitora da Grifinória e estava animada e se sentindo honrada com isso.

- Demoraram, hein? Monitores tem muitas regalias. – Eu o ouvi reclamando e Tuor surgiu por de trás de uma armadura, no meio do corredor do sétimo andar. Eu dei uma pequena corrida até ele e o beijei de leve nos lábios.
- Claro que temos, porque acha que vale a pena ser monitor? – Eu falei, quando ele me abraçou e andamos juntos de Bela. – Você que não deveria estar aqui a essa hora, é proibido sabia!
- Imagina, o Tuor perde pontos para a casa na primeira noite, pela própria namorada! – Bela falou rindo e rimos juntos. – Eu vou indo pombinhos, não fiquem até tarde hein?
Ela falou e saiu correndo na frente, deixando nós dois a sós. Tuor riu e acenou para ela, enquanto eu me virava para ele e me pendurava em seu braço, beijando-o.
- Como está comigo, eu te perdôo por estar até mais tarde. – Eu falei, sorrindo enquanto o beijava e encontramos um nicho com uma armadura nos escondendo de quaisquer olhos. – Mas só desta vez.
- Só desta vez? Podia fazer isso todas as noites. – Ele falou, com a mão em minha cintura e puxando-me para um longo beijo, enquanto com a outra mão deixava minha capa cair no chão e segurava minha cintura por baixo da blusa.
Ahhh ótima forma de começar o ano.

----------------

O primeiro dia de aula passou voando por diversas razões.
Como esse era o nosso último ano e os N.I.E.M.s nos aguardavam em breve, nos demos um dia extra de férias e passamos a manhã toda participando pouco da aula. Conversamos entre si através de bilhetes que rodavam a sala inteira ou mesmo em voz alta quando era possível. Almoçamos nos jardins, debaixo da árvore que queimamos no final do nosso 3º ano, trazendo muitas lembranças e diversão.

O fato de Hogwarts hospedar o Tribruxo desse ano também foi o assunto do primeiro dia de aula e, suspeito eu, que vai continuar por muitos dias, provavelmente até as outras escolas vierem para o castelo, dentro de 2 meses. Pensar que poderia rever meus amigos de outras escolas, como Gabriela e Lenneth era ótimo! Era um ano digno para nos formarmos! Por falar em formatura, os Lufanos já estavam doidos por ela, fazendo planos desde o primeiro dia de aula.

E nosso grupo de amigos não via a hora de irmos para o nosso salão secreto! Então assim que as aulas da tarde acabaram, fomos todos para lá imediatamente. Julian e Tuor tinham passado nas cozinhas antes e conseguido uma quantidade de comida suficiente para um pequeno banquete e todos jantamos sentados nos sofás e mesas que tínhamos levado para a nossa sala secreta. O símbolo de Hogwarts parecia brilhar para nós nas luzes e velas que conjuramos.

- Arte, explica melhor como elas funcionam? – Hiro perguntou, curioso, segurando minha pena em suas mãos. Todos concordaram e vi que todos tinham as suas.
- Essas penas são parte das asas que eu conjuro quando faça um transporte e também as asas que uso para voar. Elas são uma parte de mim. E como cada um de vocês também é uma parte de mim, achei justo cada um ter uma.
- Eu fiquei muito contente quando a recebi, mas e aquela mensagem que ouvimos? Era sua voz mesmo? – Haley falou, olhando pra mim.
- Sim, era minha voz através da mente de vocês. Essas penas servem para que eu possa saber como vocês estão. Não importa onde estejam, sempre poderei saber a situação de vocês e se estão bem.
- Sabe uma coisa que eu reparei? – Justin falou, e todos o olharam curiosos. Ele estava pensativo, olhando para a pena e depois levantou os olhos para mim. – Quando estava no Texas, sempre que eu pensava em vocês, quando sentia saudade, se eu estivesse com a pena na mão, ela brilhava e eu quase podia ouvir a voz de vocês. Quase sentir vocês perto de mim. A voz e a presença de Arte eram mais fortes obviamente, mas eu podia sentir todos vocês. – Ele falou, seus olhos passando por cada um de nós. Ele ficou um tempo significativo olhando para Haley e senti que ela ficou sem jeito, olhando para outro lado.
- Eu também percebi isso. Mesmo do Japão várias vezes eu pude sentir vocês perto de mim. – Keiko falou, olhando admirada para a pena.
- Eu também. Mesmo da Noruega sempre tinha vocês por perto e ouvia as vozes de vocês. – Tuor falou e eu o olhei curiosa, pois eu não sabia disso. Olhei para todos e eles pareciam concordar quanto a isso.
- Isso é algo que eu não esperava e não sei por que acontece. – Eu falei, sendo sincera.
- Acho que por você ter feito isso por nós com tanto carinho, você aumentou a ligação entre nós. – Clara falou e eu assenti. Chronos assentiu para mim, dizendo que ela estava certa.
- A ligação que há entre todos vocês é grande, e Arte serve como catalisador para isso. Ela pode tonificar essas sensações de carinho e amizade que vocês têm entre si. – Chronos explicou, materializando-se para todos.
- Isso é demais! – Eu falei animada e todos concordaram.
- Arte, tem um assunto sério que gostaríamos de falar com você. – Jamal começou, aproveitando que todos estavam animados. Eu fiquei um pouco tensa, sem imaginar o que eles queriam.
- Na verdade agora me faz pensar, são duas. – JJ falou.
- Arte, queremos que nos prometa que não vai se exceder demais. – Julian falou, os olhos sérios e cheios de preocupação, e JJ continuou.
- Admiramos muito o que você fez por todos nós, e principalmente por ter salvado a nossa vida, mas não queremos que deixe tudo nas suas costas.
- Nós podemos e queremos te ajudar, em tudo. – Tuor completou e sorriu para mim. Eu não sei bem porque, mas senti lágrimas nos olhos e os esfreguei lentamente. Percebi que eles tinham combinado isso e que Tuor sabia.
- Tudo bem, eu prometo. – Eu consegui falar sorrindo e eles sorriram.
- Isso nos traz ao assunto principal. – Hiro falou, sorrindo alegre para mim. – Queremos que você nos ensine Defesa contra Artes das Trevas avançada. Queremos que nos ensine tudo que puder. – Ele falou e eu fiquei boquiaberta, pois não esperava algo assim.
- Vocês têm certeza? As aulas de DCAT da escola são muito boas.
- Mas não nos preparam para o que estamos vivendo agora. – Clara falou. – Arte, se você não estivesse naquela noite, eu sei que não teríamos sobrevivido.
- E isso se aplica a todos nós. – Haley continuou. – Eu e Julian temos algum treinamento a mais que os outros, mas não se compara ao necessário para enfrentar um vampiro.
- Queremos que você nos ensine. Nossos pais nunca permitiriam que lutássemos, mas queremos ajudar, e queremos que você nos ensine como. – Keiko completou, me olhando entusiasmada.
- Eu... Adoraria, mas não sei se seria uma boa professora.
- Arte, você é a melhor para nos ensinar. Você já me provou isto. – Justin falou.
- E se conseguiu ensinar a mim como conjurar um patrono em um único dia, pode nos ensinar muito mais. – Tuor falou, puxando-me para me beijar na testa. Eu ainda estava tocada pelo que tinham dito antes, e os olhei, agora de uma outra forma. Eu vi meus amigos de sempre, mas crescidos, tão maduros e prontos para me ajudar. Eles me ajudariam a me proteger e proteger eles todos. Me senti orgulhosa deles e muito feliz. Abri um largo sorriso e todos souberam que eu concordaria.
- Eu estou de acordo. Vou ensinar a vocês tudo que eu souber e puder! – Eu falei e todos começaram a soltar assovios, bater palmas e gritar. – Mas não pensem que vai ser fácil! A dureza do treinamento está no meu sangue, vou logo avisando!
- Ah então eu tenho vantagem, já virei Mestre no Método Chronos de Ensino! Tio Seth que o diga! – Clara falou rindo e todos caíram na gargalhada.

Tuesday, August 23, 2011


- Já estamos nos aproximando de Hogsmeade, reúnam os calouros – avisei aos monitores do 5º ano e Bela, que agora era monitora da Grifinória, e Patrick, monitor da Lufa-Lufa, lideraram o grupo.

Voltei para o vagão dos meus amigos e todos já estavam trocando as roupas comuns pelo uniforme da escola. O clima de nostalgia era visível, aquela era nossa ultima viagem para Hogwarts no trem. Quando estivéssemos outra vez naquele vagão, todos juntos, seria para ir embora.

O trem parou na estação de Hogsmeade e começamos a desembarcar os alunos. Clara, Hiro, Arte e eu ajudávamos os outros monitores a controlar a bagunça na direção das carruagens enquanto os monitores do 5º ano reuniam os alunos novos para levá-los até Hagrid. Todo ano era a mesma confusão na área das carruagens e era sempre Jamal, JJ e Julian que encabeçavam o tumulto. Demorou um tempo até que o empurra-empurra acabasse e todos conseguissem se acomodar nas carruagens.

- Viu a cara deles? – Bela e Patrick vinham rindo na frente dos outros monitores do 5º ano – Acho que vão a travessia toda mudos.
- O que você fez? – já perguntei logo, sabia que Patrick era culpado.
- Ele disse aos calouros que Hagrid esmagava os alunos que não o obedeciam com um bastão que ele escondia no guarda-chuva – Bela soltou uma gargalhada e os outros monitores começaram a rir – Precisava ver a cara dos pequenos, seguiram Hagrid apavorados.
- O que? – Patrick deu de ombros quando o olhei sério – Hagrid é legal e merece ser respeitado. Nem todos os alunos fazem isso, é bom já garantir que os novos vão tratá-lo bem.
- Ele tem razão – Arte parou do meu lado rindo também – Deixe que os novatos achem que Hagrid é perigoso, assim vão respeitá-lo.
- Tudo bem, não vou desmentir. Agora vamos embora, só sobraram vocês.

Embarcamos os últimos monitores e Arte e eu subimos na última carruagem que saiu, com Patrick e Bela. Os calouros já estavam sendo recepcionados pelo tio Ben quando passamos e cada um foi pra sua mesa. Julian e Justin, que agora estava de volta a Hogwarts, abriram espaço para eu me sentar entre eles. Não demorou e tio Ben entrou com os calouros, dando inicio a cerimônia de seleção. Entre os novatos estavam a irmã de Julian, Olivia, que foi mandada pra Lufa-Lufa e Alvo Severo, filho do tio Harry. Houve uma tensão no salão quando ele sentou no banco e um silêncio fora do comum quando o chapéu seletor o mandou pra Sonserina. O silêncio não durou muito, porque a mesa deles explodiu em gritos e palmas e Alvo, que andou até lá com uma cara de pavor, parecia mais relaxado. Tinha também um novo Malfoy em Hogwarts e, sem surpresas, foi para a Sonserina. Ele foi quem recebeu Alvo com mais entusiasmo quando ele sentou ao seu lado na mesa.

- Atenção, por favor – McGonagall se levantou quando o jantar terminou e todos se calaram – Agora que o jantar terminou, vamos aos avisos de costume. O Sr. Filch, o zelador, pediu para avisá-los que todos os produtos das Gemialidades Weasley são proibidos, assim como alguns itens da Zonko’s listados na porta de sua sala, e o aluno que for pego com tais itens será punido e terá o produto confiscado – Filch assentiu sério de pé ao lado da porta e Julian revirou os olhos - Como sempre, gostaria de lembrar a todos que a floresta que faz parte da nossa propriedade é proibida a todos os alunos, e o povoado de Hogsmeade, àqueles que ainda não chegaram ao 3º ano – ela fez uma pausa lançando um olhar severo aos novatos, que certamente não tentariam desobedecer àquelas regras - Devo informá-los também que algumas mudanças serão feitas no campeonato de quadribol, mas que as mesmas serão discutidas essa semana com os professores responsáveis e seus jogadores, e as mudanças ocorreram devido ao Torneio Tribruxo, que como a todos já sabem, esse ano será sediado por Hogwarts.

O silêncio que predominava no salão se desfez rapidamente. Todos já sabíamos do Torneio Tribruxo, agora que ele não causava mais mortes voltou a ocorrer de quatro em quatro anos, mas o burburinho que começou no salão era inevitável. Agora tínhamos idade para participar e não tinha a menor duvida de que a maioria dos alunos do 7º ano ia querer se inscrever. McGonagall deixou que a euforia no salão morresse sozinha antes de continuar.

- Os diretores de Beauxbatons e Durmstrang chegarão com a lista final dos competidores de suas escolas no dia 30 de outubro e a seleção dos três campeões será realizada no Dia das Bruxas. Um julgamento imparcial decidirá que alunos terão mérito para disputar a Taça Tribruxo, a glória de sua escola e o prêmio individual de mil galeões. A competição está terminantemente proibida a todos aqueles que ainda não completaram 17 anos, a maioridade bruxa. As delegações de Beauxbatons e Durmstrang permanecerão conosco a maior parte deste ano letivo. Sei que estenderão as suas boas maneiras aos nossos visitantes estrangeiros enquanto estiverem conosco e que darão o seu generoso apoio ao campeão de Hogwarts quando ele for escolhido. E agora já está ficando tarde e sei como é importante estarem acordados e descansados para começar as aulas amanhã de manhã. Boa noite a todos.

Aos poucos os alunos começaram a levantar e os monitores do 5º ano iam guiando os calouros para os salões comunais. Julian, Justin e eu nos juntamos aos nossos amigos no hall de entrada, ninguém com pressa de dormir. Estavam todos eufóricos com o torneio e garantindo que iam se inscrever. E apesar do clima tenso que ficou depois que Haley só descobriu no trem que Justin estava de volta, ficamos conversando no pátio até a hora permitida para os monitores-chefes. Como ninguém queria começar o último ano com Filch no calcanhar, cada um voltou pro seu salão comunal perto das 23h. O salão comunal da Corvinal ainda estava bem movimentado quando entramos e Amber tentava diminuir a bagunça. Os alunos mais novos iam cedendo aos poucos e não demorou a só restar alunos do 7º ano acordados.

- Boa noite, Cenoura – Julian foi direto para a escada e Justin bocejou, o seguindo – Amanhã o dia é longo.
- É, boa noite – Justin passou do meu lado e apertou meu ombro, olhando para Amber do outro lado do salão – Você não precisa da nossa companhia.

Eles subiram para os dormitórios e fiquei sozinho com Amber e mais três alunos, cada um com seu livro em um canto, sem interagir. Ela tinha mudado desde a última vez que nos vimos. Parecia mais alta, seu cabelo estava maior, não estava de óculos e, o mais notável, estava usando maquiagem. Era a primeira vez que a via usando maquiagem fora de uma festa. Estava, sem duvida, mais bonita. Ela fechou o livro que estava lendo e veio na minha direção, mas passou direto para as escadas.

- Ei! - consegui segurar seu braço a tempo – Sou invisível?
- Está tarde e estou cansada, solta meu braço – ela respondeu seca e soltei, mas levantei da poltrona.
- O que aconteceu? Eu fiz alguma coisa?
- Não Rupert, você não fez nada. Esse é o problema.
- Ok, o que aconteceu? Não estou entendendo o temperamento.
- Não tive noticias suas por dois meses. Soube que quase morreu pelo jornal!
- Estávamos de férias, como ia falar com você?
- Já ouviu falar de telefone? É o que você usa pra digitar aqueles números que eu anotei em um pedaço de papel pra você em junho! Talvez deva fazer algumas aulas de Estudo dos Trouxas.
- Eu sei o que é um telefone, e desculpa, não pensei que estivesse preocupada. Esqueci que tinha seu número.
- Você é meu amigo, é obvio que fiquei preocupada – ela virou de costas e subiu alguns lances de escada antes de se me encarar outra vez – Sabe, talvez o chapéu seletor tenha errado ao mandá-lo pra Corvinal, porque você não é tão brilhante assim.

Ela virou de costas jogando o cabelo pra trás e subiu pisando pros dormitórios pisando duro. Fiquei em pé olhando pra escada vazia por um tempo, até que os três alunos que ainda estavam no salão começaram a sufocar risadas e mandei todos irem dormir, sob ameaça de detenção. O ano não tinha começado bem.

Monday, August 15, 2011


Setembro de 2015, início do 6º ano

- Ei – James acenou e se jogou na grama ao meu lado – Está fugindo de mim.
- Não estou fugindo, só estou mais ocupada – me ajeitei no tronco da árvore para encará-lo – Não tem como fugir de você, está sempre por perto.
- Eu estou perto quando importa – ele sorriu - Então... Você é tipo um animago?
- Não é tão simples assim.

Fechei o livro que lia e comecei a contar toda a história a ele. James ouviu a tudo pacientemente e não fez nenhuma interrupção, mas podia ver que ele estava ao mesmo tempo impressionado e assustado. E acho que contar sobre a vez que quase me transformei no meio de uma aula, por causa dele, não ajudou muito.

- Quer dizer que você poderia ter me matado? – ele falou quando terminei a história.
- É, poderia. Se meus amigos não tivesse me acalmado você não teria a menor chance.
- Isso não tem mais risco de acontecer, não é?
- Pode ficar tranqüilo, já aprendi a controlar isso, agora só me transformo quando quero – ele pareceu aliviado e ri – E também, não odeio mais você.
- Ah não? – ele se aproximou mais – O que você sente por mim agora?
- Você é ok... – ele já estava colado em mim – Acho que dá pro gasto.

James deu um sorriso sacana e me empurrou contra a grama, deitando em cima de mim. Dessa vez não tentei impedi-lo e deixei que me beijasse a vontade. As coisas iam começar a mudar em Hogwarts e acho que seria muito fácil me acostumar a essas mudanças.

ºººººº

Quando disse que mudanças iam acontecer, estava falando sério. Se tivesse que descrever o nosso 6º ano em Hogwarts em uma única palavra, essa palavra seria festa. Voltamos para a escola dispostos a nos divertir e todos levaram a idéia a sério. Não que tenhamos abandonado os estudos, ainda íamos às aulas e fazíamos os trabalhos para ter notas boas, mas aquela não era a nossa prioridade.

Minha mudança começou quando decidi parar de fugir de James. Não éramos namorados, isso nunca foi cogitado, mas estávamos sempre juntos. Encontrávamos-nos às escondidas a todo instante pelo castelo, nunca fui tantas vezes ao banheiro da Murta como naquele ano. Como não éramos namorados, não éramos exclusivos um do outro. Ele podia sair com quem quisesse, e eu fazia o mesmo.

Arte e eu mantivemos a rotina de correr todos os dias de manhã durante todo o 6º ano e agora era ela que me ajudava a treinar tae-kwon-do. Ainda praticávamos na beira do lago depois da corrida, mas com o meu foco todo voltado para a vaga na equipe brasileira para as olimpíadas, também separamos duas horas por dia depois das aulas para um treino mais focado e intenso na sala que costumava usar com Hiro. Mina e Luthien sempre apareciam para ajudar quando não tinham aula e ai eu suava de verdade, mas estava dando resultado. Meus reflexos estavam muito melhores e minha confiança crescia cada vez mais.

As festas da Lufa-Lufa tinham todo um novo significado agora. Haley, Keiko, Lena, Penny e eu criamos um caderno onde atribuíamos uma pontuação para cada menino que ficássemos nas festas lufanas. Se fosse mais velho valia mais. Se fosse mais velho e lindo de morrer, valia o triplo. Se fosse mais novo só valia meio ponto. Julian, JJ, MJ, e especialmente Jamal, quando descobriram sobre o caderno ficaram revoltados. Além do medo porque todas nós tivemos oportunidade de os avaliarmos, acharam um absurdo que estivéssemos testando os garotos de Hogwarts para dar nota, como se eles não fizessem o mesmo com as meninas. Jamal só parou de protestar quando lhe mostramos a página com seu nome, cheia de pontos máximos dados por todas nós.

Esse oba-oba durou o ano inteiro. E apesar de saber que no ano seguinte era ano de N.I.E.M.s e teríamos que levar as coisas mais a sério, todo mundo sabia que ele ia continuar. Seria nossa despedida de Hogwarts, e tínhamos que aproveitar cada segundo.




ººººººººº

1º de Setembro de 2016


Estava voltando para Hogwarts para o último começo de ano letivo. A penúltima viagem de trem. Arte e Rupert agora eram os monitores-chefes e já tinham passado as tarefas da viagem, então estava cada um por si. Faltava pouco para encerrar a ronda e passava com Hiro pelos vagões da frente quando uma conversa chamou nossa atenção. Reconheci de imediato uma das vozes como a de Alvo Severo, filho do tio Harry, mas o outro não sabia quem era.

- Eu tenho que ir pra Sonserina – o menino que não conhecíamos falou – Toda minha família foi de lá.
- Minha família inteira é Grifinória, mas meu irmão falou que eu vou pra Sonserina – Alvo respondeu e parecia um pouco apavorado – Não quero ir pra Sonserina.
- Por que não?
- Os bruxos ruins vão pra Sonserina.
- Ei – entramos no vagão e os dois se assustaram. Assim que bati o olho no outro menino, soube que era um Malfoy – Que história é essa que só os bruxos ruins vão pra Sonserina?
- Somos ruins por acaso? – Hiro perguntou cruzando os braços e o garoto Malfoy encarou Alvo, que já estava encolhido no banco.
- Foi o que o Tiago falou – ele deu de ombros, tentando se justificar.
- Você ainda acredita no seu irmão? – Hiro e eu rimos – Tiago só quer assustar você.
- Tinha esquecido que vocês todos são Sonserina.
- Se você for pra Sonserina, será muito bem recebido – Hiro já tinha descruzado os braços e ele parecia menos acuado – E quem sabe essa não é a chance que tem pra vencer o Tiago?
- Deixe que o chapéu seletor decida o que é melhor pra você, ele nunca erra – pisquei pra ele e Alvo parecia mais tranqüilo – Nos vemos na seleção.
- Vou voltar pra nossa cabine, você vem? – Hiro perguntou quando saímos da cabine deles.
- Já encontro vocês, vou ver se a Arte está no vagão dos monitores.

Hiro se despediu e começou a caminhar na direção contraria. Nossos amigos já deviam estar na milésima partida de Snap Explosivo e acabado com todos os doces do carrinho, mas ainda tínhamos um bom tempo de viagem para aproveitar juntos, então não me apressei. Arte não estava no vagão quando entrei. Esperei alguns minutos, mas como ela não apareceu resolvi seguir Hiro. Já estava quase com a mão na porta quando ela abriu e James entrou. Quando viu que estávamos sozinhos, a trancou.

- Enfim, sós – ele já veio me abraçando e me beijando.
- Pode abrir a porta, nem se anima.
- Não faz isso comigo, não nos vemos há dois meses! – ele parou de beijar meu pescoço, mas não soltou minha cintura – Nesse tempo você ganhou uma medalha olímpica e foi atacada por vampiros, podia ter morrido.
- É, mas não morri. E não é minha culpa se passou as férias inteiras fora de Londres, estiva na cidade por quase três semanas.
- As férias nos separaram, mas Hogwarts sempre nos une. Vamos lá, sei que estava com saudades também... – ele começou a desabotoar minha blusa – Dois meses é tempo demais.

Queria impedi-lo, de verdade. O problema é que eu nunca conseguia. Nossa relação era complicada. Não o amava nem nada disso, nunca cheguei a pensar na hipótese de nos tornarmos namorados, e acho que nem ele. O que sentia por James era pura e simples atração física. A porcaria da atração física que me incapacitava de impedi-lo de continuar, mesmo que no fundo eu soubesse que era o certo a se fazer. Estávamos em um trem cheio de alunos e os outros monitores podiam entrar ali a qualquer momento, mas já não estava mais em posição de tomar decisões sábias. O oba-oba já havia recomeçado e eu sabia esse ano ia ser ainda mais intenso.

Saturday, August 13, 2011


Lembranças de Artemis A. C. Chronos

- Em meu mundo nós os chamávamos de Demônios e seus Generais eram os Abissais. A palavra de seu mundo mais próxima para o teor que usamos é a palavra japonesa Akuma, não o sentido comum para a palavra demônio. Eles eram seres nascidos de pura maldade e crueldade, compondo os exércitos de uma das grandes entidades do mundo, organizando-se em nobreza, ao contrário das forças da outra entidade, organizadas como um exército.

Quero que vocês assistam sua batalha contra um Abissal.. Dentro de cada um de nós há poder para mudar o mundo, alguns maiores do que os outros, alguns de forma escondida. E há também em cada um a possibilidade de viajar e ligar-se a outros mundos. Todos já vimos os males e danos que um espírito pode fazer ao possuir um corpo mortal. Agora tentem imaginar isso quando o ser é muito mais poderoso do que aquele espírito? Artemis tem um dom: ela é ainda mais ligada do que vocês, não aos espíritos, mas a essência do mundo. Ela é capaz de viajar entre os infinitos mundos.

Eu quero trazê-los aqui, está pronta? Você tem capacidade de enfrentá-los e eles serão um ótimo treino quando comparado aos vampiros.

Foi com essa frase que Chronos iniciara a conversa que deu início aos meus treinos com os seres de seu mundo natal. Ele pedira que todos os meus amigos estivessem presentes, além de mamãe e Fidelus. Justin não pode comparecer, mas eu lembrava das palavras de sua avó e sabia que ele estaria me apoiando mesmo de longe.

Após fazer com que eu e mamãe erguêssemos a barreira mais poderosa que eu já vira ao redor deles todos, inclusive Fidelus, Chronos me ajudou a ir a seu mundo. Lá, no meio de uma guerra entre dois exércitos, eu e ele conjuramos correntes de prata e prendemos um enorme ser. Ele era monstruoso e não sei como descrevê-lo por completo. Ele era imenso, com mais de 2 metros de altura, e quase o mesmo tamanho de largura. Seu corpo era humanóide, mas todo negro e desprovido de pêlos. Seu corpo era musculoso e vestia uma armadura negra, que cobria todo o seu corpo, mas sem usar capacete. Ele possuía duas asas negras, rasgadas, mas ainda capazes de voar. Ele possuía um rabo que parecia um chicote e sua cabeça era monstruosa, dando pavor apenas de olhá-la. Ele tinha um total de quatro chifres e uma boca cheia de dentes, que parecia sempre a rir, mas um riso maligno e cruel. Ele me fazia lembrar de injustiças, maldade, tortura e inveja, e via nele o rosto de todos os ditadores e cruéis do mundo. Chronos o arrastou para meu mundo, enquanto eu abria o portão entre ambos.

Quando caiu no solo da sala de treinamento, o ser tentou levantar-se, mas ficou preso pelas correntes que pendiam de seus braços, pernas e garganta, presas ao próprio ar. O ar pareceu ficar mais pesado e denso, cheio de sua crueldade e maldade. Fidelus urrou, misturando pavor e ódio, enquanto meus amigos tamparam as bocas horrorizados. Mas Chronos os acalmou, o que estava ao lado deles. Chronos tinha esse poder, ser capaz de estar em vários lugares ao mesmo tempo e já reparei que não é algo que todos os espíritos possam fazer.

- Chronos. – O ser falou, a voz cheia de ódio, mas com um profundo medo.

- Vanitas. – Chronos respondeu simplesmente, a voz mais séria do que nunca.

- Da última vez, aquele vermezinho fraco me chamou aqui... E agora você me traz a esse mundo? O que houve? Deixou de ser o bondoso de sempre? – Ele perguntou com escárnio, forçando as correntes à frente. – Quer chamar meus irmãos? Pappillon e Leglirion iriam achar maravilhoso.

- Eu o trouxe aqui por um único motivo: acabar com você. – Todos ficaram assustados, pois estavam acostumados a voz bondosa de Chronos, mas ele não demonstrava um pingo de piedade para o Abissal, que sorriu malignamente.

- Está esperando o que?

- Não serei eu a fazer isso, assim como não sou eu a prendê-lo. – Chronos falou e então Vanitas olhou pela primeira vez para mim. Eu senti minhas pernas tremerem e senti muito ódio. O ódio era do próprio ser, mas também meu. Senti muita cobiça, muita injustiça. Aquele monstro era feita das piores coisas do mundo!

- Essa criança?! – Vanitas gargalhou, balançando as correntes, enquanto forçava-as, mas eu as mantinha firme. Ele depois me olhou cheio de ódio e escárnio. – Garota, solte-me e eu darei tudo que você desejar.

- Não quero nada de você, ser imundo. – Eu falei de prontidão. Eu sabia que ele poderia convencer qualquer um, mas não a mim. Ele concentrava toda sua influência em mim, mas eu a evitava e Chronos sorriu.

- Ela é mais forte do que você imagina. – Chronos falou sorrindo.

- Duvido. Então, garota, beberei seu sangue e festejarei em seus entes queridos antes de libertar os demais abissais. – Ele falou com crueldade na voz. Eu pude ver as cenas que ele disse, mas balancei a cabeça, mantendo-me firme. Entendi porque Chronos exigiu uma barreira extremamente poderosa em volta de meus amigos. Vanitas seria capaz de enlouquecê-los.

- Solte-o e mostre-o o seu valor. – Chronos falou, e eu obedeci.

As correntes afrouxaram-se e com um puxão Vanitas se soltou, rompendo as correntes brancas. Mas elas ainda estavam pressas em seus punhos, pés e garganta, e sabia que se algo desse errado, Chronos o mandaria embora.

- É o seu fim, lixo humano. – ele falou e desapareceu no ar.

--------------------

Os treinos com Chronos estavam exigindo muito de mim, mas estava feliz em saber que estava evoluindo, e segundo Chronos, muito rápido. Os demônios que eu e ele trazíamos de seu mundo natal eram poderosos, mas Chronos evitava que eu os enfrentasse muito. Além de Vanitas, eu enfrentara apenas mais um Abissal, Doloraes, e uns 5 ou 6 demônios mais baixos. Eles eram todos poderosos, mas exigia muito de mim trazer e mantê-los presos ao meu mundo.

Desse modo, já que Justin estava no Texas, apenas Chronos ou um dos vampiros era capaz de acompanhar minha velocidade, mas esses dois últimos anos era Chronos que se concentrava em me treinar. Lutar contra ele era difícil. Nunca vi alguém tão poderoso e ágil como ele, ele era um lutador nato, nascido para lutar e guerrear. O que era estranho, pois ele era sempre tão gentil e bondoso.

Hoje eu estava sozinha na Ilha, apenas com Chronos e Fidelus como companhia. Eu já conseguia me transportar livremente de Avalon para qualquer lugar na Inglaterra e o inverso também. Chronos me dizia que eu um dia seria capaz de cruzar continentes e oceanos assim, o que seria muito bom, mas ainda sentia estar longe disso, apesar dele dizer que não. Nenhum dos meus amigos estavam na Ilha comigo, ou algum dos meus parentes. Minha família estava muito envolvida com os vampiros e nesse momento realizavam reuniões sobre o assunto. Eu deveria estar lá, mas precisa continuar treinando e por isso me deixaram de fora sem problemas. Meus amigos estavam em suas casas, aproveitando como podiam o final das férias, mesmo com a sombra dos vampiros nos ombros de todos. Então treinava sozinha com Chronos, enquanto Fidelus estava deitado na entrada do salão de treinamento, observando-nos calmamente.

O dia de hoje ficaria marcado em minha vida.

Duelava com Chronos e a cada dia eu conseguia acompanhar mais seus movimentos, mas ele sempre aumentasse o seu próprio ritmo, parecendo estar anos a minha frente. Mas hoje foi diferente.

Duelávamos a mais de uma hora, quando comecei a sentir uma dor e um cansaço estranhos, mas não liguei, acostumada ao treinamento árduo. Comecei a acompanhar Chronos com mais facilidade e vi quando seus olhos se arregalaram e suas sobrancelhas se curvaram. Animada continuei atacando e a velocidade com que eu me movia era grande até mesmo para mim. Chronos passou a lutar com mais vigor, e reparei que ele estava usando muito mais de sua força e poder do que o normal. Eu não conseguia perceber nada a minha volta, nem mesmo o som da chuva ou a presença de Fidelus, tamanha concentração que eu fazia.

Parei sem fôlego, quando encostei uma das minhas espadas em sua garganta, enquanto ele estava ajoelhado, com a lança apontada para minha barriga. Seu olhar era sério, até preocupado. Ele levantou-se e eu respirei sem fôlego.

- Mais uma vez.

Nós nos afastamos e voltamos a lutar. Ele iniciou o duelo em um ritmo intenso, obrigando-me a acompanhar seus movimentos. A dor que eu sentia no peito começou a piorar e eu senti minhas forças se esvaindo. Mas não podia parar.

O mundo havia se tornado um borrão de luz, de tão rápido que nós lutávamos. Nossas armas se tocavam e faíscas brilhantes saltavam dela. Estávamos nos movendo tão rápido que a chuva parecia cair em câmera lenta, nossos golpes deixavam uma onda no ar e até mesmo as faíscas pareciam mais lentas.

Iniciei uma série de golpes laterais rapidamente, obrigando Chronos a recuar. Estava usando o final de minhas forças, mas queria continuar. Finalizei com um poderoso chute em seu peito, jogando-o para longe. Ele abriu suas asas para reduzir o impacto e saltou para o ar, mas eu surgi acima dele, segurando uma única espada com as duas mãos e desferi um golpe de cima para baixo. Ele o bloqueou com o próprio braço, enquanto com a outra mão me agarrava e jogava contra o chão.

Quando me levantei, ele estava diante de mim, e tentei investir novamente. Mas as minhas forças me falharam e eu senti uma dor profunda no peito. Ele então me segurou quando cai em seus braços e quase perdi os sentidos.

- Artemis, olhe em volta. – Ele ordenou e algo em sua voz me fez ver que era algo importante, até mesmo grave. Reuni as minhas forças e olhei em volta, enquanto meus olhos se arregalavam.

Haviam buracos na chuva, na forma de nossos corpos e golpes e movimentos. Os locais onde pisamos nas poças de água não se moviam, apenas com uma pequena ondulação de onde tínhamos tocado com nossos pés. Fidelus parecia paralisado em um movimento de cabeça lento.

Senti uma pontada intensa no peito e cai em seus braços novamente. De repente, o mundo voltou ao normal e a chuva voltou a cair. Nossas pegadas começaram a pular pela água em diversos locais ao mesmo tempo. Fidelus voou até nós e deitou ao meu lado. Chronos me colocou no chão sentada, com o corpo apoiada em Fidelus e este se fechou ao meu redor, protetoramente.

- Eu nunca imaginei que você seria capaz de fazer isso, Artemis. Você ultrapassou todos os limites possíveis e todas as minhas expectativas.

- O que foi que eu fiz? – Eu perguntei, confusa.

- Você dominou completamente os meus poderes, todos eles. – Ele frisou as últimas palavras e eu finalmente entendi.

- Isso é demais! – A adrenalina subiu pelo meu corpo e me senti tonta, e novamente senti a pontada no peito. Arquejei e segurei a mão de Chronos, enquanto Fidelus soltava um som triste e preocupado.

- Não! – Ele falou, sério e preocupado. – Isso é perigoso. Olhe o seu estado.

- Eu estou bem. – Tentei ser teimosa, mas me senti tonta novamente e me calei.

- Você está proibida de usar esse poder. – Ele falou, eu o olhei indignada, mas ele me devolveu um olhar sério e preocupado, que dizia que não havia discussão.

- Mas eu posso precisar dele para proteger meus amigos.

- Não. Se for extremamente necessário eu permitirei que use todos os meus poderes. Mas deve tomar cuidado, quando fizer isso eu não poderei ajudá-la e proteger diretamente. Você estará só.

- O que quer dizer?

- Arte, até hoje, eu estava emprestando meu poder a você, enquanto você ia aumentando os seus, para que você tivesse um crescimento rápido, sem gastar excessivamente o seu poder. Por isso eu podia me materializar ao seu lado e lutar com você, protegendo-a diretamente. Hoje, não. Hoje seu poder ultrapassou as minhas barreiras e eu passei a servir de reserva para o seu. Se estivéssemos fora de Avalon, eu não poderia me materializar e você estaria apenas com seus poderes. Mas o salto de poder que você possui nessa forma, é monstruoso. Porém, isso é perigoso... Se acabarem seus poderes nessa forma, eu não poderei ajudá-la e você ainda não é capaz de manter o seu poder total sozinha. Você entende?

- Sim... – Eu respondi após um tempo.

- Quero que me prometa. Eu permito que use seus poderes totalmente, mas não use jamais esse último poder que você revelou hoje. Não utilize jamais todos os meus poderes. Me prometa. – Não era uma pergunta, mas sim um pedido.

- Eu prometo. – Eu assenti e ele respirou aliviado. – Mas eu quero proteger meus amigos.

- Com o poder que você já tem, você já é capaz de protegê-los. Eu não imaginava que você poderia fazer isso... Você é incrível. – Ele falou sorrindo e eu sorri também. Eu ainda estava muito fraca, então Fidelus abriu uma placa de seu peito e fez um corte em seu peito. Seu sangue escorreu lentamente e Chronos o colheu com uma taça. O próprio Chronos misturou o sangue de dragão com água sagrada e me ajudou a bebê-lo, pois nem me mexer direito eu conseguia. Depois, ele ajoelhou-se diante de mim e colocou suas mãos sobre minha cabeça, ajudando-me a curar, enquanto Fidelus se enroscava em volta de mim. Adormeci assim.

Acordei algum tempo depois, não sei quanto, até porque o tempo em Avalon não fluía normalmente. Fidelus estava dormindo também, ainda com seu corpo ao redor do meu, mantendo-me aquecida com o seu calor. Não havia sinal de Chronos, mas então eu percebi sua presença e havia mais alguém. Percebi também que não os dois não estavam na dimensão de Avalon, mas em outra. Soube que eu em si não estava com eles, mas apenas minha alma.

- Ela está sendo capaz de controlar os nossos dois poderes. – Ouvi Chronos falar. Na verdade, ele nem falava, mas era como se apenas seu pensamento fizesse vibrar o espaço e se transmitisse para o outro.

- Nunca um mortal foi capaz disso. É perigoso para ela. – Senti o outro responder. Sua presença era semelhante à de Chronos.

- Eu sei, por isso a proibi de usá-lo.

- Não adianta proibir. Você sabe tanto como eu que um dia ela será obrigada a usar isso. – Ele respondeu e Chronos ficou apreensivo. – Você se preocupa com ela, não?

- Muito. Não quero que ela sofra. O que isso significa? Por que ela pode controlar nossos dois poderes?

- Não sei... – Então um pensamento passou pela mente dos dois e eles se olharam. – Isso pode ser capaz de ocorrer. É possível.

- Mas como? Ela pereceria se chegasse perto demais da Verdade. – Chronos respondeu, extremamente preocupado.

- Ela não precisa chegar lá realmente. Ela poderia agir pela Verdade, mas tem livre arbítrio. Mas para isso, no momento certo, ela precisaria de nossos poderes completamente. Ela precisará de minha espada.

- E de minha lança. – Surgiu entendimento entre os dois e eles sorriram. – Obrigado, irmão, saúde-as por mim.

- Eu as saudarei, Chronos, meu irmão. – As presenças sumiram após um sorriso calmo e tranqüilo.

Eu abri os olhos novamente e Chronos estava diante de mim, ainda ajudando-me a curar.

- Você está bem?

- Estou... O que foi isso que eu vi? – Eu perguntei e ele levantou uma sobrancelha.

- Uma visão. Deve ter visto uma das minhas conversas com meu irmão.

- Chronos eu quero proteger meus amigos...

- E você vai.

- Mas os últimos dias têm sido tão tensos. Como posso saber se estão todos bem? Como papai e mamãe fazem comigo e meus irmãos, pelas Pedras de Isis. – Eu falei, tocando meu pingente.

- Nisso eu posso te ajudar. – Ele sorriu.

--------------

Naquela noite, diante de todos os seus amigos, não importa onde estivessem, surgiu uma pena branca. A pena era completamente branca e macia, parecendo brilhar quando surgiu diante deles. Elas surgiram em cima de mesas, de livros, flutuando no ar. Assim que Hiro, Clara, Tuor, Julian, JJ, Jamal, MJ, Rupert, Keiko, Haley, e até mesmo no distante Texas, Justin, além de Edie, Gaia, Luky, Bela, Mina e Luthien, tocaram naquela pena curiosa eles souberam que era uma pena de Artemis. A voz de Arte entrou em suas mentes e eles ouviram-na falar.

- Essas penas sempre me mostrarão onde vocês estão. Eu saberei se estiverem em perigo e saberão se eu estiver em perigo. Levem-nas sempre com vocês. Elas são invisíveis para todos que não tenham uma pena igual. Essa pena serve para que nunca se esqueçam o quanto a amizade é importante e que eu nunca deixo de pensar em vocês.

A pena então parou de brilhar, mas conservou o branco puro. E sempre que a seguravam, pareciam sentir um calor nela, como se fosse o calor de Artemis, abraçando-os e sorrindo.

--------------

- Arte o que foi? – Mamãe perguntou ao meu lado, quando eu parei de repente. Estávamos no meio de uma investida a um esconderijo que nossos espiões encontraram. Ele ficava perto da Suécia e parecia pequeno, mas tinha um grande fluxo de vampiros lá com regularidade.

Eu fiquei muito tempo parada, sem responder. Eu apenas olhava para frente na direção do esconderijo, onde os primeiros vampiros já eram combatidos por nossas forças. Era início de noite e a lua cheia iluminava o campo verde, onde nossos aurores corriam contra vampiros pegos de surpresa.

Senti uma força tremenda, muito cruel e poderosa. Ela se assemelhava um pouco à energia que sentia vindo dos Abissais, só que em um nível mais brando, mas ainda feroz. Eu senti como se minha alma saísse de meu corpo e todo o tempo parou a minha volta. Não sentia o vento frio da noite, os gritos da batalha, as explosões dos feitiços ou a voz de minha mãe, cada vez mais preocupada. Só via aquele ser diante de mim.

De início era uma massa escura, com olhos negros e malignos, mas a massa negra começou a tomar forma e nós nos encaramos, olho no olho. Eu não via sua forma com clareza, e eu sabia que ele também não, mas eu sabia quem ele era. Graças aos deuses ele não sabia quem eu era.

- É Cadarn. Ele está aqui! – Eu falei, saindo do transe. Levantei minha mão na direção norte. – Lá! Ele está no subsolo, vai fugir por uma passagem escondida com feitiços desilusórios, mas eu cancelei esses feitiços! Mãe, ele sabe que eu estou aqui! Ele não me viu completamente, mas percebeu minha presença! – Eu falei, sentindo medo e nervosismo na voz.

Mamãe não pensou duas vezes, e ordenou que os aurores fossem naquela direção. Tio Ty estava ali perto e ouviu o que disse e correu naquela direção, chamando Griffon e Seth. Eu não conseguia me mexer, tremendo muito e mamãe ficou ao meu lado, abraçada a mim. Eu nem poderia ir atrás dele, apesar de muito querer. Se ele me visse ele saberia quem eu era e eu não podia deixar isso acontecer. Enquanto eu pudesse afetar seus planos escondida, ele jamais saberia onde atacar.

-------------------------

- Mestre, devemos fugir! Eles estão atacando a entrada principal! – Um vampiro falou, enquanto Cadarn praguejava. Ele não esperava que encontrassem esse esconderijo.

- Preparem a saída norte, eles não devem conhecê-la.

Ele começou a correr, despreocupado, pois sabia que era capaz de escapar. Mas então ele sentiu uma mudança no ar, no próprio solo e até mesmo em seu sangue. Havia um grande poder lá fora. Ele ficou paralisado, capturado pelo magnetismo daquela força. Então ele viu.

A forma era branca e pura, de uma luz intensa. Ele percebeu que ela poderia queimá-lo se não estivessem se encarando no mundo dos espíritos. A forma então começou a tomar um contorno e ele se viu diante de uma mulher que o olhava com olhos impiedosos e poderosos. Ele sentiu medo.

- Ela está aqui. – Ele balbuciou, correndo como nunca correra antes.

- Quem? – Maxmilliam perguntou, correndo ao lado do mestre.

- A tal Rainha. – Ele falou. Nesse momento, chegaram na saída norte e descobriram que todos os feitiços que haviam colocado fora retirados. Assim que eles saíram do esconderijo, Seth, Griffon e Ty, junto de dezenas de aurores caíram sobre eles e a batalha foi sangrenta. Cadarn e Maxmilliam duelaram contra os três, tentando ganhar terreno.

Os vampiros podiam sentir que estavam perto de perder e quanto mais demorassem a escapar, mais aurores surgiriam. Logo Derfel surgiu no campo de batalha, acompanhado por Cewyn e seus Executores. Alucard também apareceu, com um reforço de mais aurores. Cadarn praguejou e fez um corte profundo do ombro ao meio da barriga. Seu sangue caiu na terra e ele a socou, causando uma explosão ao seu redor. O seu sangue espalhou-se pelo ar e os aurores sentiram como se sua garganta fechasse e muitos caíram no chão com dificuldade de respirar. Cadarn aproveitou a confusão para fugir, junto de Maxmilliam e alguns de seus vampiros.


Monday, August 08, 2011


Desde o ataque dos vampiros em Covent Garden, meus pais entraram no modo paranóico e não me deixavam mais sair de casa sozinha. Se não tivesse a companhia de um dos dois, ou dos meus tios, Rupert e eu não tínhamos autorização nem para pôr os pés na calçada. Papai, mamãe, tio Scott, tio George e tio Ben se revezavam entre estarem em casa conosco e ajudarem o clã Chronos, então tinham sempre quatro deles na sede e um em casa. Hoje era dia da mamãe montar guarda. Rupert estava lendo no quarto e eu jogava videogame na sala enquanto ela ia de um lado pro outro na cozinha ocupada com os preparativos de uma sobremesa pra lá de complicada que tio Scott tinha deixado a receita. A campainha tocou, mas estava tão concentrada no jogo que não me movi. Mamãe resmungou alguma coisa que não entendi e foi até a porta.

- Boa tarde. A Clara está? – ouvi a voz de Sheldon e aquilo era tão fora do comum que me desconcentrou no jogo.
- Entre, por favor – mamãe abriu passagem para ele e sai do sofá.
- Sheldon? O que faz aqui?

O que veio a seguir foi talvez a coisa mais bizarra que aconteceu em toda a minha vida, e digo isso depois de descobrir que posso me transformar em lobo e lutar contra vampiros. Sheldon se aproximou de mim e de um jeito completamente desengonçado, me abraçou. Levei uns segundos para sair do estado de choque e retribuir o abraço, mas minha expressão era tão confusa que mamãe voltou pra cozinha prendendo a risada.

- Soube do ataque em Covent Garden e fico feliz que esteja bem – disse quando me soltou.
- Obrigada, Sheldon.
- Foi muito trabalhoso acomodá-la em minha vida. Odiaria se o esforço tivesse sido em vão porque morreu precocemente vitima de um ataque de vampiros.
- Obrigada outra vez, eu acho.
- Ah, acho que também devo parabenizá-la pela medalha olímpica. Assisti a luta pela televisão.
- Obrigada mais uma vez, mas você não veio aqui só para ver se estava viva e me dar os parabéns, não é mesmo?
- Sua perspicácia ainda me surpreende – ele caminhou até o balcão da cozinha e sentou – Preciso de um favor.
- Não vou fazer comprar sapato com você outra vez – sentei no banco em frente a ele – Você não escuta o que eu digo, compra o que quer e depois reclama que machuca o pé.
- Não é isso – ele sacudiu as mãos impaciente – Preciso que separe Hiro de Leslie.
- Como é que é? – comecei a rir e mamãe diminuiu o ritmo para prestar atenção.
- Gosto dos dois, mas quando estão separados. Consigo lidar com seus níveis de chatices separados, mas juntos eles são duas vezes mais irritantes. Não agüento mais. Com você ele não muda, posso me acostumar.
- Eu não vou roubar o namorado de ninguém só porque você quer, Sheldon.
- Justo. Mas e se você quiser? Você separaria os dois?

Não respondi de imediato e foi isso que me entregou. Na verdade já tinha me feito essa mesma pergunta antes, há quase dois anos atrás, mas tinha acabado de descobrir que ainda não tinha uma resposta. Quando tentei responder acabei gaguejando.

- Não. Não vou fazer isso! Sei que não sabe lidar com mudanças, mas vai ter que aprender a conviver com isso, se gosta deles.
- Mesmo que eu continue descarregando minhas frustrações em você outra vez?
- Sim, mesmo que continue alugando meu ouvido com reclamações, como fez no nosso 5º ano inteiro. Nada pode ser pior que suas reclamações da Brittany.
- Você pode se surpreender.
- Vou arriscar.
- Sheldon? – Rupert apareceu na cozinha.
- Rupert! – Sheldon levantou e também o abraçou. A cara que ele fez foi ainda mais chocada que a minha – Que bom que está bem.
- Er, obrigado – ele deu dois tapinhas nas costas de Sheldon e se separaram – Já que está aqui, preciso de sua ajuda. Estou agarrado em uma fase de Dead Space e não sei o que fazer.

Os dois foram para a sala e Rupert colocou o jogo que estava o tirando do sério há dias. Logo Sheldon começou a dar instruções sobre o que fazer e os dois não estavam mais naquele plano. Voltei à atenção a movimentação na cozinha e mamãe estava com aquela cara de quem tem várias observações a fazer, misturada a uma expressão de quem estava se divertindo bastante.

- Como você acabou amiga desse menino? – ela perguntou rindo.
- Passei um ano e meio tendo aula de reforço de Poções com ele. No começo queria matá-lo todos os dias, mas acabei acostumando – dei de ombros e ela riu ainda mais – E Rupert, MJ e Hiro sempre foram amigos dele, eles me influenciaram um pouco.
- Ele é engraçado. Meio sem noção, mas engraçado.
- Então isso faz de você a primeira pessoa a se divertir com Sheldon na primeira vez que o conhece. Eu levei dois anos pra achar a graça.
- E como anda essa história com o Hiro? Da última vez que me contou alguma coisa, estava chateada porque estavam se afastando.
- Estamos bem, ele não está mais com a insuportável. Leslie é legal e é minha amiga, a convivência não está sendo afetada.
- Não se sente incomodada?
- Mãe, sei que o que você mais quer ouvir é que Hiro e eu estamos juntos, porque você o conhece desde que nasceu e é filho de uma de suas melhores amigas, mas isso não vai acontecer. Nós somos o oposto um do outro! Funciona bem numa amizade, mas nunca daria certo em um namoro.
- Pois ai é que você se engana. Nunca ouviu dizer que os opostos se atraem?
- Isso é muito legal na teoria, mas na prática é bem mais complicado.
- Mas é ai que está toda a emoção! Quem quer um namoro onde você sabe tudo sobre a outra pessoa, sabe prever todos os seus movimentos e sabe exatamente como agir, por serem tão iguais? Onde fica a parte que envolve as surpresas do relacionamento? Porque a pessoa que está com você é tão diferente que você quer cada vez mais saber mais sobre ela, está sempre descobrindo coisas novas, e não o mesmo de sempre.
- Não acho que você e papai sejam tão diferentes assim um do outro.
- Com o tempo vamos ficando mais parecidos, mas quando tínhamos a sua idade a coisa mais improvável do mundo era o monitor tímido da Grifinória se apaixonar pela menina maluca da Lufa-Lufa que estava mais interessada nas festas do que nos estudos. E no entanto foi exatamente isso que aconteceu. É muito cômodo estar numa relação onde as duas pessoas são iguais, não é trabalhoso e você sempre sabe o próximo passo. O inesperado, no entanto, é o que realmente vale a pena.
- Então quer dizer que você colocava as festas antes dos estudos? – desviei o assunto - Não a culpo, as festas da Lufa-Lufa são as melhores mesmo.

Mamãe riu e começou a me contar sobre algumas das festas mais malucas que eles organizavam quando ela estava na escola, como uma festa criada a partir da insônia dela, e o rumo da conversa mudou por completo. Ela esqueceu o assunto, mas eu não consegui. Passei o resto do dia com o que ela tinha dito martelando na minha cabeça. Hiro era, sem sombra de duvidas, o meu oposto. E o meu igual claro que era James. Éramos tão parecidos que às vezes assustava e era mesmo muito mais cômodo estar com ele, embora nunca tenhamos falado em namoro e não fossemos exclusivos um do outro. A pergunta agora era: até quando isso seria o bastante?

Saturday, August 06, 2011


Lembranças de Artemis A. C. Chronos

- Pela Clara vir morar em Londres! – Rupert gritou, levantando o copo para batermos no dele. Todos nós fizemos o brinde, rindo alto e alegres, enquanto bebíamos nosso copo enorme de refrigerante.
- Por Arte e Rupert serem Monitores Chefes! – Clara falou e brindamos novamente.
- Pelo Torneio Tribruxo! – JJ falou e brindamos novamente.
- Pela nossa amizade! – Eu falei animada, e todos brindamos rindo.
- Pela linda garota que está olhando para mim da outra mesa! – Jamal falou, piscando o olho para uma garota de outra mesa, que riu e começou a cochichar com a amiga. Éramos o grupo mais barulhento da pizzaria, mas também o mais divertido. Cada um de nós cinco fazia barulho por pelo menos uns 10, mas como éramos parentes dos donos, não tinha problema. A pizzaria era dos tios do Rupert e decidimos ir para lá depois de passar o dia no Beco Diagonal. A pizzaria ficava em Covent Garden, próximo da entrada trouxa do Beco.
Era início da tarde quando eu e JJ nos encontramos na Gemialidades Weasley. Griffon e Luky estavam com a gente também, indo visitar Tio George, velho amigo de meu irmão, e adquirir novos itens da loja. Griffon era membro honorário da loja e na época de escola sempre era o primeiro a testar os diversos produtos. Além de ser o revendedor e distribuidor da loja em Beauxbatons, um orgulho não? Luky estava seguindo pelo mesmo caminho e marcara de encontrar com Tiago e Fred na loja.
Eu e JJ tínhamos marcado de encontrar com Rupert, Jamal e Clara no Beco Diagonal. Iríamos aproveitar que Clara estava em Londres visitando os primos, para comemorar sua mudança para nossa cidade. Os três nos encontraram na Dedosdemel, tomando um Milk Shake, enquanto contava para ele como estavam as coisas em casa. Eles chegaram quando eu contava das investidas contra os vampiros e logo ficaram interessados. Contei a eles tudo que podia e tomamos pelo menos uns 4 milk shakes antes de sair da loja e irmos andar pelo resto do Beco.
- E o aniversário de namoro, como foi? – Clara quis saber, animada. Os garotos reviraram os olhos, mas ouviram animados quando comente como foi nosso dia. Mostrei a eles meu pingente novo e tive que aturar eles me perseguindo com perguntas de quando seria o casamento ou se já tínhamos casado escondidos de todos.
Passamos a tarde inteira no Beco Diagonal, fazendo compras e conversando apenas. Estávamos muito animados com o fato da Clara se mudar para Londres, ficando ainda mais perto de nós todos. Além disso, queríamos comemorar a medalha olímpica dela e o fato de eu e Rupert termos sido nomeados Monitores Chefes. Hoje em dia eu via que merecia isso, pois apesar dos meus primeiros anos terem sido bem bagunçados e meu histórico ser extenso, desde que me tornei monitora eu me esforcei para retribuir a confiança de Mimi e Tio George.
Já era final da tarde quando voltamos à Gemialidades para encontrar com Griffon e Luky novamente. Mas decidimos estender mais as comemorações e Rupert sugeriu a pizzaria de seus tios e logo adoramos a idéia. Luky queria ir conosco, mas Griffon não deixou, pois ao contrário de nós, ele não era maior de idade e Emily os estava esperando para jantar. Meu irmão nos escoltou até a entrada da pizzaria e depois se despediu de nós, enquanto Luky permanecia rabugento.

------------

Só saímos da pizzaria de madrugada e fomos os últimos a sair de lá. Jamal conseguira o telefone da tal garota e eu sabia que ele só não estivera na mesa delas porque estava comemorando conosco.
Apesar da hora muito avançada, já passavam das 3 da manhã, Covent Garden continuava muito cheio. Eu sabia haviam poucos bruxos ali, pois estes estariam no Beco Diagonal, então a maioria, se não totalidade, eram trouxas. Haviam dezenas de bares abertos e um público variável circulava pelo local, todos rindo e bebendo. Haviam jovens, adolescentes, adultos, até pessoas de idade eu vi. E pareciam vir de todos os cantos do mundo. Um grupo de japoneses conversava em um inglês enrolado com um grupo de escoceses no bar vizinho da pizzaria, era hilário de se ver.
Fomos andando até a entrada trouxa do Beco, mas eu tinha uma sensação estranha. Fiquei calada, mas assim que colocamos o pé fora da pizzaria eu soube que estávamos sendo observados. Decidi não alarmar meus amigos, olhando em volta, mas não vi ninguém. Chronos me alertou também, confirmando minhas suspeitas. Estávamos a pouco mais de 50 metros da pizzaria quando Clara olhou em volta também, e virando-se assustada em seguida para mim.

- Continuem andando. – Eu falei, apressando-os. – Para o Beco Diagonal agora.
- O que está acontecendo? – Rupert quis saber, preocupado.
- Estamos sendo seguidos. – Clara explicou. – Arte, quantos? São vampiros, não?
- Sim. Há três atrás de nós. E tem mais três misturados àquele grupo à direita. – Eu falei. A rua onde a pizzaria ficava era longa e bem larga, mas para chegar no Beco Diagonal passaríamos por ruas apertadas e estava preocupada. Eles bloqueavam nosso caminho direto para o Beco, já que teríamos agora que procurar outra rua que fosse para o lado direito da Covent.
- O que vamos fazer? – Jamal perguntou. Os garotos tinham pouca ou nenhuma experiência com esse tipo de coisa, conhecendo apenas os feitiços e ensinamentos da escola. A escola nunca negligenciou nas aulas de DCAT, mas a prática era muito diferente. Eu e Clara tínhamos maior preparo, além de sermos mais ágeis e rápidas, mas eu não tinha dúvidas de que a única realmente pronta para um ataque era eu.
- Ao meu sinal corram para o Beco Diagonal e não parem por motivo algum, e não me esperem. – Eu falei.
- O que vai fazer? – JJ perguntou.
- Chamar os aurores. – Eu falei. – Agora!

Eu os empurrei a frente e eles começaram a correr, e tudo pareceu se mover em câmera lenta. Virei minhas costas para meus amigos já de varinha em punho e a apontei para o céu e centenas de faíscas vermelhas e brancas subiram aos céus, em uma grande explosão. Os três vampiros que nos seguiam saltaram sobre mim enquanto eu lançava o feitiço para o alto, mas tive tempo de apontar a varinha para eles e criei uma barreira, parando-os no ar.
Os trouxas demoraram alguns segundos para perceber o que acontecera e não entendiam o que eram aqueles fogos de repente. Acredito que eles não teriam saído do lugar se os três outros vampiros não mostrassem as pressas e saltassem contra mim. As pessoas começaram a gritar e correr sem rumo.
Eu lancei um feitiço rápido contra os três vampiros da direita e corri atrás dos meus amigos. Os aurores não demorariam a aparecer, tanto do Ministério quanto do clã. A magia diante de trouxas seria suficiente para isso e meu alerta ecoaria para todos. Eu logo os alcancei, já que corria mais rápido do que eles. Estava preocupada com eles e com os trouxas, mas respirei aliviada ao ver que os vampiros nos seguiam.
Então senti um movimento acima de nós e vi que dois vampiros estavam nos telhados, saltando de prédio em prédio atrás de nós. Outros dois vampiros surgiram na nossa frente, no meio da rua, e meus amigos derraparam antes de parar. Rupert lançou um feitiço contra eles, que saltaram de lado rindo.

- Direita, agora! Para a praça! – Eu gritei e entramos correndo em uma rua, uma das apertadas.

Enquanto corríamos ouvia o vampiro silvando atrás de nós, mas eram obrigados a correr dois por vez, mas os outros subiram no telhado. Lancei diversos feitiços para trás e coloquei uma lixeira em chamas enquanto corria, jogando-a contra um dos vampiros.
Saímos da rua e nos vimos de frente para a praça do mercado. Era disso que eu precisava, um lugar aberto onde pudesse ver todos os vampiros. A gritaria e o caos que causamos nas ruas anteriores havia chegado até ali e as pessoas gritavam e corriam, mas pelo menos deixaram a praça vazia.
Mandei todos correrem até a ponta dela e viramos de costas para o prédio que ficava ali, encarando a rua de onde saímos. Os vampiros começaram a surgir dali. Saíram cinco da rua, enquanto outros 4 saltaram do alto dos prédios. Todos tinham as pressas amostra e pareciam rir.

- O que vamos fazer?! – Jamal falou e ouvi medo em sua voz. Eu não o culpava, um vampiro é um ser maldito que se alimenta de medo e é capaz de criar medo onde estiver.
- Fiquem calmos. Não podem se deixar cair nos truques deles. Usem todos os feitiços mais poderosos que souberem, principalmente fogo. – Eu falei e eles assentiram, já de varinhas em punho.

Os vampiros saltaram sobre nós rapidamente e eu atingi dois deles com dois feitiços rápidos, fazendo-os quicar ainda no ar. Os outros foram mais rápidos e se aproximavam de nós. Os meninos lançaram feitiços Extupefaça e Expelliarmus, mas não surtiam muito efeito e apenas um dos vampiros foi retardado. Clara atingiu um vampiro com um Incedius na barriga, colocando sua roupa em chamas. Eu podia sentir que ela se controlava para não se transformar por causa dos trouxas.
Vi quando Chronos atingiu um vampiro com sua lança e o vampiro virou pó diante de nossos olhos, queimado de dentro para fora. Mas Chronos não podia nos ajudar muito, por estarmos próximos demais. Eu mesma não podia lutar com minhas espadas, pois precisava de mais espaço e temia me afastar dos meus amigos.
Dois dos vampiros ficaram para trás e começaram a lançar coisas contra nós, desde cadeiras e mesas até plantas inteiras. Jamal foi atingido por uma cadeira e só não se machucou mais pois JJ conseguira explodi-la no ar. Eu me adiantei um pouco a eles, envolta por meus escudos, que flutuavam ao nosso redor para nos proteger, e impedi dois vampiros de saltarem sobre Clara e Rupert.
Mas um vampiro conseguiu saltar por cima de nós todos e quando vi estava no meio de nós. JJ gritou quando ele caiu do seu lado e tentou lançar um feitiço contra ele. Mas o vampiro o socou no ombro e o feitiço atingiu Rupert jogando-o para trás, enquanto JJ caia com o ombro deslocado. O vampiro saltou sobre Rupert, as pressas a mostra, mas o alcancei antes e perfurei suas costas e minha espada atravessou sua barriga. O vampiro cuspiu sangue, enquanto engasgava e o incendiei a partir de minha espada e ele virou pó diante de Rupert.

- Cuidem do JJ! – Eu falei, empurrando Jamal, Rupert e JJ para trás, enquanto eu e Clara nos colocávamos entre eles e os outros vampiros.

Clara e eu tínhamos algo que os garotos não tinham e não me referia apenas à nossa agilidade e habilidade. Passamos dois anos correndo juntas, treinando juntas, e isso aumentara a ligação que havia entre nós. Eu, ela e Justin conseguíamos nos comunicar mentalmente, então nós duas não precisávamos falar para nos entendermos. Eu conjurei novos escudos que levitavam ao nosso redor e lancei um feitiço contra um vampiro à minha direita, desafiando-os a me atacar. Quatro vieram para cima de mim, enquanto os outros três enfrentavam Clara.
Nós duas lançávamos feitiços com rapidez, afastando os vampiros o máximo que pudéssemos. Em dado momento, eu me abaixei e Clara lançou um feitiço por cima de mim, fazendo um hidrante explodir. Uma coluna enorme de água começou a jorrar para o alto e os vampiros riam de nós, como se tivéssemos errado o alvo. Mas ela fizera exatamente o que eu pedira.
Com minha espada na mão esquerda, fiz um corte na palma da minha mão e apontei minha varinha para a coluna de água e a água começou a me obedecer. A coluna cresceu mais e se dividiu em três, uma voando para cada vampiro que eu enfrentava. Um ficou preso em uma bolha enorme, o outro foi perfurado no peito por centenas de estacas de água, enquanto o outro começou a queimar quando a água o encharcou. Meu sangue estava misturado àquela água e agradeci a Justin pela lição. Lembrei-me dele falando que meu sangue era tão puro que um vampiro poderia ser queimado por ele. Fechei a mão com raiva, fazendo a bolha fechar-se violentamente, enquanto o vampiro que queimavam lá dentro era esmagado pela pressão da água.
Os outros quatro vampiros pareceram não se importar e tive certeza que eram Escravos por isso não sentiam medo. Eu e Clara começamos a lançar feitiços em dupla, cobrindo as brechas uma da outra. Um vampiro conseguiu escapar de nós e saltou contra Clara, mas um dos meus escudos o interceptou e logo em seguida um feitiço explodiu em suas costas, fazendo-o queimar.
Vi com alívio a praça se encher de aurores. Eram rostos conhecidos e logo cercaram os vampiros. Os três últimos silvaram para todos e tentaram escapar.

- Não os deixem escapar! – Eu gritei. E depois olhei para os garotos, que pareciam petrificados. – Riordan, Sphor, cuidem deles! – Eu gritei e os dois aurores do Ministério correram até nós.

Três aurores do clã incineraram um vampiro quando ele saltava para o telhado de um prédio, enquanto outro era perfurado por dezenas de estacas flutuantes e atingido por uma bola de fogo. O último estava cercado por 10 aurores, mas tentou fugir, atirando mesas contra nós. Apontei minha varinha para ele e correntes de prata surgiram do ar, prendendo seu pescoço. Ele gritou, apertando a própria garganta e tentando se soltar, mas segurei com força a corrente e logo os aurores faziam o mesmo e então pelo menos cinco correntes o prendiam e ele caiu de joelhos.

- Não o deixem escapar. Vigiem o perímetro, pode haver mais na vizinhança ou tentar resgatar este. – Eu falei e voltei correndo para meus amigos. Clara já estava abraçada a Rupert e os dois olhavam para o ombro de JJ. Jamal conversava com dois aurores, seguranças de Tio Quim. – Vocês estão bem?
- Graças a vocês duas, sim. – Rupert falou, sorrindo, mas ainda assustado.
- Vocês duas foram demais. – Jamal falou admirado.
- Eu não fiz nada, agradeçam a Arte por estar conosco, se não estávamos ferrados. – Clara falou. Nesse momento ouvimos vários estalos e vimos nossos pais correndo até nós.
- Filha, você está bem? – Mamãe falou quando me abraçou. Tia Lou e Tio Remo abraçaram Clara, enquanto Tio George abraçava Rupert aflito. Tio Josh e Tia Sam olhavam preocupados para JJ, enquanto ele já era atendido. Tio Quim abraçou o filho, antes de brigar com seus seguranças por não terem sido mais rápidos.
- Estou mãe. – Eu falei, cansada. Papai quase teve um treco quando viu que minha mão sangrava e mamãe me ajudou a curá-la.
- Conseguimos matar alguns deles antes dos aurores chegar. E achei que gostariam de interrogar aquele ali. – Eu falei, indicando o vampiro preso.
- Você foi excelente filha. – Papai falou.
- Artemis, não sei como agradecer por proteger nossos filhos. – Tio Quim falou, eu me levantei rapidamente, fazendo uma reverência para ele. – Não precisa disso filha. Estou admirado com o que vocês conseguiram fazer.
- Não fizemos nada pai, foi a Clara e a Arte que nos ajudaram. Sem elas, não sei o que teria acontecido. – Jamal falou e os garotos concordaram com eles. Tio Quim apertou a mão minha e de Clara, sorrindo agradecido.
- Não pensa em seguir a carreira de auror, Clara? – Ele perguntou.
- Não, Tio Quim, prefiro permanecer como curandeira. – Ela respondeu.
- Uma pena, mas ainda assim uma carreira muito digna. Artemis. – Ele falou, virando-se para mim. – Vejo que não errei ao nomeá-la auror tão nova. Gostaria de pagar o que fez de alguma forma.
- Tio Quim, eu os protegi por serem meus amigos, mas protegeria a qualquer um. Não quero nada. – Eu falei.
- Você fez um excelente trabalho, tanto aqui quanto com os trouxas. Romper o Tratado é um preço baixo a se pagar para salvar todos. Eu gostaria de lhe fazer uma proposta. – Ele falou e eu aguardei curiosa. – Gostaria de fazer parte da minha guarda?
- Tio Quim, digo, senhor, seria uma honra, mas é demais para mim. – Eu respondi após um tempo sem reação.
- Você provou ser mais capaz que muitos aurores por aí. – Ele falou, sério.
- Mas ainda estou em Hogwarts.
- Eu sei. Por isso posso modificar minha proposta. Seu pai me falou que pretende seguir carreira como Inominável, não? Eu posso ajudá-la e gostaria de ter sua energia para minha proteção. Além disso, posso esperar até terminar Hogwarts e posso aceitar que divida seu tempo também com o curso de curandeira.
- Senhor, é uma honra. – Eu falei, admirada e feliz. – Seria uma honra para mim protegê-lo.
- Não precisa me chamar de senhor, você é como uma sobrinha para mim, então voltemos ao tio. Mas quando estivermos em serviço, pode me chamar de senhor se desejar.

Aquela noite demoramos a dormir, ainda assustados e, no meu caso, animados, com tudo que aconteceu. Fomos todos para a casa dos meus pais e lá já estavam meus irmãos e os primos e tios de Clara e Rupert. Tia Alex e Tio Logan ficaram sabendo do ocorrido e mamãe me avisou que deveria haver uma visita em massa dos McGregors, dos Kinoshita e de todos nossos amigos no dia seguinte. Mandei uma carta para Tuor assim que cheguei em casa e daria tudo para ver a cara dele quando soubesse do que aconteceu. Ele também viria no dia seguinte com certeza.

------------

Longe de Covent Garden, localização desconhecida.


Maxmilliam recebera a missão de Cadarn de encontrá-los. E para ele qualquer missão de seu rei era uma honra e ele cumpriria a qualquer custo. Essa noite ele os encontrara.

- O que você quer, verme? Ainda não me esqueci como vocês se recusaram a ajudar o meu Lord em nossa guerra.
- Minha cara, é uma política antiga dos vampiros: não nos envolvemos com os humanos, apesar de ser uma política que eu e meu mestre discordamos. Porém, na época, o tirano que nos governava nos obrigou a não ajudar seu mestre. – Maxmilliam respondeu, usando todo o seu poder de persuasão em sua voz. A mulher ergueu uma sobrancelha, mas ficou calada. Ele notou que as outras figuras encapuzadas permaneciam caladas, e viu que ela era claramente a líder. Os últimos Comensais ainda livres e fiéis, não mais do que dez.

Ainda vestiam suas túnicas negras e deixavam a tatuagem em seu punho direito aparecer com orgulho. Ela estava muito fraca agora que seu mestre havia morrido, mas ainda estava no braço de todos os Comensais, uma lembrança do Lord das Trevas. O vampiro teve vontade de rir daqueles maltrapilhos e de seu “Lord das Trevas”, pois o único que merecia aquele título era Cadarn, mas seu mestre dissera o quão importante era conseguir o apoio daqueles homens.

- Diga logo o que você quer...
- Meu mestre gostaria que soubessem que ele deseja muito o seu apoio e de seus grandes aliados. – Ele falou indicando com as mãos os outros Comensais. – Suas façanhas são famosas e meu mestre as admira.
- Por que seu mestre não veio em pessoa? Cadarn, nunca ouvi falar dele. – Ela falou, com superioridade na voz e o vampiro segurou a vontade de matá-la.
- Meu mestre não pode se envolver diretamente com assuntos importantes. Ele está sendo vigiado constantemente e qualquer movimento que faça, pode ser percebido pelos nossos inimigos.
- E o que eu tenho a ver com isso?
- Você não tem nada diretamente com esse empecilho de meu mestre, mas ele gostaria da ajuda de vocês nas batalhas que ele lutará em breve.
- O que ganhamos com isso?
- A chance de se vingar de todos aqueles que traíram vocês e destruíram sua família, seu mestre... – Ele percebeu que estava quase conseguindo convencê-la, mas um brilho de loucura surgiu em seus olhos e ele notou como os demais Comensais pareceram se afastar.
- Eu me vingarei sozinha! Não irei me tornar uma serviçal de vermes como vocês! – Ela falou, sacando a varinha e apontando para ele. Maxmilliam, porém, não se mexeu e sentiu a varinha em sua garganta. Eles trocaram olhares intensos e o vampiro decidiu tomar um caminho mais feroz. Ele riu, mostrando as pressas.
- Me diga, o que vocês são? – Ele perguntou, ainda rindo, mas os Comensais pareceram não entender. – Vocês não são mais do que mendigos, ratos de esgoto que estão correndo de um lado para o outro no mundo, de um chiqueiro para o outro. Vocês são covardes e estão fugindo dos aurores. – Ele falou e os demais Comensais começaram a falar insultos e xingamentos e todos apontaram a varinha para ele. Mas ela percebeu a mudança no tom dele e levantou uma mão. Seu olhar estava ainda mais perigoso, como o de uma caçadora impiedosa.
- Meça suas palavras, verme...
- Eu estou falando a verdade. – Ele falou, rindo, mas se apressou a dizer. – E você sabe disso. Vocês tiveram 20 anos para se vingar e o que conseguiram? Nada... Você sabe tão bem quanto eu que sozinhos não poderão fazer nada. – A mulher o encarou mais alguns segundos e abaixou a varinha.
- Sabemos esperar nossa hora... Mas não aceitarei a ajuda de vermes. – Ela falou, cuspindo no pé dele. Ela virou-lhe as costas, e os demais fizeram o mesmo, mas Maxmilliam riu, vitorioso.
- Meu mestre pode ajudá-los a se erguer. Pode dar a vocês o sangue de seus inimigos. Pode dar a vocês todos os bruxos e aurores que caçaram a vocês por tantos anos... Podemos dar a vocês o domínio total sobre os trouxas imundos... A você, Cybele, podemos dar a chance de se vingar pelo seu marido.

Ao ouvir aquilo ela parou. Havia acendido na chama dos demais a vontade de seguir aquele vampiro, e a menção de seu marido, Cybele Lestrange o encarou novamente. O vampiro então, lentamente, tirou de dentro das vestes uma única foto e a jogou para ela, que a pegou no ar. Seus olhos se arregalaram, de espanto, mas depois deu lugar a raiva e sua mão começou a tremer.

- Eles ainda estão vivos... Tanto Alexandra Mcgregor quanto Kyle...
- Impossível... Eu matei Kyle há décadas! Me vingando da morte do meu marido! E mesmo se estivessem vivos, eles teriam a mesma idade que eu!
- Não... – O vampiro falou, a voz melosa e calma, aproximando-se dela. Ele colocou a mão sobre a dela e a segurou firmemente. – Eles estão vivos e novos novamente. Cheios de saúde e vida... Enquanto seu marido está morto... E você reduzida a uma maltrapilha... Você acha isso justo? Eles tiraram seu marido... Seu mestre... Sua filha...
O brilho nos olhos da mulher tornou-se doentio de tanta loucura e o vampiro sorriu.
- Como isso é possível... ?
- Meu mestre pode te ajudar... Se vocês se unirem a nós, a magia de meu mestre pode dar a você a chance de matá-los quando ainda são jovens e assim impedir que seu marido seja morto, que seu mestre seja derrotado... O que acharia disso?

Ela soltou um grito de ódio e loucura e atirou uma esfera de fogo na foto enquanto jogava-a no chão. A foto queimou lentamente, mostrando os rostos alegres de Haley e Julian, tão parecidos com os rostos de Alexandra e Kyle quando jovens... Porém ela não sabia disso e caíra nas artimanhas de Cadarn.

Maxmilliam sorriu satisfeito e lhes disse que em breve seriam convocados para seu mestre, mas que por enquanto nada fizessem. Ele conseguira, conseguira trazê-los exatamente do modo como Cadarn desejava.

Monday, August 01, 2011


Rio de Janeiro, Agosto de 2016 - XXXI Jogos Olímpicos

- Está bem? – meu treinador me empurrou sentada no banco e me entregou uma garrafa d’água – Consegue voltar?

Fiz que sim com a cabeça e bebi a água, respirando pesado. Estava na Arena Olímpica, era a final de Taekwondo feminino peso médio e eu disputava a medalha de ouro contra uma atleta da Coréia do Sul. Ela era muito boa e estava me dando trabalho, havia acabado de empatar a luta acertando um chute no meu rosto que me deixou desnorteada. Precisava só de um ponto para vencer, mas ela também. Era a hora do tudo ou nada, uma medalha de prata não estava nos meus planos.

- Clara, tem alguém lhe chamando na arquibancada – o treinador assistente falou.
- Não importa, não é hora de tirar a concentração dela – meu treinador tentou bloquear a visão, mas já tinha visto que era Hiro.

Ele sacudia os braços enlouquecido, fazia algum tipo de mímica, mas eu não estava entendendo nada. Imitava golpes e depois apontava para os olhos, talvez dizendo que eu devia ver alguma coisa. Fiz sinal que não estava entendendo e ele agarrou JJ pela camisa, fingindo que havia acertado um soco em seu braço e depois apontou para os olhos dele, gesticulando como se algo piscasse. E então entendi o que ele estava tentando me dizer. Fiz sinal de positivo e ele acalmou.

- Estou pronta – levantei do banco e devolvi a água.
- Vá com calma e não deixe que ela a encurrale.
- Pode deixar, já sei o que fazer.

Voltei para o tatame e depois de nos cumprimentarmos rapidamente, a luta já recomeçou a mil. A coreana vinha pra cima de mim com tudo, desferindo socos e chutes sem parar, mas conseguia bloquear todos. Só precisava evitar que ela marcasse ponto até achar a brecha necessária. Consegui achar um espaço quando ela correu com a perna já esticada pra me machucar e saltei mais alto, chutando sua coxa. Ela cedeu com o golpe e com um giro rápido, acertei o pé com força na lateral do seu capacete protetor. Ela foi a nocaute com o baque dos dois golpes e o juiz ergueu a bandeira do meu lado.

Corri pro meu treinador na mesma hora e a equipe brasileira me engoliu num abraço. Eu não sabia se gritava, pulava ou chorava, não estava acreditando que tinha acabado de ganhar uma medalha de ouro em uma olimpíada. Fiz menção de correr para onde meus pais e meus amigos estavam, mas me seguraram no banco porque a entrega das medalhas já ia começar. Ajeitei o kimono todo amassado e torto, me enrolei em uma bandeira do Brasil e acompanhei a coreana e a atleta da Suécia que havia ganhado a medalha de bronze até o pódio. Não consegui impedir que algumas lágrimas escorressem quando ouvi o hino nacional tocar depois que o presidente do comitê olímpico pendurou a medalha de ouro no meu pescoço. Estava realizando meu maior sonho.

Quando desci do pódio corri direto pra arquibancada e mamãe estava tendo um ataque de tanto que gritava quando me abraçou. Todo mundo pulava enlouquecido e sentia vários pares de mão me puxando de um lado pro outro tentando me abraçar, mas quando mamãe me soltou foi Hiro quem puxei para um abraço primeiro. Agarrei seu rosto e lhe dei um beijo, agradecida.

- Segunda vez que salva minha pele – soltei seu rosto e ele estava vermelho, mas sorria feliz.
- Não acredito que esqueceu a técnica da luz.
- Culpa sua, que não treina comigo há um ano.
- É Hiro, muito feio! – Arte pulou em cima de mim – Eu que tive que levar chute dela por um ano inteiro, não gostei muito.

Todo mundo começou a rir e mais uma vez fui engolida no meio dos abraços. Todos queriam ver a medalha e tocar nela, e demoramos muito tempo para conseguir sair do ginásio, mas eu não tinha pressa. Se dependesse de mim, podia passar a noite inteira ali, admirando o palco da minha primeira medalha olímpica. Primeiras de muitas que ainda estavam por vir.

ºººººº

- Clara, pode vir aqui um instante? – papai bateu de leve na porta do meu quarto.

Segui-o até a sala e mamãe estava se despedindo de tio Scott, tio Ben, Gabriel e Maddie. Sentei na poltrona esperando para descobrir o que eu havia feito, pois não me lembrava de nada, e ela e papai sentaram no sofá de frente para mim quando o último foi embora.

- O que quer que eu tenha feito, por favor, nada do castigo dos 2 metros – falei logo e eles riram – Não quero seguir vocês para todo lado de novo.
- Por que sempre que chamamos você para conversar, acha que está encrencada? – mamãe perguntou ainda rindo.
- Meu histórico não é dos melhores, com o tempo aprendi a esperar sempre pelo pior – dei de ombros e os dois balançaram as cabeças.
- Não está encrencada, só queremos conversar – papai me tranqüilizou – Estamos com alguns planos que irão afetar toda a família e queremos saber a sua opinião.
- Queremos saber sua opinião sobre morar em Londres.
- De vez? Tipo, o ano inteiro? – mamãe assentiu – Mas por quê? O que mudou?
- Bom, depois que seu bisavô morreu e o advogado leu seu testamento, eu herdei a casa onde cresci. A principio pensei em vendê-la e dividir o dinheiro com George, mas não consigo me desfazer dela. Aquela casa possui tantas lembranças que não posso simplesmente vender, então surgiu um impasse.
- Não podemos deixar a casa vazia o ano inteiro, sem ninguém lá – papai continuou – Então pensamos que talvez pudéssemos ocupá-la.
- Mas e o seu trabalho? – perguntei a mamãe – Você é chefe da emergência do St. Inácio.
- Eu recebi uma proposta para assumir o cargo de chefe do departamento cirúrgico do Hospital John Radcliffe, que foi onde comecei meu estágio como interna – ela pareceu animada e olhou para meu pai – E seu pai também tem uma boa proposta de trabalho no Ministério da Magia de lá.
- E quanto ao tio Scott e o meu irmão? Vamos ficar longe deles? Não sei se vou me acostumar.
- Nessa família nada é decidido em pedaços, só tomamos decisões coletivas – mamãe parecia estar achando graça – Quando tudo isso surgiu conversamos com eles. Scott e Ben acham uma excelente idéia voltar para Londres, já que Nicholas agora mora lá e Scott quer passar mais tempo com seu pai.
- E Gabriel e Madeline gostaram da idéia de estarem apenas a 2 horas de trem de Paris – papai completou – Gabriel até já tem um emprego garantido, caso decida se mudar. Já faz algum tempo que um jornal de Londres está tentando levá-lo para lá.
- E também tem essa guerra contra os vampiros acontecendo e estando lá vamos poder ajudar muito mais. Seu pai e Ben já passam a maior parte do tempo indo e voltando da sede do clã Chronos, melhor que estejamos todos por perto no caso de alguma emergência.

Fiquei calada um tempo, pensativa. Nunca havia considerado a hipótese de mudar de país, mas com a proximidade do fim dos estudos em Hogwarts, era uma coisa a se pensar. E a guerra. Mesmo que meus pais nem considerassem a hipótese de me deixar ajudar, queria estar no meio da ação.

- Nunca pensei em me mudar, em sair do Brasil, mas gosto de Londres tanto quanto gosto daqui – comecei a falar ainda tentando absorver tudo – E se todos também vão, então tudo bem. Vamos embora para Londres.
- Nós vamos manter um dos três apartamentos aqui – mamãe leu meus pensamentos – Então vai poder visitar seus amigos sempre que quiser. Scott não vai fechar o restaurante, vai estar sempre por aqui vendo como as coisas estão.
- Vou sentir falta daqui, mas acho que mudar para Londres vai ser o melhor, no fim das contas – disse convencida – Quando nos mudamos?
- Bom, já pode se despedir dos seus amigos. Vamos para Londres semana que vem e não voltamos até que embarque para Hogwarts. E no Natal você já vai direto para a casa nova.

Assenti um pouco atordoada pela mudança repentina e levantei do sofá, voltando pro meu quarto. Se estava indo embora em uma semana, precisava reunir meus amigos daqui para comemorar meu aniversário e aproveitar para me despedir de todos. Já estava prevendo que essa festa ia terminar em clima de velório, mas estava animada com a mudança. Morar em Londres, definitivamente, era a melhor opção no momento.



Lembranças e memórias de Artemis A. C. Chronos

Memórias do ano 2015


Assim que começamos a namorar, eu e Tuor fomos conhecer as famílias de cada um. No namoro de pessoas normais, demoraria pelo menos um mês para isso acontecer, a tão temida apresentação à família. Mas o meu namoro com ele começou quando nos vimos pela primeira vez, então estamos perdoados.

Tuor passou pela tradicional implicância dos homens da minha família. Papai sempre foi muito ciumento comigo e fez pose de durão e sério quando Tuor foi nos visitar pela primeira vez como meu namorado. Apesar da pose, vi que papai adorou-o e fiquei aliviada. Tuor foi bem recebido por todos, mas foi Mina a primeira a considerá-lo parte da família. Ela me ajudou a deixá-lo à vontade. Claro, isso foi apenas na minha casa, quando ele foi comigo em uma festa no Texas e conheceu o tamanho da minha família por parte Mcgregor, Julian liderou as implicâncias. Eddie rosnou para Tuor e mostrou as pressas, para depois rir e abraçá-lo feliz. Ty ameaçou Tuor com seu bastão de quadribol, e só parou quando Tia Alex brigou com ele, pois Tuor estava ficando pálido já.

Comigo foi muito mais tranqüilo. Viajei para a Noruega duas semanas antes de voltarmos as aulas e fiquei dois dias lá. Gaia e Joseph foram comigo, para garantir proteção. Os pais dele foram maravilhosos comigo e se mostraram alegres por finalmente me conhecerem. Seus amigos todos me receberam bem, inclusive Milena, que pediu desculpas a tudo que disse para mim durante as Olimpíadas. Eu também me desculpei e foi como tirar um peso das costas.


-------------

No meio do ano, eu fui para a reserva de Justin e passei uma noite lá. Eu queria ir para ver como ele estava, pois estava preocupada com ele. E também queria matar a saudade dele, assim como dar notícias da Haley para ele, mas logo percebi que ele não queria citar nada sobre ela, assim como ela... Fui conhecer as pessoas que estavam transmitindo seus conhecimentos para ele e também para aprender o que pudesse.

Justin estava muito mais maduro e também mais poderoso e parecia mais velho do que eu me lembrava. Ele me abraçou com força quando cheguei, através de uma chave de portal criada por mamãe. Ele então me levou para conhecer sua tribo e sua família e fui bem recebida por todos. Havia vida naquela terra, em todas as coisas, e cada passo que eu dava me sentia mais em casa, absorvendo os fluxos benignos daquela terra antiga e sagrada. Os Anciões me receberam solenemente, mas com carinho, e fui abraçada e abençoada por cada um deles, terminando com a avó de Justin. Ela me estudou por longos segundos, olhando dentro de meus olhos como Justin fazia, para depois sorrir e me abraçar, como uma neta. Senti lágrimas nos olhos com a emoção e a abracei como abraçaria minha avó.

- Minha criança, Filha da Verdade, seja bem vinda a nossa tribo. – Ela falou e desde então, os Anciões passaram a me chamar por esse nome. Ela não era capaz de ver Chronos, mas o sentia, e fez uma pequena reverência para ele. Chronos a saldou com uma reverência também e me disse que ela era sábia.

Justin também me perguntou sobre Tuor, se ele estava sendo um bom namorado, e corei dizendo que estava sendo o melhor do mundo. Contei para ele as novidades do colégio, como o Torneio de Quadribol. Atualizei-o sobre a guerra e ele me perguntou sobre Fidelus. Contei-lhe que ele ainda estava nas Ilhas Hébridas, mas ia visitá-lo toda semana e que ainda esse ano ele se mudaria para Avalon. Estávamos apenas esperando que outros três filhotes se desenvolvessem mais, para irem juntos. Compartilhei com ele minha alegria ao dizer que Avalon recebeu autorização para se tornar um novo santuário dos Negros, e que eu seria responsável por cuidar de Fidelus e outros quatro dragões e autorizada a garantir a reprodução deles.

À noite, sentamos todos em torno da fogueira, toda a tribo reunida, desde as crianças e jovens, até os anciões e membros do Conselho da Tribo. Justin sentou-se ao meu lado e segurou minha mão. Sorrindo nós dois deixamos nossas energias fluírem entre nós e para a terra e o fogo ganhou vida com as histórias da tribo. As chamas tomaram as formas de águias e ursos, lobos e veados, heróis e donzelas, enquanto a voz profunda da avó de Justin ecoava em nossos ouvidos. Por fim, enquanto contava uma história sobre a escuridão eterna e como a luz nasce ao final de cada noite, ela olhou para mim. Havia luz em seus olhos e muita sabedoria.

- Filha da Verdade, minha criança, em seu futuro haverá momentos em que pode achar que estará lutando sozinha, mas você nunca estará só. Nós estaremos sempre ao seu lado, transmitindo nossa luz e nosso espírito para você, onde quer que esteja. E nunca se esqueça: mesmo uma pequena chama é capaz de iluminar as trevas. – Ela falou, sua voz cheia de solenidade e força. Aquelas palavras marcaram minha alma e eu nunca as esquecerei.

-------------

Férias do 6º Ano, 2016

E as férias do 6º ano começavam. Era até um pouco triste pensar que seriam minhas últimas férias de Hogwarts e que dentro de um ano eu estaria dando adeus para a escola onde eu cresci. Foi ali que minhas amizades foram crescendo, foi ali que eu me tornei o que sou. E foi ali que eu conheci o amor.

O sexto ano foi o melhor de todos desde que entrei em Hogwarts. Era o primeiro ano em que eu e Tuor passávamos na Escola como namorados. Era tão bom andar de mãos dadas com ele, abraçada a ele ou apenas ficarmos sentados na sala comunal namorando. E o Dia dos Namorados? Meu primeiro Dia dos Namorados realmente namorando alguém, e logo quem? O Tuor... Foi maravilhoso.

O ano foi muito agitado. Eu dividi meu tempo entre Hogwarts, amigos, namorado e caçadas. Nossas investidas aos vampiros continuavam intensas e com a guerra declarada, cada vez mais era exigido do clã. Como imaginávamos, os vampiros tornaram-se mais ativos, mas isso também foi bom, pois começamos a localizá-los com mais facilidade e podíamos prever seus ataques.

Agora, nessas férias, eu e Tuor completávamos um ano de namoro! Eu estava tão animada e excitada! Não conseguia me decidir pelo que lhe dar de presente. Até o dia em que andando por uma feira de cultura nórdica em Londres eu vi um cordão que chamou minha atenção. O cordão em si era comum, feito de couro, mas o pingente era maravilhoso. Era um martelo, o martelo de Thor para ser mais exata. Soube na mesma hora que era o presente ideal para o meu Viking.

Eu o encantei com a ajuda de mamãe e sempre que Tuor o aproximasse dos ouvidos poderia ouvir uma declaração minha, que terminava com “Eu te amo”. Demorei muito para conseguir gravar essa mensagem, pois sempre me emocionava e chorava no meio dela, de alegria e emoção, mas fiquei feliz com o que fiz.
Nós comemoramos nosso aniversário com um piquenique na fazenda da família de minha mãe, onde ela e papai se casaram, na beira do lago da propriedade e acompanhados apenas pela linda árvore que florescia ali. Era final do verão e o vento derramava uma centena de flores e folhas para nós dois, criando um clima lindo.
Entreguei meu presente a ele e pedi que ele o colocasse no ouvido. Quando ele o colocou, falei em seu ouvido junto de minha voz gravada no pingente e sorri, beijando-o longamente. Eu o ajudei a prender o pingente no pescoço, e ele acariciou o cordão, perguntando como estava.

- Lindo, meu Viking. – Eu respondi e o beijei, sorrindo. Quando terminamos de nos beijar, ele sorriu também, e ficou de joelhos, pegando as minhas mãos entre as suas.
- Artemis, eu prometo que a farei feliz, não importa como. Prometo que estarei sempre ao seu lado. Sempre te apoiarei e nunca me irritarei pelo seu jeito de ser. – Ele falou rindo e eu senti lágrimas em meus olhos. – Minha rainha, serei eternamente seu campeão se me permitir, alteza.

Now, when I hold your face so close to mine
I see a place where the sun will shine,
With you it is divine

Looking down into those eyes, I know
I'll be lost and never found again
Kiss me once and I will surely melt and die
Kiss me twice and I will never leave your side...
Dreams Come True


- Seu bobo. – Eu falei ainda chorando e me ajoelhei também, abraçando-o. Eu parecia a beira de explodir.
-Agora, é o meu presente. – Ele falou e nos sentamos um diante do outro. Meu coração batia acelerado, como nunca antes e podia sentir que o dele também. Ele pegou do bolso uma caixinha vermelha aveludada e levei um susto achando que era um anel de casamento! Eu aceitaria, admiti pra mim mesma ficando vermelha, mas era muito cedo. Fora que a caixa era do tamanho de sua palma, grande demais para um anel. – Você sempre gostou de flores e têm flores encantadas em seu quarto, pelas pessoas que lhe são importantes, como seus irmãos e seu padrinho. E tem um pingente em forma de uma flor de lótus no pescoço, dada pelos seus pais. Queria me tornar uma das pessoas importantes na sua vida, e pedi ajuda a seu padrinho e sua mãe para isso.
- Você já é importante na minha vida. – Eu falei, ainda em lágrimas, enquanto ele abria a caixinha e eu segurava a respiração.

Diante de mim estava uma flor de lótus de um rosa intenso e uma beleza ainda maior. Ela era do tamanho normal de uma flor comum, mas notei que era enfeitiçada. Ela parecia brilhar ainda mais e sabia que ela nunca morreria, encantada para ficar sempre assim.

- A Flor de Lótus representa a ascensão espiritual, representa o puro e o sagrado. Dizem que quando Siddhartha, que depois seria Budda, deu seus primeiros sete passos, sete flores de lótus nasceram. E para a mitologia de meus ancestrais, para os Nórdicos, a flor de lótus representa o amor eterno. E é assim que eu me sinto em relação a você e quero que se sinta em relação a mim. Nosso amor nasceu puro, nos apaixonamos sem perceber, como amigos. Mas ele será eterno, sagrado e único.
Ele terminou de falar e vi que também tinha lágrimas nos olhos, mas sorria. Eu já não parava de chorar e prendera a respiração ouvindo-o falar. Nos beijamos novamente, envoltos por essa emoção única. Depois de um tempo ele segurou meu rosto e acariciou-me as bochechas e voltou a falar.
- Fiz uma surpresa pra você. Toda vez que sentir saudades de mim, ou que estiver irritada comigo e não quiser me ver pessoalmente. – Ele falou e eu ri. – Coloque essa flor em sua mão e pense em nós dois. Assim.

Ele pegou minha mão e colocou a flor delicadamente nela, fechando-a em seguida. Eu segurava-a com minhas duas mãos fechadas. Fechei os olhos e pensei em nós dois.

Foi um turbilhão. Vieram diversas imagens a minha mente, nossas várias lembranças. A primeira vez que nos vimos, a primeira vez que conversamos, quando brigamos, quando reconciliamos, o vi junto de Fidelus, o vi dançando comigo, vi quando nos beijamos pela primeira vez. Vi quando ele me pediu em namoro, naquele dia em Avalon, todo cansado, mas feliz. E por fim eu o vi sorrindo para mim, naquele mesmo lugar.

- Essa flor sempre absorverá nossas lembranças mais felizes e as mais dolorosas também, pois nosso amor foi construído em cima de ambas. E por fim ela me mostrará a você.
- Você é único, Tuor, e esse é o melhor presente que eu já ganhei em toda a minha vida. Eu jamais esqueceria você, nunca. – Eu falei e nos beijamos novamente, com a flor ainda apertada em minha mão.

Ficamos o resto da tarde abraçados, conversando, nos beijando e aproveitando o nosso dia. Eu havia me tornado meio possessiva esse ano, adorava dizer “Meu namorado” e disse muito isso naquele dia. Ficamos muito tempo abraçados, olhando as nuvens ou o lago. Vovó nos chamou para o jantar no final da tarde e ela sorriu com nossos rostos felizes e alegres.

Antes de dormir, segurei a flor novamente e pensei em nós dois e revi com lágrimas nos olhos nossas lembranças, sendo a última delas daquela tarde. E o vi dormindo, com um sorriso no rosto.
Eu então decidi que levaria aquela flor para sempre junto comigo e a encantei também. Ela diminuiu de tamanho e eu a prendi no meu cordão, ao lado do pingente de meus pais. Naquela noite eu sonhei com Tuor...

I've been waiting for so long
Now i've finally found someone to stand by me
We saw the writing on the wall
As we felt this magical fantasy
Now with passion in our eyes
There's no way we could disguise it secretly
So we take each other's hand
'cause we seem to understand the urgency
Just remember
You're the one thing i can't get enough of
So i'll tell you something, this could be love because
I've had the time of my life
No, i never felt this way before
Yes, i swear, it's the truth
And i owe it all to you

N.A.: Time of my life, Dirty Dancing

Dreams come true, Hammerfall.