Sunday, September 30, 2007


- Acho que não estou me sentindo bem... – falei com a voz embargada
- O que está sentindo? – Scott me encarou de perto
- O que você fez? Provou a poção? – Alex perguntou folheando o livro atrás dos efeitos da poção que fazíamos
- Lógico que está passando mal, é uma poção nauseante! – Yulli começou a passar o dedo de um lado para o outro pedindo que o acompanhasse com o olhar
- Não bebi nada, foi o cheiro dela, acho – empurrei a mão dela pra longe – E para de passar o dedo assim, está me deixando tonta
- Está enjoada com o cheiro da poção? – Alex riu – Acho que vamos ganhar um sobrinho...
- Vai rogar praga em outra pessoa, Alexandra – empurrei o caldeirão pra longe quando todo mundo riu – Acho que exagerei em alguma coisa, e ela está fazendo efeito sem precisar beber...
- Professor, temos uma emergência aqui! – Scott gritou e o professor Slughorn veio correndo do outro lado da masmorra – Louise fez alguma coisa errada na poção e está passando mal
- Oh minha querida, isso vai ficar feio, é melhor ir para a ala hospitalar – Slughorn fez uma careta quando sentiu o cheiro da poção – Mas não limpe o caldeirão, quero saber o que fez exatamente. Pode ser um novo tipo de poção! Que eficiente! – ele começou a se animar, mas pigarreou e voltou a encarar me encarar – Sr. Foutley, acompanhe-a até Madame Pomfrey, por favor.

Fechamos os livros depressa atirando de qualquer jeito na mochila e saímos da masmorra. Começava a ver as paredes fora de foco quando chegamos à enfermaria. Madame Pomfrey resmungou alguma coisa como ‘aulas de poção avançada’ e ‘todo ano a mesma coisa’ e saiu me arrastando para uma das camas. Scott ficou sentado esperando e depois de meia hora, fui liberada. Ainda me sentia um pouco tonta, mas madame Pomfrey garantiu que depois das poções que me fez tomar, voltaria ao normal no dia seguinte.

As aulas estavam cada dia mais cansativas e acidentes como os da aula de poções eram mais do que comuns. Há apenas alguns dias Sam teve a mão enfaixada por ter tirado a luva na aula de Herbologia e deixado veneno de um cogumelo espirrar na nela, e Ben saiu de uma aula de feitiços com os dedos cortados depois de quebrar quatro criptex na tentativa de abri-los com magia. A pressão com os NIEMs era tanta que muitas vezes passávamos o dia irritados, evitando até conversar para não gerar uma briga desnecessária. E os treinos de quadribol para o campeonato entre escolas ainda não haviam começado, nos privando de talvez a única coisa capaz de aliviar o estresse e nos fazer se divertir um pouco.

Passei o resto do dia deitada no sofá da Lufa-Lufa com náuseas. Yulli, que não tinha mais nenhuma aula naquela segunda-feira até as 19h, me fez companhia e fizemos algo que há muito tempo não fazíamos: conversamos bobagens. Contei que ia nomear Liliana capitã do time da Lufa-Lufa para a próxima temporada e passamos horas falando sobre a expectativa de começar a jogar representando Hogwarts, viajar o mundo inteiro e conhecer todas as escolas que participariam da competição. Descemos para jantar quando eu já me sentia um pouco melhor e às 19h ela se juntou a Alex e Ben para a aula de Estudo dos Trouxas.

Ainda tinha algumas horas à toa antes da aula de Astronomia dupla na torre e fui para a biblioteca adiantar o trabalho sobre os venenos encontrados em plantas usados no preparo de remédios que a professora Sprout havia pedido para quarta-feira. Mas não cheguei a escrever nem dois rolos de pergaminho. Fui hipnotizada pela imagem de um pássaro vermelho voando nos terrenos da escola. Era a fênix de Dumbledore. Fiquei olhando pra fênix, e de repente me lembrei de uma história engraçada que Remo contou sobre Sirius, Tiago e Pedro envolvendo aquela ave. Um sorriso começou a brotar no meu rosto sem que eu percebesse. Fechei o livro apressada e recolhi meus pergaminhos, correndo para fora da biblioteca. Acabava de ter uma idéia!

ººº

- Tirem alguns minutos para descansar – ouvimos a voz da professora Aurora e me afastei do telescópio – Vamos, deitem no chão – Ninguém se mexeu e ficamos olhando para a cara dela – Não estou brincando, deitem no chão. Quero que passem meia hora apenas observando as estrelas sem telescópio, ajuda a relaxar!

Ainda ficamos mais um tempo nos encarando sem entender direito se devíamos ou não deitar, mas Scott, Mark e Ben logo se largaram no chão e os imitamos. Já era quase meia noite, a aula dupla de astronomia se aproximava do fim, e a turma inteira agora se encontrava deitada de barriga para cima admirando o céu escuro e muito estrelado. Olhei para ver quem estava deitado do meu lado e vi Yulli e Mark apontando algumas enquanto conversavam e riam baixo. Scott estava do outro lado e também ria de alguma coisa com Ben. Ouvi um ronco alto e vi que Monn dormia atrás de mim. Alex e Sam eram as únicas em silêncio, olhando pro céu e quase cochilando. Movi-me devagar até parar ao lado delas.

- Já sei o que podemos fazer para deixar um legado em Hogwarts – falei baixo e elas viraram as cabeças ao mesmo tempo – Vamos seqüestrar a fênix de Dumbledore

Sam e Alex arregalaram os olhos e ouvi barulho de cinco corpos de movendo depressa. Yulli, Mark, Ben, Scott e Monn, agora bem acordada, estavam quase colados em nós três ouvindo com atenção.

- Que idéia maluca é essa, Louise? – Yulli falou espantada
- Remo me contou que Sirius, Tiago e Pedro tentaram o ano inteiro, e Dumbledore os pegou em todas as tentativas – disse rindo – Mas somos oito pessoas, e acho que podemos contar com o Lu e a Miriam nessa também, então estamos em dez. Vamos ter sucesso em algo que eles falharam!

Eles ficaram mudos por um tempo, olhando uns para os outros, até que Sam pigarreou baixo e revirou os olhos, como se não acreditasse no que estava a ponto de dizer.

- Nunca achei que fosse dizer isso, mas... Isso pode dar certo
- Merlin, Samantha Wood acaba de concordar com o seqüestro a ave de estimação do diretor da escola! – Alex dramatizou e começamos a rir – Pode contar comigo nessa então, é questão de honra agora eu participar!
- Conta comigo também, não vou ficar de fora dessa – Ben falou animado
- Ah, comigo também, claro! – Yulli deu um sorriso maroto

Todos acabaram concordando que se o plano fosse bem arquitetado tinha grandes chances de dar certo e combinamos de começar a pensar em uma estratégia no fim de semana. A professora Aurora nos liberou alguns minutos depois e saímos da torre.

- Ei Lou, feliz aniversário! – Scott me abraçou no meio da escada e todos o imitaram, quase me derrubando.

Olhei no relógio e já havia passado da meia noite. Tinha acabado de completar 18 anos. 18 anos que foram comemorados com aquele mesmo grupo de pessoas até as 2h da manhã no salão comunal da Lufa-Lufa. Mas sem festa barulhenta e cheia de gente esse ano. Fica para o próximo...

Monday, September 24, 2007


O ar da noite era frio e algo naquele lugar longínquo era tão frio quanto o tempo que estava mudando. Ela andava novamente por aquelas lápides e agora ela reparava em seus nomes... Nomes de homens e mulheres que há muito haviam partido deste mundo. Algumas lápides eram bem cuidadas e outras nem tanto, mas todas tinham algo em comum: a tristeza da separação. E sentindo isto, se compadeceu por aqueles que ficaram para trás.
Ela olhou para a lua nova no céu. Sua luz cálida, a fazia forçar a vista enquanto caminhava pó aqueles caminhos. Logo ela chegava ao imponente e frio castelo de pedras cinzentas. E como sempre ninguém o guardava. Ela atravessou aqueles corredores e se dirigiu aos lugares secretos que lá existiam. Ela sabia que sua ida até aquele local, tinha um propósito, e seguiu seus instintos. Sabia quem estaria lá e não se enganou: Os mascarados estavam reunidos novamente. Pareciam contentes, pois uma cerimônia havia acabado e alguns jovens eram cumprimentados com alegria. Olhou para um canto e outros garotos também jovens, exibiam machucados e uma enorme decepção no olhar, enquanto eram conduzidos para fora por um homem alto, usando as roupas que lembravam um cavaleiro medieval. Sabia que já tinha visto aquilo... Talvez nas aulas da Karen. Sim, era isso. Eles usavam roupas como a dos cavaleiros de Arthur, porém cobriam seus rostos com máscaras. Circulou por ali, e viu espadas reluzentes, uma grande quantidade de armas medievais e num lugar de destaque: um enorme e antigo livro negro. Ouvia fragmentos de conversas sussurradas:

‘ Ele está reunindo um exército... É muito poderoso...
‘ Imagine que bom seria um mundo sem a escória dos sangues ruins e mestiços...
‘ Os que estiverem contra o Lorde das Trevas, serão considerados traidores...
‘ Dumbledore não vai deixar isso acontecer... Devemos apoiá-lo...
‘ O que um velho amante de trouxas poderá fazer contra nós?

Talvez ela devesse ler o que estava escrito naquele livro. Saber os nomes das pessoas que queriam se unir as Trevas e quem queria estar com o lado do bem. Começou a se mover na direção dele, quando sentiu um arrepio na nuca. Parou e começou a olhar ao redor, para saber quem a descobrira, mas todos pareciam concentrados em suas conversas. Ela tentou se aproximar novamente do livro, quando ouviu claramente:
- Temos um invasor! "Homminus revelio" - e jatos prateados corriam pelo espaço fazendo uma busca e procurando. Procurando por ela.
Ela se escondeu atrás de um grande espelho, cheio de inscrições antigas e ouviu quando um dos homens falou:
- Não se preocupem. Sei quem é e como silencia-la para sempre.
Fechou os olhos fortemente e voltou para casa.

Acordou suando e gelada de medo. Abriu as cortinas de sua cama e pelo ressonar, suas amigas dormiam. Levantou-se fazendo o mínimo barulho possível e colocou seu roupão. Iria descer para o salão comunal e espera o dia nascer. Faltavam poucas horas para isso e assim que o dia raiasse, ela iria procurar Dumbledore e avisaria seus amigos. Desceu até o salão da Lufa-Lufa e encontrou-o já limpo e com a lareira acesa. Começou a pensar nos detalhes de sua "visita" aos mascarados para relatar ao diretor e só percebeu que não estava mais sozinha quando sentiu uma mão em seu ombro.
- Ben, você me assustou. O que faz aqui a esta hora? - disse quando pulou na poltrona e seu amigo deu uma risadinha.
- Desculpe Alex, mas você estava tão distraída que não resisti. Levantei mais cedo para terminar meu dever de Estudos dos Trouxas e você? Veio ver o sol nascer?
- Não. Acabei perdendo o sono.
- Está doente? Eu queria estar na minha cama ainda. Não sei por que nos enchem de deveres, como se estar no último ano e ter todas as aulas que temos, fosse pouca coisa. Como ela continuasse séria ele perguntou:
- Alex, aconteceu alguma coisa? Você me parece preocupada. Posso ajudar?
- Eu ia esperar as meninas acordarem para contar a elas, mas vou começar contando a você, quem sabe falando lembro de mais detalhes. - e ela contou a ele tudo o que tinha visto.
-... Então acho que estes mascarados, estão se unindo a Voldemort, e se estiverem fazendo isso, Durmstrang, é uma base de operações muito eficaz. Lá eles gostam das artes das trevas. Fazem coisas que nunca vimos antes, devemos nos preparar para enfrentá-los. Vou contar a Dumbledore, ao Kegan...
- Kegan já sabe! – ele disse sério.
- Como? – e tarde demais ela percebeu que ele segurava a varinha e apontava para ela.
- Como assim ele sabe? Porque você está apontando a varinha para mim Ben? É alguma brincadeira?- ela procurava ganhar tempo e deu um passo para trás. Talvez se derrubasse alguma coisa e fizesse barulho, alguém viria em seu socorro.
- Fique quieta Alex. Não tente ganhar tempo.
- Você está com eles não é? Você é um deles e está com o Voldemort. Mas não pense que vai me calar, faça o que fizer, minhas amigas vão saber o que você fez. Eu confiava em você Ben.
- Eu não sou partidário de Voldemort, nunca serei. Preciso silenciá-la para que você não coloque pessoas inocente em perigo. Não é o que você pensa...
- Inocentes? Eles machucaram aqueles garotos, faziam planos para livrar o mundo dos mestiços, como se fossem tomar chá, não me diga que são inocentes. E você tá apontando esta varinha para mim. Pois vai ter que me matar aqui, eu não vou facilitar.
- Desculpa, mas isso vai doer mais em mim do que em você: Obliviate! – e os olhos dela saíram de foco.
Nesta hora, a tapeçaria da porta de entrada do salão comunal se abriu e um homem entrou afobado:
- Ben? Precisamos... O que você fez?- enquanto olhava para a garota com olhos enevoados.
- Ela sabe sobre a irmandade. Acabei de obliviá-la, e espero não ter danificado sua mente. Ela é minha amiga e quero protegê-la. Ajude-me Kegan.- disse aflito.
- Claro. Vamos fazer com que ela pense que sonhou tudo ok?
- Está bem. Como você soube que devia vir para cá?
- O irmão mais velho dela acabou de falar comigo. Foi ele que a descobriu lá. Vamos trabalhar maninho, o tempo está correndo.
No dia seguinte Alex, acordou com a cabeça pesada e a incomoda sensação de que precisava se lembrar de algo, mas não sabia o que. Acompanhou suas amigas até o salão comunal, e estava comendo tranquilamente. Quando Ben chegou e falou com ela, ela sorria, e brincava com o rapaz, mas algo dentro dela se agitava quando olhava para os olhos dele. Até que ele perguntou:
- Aconteceu alguma coisa Alex?
- Sonhei com você Ben.
- Ah é? E como foi? Espero que tenha sido um sonho caliente. – riram.
- Não, seu bobo. Sonhei que estávamos viajando pela Europa, e que você fazia parte de uma banda de muito sucesso. Éramos aquelas fãs doidas que seguem os ídolos sabe? Tantas coisas aconteceram. Foi muito doido.
- Espero que seja uma profecia Alex, porque eu vou acabar levando bomba em estudo dos trouxas. Não terminei meu dever, acho que não vou conseguir ser um auror. Alguém me passa uma cola?
Todos riram, mas alguma coisa havia mudado. Alex não contou que no seu sonho vira o amigo usando máscara e apontando a varinha ameaçadoramente para ela. E isso só poderia fazer parte de um pesadelo.

Now here I go again,
I see the crystal visions
I keep my visions to myself
It's only me who wants to wrap around your dreams and
Have you any dreams you'd like to sell

Dreams – The Corrs

Tuesday, September 18, 2007

Um dia de cão... Ou não?

Dos quase inexistentes tempos livres de Benjamin O’Shea

- Não, não quero ser auror, quero ser músico. Ser auror é difícil, estou cansado. Compra uma guitarra pra mim, mãe? Ou uma bateria? Quero tocar igual ao baterista dos House-Elves...
- Bom dia Hogsmeade! São 9h, hora de levantar, o café já está na mesa! – ouvi o locutor falar alto quando minha mão bateu no rádio e ele caiu no chão – Começando nossa programação de hoje ao som da banda sensação do momento, Os Duendes Encalhados, com a música “Reprodução Sentimental III”...

O vocalista da banda começou a cantar uma musica agitada e saltei da cama. Que horas ele falou que era? Olhei para o lado e sacudi Joey, que dormia de boca aberta e tinha os braços abertos caídos para fora da cama. Ele me olhou como se tentasse descobrir quem eu era e onde ele estava, e sentou na cama bocejando.

- O que aconteceu? Por que me acordou?
- SÃO 9 HORAS DA MANHÃ! – Disse entrando em pânico – Perdemos a hora!
- Eu não tenho o primeiro tempo hoje, seu maluco – Ele resmungou e enfiou a cabeça embaixo do travesseiro – Boa noite!

Vesti o uniforme amassado em cima da cadeira, puxei a mochila que estava por baixo das almofadas e disparei para fora da Lufa-lufa. Era inútil tentar tomar café. Além de estar atrasado, não devia ter sobrado sequer as migalhas no salão principal. Corri feito um louco até a sala de Estudo dos Trouxas e a professora Burbage me olhou feio. Sentei quieto ao lado de Alex e Yulli e comecei a ajudá-las a montar um rádio, sem falar.

ººº

- Onde estava? – Alex me perguntou quando a aula acabou e caminhávamos para a sala de História da Magia – Pensamos que ia perder a aula da Burbage!
- Perdi a hora, o tratante do Mark não me acordou! Só despertei porque estava sonhando que tocava bateria e acertei a baqueta invisível no rádio. Ele caiu e ligou sozinho... – ela e Yulli riram e bocejei – Estou cansado, não sei se vou agüentar essa maratona de aula até o fim do ano
- Os horários de vocês são quase insanos! – Yulli comparava os papéis – Aula de DCAT às 19h é demais, não?
- Quem disse que auror tem vida mansa? – Alex falou cansada
- Quem foi eu não sei, mas sem duvida só queria se vingar e atrair otários pra profissão – respondi e elas riram – E caímos direitinho!

Entramos na sala de História da Magia, que hoje seria dentro do castelo por conta da chuva forte que caía lá fora. Louise, Scott, Sam, Monn e Mark já estavam sentados bem na frente e nos esprememos entre eles. E assim como o tempo, Karen também trovejava! Nunca vi a irmã do Scott de mau humor, mas hoje ela estava particularmente irritada. E não era segredo pra ninguém o motivo do estresse. Desde que Kegan chegou a Hogwarts, os dois deram inicio a uma batalha pela atenção dos alunos. As aulas de Karen, que até então era considerada a melhor disparada, andava perdendo votos com as aulas do meu irmão. Mesmo sendo cansativas, ninguém podia negar que eram interessantes.

Não foi a aula de História da Magia mais agradável do ano. A Karen de mau humor ficava extremamente parecida com o Scott de mau humor, e nenhum amigo dele tem boas lembranças dessas dias. Me peguei olhando para o relógio ansioso pelo fim da aula pela primeira vez desde que ela veio para Hogwarts. Nosso tempo seguinte era Feitiços, matéria específica dos meus N.I.E.M.s. Louise, Sam, Scott e Mark se separaram da gente outra vez para a aula de Herbologia, Monn foi assistir as duas aulas simultaneamente, e segui com Alex, Yulli, Lu e Megan para o 6º andar. Ao menos a aula do Flitwick não teria como ser ruim.

ººº

- O que foi mesmo que você falou, Ben? – Yulli me olhou atravessado quando a criptex que ela tentava abrir explodiu – Nunca achei que fosse dizer isso, mas estou odiando essa aula de feitiços!

Pois é, me enganei. A aula de feitiços foi horrível! Flitwick começou a nos ensinar a desfazer feitiços complexos, e para começar com algo ‘leve’, distribuiu vários criptex para a turma e tínhamos que decifrar seu código através de feitiços. Já estava no meu 3º criptex, todas os outros explodiram, e até então não havia chegado nem perto. A sala fedia a vinagre. A única que conseguiu abrir aquela coisa foi Megan. Ela brincava de abrir e fechar o criptex com a varinha e Alex olhava para ela com um ar assassino.

- Muito bem crianças, acho que por hoje chega – Flitwick falava com a voz abafada por um pano, na tentativa de amenizar o cheiro de vinagre – Quem souber um feitiço para perfumar a sala vai ganhar 10 pontos!

Megan agitou a varinha sem dizer nada e em questão segundos a sala cheirava a lírios. Flitwick bateu palma animado e deu 10 pontos para a Corvinal.

- Megan, você é muito exibida! – Alex resmungou quando saímos da sala para o almoço – Como abriu aquela coisa?
- Foi fácil, é só se concentrar, ensino a vocês depois do almoço – disse sorrindo – Fizeram o trabalho de poções?
- Fiz, mas ta meio porco, não tive muito tempo – dei de ombros olhando para o pergaminho na minha mão – Não tive tempo de encontrar todos os dados sobre a Felix Felicis, vou fazer isso no fim de semana
- Podemos não falar em dever agora? – Yulli se atirou no banco e caiu por cima de Louise - Só quero almoçar em paz, por favor!

ººº

- Felix Felicis! – Slughorn quase pulava tamanha era a animação – Começaremos hoje essa poção maravilhosa e ela deverá ficar pronta em Março, antes das férias de páscoa! Sim, ela demora 6 meses para ficar pronta, Srta. Wood – falou quando Sam fez menção de questionar a demora – Peguem os caldeirões, separem os ingredientes da primeira fase do preparo e mãos à obra! E não esqueçam de marcar a hora exata que irão colocar o 1º ingrediente, é indispensável controlar os segundos nessa poção!

Um a um fomos até o estoque de ingredientes dos alunos e recolhemos o que dizia nas instruções no quadro negro. Dei uma lida rápida no que dizia no livro sobre a poção e comecei a me preocupar. Nunca vi poção mais complicada! Qualquer ingrediente despejado no caldeirão fora de ordem, ou fora do segundo certo, ou um movimento mais lento ou mais rápido, poderia transformá-la em um veneno potente. Marquei no relógio 14:37, segui o resto das instruções da 1ª etapa e tampei o caldeirão. Espero que nada saia errado...

ººº

- Consegui, consegui! – Louise saltou da cadeira apontando para um cachorro dentro de uma gaiola apertada – Transfigurei o gato!
- Muito bem, Srta. Storm – McGonagall passou pela nossa mesa sorrindo de leve – 10 pontos para a Lufa-lufa
- Opa, acho que alguma coisa está acontecendo com o meu gato também... – olhei esperançoso para o gatinho, mas a única coisa que aconteceu foi seu rabo se igualar ao do cachorro de Louise e as orelhas ficarem caídas – Ah, esquece, não deu certo...
- Concentre-se, Sr. O’Shea. Está quase lá – McGonagall parou ao lado de Megan e deu 10 pontos para a Corvinal quando o gato na gaiola dela latiu e virou um cachorro imenso

Olhei para o meu gato e não pude conter o riso. Era o gato mais esquisito que já vi na vida. Além do rabo de cachorro e as orelhas caídas, seu pêlo começava a atingir a coloração do pêlo de um dálmata, as patas mudaram um pouco, mas ainda tinha a cara e o tamanho de um gato persa. As meninas não conseguiam parar de rir vendo a aparência dele. As aulas de transfiguração estavam cada dia mais difíceis e se não conseguia nem transfigurar um simples gato, como passaria pela animagia? Minhas transformações teriam que ser perfeitas, não poderia assumir uma forma como a desse gato esquisito.

McGonagall passou dever extra para todos que não conseguiram completar a transformação e liberou a turma cinco minutos antes do sinal tocar. Fui me arrastando para o salão principal pensando em jantar e dormir, mas no meio do caminho lembrei que ainda tinha um dever inacabado de poções para sexta-feira. Me despedi do pessoal e segui para a biblioteca.

Ela estava apinhada de gente e não tinha lugar vazia, a não ser por um corredor com único garoto da Grifinória sentado quase escondido. Puxei um livro da prateleira e sentei ao lado dele para começar a ler, mas não conseguia me concentrar. O garoto era inquieto! Enquanto lia um capítulo do livro, batucava na mesa com as mesmas baquetas invisíveis que derrubaram meu rádio essa manhã, e cantava alguma coisa inaudível. Tentava ignorar, mas vez ou outra ele sacudia a cabeça e fazia uma careta.

- OI! – falei alto e ele me olhou como se tivesse acabado de notar minha presença – Será que você se incomoda de não se sacudir tanto? Está tirando a minha concentração!
- Ah, desculpa... É que estou tentando encontrar uma melodia legal pra uma música que escrevi nas férias. Você é um bom letrista?
- Acho que não... – respondi meio em transe. Ele falava tranqüilo em musica e eu quase me descabelando com as matérias – Você é musico?
- Ainda não, mas pretendo ser – ele estendeu a mão para mim sorrindo - Stubby Boardman, prazer. Mas pode me chamar de Toquinho, é como meus amigos me chamam

Apertei a mão dele e me apresentei também. Stubby começou a cantar mais alto a música que havia composto e me vi animado tentando ajudar a encontrar uma melodia legal. Não consegui mais me concentrar no trabalho do Slughorn, ele teria que esperar até o dia seguinte...

Thursday, September 13, 2007

Planos a longo prazo

Por Scott Foutley

Desde que as aulas haviam começado pouquíssimo tempo andava sendo reservado para conversas que não fossem sobre N.I.E.M.s ou a quantidade absurda de deveres. Fora da sala de aula era impossível encontrar meus amigos, estava cada um em seu canto estudando, se desesperando ou dormindo. Em um dos poucos dias em que não tínhamos aula à noite sentei com Louise na biblioteca depois do jantar, cercado de livros sobre a Europa e mapas.

- Que tal Gloucestershire? Podemos começar por lá, já que é na Inglaterra – Louise falou pensativa – Sempre quis ver o Cheese Rolling! Julian e Brendan já participaram, disserem que é hilário
- Ok, Gloucestershire para começar o roteiro – Coloquei um pino azul no mapa – Três dias são o suficiente?
- É até muito se chegarmos já no dia da corrida, é logo no dia 2 de Julho
- Dois dias então. De lá vamos para onde? Saímos da Inglaterra, não é?
- Sim, por favor! Podemos ir para França, começar com os que estão mais perto... – Louise traçou uma reta no mapa ligando a Inglaterra com a França e suspirou – Champs-Elysée, Rio Sena, Louvre!
- Perfumes, Cafés, Arco do Triunfo, Torre Eiffel! – acompanhei o pensamento dela sorrindo – França definitivamente é a nossa segunda parada!
- Da França podemos seguir para a Bélgica... Luxemburgo, Bruxelas! Sempre quis conhecer Bruxelas...
- Certo, passamos uma semana na França e partimos para a Bélgica – desenhei uma linha ligando os dois países – E depois de três dias na Bélgica, podemos ir para a Alemanha. Ficamos dois ou três dias em Berlim e conhecemos as cidades próximas.
- Silencio, é proibido conversa na biblioteca – Madame Pince falou seca
- Excelente – Lou falou baixo e pegou a caneta, fazendo outra linha – Depois descemos até o sul da Alemanha e invadimos a Suíça!
- Oba, chocolates! – disse erguendo os braços e rimos, parando quando a bibliotecária nos olhou zangada – Quatro dias bastam, visitamos Zurique, Genebra e Lucerna.
- E da Suíça... – Lou olhou o mapa e um sorriso se formou em seu rosto – Passamos para a Itália! Ai nem acredito, Itália! – falou tentando conter a empolgação para não levarmos bronca
- Ah, nesse vamos passar no mínimo uma semana, como na França! Há muito para se ver! Roma, Veneza, Milão, Florença, Sicília, Vaticano...
- Acho que uma semana vai ser pouco, Cott. Podemos passar dez dias?
- Sim, dez dias parece razoável. Quantos dias de viagem já têm?
- Contando com o dia 1º de Julho que vamos estar deixando Hogwarts, 27 dias
- Tudo isso já? Um mês passou rápido demais! – disse espantado e voltei a encarar o mapa – Bom, então vamos começar a listar as prioridades no mês de Agosto. Da Itália podemos pegar um navio até a Grécia, que tal?
- Um cruzeiro pela Grécia? – Lou riu – Perguntou mesmo o que eu acho? Claro que concordo! Uma semana, certo?
- Sim, menos que isso é pecado. Agora vamos começar a bagunçar o mapa, não quero passar por esse monte de países e arriscar não ter tempo de conhecer a Noruega. Podemos viajar a moda trouxa e pegar um avião direto para lá
- Fechado. Mas também quero conhecer a Suécia.
- Tudo bem, lá poderei servir de guia. Ficamos quatro dias na Noruega e três na Suécia – passei o dedo pelo mapa - O que tem na Finlândia?
- Sei lá, o Papai Noel? – disse pensativa e demos risada – Vamos ter que passar lá pra descobrir... Quantos dias já?
- Chegamos à Finlândia com 41 dias, saímos com 44. A Dinamarca é perto, fazemos uma parada por lá?
- A Sarah mora lá, e se encontrarmos ela na rua? – Lou me olhou incerta
- O que tem de bom mesmo na Dinamarca pra se ver? – dei de ombros – Pulamos da Finlândia para a Espanha então.
- Anota pelo menos mais uma semana ai... Andaluzia, Catalunha, Barcelona, Madrid, Valência... Me recuso a deixar a Espanha sem passar nesses lugares, no mínimo!
- Concordo plenamente, são os básicos. Como ainda nos restam 16 dias, ficamos dez na Espanha e de lá vamos para Portugal, e encerramos nossa viagem pela Europa!
- Perfeito! Ficamos quatro dias em Portugal e ainda nos restam dois dias para voltar para casa e começarmos nossos estágios descansados
- Fechamos então o roteiro? Ele não vai mais sofrer alterações, vou começar a estudar um pouco de cada lugar e montar nossos passeios
- Pode começar sua pesquisa, não vamos mais mexer nele – ela dobrou o mapa e fechou o caderno – Já estou com saudade de tudo aqui, e nem mesmo chegamos à terceira semana de aula
- Eu também. Montar planos para a viagem de formatura ajuda um pouco a lembrar que esse é o nosso ultimo ano aqui, que em Julho atravessamos os portões para não voltar mais
- Cott, vamos fazer um trato – Lou guardou os papeis e mapas na mochila e fomos devolver os livros às estantes – Não vamos deixar esse ano passar em branco. É o nosso último ano em Hogwarts, não podemos desperdiçar nem um segundo sequer! Não podemos sair daqui sem deixar nossa marca!
- Você faz parte do time de Hogwarts que vai jogar contra todas as escolas de magia do mundo! – disse rindo – Se isso não é deixar uma marca, me conte o que é porque estou curioso!
- Ah não por jogar quadribol! E você, Ben, Sam e Monn não estão no time, não teria graça. Estou falando de algo melhor... Algo de que todos os alunos que vierem a estudar aqui tentarão nos copiar...
- O que está pensando, cérebro? Quer conquistar o mundo? – falei fazendo uma voz macabra
- Não o mundo, mas Hogwarts sim! – Lou juntou as mãos e as esfregou, dando uma risada maluca
- JÁ CHEGA! FORA, OS DOIS!

Madame Pince atirou um livro na nossa direção e catamos a mochila disparando para fora da biblioteca sem segurar as risadas. Lou seguiu para a Lufa-lufa dizendo que tinha que terminar o dever de Poções e prometeu contar na aula do dia seguinte o que passava por aquela mente doente. Mas o que quer que fosse já tinha meu total apoio. Ela estava certa: não podemos ir embora sem deixar um legado...

Monday, September 10, 2007


A primeira semana de aula tinha sido extremamente cansativa. Ainda estávamos todos absurdamente assustados com os horários sobrecarregados e as pilhas de deveres acumuladas, mas nada havia sido mais exaustivo do que as novas aulas de ‘Defesa Avançada’, lideradas por Kegan O’Shea.
Depois de uma atmosfera incrivelmente ansiosa por parte de todos nós para descobrirmos do que se tratava a aula, Kegan surpreendeu a todos explicando os objetivos dos encontros. A sala inteira prendia a respiração a cada palavra.

- Esses encontros são como um preparatório avançado de Defesa Contra as Artes das Trevas. Vamos estudar azarações e contra-azarações avançadas demais para serem dadas em sala de aula, mas que vocês precisam aprender. Acho que todos sabem os rumores ruins que andam espalhando, não é? Estar preparado para enfrentar o perigo fora de Hogwarts. Esse é o principal objetivo. Essas aulas servirão principalmente para quem pretende se tornar auror ou lutar contra as trevas em algum grupo. Mas já adianto: nossos encontros serão bem cansativos e exigirão preparo, tanto físico quanto emocional, concentração, equilíbrio, disciplina e paciência. Portanto, quem acha que não consegue se encaixar em todos esses quesitos, melhor nem começar...

Lancei um olhar assustado para Scott, que retribuiu. O Kegan brincalhão, pelo jeito, ficaria do lado de fora daquela sala. Ali dentro ele seria bem exigente. Mas ninguém se atreveu a levantar e abandonar as aulas.

Após três horas, descobrimos o porquê de tantos quesitos. Repassamos vários feitiços simples e vários complicados. Kegan circulava pela sala durante os duelos e gritava para que fôssemos mais rápidos e certeiros, e quando o sinal tocou, todos só desejavam um pouco de calma e tranqüilidade. Quando o final de semana chegou, aproveitamos o tempo livre para adiantar deveres e conversarmos sobre a semana. No fim da tarde de domingo, estávamos todos nós ali deitados na grama dos jardins, sem fazer absolutamente nada.

LS: Um terror. Meu horário está um terror. Eu amo a professora Sprout, amo mesmo. Mas quem consegue suportar seis horas de aula com ela por semana? Por mais que ela seja uma graça, isso é sobrenatural! Acho que vou mudar de profissão. – Louise fechou os olhos com as mãos na testa, parecendo exausta.
SW: Isso. Ótima idéia, Lou. O que acha de montarmos uma banda? – Sam perguntou e rimos.
MF: Bom, não posso reclamar. Meu horário está até acessível, e eu estou no time de Hogwarts! TIME DE HOGWARTS! – Mark enfatizou empolgado e instantaneamente eu, Alex e Louise levantamos os braços animadas.
AM: Mal posso esperar pelos jogos, viagens...
SF: Vocês estão se sentindo “OS intocáveis”, não estão? – Scott perguntou debochado. – Façam bonito, por favor.
LS: Não vamos perder a taça para um bando de estrangeiros sem noção, Scott. Essa taça já é nossa.
SW: Ah, que inveja, que inveja!

E os assuntos foram surgiram. Pouco a pouco, outros amigos começaram a se juntar, inclusive Monn, com muitas olheiras e livros nas mãos. Mesmo com tantas coisas diferentes para ocuparem meus pensamentos, um fato das minhas férias de verão continuava a ser repassado na minha cabeça sem parar...

°°°
Nova Deli, Índia. Início de agosto.

As férias que haviam começado monótonas, se tornaram animadas desde que eu, Tia Yhara e Yoshi embarcamos para a Índia. Como papai, mamãe e Yuri (que finalmente terminara seu estágio e agora era medibruxo de fato), estavam demasiado ocupados com seus trabalhos, tia Yhara não se demorou em procurar pacotes e passeios interessantes. E a Índia, em poucos dias, se tornara o pais mais interessante que tinha visitado até então.

Os nativos não eram muito receptivos, mas o grupo de turistas que estavam conosco era deveras animado para se importar com hospitalidade. E justamente com eles, conhecemos se não todos, a maioria dos pontos turísticos e lugares bonitos do país.
Yoshi, que anteriormente vinha me tratando de maneira extremamente formal, agora parecia fazer um esforço enorme para esquecer tudo que tinha acontecido, e diversas vezes nos surpreendíamos rindo ou conversando naturalmente.

Faltavam apenas dois dias para voltarmos para o Japão quando o guia turístico nos levou até uma feira municipal. Logo nos animamos e começamos a escolher presentes para toda a família. Caminhávamos entre as tendas carregadas com os mais diversos e estranhos tipos de coisas: artesanatos, vasos de gesso e barro, véus bordados a mão, instrumentos talhados de madeira, roupas coloridas e diferentes... E mesmo com toda essa diversidade, a atração que mais chamou a atenção de todo o nosso grupo não era colorida, grandiosa e nem rara. Tratava-se de um encantador de cobras, que se encontrava sentado no chão, no meio da praça, com as pernas cruzadas, sem camisa, um turbante na cabeça, e tocava levemente uma flauta. Em sua frente, havia um vaso de barro, de onde vagarosamente, começava a surgir a cabeça de uma cobra tão imensa que garanti dar dois passos para trás.

A medida que ele ia tocando a flauta, a cobra ia descrevendo movimentos suaves com o corpo e a cabeça, e abandonando o vaso. O guia e alguns turistas pareciam encantados com o som, pois se aproximaram. Outros preferiram manter a distância. Yoshi, Tia Yhara e eu observávamos de longe e atônitos o show. O flautista mantinha contato visual com a cobra enquanto soprava, e ela abriu ligeiramente a boca revelando grandes presas. Quando seu corpo inteiro conseguiu se livrar do vaso e se estendeu no tapete em frente, ela manteve parte levantada, e agora encarava todos os expectadores a volta, a imensa boca ainda aberta.

Estava tudo indo bem. A cobra parecia completamente disciplinada e seguia o som do flauta, não demonstrando ameaças. Mas quando o flautista parou de tocar, e uma menina que passava por ali deu um grito de terror, a cobra se perturbou. Começou a sacudir a calda e fazer silvos de irritação. O homem tentou agarrar o seu pescoço, mas ela investiu contra ele que recuou imediatamente assustado. Mandou todos a volta permanecer parados e quietos, mas foi como se tivesse dito para todos correrem o mais rápido que pudessem, pois em um minuto, a praça se tornou um verdadeiro caos.

E bem no centro do caos, estávamos nós três, estáticos. Tia Yhara apertando nossos braços com força. Não conseguimos nos mover. Enquanto a praça se esvaziava, a cobra se virou para nós. Veio em nossa direção, devagar, e parou bem na minha frente. Levantou metade do corpo e abriu a boca novamente. Senti o coração parar. Percebi que era uma questão de tempo até ela me picar ou me atacar de qualquer outra maneira. Esperava aquilo a qualquer momento... Mas o que eu menos poderia esperar aconteceu.

Um silvo rouco, silvos desconhecidos. Como uma língua diferente. Yoshi se lançara na minha frente, os braços abertos, e estava conversando com a cobra por meio de silvos. O animal continuou como estava por um minuto, mas então, foi gradativamente recolhendo o corpo, fechando a boca, até se esticar inteira no chão. O restante das pessoas que tinham permanecido na praça, parou para observar a cobra seguir os comandos de Yoshi e sozinha, voltar para o vaso. Por um minuto, ninguém falou nada. Yoshi foi até o vaso e lacrou-o com a tampa. O flautista, com a boca aberta, assustado, não conseguiu dizer nada, então apenas estendeu a flauta para Yoshi, dando-a de presente. Yoshi a pegou e sorriu de leve. Ignorando todas as pessoas que o encaravam, inclusive eu e Tia Yhara, mudas, ele saiu andando sozinho pela avenida.
Naquele momento, minha cabeça deu uma volta completa e meu estômago enjoou. Yoshi é ofidioglota e eu tive a impressão de que nunca saberia disso, se dependesse dele.

°°°

MF: Yulli? Alô? – alguém estalou o dedo na minha cara e eu sacudi a cabeça voltando ao normal.
YH: Oi Mark.
MF: Você ta legal?
YH: Estou sim. Só estava um pouco distraída.

Ele franziu as sobrancelhas por um minuto e depois sacudiu os ombros rindo. Meus amigos continuavam deitados no gramado conversando e olhando as primeiras estrelas que surgiam no céu. Desde aquele dia, ainda não conversara com Yoshi. E nem contara a ninguém o que tinha acontecido. Mark se deitara ao meu lado e eu nem tinha percebido.

MF: Sabe, eu andei pensando... – ele olhou ao redor se certificando que todos os outros estavam distraídos com outros assuntos e falando baixo de modo que só eu escutasse. – Eu quero conversar com você, tudo bem? Não agora. Você tem algum tempo livre amanhã?
YH: Tenho. Dois, depois das aulas de poções.
MF: Ótimo. Também estou livre. Então, se estiver tudo bem pra você, amanhã a gente conversa.
YH: Ok. Aconteceu alguma coisa?
MF: Ainda não. Mas pode acontecer... – ele disse misterioso e riu. Ri também. Estava parecendo uma aula da Endora. – Não seja curiosa. Amanhã.
YH: Ok, ok. Amanhã então.

Sorrimos e voltamos aos assuntos dos outros. O quer que fosse, eu já imaginava aonde a nossa conversa iria acabar.


Wednesday, September 05, 2007

E lá vamos nós!

Do diário de Monn Speaker!


E depois de muitas encrencas e muitos rolos, não é que as férias acabam e você nem sente que conseguiu curtir algo? Pois é, foi isso mesmo que aconteceu, se bem que, até que prefiro voltar logo às aulas... Ver as meninas afinal, só nos desencontramos e nem passamos um tempo juntas como havíamos programado... E também não agüentava mais ficar em casa recebendo berradores de meia em meia hora do ‘Sr. Coisa Verde nos Dentes’ perguntando o que aconteceu, por que sumi... Fui obrigada a mandar uma carta falando: “Bicho, desencana, você ainda não percebeu que estou te E-VI-TAN-DO?” Claro que só mandei essa no meu ultimo dia em casa, afinal, sabe-se lá o que um nerd que levou um chute é capaz, né?

Então tá, não vou nem fazer uma analise de minhas férias porque nem saberia dizer o que foi pior, o fim das aulas ou as minhas encrencas em casa... Encrencas para não dizer alucinações! O bom é que estava indo para a escola onde retomaria com minhas obrigações do Grêmio, veria meus amigos, voltaria a narrar os jogos de quadribol, e o melhor, só vamos estudar este ano o que quisermos, pois é ano de NIEM’s e a maioria das matérias é opcional, ê beleza!

Ê beleza? Sim, era, e eu disse ERA isso que eu havia pensado... Antes de chegar ao salão principal naquela primeira manhã de aulas e ver meus horários... Todos estavam já, cabeças juntas, reclamando de seus horários... Lou e Sam questionando se queriam mesmo ser Medibruxas... Yulli e Alex quase se matando, Agatha falando que gostou de ter 6 tempos de adivinhação... Mas eu simplesmente ainda não tinha conseguido ‘digerir’ o meu horário... O que tinha de errado? Tinha que ter algo de errado...

Foi quando Scott, percebendo minha expressão de, metade desespero, metade choro, arrancou o horário das minhas mãos para ver.

SF: Mas... POR MERLIN! Garota, o que é isso?
LS: O que é tudo isso rosa? Perae, 1, 2, 3... 64? Como você pode ter 64 aulas? Isso é HUMANAMENTE impossível?
SW: 64? Mas... Mas... Nós só temos 55 horas/aula por semana? Você fez MÁGICA?
SF: Mas é claro que ela fez mágica, ela é bruxa, dããããn!
SW: Mas... Como?
AC: Monn Speaker, não foi PARA ISSO que você procurou meu irmão, FOI?

E foi ai que tive que assumir para todos meus planos. Eu não conseguia pensar em nada menor para minha futura carreira do que um cargo de poder, de respeito, de responsabilidade... Então resolvi estudar para ser futura Diretora de Hogwarts e em um futuro não muito distante, me tornar a 1ª mulher Ministra da Magia! Mas para isso eu teria que estudar todas as matérias da escola e fazer muitas aulas extras. Foi quando Flitwick entrou em contato comigo dizendo que só haveria um jeito de conseguir estudar isso tudo, mas que para isso eu deveria estar realmente focada no meu futuro. Disse para que eu entrasse em contato com alguém do Ministério, do setor dos Mistérios. Disse que era melhor procurar pessoalmente por Perseu Carrara porque alem de ser irmão de minha amiga, era o novo aprendiz do setor e com certeza seria o único a me ajudar. Depois de pensar e repensar se valia REALMENTE à pena (claro que valia, era meu sonho de futuro, de carreira... e estava com saudades do Peu!) fui até a casa dos Carrara num dia que saberia que a Agatha não estaria (afinal, ela nuuunca me deixaria falar com o irmão) e fiquei esperando ele chegar do trabalho. Ok, pode ter sido muita cara de pau minha, mas é meu futuro...

MS: Foi Tha, foi para isso... mas o seu irmão sabia muito bem que o estava procurando por causa da escola, a mando do Flitwick...
AC: Mas isso não te impediu de dar uns amassos nele, não é mesmo, Speaker?
SW: Como assim Monn, vocês voltaram? Mas, mas... E o Drake?
MS: Claro que não Sam, foi só uma recaída!
AC: Claro, só uma recaída... Nosso elfo os pegou numa situação bem indiscreta na cozinha, mas não foi nada demais não é? Só uma recaída... Ai ai, Monn, você não tem juízo!
SF: Ok meninas, chega dessa briguinha de ‘com qual irmão a Monn fica’. Mas Monn, o que você vai fazer, vai estar em 2 lugares ao mesmo tempo?
MS: Exatamente... A idéia geral não era falar para vocês, mas como a Agatha tem uma boca maior que os terrenos da escola, acabei tendo que contar...
LS: Mas isso não vai ser estranho? De repente, perigoso?
MS: Seria... Se vocês me vissem er, como posso dizer, sumindo... Ou aparecendo do nada, por isso que só posso fazer isso em locais vazios, escondidos... Mas agora vocês já sabem e não vão contar para ninguém... E vão ate acabar esquecendo disso...
LS: Podemos ate esquecer, mas é você que vai esquecer de tudo! É impossível estudar tudo isso... E os deveres, vai fazer que horas? Vai deixar de comer pra estudar também? Você vai acabar doente! E sinceramente, você quer mesmo ser diretora? Ministra? Acho que você não agüenta nem o 1° trimestre nesse ritmo!
SF: Eu aposto em 1 mês.
AM: Pois eu acho que não agüenta nem essa semana... Muito mal chega até sexta nesse ritmo!

...

A parte da manhã deste 1° dia até que foi muito bem, mas o almoço acabou muito rápido e lá estávamos todos nós indo para as masmorras para o tempo duplo com Slugh... A aula até que foi light e os deveres, nossa, coisa de carrasco, 3 pergaminhos sobre a poção revitalizante que fizemos. O pior mesmo foi o fim da aula, quando Slugh me chamou para passar detalhes de minhas aulas extras. Daí você me pergunta, o que poderia ser pior do que o fato de já ter aulas extras de poções? Bem, eu respondo! Aulas particulares de poções com Snape!

MS: Mas professor? ... Porqueeee?
HS: Monn, o que acontece é o que sempre aconteceu. Os melhores alunos do ano anterior dão as aulas de reforço particulares para os alunos do 7° período e é sem duvida alguma de que Snape foi meu melhor aluno e não só do ano passado, diga-se de passagem! Então eu lhe darei as aulas extras e Severus lhe dará as aulas ´particulares de 6ª a noite, onde você poderá praticar as poções dadas em classe, fazer os deveres, tirar duvidas...
MS: Ai professor? Que praga! Tinha jurado para mim mesma que nunca mais cruzaria com o Seboso nessa vida!
HS: Pois terá que cruzar, e além disso, o terá de respeitar, afinal, ele agora é um aprendiz e será nosso futuro colega de trabalho, futuro Mestre de Hogwarts e você o deverá chamar de Professor!
MS: Mas... O... O... O SEBOSO PROFESSOR? Eu, o chamar de professor? Ó Merlin, o que eu fiz para merecer?
HS: Minha querida, não cabe a mim dizer o que você fez ou deixou de fazer, mas pelo o que fiquei sabendo a Senhorita andou aprontando muito!

Depois dessa, só poderia eu abaixar a cabeça e sair de fininho das masmorras. Ao encontrar Alex e Agatha na aula de Runas não consegui conter o choro de desespero ao contar meu carma chamado Snape. A aula não ajudou muito no meu humor e nem preciso dizer que Astronomia não ia ser melhor!

...

Depois da última aula do dia, ou melhor, da noite, me joguei no tapete da sala comunal Corvinal e desatei a fazer o relatório de Poções. Ainda tinha que pesquisar sobre Runas, Animagia, fazer o relatório sobre a procedência das maldições imperdoáveis para DCAT, fora os deveres de Arimanticia e Astrologia. Quando parei para respirar fui ver novamente meu horário... Amanhã, 3ª feira, eu teria aulas duplas de Herbologia, Transfiguração, Feitiços, entrega da pesquisa de Runas e 3, isso mesmo, 3 tempos de Feitiços. Um deles, particular... Será que também seria no mesmo esquema de Poções? Será que teria um ex-aluno como professor? Será que seria também o Snape?

Preferi parar de pensar nisso para não ter pesadelos... Dei mais um gole no meu café extra-forte e continuei com os deveres. Ia ser uma noite longa e sabia disso muito bem... Infelizmente!



- Transfiguração dupla, DCAT dupla, Poções Dupla... – Yulli ia correndo os olhos pelo nosso horário e sua voz ia se esganiçando a cada linha – Dois tempos vagos. Astronomia DUPLA! Vamos ficar até que horas na torre?? Hoje é segunda-feira, tenham piedade!
- E fica melhor, escuta essa: Terça-feira: Trato de Criaturas Mágicas Dupla, Feitiços Duplo, depois vem um tempo vago e volta com Herbologia Dupla – Ben lia seu próprio horário e ria
- Quinta-feira temos uma manhã tranqüila, só História da Magia! – Alex olhou o calendário animada, mas murchou em seguida – Ah não, de tarde temos Poções e Transfiguração, as duas duplas.
- E temos Feitiços quinta-feira de manha, Alex – Ben a corrigiu – Específica dos nossos N.I.E.M.s... – e Alex ameaçou chorar
- Por que só temos três tempos História da Magia e quatro das outras? – Mark falou indignado – É a melhor aula!
- Eu também não tenho tempo vago quinta de manhã, tenho aula de Herbologia dupla. Alguém sabe me dizer por que eu quero ser medibruxa? – falei querendo chorar – Olhem o tanto de aulas com a Sprout que eu vou ter esse ano!
- Ei crianças, bom dia – Scott, Sam, Monn e Agatha se espremeram no banco entre a gente sorrindo animados – Alguém sabe dizer que aula é essa aqui na sexta-feira? Defesa Avançada?
- Já tentamos de tudo e não fazemos idéia do que possa ser, mas ocupa a sexta quase toda, olha só – Monn mostrou o calendário onde tinha marcado de rosa as aulas de DA
- Lou, meu horário é igual ao seu! Herbologia Extra na quarta! – Sam falou empolgada ao olhar meu calendário
- Legal, ao menos não sofro sozinha – falei mais animada. Sam também queria ser medibruxa e ia enfrentar a mesma maratona que eu
- Bom gente, não adianta ficar se lamentando – Ben levantou e pegou a mochila – São 8:45, hora de caminhar para a forca!

Levantamos também e seguimos Ben sem muita empolgação. A primeira aula do ano seria logo com a McGonagall, e tempo duplo! O resto dos alunos de Transfiguração já estava em sala quando chegamos e encontramos alguns lugares vazios no fundo, o que veio a ser muito útil. Durante duas horas, McGonagall nos brindou com um monólogo sobre a importância dos N.I.E.M.s em nossa vida pós-acadêmica e o que deveríamos esperar aprender e revisar durante o ano. Não prestei muita atenção, mas acho que ouvi a palavra ‘animagia’ no meio do monólogo.

Fomos liberados depois de recebermos uma tonelada de revisões para fazermos para a próxima aula e seguimos para a sala de DCAT. E mais uma vez, ouvimos um monólogo sobre as azarações complexas que veríamos daqui pra frente, e de como todas seriam cobradas nos N.I.E.M.s. Alex, Lu e Ben fizeram careta ao ouvirem dele que os alunos que pretendiam ser aurores teriam aulas extras às quintas à noite. Desse jeito teria que marcar os treinos de quadribol de madrugada.

Nunca um almoço foi tão desfrutado pelos alunos do 7º ano, mas infelizmente depois dele tivemos aula dupla de Poções. Slughorn fez o mesmo monólogo (começava a achar que aquilo foi ensaiado nas nossas férias) e quase entrei em pânico quando ele disse que as aulas das específicas de Poções seriam na sexta de manhã cedo. Olhei para o lado e Alex, Sam, Monn e Ben tinham a mesma cara de quem acabava de ser comunicado que tinha poucos dias de vida. Scott era o único que olhava os horários e sorria. Idiota, no mínimo se inscreveu pras especificas de Poções só pra nos humilhar. Slughorn nos aliviou um pouco pedindo uma poção simples para o primeiro dia, algo só para relaxar, mas quando a aula acabou pediu 3 rolos de pergaminho sobre a poção que fizemos. Acho que a parte de relaxar ficou só na masmorra. ¬¬

- Não agüento mais! – Yulli atirou a mochila no gramado e se largou ao lado dela – Primeiro dia e já estou assim, imagina o resto da semana?
- Eu tenho aula de Runas agora... – Alex consultou o horário, mas não se mexeu – Mas recebi um bilhete da madame Hooch pedindo pra encontrar ela agora. Acho que não faz mal chegar um pouco atrasada, né?
- Merlin, madame Hooch! – Yulli ficou de pé outra vez – Também recebi esse bilhete junto com a lista de material, tinha esquecido
- Eu também recebi... Estranho – falei curiosa – Vamos até lá então, diz que é para encontrarmos ela no campo

Caminhamos o mais devagar possível em direção ao campo de quadribol e tinham mais quatro pessoas paradas conversando: Mark, Lu, George e um garoto que reconheci como sendo artilheiro do time da Corvinal. Antes mesmo que pudéssemos perguntar o que estava acontecendo, eles disseram que também não sabiam e madame Hooch apareceu sorridente, pedindo que entrássemos em sua sala. Ela puxou uma pasta vermelha da gaveta e quase a abraçou, muito empolgada. Ninguém falava nada, só a encarava com ar de curiosidade. Enfim ela resolveu falar.

- Imagino que estão se perguntando o que estão fazendo aqui, e porque apenas alguns dos times foram chamados – confirmamos com a cabeça e ela continuou – Esse ano alguns departamentos de jogos e esportes mágicos se reuniram e decidiram trazer de volta uma velha tradição que acontecia de 3 em 3 anos entre as escolas de magia do mundo inteiro... O campeonato estudantil de quadribol! – continuamos olhando pra ela sem entender nada e ela prosseguiu – Ele não acontece há 10 anos, e Hogwarts não ganha nada há 20! Inscrevi nossa escola em Julho e passei minhas férias analisando cada jogador, até formar minha ‘seleção dos sonhos’. E são vocês!

Ela passou mais uns dez minutos explicando como esse campeonato funcionava. Basicamente, competiríamos representando Hogwarts contra diversas escolas, viajando para os jogos e visitando escolas de magia do mundo inteiro. E não poderíamos participar do torneio entre as casas esse ano, nossas horas vagas para treino seriam dedicadas somente ao campeonato. E eu, como era capitã da Lufa-Lufa, teria que escolher outra pessoa do time para ocupar a vaga esse ano, e poder montar um novo time. Nos entreolhávamos já animados a cada palavra dela.

- E então? – falou por fim – Posso contar com vocês?
- Eu estou dentro! – Mark se adiantou e assinou a lista na mão dela
- Eu também! – Lu fez o mesmo, e um por um assinamos nossos nomes. Ninguém recusou o convite
- Excelente! – disse animada dobrando a lista – Agora vou montar minha seleção reserva, preciso de um jogador substituto para cada titular. Storm, comece a pensar em quem irá substituí-la no posto de capitã da Lufa-Lufa, mas não comunique a pessoa ainda. Me avise quem escolheu primeiro, pois posso ter recrutado a pessoa como reserva
- Pode deixar, acho que já até sei quem escolher – disse pensativa. Só a Liliana vinha à cabeça naquele momento.
- Podem ir para suas aulas então, darei notícias no sábado sobre a formação completa do time e quando será o primeiro treino!

Alex e o garoto da Corvinal saíram correndo para não se atrasarem mais para a aula de Runas, George disparou para a aula de Trato e nós quatro seguimos para o jardim sem conseguir parar de falar sobre o que acabara de acontecer. Enfim, uma boa noticia nesse primeiro dia. A aula dupla até meia noite na torre de astronomia ficara até mais agradável...