Wednesday, August 25, 2010


Agosto de 2014

Todo ano, no meu período de férias, mamãe tira alguns dias de folga no trabalho para viajarmos. Só nós duas, sem mais ninguém perto para atrapalhar, nem mesmo papai. Mesmo que a viagem dure apenas dois dias e seja para uma cidade vizinha, não abrimos mão das nossas férias particulares. Como passo o ano inteiro em Hogwarts, é minha forma de matar a saudade, então não troco esse tempo que passo com ela por nada.

Eu adoro viajar com a minha mãe. Ela é divertida, topa qualquer coisa e não gosta de ficar dentro do hotel, quer sempre estar na rua batendo perna para conhecer o lugar, e isso pra mim é uma companhia perfeita. Esse ano não tínhamos muito tempo. Eu voltaria para Hogwarts em menos de uma semana, então aproveitamos para conhecer Leeds, a cidade do norte da Inglaterra onde meu bisavô bruxo cresceu.

Passamos três dias lá e aproveitamos para conhecer outras cidades próximas, mas como tudo que é bom dura pouco, pegaríamos o último trem naquele terceiro dia de volta a Londres. Já passava da meia noite quando o trem saiu, para uma viagem de quase 300 km de volta a cidade. No vagão éramos apenas nós duas, uma mulher grávida com uma criança e um homem de terno que devia estar saindo direto de uma reunião de trabalho. Estávamos sentadas em poltronas de frente uma para a outra, com uma mesa no meio. Mamãe lia uma revista de viagens que comprou na estação e eu me distraia vendo a paisagem escura pela janela do trem. Já devíamos estar quase em Manchester.

- O que acha de irmos para a Califórnia na Páscoa? – ela perguntou de repente, me olhando por cima da revista.
- Todo mundo ou só nós duas?
- Acho que seu pai vai ficar brabo se deixarmos ele de fora logo na Páscoa, então todos nós. Gabriel estava falando sobre viajarmos todos juntos na primeira oportunidade que desse.
- Bom, eu apoio. Que lugar da Califórnia?
- Vou lhe deixar escolher. Para onde quer ir?
- Los Angeles! – respondi de imediato – Por que tem programação para os adultos e é perto da Disneylândia, para as crianças. Evan e as gêmeas, claro.
- Sim, claro, só Evan, Chiara e Valentina – mamãe me olhou de lado e ri – Ok, Los Angeles então. Vou começar os preparativos assim que voltar ao Brasil.
- Eu sei ir sozinho! – o garotinho que estava no vagão deu um grito e nos assustamos – Não preciso de ajuda pra ir ao banheiro.
- Tudo bem, mas deixe a porta aberta. Vou olhar daqui, não tranque a porta! – a mãe dele respondeu num tom preocupado.

Vi o garotinho assentir e sair correndo na direção do banheiro. Mamãe me mostrou uma foto de Los Angeles na revista que estava lendo e senti um tranco. Foi tão forte que a revista voou da mão dela. Olhei pela janela e vi uma árvore passar tão rente ao vidro que recuei. O vagão deu outra sacudida violenta e vi faíscas saindo dos trilhos do lado de fora. Eu ouvi o baque antes de conseguir entender o que estava acontecendo. A última coisa que me lembro foi mulher gritando o nome do filho que estava. Depois tudo escureceu.

ºººººº

Quando abri os olhos, senti uma dor tão intensa que não havia percebido que eles estavam cheios de lágrima. Levei a mão à cabeça quase que instantaneamente e o sangue cobriu ela toda. Sentia-me tonta e minha visão estava tão embaçada que não conseguia distinguir nada a minha volta. Só soube que era minha mãe me puxando porque reconheci sua voz.

- Como está se sentindo? – sua voz era muito preocupada. Ela apertou um pedaço de pano na minha cabeça e me fez segurar.
- Tonta. O que aconteceu? O trem virou? – e ela confirmou com a cabeça.

Minha visão começava a voltar ao normal e olhei ao meu redor. Estava tudo revirado e vi dois corpos jogados no chão, mas um deles parecia sem vida. Pelas janelas quebradas, agora no lugar do teto, podia ver a fumaça vinda do lado de fora, alguma coisa estava pegando fogo. A mulher grávida estava acordada e gritava desesperada. Na mesma hora entrei em pânico.

- Clara, preciso que você se acalme – mamãe me agarrou pelos ombros e só não me sacudiu porque eu já estava tonta – Você está bem, não posso lidar com isso agora, preciso que me ajude.
- Mas... Eu... – não conseguia nem falar, de tão desesperada que estava. Mamãe continuou me segurando firme.
- Está tudo bem, vamos sair daqui, mas preciso ajudar essas pessoas antes e você vai ter que me ajudar.
- Meu filho! Tenho que encontrar meu filho! – a mulher gritava do outro lado do vagão e mamãe me puxou até lá – Ele estava no banheiro quando o trem capotou, por favor, tire ele de lá!
- A porta do banheiro estava aberta, mas um banco caiu na frente dela. Sou grande demais para passar por baixo, mas você consegue – mamãe me olhava com tanta confiança que me senti envergonhada por estar assustada.
- Como é o nome dele?
- Jeffrey.

Assenti com a cabeça e caminhei cambaleando na direção do banheiro. A poltrona bloqueava a porta, mas consegui passar pelo buraco debaixo dela e encontrei o menino. Ele estava desacordado. Agarrei-o pela camisa e consegui puxá-lo para fora. Encostei o ouvido em seu peito e não ouvia nada. O pânico estava começando a voltar.

- Mãe, ele não está respirando! – minha voz saiu mais esganiçada do que eu previ. A mulher gritou em desespero.
- Abra suas mãos e coloque uma sobre a outra. Você vai usar só a palma, mantendo os dedos esticados para cima. Estique os braços para ter mais firmeza e apóie as mãos sobre o peito dele. Aperte quatro vezes e assopre em sua boca – mamãe ia me instruindo de longe e obedeci – A cada vez que fizer isso, coloque as pontas dos dedos indicador e médio no pescoço dele, para checar se o pulso voltou.

Repeti o procedimento que ela ensinou cinco vezes. Já começava a me desesperar outra vez, quando senti um movimento fraco, mas que indicava que ele estava respirando outra vez. Comecei a chorar de alivio, mas só percebi quando mamãe secou minhas lágrimas, depois que a arrastei até onde ela estava. Um pouco mais calma, percebi porque mamãe não saia do lado da mulher grávida: ela estava presa por um ferro, que atravessava seu ombro. Mamãe vinha tentando soltá-la sem que perdesse mais sangue do que já havia perdido.

- Clara, preciso de mais um favor. Tem um homem do outro lado, debaixo das bagagens. Vá checar se ele está respirando, não posso sair daqui agora.

Assenti menos nervosa e fui até ele. Empurrei as bagagens para o lado e o encontrei desmaiado, todo sujo de sangue. Logo vi que tinha pulso, o que já foi um alívio. Tinha um corte feio na testa e nos lábios, mas o problema maior era em sua perna. Um dos bancos arrancados a prendia contra o chão, mas a parte de ferro estava tão imprensada contra sua perna que abriu um corte gigantesco. Seria impossível tirá-lo se lá sem cortar o banco. Ou a sua perna.

Mamãe me instruiu outra vez, agora para amarrar um pedaço de pano acima do corte com o máximo de força que eu conseguisse, assim diminuiria o fluxo de sangue que estava saindo pela abertura. Ainda estava apertando o nó quando a mulher presa no ferro gritou tão alto que me assustou. Mamãe também se exaltou e voltei correndo até elas.

- Mãe! – minha expressão devia ser de puro pavor, pois mamãe voltou a me segurar pelos ombros e me encarou séria.
- Lembra dos exercícios que Keiko lhe ensinou, para a yoga? – assenti – Use-os agora.
- Ela vai... Ter o bebê? Aqui?
- Sim, e vai ter que me ajudar – ela agarrou minha mão e pôs no ombro da mulher, onde o ferro ainda estava atravessado – Pressione com toda força que tiver. Ela vai começar a fazer força e o sangue vai sair com mais rapidez. Impeça – comecei a gaguejar na tentativa de dizer que não ia conseguir – Não posso fazer os dois. Você prefere fazer o parto?

Neguei na mesma hora, segurando firme o buraco no ombro dela. Cada vez que a mulher fazia força para empurrar o bebê, o sangue vazava e escorria pelo ferro e todo o meu braço. Os gritos dela eram horríveis, seria difícil dizer o que doía mais: o parto ou aquela coisa atravessando seu corpo. Mamãe teve trabalho para tirar o bebê, ele estava virado e dificultou ainda mais o processo. A mulher já estava esgotada quando ele finalmente saiu, e depois de alguns segundos, o choro ecoou pelo vagão tombado.

- O nome dele... – a mulher segurava o bebê nos braços e ficava cada vez mais pálida – O nome dele... é... Luke.

Mal terminou de dizer o nome, ela desmaiou. Mamãe tirou o bebê de seus braços às pressas e colocou no meu colo. Enrolei-o em meu casaco e recuei, enquanto ela sacava a varinha do bolso e dizia um encantamento que soava quase como uma canção. Não sei o que ela fez, mas aos poucos a mulher começava a recuperar a cor. O ferro continuava atravessado em seu ombro, não tinha como tirá-lo sem matá-la instantaneamente. Ela fez alguns curativos com o kit de primeiros-socorros que achou no trem para estancar um pouco do sangue e foi socorrer o homem com a perna presa.

Não demorou muito e ouvimos barulho de helicópteros do lado de fora, o socorro havia finalmente chegado. Eles retiraram o bebê e o garoto desacordado primeiro, depois mamãe e eu, e um dos paramédicos a agradeceu pela ajuda. Do lado de fora podíamos ouvir o barulho das serras elétricas cortando os ferros que prendiam os outros dois. Mamãe conseguiu enviar um patrono ao papai, para que soubesse que estávamos bem, e ficamos de pé perto de uma das ambulâncias acompanhando o trabalho de resgate dos outros vagões.

- Como você consegue fazer isso todos os dias? – perguntei ainda em estado de choque, enrolada em um cobertor dado pelos bombeiros.
- Acho que acostumei. No começo foi difícil e muitas vezes tinha crises de choro, mas nunca pensei em desistir – ela se aproximou mais e apoiou as mãos em meu ombro – Você foi ótima hoje, não teria conseguido sem a sua ajuda. Obrigada.

Olhei para ela e a abracei, afundando o rosto em seu ombro e começando a chorar, finalmente demonstrando todo o medo que estava sentindo enquanto a ajudava. Dessa vez não teria yoga ou meditação que me acalmasse. Nunca mais esqueceria aquela noite.

Friday, August 20, 2010

Novos Horizontes

Agosto de 2014

A costumeira coruja marrom da Escola entrou pela janela, piando alegre, pois sabia que mamãe lhe daria algum petisco. Ela parou diante de mim e estendeu a pata, apressando-me a retirar a carta para que ele pudesse pegar os petiscos.

- Ah, que saudade da época que eu recebia essas cartas! – Griffon falou, espreguiçando-se, pois todos estavam passando o final das férias conosco e naquele dia iríamos todos juntos no Beco Diagonal comprar materiais. Seria o primeiro ano de Luthien e Mina na escola e elas estavam animadas, doidas para finalmente irem para a escola. Além deles, Tia Celas e Tio Isaac nos encontrariam no Beco, assim como Gaia e Edward. Depois todos iríamos para o Texas, para comemorar o aniversário de Haley.
- Você ta parecendo um velho, falando assim, Grif. – Emily falou, brincando com ele enquanto ríamos.

Eu retirei o envelope e notei que ele estava mais pesado e fiquei me perguntando o porquê. Quando rompi o lacre da escola, algo pequeno e brilhando em vermelho e dourado caiu de dentro dele em cima da mesa, reluzindo diante dos olhares de todos, que estavam surpresas, eu principalmente. Era um distintivo de Monitora da Grifinória! Antes que eu pudesse deixar meu estado de surpresa, Griffon pegou o distintivo e o mordeu, querendo saber se era de verdade. Seth brigou com ele, mas também parou para conferir o distintivo, assim como papai e por último, mamãe.

- É um distintivo de verdade? Eu só via quando levava detenção. – Papai falou.
- Deve haver algum engano. – Eu falei, ainda surpresa. Mamãe, Emily e Luna foram as primeiras a sorrirem comemorando, enquanto me abraçavam.
- Parabéns, Arte! Você foi selecionada para Monitora da Grifinória! – Emily falou.
- Que orgulho estou da minha filha! Monitora! – Mamãe falou, enxugando uma lágrima dos olhos.
- Nem mesmo você foi monitora, Mirian. Parabéns, querida! – Luna falou, me abraçando.
- Gente, deve haver algum engano com certeza!
- Por que haveria? – Emily perguntou, sorrindo. – Você não se acha pronta para ser monitora?
- É apenas que dentre todos os alunos da Grifinória, escolher a mim? Que tem mais detenções do que pontos para a casa?
- Se ela decidiu escolher você, há um motivo. Além disso, o George também considera você digna de ser monitora, é uma grande honra. E principalmente, mostra que confiam em você. – Emily falou, me fazendo pensar e sorrir.

Aquilo me deixou feliz. Não por ter sido escolhida monitora, mas por ver que Mimi e Tio George acreditavam que eu daria uma boa monitora. Ficamos o resto do café comentando disso, todos alegres e divertidos. Meus sobrinhos queriam ver o distintivo, pois estavam maravilhados e os deixei olhar a vontade. No meio do café, as chamas da lareira ficaram azuis e soubemos que viria um recado de alguém. Papai ficou de pé na frente das chamas aguardando. Pouco depois, o rosto do próprio Tio George surgiu.

- Bom dia Lu, como estão todos? Novidades? – Ele falou sorrindo, dirigindo um olhar pela sala. Ele me viu e abriu um largo sorriso.
- Tudo ótimo, George, e com você? Temos uma monitora na família agora, sabia?
- Não! – Ele fingiu surpresa, o que não era verdade, pois fora ele que me escolhera. – Meus parabéns, querida.
- Obrigada, tio. Mas vocês estão certos disso? Quero dizer, não estou chateada, mas é muita responsabilidade.
- E eu acho que você dá conta. Por isso escolhi você, pois acho que é capaz de ser uma boa monitora. Fora que escolhemos outros monitores tentando equilibrar mais a escola e acabar com alguns problemas. – Ele referia-se a possíveis brigas entre Grifinória e Sonserina, mas elas tinham diminuído muito nos últimos anos.
- Eu vou fazer o possível para não decepcioná-lo, assim como a Diretora.
- Fico feliz que pense assim, vai ser bom para você. E você é madura o suficiente para ter essa responsabilidade e esse voto de confiança. Parabéns!
- Tios, quais os outros Monitores?
- Você vai descobrir em breve. Sei que vai se comunicar com eles. – Ele disse sorrindo. Ele conversou mais um pouco com todos antes de desaparecer e as chamas voltaram ao vermelho vivo.

Após o café eu corri para meu quarto e escrevi cartas para todos meus amigos, despachando Tsubasa em seguida. Ela teria que voar muito, indo de um canto a outro, mas ela é uma boa coruja. Contei dessa novidade e não pude deixar de comentar que achava que ficaram malucos, mas fiquei feliz com a decisão deles. Perguntei se eles sabiam quem seriam os outros monitores, já que Tio George, deixara no ar algo sobre isso, mas não quis me contar. Falei também que durante a tarde iria ao Beco Diagonal e caso algum deles fosse, para tentarmos nos encontrar lá.

Logo após o almoço, estávamos todos prontos para sair para o Beco Diagonal, quando a coruja de Tuor, uma coruja branca, bateu em nossa janela. Achei incrível como Tsubasa viajará tão rápido até a Noruega e recebi a coruja, fazendo carinho nela, enquanto ela me bicava feliz. Desdobrei sua carta e sorri com seu conteúdo, uma única frase escrita, me fazendo lembrar da primeira vez que nos vemos:

“Apenas uma coisa a dizer: A Mimi está gagá e perdeu o juízo.”

As férias desse ano foram muito agitadas.
O ano que passou em si foi bem movimentado.
A começar pelo fato de que agora eu tinha 15 anos! Era uma data importante e meus pais ficaram felizes com ela, doidos para me dar os parabéns.

Como meu aniversário ainda ocorre durante as aulas, na manhã do dia 15 de Maio, o meu dormitório foi invadido por Clara, Keiko, Haley, Penny, Lizzie, Charlotte e Bela. Elas pularam na minha cama, me abraçando e me sacudindo, enquanto acordavam o resto do dormitório.

- Feliz Aniversário! – Elas gritavam em uníssono e gargalhando.
- Ai! Assim eu vou acordar já com dor de cabeça! – Eu fingi estar chateada, rindo com elas. Elas logo começaram a me jogar travesseiros e seus presentes, querendo que eu saísse logo da cama.

Assim que consegui olhar em volta, após falar com todas as garotas do dormitório e com minhas amigas que não saiam do meu pé, eu notei que Tsubasa já estava empoleirada em um sofá, me aguardando. Ela parecia assustada e até irritada com a barulheira, mas assim que me viu ela piou alegre, como se soubesse do meu aniversário. Ao lado dela, estavam Griffia e Snowball, as corujas de meus irmãos, além de Annalia, a coruja de meus pais, e de Loch, a coruja de meu padrinho, além de várias corujas de meus vários tios e tias. Todas tinham um embrulho com meus presentes e cartas. Papai e mamãe prometeram que quando entrasse de férias eu poderia dar uma festa, e poderia ganhar o que quisesse.

- Vamos logo, Arte! Depois responde uma a uma as cartas! – Clara me apresava, puxando-me pela mão.
- Ai calma gente, deixem curtir meus primeiros minutos com 15 anos!
- Curta no café!

Elas desceram comigo, todas rindo e animadas. No salão comunal, Stefan me aguardava com um embrulho na mão. As garotas ficaram dando risadinhas enquanto ele me abraçava dando parabéns e dava-me o presente, um pequeno pingente de gato. Eu agradeci e me segurei para não voar no pescoço das garotas. Nós descemos logo para o café, enquanto me perguntava onde estaria o Tuor, pois era aniversário dele também.

Apenas no café da manhã encontrei Tuor e trocamos parabéns e abraços apertados. Ele também foi acordado por JJ, Jamal, Julian, Hiro, MJ, Luky e Rupert, que combinaram de acordá-lo antes de mim. Passamos o dia todo ainda alegres e felizes.

À noite ganhamos uma surpresa.
As garotas conseguiram permissão de Tio George para dar uma festa surpresa para a gente em uma sala vazia e após o jantar, Haley disse que sentia um fantasma inquieto e pediu minha ajuda. Ela me largou em um dos corredores do quarto andar e saiu correndo dizendo que precisava seguir outro espírito. Tentei correr atrás dela, mas ela foi mais rápida e acabei encontrando com Tuor. Ele falou que o haviam chamado ali, quando ouvimos correntes em uma das salas. Nós entramos com cautela, varinhas em punho, prontos para nos defender. Nós levamos um susto quando várias varinhas explodiram em luzes e gritos de parabéns.

- Vocês são loucos!? E se eu ataco vocês?! – Eu falei rindo. Foi um momento maravilhoso e gostei de verdade.


Os treinos com Chronos também foram muito intensos, pois ele me ensinava cada vez mais. Agora eu realmente me sentia parte de Avalon, mas ele me dizia que ainda faltava muito sobre a ilha para conhecer.

Eu aprendera a controlar o clima da Ilha, pois antes ele refletia meu estado de humor, estando em geral claro e ensolarado. Agora eu podia causar chuva, neve, ventanias e até mesmo geadas na Ilha. Chronos me explicou que isso era importante para eu poder treinar em diferentes situações, e não apenas em um único clima.

E o mais legal de tudo sobre Avalon: aprendi a controlar o fluxo do tempo enquanto eu estivesse na Ilha! Devido à magia de Arturia, quando Avalon foi retirada do mundo normal, seu tempo também se tornou diferente do normal. Em geral haviam diferenças de alguns minutos no máximo, mas teve vezes em que quando voltei à Glastonbury, haviam até duas horas de diferença! Isso é algo assustador e preocupante, uma vez que poderíamos ficar presos em Avalon por um tempo que não queríamos. Eu então aprendi a controlar o fluxo do tempo enquanto eu estivesse na Ilha e assim pude controlar como o tempo corria ali dentro. Isso era importante também para aumentar as minhas horas de treino, pois enquanto passariam duas horas no mundo normal, eu agora era capaz de dobrar esse tempo dentro de Avalon. Isso foi essencial para eu continuar desenvolvendo-me mais e mais nos treinos.

O livro que eu tanto queria escrever começava a ganhar vida. Com a ajuda de Hiro, Rupert e Julian, eu conseguira aos poucos catalogar e estudar algumas das flores e os objetos da Ilha. Estudamos e fizemos modelos das armas encontradas ali, nos vasos, dos jarros, das esculturas. Aos poucos íamos desvendando o passado de Avalon e isso nos deixava muito animados! Mas sentíamos que ainda faltava algo a ser descoberto.

- Arte, tem certeza que podemos ver tudo que há em Avalon? – Rupert perguntou uma vez.
- Eu acho que sim, por que pergunta? – Perguntei. Nesse dia, além de mim e do Rupert, mamãe, Mina, Julian e Hiro estavam na ilha também. Todos envolvidos em desvendar os mistérios de Avalon.
- Porque se aqui foi a capital do reino por tantos anos, deveria ter um forte ou um castelo. Apesar das defesas que há na cidade baixa, isso não seria o suficiente. – Hiro completou, me fazendo pensar.
- Agora que falou, realmente falta algum tipo de castelo na Ilha. Nunca tinha reparado nisso. – Eu admiti e comecei a pensar. Chronos sorriu.
- Estamos no caminho certo, não estamos? – Julian sorriu também. Era incrível como além de mim, meus amigos entendiam mais Chronos agora.
- Estão. Há realmente um castelo na Ilha, mas esta escondido. É o último prédio ainda escondido de vocês.
- E por que ele está escondido? – Eu perguntei, interessada.
- Pois ele ainda não se fez necessário. Até agora tudo que há em Avalon é necessário para o treinamento de todos vocês. – Mamãe falou, entendendo melhor do que nós. – Acho que Avalon revela seus segredos gradativamente, mostrando aquilo que as pessoas necessitam.
- Brilhante como sempre, Mirian. – Chronos sorriu. – Em breve Camelot se mostrará.

A menção do nome Camelot, o lendário castelo de Arturia fez todos ficarem fervilhantes de curiosidade, mas Chronos nada mais falou. Tínhamos que ter paciência, pois em breve seria revelado.

Com relação aos treinos, no último ano Chronos começou a me ensinar a lutar usando armas. Ele me ensinou a usar o arco e flecha antes de todos, para treinar minha concentração e minha mira. Depois passamos para correntes e adagas, para que minha velocidade fosse aumentada. Então me ensinou a usar a lança, a espada e o machado, para que eu treinasse minha força. Chronos estava feliz, pois ele dizia que eu lutava bem com todos, mas no início das férias ele me disse:

- No próximo ano, quero que escolha uma única arma para lutar. Aquela com que você se sente mais completa e mais equilibrada. Aquela que você pode chamar de sua arma e desenvolver seu estilo de luta.

Eu tive que pensar pouco, e logo me decidi por lutar com espadas. Não apenas uma espada, mas usar duas espadas ao mesmo tempo, em um estilo de luta que eu chamava de Dança de Espadas.

- Por que as escolheu? – Chronos me perguntou, quando anunciei minha escolha.
- Porque me sinto bem com elas. E usando duas há equilíbrio: posso me defender e atacar ao mesmo tempo sem diminuir meus reflexos e agilidade.
- É uma escolha sábia, com certeza. Agora quero que você aprenda a magia que meus pupilos aprendem: quero que conjure sua própria arma.

Desde então, ele vem me ensinando a condensar a energia que há na natureza e dentro de mim em algo sólido. É semelhante à Transfiguração, o que é bom, pois sou boa na matéria. Mas é mais complicado. Na Transfiguração eu sei o que quero fazer surgir, aqui não. Eu preciso criar da minha própria mente armas que sejam capazes de usar todo o meu potencial.

Foi apenas após um mês treinando que eu finalmente consegui.

Isso ocorreu em um dia quando Haley, Clara, Keiko, Bela e Luthien estavam em Avalon comigo, além de mamãe. Mamãe também me ensinava os princípios da Transfiguração Avançada, me ensinando como entender a matéria e a energia. Minhas sobrinhas treinavam com minhas sobrinhas, ensinando-as alguns golpes de Kung Fu ou aprendendo feitiços simples.

Observei mamãe fazer surgir do chão um girassol inteiro, totalmente do nada. Vi como parecia que a própria energia dela concentrava-se no chão e o ar ao redor dela condensava-se naquele ponto. Fechei os olhos e me concentrei. Imaginei o motivo de eu querer lutar: defender os meus amigos. Esse era o verdadeiro motivo. Eu queria me tornar forte para ajudar e proteger todos e poder retribuir todo o carinho e toda a amizade que me davam.

Vislumbrei algo. Era um brilho fraco. Concentrei minhas energias ali. Guiei o fluxo de energia do meu corpo ao redor daquele pequeno brilho branco, dando forma a ele e aumentando-o. As espadas deveriam ser leves, para que eu pudesse me movimentar com rapidez, mas resistentes e poderosas para que eu pudesse golpear com precisão. O brilho tornou-se mais intenso e “martelei” energia nele, dando vida aquilo.

Então abri os olhos. Foi o som que me fez abrir os olhos. Parecia o som de sucção, e depois de concentração. Ouvi também as exclamações de minha mãe e dos outros.

Diante de mim, fincadas ao chão, estavam duas espadas longas. Ambas tinham lâminas brancas do tamanho de meu braço. O punho delas era feito de um material estranho para mim, mas que brilhava em branco e dourado. Eu estiquei minhas mãos trêmulas de alegria e surpresa e toquei o cabo das duas ao mesmo tempo. Senti como se uma corrente elétrica passasse por todo o meu corpo e soube que aquelas eram as espadas perfeitas para mim. As puxei do solo e notei como eram leves. Cortei o ar com elas e o som que elas faziam transmitia poder e força. Me senti completa com elas. Então, ouvimos um barulho. De início pareceu como se algo estivesse ruindo, mas depois se transformou no barulho de algo em movimento, como pedras se arrastando.

No topo da colina dos Templos, o ar vibrava e oscilava. Pois ali, em volta do templo de Chronos, surgia no ar um castelo de pedras cinzentas. Uma a uma as pedras começaram a surgir do ar e da terra. Primeiro suas grossas fundações brotaram do solo e então as pedras começaram a surgir e fincar-se nos seus locais milenares. O castelo começou a ganhar vida a partir do templo de Chronos, espalhando-se ao redor. A Ilha tremeu, aumentando de tamanho, comportando uma vez mais o castelo. Sua enorme porta dupla estava a alguns metros do templo de Seph, no final de um pequeno caminho ladrilhado em pedras cinzentas. O templo de Seph ficava agora no início da colina, e o restante dela era tomado por um enorme castelo de pedras cinzentas, brancas e negras. Apenas o seu cume era intocado, logo após o castelo, onde as pedras de magia continuavam no lugar e uma trilha contornava o enorme castelo.

Camelot surgia diante de nós, imponente e poderoso. Agora ele era necessário. E eu soube o porquê: era nele que eu realmente começaria o meu treinamento.

Tuesday, August 17, 2010


As férias deste ano haviam sido bem agitadas. Cada um dos meus amigos após as suas visitas a familiares, viriam para minha casa no Texas, para comemorar o meu aniversário de 15 anos.
Claro que vovó Warrick estava toda animada com a proximidade de meu aniversário, pois ela queria fazer um daqueles bailes de debutantes, cheio de frescuras, com danças esquisitas, igual ao tempo dela, e até disse que o tema poderia ser “E o vento levou...”eu olhei em pânico para meus pais, e já ia dizer que não queria festa nenhuma quando minha mãe, sugeriu um churrasco descontraído durante o dia, pois eu tinha vários primos ainda pequenos e à noite, algo um pouco mais elegante, com roupas mais formais, pista de dança, DJ’s, e eu disse que esta sim, era o tipo de festa que eu queria, e ao final todos aprovaram a idéia.

-o-o-o-o

O churrasco estava muito animado, e todos os meus amigos estavam presentes, e haviam chegado cedo, para aproveitarmos o dia da melhor maneira possivel, pois tínhamos muitas coisas para pôr em dia. Clara, Hiro, Arte e Rupert haviam sido escolhidos como monitores e isso por si só já gerava muitas especulações. Justin estava passando uns dias no rancho a convite de Julian, e nos tratávamos com educação, mas às vezes eu via que ele queria falar algo, mas desistia e ia fazer outra coisa, porém volta e meia nossos olhares se cruzavam. Todos os meus amigos gostavam dele, e explicavam sobre os processos seletivos tanto para as casa quanto para monitores, visto que na escola texana não tinha disso.Notei que Justin e Clara pareciam ter muita coisa em comum e conversavam bastante, e até Keiko jogava charme para ele. O que aquele cara tinha que fazia com que as garotas perdessem a noção? ¬¬
Eu estava indo para dentro trocar de roupa, quando vi, minha cunhada Rory tentando convencer a minha sobrinha, Selene, a tomar um banho, pois já era a hora da sua soneca, e se ela não tirasse um cochilo, era garantia de mau humor, durante a festa à noite. Quando ela me viu, esticou os braços e disse que queria que eu cuidasse dela, então a peguei e a levei para dentro de casa, e disse para Rory ficar na festa que eu daria conta. O banho em si demorou um pouco porque ela acabou me molhando toda, e eu aproveitei para brincar com ela. Estava terminando de enfeitar seus cabelos, quando ouvi uma batida na porta e alguém disse com voz grossa e tom brincalhão, enquanto entrava:
- Olá, querem ajuda? Pelo jeito um lindo patinho passou por aqui...- olhei sorrindo para cima, pensando que era meu irmão Ty, mas me enganei: era Justin.
- Oi!- disse um pouco vermelha, porque percebi que ele me olhava de cima a baixo e eu devia estar um desastre.As minhas roupas estavam molhadas e coladas ao corpo, e meu cabelo todo bagunçado, mas ele pareceu não ligar pois olhou para minha sobrinha e sorriu dizendo:
- Não foram patinhos que passaram aqui, foram as sereias...
Antes que eu conseguisse segurar, ela correu para ele, de braços erguidos, falando em sua língua de criança pequena:
- eeee o lobo...Amo’xê, Justin, faz upa, upa?
- Também te amo,minha linda, mas agora não posso fazer cavalinho, porque sua mamãe disse que está na hora de você dormir. Não é titia?- ele disse olhando para mim e eu fiz um aham, enquanto ia pegar minha sobrinha do colo dele, ficamos bem próximos com minha sobrinha entre nós, e Selene colocou seus bracinhos ao redor de nossos pescoços e disse:
- Beijoooo! Igual meu papai e minha mamãe.
Acho que devo ter ficado igual a um tomate, pois senti minha orelhas quentes e Justin sorriu quando eu disse enfaticamente:
- Não vou beijar o Justin....- e minha sobrinha começou a fazer beicinho. Para evitar o choro ele disse rápido:
- Sshh, se eu beijar a Haley, você vai para a cama?- e ela assentiu e ele disse:
- Posso? – fiz um ar conformado e fiz que sim com a cabeça e ele se aproximou devagar, eu já estava me perguntando que bicho havia me mordido quando na hora H, ele me beijou na ponta do nariz, e minha sobrinha aplaudiu e pediu um para ela. E enquanto ele a deitava no berço e lhe dava beijos na ponta do nariz, eu não sabia porque eu estava me sentindo uma tremenda idiota.

-o-o-o-o-o-o

Quando minha mãe disse que eu iria adorar a festa à noite, ela não mentiu. Havia uma pista de dança, um bar de onde saíam muitos drinks coloridos e mesas com comidas variadas espalhadas pelo jardim e todos estavam se divertindo. Os DJ’s escolhidos por minha mãe eram muito bons, e a pista estava sempre ocupada, e Justin já havia dançado com todas as minhas amigas e nem sequer olhou para o meu lado. Quem ele pensava que era? Quase me beija de dia e à noite, me ignora? Bom, este é um jogo que pode ser jogado por dois.
Comecei a dançar com os garotos, e deixei Justin de lado, Jamal era o mais empolgado, e porque não dizer o mais charmoso, e acabamos trocando alguns beijos num canto escondido dos jardins, e nem lembrei mais do Justin. Voltamos para a festa dando risadinhas e começamos a nos divertir com os outros quando vi uma moça com aparência assustada falando com as pessoas e elas a ignoravam. Em dado momento nossos olhares se cruzaram e ela foi se afastando e eu fui atrás dela. Estavamos um pouco longe da festa, quando ela parou e me encarou.
- Você é a mediadora? Pode me ver?- perguntou ansiosa.
- Se ver você me torna uma mediadora, então eu sou.O que você precisa para ir em frente?
- Eu preciso de você....- nesta hora vi seus olhos se arregalarem de medo enquanto ouvíamos uma voz forte dizer:
- Não se aproxime dela....- era Justin e ele parecia nervoso e me puxou pelo braço dizendo:
- Vamos sair daqui... - e praticamente me arrastou para longe da garota, e quando tentei me soltar, ele me segurou forte, pelos braços.
- Pare com isso Justin, você sabe que eu posso ajuda-la a encontrar a luz... Você devia me soltar.
- Para você ir lá? Nem pensar.Ela não quer seguir em frente, não se envolva com ela...
- E quem é você para me dizer o que fazer?
- Sou alguém que te livrou de um problema dos grandes e se você não fosse tão cabeça dura, teria percebido isso.
- Olha aqui seu ...- parei no meio da frase e ele me olhou de olhos franzidos.
- O que foi? Perdeu a linha de raciocinio?- cutucou.
- Você pode ver fantasmas!- eu disse como uma afirmação e ele respondeu cansado:
- Sim, posso vê-los, mas não converso com eles como você...
- Conversa sim, porque você gritou a ela para não se aproximar de mim, e ela pareceu ter medo de você.
- Não delira, eu não falo com fantasmas ok? – ergui a sombrancelha para ele e ele parou de negar.
- Olha aqui, o que você precisa entender, é que nem todos os fantasmas querem apenas mandar um recado à suas familias e depois seguir em frente ok? Alguns querem ficar aqui fazendo coisas ruins e se ela chegasse perto de você, seria perigoso.
- Desde quando fantasmas são problemas para mim? Ou melhor, para você? Porque pelo que pude perceber você pode vê-los também, então porque não a ajuda?
- Porque ela não quer ajuda, ela é má.Tem uma aura negra ao redor dela. – notei que ele falou de aura, mas não ia pensar nisso agora, eu queria brigar:
- E você acha que eu tenho medo? Não sei se notou, mas eu sou uma especialista no assunto, faço isso há anos...- e ele riu com desdém.
- Isso não é um passeio na floresta com seus amigos, ou se esgueirar pelos corredores com o seu namoradinho ‘king kong’, fugindo do zelador, isso é mais sério do que pensa.
-Sei me cuidar, não sou lesada. - bufei.
- Então não aja como uma. Tome cuidado com os fantasmas que se aproximam de você ou eu vou ter que interferir.- disse autoritário e eu ergui o queixo:
- Ah é? E desde quando eu tenho medo de você?- e ele me puxou mais para perto dele:
- Haley, é sério. É perigoso e se alguma coisa acontecer com você eu...
- Você? – perguntei e ele disse após respirar fundo, e se afastou, e começamos a nos aproximar do local da festa:
- Não conseguiria olhar para o Julian ou para sua mãe se alguma coisa ruim se aproximar de você e eu não fizer nada para evitar.
- Bom! Voce já marcou o seu ponto e acho que aquela garota entendeu o seu recado e não vai mais me incomodar, agora vamos voltar para a festa?
- Se eu fosse você não teria tanta pressa de voltar para os braços do seu ‘amigo’. - olhei-o com desprezo, virei-lhe as costas e dei de cara com Jamal beijando uma garota na pista.
Eu não me importaria com a cena, se não tivesse ouvido a risada de Justin atrás de mim. Ergui o queixo, passei pelas pessoas sorrindo quando necessário e fui para o meu quarto, o mais rápido que pude. A minha festa de aniversário, estava encerrada para mim.

Eu estava começando a tirar a maquiagem do rosto quando uma batidinha na porta, me interrompeu e era a minha mãe:
-Hey! O que está fazendo?
- Estou cansada! – disse, achando que com isso ela iria embora, mas minha mãe entrou e colocou suas mãos sobre meus ombros e nossos olhares se cruzaram no espelho, e ela perguntou:
- É por causa do Jamal?Não achei que vocês tivessem algo a sério...
- Jam e eu? Não, não temos nada sério, foi...Um momento divertido só isso.- ela continuou me olhando e disse:
- Então o problema, é o Justin...
- Justin? Porque eu teria problemas com ele?- a olhei tensa e perguntei:
- Ai, o que foi que você viu mamãe?
- Eu e metade da festa, vimos vocês dois se rodeando durante o dia e discutindo agora à noite. E depois disso, você veio para cá. Veio se esconder?- e eu me virei indignada, e despejei tudo:
- Eu nunca me escondo de ninguém, ainda mais daquele idiota, convencido, arrogante, que pensa que pode mandar em mim e nem meu namorado é, diga-se de passagem, mas até parece que ele quer alguma coisa comigo. Não! claro que não, comigo é só briga, e ordens e aquele ar superior, e.... O que ele quer é ficar com as minhas amigas, para me irritar e ele parece estar no caminho certo, todas gostam dele...Não entendo o porque e...- e vi minha mãe sorrindo:
- Bem...Você gosta dele!
- Não, eu não gosto dele.- como ela me olhasse, eu disse:
- Eu não sei o que sinto por ele ok? Algumas vezes o vejo e penso que ele seria um cara legal, principalmente quando está com as minhas sobrinhas, ele é amoroso, gentil, e mesmo com os meus amigos, ele parece realmente se importar com eles, mas isso acaba quando estamos perto um do outro. Não consigo não discutir com ele e ele parece me ver sempre como uma garota sem cérebro. Mãe, ele me chamou de mimada. Eu mimada? Tenha dó...
- Você é um pouco mimada sim, e sabe disso...
- Mãe, você não está me ajudando. – disse um pouco emburrada e ela me abraçou e me virou para o espelho dizendo:
- Você é minha filha e é minha obrigação como sua mãe lhe dizer que algumas vezes você é mimada sim, e isso é culpa nossa, especialmente quando apronta na escola e eu e seu pai fazemos vista grossa e não a punimos de acordo...
- Vocês me deixaram de castigo, isso não é punir?- como ela me olhasse daquele jeito, ‘não reclame porque posso rever o castigo’, eu disse sem graça:
- Todos os castigos foram merecidos, eu reconheço.
- Haley,não permita que um garoto, por mais que que você goste dele, a magoe por não lhe dar atenção ou mesmo não estar interessado, não vale a pena e você sabe que não se pode ganhar todas. - até abri a boca para protestar, mas um olhar da minha mãe, me fez desistir:
- Você é jovem, inteligente e linda, e deve aproveitar a vida ao máximo. Justin é um rapaz forte, sabe como enfrentar o mundo, mas não deixe que este sentimento que você tem por ele a assuste. Talvez ele também esteja assustado e não saiba como lidar com isso, por isso vocês briguem tanto. Lembre-se sempre que por mais que o mundo seja ‘dos homens’, nós mulheres, é que fazemos as mudanças e geramos o equilíbrio, para que tudo dê certo. – ela me deu um beijo e me deixou pensando.
Não demorou muito, Clara, Keiko, Arte e Lizzie vieram me buscar e eu voltei para a festa, deixando de lado tudo o que minha mãe havia falado. Afinal eu estava na minha casa, era a minha festa de aniversário e logo eu voltaria para a escola, e Justin ficaria no passado e eu não o veria mais por um bom tempo, então para que me preocupar com o equilíbrio entre nós?

Monday, August 16, 2010


Agosto de 2014

Dormia o mais confortável que em minha cama do acampamento permitia, quando uma claridade absurda invadiu o quarto. O sol estava tão forte que mesmo de olhos fechados senti incomodo e quando os abri, muitos pares de mãos me agarraram e fui arrancada da cama sem cerimônia alguma.

- Feliz aniversário! – os agressores gritavam a plenos pulmões e só então os rostos começaram a entrar em foco. Eram meus amigos do acampamento.
- Merlin, não podiam ter feito um bolo e esperado eu chegar para o café? – reclamei, mas não soava nem um pouco chateada.
- Vamos embora hoje, não temos tempo para café da manhã – Daniel colocou um chapéu cônico verde na minha cabeça e Matt assoprou uma corneta na minha cara.
- Ok, ok, vamos começar a festa!

Taylor começou a disparar feitiços e encheu o quarto de balões coloridos, enquanto Katie fazia o bolo flutuar até a única mesa limpa do chalé. Lisa então ligou o som e deu inicio a bagunça. Aquele era o último verão de muitos no acampamento e foi uma ótima maneira de me despedir dos amigos que fiz ali e que dificilmente veria outra vez.

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Depois da bagunça que meus amigos fizeram para comemorar meu aniversário de 15 anos, cada um voltou para o seu chalé para arrumar as malas, pois era hora de partir. Aquele havia sido um verão agitado. Muitos campistas novos lotaram os chalés e os monitores precisaram inventar todo o tipo de atividade diferente, além das aulas, para manter todos ocupados. A aula de arquearia havia rendido bastante e eu já não acertava pássaros no ar, e sim o alvo. Thruston estava de volta e ainda mais sociável que o ultimo verão, veio me cumprimentar animado logo no 1º dia e nosso grupo de Hogwarts passou o mês inteiro junto. Até beisebol eu joguei, embora não tenha terminado bem para todo mundo, mas não tenho culpa de terem me colocado como rebatedora. E para completar tudo de bom que aconteceu, vencemos a captura da bandeira pelo segundo ano consecutivo, dessa vez sem precisar usar Daniel como kamikaze. Aquele verão ia deixar saudades.

Minha mãe já estava me esperando do lado de fora do portão principal e arrastava minha mala pela estradinha de pedras quando alguém me chamou. Logo percebi que era Thruston, encostado numa cerca de madeira com os pés apoiados na mala. Desviei o caminho até lá.

- Não vi você hoje cedo, na bagunça do chalé – falei parando ao seu lado e encostando a mala na cerca.
- Não achei que fosse gostar de ser arrancada da cama as 7h e ver a minha cara usando um chapéu cônico – ele riu – Mas em todo caso, feliz aniversário.
- Obrigada.

Ficamos em silencio no que parecia uma eternidade. Ok, nos dávamos bem no acampamento, mas não éramos amigos nem nada, não tínhamos assunto agora que aquela parte do verão tinha terminado. Voltaríamos a Hogwarts e ao normal, mas agora aquilo não parecia mais o certo. O normal, agora, era o que acontecia durante o verão. Graças a Merlin ele pensava o mesmo e me poupou o trabalho de ter que falar primeiro.

- Não faz o menor sentido nos ignorarmos durante o ano inteiro e nos darmos tão bem aqui.
- Concordo.
- Não precisamos ser amigos, mas não vou mais fingir que não estou lhe vendo quando entrar na sala de aula. Vou falar com você e espero que faça o mesmo.
- Estamos mesmo muito velhos para brigas sem um motivo de verdade. Vou responder se vier falar comigo, e não atacá-lo com um feitiço.
- Ótimo – ele tirou os pés da mala e ficou de pé direito, de frente para mim, e estendeu a mão – Trégua?
- Ainda não gosto de você e vamos competir na sala e no campo, mas sim, trégua.

Apertei sua mão em sinal de paz e até agora não sei explicar direito o que aconteceu, mas não as soltamos de imediato. Ao invés disso, nos aproximávamos cada vez mais. Já podia até ouvir a respiração pesada dele quando a voz de Daniel me trouxe de volta a razão e me afastei, soltando sua mão.

- Ih, foi mal – Daniel abafou uma risada e Thruston passou a mão no cabelo, visivelmente constrangido. Eu não queria nem me olhar no espelho, devia estar da cor do cabelo dos Weasley – Só vim me despedir, até mês que vem na estação.
- Até Setembro, Dan – peguei a mala do chão com um sorriso sem graça no rosto – James. – o cumprimentei com um aceno de cabeça rápido e me afastei mais depressa do que pretendia. Só fui me dar conta de que havia chamado-o pelo primeiro nome horas depois.

Mamãe já me esperava do lado de fora do portão e abriu os braços para me receber, já me desejando feliz aniversário antes mesmo de dizer olá. Ela fez minha mala levitar e começamos a caminhar abraçadas para longe da aglomeração de pais, onde poderíamos usar a chave de portal. Estava tão perturbada que não havia me ocorrido à idéia de que ela pudesse ter visto o que estava acontecendo perto da cerca. E ela viu.

- Então... Aquele garoto não era o que você odiava? – o tom de deboche em sua voz era tão nítido que senti meu rosto esquentar.
- Continuo não gostando dele.
- Não foi o que me pareceu. Lembra-se da nossa aposta?
- Não esqueci a aposta e ninguém venceu ainda. Foi um momento de fraqueza, não vai mais acontecer.
- Ah, momentos de fraqueza... – mamãe deu dois tapinhas no meu ombro – É sempre assim que começa.

Deduzi que qualquer coisa que eu dissesse seria usado contra mim e que o melhor era me calar, então me limitei a suspirar cansada e balançar a cabeça, enquanto ela dava risada caminhando ao meu lado pela colina. Seria um longo mês em casa...

ºººººº

Depois que fui embora do acampamento, passei somente uma semana no Brasil e segui com minha família inteira para Londres. Sempre passava o final das férias lá, já que tínhamos parentes para visitar e compras a se fazer no Beco Diagonal, e eu aproveitava para matar as saudades de ao menos uma parte dos meus amigos, já que JJ e Jamal moravam na cidade. Eles passavam quase todo o tempo na casa do tio George comigo e já contávamos os dias para o dia 20, quando iríamos para o Texas. Tia Alex havia decidido fazer uma festa de 15 anos para Haley e não víamos a hora de reencontrar o resto da turma.

O dia estava chuvoso e impossibilitados de ir a qualquer lugar, pedimos pizza e nos acomodamos no sofá para um torneio de videogame, com Rupert, Nick, Nigel, Otter e Connor, que apareceram para uma visita. A casa estava lotada e meus pais e meus tios conversaram na cozinha alheios a bagunça que fazíamos na sala, quando duas corujas ensopadas entraram pela janela respingando água em todo mundo. Tio Ben recolheu os envelopes que elas traziam e elas saíram outra vez, mas não sem antes se sacudirem e molharem o teto da cozinha.

- Cartas de Hogwarts – ele viu o emblema no envelope e nos mostrou – Clara e Rupert.
- Deixa a minha ai que já vou abrir – respondi concentrada no jogo, mas Rupert correu para abrir a dele.
- As nossas devem ter chegado também, Jamal – JJ comentou – Já não era sem tempo, mamãe estava querendo adiantar as compras de livros antes de me despachar pra casa da tia Alex.
- Ei, olha isso! – Nigel puxou o envelope da mão de um Rupert atônito – Rup ganhou o distintivo de monitor!
- Eu nem me lembrava que esse ano eles iam escolher os monitores – Rupert olhava para o distintivo cheio de orgulho.
- Parabéns, cenoura! Só não pega muito no nosso pé, ok? – Jamal falou e Rupert riu.
- Como se fosse adiantar alguma coisa – completei rindo e passei o controle pro Nick, indo buscar meu envelope – Nossa, ele está gordo. Será que veio alguma advertência atrasada?

Quando abri o envelope para ver porque estava tão pesado, levei um susto. Junto da lista de materiais veio outro envelope menor que quando o virei de cabeça para baixo, derrubou um distintivo verde e prata na minha mão. Tinha um grande M no meio, sobreposto sobre a serpente da Sonserina. Um M de monitor.

- Ah, não brinca! – Nigel tomou o distintivo da minha mão, tão incrédulo quando eu – O Rup era esperado, mas você?
- Deve ter sido um engano, esse envelope deve ser da Leslie – falei meio atordoada – Ela mora aqui em Londres, não é?
- Não é pra Leslie não, Clara – Jamal levantou do sofá e pegou o distintivo na mão – O envelope tinha seu nome.
- Tio Yoshi deve ter perdido o juízo – JJ também veio ver de perto – Mas prefiro você de monitora, a Leslie seria um pé no saco.
- É, agora vamos torcer pra ele não ter nomeado Sheldon também – Jamal acrescentou e cheguei a sentir um arrepio na espinha. Gostava do Sheldon, mas ele com poder na mão faria alguns estragos.
- Yoshi deu o distintivo a você como um voto de confiança – tio Ben falou se aproximando para ver o meu e o de Rupert – Ele sabe que você é perfeitamente capaz de honrar o cargo.
- Ótimo, tudo que eu precisava, expectativas de um professor – revirei os olhos e todo mundo riu.
- Quem você nomeou pra monitores, tio Ben? – JJ perguntou curioso.
- Zachary e Kaley Walker. Ambos são bem comunicativos e populares na Lufa-Lufa, sem deixar as notas caírem – ele respondeu parecendo orgulhoso dos gêmeos – E reza a tradição que os monitores da Lufa-Lufa precisam ser animados – e trocou uma risada cúmplice com minha mãe, mas que ninguém além dos dois e dos demais adultos pareceram entender.
- E você, tio George? – perguntei ignorando as risadas que não entendia.
- Artemis e James Thruston – eu queria não ter reagido, e na verdade nem percebi que reagi, mas o olhar que minha mãe me lançou denunciou que tinha feito algum movimento delator – Apesar dos recordes de detenção de ambos, Artemis é muito dinâmica e não tem vergonha de nada e James, mesmo com todos os problemas, é um dos melhores alunos do 5º ano e popular o suficiente para conseguir controlar alunos quando necessário.
- O que foi? – papai percebeu mamãe me olhando.
- O que foi o que, Remo? – para minha sorte, mamãe era uma excelente atriz quando necessário.
- Você olhou pra Clara de um jeito esquisito e Madeline e Scott riram – agora todos estavam prestando atenção. A sensação que tinha era de que meus ossos estavam derretendo e eu ia cair no chão como uma panqueca a qualquer momento.
- Você está tendo alucinações, ainda estava rindo do que Ben falou.
- Quem será o outro monitor da Corvinal e da Sonserina, hein? – interrompi depressa.

O assunto voltou para os monitores daquele ano, mas papai ficou me olhando desconfiado pelo resto da tarde. Não demorou muito e Hiro nos chamou pelo espelho de duas vias, comunicando que ele era o outro monitor da Sonserina, o que me deixou imensamente aliviada por não ter que lidar com Sheldon e um poder nas mãos e o assunto passou a ser quem iria trabalhar em dupla com Rupert. Vez ou outra, sem que papai notasse, mamãe gesticulava alguma piada sobre a nossa aposta e o fato de ter dois monitores na lista que poderiam ajudá-la a vencer. Eu tentava ignorar, mas não era fácil. Jamais admitiria para ela, mas ia começar a me preparar psicologicamente para perder. E eu ia perder feio.

Thursday, August 12, 2010




Monday, August 02, 2010


Férias do 3º Ano – Julho 2013

Minhas férias começaram bem ruins, vou ser sincera.
Mamãe, e dessa vez, até mesmo papai, ficaram muito irritados e chocados com o que fizemos. Eles, porém, entenderam que não fizemos por mal e jamais faríamos algo que pudesse colocar alguém em risco. Ainda mais destruir nossa amada escola. Mas isso não significa que fui poupada do castigo. Eles estavam muito atarefados organizando novas buscas e caçadas pelos seguidores de Cadarn, mas ultimamente fazíamos poucos progressos. Nós imaginávamos que ele havia conseguido encontrar algum poderoso vampiro que o mantivesse escondido de nós e dos Executores de Derfel, mas não iríamos desistir.

Eles me proibiram de sair, no máximo para ir visitar as filhas recém-nascidas de Tio Gabriel e Tia Maddie, Chiara e Valentina. As meninas eram lindas e todos as paparicavam demais, querendo pegá-las no colo e brincar com elas. Tio Biel estava se saindo um ótimo pai coruja, assim como Tia Maddie, que tinha um dom especial com crianças.

Fora isso eu estava proibida de fazer qualquer outra coisa. Meus amigos estavam também de castigo, cada um fazendo algo diferente. Por carta todos falaram que o castigo foi menor do que imaginavam, mas ainda estavam proibidos de sair. Depois que todos fomos visitá-las no Brasil, e passear muito por lá, Clara estava indo para o acampamento auror, enquanto Haley e Keiko voltariam para o cárcere privado, como elas chamavam o castigo agora. Tuor me mandou uma coruja dizendo que estava de castigo também, mas ao menos estava revendo os amigos de sua terra natal. Os meninos também estavam de castigo, mas contavam um pouco de suas férias, dos jogos de quadribol com os primos e tudo mais.

Então eu passava a maior parte do tempo lendo os Diários de Gomeisa ou meditando. Meditar era algo bom, pois servia para eu encontrar meu equilíbrio e me preparar para os treinos em Avalon, que eu sei que ficariam mais difíceis. Eu li muito durante aquele tempo de castigo, além de passar horas conversando com Chronos. Ele começava a me contar um pouco de sua história, que era muito longa, com muitas lágrimas, mas também muita felicidade. A cada dia mais eu o admirava mais, pela sua índole e sabedoria. Eram aulas de filosofia praticamente.

Em meados de Julho, meus pais e meus irmãos iriam estar muito ocupados para poder me vigiar, então decidiram fazer com que eu e meus sobrinhos ficássemos aos cuidados de Gaia, Edward e Flonne, uma das auroras do Clã. Além disso, Seth e Luna estariam fazendo mais uma viagem para estudos, uma vez que o livro que ela tanto sonhava em lançar estava quase pronto. Seth iria aproveitar também para tentar captar algo sobre Cadarn e seus seguidores.

Edward se oferecera para acompanhar Gaia, até porque eles ainda estavam “namorando”, assim como Flonne que pediu para poder ficar conosco. Flonne é aprendiz de mamãe, e uma aurora de alto nível. Ela é capaz de conjurar escudos e barreiras mais fortes do que muito auror, além de ser um amor de pessoa. Eu a considerava como parte da família, uma vez que era irmã de Tio Isaac, que se tornara pai de Gaia desde que se casara com Tia Celas. Gaia jamais falava do pai, por quem todos nós tínhamos um ódio intenso, e sempre considerou Tio Isaac como seu pai de verdade. Flonne iria casar em breve com Laharl, outro auror do clã, e queria ter alguma experiência com crianças e casa (o que ela admitiu vermelha).
- Eu não acredito que você quase colocou fogo na escola! – Gaia falou chocada, mas rindo da situação, enquanto limpava o chão.
- Não foi nossa culpa! Não sabíamos que o fogo ia crescer tanto!
- Bom agora sabem e espero que não façam de novo. Você sabia que quase saiu nos jornais? – Edward comentou, bagunçando meu cabelo. Eu bati no ombro dele, pois ele jogara farinha no meu rosto.
- Se não fosse pela Sra. Mcgonogall e pelo Sr. Shackebolt o Profeta teria feito uma matéria completa. – Flonne falou da cozinha, onde ela, Bela, Luky, Mina e Luthien preparavam um bolo. Eles riam muito nos preparativos e a cozinha estava uma zona de guerra. Luky cismara de tentar usar magia para ajudar Flonne, mas conseguira apenas jogar massa no teto e nas paredes. As meninas, achando que ele fez de propósito, começaram a jogar ingredientes umas nas outras, iniciando uma guerra de massa de bolo. Eu tinha bolo até na orelha, mas me divertia muito.
- Mas isso é sério, vê se vocês sossegam! Já estão indo para o quarto ano! – Gaia falou, enquanto limpava farinha do rosto de Bela. – Pronto, querida, limpinha.
- Agora vão se lavar enquanto eu termino de preparar o bolo. – Flonne falou, autoritária e apontando para as escadas. Meus sobrinhos fizeram biquinho, mas Gaia os arrebanhou e fiquei com Flonne e Edward terminando de limpar a bagunça.

Sem as crianças por perto, os dois limparam tudo com um passe de mágica (literalmente) e Flonne conseguiu terminar de fazer o bolo. Edward ajudou com a calda de chocolate, mostrando o excelente partido que ele era.

- Você sim é um excelente partido! – Eu falei brincando e ele riu.
- Se quiser espero você crescer para casar comigo, quer? – Ele falou, piscando para mim.
- Não, você vai ser sempre meu irmãozinho. – Eu falei apertando a bochecha dele.
- Vão tomar um banho também, vocês estão imundos! – Flonne falou rindo. Ela apontou a varinha para o próprio cabelo e rapidamente seus cachos loiros estavam limpos. – Daqui a pouco vou tomar um banho também.

Eu e Edward fomos juntos para a escada e de longe ouvíamos minhas primas e Gaia brincando no banheiro. Eu ouvia Luky cantar alguma música no banheiro de meus pais e fui para meu quarto. Edward me acompanhou até a porta.

- Vocês são umas figuras. Imagino a cara que a Minerva fez com aquele incêndio. – Ele falou rindo.
- Você tinha que ver o olhar dela para a gente. Ela não precisava nem pensar em quem tinha sido... Mas confesso que deu medo, de verdade. Fiquei com medo de que machucasse alguém.
- Isso é bom porque vocês assim aprendem a ter mais seriedade. Eu já tive a idade de vocês. – Ele falou e rimos juntos, pois eu sabia que tinha sido há pouco tempo. – Já fui irresponsável.
- E ainda não o é não? Acho que aprendemos uma lição importante dessa vez. – Eu falei séria. – Bom, melhor irmos tomar banho logo, a Flonne daqui a pouco vai encarnar mamãe furiosa e brigar.
- Vamos, até depois. – Ele falou rindo. Porém parou mais um instante e me olhou. – Arte, obrigado pelo apoio que está dando a mim e a Gaia, é importante para nós ter alguém em quem confiar e conversar.
- Não precisa agradecer. Vocês são realmente como irmãos para mim e fico feliz de ao menos poder ouvir. Mas, Eddie, e quanto a Lizzie? Você não acha que deveria conversar com ela?
- Eu não... Eu não sei. – Ele suspirou. – É difícil, porque não quero que ela tenha esperanças ou algo assim.
- Mas você pode estar machucando-a por não procurá-la mais e não explicar direito essa história toda.
- Acho que nisso você tem razão... A Gaia me diz a mesma coisa. Eu vou pensar. Vai lá tomar banho, Arashi. – Ele falou, e virando-se de costas.

Dois dias depois, Edward teve que dar uma saída. Ele precisava caçar um pouco e tinha a impressão de que ele iria ver como Lizzie estava também. Logo a casa virou uma casa de garotas, o que o Luky não gostou nem um pouco. Passávamos horas conversando e discutindo sobre flores, arranjos, vestidos e tudo mais, principalmente agora que o casamento de Flonne e Laharl se aproximava.

Nessas horas Luky revirava os olhos como se falasse “Garotas” e ia jogar algum dos videogames trouxas ou saia para brincar com as outras crianças da vizinhança. Luky sempre foi como meu irmão Griffon, ou seja, quase hiperativo. Ele sempre voltava imundo e cheio de machucados, e pedia para Flonne cuidar dele. Eu ainda acho que Luky tem uma queda por ela, ainda mais pelo fato de sempre ficar vermelho próximo dela. Amores platônicos. Foi nesse dia que eles me pediram para ir visitar Avalon.

- Arte, fiquei curiosa, nos leva para conhecer Avalon? – Foi Gaia quem perguntou, curiosa, quando comentei que sentia falta dos treinos na Ilha. Durante as férias, ainda mais com a presença de minhas sobrinhas, nós sete praticávamos exercícios todos os dias de manhã cedo. Mina e Luthien eram faixas pretas em Kung Fu, com 3 Duan cada uma. Elas dominavam os estilos da Águia e do Dragão, respectivamente. Eu ainda era faixa vermelha, enquanto Gaia era faixa marrom, Luky faixa verde e Bela faixa azul. Flonne tinha conhecimentos de várias artes marciais por trabalhar como aurora, mas nunca se especializou muito.
- Vamos tia! Lá é tão lindo! – Mina falou, os olhos brilhando.
- Eu também quero conhecer Avalon! – Bela falou, curiosa e animada. Luky concordou com a irmã e sorri animada também.
- É uma boa idéia! Vamos agora?! – Eu fiquei logo animada, ainda mais que meus pais não disseram nada sobre Avalon estar proibida. Todos ficaram animados.
- Vou mandar uma mensagem para seus pais então. – Flonne falou e seu patrono, um bonito falcão, brilhou antes de ir avisar a meus pais e a Laharl. Gaia também avisou a Edward que daríamos uma saída.

Quando estávamos todos prontos, pedi que Chronos nos transportasse para lá. Ele assentiu e uma intensa luz branca envolveu todos, e no segundo seguinte estávamos diante das margens do lago de Glastonbury.

- Uau! Eu nunca experimentei algo assim. – Gaia falou. Flonne também estava admirada.
- Isso não foi uma aparatação, está um nível muito acima. É magia muito antiga. – Flonne falou admirada.
- Pode chamar como desejar, é uma forma antiga de aparatação. – Chronos explicou tornando-se visível para todos. Todos ali já o conheciam, mas ainda ficavam admirados. – Boa tarde a todos.
- Boa tarde, Chronos. – Gaia sorriu para ele. Ela então olhou para o lago e parecia confusa. – Tem algo de diferente. Tem anos que eu não visito Glastonbury, mas lembro-me que ela era mais escura.
- Sim, há um poder enorme nesse lago. Ele irradia para os arredores, mas não estava aqui antes. Avalon deve estar começando a retornar ao mundo desde que passou para a posse de Artemis. – Flonne explicou. Chronos sorriu.
- É exatamente isso. Entendo agora porque é a discípula de Mirian, você é muito inteligente e sábia. – Chronos sorriu para Flonne e ela ficou sem graça.
- Peraí, tive uma idéia. Bela, Mina, Luthien e Luky, o que vocês sentem ou vêem? – Perguntei, olhando meus sobrinhos. Uma idéia surgia na minha mente.
- O que quer dizer, titia? – Luky perguntou. Chronos o olhou com atenção, ele também sabia o que eu imaginava.
- Me digam se sentem ou vêem algo diferente. Da última vez, vocês viram algo na névoa, lembram, meninas? – Perguntei para as gêmeas.
- Sim. Era uma mulher muito bela e poderosa, mas era ameaçadora... Senti medo. – Luthien falou, um tremor passando por seu corpo.
- Mas e agora? – Insisti. – Vocês também, Flonne e Gaia.

Eles me olharam sem entender, mas depois voltaram os olhos para o lago. Vi então que minhas suspeitas estavam corretas. Flonne sentia algo sim, pois ela era realmente poderosa. Luky sentia apenas um aconchego naquele lugar, nada mais. Porém, minha prima e minhas sobrinhas sentiam algo maior. As quatro estavam de olhos fechados, e começavam a absorver e refletir luz. E eu conhecia aquilo.

- A mulher, ela está sorrindo, como se nos convidasse. – Bela falou. Ela também brilhava levemente.
- Ela diz que podemos fazer, pois você é a nova rainha e nós suas herdeiras também. – Mina falou, e eu sorri.
- Tentem convocar as brumas. Pensem nas brumas se abrindo. Ou pensem em uma forma de atravessar o lago.

As quatro concentraram-se ainda mais, os olhos apertados, tentando entender e comunicar-se com aquele poder antigo. As brumas tremeram lentamente, movendo-se devido aos esforços das quatro, mas sem muito mudar.

- Muito bem! Está funcionando! Gaia. – Eu senti Arturia em minha mente. – Convoque a barca de Avalon e abra as brumas.
- Eu não consigo!
- Consegue. O primeiro passo é acreditar.

Gaia olhou para mim duvidando, mas fechou os olhos. Ela brilhava mais que minhas sobrinhas, mas apenas eu podia ver isso. Senti o espírito de Arturia próximo de mim, comunicando-se com Gaia. Ela deu um passo à frente e abriu os olhos suspirando, pois ela conseguira. Do meio das brumas uma balsa vinha em nossa direção movendo-se magicamente e com leveza. Gaia sorriu satisfeita e eu segurei sua mão animada. Fiz com que todos embarcassem na balsa e eu a conduzi ao meio do lago.

- Agora quero que vocês quatro abram as brumas. É algo difícil para apenas uma de vocês fazer isso agora. Guiem as brumas com seus espíritos e abram a barreira.

As quatro concentraram-se e como eu na minha primeira vez, levantaram os braços juntas e ao abaixá-los, as brumas se moveram, revelando a Ilha Sagrada. Elas festejaram, assim como eu. Flonne estava quieta, admirada com tudo aquilo, pois ela sabia que era magia antiga e poderosa. Luky estava quieto também admirado, e eu notei um pouco chateado por não ter feito nada disso.

Assim que o barco raspou as areias milenares, eu desci e ajudei todos a saírem da balsa. Flonne parecia em êxtase. Ela ajoelhou-se por um instante, tocando a areia como se estivesse sonhando. Luky pisou, inicialmente meio assustado e assombrado. As meninas eram as que pareciam mais tocadas por tudo aquilo. Elas agora percebiam Avalon como eu percebia seu poder e grandiosidade.

- É tudo tão lindo... Esse lugar é quase que feito inteiramente de magia, parece energia pura convertida em matéria. – Flonne falou.
- É cheio de vida, eu consigo sentir a vida das árvores, da água... – Bela falou.
- É porque ainda não viram o resto.

Eu os levei ao centro da ilha, para que sentissem mais ainda dela. Eu estava muito feliz, pois Gaia e minhas sobrinhas sentiam o mesmo que eu, talvez um pouco menos intenso, mas o mesmo. Ficamos muito tempo conversando sobre o local até que decidi explicar.

- Arturia me mostrou que vocês poderiam aprender a usar Avalon. Vocês também são suas herdeiras. E agora minhas iguais também!
- Desculpe Arte, mas tenho que discordar, eu sinto que nós somos como sacerdotisas e você nossa Senhora. – Gaia falou rindo. – Quem diria, aquela pirralha...
- Haha! – Eu fingi estar chateada, mas sorri. – Então, que tal se eu treinasse vocês? Seria bom para eu colocar em prática tudo que Chronos me ensina e vocês também poderão ter Avalon.
- É maravilhoso! – Bela falou animada.
- Que pena eu não poder participar. – Flonne suspirou.
- Nada disso, eu ensinarei tudo que puder a você!
- Mas e eu? – Luky fez a pergunta que ele tanto ansiava. Eu sorri para ele e o abracei.
- Querido, infelizmente, só posso ensinar para meninas, pois apenas as herdeiras de Arturia podem adquirir os ensinamentos mais profundos de Avalon.
- Mas há algo que você pode aprender. Avalon ensina a todos que desejam aprender e vejo que seu dom futuro reside em seguir os passos de seu pai, dominando a lança que ele domina. – Chronos falou, ajoelhando-se em um dos joelhos para ficar na altura dos olhos de Luky. Eu fiquei admirada em como Chronos sabia lidar com ele, pois Luky abriu um largo sorriso.
- Então está decidido! Treinarei todas vocês, assim como Luky e Flonne! Além de meus amigos é claro.
- Isso é maravilhoso, Senhora, sinto-me honrada de poder pisar nesse solo sagrado. – Flonne falou cheia de emoção. – É tanta história que essa ilha possui.
- É uma pena que tenha se perdido com os anos. – Eu falei, mas logo em seguida tive outra idéia.

Nós fomos embora em seguida, pois apesar de parecer que tínhamos ficado por pouco tempo, eu os adverti que nem sempre o tempo em Avalon passa como no lado de fora. Assim que saímos eles viram que isso era verdade, pois já era noite. Eu guiei a barca até a margem do lago, feliz por poder treiná-las e feliz pela outra idéia. Enquanto desembarcávamos, eu pressenti alguém próximo de nós e apontei a varinha para a árvore. Flonne e Gaia fizeram o mesmo e senti toda a energia das brumas concentrando-se como se para atacar.

- Ei, podem abaixar a guarda. Vim em paz. – Uma voz alegre que eu conhecia falou e vi como Gaia abalou-se, perdendo o ar dos pulmões. Joseph, o Ancião Vampiro, veio em nossa direção, com os braços levantados. Ele sorria e estava cavaleirístico e galante como sempre. Porém notei que seu olhar estava vago e triste e como sua atenção voltava-se para Gaia a todo o momento.

- Joseph, o que faz aqui? – Gaia perguntou. Sua voz denunciou seus sentimentos, tremendo levemente. As gêmeas e Flonne perceberam, mas ficaram quietas.
- Me perdoem o susto, eu fiquei preocupado. Era minha vez de manter vigia sobre vocês e de repente suas presenças tinham sumido! Quando fui a sua casa procurar, não achei ninguém, e Derfel não sabia a localização de vocês. Fiquei preocupado. – Ele explicou, sorrindo, respirando mais aliviado. Seus olhos dourados dardejaram para Gaia e vi que ele estivera preocupado com ela. Eu o admirei mais por esse gesto e sorri.
- Desculpa, Tio Joseph, vim mostrar a eles Avalon.
- Ah a lendária Avalon... Infelizmente não a vi em sua glória... Fico feliz de você poder trazê-la de volta ao mundo.
- Flonne, garotos, vamos visitar Glastonbury, tem uma vista muito bonita. – Eu falei, pois queria deixar os dois a sós. As meninas assentiram, mas Luky teimou.
- Mas o tio Joseph acabou de chegar! Tio como estão as vigílias e as caçadas?
- Estão ótimas, meu caro. Aguardando apenas você crescer mais. – Ele sorriu.
- Luky, vem conosco. – Flonne chamou, sorrindo, e Luky não pode resistir e veio em nossa direção tentando encolher a barriga.

Joseph riu, dirigindo-me um olhar agradecido a mim. Em seguida ele olhou para Gaia e vi uma mistura de alívio, tristeza e amor. Gaia o encarou com o mesmo olhar. Os dois sentaram-se perto da margem, porém distantes um do outro. Flonne e eu mantivemos as crianças ocupadas por uns 10 minutos, tempo que durou a conversa dos dois. Depois fomos embora, com Chronos nos transportando novamente.

Naquela noite, Gaia dormiu em meu quarto, pois queríamos conversar.

- O que ele disse? Ele estava mesmo preocupado.
- Ele é meio super-protetor. – Ela sorriu. – Ele disse que ainda não desistiu. E que sabe que meu namoro com o Eddie é falso.
- E você?
- Eu tentei contrariar, mas não consegui com muita vontade. – Ela deu de ombros. – Mas disse que não podemos ter nada... Seria trágico.
- Gaia, e se você falasse com meu pai ou com sua mãe? Eles apoiariam!
- Ainda não é a hora... E Jospeh me propôs algo. – Ela ficou vermelha.
- O que?!
- Ele me pediu em casamento. E me ofereceu a imortalidade. – Ela falou rapidamente, me deixando sem fala. – Eu recusei ambos. Pedi a ele que esperasse um pouco.
- O que ele respondeu?
- Ele disse que esperaria a eternidade, já esperou por muitos anos. Mas se for para dar certo, dará, mas quero que seja comigo mortal.

Depois disso fomos dormir, pois ela ainda estava abalada com o encontro. Meu peito doía pelos dois, assim como por Lizzie e Eddie. Adormeci pensando neles e nos meus novos planos que incluíam treinar minhas novas discípulas e a minha grande idéia: escrever um livro contando a história de Avalon! Não via a hora de falar para todos, tenho certeza que Julian, Rupert e Hiro vão adorar a idéia.