Tuesday, September 30, 2008






Growing up happens in a heartbeat. One day you're in diapers, next day you're gone. But the memories of childhood stay with you for the long haul.

I remember a place... a castle... a common room like a lot of others... a small village like a lot of other villages... on a street like a lot of other streets.

And the thing is... after all these years, I still look back... with wonder...



Depois da confusão entre Scott e Ben, o pacto de virar a noite no jardim foi por água abaixo. Mark levou Ben até a enfermaria para consertar o nariz, Lu voltou com Miriam para a Grifinória e as meninas alcançaram Scott e eu ainda no pátio. Scott não queria ir para a Lufa-Lufa, então nos abrigamos na Corvinal, deserta àquela hora da madrugada. Foi a 1ª vez que Scott se abriu de verdade com a gente, sem deixar nada para trás ou incompleto. Ouvimos muitas coisas que já sabíamos, mas que esperamos pacientemente ouvi-las saindo da boca dele. Tentávamos não interromper ao máximo, e quando a sessão de terapia reversa terminou o dia já começava a amanhecer. E como ninguém tinha arrumado as malas, cada um voltou pra sua casa e marcamos às 10h no saguão de entrada.

Nunca fazer a mala para ir embora foi tão sofrido. Yulli começou a chorar quando percebeu que nunca mais ia dormir naquela cama e Alex e eu começamos a chorar também. Foi uma tragédia, porque uma vez que começamos, não conseguíamos mais parar. Colocava as roupas dobradas na mala e as lágrimas iam pingando por cima delas, ficaram todas molhadas. Ainda tentamos tirar as cortinas da cama e levar junto, mas não conseguimos. Sprout deve ter fixado elas porque algum aluno já deve ter tentado levar antes. Quando deixamos o dormitório e olhamos as camas de madeira com cortinas amarelas pela última vez, o choro aumentou. Chorávamos tanto que assustamos Mark e Ben, que já tinham terminado de arrumar as coisas e nos esperavam no salão comunal.

- Meninas, o que aconteceu? – Ben perguntou preocupado, vendo Yulli soluçar
- Eu não quero ir embora! – Yulli agarrou a poltrona perto da lareira – Podem ir, eu vou ficar!
- Vamos embora, Yul – Mark a segurou tentando não rir – Sabe que não adianta, temos que ir...
- Mas... Mas... – ela soltou a poltrona e afundou o rosto no ombro dele

Ben abriu a passagem do retrato e caminhamos o mais devagar possível até ela. Fiquei por último e antes de sair, parei e encarei o salão comunal uma última vez. Não sabia ainda como seria me acostumar a não ver mais aquela sala arredondada, com poltronas amarelas e ar tão aconchegante. Comecei a chorar de novo, dessa vez mais contida, e fechei a passagem. Scott, Sam, Lu e Miriam já nos esperavam no saguão e Miriam também tinha o rosto vermelho de quem estava chorando. Havíamos combinado de deixar o castelo do jeito que chegamos a ele. Ou seja, de barco. Então enquanto todos os alunos iam caminhar na direção do jardim para pegar as carruagens, faríamos o caminho contrario na direção das estufas. Era uma grande escadaria que levava até o cais do castelo, e o começo dela ficava atrás delas. Mas antes que descêssemos os degraus do saguão, notamos que Ben não nos seguia.

- Anda, Ben! – Lu chamou – Não vamos de carruagem, esqueceu?
- Não galera, podem ir, eu vou com os outros – Ben deu de ombros tentando parecer indiferente, mas sabíamos que ele não queria fazer isso
- Ah não! – Alex bateu o pé – Você vai com a gente, que graça tem de você ir sozinho?
- Não tem problema, é serio. Eu vejo vocês no trem. Não fiz a travessia de barco, não faz sentido.

Todos começaram a protestar e olhei feio para Scott. Primeiro ele fingiu que não era com ele, depois não conseguiu mais me ignorar e correspondeu o olhar com um de súplica, mas ignorei e me mantive firme. Ele sacudiu a cabeça derrotado e deu um passo a frente.

- Vem com a gente também – sabia o quanto aquilo estava sendo difícil pra ele, e fiquei feliz de ter feito – Você faz tão parte do grupo como qualquer um de nós, e não vamos encerrar por completo o ciclo se você não for junto.
- Desculpa – Ben respondeu um pouco sem graça
- Depois a gente conversa sobre isso. Agora vamos embora, ou não chegamos a tempo em Hogsmeade. Esqueceram quantos degraus temos que descer? – Scott berrou enérgico e lembramos do pouco tempo que nos restava

Corremos para trás das estufas, agora com Ben junto, e descemos apressados pelas escadas que levavam até o cais subterrâneo em tempo recorde. Entrei no mesmo barco que Alex, Yulli e Sam, e dessa vez Ben se acomodou conosco. Scott, Mark, Lu e Miriam ocuparam o outro barquinho Estava mais apertado que da ultima vez, estávamos muito maiores agora e tivemos que nos espremer nos bancos. Quando conseguimos nos acomodar, eles começaram a se mover sozinhos. Enquanto íamos passando pelo túnel escuro que saia no lago, sentíamos o barco perder velocidade. E quando saímos do túnel e voltamos a enxergar, entendemos o porquê. Os barcos acomodavam 4 pessoas, mas de 11 anos, e não de 18. Não estávamos apenas maiores, mas também pesados demais para eles.

- Houston, we have a problem – Scott falou olhando ao redor do barco e vendo a água cada vez mais perto da borda.
- Temos que equilibrar os barcos, do contrario vamos chegar à margem do lago depois que o trem partir – disse também notando a água se aproximar.
- Isso se chegarmos lá! – Alex levantou rápido e o barco balançou. Ela parou com as mãos esticadas, se equilibrando.
- Ben, passe pra cá e Miriam passa pro barco delas – Lu sugeriu – 5 garotas e 4 garotos deve ser mais equilibrado, não?

Conseguimos aproximar os barcos mais um pouco e Lu ajudou Miriam a subir na borda. Ben fez o mesmo e combinaram de saltar na mesma hora, para não desequilibrar nenhum dos lados. Mark contou até 3, mas Lu demorou 1 segundo a mais para soltar a mão de Miriam e Ben caiu no barco deles antes que ela pudesse passar pro nosso. O barco deles sacudiu com violência e agarramos os braços de Miriam bem a tempo. Ela caiu por cima da gente ao mesmo tempo em que o outro barco virou. Sentamos cada uma em uma ponta para equilibrar e começamos a rir.

Os barcos eram encantados e mesmo sem ninguém dentro, uma vez que já estavam no lago, não parariam até alcançar a margem. Os 4 iam nadando atrás dele e Lu e Ben alcançaram logo, conseguindo subir rápido, mas Mark e Scott não tiveram a mesma sorte. Eles até estavam ao lado do barco e mantinham as mãos na borda, mas riam tanto que não sobravam forças pra tomar impulso. E as nossas gargalhadas não colaboravam, só incentivavam os dois a rirem cada vez mais. Já estávamos quase no meio do lago quando eles conseguiram subir outra vez.

O problema da falta de equilíbrio estava resolvido e o resto do percurso foi completado no mais absoluto silêncio. Estávamos todos de costas para a estação de Hogsmeade, admirando o castelo no alto do penhasco. À medida que íamos nos aproximando da margem, ele ia diminuindo. As torres e torrinhas ficavam cada vez menores e quando o barco parou, eram apenas pontos de um pequeno castelo ao longe. Nem percebemos que tínhamos que descer, e foi Hagrid que nos tirou do transe.

- Ah, ai estão vocês! – ouvimos a voz rouca e grave dele e nos assustamos – Todo ano alguém quer voltar de barco, espero que não tenham afundado no caminho!
- Não afundamos por pouco, mas um barco virou – Scott foi o 1º a descer e estendeu a mão para nos ajudar.
- É, dá pra perceber – Hagrid também estendeu a mão e puxou Alex e Miriam de uma vez só – Mas agora vamos andando, o trem parte em 10 minutos! Façam uma boa viagem!

Nos despedimos dele e corremos para o trem. Já estavam todos a bordo, mas conseguimos uma cabine vazio no último vagão. Éramos 9 rostos espremidos contra uma única janela, todos querendo ter uma última visão do castelo enquanto o trem se movia e ele ia sumindo aos poucos. Quando Hogwarts já não era mais visível, sentamos em silêncio nos bancos, todos com o mesmo pensamento: aquilo não era um adeus. Olhei mais uma vez pela janela e mesmo sem ver o castelo, disse para mim mesma: “até breve, Hogwarts. Até breve”.


The End.

É muito triste se despedir do Hogwarts Wonder Years, nosso primogênito, mas uma hora o Adeus haveria de chegar. Mas como a Louise lembrou, não é um Adeus de verdade, é um Até Breve, pois logo as histórias continuarão, mas em um novo espaço e agora cada um com as responsabilidades da carreira que escolheu.

A partir de amanhã uma nova turma chega no pedaço. São os filhos desses Anos Incríveis, que chegaram pra ficar e aprontar todas com uma Hogwarts totalmente reformulada, agora que o mundo bruxo está livre de Voldemort e seus seguidores.

Então... Ficam as boas vindas aos novatos, e para os antigos... Até breve!

Monday, September 29, 2008


Todas as luzes se apagaram por um minuto e foi o tempo em que Louise, Ben, Scott, eu, Alex, Lu, Sam e Mark, tivemos para entrarmos e nos posicionarmos na pista de dança. A platéia pareceu sentir nossa movimentação, pois se calaram, esperando. Quando o primeiro foco de luz vermelha se acendeu em cima de Louise, que estava atrás de uma falsa cela de prisão, a barulheira tomou conta do jardim. Havíamos ensaiado por vários meses a representação de um dos tangos mais conhecidos de “Chicago”.

Ben e Louise dançavam colados pelo salão como se fosse a coisa mais natural do mundo e quando eles pararam no centro, imediatamente um foco de luz se acendeu sobre mim e uma nova algazarra se iniciou. Scott já estava me esperando, e quando cheguei até ele, me pegou com força pela cintura e rodopiamos três vezes, antes de derrubá-lo no chão, caindo por cima dele. Então...surtei.

Sem que pudesse me conter, esqueci propositalmente da coreografia original (que se tivesse seguido, teria que ter puxado com o dente o lenço que estava amarrado em seu pescoço) e criei meu próprio passo. Por um breve segundo, sorri marota para Scott que pareceu se assustar, mas não teve tempo de reagir ao meu próximo ato, que foi beijá-lo intensamente.

Os convidados pareciam ter ido à loucura, pois pude ouvir uma confusão se armando por todos os cantos. Gritos, risadas, assobios e palmas frenéticas. Nada disso importava. Continuei beijando Scott e ele continuou correspondendo, até o foco que estava sobre nós se apagar e se acender do outro lado, onde Alex e Lu começavam sua própria performance. Quando finalmente nos soltamos e levantamos, Scott me encarava zonzo.

- O que foi isso?! Você enlouqueceu? – ele perguntou com os olhos arregalados. Sam e Mark já haviam entrado na pista também. Sorri.
- Sim. Enlouqueci, completamente. Mas a idéia de sair de Hogwarts sem nunca ter arrancado um único beijo seu que fez isso comigo, Cott. – falei me defendendo. Scott me puxou com força e recomeçamos a dançar novamente, dessa vez seguindo a coreografia. Ele riu.
- Você é mais maluca do que eu pensava! Tem idéia de que acabou de estragar meses de ensaio?
- Tenho. Mas pode ter certeza de que eles gostaram muito mais dessa nova ‘dança’. – falei enquanto passávamos por Louise e Ben, que não continham as risadas. – Agora me diz: algo mudou? – perguntei esperançosa e ele riu alto.
- Não, Yull, nada mudou. Continuamos sendo somente bons amigos.
- Ah não, Cott. Em pensar que você poderia ser o pai dos meus filhos... – falei em um tom levemente decepcionado. – Bom, ninguém pode dizer que eu não tentei.

A música parou. Dobrei meu corpo para trás de modo que a cabeça ficasse inclinada para baixo. Scott me segurava e afundou sua própria cabeça ao lado do meu pescoço.

- Nós dois sabemos que não sou eu quem vai ser o seu “par perfeito”. – ele disse baixo e rimos, enquanto todos se levantavam para aplaudir fazendo um barulho estrondoso e nos juntávamos para agradecer. Fechamos as apresentações de dança de maneira memorável.

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Tudo na festa estava tão bom e tão lindo que havia superado todas as nossas melhores expectativas. Embora alguns formandos continuassem hesitando em se misturarem, grande parte de nossa turma estava unida e aproveitava junta as últimas horas em Hogwarts. Tia Yhara, Yuri e Sabrina já haviam ido embora, prometendo nos buscar na estação de King’s Cross na manhã seguinte. Yoshi também já havia ido dormir. Com o passar das horas, muitos começavam a demonstrar cansaço e se jogavam pelos gramados. Mas uma coisa que eu e meus amigos tínhamos aprendido muito bem (e com direito a “O”) em Hogwarts era “fazer festa” e sobreviver até o final de cada uma delas.

Havia prometido para mim mesma que iria afastar, pelo menos durante toda aquela noite, todos os pensamentos e lembranças tristes, e curtia cada segundo. Eu, Scott, Alex, Louise, Sam e Ben, principalmente, aceitávamos todas as taças de bebidas que passavam em nossa frente e lá pelas tantas horas da madrugada, eu já não estava em condições de responder por nenhum dos meus atos.

Lembro-me de ter avistado Sergei, Lu e Mirian sentados em uma mesa. Lu e Mirian conversavam e riam entre si, enquanto Sergei parecia alheio. Ele me encarava sem desviar os olhos e retribui o gesto, o que fez com que nós dois ríssemos e ele se levantasse traçando uma reta na minha direção. Quando parou a meio passo de mim, não precisei dizer nada. Ele me puxou pela cintura com força e agilidade incríveis e nos beijamos com vontade. Depois disso, só me lembro de sairmos cortando caminho entre as pessoas enquanto trocávamos beijos, e pararmos em um ponto deserto do castelo, durante várias horas.

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A noite anterior havia sido surpreendente para todos nós. Algumas de suas conseqüências ainda tomariam bastante tempo até que nos acostumássemos com elas. Quando o sol raiou no castelo, tivemos de superá-las temporariamente, pois havia chegado o momento que estávamos evitando há diversas semanas: a última partida de Hogwarts. Depois de muita relutância, finalmente me vi sentada no Expresso, naquela que seria minha última vez lá dentro. Ver o castelo desaparecer à medida que o trem avançava em direção a Londres, foi uma das piores sensações da minha vida. Eu e todos os meus amigos nos espremíamos em uma mesma cabine e parecíamos compartilhar do mesmo silêncio. Nos encaramos por vários minutos, sem dizermos nada, e quando retomamos as falas preferimos não tocar no assunto. Não queríamos e não iríamos nos despedir nunca daquele que havia sido nosso verdadeiro lar nos últimos sete anos...




- Louise!

Ouvi alguém gritar meu nome e nem tive tempo de virar e um par de mãos já me abraçava, me erguendo do chão. Brendan me deu um beijo estalado no rosto e me colocou no chão, dando a vez para Julian fazer o mesmo. Minha família trouxa veio junto com meu avô bruxo pra formatura e se meus avôs olhavam tudo espantados, os olhos dos meus primos chegavam a brilhar. Acho que nem em todos os relatos que fiz a eles sobre Hogwarts os prepararia para ver tudo aquilo. Abracei cada um deles e vi Remo se aproximar com Susan, que pra variar ficou pra trás. Ela me abraçou mais empolgada que os outros e ele me ergueu do chão como Brendan e Julian, me beijando em seguida. Ouvi meu avô Henry pigarrear e os dois idiotas fazerem o mesmo, mas ignorei rindo e continuei agarrada a ele, para provocar mais.

Levei todos para o salão principal e depois de acomodá-los na mesa reservada, fui me juntar à turma para as fotos padrões. Demorou um bocado, alguns sonserinos como Dolohov e Bellatrix não colaboravam, mas os próprios colegas de casa deles começavam a reclamar e eles pararam com as frescuras. Logo depois teve nosso numero de dança e enquanto rodava com Ben de um lado pro outro no palco, ficava imaginando o tanto que eu não ia rir daquilo se tivesse na platéia. Mas era nossa última noite em Hogwarts, valia a pena a pagação de mico. E valeu mais ainda ver Yulli perder o controle e beijar Scott no meio do numero.

Fizemos tudo que uma festa de formatura pedia. Dançamos até o pé doer e pedir pra tirar as sandálias; bebemos tudo que passava nas bandejas; confraternizamos com os fantasmas e até com os quadros, que ficavam bem saudosos todo ano nas formaturas; conversamos e abraçamos colegas com quem mal falávamos durante esses 7 anos, mas estávamos indo embora, agora éramos todos amigos; pregamos uma última peça no Filch, que entrou no salão praguejando e foi contido com apenas um olhar de Dumbledore; e quem tinha namorado, deu aquela sumida básica por algumas horas na festa... A lei era aproveitar tudo, em todos os sentidos. E também teve o pacto. Depois que os convidados fossem embora, viraríamos a noite nos jardins, deitados na grama, recordando. Ninguém ia dormir aquela noite...

ººº

3 horas da manhã, arredores do lago negro

- Essa festa vai entrar pra história – Mark comentou rindo e atirou um punhado de água pra cima do Lu – Quem diria que Alucard Chronos era um pé de valsa de marca maior?
- Eu tenho muitos trunfos guardados na manga... – Lu entrou na onda
- É verdade, tivemos várias revelações essa noite – Ben entrou na conversa e vi que ele encarou Scott, que estava largado na grama com a cabeça no meu colo, alheio à conversa. Os três ainda bebiam o resto do whisky de fogo que contrabandeamos da festa e aquilo não ia terminar bem – Será que teremos mais gente saindo do armário hoje?
- Está falando comigo? – Scott percebeu a indireta e se mordeu
- Não exatamente, mas se a carapuça serviu... – ele riu olhando para Mark, que preferiu não corresponder à risada
- Não gosto de indiretas, se tem alguma coisa pra falar comigo, fale logo na cara – Scott já estava de pé e Ben fez o mesmo, ficando no mesmo nível dele
- Que irônico, já que você vive em uma!
- O que quer dizer com isso? – Scott já tinha a voz alterada
- Acho que sabe bem o que quero dizer – Ben respondia no mesmo tom. As muitas doses de whisky de fogo começavam a falar – Todo mundo sabe, como pode não ver? É tão cego assim ou é mesmo burro?

Ben virou o resto do whisky no copo e encarou Scott, pronto para uma briga. Ficamos todos sem reação desde quando a discussão começou. Ninguém queria tomar partido e nem cogitamos a hipótese de analisar quem estava certo e quem estava errado. Simplesmente ficamos imóveis sem saber o que fazer, vendo Scott e Ben discutirem bem na nossa frente.

- Você é um tremendo de um babaca! – Cott berrou exaltado – Não passa disso!
- Se eu sou babaca você é no mínimo imaturo! – Ben gritou de volta, tão exaltado quanto ele – Adora brincar com os outros, mas quando é com você, fica nervosinho!
- Isso não foi uma brincadeira, foi uma infantilidade da sua parte!
- Eu nem estava falando com você! Você que ficou todo nervosinho ai! Se está estressadinho assim é porque se doeu!
- Gente, por favor, vamos nos acalmar... – Lu tentou amenizar, mas foi completamente ignorado
- E eu sou infantil? – Ben riu e percebi que aquela seria a sua sentença de morte – Ao menos eu sei quem eu sou e admito pra mim mesmo. Já você não pode se dar ao luxo de dizer o mesmo...
- Não fale do que não sabe! Meta-se na sua vida! – Scott botou o dedo na cara dele e podia jurar que nunca mais o veria tão nervoso quanto naquele momento
- Não põe o dedo na minha cara - Ben agarrou seu dedo e torceu. Scott não moveu um músculo
- Não tem autoridade pra me dizer o que fazer
- Então você também não pode me impedir de fazer isso...

O que veio em seguida sem sombra de duvida era o menos improvável, o que ninguém nunca sequer apostaria. Ben ainda segurava o dedo de Scott e o puxou com força pra cima dele, lhe dando um beijo quase cinematográfico. Senti o ar me faltar nos pulmões e levei a mão à boca, tonta. Olhei para o lado e as meninas tiveram exatamente a mesma reação. Todas estavam de olhos arregalados e as mãos no rosto, parecendo estarem a ponto de desmaiar. Mark e Lu não esboçavam reação alguma. Olhavam estarrecidos para a cena, esperando acordar e ver que nada daquilo estava de fato acontecendo.

Quando os dois se afastaram, também não esperávamos o movimento seguinte. E mesmo que esperássemos, não daria tempo de impedi-lo. Scott deu um passo para trás, fechou o punho e acertou um soco em cheio no meio da cara de Ben. Ele foi a nocaute e Scott saiu pisando forte para dentro do castelo. As meninas se apressaram em acudi-lo na grama e meu primeiro impulso foi correr atrás de Scott.

- Scott, espera! – gritei tentando alcançá-lo no pátio e ele parou
- Ele é um babaca! – Scott tremia de nervoso – Odeio aquele idiota!
- Não, você não odeia. Está querendo enganar a quem? A mim ou a si mesmo? – sabia que tinha sido dura, mas ele precisava ouvir

Scott não respondeu e começou a andar de um lado para o outro ainda nervoso, claramente tentando falar. Mas acho que não conseguia juntar palavras e formar sentenças, pois só balbuciava coisas que não entendia. Por fim ele parou na minha frente e me encarou de verdade pela primeira vez, com uma expressão no rosto de dar pena.

- Você vai continuar gostando de mim, mesmo eu sendo... assim? – disse com uma voz abafada, quase inaudível
- Eu te amo, seu bocó. E nem eu e nem as meninas vamos te abandonar. Nunca.

Passei a mão em seu cabelo e ele me abraçou apertado, deitando a cabeça em meu ombro e não conseguindo mais segurar o choro. Pela primeira vez os papéis inverteram, era vez do terapeuta deitar no divã. Aquela noite de formatura estava longe de terminar.



Nocturnal poetry,
Dressed in the whitest silver, you'd smile at me
Every night I wait for my sweet Selene


Ele estava escondido nas sombras olhando-a se divertir com os amigos e a família. Ele era bom em disfarces e em se misturar com o ambiente, assim poderia observar sem ser visto. E o fez durante todo aquele dia e parte da noite. Ficou orgulhoso quando a viu receber o diploma das mãos da professora Sprout. Adorou vê-la dançar com os amigos, uma coreografia dos anos 20 e secretamente desejou poder estar no lugar de Alucard, segurando-a pela cintura, usando roupas de gangster. Logo se recriminou por tais pensamentos, mas eles iam e vinham sem que pudesse controlá-los, bastava relaxar ao olhar para ela.

As I wait for the time
My dream comes alive
Always out of sight
But never out of mind


- Porque não está lá com eles?- perguntou Alucard ao seu lado e ele resmungou.
- Que droga, ninguém me deixa trabalhar em paz? Já não basta o Sergei, você também vai me irritar?
Alucard riu e usou o feitiço Desilusório como ele:
- Se trabalhar para você, é estar com os olhos grudados na Alex, você está se saindo bem. Logo ela vai perceber que você está aqui. E Sergei tem razão: você faz parte da família e deveria estar lá.
- Ela está absorvida demais na comemoração para perceber alguma coisa. E ultimamente não podemos estar no mesmo espaço sem brigar. E só para esclarecer: eu só estou aqui, por causa dos últimos acontecimentos envolvendo comensais. Dumbledore queria um pouco mais de segurança.
- Alex foi aprovada para a Academia, e um dia vocês trabalharão juntos...Imaginou como vai ser? E as brigas não andam acontecendo por culpa dela.
- Eu sei que a maior parte da culpa pelas discussões têm sido minha, mas até o dia em que trabalharemos juntos chegar...- ele parou de falar quando Logan se aproximou e a abraçou, cochichando algo no ouvido dela. Alex sorriu amorosa para ele e fez que sim, e saíram do salão. Os olhos de Kyle ficaram mais escuros e ele disse tentando soar indiferente:
- Estamos felizes, cada um levando a sua vida com os parceiros que escolhemos. Meu turno aqui acabou, vejo-o no clã, Chronos. - e foi embora do salão deixando Alucard, suspirando resignado.

In the break of new dawn
My hope is forlorn
Shadows, they will fade
But I am always in the shade
Without you...


-o-o-o-o-o-o

O dia da nossa formatura parecia se arrastar em câmera lenta, mas não era devagar o bastante. Podia lembrar de cada momento, cada cheiro, cada som...O estomago afundava a cada vez que olhávamos uns para os outros e lembrávamos que aquelas eram nossas últimas horas como alunos, e a regra não dita era aproveitar o máximo que podia. Até mesmo aqueles que foram nossos desafetos durante aqueles 7 anos, estavam mais concentrados em si mesmos. Não havia provocações nas poucas trocas de olhares pelos corredores, ou o jeito que se olhava para as ampulhetas das casas. Agora não interessava quem causou as perdas dos pontos...Não estaríamos mais ali para recuperar os pontos perdidos.
A sensação de perda era tanta, que até joguei um dos petiscos para gatos da Sam, para Madame Nora, aquela gata era tão atrevida que primeiro me olhou desconfiada, mas depois pegou o petisco e saiu de rabo empinado, lançando olhares de: ‘olha o que você vai deixar para trás’. . Por vezes tive vontade de empalhá-la, mas saber que não iria mais fugir dela, me deixou sensível e acabei me lembrando das loucuras que fazíamos para fugir dela pelos corredores de noite.
- É tão legal andar por aqui à noite não é?- dizia Louise segurando uma lanterna à pilha, em nossa primeira exploração pelo castelo.
- Nem sabia que os quadros dormiam...Yuri esqueceu de me contar isso.
- E eu nem imaginava que as cozinhas funcionavam 24 horas, isso parece um hotel. - eu disse de boca cheia.
Rooaarrr
- O estômago de quem roncou alto assim?
- Não é ninguém com fome, é a gata do zelador...- disse Louise apontando a lanterna para o local onde a gata nos olhava, ficamos paradas por algum tempo pensando no que fazer quando Scott apareceu ao nosso lado, jogou uma coisa que parecia um rato na direção da gata e disse pra nós:
- Corre! O Filch vem vindo!
Foi a primeira das várias fugas vividas por nós naqueles corredores. Ia sentir falta de cada um daqueles dias, onde a necessidade me fez ganhar amigos verdadeiros.
.
A festa corria solta e muito animada. Meus avós estavam felizes por mim e até minhas primas conseguiram vir com seus namorados para a festa. Sergei estava junto conosco e Logan, estava sentado junto a eles. Dancei muito, bebi muito, e ri demais. Não parecia uma despedida, era o momento de celebrar um novo começo e todos fazíamos isso. Em dado momento, Logan, segurou minha cintura e disse baixo:
- Vamos sair daqui por algum tempo?
Concordei e me deixei guiar por ele, que me levava apressado pelos corredores.
- Logan, aonde vamos?
- Quando chegarmos você vai saber...
- Muito esclarecedor cowboy. - rimos e não demorou muito chegamos nas escadas que levavam á torre de Adivinhação. Fiquei parada olhando para lá e uma saudade da Endora apertou meu peito. Olhei para ele e ele me esticou a mão:
- Vem!
Dei a mão a ele sem hesitar, mas ficava pensando em como estaria a sala da Endora. Ninguém mais havia entrado lá, desde sua morte. Devia estar tudo sujo...Para minha surpresa, tudo estava limpo e o cheiro dos incensos dela, pairavam no ar. Olhei curiosa para Logan e ele sorriu:
- Vim aqui mais cedo e cuidei de tudo, é uma espécie de presente para você.
Andei pela sala, toquei as xícaras que usamos em nossas aulas, e o sino de vento com cristais que ela mantinha pendurado no meio da sala começou a oscilar fazendo aqueles barulhos calmantes. Aproximei-me da janela e dava para ver o céu coberto de estrelas, e sentir o ar da noite, todo perfumado.
Ficamos ali por algum tempo e com os olhos fechados, pude sentir o perfume que ela usava e ao contrário de ficar triste por saber que ela não estaria mais lá, fiquei feliz por ela ter feito parte de minha vida. As frases que ela mais dizia, se fizeram presentes na minha mente naquela hora:
- O porque das coisas, é sempre importante Alexandra... O nosso coração sempre sabe a verdade...- abri meus olhos e perguntei:
- Porque Logan?
- Queria te dar um presente pela formatura e queria que fosse num lugar especial para você. Você gostou?
- Sim, você foi incrível. Adorei...- não terminei de falar, quando vi que ele tirou uma caixinha de veludo azul claro, do bolso e me estendeu dizendo:
- É só um presente pela sua formatura, quando o vi achei que devia ser seu.
Naquela caixinha de veludo havia um anel delicado, com um pequeno brilhante rodeado por pequenas esmeraldas.
- Parece um anel de noivado. - comentei.
- Mas não é, sei que você não quer se casar comigo. - ele disse rápido e percebi que aquilo não era verdade em meu coração.
- Eu gostaria de me casar com você Logan, um dia. - disse olhando-o séria.
- Gostaria? Não enquanto estiver na escola claro, mas talvez um noivado enquanto isso? Você tem muitos sonhos a realizar antes...
- É, poderíamos pensar nisso...Mas se você não pedir, não saberemos a resposta não é? - e estiquei a caixinha para ele.
Ele me olhou sério e disse solenemente enquanto punha um joelho no chão:
- Alexandra Selene McGregor, eu a amo e quero passar todos os dias da minha vida te mostrando o quanto. Quer se casar comigo?
- Sim Logan, eu quero me casar e dividir os meus sonhos com você. - e o beijei apaixonadamente.

Após ouvir a resposta de Alex, Kyle decidiu que era hora de ir embora, pois havia um limite para o sofrimento e ele há muito havia alcançado o dele. Tudo o que importava para ele, estava bem longe e ficaria lá enquanto ele não aprendesse que nem todo sonho se realiza e que alguns sonhos por mais doces que sejam, podem se tornar o pesadelo de um homem e destruí-lo...

N.AUTORA: My Selene, Sonata Arctica



- É melhor correr, o trem já vai partir – vovó me empurrou em direção à porta
- Eu também quero ir! Não é justo! – George resmungou de braços cruzados
- Já disse que você vai, mas daqui a dois anos – ela explicou pela enésima vez e ri
- Prometo escrever a você no fim dessa semana, contando tudo sobre Hogwarts!
- Escreve mesmo?
- Palavra de irmã mais velha – dei um beijo nele e corri para o trem.

Acenei animada para os dois e logo o trem saiu da plataforma. Quando os perdi os de vista me vi sozinha pela primeira vez em 11 anos, e um medo inexplicável tomou conta de mim. Caminhei pelo trem tentando encontrar a cabine onde havia guardado meu malão e tinha um garoto loiro dentro dela. Ele tinha a cabeça encostada contra o vidro encarando a paisagem correr pela janela absolutamente concentrado. Pelas vestes vi que também era novato.

- Oi – disse sentando no banco de frente e ele notou minha presença pela primeira vez. Era o menino mais lindo que já tinha visto, e tinha uma expressão mais assustada que a minha estampada no rosto – Sou Louise, e você?
- Scott – disse estendendo a mão – O malão é seu? Desculpa ter invadido, mas não encontro minhas irmãs e o resto do trem está cheio – disse desanimado
- Tudo bem. Também tenho um irmão, mas ele é dois anos mais novo. Estava chorando na estação, queria vir também.
- Minha irmã é do 7º ano, mas também tenho uma irmã gêmea, Megan.

Ele parou de falar e a porta da cabine abriu. Uma meia dúzia de gatos a invadiram, correndo e pulando pelos bancos e em cima da gente e atrás deles vinham duas meninas que também eram novatas: uma que parecia ser oriental e outra com um ar totalmente biruta. A de ar biruta catou os gatos em uma braçada só e a outra sentou do meu lado, hipnotizada pelo Scott. Mais que depressa estendeu a mão a ele.

- Me chamo Yulli – ele apertou a mão dela tímido e ela sacudiu com entusiasmo, virando pra mim – E vocês?
- Ele se chama Scott e eu sou Louise – respondi enquanto ela sacudia meu braço
- E eu sou Samantha, e essas são Samira, Safira, Samara, Sabrina e Sandra – disse apontando pras gatas presas em uma gaiola apertada
- Mas é muito gato – Scott comentou espantado
- Tiago diz a mesma coisa, mas ele gosta de implicar comigo
- Quem é Tiago? – Yulli perguntou curiosa
- O Ti é meu melhor amigo! Ele é do 2º ano e, ah, olha ele ai!

A porta abriu mais uma vez e quatro meninos com vestes da Grifinória entraram. Um de óculos e cabelos bagunçados vinha na frente e devia ser o tal Tiago, pois a menina logo o cumprimentou. Vi Yulli o encarar de cima a baixo e logo minha atenção foi desviada pelo 5º garoto que entrou. Ele era loiro como Scott, mas era um tom mais escuro e tinha um ar um pouco cansado. Fiquei olhando pra ele do mesmo jeito que Yulli olhou pro Scott e quando ele olhou pra mim, abaixei a cabeça rápido, sem graça. O tal Tiago apresentou os outros e descobri que seu nome era Remo. Os outros se chamavam Sirius, Quim e Pedro. Ficaram na cabine por alguns minutos, mas logo o que se chamava Sirius disse algo como ver o que o ranhoso estava fazendo e os cinco foram embora.

- Queria ficar na Grifinória com o Tiago, mas meu irmão é da Corvinal, toda a minha família foi de lá. Acho que vou pra lá também – Samantha comentou preocupada
- Eu não sei pra que casa quero ir, acho que tanto faz – disse despreocupada
- É, também não me importo. Meu irmão é da Corvinal também, mas não faço questão de ficar lá. E você, Cott? – ele se espantou com o apelido e ri
- Er, não sei, acho que tanto faz também. Minha irmã mais velha é da Lufa-lufa e só o que ela disse foi alguma coisa sobre ser uma boa casa pra dar festas clandestinas – ele deu de ombros e Yulli me encarou com os olhos brilhando, como os meus

Pela terceira vez na viagem a porta da cabine se abriu e dessa vez um menino loiro e uma menina de cabelos longos e negros e olhos muito verdes entraram. Também tinham vestes de novatos e perguntaram se podiam ocupar os dois últimos lugares, pois o resto do trem estava muito cheio e bagunçado. Fizemos que sim com a cabeça e sentou cada um de um lado.

- Sou Alexandra e ele é o Alucard – ela se apresentou acenando e ele fez o mesmo
- Yulli, Louise, Scott e Samantha – Yulli foi apontando entusiasmada – Já sabem em que casa querem ficar?
- Grifinória, sem duvida! – o menino chamado Alucard falou com orgulho e peito estufado, mas murchou quando rimos – Toda minha família é de lá – deu de ombros, sem graça. Alex não se importa, é a primeira da família a vir pra Hogwarts.
- Vou começar a tradição dos McGregor – disse brincando – Quem são os meninos que saíram daqui ainda pouco? Dois deles estavam segurando a cabeça um sonserino na janela...
- Tiago e Sirius – Samantha balançou a cabeça – Deve ser o tal de Snape. Ouvi Tiago falar dele as férias inteiras, eles não se dão muito bem.
- Eles são da Grifinória e o garoto da Sonserina. Minha irmã disse que as duas casas nunca se deram bem – Alucard explicou e cada informação nova era memorizada. Ainda não sabíamos a nossa casa, mas já sabíamos que se fossemos da Sonserina, devíamos odiar a Grifinória e vice versa.
- Meu irmão Wayne era da Sonserina e disse que se você não tiver qualidades de nenhuma das casas, o chapéu seletor manda você embora – Scott disse apavorado

Todos nos encaramos tão apavorado quanto ele. E se não tivéssemos qualidade nenhuma? E se nenhuma casa servisse e tivéssemos que voltar do meio da cerimônia? Passamos toda a viagem conversando, compartilhando o pouco que cada um sabia com o outro, e nem percebemos quando o trem parou de se mover. A irmã do Alucard apareceu para nos mandar descer e paramos perdidos na plataforma, sem saber pra onde ir. A sombra de um homem imenso cobriu Scott e ele olhou pra cima assustado. O homem sorria animado e alguém trombou com ele, caindo no chão. Com uma mão só ele levantou a figura de um garoto de cabelos castanhos e ar levado, que riu sacudindo os braços. O homem o botou no chão e ele desamassou a roupa, virando pra gente.

- Marcus, prazer – ele apertou a mão do Scott e do Lu e acenou pra gente - Estava fugindo de uma garota mala, ficou me alugando sobre o porquê de ela ir para a Corvinal. Ai, ela ta vindo, me esconde!

Marcus agarrou as minhas vestes e as de Yulli e se jogou no chão, atrás da gente. A menina loira passou com um garoto de cabelo cacheado com vestes da Corvinal, e olhava de um lado pro outro. O homem grande nos chamou para subir em barquinhos pequenos e Marcus correu para o mesmo que Alucard e Scott entraram e que foi completado um garoto ruivo. Entrei no mesmo barco que as meninas e enquanto íamos atravessando o lago, vimos o castelo aparecer por trás das montanhas. Tinha lido tudo sobre Hogwarts, mas era totalmente diferente do que eu imaginava. Não importava em que casa íamos ficar, onde íamos dormir ou pra quem daríamos pontos. Hogwarts era uma casa só. A nossa nova casa.

ººº

- Louise Graham Storm – ouvi a voz do diretor Dumbledore me chamar e a lembrança do dia em que vim para Hogwarts se perdeu.

Levantei da cadeira e caminhei até o palanque, onde recebi os cumprimentos dele e da professora McGonagall, para depois receber meu diploma das mãos de uma sorridente professora Sprout. Apertei-o entre os dedos e não pude conter uma lágrima tímida que caiu quando olhei para meus amigos aplaudindo animados das cadeiras. Há sete anos atrás havia conhecido as pessoas mais importantes da minha vida e hoje os melhores anos da minha vida chegavam ao fim. Mas era só o fim de um ciclo, outro logo ia começar. E o novo ia ser bem melhor...

Though I know I'll never lose affection
For people and things that went before,
I know I'll often stop and think about them,
In my life I'll love you more

The Beatles – In My Life

Sunday, September 28, 2008


- Me conte de novo, como é o castelo? – pulei na cama de Yuri mal contendo minha ansiedade. No dia seguinte, finalmente iria para Hogwarts. Yuri se virou sorrindo para mim enquanto terminava de organizar seus livros no malão.
- Já te contei cada detalhe. O que mais você quer saber? Amanhã verá com seus próprios olhos... Falando nisso, já terminou de arrumar suas coisas?
- Ta brincando? Terminei há semanas atrás! Em que casa você acha que vou ficar? – perguntei pela enésima vez, mas antes que Yuri pudesse responder de novo que não fazia a mínima idéia e que eu teria de esperar pela decisão do chapéu seletor, mamãe e papai entraram no quarto.
- Yulli, está passando da hora de você ir dormir. Temos de acordar em poucas horas se quiserem pegar o trem. Esqueceu-se que estamos do outro lado do mundo? – mamãe perguntou com tom falsamente severo, sorrindo gentil e me abraçando. Papai se sentou ao lado dela.
- Nossa menininha já está indo para Hogwarts. Estamos ficando velhos, Yulla...- eles ameaçaram chorar e Yuri revirou os olhos.
- Ah não, vocês estão patéticos! – tia Yhara disse firme da porta e todos rimos.


Quando o Expresso de Hogwarts soltava suas últimas baforadas, abracei tia Yhara, papai e mamãe. Antes de seguir Yuri e entrar no trem, papai segurou meus ombros com firmeza, olhando fundo em meus olhos.

- Nunca se esqueça que não importa para que casa você for escolhida, ou qualquer decisão que tomar daqui pra frente, nós sempre vamos te apoiar. Você sempre será nosso orgulho. – ele disse sorrindo e mamãe concordou ao seu lado. Nos abraçamos.
- Vamos Yulli! Você quer ou não quer conhecer Hogwarts por conta própria? – Yuri gritou já em cima de um dos vagões e o segui correndo, acenando para meus pais e tia Yhara enquanto o trem fazia a curva e eles desapareciam de vista. Estava prestes a começar os sete melhores e maiores anos da minha vida.



Quando Ben terminou de fazer o discurso, muitos alunos se levantaram para aplaudir, entusiasmados. Era a minha vez de fazer o juramento em nome de toda a turma. Os que ainda não tinham se levantado, se levantaram e estenderam seus braços esquerdos me seguindo.

- Eu, solenemente, juro consagrar minha vida a serviço da comunidade bruxa, não fazendo distinção entre raças, partidarismos e genealogias. Juro respeitar todas as criaturas e animais mágicos como meus iguais e respeitar também a todos os não nascidos bruxos. Darei como reconhecimento a meus mestres, meu respeito e gratidão. Respeitarei os segredos a mim confiados. Manterei, a todo custo, no máximo possível, a honra e a tradição da profissão que escolhi seguir daqui para frente e assumirei a responsabilidade de todos os meus atos. Mesmo sob ameaça, não usarei meu conhecimento mágico em princípios contrários às leis morais que Hogwarts me ensinou. Faço essas promessas, solene e livremente, pela minha própria honra.
- Assim eu juro.

Todos (ou quase todos) os alunos repetiram em coro, e vestimos, sincronizadamente, nossos chapéus cônicos. Em seguida, cada um de nós levantou sua varinha para o céu soltando faíscas de várias cores. Quando eu e Ben voltamos a nos sentar, McGonagall iniciou a entrega dos diplomas.

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- Yulli Vanderheid Hakuna Kinoshita.

Meu nome foi o último a ser chamado e quando me levantei para ir receber meu diploma, todos os meus amigos gritaram, assobiaram e bateram palmas. Yuri, tia Yhara e Sabrina também comemoraram entre os familiares e sorri. Cumprimentei Dumbledore, McGonagall e todos os outros professores, mas nenhum pareceu se emocionar tanto quanto Professora Sprout, que após me entregar o canudo, me puxou para um abraço forte enquanto dizia baixo “seus pais estão muito orgulhosos de você, minha querida”. Não pude impedir que várias lágrimas escapassem de meus olhos, e quando ela me soltou, abri um largo sorriso agradecendo-a.
Dumbledore não se demorou a encerrar a cerimônia e abrir a festa. Centenas de chapéus de feiticeiros cortaram o céu e nos abraçávamos emocionados. Nossos familiares se misturando na comemoração. Estávamos oficialmente formados.



“É hoje!”

“Meu estômago está dando um nó”

“E se eu tropeçar na hora de pegar o diploma??”

“Vou sentir saudades de Hogwarts”

Tudo que se ouvia durante todo o dia eram comentários da turma do 7º ano sobre a formatura que se aproximava. Estávamos apenas há horas de recebermos nossos diplomas e sermos, oficialmente, bruxos formados. E se o estômago da menina da Corvinal estava dando um nó, o meu já não existia mais. Tinha sido escolhido com a maioria dos votos para ser o orador da turma e mesmo tendo o discurso pronto e praticamente decorado, não conseguia evitar estar nervoso.

A movimentação no castelo durante todo o dia ficou por conta dos últimos preparativos para a festa. Karen andava de um lado pro outro, nervosa e ditando ordens alucinadamente, e sobrou pro meu irmão ouvir e acatar a todas sem reclamar. A festa era toda sobre a Broadway e íamos apresentar um numero de dança sobre a peça Chicago. Meu par seria a Louise e já estávamos bem empolgados, mas também ansiosos para acabar logo com o show.

Passei o dia todo andando pelo castelo como se estivesse me despedindo de cada corredor, cada passagem, cada sala de aula. Estava aqui há apenas dois anos, mas era estranho ir embora e saber que não íamos mais voltar em Setembro. Por várias vezes esbarrei com meus amigos perambulando sozinhos pelos corredores, assim como a grande maioria do 7º ano. Cumprimentávamos-nos com a cabeça, sorrindo, e continuávamos andando, um fingindo não saber o que o outro estava fazendo e também fingindo não achar aquilo bobo. Não era bobo sentir saudade de uma escola, porque Hogwarts era mais que uma escola. Hogwarts era um lar.

O dia ainda estava claro quando me dei por vencido e segui para a Lufa-Lufa para começar a me arrumar. E ele já dava indícios de que ia escurecer quando encontrei o resto da turma no saguão de entrada, todos usando becas pretas com o brasão da escola e segurando um chapéu de feiticeiro na mão. A professora McGonagall logo chegou batendo palma e nos mandando formar uma fila, mas pediu que hoje não houvesse distinção de casa, pois éramos uma única turma. Parei atrás do Lu e minha mão estava gelada. Olhei de lado e vi as meninas apertando as mãos umas das outras, nervosas também. Era o medo do que viria quando o dia terminasse assombrando a todos nós.

Saímos para o gramado atrás da professora e a primeira pessoa que vi nas cadeiras dos convidados foi minha irmãzinha, Anna. Ela usava um vestido todo florido, com um laço no cabelo, e quando me viu acenou animada e cutucou nossos pais. Meu pai fez um sinal positivo com a mão e sorri para ele, retribuindo o sinal. Sentamos nas cadeiras reservadas aos formandos sem qualquer critério e acabei sentado entre Scott e Yulli. O diretor Dumbledore começou um breve discurso e a cada palavra dele, sentia meu estômago afundar. Ele então parou de falar, esperou as palmas cessarem, e encarou a minha fileira de formandos.

- É um distinto prazer para mim lhes apresentar nosso orador. Esse jovem rapaz era um sextanista quando foi transferido de uma escola distante, com costumes diferentes. Ele é simples, estudioso, competitivo quando preciso, e incomparável em suas conquistas acadêmicas. Senhores e senhores, Benjamin Thomas McKanson O’Shea.

Todo mundo aplaudiu, meus amigos assobiavam animados, e levantei da cadeira. Fiz um enorme esforço para me controlar e não começar a tremer enquanto caminhava até o palanque, seria muito vexame. Parei diante do microfone e as palmas cessaram, ficando tudo no mais absoluto silêncio para ouvir o que eu tinha a dizer. Silêncio até demais.

- Diretor Dumbledore, professores, companheiros de sala, família e amigos, bem vindos. Nunca pensamos que esse dia chegaria. Nós rezávamos para que chegasse depressa, riscávamos dias no calendário, contava as horas, minutos e segundos, e agora que chegou, eu estou triste porque isso significa deixar os amigos que me inspiraram e professores que foram meus mentores. Eu vivo em dois mundos. Um é o mundo mágico. Ele é repleto de feitiços, caldeirões fervendo, pessoas que viram bicho, quadribol e criaturas fantásticas. É um mundo recompensador, mas meu segundo mundo é muito superior. Meu segundo mundo é habitado por coisas e pessoas menos excêntricas, mas igualmente reais, que são minha inspiração para tudo. Louise, Yulli, Alexandra, Samantha, Miriam, Scott, Marcus e Alucard são loucos, companheiros e pessoas imensamente generosas. Eles foram meu pilar aqui, do qual sem eles eu não me manteria de pé. Tenho orgulho de poder chamá-los de amigos. Mas minha maior inspiração vem do meu melhor amigo, o cara fascinante que escolheu meu nome, Kegan O’Shea. Meu irmão nunca me disse que eu não podia fazer tudo que quisesse fazer ou ser quem eu quisesse ser. Ele encheu meu mundo com diversão, livros e música, persistindo em seus esforços para me servir de exemplo, mas sempre dizendo para que eu me espelhasse em alguém melhor que ele. Enquanto ele me guiava nesses incríveis 18 anos, não sei se ele algum dia se deu conta que a pessoa que eu mais queria ser era ele. Obrigado mano. Você é minha inspiração para tudo.

Olhei para trás e vi meu irmão sorrindo orgulhoso, ao mesmo tempo em que estava surpreso. Sorri satisfeito e tornei a olhar para frente.

- E enquanto nos preparamos para deixar Hogwarts hoje…

ººº

- E lembrem-se: quando estiverem sozinhos em uma noite de verão, olhem para as estrelas e façam um pedido. Façam de suas vidas um espetáculo. Eu sei que, aqui, eu fiz isso. Obrigado.

Toda nossa turma e os convidados ficaram de pé para aplaudir meu discurso e encarei meus amigos, os mais empolgados com as palmas. Quando cheguei a Hogwarts transferido da Irlanda não imaginava que fosse encontrar os melhores amigos que alguém podia ter e nem que seria o orador da turma. Não havia duvidas de que aquele tinha sido o melhor momento da minha vida.


He's buying his Stairway to Heaven

Lembranças de Alucard W. Chronos

Maio de 1979

Tantas coisas estavam acontecendo. Tantas que causavam dores tão profundas que deixariam marcas eternas, marcas que nunca iriam se apagar, talvez apenas ficar mais fracas. Mas nunca desaparecer.

Chegava ao fim um período da minha vida, um período cheio de mudanças, surpresas, problemas, tristezas, alegrias, amor, amizade e alegria. Chegava ao fim meu período em Hogwarts, pois após 7 anos, iria me formar, seguindo os rumos que eu queria da vida.

Tudo havia mudado. Quando entrei em Hogwarts no 1º ano, só queria saber de ser auror, de caçar criaturas malignas e capturar o máximo de bruxos das trevas que pudesse. Queria desvendar os segredos de meu avô e da fundação do clã, queria explorar Hogwarts e sua floresta. Pela minha mente infantil sequer passavam as cenas de horror e medo que haveria. Nem em meus piores pesadelos poderia imaginar as coisas horríveis que viveria. Como um dia eu imaginaria que eu me tornaria aquilo que mais odiava, mais abominava e que eu dedicava minha vida a caçar? Como um dia imaginaria que a calma e bela Hogwarts seria o túmulo de tantas pessoas? Como poderia sequer imaginar que meus pais seriam assassinados daquela forma? Como poderia imaginar que eu enlouqueceria de raiva e dor, me tornando tão sujo quanto meus inimigos?

Mas nem meus sonhos mais lindos e perfeitos chegavam aos pés desses 7 anos. Amizades maravilhosas, eternas, moldadas com o convívio e o carinho, o companheirismo e a união. Amigos dispostos a tudo, que ficaram ao meu lado em cada momento ruim que tive, sempre apoiando e sempre dando forças e incentivos. Amigos capazes de darem o próprio sangue, literalmente, para ajudar. E um amor. Um amor maior que tudo que havia na minha vida, maior que a dor, maior que a dúvida, maior que o medo, maior que a própria vida. Uma pessoa tão especial que o simples sorriso era motivo para felicidade, uma simples palavra era motivo de júbilo, uma simples lágrima era motivo para a compaixão, raiva e medo.

Meu primeiro dia em Hogwarts... O olhar maravilhado e espantado.

As boas vindas de Celas, radiante e feliz por eu finalmente estar junto dela.

A primeira detenção ao invadir a Ala Proibida da Biblioteca.

A primeira incursão à Floresta.

A primeira amiga. Alex, feliz e companheira.

As novas amizades, Scott, Yulli, Louise, Mark, os Marotos.

Dois amigos, mais que isso, quase irmãos. Kylle e Sergei, irmãos que eu nunca tive.

O amor. Mirian. Razão para me manter de pé.

A felicidade. Amigos, amor, carinho e luz.

A Maldição. As Trevas. A Dor. A Raiva.

A Escuridão tentando me envolver.

A luz emanada pelos meus amigos, tão preocupados comigo.

Uma segunda mãe, que me ensinou a ver o mundo com outros olhos. Endora, muito mais que uma simples professora.

A Sede, mas o controle. A salvação.

A Convicção. Caçar pelo bem.

A Morte. Perda daqueles que me fizeram quem sou. Dor.

Loucura. Insanidade. Raiva. Fúria. Caçada. Extermínio.

Alívio.

União.

A visão de um futuro, cheio de alegrias, com três pontos de luz tão intensa que pareciam me cegar.


- Alucard, está me ouvindo? – A voz da Professora Mcgonagall me fez voltar ao presente. Eu relembrava meus momentos em Hogwarts, e vi que por pouco uma lágrima não me escapulia.
- Desculpe, professora Mcgonagall, estava apenas pensando. – Respondi com um sorriso.
- Ele anda muito sonhador, professora. Acho que está sentindo nostalgia. – Mirian riu ao meu lado.
- Alucard, em poucos dias deixaremos de ser Aluno e Professora, você já pode me tratar pelo nome, o mesmo vale para você, Mirian.
- É o costume, professora, desculpe, Minerva. – Respondi meio sem jeito.
- Tudo bem. Bem, vocês dois devem saber que estão aqui para a Orientação Vocacional, não?
- Sim, imaginávamos isso, mas geralmente essas entrevistas são individuais. – Mirian levantou a dúvida que nós dois tínhamos.
- Sim, com certeza, Mirian. Mas vocês são um caso a parte. Sempre gostei muito de todos meus alunos e vocês dois são alunos com motivos para me darem orgulho. Talvez o Sr. Alucard nem tanto. – Ela brincou, e a brincadeira foi mais surpreendente do que seu sorriso. – Não duvido da carreira que você deseja seguir, Alucard. Auror, estou certa?
- Com toda certeza. Não há outra carreira para mim, talvez professor de DCAT.
- Já sabia a resposta. Agora, quanto a você Mirian? Você tem notas para passar para os testes de qualquer carreira, mas pelos seus dons você seria altamente recomendada à carreira de Aurora e de Curandeira.
- Eu fiquei um pouco na dúvida também, Minerva. Mas pendo mais para a carreira de Aurora, uma vez que com meus poderes não haveria necessidade do treinamento de Curandeira.
- Sim, isso é uma verdade. Mas lembre-se que pode tentar as duas carreiras, você seria capaz de mantê-las. Já que chegamos ao acordo, quero falar do assunto principal.
- Assunto principal? – Nós dois indagamos e eu completei – Achei que o assunto era a Orientação Vocacional.
- Não inteiramente. Na verdade os chamei aqui, pois recebemos um pedido oficial para que vocês dois sejam liberados por um dia. Sua irmã, Celas, nos encaminhou um pedido do Clã Chronos para que vocês possam tomar posse da liderança do clã.
- O que?! – Novamente, nós dois perguntamos juntos, surpresos e chocados.
- Ela decidiu que vocês três serão os líderes do clã e quer que haja uma cerimônia oficial para que vocês recebam seus cargos. O Professor Dumbledore já autorizou e disse que se possível, ele mesmo irá à cerimônia.
- Não sei nem o que dizer. Nós mal terminamos a escola ainda. – Falei surpreso.
- E por que eu também seria a líder? O Lu tem o direito, mas eu não. – Mirian comentou, ainda mais surpresa.
- Bem, isso vocês terão que perguntar a ela. Mas já tem a autorização. Se possível também irei à cerimônia. Adoraria ver meus alunos recebendo o cargo. – Pude notar uma pontada de orgulho em sua voz e fiquei feliz, pois a professora Minerva era uma das pessoas que eu mais admirava na escola e me fazia bem ver que ela também se importava conosco.
- Seria uma honra para nós dois se a senhora puder comparecer. – Mirian falou, com verdade clara em sua voz.
- Uma honra enorme, para dizer a verdade. Se você e o Professor Dumbledore puderem ir, reservaremos lugares de honra para vocês. – Completei.
- Não precisa tanto. Então posso avisar a Celas que vocês aceitam? Que tal dentro de dois dias? Assim ainda haverá tempo para que você jogue e ganhe a taça para Hogwarts, Alucard.
- Com todo prazer! A Taça será nossa! – Falei com alegria.

Ficamos conversando por mais algum tempo, até a Professora falar que precisava mandar uma coruja para Celas e avisar ao Professor Dumbledore. Eu e Mirian deixamos a sala dela extremamente felizes, leves e com um sentimento muito bom. Corremos para contar as novidades para nossos amigos e convida-los para a cerimônia, caso fosse possível. Mirian estava cada vez mais linda e eu não me cansava de dizer que a amava, a ponto de deixa-la vermelha. Cada vez mais uma idéia tomava forma em minha mente e vi a ocasião perfeita para ela. Pedi conselhos a Alex e ela adorou a idéia, dizendo que me ajudaria e estava feliz. Eu iria fazer uma surpresa para a Mirian, e não via a hora de ver sua reação. Ao final do dia, despachei Hórus com cartas para diversas pessoas.

Dois Dias Depois. Sede Londrina do Clã Chronos.

O dia da cerimônia finalmente havia chegado. Esses dois dias arrastaram-se e pareciam que nunca iriam chegar. Minha ansiedade e de Mirian era imensa, e a minha mais ainda. Na noite anterior ao dia da cerimônia, Dumbledore nos permitiu ir para a sede do clã para participarmos do final da preparação. Ele prometeu que estaria no dia seguinte entre os que assistiriam à cerimônia, assim como os professores Mcgonagall, Kegan e Stroke.

Ao chegarmos a sede londrina do clã, eu e Mirian fomos recebidos com honras de lideres pelos membros e por Celas que nos deu as boas vindas com um sorriso enorme. Estavam todos lá, todos os que nos apoiavam e lutavam conosco, arriscando as vidas pelo bem dos outros. Kyle e Sergei estavam lá e foi com um alegria imensa que os abracei, pois sentia falta dos dois. A amiga de minha irmã, Kollontai também estava lá, e participaria da cerimônia. Os Capter também iriam ficar hospedados no clã para o dia seguinte e foi bom revê-los também. Celas me chamou a um canto e falou que estava tudo pronto, e a ansiedade cresceu ainda mais em mim.

Na manhã do dia seguinte estávamos acordados bem cedo, terminando os toques finais da cerimônia. Ela seria uma cerimônia simples, mas todos os membros do clã participariam, assim como convidados de todo o mundo mágico, inclusive os Ministros Britânicos e Franceses, grandes aliados do clã. Foi com enorme felicidade também que vi que alguns professores de Hogwarts, assim como meus amigos ocupavam a primeira fileira.

Celas deu inicio à cerimônia, colocando-se diante do palco armado para receber os novos líderes. Elas vestia a roupa comum do clã, como todos nós, com a exceção da cor do casaco, que era totalmente negro com detalhes em branco e o símbolo dos Chronos, a águia de asas abertas, símbolo da liderança.

- Hoje é um dia especial para mim e para o clã. Há gerações minha família luta pelo bem de todos, caçando e eliminando o mal. Passamos por dificuldades e obtivemos muitos inimigos. Mas continuamos fortes até hoje, estando na 3ª Geração como Clã. E hoje com orgulho gostaria de completar essa geração. Apresento-lhes Mirian Ofiandes Capter e Alucard Wingates Chronos, novos líderes do clã.

Fomos recebidos com uma salva de palmas, e os membros do clã levantavam as varinhas despejando uma cascata de luzes brilhantes. Kyle e Sergei estavam nas filas do clã, usando seus uniformes, pois já haviam feito parte do clã. Esse momento ficaria gravado para sempre em minha mente...Mirian foi a primeira a falar, agradecendo a todos e prometendo não conter esforços para ajudar o mundo mágico, passando a voz para mim, após receber as salvas de palmas.

- Gostaria de agradecer a todos que estão aqui. Alguns merecem um agradecimento ainda maior, pois sem muito de vocês, esse momento não estaria ocorrendo. Lutaremos sempre pelo bem de todos, sem medir esforços para obtermos um futuro melhor. – Recebi uma nova salva de palmas e sorri, pedindo silêncio em seguida. Isto não estava no Protocolo, e Mirian achou estranho, olhando para mim. – Mas gostaria de fazer algo ainda mais importante, e gostaria de todos como testemunhas.

Pude ver a curiosidade nos rosto de todos, a ansiedade nos rostos daqueles que sabiam, e estes piscavam o olho e me desejam sorte. Eu sorri e com um aceno de varinha fiz as luzes ficarem mais fracas. Com um aceno de varinha, todas as flores que estavam na cerimônia, rosas de todas as cores,margaridas, violetas, orquídeas, jasmins e tantas outras, voaram para um único lugar, colocando-se aos pés de uma pessoa. Virei-me para Celas e Mirian e me ajoelhei diante de Mirian, pegando em sua mão.

- Mirian Ofiandes Capter, você aceita se casar comigo, vivendo o resto de sua vida ao meu lado? – Em minha mão havia uma caixa com um anel de esmeralda, a pedra preciosa que ela mais gostava, e eu olhava em seus olhos, sentindo o amor deles. Vi quando ela ficou vermelha, mas um sorriso enorme abriu-se em seus lábios e seus olhos brilhavam. Ao nosso redor espalhava-se o rumor de surpresa e de desejo de felicidade, mas para eu e Mirian, só havia nós dois no mundo.
- Sim, eu aceito, Alucard Wingates Chronos.

Ela falou enquanto segurava minha mão entre as dela e eu me levantava, abraçando-a e beijando-a. Novamente fagulhas e cortinas de luz saíram das varinhas do clã, e os demais convidados davam vivas e comemoravam com faíscas também. O momento mais feliz de minha vida. O início de uma felicidade que há algum tempo eu mal poderia acreditar que merecia.

Junho de 1979

A partir do dia da cerimônia do clã, a minha vida e a de Mirian se tornou muito mais agitada. Além dos preparativos finais da formatura, agora também tínhamos obrigações com o clã e diariamente recebíamos corujas de Celas com assuntos a resolver. E é claro, já pensávamos em nosso casamento. Era com um orgulho e uma felicidade imensa que eu andava pelos corredores da escola com o anel de noivado na mão direita, abraçado a Mirian, os dois tão felizes que contagiávamos o nosso redor. Viramos assunto imediato da escola, até porque não é todo dia que se tem noivos na escola é? Nossos amigos também estavam felizes e discutiam conosco os detalhes da festa, da cerimônia, e claro da lua-de-mel, que decidimos que seria no Egito, Grécia e Japão. E é claro, a cada dia minha ansiedade crescia cada vez mais, por causa da Final da Taça. O grande dia estava cada vez mais próximo e não via a hora de conquistar a Taça para nossa escola! Devido a tantos acontecimentos em minha vida em um período de apenas 2 meses, sentia meu lado vampiro irrequieto, porém manso, mas eu sabia que estava perto dele tentar algo novamente. Mas não estava preocupado, a felicidade era grande demais.

A Final da Taça de Quadribol foi extremamente difícil e acirrada. As duas equipes eram realmente boas e equilibradas. Hogwarts começou jogando um pouco mal, abalada pelo sumiço de dois de seus jogadores, o que deixou o time inteiro meio mal, principalmente a Lou. Eu me esforçava o máximo que podia, mas os Artilheiros da Noruega eram realmente magníficos e estavam me dando trabalho. O goleiro dele parecia tão bom quanto eu e cheguei a pensar se eles também não tinham um vampiro no time...

Quando o placar estava muito ruim para nosso time, a Madame Hooch pediu tempo e estressada quis saber porque estávamos jogando tão mal. Mas todos se apoiaram e por fim conseguimos fazer com que todos se sentissem melhor. Foi um novo time que entrou em campo. Lou se recuperou e junto de Mark, despejava balaços para atrapalhar os Artilheiros. Alex, Fábio e Andrew trocavam passes rápidos e começaram a marcar gols impressionantes. E eu parecia uma barreira, só deixando levar mais um gol, não iria perder a Taça de jeito algum, então jogava como se minha vida dependesse disso. Então finalmente aconteceu o ponto máximo do jogo: Yulli e a apanhadora norueguesa caçavam um diminuto ponto dourado. O jogo praticamente parou enquanto todos acompanhavam o movimento. Eu enxergava o pomo com facilidade e torcia para que Yulli o captura-se, quando as duas fecharam as mãos ao mesmo tempo e eu soltei um grito. Yulli capturara o pomo e antes que os demais notassem isso eu já comemorava, voando para mais perto dela, gritando com ela de felicidade. Sobrevoei a arquibancada e avistei Mirian, pairando próximo a ela, apontei pra ela com um sorriso e lhe gritei : “Foi pra você!”.

A festa de comemoração foi uma das maiores festas de Hogwarts, e isso era algo digno de nota, uma vez que minha turma que estava se formando era uma das turmas mais festeiras da história! Não havia mais diferenças entre as casas, todos se abraçavam e comemoravam juntos, todos provando daquela felicidade única de vitória. Eu me vi vitima de uma atenção enorme, maior do que eu estava acostumado, todos querendo alguma lembrança, pedindo que contássemos sobre o jogo, até a hora em que eu e Alex praticamente fizemos uma comitiva de imprensa descrevendo o jogo. Mas havia algo errado e depois que a alegria passou um pouco, notei que havia algo de diferente. Eu não via o Scott desde de manhã, assim como o George continuava desaparecido, e agora a Lou também, e isso começou a me preocupar. E decidi sair a procura deles também, meu instinto dizendo que havia algo errado. Mirian me seguiu e fomos conversando de mãos dadas pelos corredores, ela também tinham uma sensação estranha.

Então nós dois sentimos quando uma Imperdoável foi lançada na região. Eu pude sentir o grito da morte capturando alguém e tremi só de pensar quem poderia ter sido a vítima. Para Mirian foi como se ela visse uma luz se apagando e ficou preocupada também. Colocamos-nos em posição de alerta, vasculhando ao nosso redor, mas a maldição havia sido lançada longe de nós. Mas ela teve um efeito colateral em mim. Como estava controlando meu lado vampiro a muito tempo e passei por emoções fortes nos últimos dias, me senti fraco e sem energias. Fiquei tonto e cai no colo de Mirian que me pegou antes que caísse no chão. A Sede ardia.

- Lu, o que houve?! – Ela falou preocupada, enquanto olhava em volta, mas estávamos sozinhos.
- Estou apenas fraco...Muito tempo lutando contra ele...Vou melhorar...
- Você sabe muito bem que apenas uma coisa vai te ajudar!
- Eu não vou caçar ninguém aqui!
- Quem falou em caçar? – Ela conjurou um fino raio de luz e com ele cortou o próprio punho, fazendo o sangue escorrer e pingar. O cheiro de seu sangue foi como uma navalha perfurando meu peito e minhas pupilas dilataram em vermelho, mas me controlei.
- Não posso fazer isso com você... – Balbuciei, tentando me controlar.
- Pode sim. Eu sinto um pouco de ciúmes da Alex sabia? Eu sou sua namorada, sua noiva e futura esposa, mas ela foi a primeira a lhe dar o sangue de bom grado. Isso não é justo!! – Ela falou, brincando, mas severa.
- Eu não quero isso pra vocês, me sinto mais sujo do que nunca.
- Você realmente é teimoso. Beba, Lu, seu bem estar é o meu bem estar. Em breve seremos unidos na saúde e na doença. Não posso te deixar assim. Eu daria minha vida por você de bom grado. Não quero apenas você arriscando sua vida.

Eu a olhei nos olhos e li todo o carinho e amor que ela sentia e pude sentir que isso também era importante para ela. Eu sentia nojo de mim mesmo naquele momento, mas a beijei no rosto e acariciei seu cabelo antes de segurar o seu pulso e morde-lo. O sangue dela era único. Se fosse há algum tempo atrás seu sangue teria me matado, mas havíamos passado tanto tempo juntos que parecíamos um só ser. O cheiro dela, o sabor que eu agora sentia, eram os melhores que existia no mundo, irresistíveis para mim, pareciam me completar, me tornar um ser inteiro. Ao sugar seu sangue com delicadeza sentia como ele me dava energias, senti minhas forças voltando ao normal e para meu asco ainda maior, foi difícil parar. Quando parei, ela estava fraca pela perda de sangue, e foi minha vez de deita-la em meu colo.

- Você que é teimosa, e uma idiota! – Falei enquanto sentia uma lágrima escorrendo. – Olha como deixei você.
- Eu estou feliz. Sinto como se fossemos um só ser. Lu, eu já sou sua desde que nasci, é meu maior sonho passar cada dia da minha vida com você.
- Você não sabe o bem que me faz por querer passar sua vida comigo. Você é uma dádiva para mim...
- Você pensa pouco de si próprio...Cada dia da minha vida será extremamente feliz ao seu lado. E não se preocupe, com meus poderes eu posso viver mais que uma pessoa comum. E cada minuto ao seu lado valerá por tudo. – Ela falou com um sorriso, mas de meus olhos desceram novas lágrimas.
- Quando chegar o momento de você me dizer adeus...Eu irei com você. Acharei um jeito de segui-la. Não posso viver em um mundo sem você.
- Eu não quero que você faça isso...Eu amo você...
- Eu amo você... - Falei enquanto ela adormecia em meu colo e acariciei seus cabelos enquanto ela descansava. Eu continuei chorando enquanto pensava que um dia ela haveria de me deixar pra sempre, mas como ela disse: cada segundo ao lado dela valerá mais do que tudo.

Quando a peguei no colo, levando-a de volta para os dormitórios, a resolução ficava mais clara em minha mente. Eu nunca daria a ela minha maldição, não serei um monstro egoísta. Então quando chegar a sua hora, eu irei com você minha querida. Minha presciência me mostrava que esse dia demoraria muitos e muitos anos e eu sabia que seriamos felizes...Sempre juntos na estrada que decidimos seguir...

There's a feeling I get when I look to the west
And my spirit is crying for leaving
In my thoughts I have seen rings of smoke through the trees
And the voices of those who stand looking

And it's whispered that soon, if we all called the tune
Then the piper will lead us to reason
And a new day will dawn for those who stand long
And the forest will echo with laughter
When all are one and one is all, yeah


N.A.: Stairway to Heaven, Led Zeppelin
Alucard Wingates Chronos às 10:30 AM

Wednesday, September 24, 2008

Quando os caminhos se separam

Por George Graham Storm

- O senhor está liberado, Sr. Storm – Madame Pomfrey abriu as cortinas da minha cama sorridente – Sr. Foutley também, podem voltar ao salão comunal.

Assenti com a cabeça e tornei a fechar as cortinas, trocando de roupa. Scott e eu passamos o domingo inteiro e parte da segunda na enfermaria e depois de tomar muitas misturas de poções e ter todos os danos reparados, pudemos sair. Mas a marca negra gravada em mim, infelizmente, era permanente. Dumbledore me explicou que nenhum feitiço poderia removê-la e que ela sumiria com o tempo somente quando Voldemort, o criador da marca, fosse morto. Passaria o resto da minha vida usando camisa de manga comprida se fosse necessário, mas nunca deixaria ninguém vê-la.

- Vou voltar pra Grifinória, você vem? – Scott parou na porta da enfermaria
- Não, pode ir. Vou assistir à última aula de hoje...

Scott se despediu sumindo no corredor e fiz o caminho contrário. A última aula do dia seria DCAT e não sabia como fariam, mas precisava ir até a sala. Ainda não sabia o quanto à história da noite de sábado havia se espalhado e nem se os alunos sabiam o que tinha acontecido com o professor, mas quando cheguei à sala, percebi que sabiam apenas uma parte. Toda minha turma estava sentada aguardando Stroke entrar e me seguiram com o olhar enquanto caminhava para o fundo da sala. Eram olhares de curiosidade pelo fato de estar todo arranhado e Régulo não estar comigo, estávamos sempre juntos. Mas não fazia idéia de onde ele estava e nem se queria procurá-lo. Ficamos sozinhos na sala por cerca de 20 minutos, quando Kegan entrou muito sério e parou na frente da sala, esperando a turma se calar.

- Boa tarde – disse encarando os alunos um a um, com um semblante tão sério que assustava – O diretor me pediu que falasse com vocês hoje, pois ele precisou se ausentar. Acho que muitos, ou a maioria, já sabem que dois comensais invadiram a escola sábado à tarde e levaram três alunos – a turma inteira virou para me encarar, mas continuei olhando fixo para Kegan - O professor Stroke e eu resgatamos os alunos, mas ele, infelizmente, não sobreviveu – a turma agora soltava exclamações chocadas e me olhavam com olhares acusadores. Algumas meninas começaram a chorar – Ele morreu em serviço, fazendo o que mais gostava, e é assim que deve ser lembrado. Até o fim do ano letivo eu assumirei suas turmas, mas hoje todos estão dispensados. Àqueles que quiserem acompanhar o enterro do professor Stroke, será às 20h no cemitério de Durness, vilarejo vizinho a Hogsmeade. A professora Foutley e eu estaremos acompanhando os alunos. Podem ir agora, nos vemos na quarta-feira.

A turma lentamente foi recolhendo o material e deixando a sala. Fiquei por último e Kegan esperou que todos saíssem, me parando quando passei.

- Tudo bem?
- Não. Me olharam como se eu fosse o culpado pela morte dele.
- Bobagem, só ficaram surpresos, daqui a pouco esquecem. Vem conosco no funeral, não é?
- Acho que sim...
- Venha sim, William ficaria feliz. Espero você no saguão às 19:30.

Kegan deixou a sala e sai atrás dele, sem muita pressa. Ainda era cedo e tinha algumas horas até o enterro, então voltei para a Grifinória. Os olhares dos alunos que estavam no salão comunal me acompanharam por todo o caminho até o dormitório e bati a porta, irritado. Não demorou muito e Scott bateu.

- Se serve de consolo, também recebi alguns olhares desconfiados – disse fechando a porta sentando em uma das camas vazias
- Ninguém sabe realmente o que aconteceu e nos encaram com olhares acusadores, não é justo.
- As pessoas quando não tem acesso a todos os fatos, criam eles por conta própria e acabam espalhando informação errada. Mas não dê importância ao que eles pensam, nós sabemos o que aconteceu e, principalmente, que não temos culpa.
- Como consegue não ligar para o que as pessoas pensam com essa facilidade toda?
- Anos de experiência – ele riu – É difícil no começo, mas acredite, com o tempo fica mais fácil e você acaba acostumando.
- Valeu. Vou fazer o meu melhor, agora que tenho essa coisa – apontei a marca no braço.
- Falando nisso... – Scott levantou e caminhou até a porta – Vi seu amigo atormentando um elfo para ajudá-lo a encontrar as peças de roupa que não estavam no dormitório dele. Acho que está com pressa em juntá-las...

Ele saiu do dormitório e fui até a janela. Vi Régulo andando a passos largos no pátio ao lado de um elfo, ambos com os braços carregados de livros e peças de roupa. Sabia o que ele estava fazendo, nunca uma ação sua foi tão obvia, mas não consegui ir até eles. Estava dividido entre a decepção por saber que ele estava envolvido no ocorrido de sábado e o fato de que, agora, sabia que nossa amizade sofreria mudanças. Os dois sumiram quando passaram pela porta do saguão e sentei na cama outra vez. Queria ir até lá, mas ao mesmo tempo não achava certo. Régulo tinha colocado a minha vida e a da minha irmã em risco, em troca de reconhecimento.

Passei o resto da tarde deitado encarando o teto do dormitório até dar a hora de descer para o enterro. Me arrumei depressa e desci junto com outros alunos da minha casa que decidiram ir, Scott, Fábio, Lu e Miriam entre eles. Passávamos no corredor do 3º andar quando vi Régulo saindo da sala de troféus com uma caixa na mão. Parei de andar e ele fez o mesmo, me encarando incerto, exatamente do mesmo jeito que eu. Scott percebeu e empurrou os outros escada abaixo, me deixando para trás. Devia ir embora, passar direto por ele, mas sabia que não podia fazer isso. Não era tão simples assim, Régulo e eu somos amigos desde crianças, o considerava um irmão e não podia deixá-lo ir sem me despedir. Ele parecia pensar a mesma coisa, pois quando dei um passo à frente, ele deu outro. Ele riu e parei, deixando que viesse até onde eu estava.

- Você está bem? – Régulo perguntou preocupado
- Sobrevivi, não? Estou indo para o enterro do professor Stroke agora – respondi vago – O que está fazendo?
- Você sabe o que estou fazendo – ele riu, mas sem perder o tom sério
- Você não tem que fazer isso, Regy.
- Você podia vir comigo – Falou animado - Formamos uma dupla imbatível! Sua mãe ficaria orgulhosa.
- Minha mãe quase matou a mim e a minha irmã – minha expressão mudou ao lembrar e ele murchou – Nunca mais quero ouvir falar dela.
- Desculpa, sabia que não devia ter dito isso, sinto muito pelo que aconteceu. Não sabia que o alvo dela eram vocês, ou não teria ajudado os dois a entrarem.
- Teria sim. Eu sei disso e você também sabe. Nada faria você mudar de idéia.
- Você contou ao diretor que fui eu que permiti a entrada dos comensais no castelo?
- Não contei a ninguém e nem vou contar. Seu segredo morre comigo, não se preocupe.
- Não faz diferença se contar, estou indo embora mesmo e não volto mais a Hogwarts – deu de ombros e me encarou - Não vem mesmo comigo?
- Não – disse ríspido
- Vamos ficar de lados opostos então.
- Não faça isso, Regy. Você tem opção, não precisa ir. Pode mudar, ainda há tempo!
- Já escolhi meu caminho, é o que estou destinado a ser. Vou honrar minha família, ela já foi manchada pelo Sirius e pela Andrômeda e vou fazer meus pais esquecerem eles e se orgulharem de mim.
- Nesse caso... – tirei o cordão que usava e era igual ao dele, e o fechei na mão – É aqui que nossos caminhos se separam. Não quero ser um deles.
- É uma pena, mas se um dia mudar de idéia, pode me procurar.
- Não vou mudar de idéia – dei um sorriso fraco – Mas se um dia você se arrepender, sabe onde me encontrar.
- Nunca vamos deixar de ser amigos, não é?
- Não – entreguei o cordão a ele e ele o guardou no bolso. Parei na ponta da escada e o encarei no que seria a última vez por 2 anos - Só estamos tomando rumos diferentes...

Sunday, September 21, 2008


- George, acorda! – sacudi meu irmão em pânico, mas ele não se mexeu – George! IMPEDIMENTA!

Gritei apontando a varinha para minha mãe e a derrubei, dando tempo de Scott roubar uma de nossas varinhas. Eles brigaram algum tempo, até que ela conseguiu prendê-lo com as mãos e vi meu amigo perder os sentidos quando ela apertou seu pescoço com força. Deixei George desacordado e corri para cima dela, pegando a varinha que Scott deixou cair e a afastando com outra azaração do impedimento. Ela me atingiu com a cruciatus, mas de leve.

- Não vai querer me apagar como fez com eles – disse com raiva, sem pensar – Precisa de mim para pegar as suas coisas.
- Você já disse onde estão, não preciso de você para entrar lá. Trouxe três alunos e ninguém notou – riu
- Eu menti, suas coisas não estão no dormitório – a expressão no rosto dela mudou e sorri vitoriosa – Acha que sou burra de guardar essas coisas aqui? E mais ainda de dizer onde estão? Seus diários estão bem longe de Hogwarts.
- Onde estão? – ela falou com a voz baixa, em tom de ameaça
- Não vou dizer. Pode me matar se quiser, mas não digo.
- Garota, não brinque comigo. Onde estão meus diários?
- Por que se casou com meu pai? – sem um plano, decidi que precisava enrolá-la até descobrir como sair de lá com vida – Ele era trouxa, e você despreza todos eles. O seu chefe sabia que você era casada com um “trouxa imundo”?
- Henry não era trouxa, era bruxo. Nunca lhe contaram isso, não é mesmo? Acho que o trauma foi grande demais para Abigail e Henry. Achei que ele compartilhasse das mesmas idéias que eu, mas acabei descobrindo que não. Ele tentou me entregar ao Ministério, não me deu alternativa.
- Beth! Por que está demorando tanto? Precisamos sair imediatamente, pegue a garota e deixe para conversarem depois!
- Mas que droga, Avery! – ela se virou para ele irritada e recuei – Não podemos sair sem meus diários, sabe disso!
- Pois então arranque dela isso! É uma garota de 17 anos, o que pode fazer contra você?
- O garoto me atacou com uma maldição imperdoável! O ensinamento em Hogwarts mudou desde que nos formamos!
- Foi o professor Stroke que nos ensinou – não me contive, sabia que eles se conheciam
- William! Sempre ele! – o homem se adiantou e apontou a varinha pra mim – Já chega! Avada Ked-

Não daria tempo de me defender e nem tinha como, mas a maldição da morte nunca me atingiu. A porta do quarto se abriu com um estrondo e vi as figuras dos professores Kegan e Stroke entrando disparando feitiços para todos os lados. Agarrei o braço de Scott e o arrastei para o canto onde George estava desacordado e tentei nos proteger como pude dos feitiços que cortavam o cômodo. Kegan duelava com o tal Avery e Stroke estava duelando direto com minha mãe. Eles lançavam feitiços ao mesmo tempo em que trocavam farpas.

- Quer dizer que anda ensinando arte das trevas aos seus alunos, Bill?
- Precisava treiná-los para enfrentar seus amigos. Dói, não é?
- Saiu do escuro, então? Contou a todos que foi um comensal?
- Sabe muito bem que não fui um comensal, nunca cheguei a ser marcado. E sim, meus alunos sabem.
- Covarde! Correu para as asas de Dumbledore assim que sentiu a coisa pesar! O velho babão está te protegendo bem?
- Pode falar o que quiser, mas Voldemort tem medo de Dumbledore, e você sabe disso. Por que ele nunca o confrontou?
- O Lorde das Trevas não teme ninguém!

Stroke conseguiu enfurecê-la de vez e o bate papo se encerrou, dando lugar apenas a uma batalha árdua. Os dois lançavam feitiços dos quais nunca havia ouvido falar e desviavam deles com agilidade. Aquilo parecia não ter mais fim, mas um movimento rápido da minha mãe e um descuido do professor Stroke pôs fim ao duelo. Ele caiu no chão sem varinha e ela parou ao seu pé, rindo.

- Foi um prazer conhecê-lo, William. Avada Kedavra! – e o corpo dele caiu duro no chão
- NÃO! – num impulso corri até ele e Kegan me segurou
- EXPULSO! – Kegan berrou apontando a varinha para ela e vi minha mãe voar pelo cômodo, caindo por cima dos móveis – William!

Ele me soltou e correu até o corpo sem vida do professor, desesperado. Parei ao lado dele chorando, meu corpo inteiro tremia. Kegan imobilizou o comensal chamado Avery, que já estava desmaiado, e caminhou até onde minha mãe havia caído.

- Está morta – falou depois de alguns segundos, me olhando incerto – Bateu a cabeça na madeira.
- Ótimo. Melhor assim. – disse seca e ele assentiu com a cabeça – Eles vão ficar bem, não é? - disse indicando Scott e George – Ela os torturou com a maldição cruciatus
- Madame Pomfrey dirá melhor do que eu, mas vai ficar tudo bem. Está tudo bem agora. Vamos voltar para a escola...

Kegan agitou a varinha e fez três corpos levitarem, caminhando para fora da casa abandonada. Assim que pisamos na vila de Hogsmeade ele enviou um patrono aos outros aurores avisando onde eles encontrariam dois comensais e nos guiou de volta ao castelo. Caminhamos em silêncio por todo o caminho e fui direto para a enfermaria cuidar dos machucados. Scott e George iam passar a noite lá, ainda estavam desacordados. Dumbledore apareceu preocupado e Kegan pediu que explicasse o que havia acontecido. Contei a eles tudo que sabia, tudo que o havia descoberto por meio dos diários e do próprio professor Stroke, cujo corpo agora jazia em uma das camas do fundo da enfermaria. Contei também que ela havia gravado a marca negra em George e de como o torturou até perder a consciência. E à medida que ia revivendo o que passamos nas mãos daquela mulher, ia percebendo que por mais que o tempo passasse e as feridas cicatrizassem, aqueles minutos de terror estariam presentes na minha vida para sempre...



A festa de comemoração da suada Taça Interescolar de Quadribol estava animadíssima. Madame Hooch colocara o troféu dourado em cima da mesa dos professores e as costumeiras quatro grandes mesas das casas haviam desaparecido e dado lugar a pequenas mesinhas, espalhadas por todo o Salão Principal. Por todos os cantos, bandeiras de Hogwarts estavam estendidas e pequenos pomos de ouro voavam entre as pessoas.

Eu, Mark, Alex, Lu e os outros jogadores do time, éramos eventualmente puxados para sessões de autógrafos ou fotos, e nos divertíamos muito com isso. Quando Dumbledore abriu a pista de dança improvisada no Saguão de Entrada, fomos todos para lá e de lá só saíamos eventualmente para pegarmos novas taças de hidromel, whisky de fogo ou cerveja amanteigada. Ninguém tinha pressa de deixar a festa...

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- Monn, você viu Louise? Ou Scott? Já os procurei por todas as partes! – não fazia tanto tempo desde que a pista havia sido liberada e centenas de alunos se acotovelavam por um espaço nela, enquanto arriscavam passos de rock. - Vi. Vi Louise. Ela foi por ali. – respondeu apontando o dedo na direção dos jardins e começou a rir, descontroladamente.

O nível alcoólico que ela apresentava não me inspirou nenhuma confiança de que Louise realmente estivesse nos jardins, mas mesmo assim, resolvi procurá-los lá, onde possivelmente estaria mais vazio. Um vento gelado cortou meu rosto assim que atravessei as portas de carvalho, mas continuei andando pelo gramado úmido. De fato, não havia sinais de Louise ou Scott, mas avistei Yoshi sentado na beira do lago e fui a sua direção, parando a alguns passos dele.

- A Lula Gigante não costuma se expor uma hora dessas, sabia? – perguntei e ele se assustou, virando-se para me encarar. Sorriu.
- Se cansou da festa? – ele perguntou depois de me sentar ao seu lado.
- Também. Estava procurando Louise e Scott, eles simplesmente desapareceram do mapa. Mas descobri que é inútil procurar alguém lá dentro. Está lotado. E você?
- Você sabe que sou um tanto anti-social. – sacudiu os ombros - Parabéns pela captura. Quase conseguiu fazer Madame Hooch enfartar de ansiedade. – rimos.
- Obrigada. – ficamos em silêncio por vários minutos.
- Leoncius McLaggen me chamou para trabalhar no laboratório dele. – ele disse em voz baixa após alguns minutos.
- Aquele amigo do Slug? Que é dono do maior laboratório de poções da Grã-Bretanha??? – perguntei empolgada e ele confirmou. – Yoshi, isso é maravilhoso! Você conseguiu! Parabéns!!! Já contou para tia Yhara e Yuri?
- Não. Na verdade, eu queria que você fosse a primeira a saber. – ele sorriu tímido e retribui.
- Estou muito feliz por você. Vai seguir a carreira que sempre quis e tenho certeza de que vai se dar muito bem. Sabe, algumas pessoas ainda estão “despejando verdades” desde que as dei um gole daquele Veritasserum que você me ensinou a fazer, na prova dos NOM’s, se lembra? – perguntei e ele assentiu. Rimos nos lembrando. – Nossa, parece que foi ontem... Em pensar que em menos de um mês estaremos formados e deixaremos Hogwarts para sempre... – deixei a frase ir morrendo e senti o peso dela no peito. Yoshi pareceu sentir a mesma coisa, pois não respondeu.

Encarávamos a água escura do lago, em silêncio, quando três vozes masculinas passaram apressadas atrás de nós e viramos o rosto para ver de quem eram. Régulo Black parecia agitado e andava na frente. Professores Stroke e Kegan o seguiam, ambos com semblantes tensos.

- Será que aconteceu alguma coisa séria? – Yoshi perguntou quando eles sumiram pelos portões.
- Acho que não. No mínimo Régulo deve ter aprontado mais alguma... Nem apareceu para o jogo de hoje e agora quer estragar a nossa festa de comemoração. Covarde! – falei com raiva, mas rindo logo em seguida. - Se fosse sério, teriam parado a festa.
- É, você está certa. – ele concordou se voltando novamente ao lago.
- Bom, falando em festa, me lembrei de que está acontecendo uma lá dentro e como eu sou uma das novas “celebridades” do momento, acho melhor entrar e participar mais um pouco desta. Não quer ir?
- Não. Vou ficar aqui mais um pouco e depois, direto para o dormitório. Aproveite por mim.
- Pode deixar. – sorri me despedindo e retomando o caminho para o Saguão de Entrada, sozinha.

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- O que está fazendo aqui sozinha, com uma baita festa lá fora? Te procurei por todos os cantos. – Mark entrou no Salão Principal da Lufa-lufa e se sentou na poltrona à minha frente, sorrindo.
- Desculpa. Eu fui procurar Louise e Scott nos jardins e quando entrei, procurei vocês, mas também não consegui encontrá-los, aí vim para cá. O dia foi muito cansativo. Como está tudo?
- Animado. Quando sai de lá, Alex e Lu estavam presos em uma espécie de coletiva de imprensa, dando detalhes de todas as goles do jogo. – rimos e nos encaramos por vários segundos. – Está tudo bem?
- Está, só estou cansada. Não vou mais voltar pra festa. Vou ficar aqui mais um pouco e dormir. Volte para lá.
- Ta brincando? Eu também estou um caco! Vou te fazer companhia, se você quiser... – se acomodou melhor na poltrona. Como só ri, sem dizer nada, ficamos em silêncio alguns segundos encarando a lareira. – O que vai fazer quando sair daqui? Quais os planos para as férias?
- Não sei. Pela primeira vez, não tenho planos para as férias de verão. Aliás, a idéia de deixar Hogwarts, e não voltar em setembro, me assusta. Vou para casa, vou começar a organizar essa “nova vida” fora desses túneis da Lufa, desses corredores de monitorias, dessas salas de aula e masmorras... – comecei a citar e parei, soando desanimada. Ele se mexeu desconfortável, mas não quis abrir espaço para assuntos depressivos, então sacudi a cabeça. – E você?
- Devo variar entre a casa da minha mãe e a casa do meu pai durante as férias. Depois delas... – ele parou uns instantes e me olhou de soslaio.
- Depois delas, o que? – perguntei curiosa e ele riu abaixando a cabeça.
- Depois delas eu vou me apresentar no Puddlemere para o time reserva.
- COMO? – gritei empolgada saltando da cadeira e ele riu. – Que história é essa?
- Quando jogamos as semifinais na Alemanha, um olheiro deles veio conversar comigo e me convidar. Tenho a chance de seguir carreira profissional no quadribol. – ele respondeu também animado e com um sorriso largo. Soltei um grito e voltei a me sentar. – Porque não me contou antes???

O sorriso sumiu do rosto dele e eu percebi que ele não havia me contado, talvez por receio de me magoar, contando uma notícia tão boa logo após a morte dos meus pais. Parei de sorrir também.

- Entendi. – falei séria sem conseguir esconder o tom de mágoa.
- Desculpe, Yull. Eu queria te contar, eu IA te contar, mas não sabia se era o momento certo.

Um silêncio incômodo e pesado ficou entre nós por vários minutos. Me senti mergulhando nos acontecimentos do último mês e eles passavam como flashes. Mas somente uma parou. Uma para a qual eu não tive tempo de dar atenção e analisá-la com cuidado, mas que agora retornara com muita nitidez. Lembrei da festa do Club do Slug, o aperto no peito que senti quando Sergei chamou meu nome e a sensação de estar voando quando nos encaramos. Devo ter ficado muito distante, pois só retornei à Sala Comunal, quando Mark segurou meu braço e percebi que ele parecia preocupado e ansioso.

- Não queria te magoar, mas acho que te magoei mais, não é? – ele perguntou baixo e me lembrei do que estávamos falando minutos antes. Esperei calada em silêncio antes de responder.
- Escuta, Mark. O fato de eu ter perdido os meus pais me abalou muito, emocionalmente, você que convive diariamente comigo sabe disso mais do que ninguém e acho que já percebeu que mudei muito o meu jeito de ser e de encarar as coisas, desde então. – ele concordou com a cabeça, mas não me interrompeu. – Mas isso não muda o fato de eu continuar querendo saber sobre os seus problemas ou sobre as suas conquistas, entende? Você não precisava ter me poupado. Eu não ia pensar nada de você se tivesse me contado uma notícia tão boa quanto essa! Você é meu amigo, eu desejo o melhor pra você sempre, e o meu estado emocional em cada dia não muda isso.

Ele pareceu murchar e abaixou a cabeça para encarar seus próprios pés. Esperei que ele dissesse alguma coisa, mas só quebrou o silêncio vários minutos depois.

- Você está certa. Eu quis te proteger de um sofrimento que você não teria. Você tem toda a razão. Nós somos amigos há tanto tempo e eu agi como se não te conhecesse o suficiente. – terminou a frase e pareceu pesá-la. Sorri.
- Já passou. O que interessa é que você vai conseguir todos os ingressos de jogos do Puddlemere pra mim, daqui pra frente. – ele também se descontraiu e riu. Mas depois de alguns segundos, o sorriso dele ficou diferente.
- Sabe o que eu acho? Que nós somos os “namorados” mais AMIGOS que eu conheço. Reparou que durante todo esse tempo, só nos tratamos como amigos, amigos, amigos...? Ta, nós realmente somos bons amigos, mas... Ainda somos namorados, não somos?

Nos encaramos e acho que passei a minha incerteza para ele, pois a vi em seus olhos também.

- Sinceramente? Acho que nós nunca fomos namorados. – respondi sincera forçando um sorriso. – Vivemos momentos ótimos, inesquecíveis eu diria. Mas o que eu sinto por você não é amor. É nada mais do que uma bela e forte amizade. Eu estava confundindo isso, esse tempo todo, mas agora eu tenho certeza. – disse tudo o que estivera engasgado de uma vez, mas para minha surpresa, Mark não parecia decepcionado. Ele riu.
- Eu nunca concordei tanto com alguém. Nosso namoro é uma farsa! – rimos com vontade e me senti aliviada de que tivesse sido tão fácil ter tido aquela conversa com ele. – Então, amigos? Só amigos? – ele perguntou estendendo a mão e eu ri.
- Sim. Para sempre. – não a apertei, mas o puxei para um abraço longo que ele retribuiu.

I hope you know, I hope you know
That this has nothing to do with you
It’s personal, myself and I
We got some straightening out to do
And I’m gonna miss you like a child misses their blanket
But I’ve gotta get a move on with my life
It’s time to be a big girl now
And big girls don’t cry

- Fergie.


Monday, September 15, 2008


Abri os olhos devagar e os sentia pesados, doloridos. Minha cabeça latejava, parecia dentro de um sino. Com a visão ainda um pouco turva olhei ao redor e percebi que estava em um cômodo velho, repleto de móveis quebrados e empoeirados. Estava amarrado a uma cadeira e perto de mim havia outra figura desacordada. Consegui virar a cadeira com os pés livres e comecei a chutar a perna de George. Ele se mexeu e abriu os olhos, me encarando completamente tonto.

- Scott? – ele olhou assustado ao redor do cômodo – O que aconteceu? Onde estamos?
- Não sei, mas a situação não é favorável a nós dois – respondi preocupado, enquanto tentava desfazer o nó que prendia minha mão – Quem era aquela mulher? A que estava te arrastando e que me bateu quando tentei ajudar.
- Minha mãe – ele respondeu com um nítido desgosto na voz – Você não devia estar aqui, não tem nada a ver com você. Desculpa ter metido você nisso.
- Você não fez nada. Não sabia o que estava acontecendo, mas vi uma mulher arrastando você à força, não podia ficar parado.
- A gente tem que sair daqui. E rápido! – George tinha um tom de voz desesperado e aquilo me apavorou – Não sei onde ela foi, mas não podemos estar aqui quando ela voltar.
- Eu acho que consigo me soltar dessas cordas. Só preciso afrouxar esse nó e...

Minha frase nunca foi completada. Ouvimos vozes no cômodo ao lado e ficamos imóveis, prestando atenção. Era claramente a voz da mulher que nos trouxe pra cá, discutindo com um homem. As vozes estavam muito alteradas e de repente a porta se abriu e uma mão empurrou Louise pra dentro. Ela nos viu e correu para nos abraçar, chorando, e a mulher entrou atrás dela, batendo a porta.

- Vocês estão bem? – ela perguntou apavorada e fizemos que sim com a cabeça – Solte-os! Eles não têm nada com isso, só eu!
- Não posso, já viram demais – respondeu com sarcasmo e me apressei em desatar o nó.
- Então apague a memória deles – ela insistiu e a mulher riu
- Você sabe que existem feitiços capazes de reverter o efeito, não tente me passar pra trás!
- O que você quer, sua louca? – Louise berrou nervosa – Por que voltou? Estávamos bem pensando que tinha morrido!
- Primeiro, quero tudo que é meu e que está em sua posse. E não adianta mentir, sei que minha mãe entregou tudo a você. Ela confessou antes de morrer.
- SUA LOUCA, VOCÊ MATOU A NOSSA AVÓ? – George se sacudiu na cadeira atordoado, mas não conseguiu se soltar.

Ela riu e caminhou até ele, alisando seus cabelos. Ele tentava se desvencilhar, mas ela os agarrou com força e o obrigou a ficar parado. Louise ameaçou correr até ele, mas ela sacou a varinha e apontou para George, então ela parou.

- George, George... Rebeldia não vai ajudar vocês – George olhava para ela com raiva, acompanhando a varinha dançar em seus dedos com os olhos – Por acaso contou a Louise porque meu velho pai enfartou?
- Não sei do que está falando – ele respondeu seco
- Mentira tem perna curta – ela olhou para Louise, claramente se divertindo – O velho John viu George conversando comigo na Travessa do Tranco naquela manhã. Não agüentou a realidade de ver outro membro da família seguindo um rumo diferente e quase empacotou. George me procurou, pediu que fosse ao seu encontro.
- É MENTIRA! – ele berrou e conseguiu fazer com que ela soltasse seus cabelos – É mentira, Louise! Ela que estava me seguindo! Vinha tentando manter contado há meses, e naquele dia me encontrou no beco diagonal e me arrastou até lá! Só parei para ouvir, queria que me deixasse em paz!
- Conte a história completa, George. Não é justo com sua irmã contar apenas à parte que lhe convém.
- Ele não precisa contar nada! – Louise interrompeu, tremendo de nervoso – Eu acredito nele, não quero ouvir o resto! Eu entrego tudo que você quiser, mas solte George e Scott!
- Onde estão as coisas?
- No meu dormitório, no castelo! Posso ir até lá e pegar para você!
- E alertar os aurores? Acha que sou estúpida?
- Eles vão nos encontrar de qualquer jeito – George debochou – Três alunos desaparecidos, você acha mesmo que não vão nos procurar? Alguns amigos sabem sobre você!
- Não vamos servir de nada pra você, porque nos mantém aqui?
- Vocês vão comigo embora! Vão ser úteis ao Lorde das Trevas, agora que são fortes e foram treinados pelo velho Dumbledore.
- É mais louca do que pensava se acha que vamos ficar do lado de um bruxo desmiolado! – Louise riu de nervoso e ela acertou um tapa em seu rosto. Me sacudi na cadeira e ela lançou um raio azul na minha direção, que me deu um choque.
- Não use o nome do Lorde das Trevas em vão, sua insolente!
- NÃO ENCOSTA NA MINHA IRMÃ! – George se sacudia também e ela tornou a caminhar até ele – Não vamos a lugar algum! Não vamos virar comensais da morte, como você!
- Isso é o que veremos!

Ela agarrou o braço de George, ainda amarrado com a corda, e murmurou algumas palavras incompreensíveis. Uma luz negra iluminou o ponto onde ela mantinha a varinha e ele gritou de dor. Ela riu e ia caminhar na direção de Louise, quando a porta abriu outra vez e um homem apareceu. Ele parecia muito irritado e nervoso, não parava de olhar para o relógio.

- Beth, acabe com isso! Ele está nos esperando!
- O QUE VOCÊ FEZ? – George suava nervoso, tentando ver o braço dolorido – O que você fez comigo??

Ela assentiu com a cabeça e assim que ele bateu a porta, começou a caminhar na minha direção, ignorando os gritos de George. Já tinha as cordas soltas e as segurava na mão como se ainda estivesse preso, esperando o momento certo. A varinha deslizava entre seus dedos e pela expressão em seu rosto, sabia exatamente o feitiço que ela lançaria em mim. Gritei para Louise não se mover e deixei que ela se aproximasse. Já tinha a varinha apontada para o meu peito e quando abriu a boca para pronunciar a maldição da morte, larguei a corda e saltei para cima dela, agarrando seu pescoço. A varinha rolou para o lado e Louise a pegou, correndo em seguida para soltar George. Lutamos no chão por alguns segundos, até que ela conseguiu me empurrar para o lado com os pés e bati em uma coluna. Ela ficou de pé depressa e Louise tinha a varinha apontada para ela, sua mão tremendo. George estava solto e de pé, ao lado dela. Ele alisava o braço horrorizado.

- VOCÊ GRAVOU A MARCA NEGRA EM MIM! – ele gritava descontrolado, mostrando a marca no braço esquerdo – TIRE ISSO!
- Ela é permanente, agora você é um comensal como eu! - ela riu e notei que tinha uma das mãos para trás. Lembrei que nossas varinhas não estavam mais conosco e levantei depressa, parando ao lado de Louise.
- EU NUNCA VOU SER COMO VOCÊ!
- Expelliarmus! – ela sacou uma varinha do bolso e berrou, mas já tinha tomado a varinha de Louise.
- PROTEGO! – consegui bloquear o feitiço e manter a posse da varinha dela
- Ah, ele sabe brincar de duelar... Vamos ver se defende essa. CRUCIO! – ela berrou apontando a varinha pra Louise, que gritou de dor e caiu no chão. – Foi só um choque, quer mais?
- ESTUPEFAÇA! – a acertei de raspão, mas foi tempo suficiente para ajudar Louise a se levantar. George tomou a varinha da minha mão e avançou.

Não sei o que ele usou, não conhecia o encantamento, mas uma labareda de fogo rodeou sua mãe e ele se manteve firme, a varinha controlando as chamas. Ela gritava presa no circulo de fogo, mas depois de alguns segundos conseguiu interrompê-lo e saltou para cima de George. Lançou novamente a maldição cruciatus, mas dessa vez não quebrou o contato e George se contorceu no chão por um longo tempo, até que saltei pra cima dela e o contato se rompeu, mas ele já estava desmaiado. Louise correu até ele desesperada e acertou-a com a azaração do impedimento, me dando tempo de pegar a varinha do bolso dela. Estava com tanta raiva que não pude me controlar. Usei a maldição cruciatus pela segunda vez na minha vida, e gostei da sensação de vê-la se contorcer de dor no chão, gritando. Mas mesmo sem romper o contato ela conseguiu se livrar e avançou para cima de mim, as mãos agarrando meu pescoço. Ela apertava com tanta força que perdi o movimento das mãos e soltei a varinha. Ela pegou de volta.

- Você não deveria ter ajudado! – falou perto do meu ouvido, se deliciando me vendo sufocar.

Tentava afastá-la, mas ela era absurdamente forte e fui perdendo os sentidos. Meus olhos foram fechando lentamente, até que tudo ficou escuro...

((Continua...))