Monday, September 15, 2008


Abri os olhos devagar e os sentia pesados, doloridos. Minha cabeça latejava, parecia dentro de um sino. Com a visão ainda um pouco turva olhei ao redor e percebi que estava em um cômodo velho, repleto de móveis quebrados e empoeirados. Estava amarrado a uma cadeira e perto de mim havia outra figura desacordada. Consegui virar a cadeira com os pés livres e comecei a chutar a perna de George. Ele se mexeu e abriu os olhos, me encarando completamente tonto.

- Scott? – ele olhou assustado ao redor do cômodo – O que aconteceu? Onde estamos?
- Não sei, mas a situação não é favorável a nós dois – respondi preocupado, enquanto tentava desfazer o nó que prendia minha mão – Quem era aquela mulher? A que estava te arrastando e que me bateu quando tentei ajudar.
- Minha mãe – ele respondeu com um nítido desgosto na voz – Você não devia estar aqui, não tem nada a ver com você. Desculpa ter metido você nisso.
- Você não fez nada. Não sabia o que estava acontecendo, mas vi uma mulher arrastando você à força, não podia ficar parado.
- A gente tem que sair daqui. E rápido! – George tinha um tom de voz desesperado e aquilo me apavorou – Não sei onde ela foi, mas não podemos estar aqui quando ela voltar.
- Eu acho que consigo me soltar dessas cordas. Só preciso afrouxar esse nó e...

Minha frase nunca foi completada. Ouvimos vozes no cômodo ao lado e ficamos imóveis, prestando atenção. Era claramente a voz da mulher que nos trouxe pra cá, discutindo com um homem. As vozes estavam muito alteradas e de repente a porta se abriu e uma mão empurrou Louise pra dentro. Ela nos viu e correu para nos abraçar, chorando, e a mulher entrou atrás dela, batendo a porta.

- Vocês estão bem? – ela perguntou apavorada e fizemos que sim com a cabeça – Solte-os! Eles não têm nada com isso, só eu!
- Não posso, já viram demais – respondeu com sarcasmo e me apressei em desatar o nó.
- Então apague a memória deles – ela insistiu e a mulher riu
- Você sabe que existem feitiços capazes de reverter o efeito, não tente me passar pra trás!
- O que você quer, sua louca? – Louise berrou nervosa – Por que voltou? Estávamos bem pensando que tinha morrido!
- Primeiro, quero tudo que é meu e que está em sua posse. E não adianta mentir, sei que minha mãe entregou tudo a você. Ela confessou antes de morrer.
- SUA LOUCA, VOCÊ MATOU A NOSSA AVÓ? – George se sacudiu na cadeira atordoado, mas não conseguiu se soltar.

Ela riu e caminhou até ele, alisando seus cabelos. Ele tentava se desvencilhar, mas ela os agarrou com força e o obrigou a ficar parado. Louise ameaçou correr até ele, mas ela sacou a varinha e apontou para George, então ela parou.

- George, George... Rebeldia não vai ajudar vocês – George olhava para ela com raiva, acompanhando a varinha dançar em seus dedos com os olhos – Por acaso contou a Louise porque meu velho pai enfartou?
- Não sei do que está falando – ele respondeu seco
- Mentira tem perna curta – ela olhou para Louise, claramente se divertindo – O velho John viu George conversando comigo na Travessa do Tranco naquela manhã. Não agüentou a realidade de ver outro membro da família seguindo um rumo diferente e quase empacotou. George me procurou, pediu que fosse ao seu encontro.
- É MENTIRA! – ele berrou e conseguiu fazer com que ela soltasse seus cabelos – É mentira, Louise! Ela que estava me seguindo! Vinha tentando manter contado há meses, e naquele dia me encontrou no beco diagonal e me arrastou até lá! Só parei para ouvir, queria que me deixasse em paz!
- Conte a história completa, George. Não é justo com sua irmã contar apenas à parte que lhe convém.
- Ele não precisa contar nada! – Louise interrompeu, tremendo de nervoso – Eu acredito nele, não quero ouvir o resto! Eu entrego tudo que você quiser, mas solte George e Scott!
- Onde estão as coisas?
- No meu dormitório, no castelo! Posso ir até lá e pegar para você!
- E alertar os aurores? Acha que sou estúpida?
- Eles vão nos encontrar de qualquer jeito – George debochou – Três alunos desaparecidos, você acha mesmo que não vão nos procurar? Alguns amigos sabem sobre você!
- Não vamos servir de nada pra você, porque nos mantém aqui?
- Vocês vão comigo embora! Vão ser úteis ao Lorde das Trevas, agora que são fortes e foram treinados pelo velho Dumbledore.
- É mais louca do que pensava se acha que vamos ficar do lado de um bruxo desmiolado! – Louise riu de nervoso e ela acertou um tapa em seu rosto. Me sacudi na cadeira e ela lançou um raio azul na minha direção, que me deu um choque.
- Não use o nome do Lorde das Trevas em vão, sua insolente!
- NÃO ENCOSTA NA MINHA IRMÃ! – George se sacudia também e ela tornou a caminhar até ele – Não vamos a lugar algum! Não vamos virar comensais da morte, como você!
- Isso é o que veremos!

Ela agarrou o braço de George, ainda amarrado com a corda, e murmurou algumas palavras incompreensíveis. Uma luz negra iluminou o ponto onde ela mantinha a varinha e ele gritou de dor. Ela riu e ia caminhar na direção de Louise, quando a porta abriu outra vez e um homem apareceu. Ele parecia muito irritado e nervoso, não parava de olhar para o relógio.

- Beth, acabe com isso! Ele está nos esperando!
- O QUE VOCÊ FEZ? – George suava nervoso, tentando ver o braço dolorido – O que você fez comigo??

Ela assentiu com a cabeça e assim que ele bateu a porta, começou a caminhar na minha direção, ignorando os gritos de George. Já tinha as cordas soltas e as segurava na mão como se ainda estivesse preso, esperando o momento certo. A varinha deslizava entre seus dedos e pela expressão em seu rosto, sabia exatamente o feitiço que ela lançaria em mim. Gritei para Louise não se mover e deixei que ela se aproximasse. Já tinha a varinha apontada para o meu peito e quando abriu a boca para pronunciar a maldição da morte, larguei a corda e saltei para cima dela, agarrando seu pescoço. A varinha rolou para o lado e Louise a pegou, correndo em seguida para soltar George. Lutamos no chão por alguns segundos, até que ela conseguiu me empurrar para o lado com os pés e bati em uma coluna. Ela ficou de pé depressa e Louise tinha a varinha apontada para ela, sua mão tremendo. George estava solto e de pé, ao lado dela. Ele alisava o braço horrorizado.

- VOCÊ GRAVOU A MARCA NEGRA EM MIM! – ele gritava descontrolado, mostrando a marca no braço esquerdo – TIRE ISSO!
- Ela é permanente, agora você é um comensal como eu! - ela riu e notei que tinha uma das mãos para trás. Lembrei que nossas varinhas não estavam mais conosco e levantei depressa, parando ao lado de Louise.
- EU NUNCA VOU SER COMO VOCÊ!
- Expelliarmus! – ela sacou uma varinha do bolso e berrou, mas já tinha tomado a varinha de Louise.
- PROTEGO! – consegui bloquear o feitiço e manter a posse da varinha dela
- Ah, ele sabe brincar de duelar... Vamos ver se defende essa. CRUCIO! – ela berrou apontando a varinha pra Louise, que gritou de dor e caiu no chão. – Foi só um choque, quer mais?
- ESTUPEFAÇA! – a acertei de raspão, mas foi tempo suficiente para ajudar Louise a se levantar. George tomou a varinha da minha mão e avançou.

Não sei o que ele usou, não conhecia o encantamento, mas uma labareda de fogo rodeou sua mãe e ele se manteve firme, a varinha controlando as chamas. Ela gritava presa no circulo de fogo, mas depois de alguns segundos conseguiu interrompê-lo e saltou para cima de George. Lançou novamente a maldição cruciatus, mas dessa vez não quebrou o contato e George se contorceu no chão por um longo tempo, até que saltei pra cima dela e o contato se rompeu, mas ele já estava desmaiado. Louise correu até ele desesperada e acertou-a com a azaração do impedimento, me dando tempo de pegar a varinha do bolso dela. Estava com tanta raiva que não pude me controlar. Usei a maldição cruciatus pela segunda vez na minha vida, e gostei da sensação de vê-la se contorcer de dor no chão, gritando. Mas mesmo sem romper o contato ela conseguiu se livrar e avançou para cima de mim, as mãos agarrando meu pescoço. Ela apertava com tanta força que perdi o movimento das mãos e soltei a varinha. Ela pegou de volta.

- Você não deveria ter ajudado! – falou perto do meu ouvido, se deliciando me vendo sufocar.

Tentava afastá-la, mas ela era absurdamente forte e fui perdendo os sentidos. Meus olhos foram fechando lentamente, até que tudo ficou escuro...

((Continua...))