Das lembranças de Artemis Arashi Capter Chronos
A maioria dos meus amigos de Hogwarts também iria para casa, apenas JJ e Clara ficariam na escola, e cheguei a ficar tentada a ficar na escola, pois só de imaginar ficar praticamente sozinha na escola com aqueles dois me fazia pensar em milhões de coisas para se fazer, e queria muito explorar a escola com eles! Mas decidi passar o feriado de Páscoa na casa de meu irmão Griffon e sua esposa, Emily. Na verdade a família toda decidiu passar o feriado junto, pois gostávamos de nos reunir sempre que possível. Dessa forma, a casa estava lotada com todos os Chronos possíveis: meus pais, meus irmãos, Luna, Emily, Tia Celas, Tio Isaac (esposo de Tia Celas), minha prima Gaia e meus queridos sobrinhos, Luky e Bela, filhos de Griffon e Emily, e as pequenas Mina e Luthien, filhas de Seth e Luna. E receberíamos convidados durante o final de semana, entre eles Tio Derfel, Tia Cewyn, Tio Siegfried e Tia Lilith. Ao que me lembro, Tia Alex também prometeu aparecer para nos fazer uma visita, então eu estava muito animada de poder ver todas essas pessoas que eu adoro.
A casa deles ficava em uma das propriedades da família, em Hampshire, próximo a cidade de Winchester. Griff me buscou na estação King Cross em Londres e depois me levou para sua casa. Assim que cheguei a porta, pude ouvir as risadas e gritos de meus sobrinhos e corri para abraça-los quando abri a porta, sendo sufocada por um mar de cabelos loiros. Luky e Bela são gêmeos, apesar de que Luky lembre mais Griffon, enquanto Bela lembra a Emily, porém os dois tem os olhos da mãe.
- Luky, Bela! Que saudades de vocês, meus pestinhas! – Falei enquanto os abraçava, rindo com eles.
- Tia Arte!! Me diz que você vai nos dar algumas das suas Gemialidades?! Mamãe não quer que papai nos dê! – Luky reclamou, ainda pendurado em meu pescoço.
- Já aprendeu alguma magia nova? Eu quero ver! Mostra, Arte! – Bela perguntou, também pendurada em meu pescoço.
- Deixem a tia de vocês respirar um pouco! Ela não pode realizar magia fora da escola antes dos 17 anos, filha. E Luky, eu já falei que se você se comportar eu te trago Gemialidades, é só não deixar a sua mãe ver! – Meu irmão falou, entrando em casa e carregando minhas malas, piscando para o filho.
- Nada disso! Griffon, já não basta o que eles fazem sem as Gemialidades! – Emily, apareceu na entrada, olhando torto para Griffon, que sorriu para ela. – Arte, minha querida, que bom vê-la aqui conosco.
- Obrigado pelo convite para ficar aqui, Emily. Achei que ainda estaria trabalhando.
- Consegui sair mais cedo de Beauxbatons, queria dar um jeito na casa antes de você chegar. Você sabe a bagunça que essas crianças fazem! – Ela falou sorrindo, enquanto bagunçava os cabelos de Luky e apertava a bochecha de Bela, que sorriram para a mãe. Nesse momento ouvi um estalo as nossas costas e corri para fora, pois sabia quem era.
- Pai! Mãe! – Eu me joguei nos braços de meus pais, beijando-os com saudade.
- Minha princesa, que saudades suas! – Papai falou, me pegando no colo com facilidade.
- Você está ótima minha querida, e então, o que aprendeu até agora? – Mamãe falou me beijando e abraçando.
- Um monte de coisas! Eu cuidei de Tresdálios! – Ao ouvir esse nome, vi os olhos de Luky e Bela brilharem, e sabia que teria que contar tudo pra eles.
- Sim, nós sabemos. Mcgonogall nos enviou uma coruja falando disso, lembra-se? – Mamãe falou, com uma sobrancelha levantada, me olhando com reprovação.
- Minerva está quase surtando por causa de vocês! Vocês vão faze-la ter um ataque! – Papai falou rindo, e apenas citar o nome de sua professora favorita o deixava mais alegre.
- Ah, eu não tenho culpa! Estávamos apenas nos divertindo! – Eu falei, ingênua e sorrindo, fazendo todos rirem. – E cadê o Seth e a Luna? Quero vê-los!
- Estou aqui, pequena Luna. – Meu outro irmão falou, logo após aparatar. Eu saltei para o chão e corri até ele, abraçando-o com força. Ele estava com Mina no colo e abraçou a nós duas juntas, enquanto Mina brincava com meu cabelo, soltando uma risada adorável.
- Olá minha pequena Luna, estávamos com saudades. – Luna falou sorrindo pra mim. Luthien em seu colo também sorria e chamou meu nome, me fazendo correr para abraça-las.
- Mina e Luthien, vocês não param de crescer! Eu vi Tresdálios! Ta, eu não os vi, mais cuidei deles e os acariciei. Venham comigo, quero contar para vocês duas e pro Luky e pra Bela como foi! Vocês têm que visitar a cabana do Hagrid, é, é o Tio Hagrid. Só que não posso chamá-lo assim na escola. E se eu chamar a Tia Minerva de tia, acho que ela me transforma em pedra!
Falei rindo, enquanto levava meus sobrinhos para dentro, contando as nossas aventuras para eles. Vi quando Griffon sorriu comentando que eu já estava preparando os futuros encrenqueiros, e me virei rapidamente, dando uma língua pra ele. Seth riu e comentou que até lá eles precisariam socorrer a Minerva. Logo depois chegaram Tia Celas, Tio Isaac e Gaia, e corri para falar com eles também. Gaia se juntou a mim para cuidar dos pequenos enquanto os adultos conversavam animadamente.
Eu contava de quando nos mandaram limpar a sala de troféus e vi a grande taça que meu pai e nossas tias ganharam no campeonato interescolas de Quadribol, quando ouvimos um alto som de sino tocando. Todos saltaram com o susto, e os adultos se colocaram de pé, olhando apreensivos para o grande relógio mágico em cima da lareira. Era um relógio mágico, que permitia que nos comunicássemos com quem estivesse registrado nele. Porém era algo muitas vezes usado para emergências, e todos se assustaram. Tio Isaac, Gaia e eu ficamos bem próximos das crianças, pois eu também sabia dos problemas que ainda tínhamos com Cadarn e seus seguidores. O relógio soou o sino mais 5 vezes e vi que era a seqüência de meu padrinho, o Ty, e engoli em seco preocupada.
- Comunicação em andamento: Tyrone Mcgregor. Origem: Rancho dos Warrick. – Ouvi a voz magicamente ampliada de mamãe no mecanismo. Poucos segundos depois, a região com os ponteiros do relógio se liquefez e o rosto de Ty apareceu em seu lugar, sorrindo para nós.
- Aconteceu alguma coisa, filho? – Papai perguntou preocupado.
- Oi Tio Lu! Desculpem chamar a essa hora da noite. Está tudo bem. – Meu padrinho falou, nos fazendo respirar mais aliviados. – Sabia que estariam todos aí, mamãe falou que vocês iriam se reunir e vamos visitá-los ainda esse feriado.
- São bem vindos a qualquer momento! – Griff falou. – Mas conta, qual o motivo dessa urgência, quem morreu?
- Griffon! – Emily falou, cutucando o marido, e virando-se para o irmão. – Está tudo bem com todos aí, Ty?
- Está sim, mana. Estão com saudades suas. Eu tenho uma notícia para contar para vocês.
- Conta logo então, Ty! – Eu falei, curiosa.
- Oi, minha princesinha. Quero vê-la logo, estou com saudades!
- Eu também, Tio. Mas se demorar mais eu te bato quando te ver! – Falei, fingindo bufar e ele caiu na gargalhada. Sua gargalhada estava cheia de felicidade, e eu adorava ouvir seu sorriso.
- Aconteceu algo de bom não é, Ty? Quem apareceu aí? – Seth perguntou.
- Eu ainda me assusto com você, sabia Seth? Bem, você está certo. Apareceu alguém aqui: meu filho! – Pude notar um forte tom de orgulho em sua voz. Todos ficaram calados por um tempo, para depois cair na gargalhada.
- Eu sabia que um dia ia aparecer um filho seu! Acho até que demorou! – Papai falou rindo.
- Tem certeza disso, filho? Quem é a criança? – Mamãe perguntou.
- Vocês não vão acreditar...O nome dele é Julian, tem 12 anos, e a mãe dele é a Rory. – Ty falou, fazendo todos entenderem imediatamente, apenas eu que fiquei meio no ar.
- O Julian?! Meu amigo de escola?
- Ele mesmo, pequena. Seu padrinho teve um relacionamento com a mãe dele no passado, e agora temos a confirmação de que eles tiveram um filho. – Seth me explicou, com um sorriso engraçado no rosto.
- Você tem certeza, Ty? Não é a primeira vez que tentam te empurrar um filho. – Tio Isaac falou, sorrindo para Ty.
- É filho dele sim. Tenho certeza absoluta. Vejam em seus olhos o brilho e a alegria. Quero conhece-lo! – Luna falou feliz.
- A Di-Lua vai querer entupir o garoto com amuletos, até porque ela está atrasada em 12 anos...Ai! – Griffon falou enquanto levava um tapa no ombro de Emily e um olhar azedo de Seth.
- E como vai ser com a Rory? – Emily perguntou, olhando preocupada para o irmão. Vi o semblante de meu padrinho carregar-se um pouco.
- Já liguei pra ela. Ela virá aqui amanhã para conversarmos. Mas já entrei em contato com um advogado para me ajudar a manter meu filho. Já o perdi por 11 anos, não permitirei isso novamente. – Seu olhar era sério e eu sabia que ele faria de tudo para ficar junto do Julian.
- Conte com nosso apoio. Se precisar que os ajudemos, basta chamar, Ty. – Tia Celas falou, séria também, mas depois sorrindo.
- Já contou pro Biel e pra Mi? – Seth perguntou.
- Olha aqui, Tyrone, se eu perder meu novo sobrinho por sua causa eu te mato! – Griff falou rindo.
- Já contei pra eles sim! A Mi quase teve um parto na hora, mas está bem. Nosso novo sobrinho está em segurança. E agora vocês ganharam um novo sobrinho!
- Não vejo a hora de conhece-lo! Ele passou 11 anos sem ser estragado por mim! – Griff falou, chocado, fazendo todos rirem.
- Não precisa, esqueceu que ele também sempre está em detenção comigo? – Eu falei rindo.
- Que bom que vocês são amigos, ele vai precisar de apoio nisso tudo. Pode ser complicado para uma criança se adaptar a uma nova família. Você vai ser boa pra ele, não vai minha princesa? – Ty perguntou, olhando diretamente pra mim.
- Agora você até me deixou chateada, tio! Claro que vou! Eu gosto ainda mais dele agora que somos primos! – Falei rindo.
- Ele não terá problemas em se adaptar aos Mcgregor, vocês são uma família muito acolhedora. Sei por experiência própria. Como a Alex está? E a Liv, aceitou numa boa? – Papai perguntou.
- Mamãe está radiante! Ela tem certeza que ele é neto dela, e disse que se parece comigo. A Liv no início estranhou, mas sei que eles vão se dar bem.
- A Liv é um amor de criança, ela vai adorar ganhar um irmão mais velho. – Luna falou calmamente.
- Hey Ty, parabéns! Agora é papai de novo! Com esse seu charme todo vão achar que é seu irmão! – Gaia falou piscando para Ty. Meu padrinho riu e jogou um beijo pra ela também.
- Obrigado querida, pelo que já soube, você anda arrasando corações em Hogwarts! – Ty falou rindo, deixando Gaia meio vermelha, mas ela sorriu também. – Desculpem chamar tão tarde, imagino que devo ter preocupado vocês, e tive medo de acorda-los.
- Até parece que não nos conhece, acha mesmo que ao reunir todos os Chronos nós iríamos dormis cedo? Eu estava soltando fogos até agora a pouco! – Griffon falou rindo.
- Chronos e Mcgregors são uma família só mesmo! Eu vou dormir um pouco agora, amanhã será um dia longo. E quero babar um pouco mais em meu filho. Nos vemos em breve. Beijos minha princesinha. – Meu padrinho falou despedindo-se de todos. Sua imagem desapareceu lentamente, enquanto o relógio se solidificava novamente.
Ficamos muito tempo acordados, conversando sobre o novo membro da família. Todos queriam saber mais sobre o Julian e fiquei contando sobre ele, até Seth olhar a hora e ver que já passavam das 3 da manhã! Fomos todos dormir, mas combinamos que no dia seguinte iríamos visitar o novo primo e dar parabéns ao novo pai. O choque inicial de descobrir que um de meus melhores amigos era meu primo, transformou-se em pura felicidade.
Apesar de termos ido dormir muito tarde, no dia seguinte, de manhã cedo já estavam todos acordados. Por volta das 8 e meia tomamos café todos juntos, e foi uma verdadeira festa, pois a mesa estava lotada! Griffon iniciou uma guerra de comida, ao jogar um bolinho de abóbora no Seth, e só acabou quando o sem-noção lançou um bolo inteiro contra o Tio Isaac. Emily obrigou Griffon a limpar a bagunça toda sozinho, e mais um pouco mandava ele faze-lo sem magia. Mas ela acabou rindo com ele e o ajudou a limpar tudo, quando ele fez bico e a beijou, então, em questão de minutos tudo estava limpo, e ainda riamos de tudo. Depois todos foram se arrumar, e eu subi para o segundo andar, indo para o quarto da Bela, que estava dividindo com ela, Mina e Luthien. O quarto do Luky foi cedido pra Gaia, obrigando meu primo a dormir no sofá, enquanto meus pais, Seth e Luna, Tia Celas e Tio Isaac se espalhavam pelos outros quartos.
- Todos prontos? – Papai perguntou, fazendo a “contagem” quando todos descemos novamente para a sala.
- Pai, como nós vamos? – Perguntei, curiosa. Até porque o Rancho fica do outro lado do Atlântico, no Texas!
- De Chave-de-Portal. O Rancho tem mecanismos contra aparatação, então vou conjurar uma Chave. – Mamãe explicou, enquanto levantava uma almofada.
- Que legal, vovó! Nunca usei uma Chave! – Luthien falou excitada, sua voz fina e bela como uma música demonstrando toda sua curiosidade, enquanto seus olhos verdes brilhavam.
- Nenhum de nós usou, mana. Estou muito ansiosa! – Mina completou a irmã, também com uma voz fina e bela, seus olhos azuis, a única diferença da irmã, brilhando de felicidade.
Mamãe sorriu para seus netos e tocou a almofada com a varinha, fazendo um brilho branco surgir (tenho certeza que ela fez isso para eles, pois das outras vezes que eu a vi abrindo chaves de portal não ouve brilho nenhum), fazendo os quatro soltarem exclamações. Ela manteve a almofada levitando no ar, enquanto todos formavam um círculo e respiravam fundo, para em seguida tocar a almofada. Senti como se um gancho estivesse preso em minha barriga e me puxasse com força, e ainda não me decidi se gostei ou não da sensação...
No instante seguinte, estávamos em uma bela região cheia de árvores e com um clima mais quente do que eu estava acostumada, mas de certa forma agradável, e sabia que estava no Rancho do Tio Logan. Seth conferiu que todos estavam bem e rumamos para a porta da grande casa de campo. Meus primos não paravam de sorrir e de conversar sobre a experiência, e eu também estava animada! Papai bateu na porta e esperamos alguém atender, enquanto de longe eu ouvia barulho de muitas pessoas nadando. Em pouco tempo, um jovem alto e muito bonito abriu a porta, abrindo um largo sorriso quando nos viu, abraçando com carinho meus pais e meus irmãos.
- Tio Lu! Tia Mirian! Tia Celas! Tio Isaac! Seth, Luna, Griffon e Emily! Que saudades de vocês! Arte, continua linda! E Gaia....Uau! – Edward falou, enquanto olhava minha prima de cima abaixo, enquanto ela parecia prender a respiração. – E ainda trouxeram os pequenos! O Ty vai ter um ataque de felicidade! Miyako e Gabriel chegaram hoje de manhã também!
- Ah, eles foram mais rápidos que nós! – Griffon reclamou, enquanto entrava na casa.
- Teríamos chegado antes se alguém não tivesse feito uma bagunça no café da manhã! – Emily falou, abraçada a meu irmão.
- Ei, Ty! Surpresa pra você! – Edward gritou, antes de voltar a conversar com Gaia e Tia Celas. Notei que Luky o encarava com admiração também, inspirado em seu jeito de se vestir e falar. Bela estava encantada também, mas como se ele fosse um novo irmão pra ela. Mina e Luthien o olhavam alegres também e sabiam que ele era semelhante a elas: um meio-vampiro. Edward adorava crianças e elas costumavam adora-lo também, eu inclusa.
- Quem chegou? Eu não acredito! Eu sabia que vocês iam aparecer mais cedo ou mais tarde! – Ty falou, enquanto corria para falar com todos. Papai e mamãe o abraçaram longamente, enquanto ele distribuía sorrisos. Eu esperei ao lado deles e pulei no colo de meu padrinho, gargalhando, enquanto ele me levantava no colo. – Princesa do tio! Que bom que está aqui! Mamãe vai adorar ver todos vocês.
Ele e Edward nos guiaram para o quintal atrás da casa, sem necessidade, pois todos ali conheciam o Rancho com perfeição, e eu cresci nele. Quando chegamos, parecia uma festa, pois muitos membros da família estavam reunidos, todos conversando alegremente. Sempre gostei do Rancho do Tio Logan, pois é um ótimo lugar pra se divertir e rever toda a família. Notei uma pessoa que eu não conhecia, e vi que minha família também a notou, e pela aparência, imaginei que fosse a mãe do Julian, Rory. Notei que o clima da minha família ao vê-la pareceu mudar, principalmente de papai. Quando você cresce com dois meio-vampiros, você aprende a ter um sexto sentido para humores, e notei uma forte mudança no humor de papai. Os adultos pareceram tentar esconder isso, enquanto Tia Alex chegava para falar com todos. Ela pegou no colo as crianças extremamente alegre e me beijou feliz, e quando foi falar com Gaia, parecia a beira de lágrimas, ao ver como ela estava crescida. Gaia passou muito tempo com Tia Alex quando era menor e o clã teve problemas com Cadarn, e as duas se gostavam muito.
- Agora eu sinto que a família está completa! Faltavam vocês aqui! – Tia Alex falou abraçada a papai.
- Mirian e Lu, não sabem como gosto da presença de vocês! – Tio Logan falou enquanto cumprimentava todos. Levamos alguns bons minutos para cumprimentar todos. Tio Gabriel e Tia Miyako, assim como Tia Louise, Tio Remo e Tio Henri também estavam ali e ficaram felizes de ver minha família. Eu fiquei impressionada com a barriga de Tia Mi e ela riu enquanto eu passava a mão por ela.
- Bem, cadê o motivo principal de termos vindo? – Griffon perguntou, olhando em volta curioso.
- Ele está no rio, Griffon. Mas está vindo ali. – Seth falou enquanto olhava para meu amigo Julian. Ele pareceu assustado com mais pessoas, mas eu sorri para ele encorajando e ele veio correndo nos ver. Keiko, Hiro, Haley e o amigo indígena dele, Justin, estavam com ele e vieram correndo falar comigo. Ty abraçou Julian e com a mão em seu ombro sorriu para nós.
- Tio Lu, Tia Mirian, esse é meu filho, o novo sobrinho de vocês! Julian, esses são Tio Alucard, Tia Mirian, Tia Celas, Tio Isaac, Tio Seth, Tia Luna, Tio Griffon, Tia Emily, ela é irmã do papai, Gaia, Alucard Kyle (chame apenas de Luky), Mirian Isabela (chame apenas de Bela), Mina e Luthien, e Ártemis. Eles são muito importantes para mim, são nossa família também.
- Ártemis eu já conheço! – Julian falou rindo pra mim, e me abraçando com força. Ele abraçou cada um dos meus primos, e pareceu encantado quando ganhou um beijo de Gaia, assim como ficou vidrado em Mina, Luthien e Bela. – Arte, essa é minha mãe, Rory, mãe essa é minha amiga, Ártemis.
- Muito prazer, Ártemis, ouvi falar muito de você. As cartas de Minerva incluíam seu nome! – A mãe do Julian falou enquanto me beijava, sorrindo. Eu sorri pra ela, mas notei que o resto do pessoal a olhava estranho.
- Bem agora que a família inteira está reunida, gostaria de anunciar algo. – Ty falou, enquanto colocava uma mão no ombro de Julian e outra no ombro de Rory, e amplificando a voz. – Como vocês bem sabem, este é meu filho, Julian, e esta é sua mãe, Rory Montpeller. Todos sabem que não sou de enrolação, então vamos direto ao ponto. Gostaria de anunciar o nosso casamento.
Todos na casa ficaram em silêncio, principalmente Tia Mi, que parecia chocada. Olhei ao redor e notei que todos estavam do mesmo jeito, e novamente notei a mudança de humor de papai e de Seth, mas todos continuaram calados. Griffon foi o primeiro a cair na gargalhada, batendo palmas, e vi que seu sorriso era meio forçado, mas logo se transformou em verdadeiro.
- TY SEU GARANHÃO! É o noivado mais rápido que eu já vi!! Parabéns Ty! Parabéns Rory, acaba de pegar um homem em tanto! – Meu irmão falou rindo, enquanto continuava a bater palmas. Os demais começaram a bater palmas também, e começaram a se revezar para dar os parabéns. Todos queriam cumprimentar os noivos, assim como cumprimentar Liv e Julian.
Após algum tempo consegui arrastar Julian dali, assim como Liv, meus primos pequenos, Keiko, Hiro, Haley e todos os primos do Julian e da Liv. Então descobri que Ty havia conversado com os dois anteriormente e tanto Liv quanto Julian aceitaram sem muitos problemas o casamento. Fomos todos para próximo do rio, onde começamos a brincar de jogar água um no outro. Gaia, Edward, Lizzie e Ethan foram conosco para supervisionar os pequenos e notei os olhares de minha prima e de Lizzie para Edward, que pulou no rio também e brincava feliz com todos nós. Apesar da aparência de um jovem de 20 e tantos anos, Edward tem apenas 11 anos cronológicos, e se solta quando está em família. E a família estava cada vez maior!- Cuidado com a cabeça! – protegi o rosto com a mão e a goles desviou, saindo pela janela.
- Tiago Sirius! Já disse que quadribol é lá fora! – a voz da tia Gina explodiu na sala e os garotos correram – Tudo bem, Becky? Machucou você?
Fiz que não com a cabeça e ela sorriu gentil, indo atrás do filho mais velho, que agora corria pela escada com uma vassoura na mão. Estava passando a páscoa na casa do tio Harry com meu pai, meu irmão e meus tios Remo e Louise. A casa estava bem cheia, quase todos os Weasley estavam presentes e era uma quantidade absurda de criança de cabelo vermelho correndo de um lado pro outro. Rupert se misturava com eles e por muitas vezes vi a Sra. Weasley o segurar pelo braço pensando ser um de seus netos, mas o dispensando em seguida, rindo ao constatar o erro. Agora mesmo Gina Potter brigava com Tiago por quebrar um vaso e Rupert e Fred, que entraria para Hogwarts no próximo ano, assistiam de longe, sufocando risadas.
Eu estava alheia a toda aquela bagunça. Havia recebido uma carta de Nick dizendo que viria com Connor essa tarde nos visitar e trazer chocolates, já que estavam em Londres. Não queria ter ficado ansiosa daquele jeito, mas era algo que não conseguia controlar, então sentei debaixo da janela assim que o almoço acabou e observava a calçada, a espera deles. Perto das 15hs vi suas sombras se empurrando perto da cerca e levantei empolgada: eles haviam chegado.
- Feliz páscoa, Becky! – Nick abriu os braços sorridente quando sai da casa, indo de encontro a eles.
- Feliz páscoa, primo – abracei Nick feliz, pegando o ovo imenso que ele trazia na mão.
- Ei, deixa um pouco pra mim! – Connor agarrou meu braço e me puxou pra cima dele – Feliz páscoa, Becky! Não trouxe ovo, trouxe uma caixa de bombom, achei mais bonitinho.
- Podiam ter trazido um único bombom que eu ia gostar – respondi sorrindo, ainda abraçada a Connor, que não me soltava – Vamos entrar, está a maior confusão lá dentro. Dominique furou a orelha com uma agulha pra ficar igual ao pai e a Sra. Weasley está quase parindo o oitavo filho! – narrei a confusão e eles riram, se apressando em entrar.
Assim que entramos, um par de mãos agarrou Nick pela camisa e o puxou para o canto. Era o tio George, que o livrou da linha de tiro bem a tempo, pois uma colher de pau voou naquela direção e se chocou contra a porta. Connor olhou assustado e me puxou para onde Nick estava abrigado, olhando da colher de pau no chão para a discussão no meio da sala. A Sra. Weasley gesticulava enquanto brigava com o filho mais velho e a esposa, que tentava conter o sangramento na orelha do filho, e acabou deixando o objeto escapar.
- Não precisa ficar assustado, rapaz – tio Remo viu a expressão de choque de Connor e riu – Reunião dos Weasley sem uma briga não é reunião dos Weasley!
- Sim, é verdade – tia Louise concordou, também rindo – Daqui a pouco tudo se resolve, o segredo é não se envolver.
- Gente, essa discussão vai varar a noite se tiver platéia, então acho melhor todo mundo ir lá pra fora, sabe? – tia Hermione atravessou a sala rebocando a filha mais velha e chamando Alvo com a mão – Olá meninos, chegaram bem?
- Mamãe falou em corte de cabelo, salvem-se enquanto é tempo! – tio Ron passou apressado com Lílian, Louis e Hugo no colo, apontando para Nick e Connor.
Os dois se olharam alarmados e como ninguém riu, levaram a sério e levantaram depressa, saindo atrás dele. Em menos de um minuto a família toda se concentrava no quintal, deixando dentro de casa apenas a Sra. Weasley, Gui, Fleur e Dominique. Tio Harry tomou a goles da mão de Tiago e num instante haviam dois times formados para jogar quadribol, sendo que fiquei no mesmo time que tia Gina, tia Louise, tia Morgan, tia Angelina e Lizzie, meu pai era o único homem do nosso lado. E foi uma vergonha pro time formado só por homens, porque depois de meia hora tia Gina capturou o pomo bem debaixo do nariz do tio Harry e ganhamos de lavada.
- As profissionais vão deixar o campo pras garotinhas jogarem um pouco – tia Gina provocou, atirando a goles de volta para o tio Ron. Ele fez uma cara feia e todo mundo riu.
- Não vai jogar mais, Becky? – Connor perguntou vendo que também estava saindo.
- Não, já cansei. O quadribol na escola já exige demais de mim – brinquei sentando no banco do gramado.
- Pena. Eu vou lá um pouco, depois venho fazer companhia pra você – disse piscando e montando outra vez na vassoura.
- Senti um clima no ar ou foi a minha imaginação? – tia Louise sentou do meu lado e ri.
- Só se for da minha parte, porque da dele... – revirei os olhos tentando soar indiferente, mas não colou muito.
- Ih, o caso requer um parecer técnico de quem entende disso – ela riu e estalou os dedos, olhando pra trás – Gina, Hermione, venham aqui um instante!
- Onde é o fogo? – tia Gina sentou do meu lado e tia Hermione do lado da tia Louise, todas me encarando como se já farejassem a fofoca.
- Rebecca gosta de um menino que não faz nem idéia do que se passa – ela informou as duas e tia Hermione fez uma cara de quem já sabia tudo.
- Ah, o menino que veio com o Nicholas, claro! – disse certa e tia Gina balançou a cabeça, entendendo – Notei que ele nem desconfia mesmo que você gosta dele.
- E como você sabia que eu gosto dele? – perguntei espantada.
- Porque está escrito na sua testa! – tia Gina deu um tapa leve na minha testa e ri um pouco sem graça.
- Ok, então o que vocês sugerem que eu faça? – perguntei desistindo de negar e devo ter soado um pouco desesperada, porque as três riram.
- Ignore-o – tia Hermione falou decidida e as duas concordaram com a cabeça.
- Eu não deveria mostrar, sei lá, talvez um pouco de interesse? – disse confusa.
- Ah minha afilhada querida... É tão jovem, ainda tem tanto o que aprender... – tia Louise agarrou minha cabeça, alisando meus cabelos enquanto ria.
- Está nítido que você gosta dele, mas se ele não nota, então faça com que seja notada – tia Gina se ajeitou no banco e me encarou firme – Sempre gostei do Harry, desde quando ainda nem o conhecia, mas demorou até ele perceber isso. E sabe quando ele começou a me notar? Depois que Mione me aconselhou a esquecer ele e seguir a minha vida, conhecer outros garotos, não ficar presa a esperança de que um dia ele talvez fosse olhar pro lado e ver que eu era uma garota bonita.
- Exato, e foi instantâneo! – tia Hermione riu ouvindo tia Gina falar – Harry de repente passou a sentir um ciúme ridículo da Gina, até que tomou coragem e a agarrou no meio do salão comunal da Grifinória!
- Ele não precisa me agarrar no meio do salão comunal cheio de gente, bastava perceber que gosto dele.
- Então esqueça que ele existe e toque sua vida! – tia Louise aconselhou – Você é linda, tenho certeza que muitos garotos de Hogwarts adorariam ter uma chance de te conhecer melhor.
- Ron também não se tocava que eu gostava dele – tia Hermione falou outra vez, parecendo indignada – e pior, ele não se tocava que ELE gostava de mim também! Fiz o mesmo que Gina, embora não com a mesma empolgação, e de uma hora pra outra um bicho mordeu ele e Ron passou a ser até mais gentil comigo. Era engraçado até, sabia que ele estava seguindo uma espécie de cartilha pra me conquistar, mas fiz um pouco de jogo duro e deixei-o continuar, queria ver até que ponto ele iria com aquilo – ela falou divertida e rimos.
- É, vocês tem razão, vou deixar Connor de lado e arrumar um namorado que me mereça – falei decidida e elas aplaudiram animadas, rindo.
Não seria fácil simplesmente ignorar que ele existia, mas estava mesmo cansada de não ser notada. Tinham muitos garotos legais em Hogwarts com quem adoraria sair e era exatamente isso que ia fazer. E se ele gostar de mim nem que seja um pouco, vai acordar e correr atrás do prejuízo. Só espero que isso não leve muito tempo, ou pode acabar sendo tarde demais.
If you just realize what I just realized
That we'd be perfect for each other
And we'll never find another
Just realize what I just realized
We'd never have to wonder
If we missed out on each other, now
Colbie Caillat – Realize
- Senhorita – ouvi um barulhinho no meu ouvido, mas ignorei – Senhorita.
O barulhinho voltou. Me mexi na cama incomodada, abraçando o travesseiro e tapando o rosto com ele. Ouvi o tal barulho mais algumas vezes, até que senti um dedo fino e gelado tocar meu ombro. Saltei da cama gritando e me agarrei no cortinado, arrancando o do lado esquerdo. O pano verde caiu por cima de mim e descobri só a cabeça, dando de cara com um elfo encolhido do lado da cabeceira da cama, a mão tremula segurando um envelope.
- O que foi? O que aconteceu? – perguntei assustada, nunca um elfo da escola veio me acordar.
- Chegou uma carta para a senhorita Lupin – o elfo estendeu a mão ainda tremula e peguei o envelope – A coruja deve ter recebido instruções para não desistir até que a carta chegasse ate a senhorita – e estendeu a outra mão, com marcas de bicada de coruja.
- Ok. Obrigada – falei ainda um pouco aérea e o elfo desapareceu.
Virei o envelope para ver o remetente e tinha a letra da Haley, com um recado de que só abrisse a carta com JJ do meu lado. Ainda demorei enrolada na cortina, pensando no que deveria fazer, até que consegui assimilar as coisas e levantei. Calcei os chinelos e sai de pijama mesmo do dormitório, indo até onde JJ ainda dormia, no dormitório dos meninos.
- JJ, acorda – sacudi meu amigo na cama. Ele resmungou alguma coisa e cobriu o rosto com o cobertor – Sai da cama, anda! – puxei a coberta com força e ele rolou pro lado, se segurando para não cair.
- O que foi? Quem morreu? – disse mal humorado, olhando para o relógio na parede – São 9 horas da manhã!
- Haley mandou uma carta pra nós dois, só posso abrir com você junto, então sai daí porque estou curiosa!
O mau humor dele passou na mesma hora, atiçado pela curiosidade de saber o conteúdo da carta. Se livrou das cobertas apressado e sentamos na cama, rasgando o envelope. Não era muito grande, mas a cada linha, não sabíamos se riamos ou se ficávamos chocados. Ela contava que o corvo havia aparecido no rancho dizendo que era filho do tio Ty. E no fim das contas, era mesmo. Tinha mais algumas linhas com queixas sobre o amigo dele, Justin, mas estávamos chocados demais com a historia do tio Ty para prestar atenção.
- Uau! Ele é filho do ídolo dele, que doido isso – JJ comentou com assombro.
- Ele deve estar nas nuvens, não? E tonto, com aquele monte de gente que deve ter se apresentado como parente – e rimos, imaginando Julian conhecendo toda a família McGregor de uma vez só – Cadê o esquizofrênico? Decidiu ir pra casa? – falei apontando para a cama vazia no canto do quarto. Dos meninos do primeiro ano, só JJ e Sheldon haviam ficado na escola.
- Sei lá, nem vi sair. Mas ele acorda muito cedo, deve estar jogando xadrez de bruxo sozinho por ai, ou lendo alguma coisa em grego.
- O que vamos fazer hoje? – perguntei desinteressada no que Sheldon podia estar fazendo – Agora estou totalmente desperta e não vou conseguir mais dormir!
- É, nem eu. Vamos dar uma olhada no corredor do sexto andar, quase não vamos lá.
- Ótima idéia. Vou trocar de roupa, espero você no salão comunal pra gente tomar café e depois vamos pra lá.
Voltei ao meu dormitório para trocar de roupa e encontrei JJ de volta, seguindo para o salão principal. Poucos alunos haviam ficado na escola naquela semana. A maioria eram alunos do sétimo ano desesperados com os N.I.E.M.s, sendo raramente vistos em outro lugar senão a biblioteca. Tomamos um café rápido e sem tumulto pela primeira vez, e deixamos o salão rumo aos corredores do sexto andar. Sempre passávamos rápido pelo corredor para chegar ao sétimo, mas nunca chegamos a parar nele e olhar ao redor.
- Eu vejo tantas portas, mas no cronograma da escola diz que as únicas aulas que tem aqui são Runas Antigas e Estudo dos Trouxas – JJ comentou apontando para as portas espalhadas pelo corredor.
- Eca, não pretendo estudar nenhuma delas – fiz uma careta imaginando uma aula de Runas e ele riu.
- Que barulho é esse? – JJ parou de andar de repente, olhando de um lado para o outro – Não está ouvindo? Está vindo dali...
Ele apontou para o final do corredor e saiu andando até lá. Fui atrás dele e JJ empurrou uma porta pesada, permitindo que ouvisse o barulho que só ele estava ouvindo antes. Entrei atrás dele na sala e naquele momento eu percebi que me formaria em Hogwarts sem conhecer tudo sobre o castelo. Era uma sala cheia de televisões e acoplado em cada uma delas tinha um videogame. Ela estava vazia, exceto por uma única pessoa que sequer notou nossa entrada. Sheldon estava agarrado a um controle, vidrado em uma das TVs enquanto uma barulheira infernal de tiro ecoava pelo corredor. Fechei a porta depressa e JJ caminhou até ele, estalando os dedos na sua cara e o tirando do transe.
- Bom dia, Sheldon. O que é isso aqui? – JJ perguntou tão chocado quanto eu.
- Uma sala de videogame, o que mais parece ser? – Sheldon respondeu pausando o jogo e nos encarando.
- Desde quando Hogwarts tem uma sala de videogame? – perguntei.
- Desde 2008, quando a diretora McGonagall aceitou a sugestão do professor O’Shea de inovar a escola e acompanhar as tecnologias trouxas – ele começou a explicar – Não funciona sempre, somente de sexta à noite até domingo à tarde, e nos feriados.
- Que demais... O que você está jogando? – JJ já se animou, sentando do lado dele.
- Halo 3.
- Legal! Posso jogar? – ele perguntou ansioso – Meu irmão tem um videogame, sempre jogo com ele! – e Sheldon estendeu um controle a ele, mas meio que a contragosto.
- Também quero jogar – sentei no sofá ao lado de JJ – Meu irmão também tem um videogame, mas nunca tive paciência de jogar com ele. Como é esse jogo? Alguém pode me resumir rapidinho? Qual que atira?
-É, boa idéia, resume pra ela, Sheldon – JJ encarou ele, esperando.
- Não. A roda foi uma boa idéia, relatividade foi uma boa idéia. Isso é uma noção, e uma das mais podres.
- Por quê? – perguntei cruzando os braços.
- Por quê? – ele repetiu, sorrindo idiotamente - Oh, Clara, Clara, Clara.
- Oh, o que, o que, o que? – disse começando a me irritar.
- Isso é uma simulação de batalha muito complexa com uma curva de aprendizagem muito íngrime. Há armas pesadas, veículos e estratégias para seguir sem mencionar uma estória de fundo intrigante.
- Maneiro. Explodi a cabeça de quem? – perguntei com um controle na mão.
- A minha – Sheldon respondeu com cara de pânico.
- O jogo é no espaço e temos que matar alienígenas, enquanto tentamos descobrir o segredo de Halo – JJ resumiu a história do jogo pra mim.
- Tá legal, já entendi. Se preparem, rapazes.
- É o único jeito de jogar com o time completo – JJ comentou com ele, rindo.
- Sim, mas o time vai sofrer pela falta de experiência dela, e sem mencionar o fato...
- Sheldon, lá vai sua cabeça de novo – atirei novamente contra o jogador dele, que tinha acabado de voltar à vida.
- Certo, não é de boa esportiva atirar na cabeça de alguém que acaba de "renascer". Tem que dar uma chance para... – ele começou a me passar sermão, mas explodi outra vez seu jogador – Ah, qual é!
Sheldon sentou correndo no sofá, reassumindo o controle e salvando seu jogador das minhas granadas. O jogo, que antes era só ele comandando a equipe de 3 jogadores, agora era um time desfeito, onde cada jogador estava por contra própria e devia derrubar o oponente para descobrir sozinho o segredo de Halo. E eu, com toda minha falta de experiência com videogames, estava dando um banho neles.
- Joshua, Joshua! – Sheldon gritou desesperado, depois de mais de uma hora de jogo aonde ele ia perdendo forças a cada minuto – Ela me encurralou. Me dê cobertura!
- Cubram isso, otários! – falei totalmente envolvida no jogo, me tornando até um pouco agressiva.
- Clara, você está pegando fogo! – JJ falou empolgado, vendo tudo explodir na tela.
- É, e o Sheldon também! – respondi na mesma empolgação, rindo alto.
- Tá legal, já chega – Sheldon largou o controle na mesa e levantou revoltado – Não sei como, mas ela está roubando. Nenhuma menina é tão bonita e tem habilidade no videogame.
- Espere, Sheldon, volte – ainda rindo, chamei sua atenção antes que ele abrisse a porta da sala – Você esqueceu algo.
- O que?
- Essa granada de plasma – apertei o botão novamente e o jogador dele foi pelos ares. JJ se jogou para trás, rindo – Olha, está chovendo seus pedaços.
- De risada agora, mas espere só até você precisar de suporte técnico em algum outro jogo – disse irritado e saiu da sala, batendo a porta.
- Nossa, ele é meio que um mal perdedor, não é? – comentei ainda rindo com JJ
- Hiro disse que ele também é um vencedor bem desagradável.
- Bem, foi legal – interrompi o jogo e coloquei o controle na mesa – Mas sem o Sheldon para irritar não vai ter mais graça. Vamos fazer outra coisa?
- Acho que minha bola ainda está cheia, quer jogar um pouco lá fora?
Topei a idéia e saímos da sala de jogos, deixando ela vazia. O dia estava bonito e embora o sol parecesse forte, não estava calor. Passamos o resto da manha e boa parte da tarde jogando futebol nos terrenos do castelo e quando a tarde começava a cair, fomos fazer uma visita a Hagrid. Ele adorou ter companhia e nos contou várias histórias da época que nossos pais eram alunos de Hogwarts, nos levando de volta ao castelo quando já havia escurecido. Nunca achei que fosse gostar tanto de passar um feriado presa na escola. Hogwarts era mesmo uma caixinha de surpresas.
Enquanto Ty, se resolvia com a mãe do Julian, minha mãe resolveu deixar os novos visitantes à vontade. Quando ele viu o tanto de gente no quintal de casa, se espantou, e minha mãe disse:
- Estamos recebendo alguns poucos amigos pelo feriado de Páscoa...Acredito até que você já conheça alguns da escola. - e ele acenou para John e Liz, que estavam junto com os pais, tio Carlinhos e tia Morgan. Ethan estava no palco ajudando Edward a arrumar os instrumentos, junto com meu primo John.
- Poucos?? Isso parece uma festa. - ele disse e ela riu:
- Mas é só uma parte do que é a nossa família, querido. Minha enteada Emily, a avó do Ty, e alguns primos e tios não estão aqui, senão a festa estaria completa. Está com fome? Não sei do que gosta, mas basta pedir que arranjaremos. Aliás, se eu não perdi o jeito, vocês devem adorar sanduíches, batatas fritas, sorvete, as mesas estão bem abastecidas, fiquem à vontade, não são estranhos aqui.
- Eu como de tudo, não precisa se preocupar, senhora Warrick. - Julian respondeu a minha mãe e ela parecia encantada e sempre procurava tocá-lo no ombro ou no rosto.
- Mãe, fica fria, Julian come de tudo mesmo. Até verduras, ugh! - eu disse, enquanto ela se afastava sorrindo para pegar coisas para eles.
- Pessoas educadas costumam comer de tudo. - provocou Justin baixo.
- Eu não sou mal educada, Papa-Capim. - respondi azeda e Justin, continuou:
- Não parece, miss Milho, mas no seu caso você está mais para sabugo. - bufei e queria voar no pescoço daquele índio folgado.
Julian colocou a mão no braço dele e pediu:
- Segura a onda, Tonto. Haley é minha amiga, e nós estamos em menor número aqui. - e para enfatizar o que Julian disse, meu irmão Ethan se aproximou junto com Edward, e pareciam zangados:
- Quem é você e porque está perto da minha irmãzinha? Quer morrer cedo?- e estralaram os dedos.
- Ethan!- eu disse vermelha, enquanto ele e Edward gargalhavam, e eu os apresentei:
- Este palhaço é meu irmão Ethan, e o outro é Edward Langston, é da família também. - Notei que o tal Justin, arregalou o olho admirado, enquanto Julian, dizia de queixo caído:
- Você é o vocalista do ‘Tears of Blood’. Eu conheço todas as musicas. Sou doido para ir num show, mas minha mãe diz que ainda não tenho idade, me dá um autógrafo?- ele disse e Edward respondeu simpático:
- Dou o autógrafo sim, e se o preguiçoso do Ty, sair de dentro de casa, você pode ver um show hoje. Ty, vem logo, temos fãs esperando aqui. - ele falou alto, e nesta hora Liz se aproximou e avisou:
- Meu pai diz que vai abrir a noite do karaokê, se vocês demorarem a começar. Oi Julian, tudo bem? Oi amigo do Julian. - e ela sorriu para o amigo do Julian que tinha os olhos grudados nela, como se nunca na vida tivesse visto uma garota. Não demorou e Ty saiu de dentro de casa, e se juntou a nós dizendo:
- Sua mãe já sabe que vocês estão aqui e não vai chamar a policia para procurá-los.
- Ela está vindo me buscar, não é? Deve estar uma arara. - Julian disse preocupado.
- Consegui convencê-la a deixar vocês passarem a noite aqui, amanhã conversaremos melhor. Espera só mais um pouco Edward, preciso falar com a Liv, por uns minutos.
Meu irmão foi até onde sua filha de 6 anos, Olívia que estava nos ombros do meu pai, e a pegou no colo para conversar. Deve ter contado sobre o Julian, porque na hora meu pai e ela olharam para o garoto com expressões diferentes: papai sorria e logo procurou minha mãe com o olhar e ela sorriu de volta, já Olívia deu para perceber o bico que ela fez e o olhar de raiva dela para o Julian.
Ty tentou abraçá-la, mas ela não quis conversa, pulou no chão e saiu correndo. Meu pai colocou a mão no ombro dele, dando apoio e disse algo antes de sair atrás dela. Minha sobrinha nos últimos tempos, só ouvia o vovô Logan, como ela o chamava, embora meu pai só fosse o padrasto do Ty, e até o obedecia. Meu irmão voltou para perto de nós e disse:
- Hoje temos uma festa para aproveitar certo, filho?- e nesta hora Ethan e Edward olharam do Julian para o Ty e ele disse ampliando a voz magicamente com a varinha:
- Pessoal, tenho algo importante a dizer e vocês sabem que não sou do tipo que enrola para dar noticias sejam boas ou não. (as pessoas riram e ele continuou).
- Vocês conheceram o Julian, o amigo da Haley, sei que alguns de vocês já devem estar se perguntando de onde ele herdou este ar bonitão e inteligente, tão familiar, não é? - ( e Julian, ficou embaraçado, mas Ty, continuou com a mão no ombro dele) - Muito bem, ele herdou isso de mim, que sou o pai dele, e descobri isso hoje, portanto vamos celebrar a chegada de mais um McGregor no bando.
As pessoas, num primeiro momento, ficaram espantadas, mas depois começaram a rir e a se aproximar do meu irmão dando os parabéns e Julian, era envolvido num mar de abraços e beijos estalados. E como o meu pessoal é ‘um pouco’ exagerado, os abraços e beijos se estendiam ao amigo dele, Justin.
- Ty, você podia ter sido mais sutil não?- cobrou mamãe rindo e ele respondeu:
- Melhor falar logo, do que ficar enrolando, o garoto é meu filho e quanto mais cedo a família souber e o acolher melhor. - e vi que meu irmão embora sorrindo, trocou olhares preocupados com minha mãe. Acho que o telefonema para a mãe do Julian foi mais tenso do que Ty quis demonstrar.
Ele foi para o palco, e se sentou atrás da bateria, Edward, pegou a guitarra e John, estava no baixo e nosso primo Declan, assumiu os teclados.
Eles tocaram algumas músicas conhecidas e todo mundo dançava e cantava animado. Até que Edward anunciou a música nova, e começou a cantar com sua linda voz, com muitos acordes de guitarra e bateria acompanhando.
… Where I was, I had wings that couldn't fly
Where I was, I had tears I couldn't cry
My emotions, frozen in an iced lake
I couldn't feel them until the ice began to break
I have no power over this, you know I'm afraid
The walls I built are crumbling, the water is moving,
I'm slipping away....
- Não sabia que ele tocava bateria deste jeito, que maneiro. - disse Julian empolgado vendo meu irmão tocar. E dava para ver que Ty estava realmente se divertindo naquele palco.
Ao final da musica, todo mundo aplaudiu e gritou muito, se dependesse da família, seria um novo sucesso. Julian e Justin, estavam super empolgados, porque depois do show, Edward disse que daria umas camisetas da banda para eles, e Ty deu a cada um uma baqueta, e parecia que eles haviam ganho na loteria, tamanho o sorriso.
Como tudo ficou um pouco mais calmo, comecei a apresentar a tropa que já estava por ali e muito curiosa para conhecer Julian, e seu amigo Justin.
- Este é Sam, e seu irmão Jefrey McBride, disse mostrando dois loiros sardentos, já segurando a corda que usavam para treinar laçadas, era a brincadeira favorita deles, já que queriam disputar rodeios, quando crescessem; estes são Daryl e Oliver, filhos do primo John, o que tocou o baixo, a mulher dele é a Annia, que está ali perto do palco, controlando as gêmeas de 6 anos, Valerie e Violet.
Nesta hora as primas Suzannah e Samantha, as gêmeas de 8 anos, filhas do Cody e da Amber se aproximaram e perguntaram sérias para Justin:
- Olá primo! Você joga futebol? Ou é perna de pau como o tio Ty??- rimos porque Ty as segurou pelo pescoço, fingindo estar brabo, enquanto Julian, respondia:
- Jogo um pouco sim, mas o Justin é melhor. Já ganhou até campeonato na escola dele. - e elas sorriram para Justin perguntando:
- É contra jogar bola com meninas??
- Não, desde que elas não chorem quando eu marcar. Sou centroavante. - ele disse presunçoso. E elas deram sorrisinhos maldosos enquanto piscavam para mim:
- Não se preocupe, não vamos chorar.
Fiquei quieta, o que o tal Justin não sabia é que estas minhas primas, jogavam futebol na liga infantil. Eram laterais esquerda e direita, e jogavam muito. Ele até podia ser bom, mas eu botava fé nelas. Queria ver aquele garoto irritante suar um pouco. A minha prima Mary se aproximou e após cumprimentar os meninos sugeriu:
- Chamem o Dan, ele precisa conhecer o primo e o novo amigo da família, e se ele não jogar um pouco com vocês vai ficar reclamando depois. - e elas correram para dentro de casa para tirar o filho dela, Daniel, de 9 anos, da frente do vídeo game.
Olívia, ao ver que todos os primos estavam conversando e brincando com Julian, resolveu se aproximar, e mesmo de um jeito tímido acabou brincando conosco, mas recuava quando Julian chegava muito perto. Iria demorar um pouco para ela aceitar o irmão.
Durante o jogo, Ty, Ethan e Declan, se juntaram para brincar e enquanto eu observava Ty perder a bola para Julian, e Justin rir incentivando o amigo a marcar, percebi que o fantasma que eu havia visto na estação acompanhando o Julian, estava lá olhando-os, fiquei curiosa em conhecer sua historia, então caminhei na direção dele.
Quando ele percebeu meu olhar em sua direção, ele me olhou de volta, acenou, e desapareceu, antes que eu me aproximasse.
Tenho a impressão que ele queria ter certeza de que Julian ficaria bem. E se depender da acolhida da minha família, ele ficaria muito bem, afinal nosso lema é: ‘Nós cuidamos dos nossos’.
N.Autora: trecho da música, Tears of the Dragon, Iron Maiden
- Tem certeza que não quer ir conosco, Clara? – perguntei pela enésima vez a minha prima.
- Pode vir com a gente, Clara, não tem problema – Connor colocou a mochila na carruagem e desceu outra vez – A perspectiva de ter o castelo só pra gente é convidativa, mas na pratica não é tão bom assim.
- Obrigada pelo convite, mas vou ficar aqui – Clara sorriu e me abraçou – E não vou ficar sozinha, JJ também não vai pra casa. Tragam um ovo de páscoa pra mim, pode ser?
- Bom, você é quem sabe – beijei sua testa e entrei na carruagem com Connor – Pode deixar que trago o maior ovo que encontrar. E qualquer coisa, é só chamar pelo espelho.
Ela assentiu com a cabeça e acenou se despedindo quando a carruagem se moveu e nos levou pela estrada de terra até Hogsmeade. Estava indo passar o recesso de páscoa na casa de Connor, já que meus pais estavam no Caribe aproveitando o sol e não tinha sido convidado. E como Gabriel disse que ia trabalhar no feriado, não me restou opção senão ir para a casa do meu melhor amigo. E a família dele era ótima, sempre me faziam se sentir muito bem vindo.
A viagem de trem de volta a Londres foi tumultuada. Alguns veteranos decidiram zoar com a cara dos calouros e contaram que um dos vagões do trem estava transportando dementadores, desafiando os novatos a irem lá conferir. Alguns mais valentes topavam o desafio e quando abriam à porta da cabine, tremendo dos pés a cabeça, os veteranos que estavam escondidos dentro dela com capas pretas lançavam um jato de fumaça de extintor de incêndio na cara deles. Os coitados saiam quase congelados e acreditavam que eram mesmo dementadores, que ao abrirem a porta todo o frio que fazia lá dentro escapava. A todo instante passava um aluno do primeiro ano correndo pelo nosso vagão, gritando que havia ficado cara a cara com um dementador.
- Estação de King’s Cross – Otter repetiu alto o letreiro que lia pela janela – Chegamos!
- Até mais, pessoal – Connor e eu apertamos a mão de Otter e Nigel – Amanha nos falamos para combinar alguma coisa essa semana.
- Ei Connor, fala pra sua mãe que vamos lá comer aquele pudim que ela faz – Nigel brincou enquanto desembarcávamos.
- Vou falar, pode deixar – Connor riu e apontou pro outro lado da plataforma – Micah!
Olhei na direção que ele apontava e vi seu irmão mais velho, Micah, parado acenando. De mãos dadas com ele tinha um menino de cabelos castanhos e fortes olhos azuis de no máximo 5 anos, que acenava animado. Fomos até eles e o garotinho saltou do chão direto pro colo de Connor, o abraçando apertado. Era Eduardo, um dos trigêmeos do seu irmão.
- Que saudade, tio! – o menino falou ainda agarrado ao pescoço dele.
- Também senti saudades, Dudu – Connor respondeu alisando suas costas – Oi mano! Não sabia que vinha passar a páscoa em Londres!
- Quisemos fazer uma surpresa. Olá Nick, tudo bom? – disse estendendo a mão.
- Tudo ótimo e faminto!
- Então vamos embora, Andrea está esperando vocês para servir o jantar.
Deixamos a estação com Micah e Eduardo e seguimos de carro até West Kensington, onde Connor morava. Seus pais já estavam nos esperando, junto com a esposa do Micah, Evie, e as suas outras duas filhas de 5 anos, Ella e Eva. Pelo que parecia, a semana de folga seria movimentada.
A semana na casa de Connor passou num piscar de olhos, mas conseguimos fazer bastante coisa. Encontrávamos Otter e Nigel quase todo dia para andar a toa pelas ruas de Kensington, levamos Eduardo ao Old Trafford para assistir a um jogo do Manchester United contra o Arsenal e passamos um dia inteiro no Beco Diagonal reabastecendo os bolsos nas Gemialidades Weasley. Clara havia feito uma encomenda absurda para mim, pedia quase a loja inteira, incluindo uma caixa de Feitiços Patenteados para Devanear. Tio George, que atendia na loja no dia que estávamos lá, deduziu que a extensa lista era para ela e vetou a compra da caixa de feitiços. “Ela vem tentando comprar isso há meses, mas é proibido para menores de 17 anos, não posso arriscar perder o estoque se o Ministério descobrir”, ele explicou quando não tive alternativa senão confessar que eram para Clara.
Era o último dia de folga, voltaríamos para Hogwarts domingo de manha, e ainda dormia no chão do quarto quando uma gritaria me fez saltar assustado, chutando a cômoda no pulo. Connor também acordou com os gritos e tropeçou no lençol, caindo por cima de mim. Empurrei-o pro lado sem delicadeza e me livrava das cobertas para poder levantar, mas a porta do quarto abriu e descobrimos o que estava gerando aquela confusão. Dois meninos loiros de olhos verdes entraram correndo e pulando em cima de mim. Afastei os dois rindo e agarrei suas orelhas, como sempre fazia, sem apertar para não machucar. Eram Aaron e Aidan, os gêmeos de 5 anos do meu primo Chris.
- O que estão fazendo aqui? – perguntei sem entender porque eles haviam invadido o quarto.
- Viemos passar o dia com você, primo! – Aidan respondeu feliz e Aaron concordou com a cabeça.
- Bom dia, seus preguiçosos – alguém bateu na porta aberta e vi que era Chris – Já são 11h, isso é hora de estar dormindo?
- Dá um desconto, Chris – falei bocejando, levantando do colchão – Chegamos quase 5 da manha em casa.
- E o que estavam fazendo na rua até essa hora?
- Estávamos em Covent Garden – Connor explicou levantando do chão e apertando a mão de Chris.
- Bom, chega de dormir. Vamos passear pela cidade com as crianças naqueles ônibus de turismo e elas fazem questão da presença de vocês – Chris falou rindo e puxou os gêmeos pelas mãos – Vamos meninos, deixem eles acordarem direito e trocarem de roupa.
Chris saiu do quarto com os gêmeos e fechou a porta. Ainda fiquei um tempo sentado na cama tentando focar no que deveria fazer, mas depois de alguns minutos levantei e fui direto para o banheiro lavar o rosto e escovar os dentes. Nada como passar o dia inteiro rodando a cidade num ônibus lotado de turistas tagarelas para acabar com o sono.
- Não vou subir nesse negocio ai não – Evie comentou com Micah
- Mas não tem perigo, meu amor – Micah respondeu achando graça – É seguro.
- Eu não quero ir mamãe, estou com medo – Ella agarrou a mão de Evie, assustada.
- Não se preocupe, a mamãe também não vai a lugar algum – Ela sorriu para a menina, que se acalmou um pouco – Vou ficar aqui com a minha filha, podem ir vocês – disse decidida e eu ri.
Estávamos no pé do London Eye, uma gigantesca roda-gigante as margens do Rio Tâmisa. Do alto dela era possível ver boa parte da cidade e a noite a vista era ainda mais bonita, mas os seus 135 metros assustavam. Eduardo, Aaron, Aidan e Eva estavam animados, mas Ella e Lucy, filha de Wes, o outro irmão de Connor, não pareciam empolgadas. Evie e Shannon, esposa do meu primo, decidiram ficar no chão com as meninas enquanto os outros subiam, e como já havia andado na roda 3 vezes, fiquei também.
- Olha o Dudu colado no vidro! – Lucy apontou para o primo, rindo.
- Ai meu Merlin do céu, isso é tão alto... – Evie comentou aflita, apertando a mão de Ella – Cadê o Micah que não estou vendo perto do meu filho??
- Calma Evie, ele está do outro lado com a Eva, Chris e Wes estão perto dos meninos – Shannon respondeu rindo, apertando os olhos para enxergá-los de longe.
- E não tem perigo, Evie – falei também rindo – Aquele vidro é grosso, não tem como de atravessar ele. Nunca teve acidente no London Eye. E se tiver, tem dois médicos lá em cima e um auror... – comentei prendendo o riso quando ela me olhou atravessado.
- Obrigada, Nicholas, agora estou tranqüila.
- Disponha – e ela acabou rindo.
- Nick, seu pai comentou que você não escolheu ainda uma carreira pra seguir, é verdade? – Shannon perguntou me encarando.
- É sim – falei meio desanimado – Tentei de tudo, mas não consigo ver nada que me interesse de verdade.
- Nunca pensou em ser auror como ele? – Evie perguntou prestando atenção na conversa.
- Acho que não sirvo pra isso – disse dando de ombros – Olhe pra mim, não vou conseguir sobreviver na academia. Não sou um bom atleta pra agüentar todo o esforço físico exigido.
- Você não precisa estar em forma para ser um bom auror – Shannon me corrigiu, espantada com o que disse – Alastor Moody era uma bolha ambulante e mesmo assim foi recordista em capturar bruxos das trevas. Fiquei sabendo que você é um ótimo aluno em transfiguração e também em DCAT e Feitiços.
- Não sou tão bom assim, minhas notas não são qualificadas para tentar carreira como auror.
- Porque você é preguiçoso, Chris já me passou sua ficha – ela rebateu – Quando se esforça, sei que se sai bem nas matérias.
- Onde está querendo chegar?
- Micah e eu estamos montando um curso de um mês que poderia substituir as provas para se passar para a academia. Não adianta um aluno ter as notas mais altas em poções e DCAT na escola, mas chegar à academia e não conseguir sequer passar num treinamento simples de Vigilância e Rastreamento.
- Também acho, em Durmstrang os alunos que queriam entrar para a academia de aurores passaram por um curso também e pularam as provas oficiais – Evie completou.
- Exato, foi assim que Micah e eu entramos para a academia, mas não adianta ter apenas em Durmstrang. Enfim, estamos organizando isso, mas um curso mais rápido que o de lá, e McGonagall nos autorizou a testá-lo com os alunos de Hogwarts. Não estaria interessado em entrar para o grupo? Se você se sair bem nele, estará na academia e garanto que sobreviverá aos três anos de preparação.
Fiquei encarando Shannon por alguns segundos, pensativo. Não tinha uma carreira a seguir decidida e estaria mentindo se dissesse que nunca pensei em ser auror, como meu pai. É uma profissão atrativa, sem duvida, então por que não tentar?
- Ok, conte comigo! – estendi a mão e ela sorriu animada, apertando – Quando começa?
- Vamos a Hogwarts ainda essa semana divulgar, começa já na próxima semana. Bem vindo a bordo!
Shannon estava tão animada que me puxou para um abraço, sem conseguir parar de sorrir. Talvez ela tivesse razão, eu poderia sim ser um bom auror. E sem sombra de duvidas, papai ficaria extremamente feliz com isso. Mas o que mais o deixaria feliz não era o fato de estar considerando seguir a carreira que ele queria, mas o fato de que eu estava feliz com a perspectiva de me tornar um auror.
Quando desci expresso 9 ³/4, para voltar para casa no Texas, encontrei minha tia Angelique me esperando. Ao sair da estação não contive o grito de alegria quando encontrei meu amigo Justin, esperando com meu tio Lucien. Ele ficaria na minha casa pelo feriado, enquanto seu pai e sua irmã iriam estar na reserva indígena. O meu feriado já estava começando bem.
- Tem certeza que você pode mexer ai? - disse Justin, quando subi num banquinho para mexer no alto do armário de minha mãe.
- Claro, acho que mamãe guardou as figurinhas por engano nas coisas dela, ela estava com uma destas caixas no dia que eu separei a figurinha da Moran para você. - eu respondi.
- Mas toma cuidado, se você quebrar alguma coisa...- bastou ele dizer isso para que eu me desequilibrasse e sem querer começasse a cair, esbarrando as mãos sobre as caixas e várias delas caíram em cima de nós, inclusive uma que eu nunca tinha visto antes. Começamos a rir, enquanto eu estava esparramado no chão e as caixas espalhadas a meu redor.
- Ainda bem que sua mãe não está em casa. Ou ela ia nos matar. - Justin comentou começando a arrumar a bagunça.
- É, graças ao nosso apetite, nos livraremos de uma bronca. E você sabe que ela demora quando vai ao mercado. - respondi.
Comecei a ajudá-lo quando uma foto caída de dentro de um álbum me chamou atenção. Era uma foto de minha mãe sorrindo feliz, enquanto era abraçada por um rapaz, de cabelos negros, aos pés da Torre Eiffel. Não era um cara qualquer, ela estava abraçada com o Ty McGregor, sabia que era ele, porque já tinha visto foto de quando ele começou a carreira no Vratsa Vultures, quando se formou na escola. Tive uma sensação estranha quando os vi juntos. Justin olhou a foto e comentou:
- Não sabia que sua mãe conhecia o TJ. Ela sempre muda de assunto quando a gente fala dele.
- Você também notou isso? Sempre achei isso esquisito. - disse enquanto virava a foto e lia que havia sido tirada num dia dos namorados. Peguei o tal álbum e lá dentro havia outras fotos dela grávida, e inclusive uma carta não enviada, onde ela dizia que estava grávida dele. Olhei tudo aquilo com uma sensação ruim na boca do estomago. Ajudei a guardar as coisas, mas separei o álbum, a carta, outras fotos dela com ele, tudo.
- Melhor guardar estas coisas J.- disse Justin preocupado.
- Não! - respondi seco.
- Você vai conversar com a tia Rory, não é??- ele perguntou receoso.
- Para ela ficar mudando de assunto novamente? ‘Um dia falaremos sobre seu pai Julian’..., ‘Agora não é o momento Julian’...’Seu pai não podia ficar conosco’ ou a pior: ‘Você não precisa dele’. - disse revoltado.
- O que você vai fazer?
- Vou atrás do meu pai, quero respostas. E agora vou tê-las.
- Mas você nem sabe aonde ele mora. E mesmo que soubesse, chegaria lá de que jeito?
- Haley me disse que ele vai estar na casa dela neste feriado e eu tenho o endereço, e posso chegar lá pegando carona, ela mora no Texas, como nós. - disse correndo ao meu quarto e pegando uma mochila e jogando umas coisas dentro, junto com o álbum e as fotos, parei quando vi que Justin fazia o mesmo. Olhei para ele e ele respondeu da forma mais natural do mundo:
- Não vou deixar você ir atrás do seu pai sozinho. E não pense que eu vou deixar toda a diversão para você, faz tempo que não aprontamos nada juntos. - ele disse e consegui sorrir.
Sabia que meu amigo nunca ia me deixar na mão, ainda mais numa coisa importante para mim.
Engraçado que com o feriado, muita gente resolveu sair de carro para viajar e depois de andar muito e com sorte conseguir pegar pagar carona na estrada, Justin e eu conseguimos chegar próximo da área onde era o rancho da Haley. O tempo passou rápido e quando chegamos lá já era noite e sabia que minha mãe já devia estar doida procurando pela gente, mas o sentimento de culpa, era substituído pela mágoa que eu sentia dela, por não me contar a verdade, então eu esquecia o cansaço e a fome e seguia em frente.
Depois de passar pelo portão da fazenda, e andar o que me pareceram kilometros, chegamos na casa, e era enorme.
- Uau, isso é um hotel fazenda?- perguntou Justin e respondi:
- Parece né? Mas pelo que a Haley conta a família é grande.
- E aí? Vai lá bater na porta?A gente pode voltar pra casa, se você quiser. - ele disse e eu fiz que não. Eu não era do tipo que voltava atrás numa decisão tomada. Aproximei-me da porta e bati, dava para ouvir o barulho de gente rindo na casa, após algum tempo, ouvimos passos se aproximando e já preparava meu discurso quando as palavras ficaram presas na garganta ao ver quem abria a porta. Era Ty McGregor.
- Olá! Estão procurando alguém?- ele perguntou.
Nós estávamos em choque, porque ele era maior do que eu imaginava, e ele já devia estar acostumado com a nossa reação, pois nos olhava tranquilo.
- Sou seu maior fã, TJ.- disse Justin estendendo a mão e ele apertou de volta. Senti Justin me cutucar e eu engoli duas vezes antes de responder:
- Preciso falar com você...Quer dizer com o senhor.
- Nossa, quanta formalidade. É um autógrafo que vocês querem?- ele perguntou rindo.
- Não. Sim... Não... Quer dizer... Agora não. É uma conversa séria, de homem para homem. - respondi nervoso e Justin também estava sério, encarando-o.
Ty riu e ao me ver sério, perguntou:
- Você pode dizer o que quer falar comigo? Estou no meio de uma festa...
- Vocêémeupai!
- Hã?- ele pareceu não entender eu tive que falar de novo.
- Você é o meu pai. - eu disse mais devagar esperando ver uma luz de reconhecimento nos olhos dele, mas não havia nada.
E antes que ele falasse alguma coisa, ouvimos o barulho de pessoas entrando rápido na sala. Era Haley que não tinha me visto ainda e foi dizendo, enquanto uma mulher a seguia:
- Ty, precisamos de você. Edward vai mostrar a musica que fez, e já montou o palco, anda logo ou tio Carlinhos assume o microfone. - e parou quando me viu na porta e abriu um sorriso enorme.
- Julian? O que você faz aqui?- disse correndo em minha direção, e me deu um abraço, me cumprimentando, e até sorriu para o Justin, mas ele a olhou crítico e o sorriso dela murchou, quando Ty disse:
- Haley você conhece este garoto?- ele perguntou me apontando:
- Claro que sim, é o Julian estuda comigo. Já falei dele pra vocês, é o Corvo. Como veio para cá? Sua mãe te trouxe? E este deve ser o amigo dele, o índio. - ela disse e Justin estreitou os olhos pelo tom dela, enquanto eu respondia sua pergunta:
- Não, ela não me trouxe, eu...Eu f... Pegamos carona. - eu respondi.
- Uau, queria ter coragem de viajar pegando carona... - e ao ver o olhar de reprovação da mulher pigarreou:
- Com conhecidos claro, mas já que está aqui, venha conhecer minha família... Esta é minha mãe Alexandra, papai está lá fora com os outros. Acredita que Johny e Lizzie já brigaram? - ela tagarelou. Mas eu e Ty nos encarávamos ainda.
- O que está havendo?- perguntou a mãe dela sentindo o momento de tensão que havia.
- Ele acha que é meu filho, mãe. - e a mulher se aproximou e começou a me encarar, eu a olhei de volta e quando nossos olhares se cruzaram, eu senti uma coisa boa vindo dela, uma coisa que me aqueceu. Gostei dela à primeira vista.
- Eu não acho, eu sei. Você namorou a minha mãe, ela não se enganaria com isso...
- Julian fala a verdade, ele não é mentiroso. - disse Justin tenso, me apoiando.
- Meu irmão não chamou Julian de mentiroso, seu tonto. - disse Haley no mesmo tom e os adultos ignoraram os dois, que se olhavam de forma hostil.
- Se eu tivesse um filho da sua idade eu saberia...Vamos entrar em contato com sua família, eles devem estar preocupados, talvez vocês queiram comer alguma coisa. - disse Ty paciente, ele agia como se falasse com uma criança de 5 anos.
- Você não acredita não é? Por isso tá falando comigo deste jeito, como se eu fosse um retardado... - disse irritado.
- Olha aqui garoto: se eu te achasse um retardado estaria batendo palmas para você pular, e você nem esta babando. . - ficamos nos encarando e eu vi que o Ty estava irritado de verdade. Ele respirou fundo e disse:
- Dê-me o nome da sua mãe para avisar que você está aqui, posso procurar na lista telefônica, caso não saiba o telefone de casa.
- Não há Montpellier's na lista...Ela não colocou. - e vi que Ty congelou, e começou a olhar para mim de forma intensa. Foi estranho porque ele realmente ‘me olhava” e falou devagar:
- Qual o nome dela?
- Rory Montpellier. Ela é uma jornalista famosa. - eu disse orgulhoso e Ty pareceu não ouvir.
- Qual a sua idade?
- Fiz doze em março.
Haley ficou estranha de repente, e a mãe dela colocou a mão no braço do Ty e ele se virou para a irmã. Ty trocou um olhar com sua mãe, respirou fundo e fechou os olhos, parecia querer se controlar e disse:
- Garotos, seria bom vocês entrarem para descansar, talvez comer alguma coisa, na idade de vocês eu vivia faminto.
- Não sei se devo entrar na sua casa, você nem acredita em mim...- resmunguei e ele disse:
- Eu acredito em você.
Ficamos nos olhando por um tempo, e de repente ele me puxou para um abraço e eu nem soube como reagir, olhei para a mãe da Haley e ela tinha lágrimas correndo pelo rosto, eu senti um nó na garganta. Detesto ver mulher chorando.
Ele me soltou e disse com a voz rouca, parecia querer chorar:
- Bem vindo... Filho!- e sorriu. Senti meu rosto molhado, e nem liguei se Haley e Justin iam me ver chorar feito um bebê. Ty enxugou meu rosto e disse, enquanto bagunçava meu cabelo:
- Vou entrar em contato com sua mãe e vamos resolver isso, não precisa ficar assim.
- Quando ela souber onde estou, vai vir me buscar com tio Brian.
- Quem é Brian?
- É o namorado dela. Ele quer casar com ela e me adotar. - e notei que ele ficou rígido, mas logo respondeu:
- Não se preocupe com isso, agora você está comigo e ninguém vai afastar você de mim.
- Você fala sério?- perguntei ansioso.
- Dou a minha palavra. Mamãe, Haley levem os garotos lá pra dentro e comecem a apresentá-los para o pessoal enquanto faço umas ligações ok? - nos separamos e vi quando ele puxou um celular do bolso e começou a discar o numero que eu havia dado a ele.
Agora era só uma questão de tempo para minha mãe vir atrás de mim.
For too long now, there were secrets in my mind
For too long now, there were things I should have said
In the darkness, I was stumbling for the door
To find a reason, to find the time, the place, the hour
I throw myself into the sea
Release the wave, let it wash over me
To face the fear I once believed
The tears of the dragon for you and for me
N.autora: música: Tears of the dragon, do Iron Maiden
Faltavam apenas três dias para o feriado de páscoa e recebi a visita da coruja do meu irmão, Héstia. Puxei o pergaminho enrolado na pata dela e tinham poucas linhas. Era mais um recado do que uma carta.
“Mana mala,
Mamãe vai passar a páscoa com papai e tio George na casa do Harry e tio Ben e tio Scott vão para o Caribe. Se você e Nick quiserem vir para casa, vou estar aqui, porém trabalhando todos os dias. Suas opções são ficar aqui comigo sem poder sair, ir para Londres com eles ou ficar na escola. Quando decidir o que quer fazer, responda a carta.
Beijos do seu irmão que te ama e te perturba,
Gabriel”
Dobrei a carta outra vez e deixei Héstia comendo o resto do meu café enquanto ia até o outro lado mesa. Nick conversava com Connor quando parei ao seu lado e entreguei o bilhete do meu irmão. Ele pegou já abrindo para ler e ia voltar para o meu lugar, mas fui impedida antes de dar três passos. Ainda um pouco fora de foco devido ao sono, vi a figura de Sheldon parado na minha frente, um sorriso contido no rosto e abraçado a dois grossos livros de poções.
- Bom dia – Sheldon falou com sua voz quase robótica – A julgar pelas condições climáticas do dia de hoje, não teremos aula de vôo. Acho que será de muito valor se aproveitarmos esse tempo livre para começarmos mais cedo nossa aula.
- Bom dia Sheldon – respondi bocejando – Ótima idéia começar a aula mais cedo, assim terminamos mais cedo também.
- Não, não. – ele me corrigiu, balançando a cabeça como se eu tivesse dito algo absurdamente ridículo – Não devemos terminar mais cedo, e sim adiantar um capitulo do livro se vamos ter mais tempo.
- Mas eu pensei que quisesse adiantar a aula pra se livrar do compromisso mais cedo.
- Não seja boba. Espero você no salão comunal depois do almoço, vai estar vazio hoje.
Ele ajeitou os óculos no rosto e saiu do salão principal sem dizer mais nada. Olhei para trás e Hiro me observava rindo. Caminhei até lá sentando ao seu lado e ele tentou transformar os risos em uma tosse, sem muito sucesso.
- Cale a boca – falei impaciente, puxando uma taça de suco.
- Mas eu não disse nada.
- Mas está pensando.
- Sheldon não é uma má pessoa, só é um pouco... – e fez um pausa, procurando a palavra
- Maluco? Esquisito? – sugeri
- Excêntrico.
- Excêntrico, maluco, é tudo a mesma coisa.
- Tente ser mais paciente, ele não tem muitos amigos.
- E de quem será a culpa? – perguntei debochada e ele riu
- Promete que vai contar até 10 toda vez que ele disser algo que a irrite? – eu não respondi, apenas revirei os olhos, então ele insistiu – Clara?
- Ok, ok, eu prometo contar até 50 sempre que ele me irritar.
Hiro se deu por satisfeito e voltou à atenção ao prato de bacon esfriando na sua frente, mas minha fome já tinha evaporado. Queria ir para casa no feriado, ir a praia e rever meus amigos, mas quando Gabriel dizia que ia trabalhar em feriados, sabia que só veria meu irmão de madrugada em casa. Não queria ficar sozinha na escola, mas a perspectiva de passar a páscoa com meus pais na casa do tio Harry também não era muito animadora. Ele tinha muitos filhos e o mais velho, Tiago Sirius, era particularmente irritante. Empurrei o prato de torrada para o lado e deixei Héstia pousar no meu braço, saindo do salão. Até o fim do dia enviaria a coruja de volta com minha resposta final. Por enquanto, ia apenas me preocupar em não matar um sonserino nas próximas horas.
Pouco antes das 14hs já estava sentada no sofá do salão comunal da Sonserina a espera de Sheldon. Da ultima vez que me atrasei fui obrigada a ouvir um sermão sobre pontualidade, então não iria dar margem para ele repetir o monologo dessa vez. Hiro estava sentado na poltrona lendo um livro e consultei o relógio. Exatamente às 14hs, nem um segundo a mais ou um segundo a menos, Sheldon saiu da passagem dos dormitórios e caminhou até o sofá, parando na minha frente.
- Você está no meu lugar – disse me encarando.
- Como? – falei confusa
- Você está no meu lugar – ele repetiu.
- Esse não é o seu lugar, o sofá é de todos os alunos da Sonserina.
- Mas eu sempre sento nesse canto, então esse é o meu lugar.
- Mas você... – ia questionar outra vez, mas não consegui terminar a frase
- Por Merlin, apenas chegue pro lado e deixe-o sentar ai! – Hiro falou suplicante da poltrona, me olhando por cima do livro.
- Ok, pode sentar ai, não faz diferença pra mim... – revirei os olhos chegando para o lado.
- Se não fazia diferença, por que não saiu quando disse que estava no meu lugar? – Sheldon questionou sentando no sofá e se acomodando.
- 10, conte até 10 – Hiro falou quando o encarei irritada.
- Hiro, se pretende aqui e assistir a aula, peço que não atrapalhe – Sheldon ouviu e o repreendeu.
- Não vou atrapalhar, Sheldon. Só falei com ela rápido.
- Eu ouvi, você mandou que ela contasse até 10, mas a aula é de poções, não matemática.
- Ok Sheldon, esquece o Hiro sentado ali, vamos logo com isso! – falei virando de costas pra poltrona e encarando ele com o livro na mão.
- Ah, entusiasmo, gosto disso – Sheldon pareceu satisfeito com alguma coisa pela primeira vez desde que o conheci – Muito bem, abra o livro no capitulo 5, Poções Calmantes.
Abri o livro na pagina que ele mandou e aproveitei seu súbito bom humor para continuar bancando a empolgada com a aula. E depois de 2 horas de estudos, descobri que era bem mais agradável aturar Sheldon quando ele não era contrariado. Por alguns breves segundos, cheguei até a gostar dele. Mas eram breves segundos mesmo, logo ele fazia algum comentário sarcástico, embora não percebesse que estava fazendo isso, e tudo voltava ao normal. Perto das 16hs, quando as aulas terminaram, o salão começou a encher e Sheldon foi obrigado a encerrar a aula. Ele desapareceu pelo túnel que levava aos dormitórios, me deixando sozinha no sofá. Fechei o livro cansada e me atirei no lugar que ele dizia ser seu e Hiro riu, balançando a cabeça. Não demorou muito e nossos amigos apareceram.
- E ai? Como foi a aula com o esquisito? – Keiko perguntou sentando do meu lado
- Até que hoje não foi tão ruim – respondi espantada comigo mesma – O que vão fazer na páscoa? Alguém vai ficar na escola?
- Eu vou para o rancho, a família toda vai pra lá – Haley respondeu animada.
- Eu também vou pra casa, minha mãe vai me pegar esse ano, vou passar o feriado com ela! – Jamal falou animado.
- Keiko e eu também vamos pra casa, Miyako já deve estar com a barriga enorme, quero vê-la!
- Eu não sei ainda, mamãe não está programando nada especial e o DJ está um porre agora que entrou pro time da Corvinal, não sei se quero passar o feriado todo o ouvindo contar suas aventuras em campo – JJ fez uma careta e rimos.
- A Arte também vai pra casa, falou hoje que vai passar o feriado na casa do tio Griffon – Keiko comentou – E você? Vai pra casa com o Nick?
- Não sei ainda, talvez fique aqui, se JJ resolver ficar – disse um pouco mais animada com a idéia de ficar em Hogwarts – Gabriel vai trabalhar e meus pais vão pra casa do tio Harry. Não quero passar o feriado todo com o Tiago no meu pé, ele é muito mala!
- Ele é chatinho mesmo, o Alvo é mais legal – Jamal concordou comigo – E o Rupert? Por que não vai pra casa dele?
- Tio George também vai pra casa deles com meus pais, Rup e Becky vão com ele, eu acho.
- Ah, se você precisa de companhia pra ficar aqui, então eu não vou pra casa! – JJ se animou e estendeu a mão para eu bater – Vamos ficar e explorar o castelo vazio.
- Fechado! – bati na mão dele oficialmente empolgada e levantei do sofá – Vou até o corujal responder ao Gabriel que vou ficar, vejo vocês no jantar.
- Vou com você, assim mando logo uma carta pra mamãe dizendo que não vou pra casa – JJ levantou também e saímos juntos do salão comunal.
Mandei Héstia de volta para o Brasil explicando exatamente o porquê não iria para Londres e dizendo que ficaria no castelo com JJ, assim mamãe não iria reclamar que vou ficar sozinha e querer me obrigar a ir com ela. Uma semana sem aula e com o castelo vazio. Ah, se ao menos tivéssemos um mapa do maroto na mão...