Friday, April 17, 2009


Quando desci expresso 9 ³/4, para voltar para casa no Texas, encontrei minha tia Angelique me esperando. Ao sair da estação não contive o grito de alegria quando encontrei meu amigo Justin, esperando com meu tio Lucien. Ele ficaria na minha casa pelo feriado, enquanto seu pai e sua irmã iriam estar na reserva indígena. O meu feriado já estava começando bem.

- Tem certeza que você pode mexer ai? - disse Justin, quando subi num banquinho para mexer no alto do armário de minha mãe.
- Claro, acho que mamãe guardou as figurinhas por engano nas coisas dela, ela estava com uma destas caixas no dia que eu separei a figurinha da Moran para você. - eu respondi.
- Mas toma cuidado, se você quebrar alguma coisa...- bastou ele dizer isso para que eu me desequilibrasse e sem querer começasse a cair, esbarrando as mãos sobre as caixas e várias delas caíram em cima de nós, inclusive uma que eu nunca tinha visto antes. Começamos a rir, enquanto eu estava esparramado no chão e as caixas espalhadas a meu redor.
- Ainda bem que sua mãe não está em casa. Ou ela ia nos matar. - Justin comentou começando a arrumar a bagunça.
- É, graças ao nosso apetite, nos livraremos de uma bronca. E você sabe que ela demora quando vai ao mercado. - respondi.
Comecei a ajudá-lo quando uma foto caída de dentro de um álbum me chamou atenção. Era uma foto de minha mãe sorrindo feliz, enquanto era abraçada por um rapaz, de cabelos negros, aos pés da Torre Eiffel. Não era um cara qualquer, ela estava abraçada com o Ty McGregor, sabia que era ele, porque já tinha visto foto de quando ele começou a carreira no Vratsa Vultures, quando se formou na escola. Tive uma sensação estranha quando os vi juntos. Justin olhou a foto e comentou:
- Não sabia que sua mãe conhecia o TJ. Ela sempre muda de assunto quando a gente fala dele.
- Você também notou isso? Sempre achei isso esquisito. - disse enquanto virava a foto e lia que havia sido tirada num dia dos namorados. Peguei o tal álbum e lá dentro havia outras fotos dela grávida, e inclusive uma carta não enviada, onde ela dizia que estava grávida dele. Olhei tudo aquilo com uma sensação ruim na boca do estomago. Ajudei a guardar as coisas, mas separei o álbum, a carta, outras fotos dela com ele, tudo.
- Melhor guardar estas coisas J.- disse Justin preocupado.
- Não! - respondi seco.
- Você vai conversar com a tia Rory, não é??- ele perguntou receoso.
- Para ela ficar mudando de assunto novamente? ‘Um dia falaremos sobre seu pai Julian’..., ‘Agora não é o momento Julian’...’Seu pai não podia ficar conosco’ ou a pior: ‘Você não precisa dele’. - disse revoltado.
- O que você vai fazer?
- Vou atrás do meu pai, quero respostas. E agora vou tê-las.
- Mas você nem sabe aonde ele mora. E mesmo que soubesse, chegaria lá de que jeito?
- Haley me disse que ele vai estar na casa dela neste feriado e eu tenho o endereço, e posso chegar lá pegando carona, ela mora no Texas, como nós. - disse correndo ao meu quarto e pegando uma mochila e jogando umas coisas dentro, junto com o álbum e as fotos, parei quando vi que Justin fazia o mesmo. Olhei para ele e ele respondeu da forma mais natural do mundo:
- Não vou deixar você ir atrás do seu pai sozinho. E não pense que eu vou deixar toda a diversão para você, faz tempo que não aprontamos nada juntos. - ele disse e consegui sorrir.
Sabia que meu amigo nunca ia me deixar na mão, ainda mais numa coisa importante para mim.


Engraçado que com o feriado, muita gente resolveu sair de carro para viajar e depois de andar muito e com sorte conseguir pegar pagar carona na estrada, Justin e eu conseguimos chegar próximo da área onde era o rancho da Haley. O tempo passou rápido e quando chegamos lá já era noite e sabia que minha mãe já devia estar doida procurando pela gente, mas o sentimento de culpa, era substituído pela mágoa que eu sentia dela, por não me contar a verdade, então eu esquecia o cansaço e a fome e seguia em frente.
Depois de passar pelo portão da fazenda, e andar o que me pareceram kilometros, chegamos na casa, e era enorme.
- Uau, isso é um hotel fazenda?- perguntou Justin e respondi:
- Parece né? Mas pelo que a Haley conta a família é grande.
- E aí? Vai lá bater na porta?A gente pode voltar pra casa, se você quiser. - ele disse e eu fiz que não. Eu não era do tipo que voltava atrás numa decisão tomada. Aproximei-me da porta e bati, dava para ouvir o barulho de gente rindo na casa, após algum tempo, ouvimos passos se aproximando e já preparava meu discurso quando as palavras ficaram presas na garganta ao ver quem abria a porta. Era Ty McGregor.
- Olá! Estão procurando alguém?- ele perguntou.
Nós estávamos em choque, porque ele era maior do que eu imaginava, e ele já devia estar acostumado com a nossa reação, pois nos olhava tranquilo.
- Sou seu maior fã, TJ.- disse Justin estendendo a mão e ele apertou de volta. Senti Justin me cutucar e eu engoli duas vezes antes de responder:
- Preciso falar com você...Quer dizer com o senhor.
- Nossa, quanta formalidade. É um autógrafo que vocês querem?- ele perguntou rindo.
- Não. Sim... Não... Quer dizer... Agora não. É uma conversa séria, de homem para homem. - respondi nervoso e Justin também estava sério, encarando-o.
Ty riu e ao me ver sério, perguntou:
- Você pode dizer o que quer falar comigo? Estou no meio de uma festa...
- Vocêémeupai!
- Hã?- ele pareceu não entender eu tive que falar de novo.
- Você é o meu pai. - eu disse mais devagar esperando ver uma luz de reconhecimento nos olhos dele, mas não havia nada.
E antes que ele falasse alguma coisa, ouvimos o barulho de pessoas entrando rápido na sala. Era Haley que não tinha me visto ainda e foi dizendo, enquanto uma mulher a seguia:
- Ty, precisamos de você. Edward vai mostrar a musica que fez, e já montou o palco, anda logo ou tio Carlinhos assume o microfone. - e parou quando me viu na porta e abriu um sorriso enorme.
- Julian? O que você faz aqui?- disse correndo em minha direção, e me deu um abraço, me cumprimentando, e até sorriu para o Justin, mas ele a olhou crítico e o sorriso dela murchou, quando Ty disse:
- Haley você conhece este garoto?- ele perguntou me apontando:
- Claro que sim, é o Julian estuda comigo. Já falei dele pra vocês, é o Corvo. Como veio para cá? Sua mãe te trouxe? E este deve ser o amigo dele, o índio. - ela disse e Justin estreitou os olhos pelo tom dela, enquanto eu respondia sua pergunta:
- Não, ela não me trouxe, eu...Eu f... Pegamos carona. - eu respondi.
- Uau, queria ter coragem de viajar pegando carona... - e ao ver o olhar de reprovação da mulher pigarreou:
- Com conhecidos claro, mas já que está aqui, venha conhecer minha família... Esta é minha mãe Alexandra, papai está lá fora com os outros. Acredita que Johny e Lizzie já brigaram? - ela tagarelou. Mas eu e Ty nos encarávamos ainda.
- O que está havendo?- perguntou a mãe dela sentindo o momento de tensão que havia.
- Ele acha que é meu filho, mãe. - e a mulher se aproximou e começou a me encarar, eu a olhei de volta e quando nossos olhares se cruzaram, eu senti uma coisa boa vindo dela, uma coisa que me aqueceu. Gostei dela à primeira vista.
- Eu não acho, eu sei. Você namorou a minha mãe, ela não se enganaria com isso...
- Julian fala a verdade, ele não é mentiroso. - disse Justin tenso, me apoiando.
- Meu irmão não chamou Julian de mentiroso, seu tonto. - disse Haley no mesmo tom e os adultos ignoraram os dois, que se olhavam de forma hostil.
- Se eu tivesse um filho da sua idade eu saberia...Vamos entrar em contato com sua família, eles devem estar preocupados, talvez vocês queiram comer alguma coisa. - disse Ty paciente, ele agia como se falasse com uma criança de 5 anos.
- Você não acredita não é? Por isso tá falando comigo deste jeito, como se eu fosse um retardado... - disse irritado.
- Olha aqui garoto: se eu te achasse um retardado estaria batendo palmas para você pular, e você nem esta babando. . - ficamos nos encarando e eu vi que o Ty estava irritado de verdade. Ele respirou fundo e disse:
- Dê-me o nome da sua mãe para avisar que você está aqui, posso procurar na lista telefônica, caso não saiba o telefone de casa.
- Não há Montpellier's na lista...Ela não colocou. - e vi que Ty congelou, e começou a olhar para mim de forma intensa. Foi estranho porque ele realmente ‘me olhava” e falou devagar:
- Qual o nome dela?
- Rory Montpellier. Ela é uma jornalista famosa. - eu disse orgulhoso e Ty pareceu não ouvir.
- Qual a sua idade?
- Fiz doze em março.
Haley ficou estranha de repente, e a mãe dela colocou a mão no braço do Ty e ele se virou para a irmã. Ty trocou um olhar com sua mãe, respirou fundo e fechou os olhos, parecia querer se controlar e disse:
- Garotos, seria bom vocês entrarem para descansar, talvez comer alguma coisa, na idade de vocês eu vivia faminto.
- Não sei se devo entrar na sua casa, você nem acredita em mim...- resmunguei e ele disse:
- Eu acredito em você.
Ficamos nos olhando por um tempo, e de repente ele me puxou para um abraço e eu nem soube como reagir, olhei para a mãe da Haley e ela tinha lágrimas correndo pelo rosto, eu senti um nó na garganta. Detesto ver mulher chorando.
Ele me soltou e disse com a voz rouca, parecia querer chorar:
- Bem vindo... Filho!- e sorriu. Senti meu rosto molhado, e nem liguei se Haley e Justin iam me ver chorar feito um bebê. Ty enxugou meu rosto e disse, enquanto bagunçava meu cabelo:
- Vou entrar em contato com sua mãe e vamos resolver isso, não precisa ficar assim.
- Quando ela souber onde estou, vai vir me buscar com tio Brian.
- Quem é Brian?
- É o namorado dela. Ele quer casar com ela e me adotar. - e notei que ele ficou rígido, mas logo respondeu:
- Não se preocupe com isso, agora você está comigo e ninguém vai afastar você de mim.
- Você fala sério?- perguntei ansioso.
- Dou a minha palavra. Mamãe, Haley levem os garotos lá pra dentro e comecem a apresentá-los para o pessoal enquanto faço umas ligações ok? - nos separamos e vi quando ele puxou um celular do bolso e começou a discar o numero que eu havia dado a ele.
Agora era só uma questão de tempo para minha mãe vir atrás de mim.

For too long now, there were secrets in my mind
For too long now, there were things I should have said
In the darkness, I was stumbling for the door
To find a reason, to find the time, the place, the hour

I throw myself into the sea
Release the wave, let it wash over me
To face the fear I once believed
The tears of the dragon for you and for me

N.autora: música: Tears of the dragon, do Iron Maiden
Julian Thomas Montpellier às 3:54 PM