Thursday, May 29, 2008


I don't want to be an almost was
I don't want to be a white trash
Working class chump
I don't want to be a loser anymore

That's why I want to be a rock star
I want to be the king
I want to be on top, yeah
I just want to be a rock star

Everclear - Rock Star


Ah, sábado. Doce sábado. Pela primeira vez desde que as aulas do nosso último ano haviam começado, era o primeiro fim de semana que não tinha deveres acumulados ou alguma revisão para ler. Faltava apenas uma semana para o recesso de páscoa e era nosso último sábado em Hogsmeade do ano. Lia uma carta de Anna avisando que passaríamos a data na casa do nosso pai quando três sombras bloquearam o sol. Toquinho, Charlie e Stewart.

- E ai, cambada? Sem deveres hoje também? – perguntei dobrando a carta e levantando
- Graças ao bom Merlin – Charlie ergueu as mãos e rimos – Viemos convidar você para um passeio
- Um passeio que vai mudar sua vida! – Toquinho falou animado
- Passeio aonde? – perguntei curioso, mas já animado
- Londres – Stewart puxou um endereço do bolso – Vamos visitar meu tio.
- E por que esse passeio mudaria minha vida?
- Não faça perguntas, Benjamin – Toquinho começou a me empurrar estrada abaixo e os outros vinham atrás – Quando chegarmos lá vai saber!

Ainda tentei argumentar, mas quando vi Charlie já fazia sinal para o Noitebus e me empurravam para dentro dele. Olhei preocupado para o vilarejo, mas não havia sinal de nenhum professor. Se algum deles nos visse embarcando naquilo, era detenção certa. A viagem foi absurdamente rápida. Alguns flashes indistinguíveis passaram e minutos depois estávamos desembarcando em frente ao Caldeirão Furado. Entrei pela primeira vez no Beco Diagonal e enquanto observava as lojas com curiosidade, não percebi que entramos em uma verde limão. Somente quando aquela cor quase me cegou foi que sai do transe. Ela era toda decorada com discos, flutuando ou colados nas paredes, e muitos megafones estavam empilhados pelos cantos. Um homem de aparência pomposa, cabelos castanhos e usando um terno marrom saiu de dentro de uma sala e sorriu ao nos ver. Stewart caminhou até ele e o abraçou.

- Tio Evan, esses são Stubby Boardman, Charles Bell e Benjamin O’Shea, meus amigos da banda
- Hã? Banda? – olhei para Charlie confuso, mas ele me cutucou para que ficasse calado
- Ah, muito prazer, garotos! – o homem apertou nossas mãos animado – Stewart me falou muito de vocês. Estou ansioso para vê-los tocar!
- Como é que é? – não consegui me conter e dessa vez Charlie me cutucou com força, mas o homem percebeu e riu
- Não contaram a ele? – falou se dirigindo a mim, ainda rindo – Sou produtor musical, filho. Stewart me mandou uma fita com uma musica de vocês e gostei, então quero ouvi-los ao vivo. Vamos? Aluguei o estúdio por 4 horas, acham que é o suficiente? – e indicou a porta por onde saiu, caminhando na frente
- Toquinho, que música é essa? Não ensaiamos nada!
- Relaxa Ben, você conhece a música e já tocou ela na guitarra da Monn várias vezes. Vai dar tudo certo.
- Toquei de brincadeira! Podiam ter me avisado, não? Ensaiava um pouco! E que história é essa de banda? Achei que não estavam nos levando a sério!

Mas eles não me deram ouvidos e entraram no estúdio, então não vi alternativa senão segui-los. Tinha um megafone maior que os normais atrás de um vidro e vários aparelhos que não conhecia. Do outro lado do vidro tinha quase um palco montado, com microfones, bateria, guitarras e baixos. Stewart entrou na frente empolgado e se posicionou atrás da bateria, começando a batucar se aquecendo. Charlie pegou o baixo para acompanhar Stewart no aquecimento e logo percebi que eles tocavam ‘You All Everybody’, a música que ajudei Toquinho a criar a melodia. Não tinha certeza se fazer isso sem ensaio era a melhor das idéias, mas de fato conhecia a música de trás pra frente. Tirei a guitarra do apoio para afiná-la e Toquinho fez sinal de positivo pra mim, enquanto arrumava a altura do microfone e os fones de ouvido.

- Assim que estiverem prontos, garotos... - o tio de Stewart falou através do vidro e Toquinho assentiu com a cabeça, virando para trás
- Fizemos isso milhões de vezes de brincadeira nos intervalos dos ensaios das Esquisitonas, mas agora é pra valer. Vocês conhecem a música...
- Vamos lá, 1, 2... 1, 2, 3! – Stewart batia as baquetas uma na outra e quando a contagem terminou, começou a tocar

Respirei fundo começando a acompanhá-los e conforme a música ia rolando, percebi que de alguma forma sabia que podia fazer aquilo. Logo já estava concentrado na minha guitarra e tocava como se minha vida dependesse daquilo. E talvez ela dependesse mesmo.

- ‘Yeah, you all everybody’ – Toquinho encerrou a música com uma dramática encenação
- Excelente, garotos! – o tio de Stewart abriu a porta da sala empolgado – Excelente!
- Acha que podemos fazer sucesso, tio? - Stewart girava as baquetas entre os dedos animado
- Sucesso? Vocês vão fazer mais do que sucesso! Vou transformar vocês na sensação da música bruxa! – olhamos um pro outro empolgados
- Mas eu ainda estou no 5º ano – Charlie levantou a mão incerto – Ainda tenho dois anos em Hogwarts, não posso simplesmente sair. Minha mãe me mataria.
- E nem pense mesmo em largar a escola – ele falou em tom de bronca – O que vamos fazer é trabalhar com vocês durante esses dois anos, até que todos estejam formados. Depois disso, lançaremos a banda... Como é o nome da banda?
- Não temos um ainda – falei olhando para Toquinho. Fizemos músicas, mas não pensamos no nome – Esquecemos de pensar em um
- Bom, então esse será o primeiro passo, escolher o nome. Depois disso, vamos cuidar das outras coisas: ensaios, músicas suficientes para lançar um álbum, visual... Estou falando, garotos, vocês serão um estouro. Vocês têm talento, e agora têm o melhor produtor musical da indústria bruxa.

O homem continuou inflando nosso ego com elogios intermináveis e gastamos o resto do tempo no estúdio para gravar outras duas músicas da autoria do Toquinho e uma minha que nunca tinha mostrado a eles, e que fui forçado a ensiná-la. Quando pegamos o noitebus para voltar a Hogsmeade, estávamos mais do que empolgados. Agora tínhamos de fato uma chance de fazer sucesso e, com os dois anos que Charlie precisava para terminar a escola, poderia me formar na Academia de Aurores como sempre quis. Seriam dois sonhos realizados, não precisava pedir mais nada na vida. Tudo já estava se encaminhando perfeitamente bem...

Thursday, May 22, 2008


Estava em um corredor bem iluminado. Observou, logo à sua frente, um casal de mãos dadas ir se distanciando aos poucos. Tentou acompanhá-los, mas não podia se mover. Ela estava em outro plano.

- Adivinha quem é?! – um par de mãos cobriu seus olhos e ela reconheceu a voz de Mark. Sorriu.
- Pelas mãos não dá para saber. Talvez se você, Sr. Estranho Ferguson, me beijasse... eu poderia ter mais palpites...

Mark descobriu seus olhos e pulou na sua frente dando-lhe um beijo longo e sem pressa. Se abraçaram.

- Estávamos te procurando. Você parece cansada. Que aconteceu?
- Dia cheio. Não preciso listar minhas atividades pra você, não é? Estamos exatamente na mesma posição. Como estão os estudos na biblioteca?
- Bem. Sam está dando mais um de seus ataques nervosos por que acha que perdeu as anotações de Herbologia. Louise, Scott e Ben estão ajudando-a a procurar, para que ela os deixe estudar em paz. Alex e Lu estão discutindo feitiços difíceis de DCAT. – ele listou e ela sorriu brevemente. - Tem certeza de que é só isso? Estou te sentindo um pouco abatida.

Ela se lembrou do sonho estranho e desconfortante que teve na noite passada e a sensação ruim que sentiu ao acordar durante a madrugada, suando frio. Mark a encarava insistente e ela forçou um sorriso.

- É só isso sim, sério. Só estou precisando de colo por um tempo. E de descanso. Não agüento mais estudar hoje. – evitou o olhar desconfiado dele e se aconchegou em seu peito, fechando os olhos.
- Então fique aqui o tempo que precisar. Também não pretendo voltar para lá, por enquanto. – ele disse carinhoso a envolvendo mais forte no abraço. Ela agradeceu enquanto repetia para si mesma “foi só um sonho”.

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- Você está me ouvindo, Yulli? – Yoshi perguntou a encarando tenso. Ela sacudiu a cabeça.
- Desculpa, Yoshi. Não. O que mesmo você estava dizendo?
- Esquece. Me diga você o que está acontecendo. Passou o dia inteiro orbitando qualquer outro planeta, menos esse.

Ele a acompanhou com os olhos quando ela se deixou desabar cansada embaixo da sombra de uma árvore. Observou o lago. Esperou.

- Senta aqui. – disse sem olhar para ele, mas apontando um lugar ao seu lado. Ele se sentou. Ficaram olhando o mesmo ponto na água alguns minutos, em silêncio. – Eu tive um sonho que me deixou triste, ontem de noite. Sonhei que papai e mamãe estavam indo embora e eu os observava sem poder fazer nada. Gritava o nome deles e eles não me escutavam, e eu não poderia segui-los, pois eu era somente uma observadora da cena, alheia a tudo. Foi um sonho bem real. E curto, devo dizer. Me lembro de cada detalhe nele... E depois, acordei suando na cama, assustada. Quero dizer, foi só um sonho, mas me causou uma sensação ruim, de perda mesmo. Um pressentimento.

Ele escutava tudo calado, sem nem movimentar os olhos do lago. Quando ela finalmente disse tudo e se calou também, ele se virou para observá-la.

- Você está com muita coisa na cabeça, é isso. São muitas aulas, deveres, os exames se aproximando... Fora o campeonato de quadribol! Você é a apanhadora do time, não é? Querendo ou não, você fecha o jogo. As monitorias, as coreografias para a festa e tudo o mais...
- Eu sei. Eu também acho que foi só um grito de socorro do meu corpo. Mas e essa sensação estranha? Por que não consigo me esquecer desse sonho?
- Não sou a pessoa mais aconselhada a te responder essa pergunta. Provavelmente, diria que você tomou um alucinógeno antes de dormir e sua vida anda muito agitada, induzindo seu cérebro a produzir sonhos distantes e deprimentes, para te obrigar a descansá-lo de feitiços e transfigurações pelo menos por um par de horas. – ele disse tudo muito rápido, mas quando terminou a fez sorrir. Se sentiu satisfeito pelo produto.
- Já entendi. Vamos esquecer esse assunto então. O que mesmo você estava me dizendo?
- Nada demais. – respondeu rápido.
- Não me enrola...
- Ok, é um convite. Quero dizer, antes de qualquer coisa, que eu no seu caso acharia um tédio essa situação, mas quero te pedir desde já que faça um esforço imenso para aceitar. É importante para mim!
- Onde você aprendeu a ficar tão falante assim? Impressionante a mudança! – ela fingiu surpresa e riu quando ele pareceu constrangido. – Brincadeira. Prefiro esse Yoshi. – ele sorriu. - Vai dizer o que é, ou vou ter que forçar uma situação?
- É que na Páscoa, professor Slughorn vai dar mais uma daquelas festinhas do “Clube do Slug”, mas essa vai ser diferente. Ele convidou todos os seus amigos preparadores de poções. Nomes importantíssimos da área, talvez os maiores! Desde a semana passada ele está frisando a importância da minha presença nessa festa, pois isso pode ser um pontapé inicial para a minha carreira... Enfim. Ele me pediu que levasse alguém, e eu não quero ir sozinho, de qualquer maneira. A única amiga que tenho aqui é? Você.
- Resumindo: você está me convidando para ser sua acompanhante em uma animadíssima festa do “Clube do Slug”? – eu ri e ele concordou com a cabeça. – Realmente, não é lá um convite muito empolgante...
- Eu sei, me desculpa. Vou me esforçar e quem sabe da próxima vez eu não te convide para ir assistir uma peça na Broadway?
- Bem melhor assim. Enquanto isso... Bom... Quando mesmo vai ser a festa?
- Páscoa.
- Nós não tínhamos combinado de irmos para casa na páscoa?
- Você ainda não está sabendo?
- Do que???
- Mudanças de planos! Seus pais vão viajar sozinhos para Sendai, como uma “segunda lua de mel”. Yhara vai aproveitar a rescisão de contrato familiar deles e vai para a Suécia. Yuri vai com Sabrina para a Alemanha, passar o feriado com os pais dela. E nós dois...
- Hogwarts, Hogwarts, teach us something... – cantarolou desanimada o hino da escola e Yoshi riu concordando. Sacudiu os ombros. – Bom. Já que eu sou a corna da família e não me resta outra opção a não ser permanecer no castelo... Vou com você à festa.
- Obrigado! Você é a melhor irmã/amiga/madrinha do mundo! E será muito bem recompensada por isso, eu garanto!
- Vou anotar na sua conta.
- Cobre com juros. Bom, se não se incomoda, tenho que ir agora. Vou avisar para o Slug separar mais dois convites e depois adiantar os deveres. Tem certeza de que está bem?
- Estou. Não se preocupe.
- Ok. A gente se vê, então... – disse se levantando e ainda sorrindo. Ela sorriu também.
- Espero que sim. – esperou ele virar as costas e dar alguns passos.
- Hey, Yoshi. – ele se virou para encará-la. – Obrigada pela companhia.

Ele sacudiu os ombros e recomeçou a andar de volta para o castelo. Ela observou seu pontinho desaparecer atrás das portas de carvalho e novamente se virou para o lago, se sentindo bem mais leve.