Thursday, May 22, 2008


Estava em um corredor bem iluminado. Observou, logo à sua frente, um casal de mãos dadas ir se distanciando aos poucos. Tentou acompanhá-los, mas não podia se mover. Ela estava em outro plano.

- Adivinha quem é?! – um par de mãos cobriu seus olhos e ela reconheceu a voz de Mark. Sorriu.
- Pelas mãos não dá para saber. Talvez se você, Sr. Estranho Ferguson, me beijasse... eu poderia ter mais palpites...

Mark descobriu seus olhos e pulou na sua frente dando-lhe um beijo longo e sem pressa. Se abraçaram.

- Estávamos te procurando. Você parece cansada. Que aconteceu?
- Dia cheio. Não preciso listar minhas atividades pra você, não é? Estamos exatamente na mesma posição. Como estão os estudos na biblioteca?
- Bem. Sam está dando mais um de seus ataques nervosos por que acha que perdeu as anotações de Herbologia. Louise, Scott e Ben estão ajudando-a a procurar, para que ela os deixe estudar em paz. Alex e Lu estão discutindo feitiços difíceis de DCAT. – ele listou e ela sorriu brevemente. - Tem certeza de que é só isso? Estou te sentindo um pouco abatida.

Ela se lembrou do sonho estranho e desconfortante que teve na noite passada e a sensação ruim que sentiu ao acordar durante a madrugada, suando frio. Mark a encarava insistente e ela forçou um sorriso.

- É só isso sim, sério. Só estou precisando de colo por um tempo. E de descanso. Não agüento mais estudar hoje. – evitou o olhar desconfiado dele e se aconchegou em seu peito, fechando os olhos.
- Então fique aqui o tempo que precisar. Também não pretendo voltar para lá, por enquanto. – ele disse carinhoso a envolvendo mais forte no abraço. Ela agradeceu enquanto repetia para si mesma “foi só um sonho”.

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- Você está me ouvindo, Yulli? – Yoshi perguntou a encarando tenso. Ela sacudiu a cabeça.
- Desculpa, Yoshi. Não. O que mesmo você estava dizendo?
- Esquece. Me diga você o que está acontecendo. Passou o dia inteiro orbitando qualquer outro planeta, menos esse.

Ele a acompanhou com os olhos quando ela se deixou desabar cansada embaixo da sombra de uma árvore. Observou o lago. Esperou.

- Senta aqui. – disse sem olhar para ele, mas apontando um lugar ao seu lado. Ele se sentou. Ficaram olhando o mesmo ponto na água alguns minutos, em silêncio. – Eu tive um sonho que me deixou triste, ontem de noite. Sonhei que papai e mamãe estavam indo embora e eu os observava sem poder fazer nada. Gritava o nome deles e eles não me escutavam, e eu não poderia segui-los, pois eu era somente uma observadora da cena, alheia a tudo. Foi um sonho bem real. E curto, devo dizer. Me lembro de cada detalhe nele... E depois, acordei suando na cama, assustada. Quero dizer, foi só um sonho, mas me causou uma sensação ruim, de perda mesmo. Um pressentimento.

Ele escutava tudo calado, sem nem movimentar os olhos do lago. Quando ela finalmente disse tudo e se calou também, ele se virou para observá-la.

- Você está com muita coisa na cabeça, é isso. São muitas aulas, deveres, os exames se aproximando... Fora o campeonato de quadribol! Você é a apanhadora do time, não é? Querendo ou não, você fecha o jogo. As monitorias, as coreografias para a festa e tudo o mais...
- Eu sei. Eu também acho que foi só um grito de socorro do meu corpo. Mas e essa sensação estranha? Por que não consigo me esquecer desse sonho?
- Não sou a pessoa mais aconselhada a te responder essa pergunta. Provavelmente, diria que você tomou um alucinógeno antes de dormir e sua vida anda muito agitada, induzindo seu cérebro a produzir sonhos distantes e deprimentes, para te obrigar a descansá-lo de feitiços e transfigurações pelo menos por um par de horas. – ele disse tudo muito rápido, mas quando terminou a fez sorrir. Se sentiu satisfeito pelo produto.
- Já entendi. Vamos esquecer esse assunto então. O que mesmo você estava me dizendo?
- Nada demais. – respondeu rápido.
- Não me enrola...
- Ok, é um convite. Quero dizer, antes de qualquer coisa, que eu no seu caso acharia um tédio essa situação, mas quero te pedir desde já que faça um esforço imenso para aceitar. É importante para mim!
- Onde você aprendeu a ficar tão falante assim? Impressionante a mudança! – ela fingiu surpresa e riu quando ele pareceu constrangido. – Brincadeira. Prefiro esse Yoshi. – ele sorriu. - Vai dizer o que é, ou vou ter que forçar uma situação?
- É que na Páscoa, professor Slughorn vai dar mais uma daquelas festinhas do “Clube do Slug”, mas essa vai ser diferente. Ele convidou todos os seus amigos preparadores de poções. Nomes importantíssimos da área, talvez os maiores! Desde a semana passada ele está frisando a importância da minha presença nessa festa, pois isso pode ser um pontapé inicial para a minha carreira... Enfim. Ele me pediu que levasse alguém, e eu não quero ir sozinho, de qualquer maneira. A única amiga que tenho aqui é? Você.
- Resumindo: você está me convidando para ser sua acompanhante em uma animadíssima festa do “Clube do Slug”? – eu ri e ele concordou com a cabeça. – Realmente, não é lá um convite muito empolgante...
- Eu sei, me desculpa. Vou me esforçar e quem sabe da próxima vez eu não te convide para ir assistir uma peça na Broadway?
- Bem melhor assim. Enquanto isso... Bom... Quando mesmo vai ser a festa?
- Páscoa.
- Nós não tínhamos combinado de irmos para casa na páscoa?
- Você ainda não está sabendo?
- Do que???
- Mudanças de planos! Seus pais vão viajar sozinhos para Sendai, como uma “segunda lua de mel”. Yhara vai aproveitar a rescisão de contrato familiar deles e vai para a Suécia. Yuri vai com Sabrina para a Alemanha, passar o feriado com os pais dela. E nós dois...
- Hogwarts, Hogwarts, teach us something... – cantarolou desanimada o hino da escola e Yoshi riu concordando. Sacudiu os ombros. – Bom. Já que eu sou a corna da família e não me resta outra opção a não ser permanecer no castelo... Vou com você à festa.
- Obrigado! Você é a melhor irmã/amiga/madrinha do mundo! E será muito bem recompensada por isso, eu garanto!
- Vou anotar na sua conta.
- Cobre com juros. Bom, se não se incomoda, tenho que ir agora. Vou avisar para o Slug separar mais dois convites e depois adiantar os deveres. Tem certeza de que está bem?
- Estou. Não se preocupe.
- Ok. A gente se vê, então... – disse se levantando e ainda sorrindo. Ela sorriu também.
- Espero que sim. – esperou ele virar as costas e dar alguns passos.
- Hey, Yoshi. – ele se virou para encará-la. – Obrigada pela companhia.

Ele sacudiu os ombros e recomeçou a andar de volta para o castelo. Ela observou seu pontinho desaparecer atrás das portas de carvalho e novamente se virou para o lago, se sentindo bem mais leve.