Wednesday, November 28, 2007


- Eros. Filho de Ares e Afrodite. Sua versão romana é a de Cupido, portanto, ele é o deus do amor – Karen parou ao lado da cadeira onde Alex e eu estavamos sentadas – Algo me diz que essas senhoritas já andaram esbarrando com Eros por ai...

A turma riu e Karen parou ao lado de Scott e Ben. Estava fazendo um enorme esforço para não dormir e continuar prestanto atenção ao que ela dizia.

- Apolo. Segundo as mitologias grega e romana, é o deus da luz do Sol, da música, da poesia e da profecia, e ainda o protetor das musas – Ela olhou para os dois com um ar divertido e eles riram – Apolo é sempre representado nas estátuas da antiguidade como um deus muito belo, personificando o ideal grego de beleza masculina. E então rapazes, acham que podem competir?

A turma inteira riu outra vez, ainda mais da cara convencida de Ben, e o sinal tocou. Um a um os alunos iam tirando as togas e devolvendo à caixa em cima da mesa de Karen antes de sair da sala. Eu ainda juntava meu material devagar.

- Na próxima aula vamos começar a entender a complicada relação desses Deuses do Olimpo, com um pequeno teatro. Não se atrasem! – Karen falava aos que já iam saindo e logo só restava eu na sala – Quer outra aula, Louise? – ela brincou vendo que eu ainda tirava a toga
- Desculpa Karen, é que são muitos livros, demoro a guardar tudo – disse atrapalhada com aquele pano em volta de mim – Ai isso não quer sair!
- Calma, eu ajudo! – Karen veio depressa até mim e me livrou da toga. Minhas mãos estavam trêmulas – Louise, está tudo bem?
- Ah está tudo ótimo! – falei ainda tremendo e sentia que meus olhos se enchiam de lágrimas do nada – Só descobri tarde demais que não sirvo para ser medibruxa! E agora a professora Sprout não me deixa escolher outra coisa! Só vou tirar um T em todos os meus N.I.E.M.s e terminar trabalhando na loja do meu avô!
- Se acalma, por favor – Karen me fez sentar outra vez e não conseguia parar de chorar, parecia uma idiota – De onde tirou a idéia de que vai tirar T nos exames? Você é uma das melhores alunas do 7º ano!
- Mas nem estou dando conta dos deveres! Minha nota no último trabalho de poções deve ter sido a pior da turma, estava horrível!
- Você está sobrecarregada, está estudando demais – olhei para ela incrédula e ela riu – Calma, eu sei que precisa estudar bastante para passar, mas não acha que está pegando um pouco pesado? Sábado tem visita a Hogsmeade e tenho certeza que está pensando em tirar o dia para estudar um pouco mais. Acertei?
- Se visse a pilha de pergaminhos que preciso ler para semana que vem não estaria com esse sorriso irônico no rosto! – respondi na defensiva e ela riu outra vez
- Acho que nem mesmo McGonagall se dedicou tanto assim aos estudos em seu último ano aqui – ela sentou na cadeira do meu lado e parou de rir – Experimente esquecer os deveres um pouco, só por esse fim de semana. Vá a Hogsmeade e fique um tempo a toa com seus amigos. Dê risada, fale besteira. Cultura inútil também é bom e ajuda a relaxar

Karen levantou sorrindo e parei de chorar feito uma retardada, tentando sorrir também. Terminei de guardar os livros parando de tremer e sai da sala indo direto para o salão principal jantar. Acho que Karen tem razão, estou exigindo demais de mim mesma.

ººº

Acordei mais calma na sexta-feira e descobri que minha nota no trabalho de Poções não foi horrível como pensava, mas até alta. Isso me acalmou um pouco, mas bastou entrar na sala de Defesa Avançada para toda a tranquilidade evaporar. Kegan estava cada semana mais rigoroso, exigindo mais esforço físico da gente e, se é que isso era possível, nos deixando mais assustados que nunca com planos para as aulas sobre dementadores do próximo semestre. Antes adorava suas aulas, mas estou começando a odiar e dar apoio a Karen nessa briga. Ao menos nas aulas delas damos risadas e não saímos exaustos e com medo.

Saí tão nervosa da aula dele e dormi tão mal que quando acordei sábado já tinha esquecido por completo da promessa de passar o dia no vilarejo e saí do salão comunal de mochila nas costas, traçando uma reta até a biblioteca. Tinha todo um capítulo sobre animagia para ler e resumir para a aula de Transfiguração da próxima semana, e não tinha nem começado ainda. Eu era a única alma viva na biblioteca além da madame Pince, o que achei ótimo. Muita gente me atrapalhava, acabava perdendo a concentração. Já devia estar presa lá há horas, já apoiando a cabeça nas mãos e começando a ficar nervosa outra vez, quando senti um par de mãos apertar meu ombro. Seria capaz de reconhecer aquele toque até em coma e aquele cheiro sem olfato nenhum. Virei depressa levantando do banco e já me atirando nos braços de Remo.

- Estava com tanta saudade assim de mim? – ele riu me abraçando
- Nem imagina o quanto – respondi lhe dando um beijo demorado e tornando a abraçá-lo
- O que está fazendo trancada na biblioteca num sábado de sol e visita a Hogsmeade? Não devia estar lá fora?
- E o que você está fazendo aqui em Hogwarts? Hoje não é sua folga!
- Perguntei primeiro, não desvia do assunto – disse em um tom sério – Lou, se continuar assim vai enlouquecer. Nem eu estudei tanto ano passado. Você também precisa relaxar
- Já estou cansada de ouvir as pessoas falando isso! – respondi irritada me soltando do abraço – Isso enche o saco, sabia?
- Não brigue comigo, estou falando pro seu bem – ele me puxou outra vez pra perto dele – Seu avô me deu folga para vir visitar você – olhei para ele sem acreditar que terminava ai e ele riu – E Scott me chamou na lareira da loja, disse que você tinha tido uma crise de choro na quinta e mesmo assim ainda estava aqui dentro estudando mais
- Sabia que tinha o dedo dele – falei sem rir, mas não estava zangada. Não ia admitir facil assim, mas estava agradecida por ele ter feito isso
- Vamos, não vai passar o sábado trancada aqui. Vamos aproveitar o dia no vilarejo, pois tenho que ir embora à noite

Olhei para os livros espalhados na mesa e agitei a varinha para todos voltarem para minha mochila. Segurei a mão me dando por vencida e saímos do castelo.

ººº

- Então está morando praticamente sozinho? – perguntei com a voz abafada. Tinha a cabeça enterrada no peito dele e estávamos deitados na grama no alto da colina do vilarejo
- Sim. Sirius passa a maior parte do tempo viajando com a seleção da Inglaterra – respondeu mexendo no meu cabelo – Por que? Isso anima você?
- Não muito. Saber que ele pode voltar a qualquer instante não é muito reconfortante
- Não se preocupe, prometi que vamos procurar nosso próprio apartamento quando você se formar e vou manter a palavra
- Não vai ser nada fácil contar ao meu avô que vou sair de casa. Talvez converse com a vovó antes, e ela conta a ele
- Não pense nisso agora, ainda temos tempo. E também, você tem muito com o que se preocupar agora, com as aulas e os jogos do campeonato. Vocês jogaram muito bem contra a Itália, também vão passar por cima do Japão sem problemas.
- Acho que se não vencermos isso, madame Hooch morre. Ela está neurótica!

Remo riu do tom de urgência da minha voz e vi algumas folhas dos arbustos se mexerem. Sentei depressa procurando a varinha no bolso e ele me olhou confuso. Tinha a sensação de que estávamos sendo vigiados, e não estava gostando. Remo puxou a varinha também olhando ao redor e um estampido denunciou que alguém havia desaparatado dos arbustos. Ficamos de pé e ele agarrou minha mão, iluminando a colina. Não tinha mais ninguém.

- Vamos voltar, por favor – falei sentindo um calafrio – Está começando a escurecer e estou com uma sensação esquisita. Não gosto disso.
- É melhor mesmo, daqui a pouco Filch começa a procurar os alunos e preciso voltar a Londres

Descemos de volta ao vilarejo e caminhava de mãos dadas com ele o tempo todo olhando para trás. A sensação de que estava sendo vigiada ainda não havia desaparecido, embora não pudesse ver ninguém estranho ao redor. Nos despedimos no portão e ele desaparatou. Scott e Ben aparecerem conversando animados logo em seguida e voltamos juntos para o castelo, mas ainda estava angustiada. Já havia sentido isso antes e tinha certeza de que alguma coisa ia acontecer, e não seria algo bom.

Saturday, November 24, 2007


YH: Ok, o “amanhã” já chegou. Agora diz o que você quer me falar?! – perguntei ansiosa enquanto eu e Mark caminhávamos juntos pelos jardins. Ele sorriu e parou, me olhando.
MF: Te dou três chances para adivinhar o assunto...

É claro que eu sabia o assunto. Estava na cara que ele queria falar sobre nós dois, mas eu ia me fingir de boba um pouco mais.

YH: Aulas? – ele balançou negativamente a cabeça fazendo careta. – Quadribol? – ele retirou a careta, mas continuou balançando a cabeça. – Então é algum problema com a monitoria?
MF: Esquece esses assuntos técnicos. Não é nada disso. – ele se aproximou uns passos não tirando os olhos de mim. Parou quando estávamos a poucos centímetros e envolveu os braços na minha cintura, me puxando para ainda mais perto. Agora eu seria capaz de contar cada risco azul dos olhos dele. – O que eu quero te dizer é que eu acho que estou gostando de você de verdade, mais do que amiga, e que não parei de pensar em você as férias inteiras. E quero saber quais são minhas chances... Por que se você me der ao menos uma, eu vou agarrar ela.

Senti um turbilhão de coisas diferentes me invadirem. Ao mesmo tempo dúvida e certeza, constrangimento e vontade. Não conseguia definir o que de fato eu sentia pelo Mark. Se era só uma amizade um pouco mais intensa, ou um sentimento forte que se aproximava à paixão. Ele continuava me abraçando e a um palmo de mim.

YH: Também não tenho certeza do que eu sinto por você, ainda. Mas eu acho que a melhor maneira para descobrirmos isso é nos darmos uma chance. Sem cobranças. O que você acha?
MF: Acho ótimo. Ótimo. Não quero mais perder um dia...

Ele sorriu e eu o puxei pelo pescoço lhe dando um beijo para selar nosso “compromisso”.

°°°°
Desde aquele dia, no início de setembro, Mark e eu estávamos namorando. Aos poucos íamos descobrindo detalhes bobos da vida de cada um que nem com seis anos de amizade tínhamos nos dado ao trabalho de descobrir. Coisas sobre nossas famílias, gostos, desgostos e etc. E na balança geral, eu estava tão feliz de estar com ele, que realmente já estava me dando conta de quanto tempo havíamos perdido.

Nossa rotina em Hogwarts estava cada dia mais pesada. Aulas, aulas, aulas extras, aulas. Deveres empilhados, revisões acumuladas. Cobranças. E o NIEM’s batendo na nossa porta. Fora isso, a morte da professora Endora nos atingiu com um baque em cheio na cara. Alex, Lu e Scott, os que mais gostavam dela, andavam bastante tristes desde então. Mas com a proximidade da nossa viagem à Itália, e a perspectiva do primeiro jogo de quadribol por Hogwarts, Madame Hooch parecia disposta a nos afundar em treinos e mais treinos, como se o cansaço físico evitasse por si só os sofrimentos.

Era nosso último treino antes da partida para a Itália. Estávamos todos sentados nos gramados verdes do campo de quadribol, inclusive o time reserva. Madame Hooch entregara os nossos uniformes negros com um grande brasão de Hogwarts nas costas e nossos nomes em dourado. E agora andava no centro, passando os olhos por cada um.

- Treinamos duro. Vocês estão exaustos, eu imagino... Mas podem descobrir que nessa exaustidão ainda há muita força de vontade e espírito de equipe. Imaginem levantando a taça para Hogwarts. Imaginem essa taça na sala dos troféus com o nome de todos vocês. É com esses pensamentos que quero que vocês joguem contra a Itália. Começar ganhando o campeonato é fundamental. Sei que escolhi as pessoas certas para o time, então agora confio em vocês para me provarem isto. Posso contar com todos? – ela perguntou enérgica e todos nós gritamos em uníssono:
- HOGWARTS!

Rimos nos abraçando e batendo palmas. A temporada de caça à taça estava aberta, e estávamos indo com gás para ganhar.

°°°°
Voltamos da Itália, vitoriosos. A partida foi bem acirrada, mas no final eu consegui avançar com dianteira sobre o apanhador italiano e capturar o pomo antes, encerrando a partida com 250X80. Madame Hooch invadiu o campo assim que o juiz apitou e abraçou a todos. Estava radiando felicidade.

Mas o melhor mesmo foi retornar a Hogwarts. Fomos recebidos nos braços de todos. Éramos as novas sensações do momento: por onde andávamos os estudantes nos cumprimentavam, sorriam, acenavam e até pediam autógrafos. Claro que eu estava achando aquilo tudo ótimo. Estava me divertindo muito com todos aqueles mimos, e isso por que só tínhamos passado pelo primeiro jogo da competição!

O dia do meu aniversário amanheceu chuvoso e cinzento, mas nenhum dos meus amigos parecia muito disposto a deixar que isso atrapalhasse a festividade do dia e a oportunidade de comemorar alguma coisa. Até por que, os primeiros meses do ano já tinham sido suficientemente trágicos para que deixássemos escapar uma festa. Então, como de costume, na noite do dia 20 de novembro o Salão Comunal da Lufa-lufa estava abarrotado de estudantes (da casa ou de outras casas), com comidas diversas contrabandeadas da cozinha, e bebidas providenciadas gentilmente por Kegan O’Shea e Karen Foutley (os únicos professores que haviam sido convidados para a festa proibida). A música rolava solta, e lá pelas tantas da madrugada vários alunos já tinham sumido por entre os túneis que levavam para os dormitórios ou estavam jogados no chão e em pufes, rindo à toa.

As horas passaram e agora só restávamos eu, Alex, Louise, Scott, Mark, Ben, Sam e Monn no Salão Comunal. Lu e Mirian haviam acabado de sair. Scott olhou ao redor e então sorriu marotamente.

SF: Acho que já é seguro mostrar o que eu preparei para seu aniversário, Yull. – ele disse ainda sorrindo e puxou um frasco de poção azul celeste de dentro do bolso parecendo satisfeito. Arregalei os olhos.
YH: Não vai me dizer que isso é...
SF: Elixir da disposição. Popularmente conhecido como “Elixir da Rebeldia”, mas ainda não sei por quê. Quem quer provar?

Todos meus amigos se aproximaram e tomaram um gole do frasco. Os dois minutos que se seguiram foram os mais estranhos das nossas vidas. Eu tombei no chão me sentindo extremamente bêbada e tonta, mas muito leve e feliz. Muito feliz. Como nunca me sentira na vida. Eu seria até capaz de voar. De fazer trapézio, ou andar por uma corda há 15 metros do chão. Era uma sensação tão gostosa, tão louca. Quando abri os olhos vi que todos sorriam, mesmo sem qualquer motivo aparente. E o mundo parecia tão colorido e simpático como eu nunca havia visto!

Ficamos ali mais alguns minutos. Deitados no chão, olhando o teto ou uns aos outros. E aos poucos nos levantamos e recomeçamos a dançar. Uma festa paralela havia começado em um universo paralelo.

Não sei bem ao certo quanto tempo fiquei vagando pelo salão, dançando. Só me lembro que a próxima seqüência dos fatos aconteceu de maneira tão repentina que eu mal pude esperar. Estava dançando sozinha, com os braços levantados, rodando a cabeça. O mundo estava girando. Então alguém (e depois de alguns segundos eu vi que era Mark) me puxou e me deu um beijo com tanta intensidade que se não estivesse me abraçando realmente muito forte eu teria desabado no chão. Me lembro do beijo, e me lembro de puxar Mark pela mão e sairmos juntos para o corredor escuro de pedra. Quando passamos pelas duplas portas de carvalho e alcançamos o gramado escuro e gelado dos jardins (e nesse ponto eu descobri que estava descalça), Mark riu alto.

MF: Para onde estamos indo? – ele perguntou, mas não parecia nem um pouco preocupado com o destino final. Continuava agarrado na minha mão e corríamos sem rumo pelo jardim, ambos rindo.
YH: Isso importa?
MF: Não, exatamente...

Paramos quando alcançamos o Salgueiro Lutador. Ele não se contorcia demais, mas alguns de seus ramos mais grossos balançavam ameaçadoramente ao nosso redor.

YH: Quer conhecer a Casa dos Gritos, por dentro? – perguntei olhando a passagem que se escondia nas raízes da árvore e que eu sabia levar para o interior da Casa dos Gritos.
MF: Nam... Muito longe. – Mark riu perto da minha orelha e senti um arrepio.
YH: É mesmo. – concordei, mas mesmo assim apanhei um galho no meu pé e cutuquei o nó no tronco do Salgueiro. A árvore paralisou. Puxei a mão de Mark e entramos agachados pela passagem. Quando caí na terra fofa, na escuridão total, Mark caiu ao meu lado.
MF: Como você sabia do Salgueiro? – perguntou rindo.
YH: Os marotos e seus ensinamentos preciosos. – respondi e me joguei em cima dele, envolvendo meus dois braços ao seu redor e lhe dando um beijo. Ele me abraçou e inverteu de posição, ficando por cima de mim e me prendendo.
MF: Você não acha que devíamos voltar? Daqui algumas horas amanhece e temos aulas... – começou a falar, mas o beijei interrompendo.
YH: Mark, você não acha que está achando coisas demais não? O aniversário é meu e eu tenho direito a um pedido. – disse sorrindo.
MF: Ah, tudo bem. Então qual é o seu pedido?
YH: Quero que você cale a boca e deixe as coisas rolarem, naturalmente.
MF: Ainda naquela coisa de “sem cobranças”? – ele perguntou rindo. Assenti.
YH: Exatamente. Daquele jeito.
MF: Você é a aniversariante. Você quem manda.

Dizendo isso, me beijou sem mais interrupções.

°°°°
Acordei com o corpo doendo. De imediato não abri os olhos, mas senti que estava deitada em alguma coisa extremamente dura. Forcei a memória para me lembrar e algumas cenas, sem conexão, vieram na cabeça e aos poucos eu ia ligando. A festa, a poção, Mark... Sorri. Abri os olhos. Mark estava deitado do meu lado, mas com os olhos bem abertos.

MF: Bom dia. – ele disse tentando sorrir natural. Mas a situação já estava deveras engraçada e ambos rimos.
YH: Bom dia.
MF: Antes de qualquer coisa, devo dizer que perdemos o café da manhã e a primeira aula. Nossos amigos devem estar à nossa procura, mas não podemos sair daqui agora. Caso você não se lembre, estamos na passagem embaixo do Salgueiro Lutador, e seria bem estranho se simplesmente nos lançássemos para os jardins, com roupas sujas de terra e olheiras. Teremos que esperar até o sinal da aula tocar e ele ficar deserto.
YH: Ok. Então vamos esperar. E eu me lembro de tudo o que aconteceu ontem, só para constar. Eu estaria apavorada se não lembrasse o porquê da minha blusa estar a metros de distância de mim. – disse natural e Mark riu apanhando a blusa e jogando para mim. Agradeci.
MF: Quero também dizer que se você se arrependeu de alguma coisa, pode colocar a culpa no elixir da rebeldia. Acho que descobrimos o motivo de ter esse nome, popularmente falando...
YH: Não me arrependi de nada. Absolutamente nada. – ri e me aproximei dele o beijando. Ele correspondeu. – Aliás, acho que vou me lembrar do que aconteceu ontem o resto da vida.
MF: Aposto que sim.

A sineta para a primeira aula soou e depois de alguns minutos os jardins caíram em profundo silêncio. Mark olhou por cima da abertura.

MF: Estamos seguros agora. Vamos?

Perguntou e me estendeu a mão me ajudando a levantar e sair pelo buraco. O Salgueiro Lutador se paralisou no mesmo instante. Quando chegamos ao castelo, andamos apressados direto para a Lufa-lufa. Esperávamos encontrá-lo completamente deserto, mas assim que entramos no Salão Comunal, Scott, Ben, Louise, Sam e Alex estavam sentados nos sofás com as mesmas caras e roupas da noite anterior, tomando um café da manhã particular. Todos olharam para nós, e ao perceberem que estávamos sujos de terra, com olheiras e mãos dadas, pouparam qualquer explicação. Só riram gozadores.

AM: Acho que todos perdemos a primeira aula hoje... – disse Alex rindo e engolindo uma torrada.
BS: E o café da manhã. Mas consegui isso aqui na cozinha. Sirvam-se! – ele fez sinal para nos aproximarmos. Sentamos no chão e começamos a comer.
MF: Ah! Eu estava faminto!
SF: Nós imaginamos... Pode ser um efeito colateral da poção. – Scott disse e todos rimos. Mark e eu trocamos um olhar breve. Nunca mais nos esqueceríamos daquela noite, mesmo que muitos anos se passassem...


Friday, November 09, 2007


Do diário de Alex McGregor

-...Se Madame Hook mandasse dar mais uma volta no campo para “esticar os músculos”, eu seria capaz de esticar o pescoço dela. – resmungou Louise e rimos cansados, enquanto voltávamos do treino de quadribol.
- E ela tem coragem de chamar de “time dos sonhos” hunf..., tem dias que tenho pesadelos com os treinos dela, isso sim. – disse Yulli.
- Bem, pelo menos amanhã temos o passeio extra a Hogsmeade, e vamos poder descansar de tudo por algumas horas. Ao chegar ao castelo e sentir o cheiro da comida que vinha do salão principal, nosso ânimo se renovou e nos dirigimos para lá. Após o jantar, teríamos nossas aulas extras e cada um foi para um lado diferente. Lu e eu fomos para a torre de Astronomia, e no meio do caminho Lu parou sobressaltado.
- O que foi?- perguntei preocupada.
- Endora. - e ele começou a subir os degraus praticamente voando, e fui atrás dele o mais rápido que podia, quando estava próxima, ele vinha descendo os mesmos degraus com a professora Endora nos braços, e ela estava pálida e de olhos fechados.
- Vou levá-la para Madame Pomfrey. - e enquanto ele seguia correndo para a enfermaria, parei e sentei-me fechando os olhos. Fiz uma projeção e avisei madame Pomfrey o que estava acontecendo, voltei ao meu corpo, e fui a direção a ala hospitalar. Ao chegar lá Lu estava do lado de fora esperando, e pelo seu olhar preocupado, temi pelo pior.
- Como ela está? O que foi? Ela falou alguma coisa?- enchi-o de perguntas.
- Ainda não sei, madame Pomfrey não me deixou ficar lá. Ela chamou Dumbledore. - e ao olhar para os olhos dele, senti que alguma coisa muito ruim estava se aproximando rápido.
Ficamos lado a lado esperando, e como nada no castelo era segredo por muito tempo nossos amigos foram chegando querendo saber noticias da professora, e como não sabíamos de nada, apenas esperamos. Scott estava aflito, e devo reconhecer que eu também. Após algum tempo que nos pareceu longo, a enfermeira apareceu na porta:
- Ela pediu para senhorita McGregor e o senhor Chronos entrarem.
Lu e eu entramos naquela sala excessivamente branca com o familiar cheiro de poções, e vimos o diretor sentado numa cadeira ao lado da cama, conversando com a professora. A face dela estava mais corada, mas os olhos não brilhavam mais da mesma forma, enquanto sorria para nós:
- Obrigada senhor Chronos por sua atitude rápida.
- Não foi nada professora. – disse Lu um pouco embaraçado.
- O que a senhora teve? – perguntei antes que ela falasse mais.
- Sempre ansiosa, precisa aprender a controlar isso, mesmo assim conseguiu avisar a Pomona do meu estado e a posto em alerta, sem ter algum dano na sua volta rápida ao corpo. Posso ver pelos seus olhos... É... Acho que meu trabalho está pronto.
O diretor nos olhou sério e disse:
- Seria bom se vocês se sentassem, a conversa pode demorar um pouco. Gostaria que eu ficasse Endora?
- Pode ficar Alvo, não temos segredos, e minhas crianças, já não são tão crianças assim. E quando for a hora quero as pessoas amadas comigo. - senti um aperto no peito.
O diretor sentou-se ao pé da cama e ela pediu que nos sentássemos mais perto dela. Madame Pomfrey, puxou uma cortina para que tivéssemos privacidade e se retirou para sua sala.
Ela nos olhou nos olhos e começou a dizer:
- Leciono nesta escola há mais tempo do que posso me lembrar e algumas vezes fui abençoada com alunos que tinham algo mais. Esta é uma destas vezes, e fico feliz por conhecê-los.
- A senhora fala como se fosse embora... - comecei a dizer e Lu estava rígido ao meu lado.
- E de certa forma eu vou, mas sempre estarei com vocês. – ela disse e continuou como se não houvesse sido interrompida, e pegou na mão do Lu.
- Alucard, quando você veio a mim obrigado, eu sempre pensei que um dia conseguiria chegar à parte que Hellion não havia alcançado. A parte do bom e gentil rapaz que eu poderia ensinar e também aprender, que ter dons e ser ‘diferente’ não era tão ruim. Era uma questão de adaptação, e vejo que você depois de muito sofrimento, mas também coragem e amor, conseguiu se adaptar, e embora você ainda esteja dilacerado de dor pela perda dos seus pais, com o tempo você vai encontrar a felicidade.Para você Alucard, nunca precisei falar sobre seu futuro, pois você também tem esse dom. Um de seus filhos vai ter o mesmo dom, ainda mais intenso que você. O outro vai sofrer de solidão, mas vai esconder isso e vai ter um poder enorme, que nem ele conhecerá. E o outro filho,será a última luz em sua vida, afastando você e toda sua família de vez das trevas! – sorriu e as mãos deles entrelaçadas brilhavam. - notei que Lu fazia força para não chorar, mas sorriu a ela e disse ‘obrigado’.
Engoli seco quando ela me olhou e estendeu as mãos. Sai da cadeira e me aproximei mais da cama:
- Alexandra... Sabia que quando a vi pela primeira vez aos 11 anos, quebrando minhas xícaras de chá durante a aula, eu sabia que teria que ter paciência com você, pois um dia eu teria que ensinar coisas importantes e você precisava de tempo para amadurecer? Ate que um dia no ano anterior você precisou, de mim e eu sabia que teria que ensinar tudo o que podia a você, e procurei fazer isso da maneira mais tranqüila possível, como se o fizesse a uma filha. E acredite-me criança, neste último ano, consegui saber o que as mães sentem ao ver os filhos dar os primeiros passos para a vida, e me sinto orgulhosa, em ver que você não tem medo do seu dom ou de ir em busca de sua felicidade. Ambos amam de uma forma tão intensa que consigo sentir isso. - Lu e eu rimos, e ela continuou:
- Alex, já contei a você sobre o seu futuro, você lembra?
- Sim senhora. - disse e minha voz não soava firme.
- Só não disse que você vai ter filhos maravilhosos, valentes, e um deles, a sua menininha vai receber um presente meu, e que quando chegar a hora isso vai ajudar a sua família, mesmo que ela seja uma família formada por pessoas que não terão o mesmo sangue (e colocou sua mão sobre minha barriga e pensei ter visto aquele brilho novamente). Terão sofrimentos, provações, mas vocês terão o laço mais forte que é o amor, lembre-se que o amor perdoa tudo, Alex. (e esticou a mão para o Lu que a segurou). Quando eu me for, quero que ambos continuem a se apoiar, pois num futuro nem tão distante, a sobrevivência do nosso mundo, vai depender dos laços de amizade. Se eu tivesse tido filhos gostaria que fossem como vocês, seriam amados... Abençoados sejam... - e sua mão pendeu frouxa entre as nossas, enquanto seus olhos se fechavam. Senti minhas lágrimas deslizando grossas por meu rosto, e Lu me abraçou também chorando. O diretor tinha os olhos brilhando e apoiou as mãos em nossos ombros para nos consolar.
Terminava ali a vida de Endora Beers, a melhor professora de Adivinhação que Hogwarts já teve, e a mulher que em pouco tempo, me deu exemplos de como deveria ser o amor de mãe, se a minha mãe estivesse viva. Pois em algumas vezes, quando estava muito triste, não precisava falar nada e ela me acolhia em um abraço apertado e secava minhas lágrimas, e esclarecia minhas duvidas, sem deixar de me corrigir se eu estivesse errada. Um amor que nos acalenta, e nos prepara para enfrentar tudo o que surgir no caminho. Vamos sentir muito a sua falta.

Why do you weep?
What are these tears upon your face?
Soon you will see
All of your fears will pass away
Safe in my arms
You're only sleeping


N.A.- Into the West – Annie Lennox