Wednesday, January 30, 2008

Vamos a bailar!

Recuerdos de Alexandra McGregor

‘salsa és calienteeee...
oye mi cuerpo pide salsa
y con este ritmo
vamos a bailar
oye mi cuerpo pide salsa
y con este ritmo
no quiero parar
no quiero parar”


Depois que as meninas e eu dançamos com Kegan, nossos namorados chegaram passamos a curtir a festa com mais animação. Após um ótimo show de rumba, dado por Scott e Yulli,eu e Logan dançávamos animados, e a cada vez que parávamos tomávamos mojitos e eu nunca imaginei que ele curtisse os ritmos caribenhos:
- Quem teve a idéia deste tema??- ele sussurrou em meu ouvido enquanto me segurava pela cintura, e com o quadril colado ao meu, me fazia dançar ao ritmo da música.
- Foi a Karen. Ótimo não?- respondi.
- Aham, e a desculpa perfeita para eu te agarrar deste jeito sem correr o risco de ser expulso pela Minerva.
- Claro que McGonnagal saiu mais cedo quando ouviu o ritmo “caliente”. - rimos e continuamos a dançar.
Numa parte do jardim, um grupo animado dançando uma conga, se revezava para passar debaixo de um bambu. Quem os segurava cantavam alto “até onde você pode descer?” e a fila de desafiadores aumentava cada vez mais. Logan me puxou para lá dizendo:
- Se eu passar mais baixo que você, ganho um prêmio??
- Há! O cowboy dança a conga?? – provoquei.
- Sí. E então?
- Ganha, mas terá que me superar. – e me contorcendo passei por baixo do bambu sob aplausos. Logan me olhava com um brilho de desafio nos olhos e pediu para baixar um pouco mais e ele com uma flexibilidade que me surpreendeu, venceu- me.
- Ganhei! Quero meu prêmio.
Beijei-lhe profundamente e ele suspirou antes de abrir os olhos:
- Casa comigo? - disse.
Comecei a rir e ele continuou sério. Percebi que ele não havia proposto aquilo sob o efeito do álcool ou apenas porque queria ser “fofo”. Após alguns minutos e vendo que eu não responderia a sua pergunta ele sorriu e me puxou para seus braços, na hora em que começava uma musica lenta. Voltamos a dançar e não tocamos mais no assunto casamento, após algum tempo, desaparecemos por uma das famosas passagens do castelo.


A fortaleza negra estava situada no meio do mar gelado e até onde a vista alcançava via-se apenas água e desolação. Era guardada por aurores previamente selecionados e em alguns setores havia dementadores.
Era engraçado que em seus tempos de Academia, nunca havia sido informado que aquela prisão tinha a guarda de aurores formados, aliás mal sabia de sua existência. Nunca foi convocado para ser guarda ali enquanto estava no Ministério e menos ainda esperava ser convocado a fazer isso pelo clã dos Chronos. As ordens de Celas eram claras:
- Numengard guarda um dos horrores de nosso mundo e é nossa responsabilidade que ela permaneça inviolável.
- E quem é ele?- Kyle perguntou sabendo por experiência que naquele lugar deveria haver um prisioneiro muito importante.
- Alguém que já tentou nos destruir (e mostrou-lhe um papel com o nome do homem e ele habilmente disfarçou a surpresa antes de queimar o papel). – e ela prosseguiu:
- Se este prisioneiro tentar fugir, temos ordens expressas de matá-lo e avisar a Dumbledore.
Nos olhos dela havia a mesma determinação do velho Chronos quando dava uma ordem e esperava ser obedecido sem questionamentos. Kyle assentiu, ajeitou sua capa de viagem nos ombros e logo rodopiava pela chama verde esmeralda da lareira.

Gritos, feitiços se chocando pelo ar gélido que ia se espalhando pela enorme prisão. Por alguns segundo Kyle, conseguiu fazer uma projeção e descobriu que alguns encapuzados se movimentavam com rapidez para se aproximar do local onde aquele prisioneiro especial era mantido, sob a guarda de dementadores. Pelas suas contas a proporção era de quatro invasores para cada auror, e alguns jaziam pelos corredores. E através da projeção avisou a Dumbledore o que estava acontecendo e correu para a luta.


Alex e Logan estavam deitados sobre uma manta debaixo de um enorme carvalho nos jardins da escola, quando entre um beijo e outro Logan perguntou:
- Porque não respondeu a minha pergunta?
Ela riu e tentou beija-lo para mudar de assunto, mas ele se afastou, esperando sua resposta. Ela suspirou e respondeu:
- Somos jovens para pensar em casamento.
- Remo e Louise vão viver juntos, depois da escola. – ele disse.
- Eles vão morar juntos, e não se casar.
- Estarão praticamente casados, porque não oficializar isso?
- Não acho que isso seja tão importante agora...
- Porque você não quer casar comigo?- ele insistiu e ela disse impaciente:
- Acha que casando comigo vai conseguir me prender?
- E eu preciso te prender??- ele perguntou frio.
Ficaram se olhando por um tempo quando ela sentiu um arrepio, fechou os olhos e procurou captar as sensações.
- O que houve???- ele quis saber e ela após alguns segundos disse:
- Kyle, está pedindo ajuda... Captei um sinal...
- Você o “sentiu” quando estávamos juntos? - ele perguntou levantando uma sobrancelha.
- Sim, quer dizer mais ou menos. Preciso voltar ao castelo para verificar isso. Você vem?– respondeu enquanto colocava sua sandália e só então percebeu que ele estava parado no mesmo lugar com um olhar sombrio.
- Preciso ir embora, tenho que levantar cedo amanhã.
Despediram-se e ela correu para o castelo, queria mandar uma mensagem para Sergei e se certificar de que Kyle estava bem. Não viu quando Logan se sentou embaixo da árvore e tirou do bolso uma caixa pequena, e depois de olhá-la por um longo tempo ele a guardou de volta,levantou-se e caminhou até um ponto no jardim e aparatou.

Thursday, January 24, 2008

El Beso del Final

Por Kegan O’Shea

Um elfo usando camisa estampada e carregando uma bandeja repleta de copos decorados com folhas de hortelã passou pelo meio do jardim e logo várias mãos agarraram os drinks. O elfo sorriu satisfeito e voltou à bancada para preparar mais. A bebida que estava fazendo tanto sucesso chamava-se Mojitos, havia sido ensinada por Karen aos elfos e estavam sendo preparadas no aniversário de 18 anos de seus irmãos gêmeos, Scott e Megan. A festa era ao melhor estilo Cubano e o jardim, com autorização do diretor, fora decorado para parecer um autêntico clube noturno de Havana. Para qualquer lugar que se olhasse tinham casais dançando salsa, mambo e rumba, uns em ritmos mais acelerados, outros aproveitando os movimentos da dança para deixar os passos mais lentos com os parceiros.

Apesar de não parecer muito, também estava me divertindo bastante na festa. Já havia dançado com as meninas, uma por vez e em passos totalmente descompassados, mas agora cada uma delas estava na companhia dos namorados recém-chegados à festa e estava outra vez ao lado da mesa de comidas observando as pessoas dançando uma conga animada, se revezando para passar debaixo de um bambu. Quem os segurava cantavam alto “até onde você pode descer?” e a fila de desafiadores aumentava cada vez mais. Mas começava a não olhar mais. Meus olhos e total atenção estavam voltados para Karen. Ela estava de pé do outro lado do jardim conversando com a professora Sprout. Pedi licença aos dois e me encaminhei até lá. Ben já andava me encarnando dizendo que me tornaria o rei dos tocos, mas não me importava. Ainda ia conseguir convencê-la de que gostava dela de verdade. Sprout notou primeiro que estava me aproximando e se apressou em inventar uma desculpa para se retirar, sorrindo pra mim. Karen, no entanto, assumiu uma expressão séria quando me viu.

- Sua receita fez sucesso – comentei apontando para o copo de mojitos na mão dela – A garotada não para de pedir
- Eles bebem qualquer coisa – respondeu seca
- Qual é o problema agora, Karen? Está esquisita comigo há alguns dias e não me lembro de ter dito nenhuma bobagem!
- Qual o problema? – ela riu, mas uma risada que me assustou – O problema é que você passou dos limites nessa disputa idiota pela preferência dos alunos! Azkaban?? Será que nem por um segundo pensou no quanto estava sendo irresponsável, nessa tentativa desesperada de chamar a atenção deles??
- Não os levei até lá só para ser o professor legal, levei porque fazia parte da dinâmica da aula! – respondi indignado – E não fui irresponsável! William foi comigo, tínhamos tudo sob controle!
- Ah sim, claro... Está me dizendo então que o Batman e o Robin dariam conta de mais de 50 dementadores caso eles se rebelassem e atacassem os alunos? Os dois sozinhos protegeriam os 40 alunos?
- Sim, estou afirmando isso! Você pode me achar idiota, irresponsável e o que for, mas nunca colocaria meus alunos em perigo por causa de uma briga besta! – dei um passo a frente e ela não recuou, mas me olhou de um jeito que dizia claramente “dê mais um passo e é um homem morto” – Qual é o problema de verdade? Por que não acredito que seja esse.

Karen me encarou sem dizer nada e achei que fosse sair e me largar falando sozinho, mas não saiu do lugar. Apenas virou de costas para preparar mais uma bebida e depois tornou a ficar de frente pra mim.

- Eu fiquei preocupada, ok? – ela parecia mais calma agora – Meus irmãos estavam lá, e me contaram que se sentiram mal.
- Sim, eles desmaiaram. Mas Megan conseguiu produzir um patrono corpóreo antes disso, ela se saiu muito bem!
- Megan sempre foi o lado forte da família. Não fico surpresa que tenha conseguido – ela sorriu e me senti aliviado. Não seria assassinado, afinal
- Ela disse que segundos antes de desmaiar viu ela e Scott em um enterro, e depois disso não tinha mais força pra continuar de pé. Quem era?
- Justin, um amigo de infância deles – Karen falava desanimada e me arrependi de tocar no assunto, mas era tarde demais – Tinham a mesma idade, toda a turma deles, e ele tinha Lupus. Morreu aos 13 anos, foi o primeiro baque dos meninos.
- Desculpe, não devia ter perguntado
- Tudo bem, você não sabia
- Vou compensar a bola fora – estendi a mão e ela me olhou de lado – Vamos dançar
- Não, melhor não.
- Por favor? – insisti – Só uma música! Você só dançou com Scott a noite inteira, vai começar a criar teia...

Por um instante achei que ela não fosse aceitar, mas para minha total surpresa, Karen segurou minha mão. Mas não foi tão simples assim, claro. Enquanto a conduzia para o meio da pista, ia me ditando regras para não ser obrigada a me bater. Deixou bem claro que qualquer movimento mais avançado ia me custar caro. Então se queria conseguir alguma coisa e ainda ser capaz de ter um filho no futuro, era bom escolher bem os movimentos.

O amigo do meu irmão, Toquinho, era o DJ improvisado da festa. Achava ele meio maluco, mas estava conseguindo manter as pessoas na pista de dança por todo o tempo alternando entre salsa e mambo. Fez um sinal de positivo quando me viu voltando para o meio da pista e ri, pois tinha certeza que ia mudar o ritmo só pra me complicar. Não demorou muito para meu irmão e os amigos cutucarem uns aos outros e apontarem na nossa direção, disfarçando as risadas de deboche. Mas ela parecia não notar. Sorte a minha, ou talvez não pudesse ter a chance de descobrir que Karen sabia dançar salsa, e muito bem! Sentia-me como uma criança aprendendo a andar tentando acompanhar os passos dela, mas era fisicamente impossível dançar no mesmo ritmo.

Como previsto, Toquinho não demorou a tirar a salsa ou qualquer outra musica agitada dos alto-falantes no jardim. Deu inicio a uma seqüência de rumba e de repente um espaço enorme se abriu e Scott e Yulli, ambos já influenciados pelo rum excessivo nos copos de mojitos, passaram disparados e se postaram bem no dentro da roda. Toquinho ajeitou a iluminação pra focar apenas os dois e eles começaram a dançar. Estava dividido entre rir e prestar atenção nos movimentos, mas por mais engraçado que aquilo estivesse, tinha que admitir que eles dançavam bem.

Logo o show terminou e eles continuaram dançando, mas de maneira mais moderada. Aos pouco as pessoas na pista paravam de rir e recomeçavam a dançar com seus pares e aproveitei a música ainda lenta para puxar Karen para mais perto. Sempre com cautela, claro. Ela não parecia que ia apresentar resistência, então consegui deixar seu rosto colado no meu. A noção de perigo que tenho me dizia para ficar quieto e aproveitar a oportunidade sem tentar mais nada. Mas não queria dar ouvidos a ela, preferia me arriscar.

- Você é linda, sabia? – falei no ouvido dela, mas ela não recuou
- Já pedi pra parar com isso
- Por que foge tanto?
- Não fujo, mas já disse que tenho namorado. Somos só amigos, Kegan
- Mas quero ser mais que isso, sabe disso

Percebi, mesmo sem ver seu rosto, que ela ficou balançada. E sabendo disso, não consegui me conter. Beijei seu ombro devagar, fui subindo para o pescoço, bochecha e quando cheguei na altura da boca e pensei que ela fosse recuar, Karen virou o rosto e me beijou. Envolvi meus braços em volta dela e desejei que aquele momento durasse pra sempre. Mas, infelizmente, sabia que não seria fácil assim...

When rain has hung the leaves with tears,
I want you near, to kill my fears
To help me to leave all my blues behind.

For standin' in your heart,
Is where I want to be, and I long to be,
Ah, but I may as well, try and catch the wind

Donovan – Catch the wind

Thursday, January 17, 2008

O que não mata, te fortalece

Das memórias de Alex McGregor

- Ben, Louise, Scott, Alex e Yulli, vocês primeiro! – Kegan deu dois passos para o lado e Stroke se posicionou do outro, ambos com as varinhas em punho para qualquer contratempo – Sabem o feitiço, mande-os embora!

Apontei a varinha com firmeza e inicialmente talvez pela excitação não sentisse o frio mortal que os dementadores lançavam sobre nós.
- EXPECTO PATRONUM! – e uma luzinha prateada acendeu na ponta de minha varinha e a minha lontra prateada investiu contra aquelas criaturas cadavéricas e encapuzadas, mas eles eram muitos e muito fortes, logo a minha determinação de me manter de pé começou a fraquejar. Um a um, meus amigos foram caindo desmaiados eu fui me sentindo péssima com uma série de memórias ruins que insistiam em invadir minha mente, o que tornava tudo mais difícil.

Um dia de sol...
Uma mulher de cabelos e olhos escuros...
Um cheiro familiar. Mamãe!
O cheiro de grama recém cortada...
O som de risos...
Um homem de cabelos loiros e olhos tão verdes quanto à grama... Papai!
A sensação de voar...
Cair e ser apanhada por mãos fortes.
Proteção.
Um ar pesado de tensão.
O medo...
Os gritos...
Os raios verdes e vermelhos se cruzando...
O choro aflito do bebê...

- Mas eu não quero estudar numa estúpida escola inglesa. Porque faz isso comigo vovô? Não me ama mais? - os olhos da garota estavam nublados e seu queixo tremia, ela lutava para segurar as lágrimas. O homem mais velho com olhos cinzentos a olhava com pesar e disse:
- Amo-a demais minha pequena, e por isso levo a sério a recomendação de não deixar todos os McGregors concentrados no mesmo lugar, temos inimigos e corremos perigo. Nunca se esqueça disso.
- E estudar sob a supervisão de Dumbledore não vai ser tão ruim assim, você fará amigos valiosos lá... - dizia vovó me abraçando antes que eu entrasse no trem para Hogwarts.

Sacudi a cabeça para afastar as lembranças de quando era criança, e tentei novamente:

- Expectum Patrono... - é o que lembro de pensar em dizer, mas não tinha certeza, antes de deixar o frio me dominar novamente:

- Connor! Não!
Olhos verdes arregalados num corpo sem vida.
-Não mate minha filha, ela é inocente. Faço o que quiser, mas não mate minha filha...
Choro aflito de um bebê... O meu choro
Um gemido de dor...
Um abraço apertado...
O cheiro de sangue...
O vazio da morte.

- Quero que seja minha Selene...
- Sou sua Kyle...
- Vocês não podem ficar juntos, porque são irmãos.
O olhar torturado de Kyle.
Seu arrependimento.
Sua culpa... Não, nossa culpa.
A sensação de sentir-se suja...
O medo de ser condenada ao Inferno.
Viver no inferno, até descobrir sua salvação: Logan.

- Não mate a minha filha!

Minhas mãos tremiam e meus joelhos foram cedendo, a exaustão foi se entranhando em mim de tal forma que quando a escuridão chegou, eu a abracei de boa vontade.
Não queria mais lutar.
Recobrava-me aos poucos e logo um pedaço de chocolate era posto em minha mão. Lu ajudava aos professores a cuidarem de nós e cada um de meus amigos trazia no rosto os horrores de suas lembranças ruins, mas começamos a falar, isso exorcizaria nossos medos e nos faria mais fortes. Cada um contou um pouco do que mais o marcou e eu disse:
- Eu ouvi uma mulher, ela gritava: ‘Não mate minha filha!’ - Repetidamente. Ela soava desesperada! – falei cansada e assustada, e minha voz saiu abafada:
- Acho que era minha mãe... E também outras coisas...
Olhei para Lu e achei que ele tivesse visto minhas lembranças, preparei-me para um olhar de recriminação, mas tudo o que ele fez foi me dar mais um pedaço de chocolate e abraçar a todos nós como se pudesse passar um pouco de sua força, e nos apegamos uns aos outros, isso nos fortalecia.
- Estamos juntos! Podemos vencer! – não sei qual de meus amigos disse isso, mas foi bom ouvir.
Naquela hora eu soube que se algum dia precisasse falar sobre as minhas dores, meus amigos estariam ali para me dar uma mão, sem julgamentos. E isso é o que me tornaria forte contra os dementadores na minha carreira de auror e como pessoa.

Wednesday, January 16, 2008

Campo de sangue

Lembranças de Alucard W. Chronos

Hoje era dia de mais uma aula do Kegan, e eu não via a hora para que ela começasse. As aulas vinham sendo exaustivas, e algo em mim acendia em suas aulas, na verdade como se fosse uma inspiração. Sei que se um dia eu fosse ensinar a alguém, eu ensinaria como ele. Kegan rapidamente se tornou um dos meus professores favoritos. E todos pareciam igualmente animados com as aulas, sabendo que elas seriam muito importantes no futuro. Mirian participava conosco, e cada dia se esforçava mais, superando-se gradativamente.

Finalmente fomos para a sala de aula e olhamos com curiosidade para a enorme mochila que estava aos pés de Kegan, enquanto ele a arrumava. Quando entramos, ele nos olhou sorrindo, e em seu olhar eu captei algo. Essa aula seria muito diferente das outras. Ao finalmente estarmos todos sentados nas almofadas do chão e totalmente corroídos de curiosidade, ele deu a notícia:

- Hoje vamos conhecer as instalações de Azkaban e seus adoráveis guardas! – falou quase sorrindo.

A reação da turma foi imediata. Mirian arregalou os olhos e levou a mão a boca, enquanto apertava minha mão com força. Ben, Alex, Lou, Yul e Scott também se surpreenderam e pareciam meio sem palavras, como se não acreditassem. Eu por minha vez, senti o coração saltar. Um pouco de entusiasmo e um pouco de medo.

Dementadores. Uma das mais perigosas criaturas da Terra. Para meu clã, eles eram considerados completamente malignos e nunca fomos a favor de seu uso como guardas de Azkaban. Nas anotações de meu avô, eles recebiam classificação 5 de periculosidade, o nível mais alto, junto das Mortalhas-Vivas, Quimeras, Manticores e Basiliscos. Eu já enfrentara um deles, mas nunca um bando deles, ainda mais em um local repleto deles...E treinar com bichos-papões nem se comparavam à situação real.

Enquanto eu pensava nessas coisas, Stroke apareceu na sala, com uma mochila igual a de Kegan, o que causou alívio para alguns alunos mais amedrontados.Então me lembrei rapidamente de pensar nos momentos mais felizes da minha vida, sabendo que isso seria o limiar entre sobrevivência e queda. Pensei no primeiro beijo com a Mirian, a primeira noite com ela, a visão de meus amigos que me ajudavam e davam apoio mesmo eu sendo o que sou, pensei nas palavras de Endora me encorajando. Todos esses momentos vieram em flash em minha mente e tomei o cuidado de grava-los bem. Como se lessem minha mente, Kegan e Stroke avisavam para que os alunos se lembrassem e concentrassem em seus momentos felizes. Vi alguns alunos treinando o patrono, enquanto fixavam na mente suas alegrias.

Stroke liderou o primeiro grupo, enquanto nós esperávamos nossa vez de usar a chave-de-portal, junto de Kegan. Mirian parecia tensa e apertava com cada vez mais força minha mão. Antes de irmos eu olhei pra ela e sorri, dando-lhe um beijo na bochecha.

- Não se preocupe, você vai se sair bem.

Ela sorriu de volta, mas parecia incapaz de falar, de tanta tensão. Finalmente tocamos na chave de portal. Lá estava ela...A maligna prisão dos bruxos. Senti uma pressão, quase física, em meu peito, como se o ar quisesse me esmagar. Como se uma enorme mão me desse um tapa, uma onda de emoções me atingiu. Me senti fraco ao sentir tanta dor e sofrimento no ar. Como um ser vivo poderia viver ali?! Como os presos não enlouqueciam? Nunca eu ouvira falar ou estive em um lugar que cheirasse tanto a morte. As paredes negras eram lisas e não haviam grades ou portões, pois não havia necessidade, já que os dementadores guardavam cada saída. O próprio prédio parecia uma entidade maligna, como se ele em si fosse um gigantesco monstro sedento de sangue.

Mantive meus olhos injetados de vermelho, para se houvesse algum ataque repentino. O jorro de sentidos ao utilizar meus poderes vampiros só me fez me sentir ainda mais pressionado e quase fraco. Meus olhos me permitiam olhar nos “olhos” dos dementadores, e eles pareciam até mesmo assustados ao ver alguém como eu ali. Me preocupei deles me considerarem um inimigo e atacar, mas pelo contrário, parecia que eles gostavam da minha visita...Já em relação a Mirian, eles pareciam se distanciar dela, como se sentissem a luz de seus poderes. Fiquei com medo deles a atacarem por medo, por isso a aproximei mais, abraçando-a com força, forçando os olhos em cada dementador que tentasse se aproximar.

Kegan e Stroke lideravam a turma, os olhos atentos e varinhas em punho. Fomos para as celas onde os comensais haviam escapado e me arrepiei ao sentir no ar o sofrimento daquele lugar. Só havia uma janela na cela, e mesmo estando de dia, ela mal deixava passar um fiapo de luz, como se quisessem tirar até mesmo a esperança do sol. Sem esperança, sem luz, sem força, com apenas dor, sofrimento e medo, a condenação ao cárcere em Azkaban era a pena de morte, ou pelo menos da loucura completa. Senti-me enjoado e fraco...Mas não podia me deixar cair, sabia que se eu deixasse, o monstro de mim se aproveitaria da fraqueza e da atmosfera maligna para me dominar, ignorando o acordo. Porém parecia que até ele estava fraco diante daqueles seres malignos. Outra coisa que me deixou assustado era o estado dos presos. Meus olhos me permitiam ver além da pouca carne deles, e eu via a destruição de suas almas. Dois deles pareciam mais com os dementadores que com humanos normais...

Um dos presos agarrou a barra da saia da Lou, e ela quase caiu assustada, mas Ben e Scott a seguraram. Mas os dementadores avançaram para o homem, cinco deles juntos. O homem começou a gritar e a chorar. Meu estômago deu um salto, como se meu almoço quisesse sair dali, e senti um nojo enorme. Kegan e Stroke tentaram barrar a cena horrível, mas para mim não faria diferença. Eu podia ver a alma do homem sendo sugada pelos 5 dementadores, e em poucos segundos o corpo caia no chão, apenas uma casca vazia. Minhas narinas e minhas pupilas dilataram, reconhecendo a morte...

- Ben, Louise, Scott, Alex e Yulli, vocês primeiro! – Kegan deu dois passos para o lado e Stroke se posicionou do outro, ambos com as varinhas em punho para qualquer contratempo – Sabem o feitiço, mande-os embora!

Os cinco levantaram a varinha e gritaram com força o único poder contra um dementador: “Espectro Patronum!”. Mas o efeito dos dementadores foi avassalador. Os cinco dominavam perfeitamente o feitiço, e já possuíam patronos corpóreos. Eu e Alex nos comunicávamos por patrono quando era necessário. Mas nenhum deles conseguiu conjurar seu protetor. Todos se esforçavam, mas um a um foram desmaiando. Alex mantinha-se de pé, os olhos concentrados, mas a mão começou a tremer e suas energias começaram a se dissipar, até desmaiar. Ben resistia firme, mas apagou logo em seguida.

- Chronos, Ferguson, Wood, Capter rápido! – Kegan ordenou, enquanto nós avançávamos.

Do primeiro grupo apenas Megan estava ainda de pé, e eu senti feliz por ver sua força de vontade. Mas o tremor em sua mão estava mais intenso e seus olhos pareciam perder o foco. Eu imaginava o tipo de coisa que ela estava vendo... Assim que conseguiu afastar seu dementador, desmaiou sem forças e os dementadores viraram para nós, que agora os atacávamos com os patronos. A águia de Mirian surgiu por um momento diante dela, mas desapareceu sem forças quando Mi caiu desmaiada ao meu lado. Eu a abracei contra meu corpo e olhei para os dementadores, com raiva e determinação. Minha águia brilhava diante de mim, afastando os dementadores, enquanto eu os encarava...Não pude mais resistir ao choque deles...

When the sky is turning black, you fear the dawn
Your inner voice compels you, but you’re all alone
Thy secret sense lies still obscure within your shattered dreams,
and all you can do is scream

Meu avô desaparecia…

Hellion apertava minha garganta, enquanto gargalhava...

As pressas do vampiro eram cravadas em meu pescoço...

O sangue maldito entrava em meu corpo...Eu engasgava com o líquido viscoso e nojento...Meu pulso ardia enquanto mais sangue entrava em meu corpo...

Senti um nojo intenso...

Um dor maior que tudo no mundo, quando meu corpo começava a morrer...

Tudo se tornava negro, enquanto eu mergulhava na escuridão e me afogava no mar negro...

Eu vagava sozinho por uma planície cheia de corpos, cheia de sangue...O céu era negro e não havia uma única alma viva...

Eu gritei de dor e medo. Minha águia piscou e quase se apagou, mas concentrei-me novamente em Mirian, caída ao meu lado, e nos meus amigos desmaiados ali perto. A águia ganhou força, e voou para perto de mim, me dando forças também, e consegui me manter erguido. Mas os dementadores se aproximavam novamente, agora eram 6. Todos curiosos pela minha alma, que era metade morta, metade viva...

Sentia na pele a dor dos meus pais...

Via eles serem torturados enquanto ouvia a gargalhada dos seus algozes...

Eles sofriam, e não conseguiam segurar os gritos...

Os gritos de dor ecoavam por toda a sede, junto dos lamentos das almas mortas no ataque...

No hospital senti quando seus corpos não podiam mais segurar a alma, e elas voaram livres finalmente da dor...

Novamente o campo de mortos, com rios de sangue e corpos ao meu redor...

Reconheci os rostos dos mortos... De todas as pessoas que já matei, comensais, pessoas malignas...Todas que haviam servido de alimento para mim...

Agora o céu era vermelho como o sangue, e os corpos se levantavam...Suas almas vagavam ao meu redor urrando de sofrimento e querendo vingança...

Os dedos apodrecidos me agarravam, e seu toque queimava minha pele...

Não conseguia me mover e os cadáveres cravavam as unhas e dentes em mim, mordendo minha carne e tentando sorver a vida de volta para eles...

Gritei de dor para o céu carmesim...

Mas minha força era maior do que o medo com que os dementadores me cobriam. Meus olhos lampejaram. Sem cair ou me ajoelhar uma vez, com os olhos brilhando de raiva e força, minha águia soltou um pio alto e poderoso. Ela se chocou contra dois dementadores, afastando-os. Os outros se afastaram, com medo daquele ser de pura bondade e luz que era minha águia.

Endora sorrindo para mim diante do descanso eterno, enquanto me tranqüilizava dizendo que via um futuro bonito para mim...

Dois rostos idênticos sorrindo para mim. Não via com clareza suas feições, mas ambos tinham olhos verdes, um tinha olhos cheios de uma pureza e bondade como eu nunca vira, enquanto o outro tinha olhos cheios de força e determinação...

Via os olhos de Mirian enquanto nos beijávamos e nos abraçávamos pela primeira vez...

Via os rostos sorridentes dos meus amigos, e sentia minha própria alegria ao ver que eles não me renegavam, e continuavam comigo...

Via Alex cortando o próprio braço para me salvar, com amizade pura no rosto...Via o mesmo gesto sendo repetido por Kyle e Mirian.

E via finalmente um par de olhos pequeninos e verdes. Eles pareciam sorrir para mim, como se me falassem que tudo ia ficar bem no final...

- Está tudo bem agora, Chronos. Ótimo trabalho! Você foi o único que não desmaiou. E sei que você é o que tem os maiores sofrimentos nesse grupo. Parabéns. – Kegan falava com a mão no meu ombro, sorrindo e depois apertando minha mão. Ele e Stroke haviam espantado os últimos dementadores e ao olhar ao redor vi que eu era o único além dos dois de pé.

- Obrigado, professor...Mas foi muito difícil...Vi coisas terríveis...Eu não sou muito diferente dos dementadores...

- Não diga besteiras! Se seus amigos estivessem acordados, eles iriam brigar com você por algo assim! Venha, me ajude, precisamos tira-los daqui, vi uma pequena área rochosa que seria suficiente. E quando eles acordarem, dê muito chocolate para todos.

Ele me entregou uma bolsa cheia de chocolates e ajudei ele e Stroke enquanto levávamos os alunos ainda desacordados para um local longe da interferência maligna dos dementadores. Distribuíamos chocolate enquanto os outros iam acordando. Eu ainda estava muito cabisbaixo e usei todas minhas forças contra os dementadores. Quando Mi, Alex, Ben, Scott, Yul e Lou acordaram, eu os abracei com força, grato por estarem bem. Mas principalmente, por serem minha força...Se não, há muito tempo eu teria desistido de lutar, e o inferno dos dementadores seria meu próprio inferno, dia após dia.

N.A.: Música The Unforgiven Blade, Hammerfall.
Alucard Wingates Chronos às 6:25 PM

Monday, January 14, 2008

Lembranças ruins

Por Ben O’Shea

O horário do almoço se aproximava do fim e toda a turma do 7º ano tentava se alimentar da melhor maneira que conseguisse. Era essa a rotina de todas as sextas-feiras desde que as aulas de Kegan entraram na grade curricular. O desgaste era tão grande que no inicio muitos alunos não agüentavam e desmaiavam no meio da aula. Para resolver o problema meu irmão precisou montar uma dieta especial para os almoços antes de suas aulas e desde então ninguém mais passou mal no meio dela. A sineta indicando o recomeço das aulas tocou e caminhamos calmamente até a sala. Ele já estava lá do jeito de sempre, sentado com as pernas para cima da mesa nos esperando. Mas hoje notei que arrumava uma mochila gorda quando entramos. Sentamos curiosos nas almofadas espalhadas pelo chão e depois de já estarem todos acomodados, Kegan se levantou.

- A aula hoje vai ser um pouco diferente. Quero que deixem as mochilas no canto da sala e peguem somente as varinhas. Não quero mais nada nos bolsos além delas
- Vamos duelar com que feitiços hoje? – perguntei curioso guardando a mochila
- Não vamos duelar – disse sorrindo – Ao menos espero não precisarmos chegar a isso. Hoje vamos pôr em prática o feitiço que estamos treinando há um mês, o Feitiço Patrono! – e na mesma hora alguns alunos se olharam agitados
- Vamos treinar com bicho-papão outra vez? – Alex indagou já sabendo a resposta
- Não – Kegan puxou um tênis rasgado da mochila e colocou no meio da sala – Hoje vamos conhecer as instalações de Azkaban e seus adoráveis guardas!

Agora a agitação era geral. Conhecer Azkaban e ficar de frente com um dementador de verdade? Ou Kegan tinha enlouquecido de vez, ou estava a poucos minutos de dar a melhor aula da história de Hogwarts. Ao mesmo tempo em que estava empolgado, estava receoso. Dementadores não são criaturas amistosas, e se alguma coisa desse errado? Como Kegan, sozinho, ia proteger 40 alunos? A resposta veio segundos depois, quando o professor Stroke entrou na sala com uma mochila igual à dele nas costas, parecendo muito disposto.

- Não há o que temer – Kegan tentou tranqüilizar os que ainda pareciam assustados com a perspectiva de encarar um dementador –William e eu estamos preparados para qualquer imprevisto e vocês já sabem executar o feitiço. Tenho plena certeza que se um dementador avançar, poderão se defender sozinhos. E se por alguma razão não conseguirem, estaremos logo atrás.
- Dementadores são perigosos, e ao primeiro contato direto com eles, vocês serão forçados a reviverem suas piores lembranças – Stroke começou a falar – Lembrem-se das aulas, e tenham uma lembrança boa em mente. O único modo de repelir o dementador é esse. O feitiço não vai surtir efeito se não pensarem na melhor lembrança que tiverem.
- Exato – Kegan tomou a palavra. A turma nem respirava, prestando atenção. Todos tensos e ansiosos – Então antes de sairmos, quero que todos fechem os olhos por alguns segundos e pensem nessa lembrança feliz. Ninguém vai sair daqui sem ter algo em mente contra os dementadores.

Pedir que pensássemos em uma lembrança feliz depois de nos comunicar que íamos encontrar dementadores era sacanagem, mas mesmo assim a turma inteira fechou os olhos e tentou se concentrar. Teria sido muito mais fácil se ele tivesse feito esse pedido antes do anuncio, mas consegui refrescar em minha memória minha melhor lembrança: meu primeiro dia de aula em Hogwarts, quando conheci o que hoje considero minha segunda, e tão importante quanto, família. Alguns minutos depois todos pareciam já ter algo em mente e Kegan organizou os grupos que sairiam com as chaves de portal que eles fizeram.

Stroke foi à frente com o primeiro grupo e saímos no último, com meu irmão. E logo de cara já sofremos o primeiro baque: a fortaleza de Azkaban não era em nada parecida com a retratada nos livros, e diversas fotos que estamos acostumados a ver. Se no papel e na teoria era parecia assustadora, ao vivo era muito pior. Ficava localizada no meio do oceano, em uma barreira de pedras gigantescas, para dificultar a fuga. As paredes de pedras cinza e sujas cercavam todo o lugar, e não havia portas ou grades. Não era necessário. Os dementadores, que avistamos de longe e já causaram arrepios, estavam postados em todas as saídas e nenhum prisioneiro se atrevia a se aproximar. Encurralados e sem varinhas, não teriam a menor chance contra eles. Kegan fez sinal para que andássemos e o seguíamos tão devagar e temerosos que íamos tropeçando uns nos outros pelo caminho.

Kegan e Stroke nos guiaram até uma das celas que os comensais que fugiram ocupavam e pudemos ver como eles viviam. Era assustador. Da única janela, muito pequena, podia ver a imensidão do mar e a água revolta batendo nas pedras. Era fácil entender como os prisioneiros enlouqueciam rapidamente aqui. Alguns que não escaparam, notando nossa presença, começaram a falar coisas sem sentido. Quando um deles agarrou a barra da saia de Louise, cinco dementadores avançaram para cima dele. Ela deu um passo para trás assustada e tropeçou, mas a seguramos a tempo. Kegan e Stroke se adiantaram e se posicionaram na frente da turma, mas não puderam impedir que víssemos as criaturas cercarem o homem e segundos depois seu corpo cair desfalecido no chão. Totalmente sem vida. As meninas soltaram um grito de horror e os dementadores encararam a turma.

- Ben, Louise, Scott, Alex e Yulli, vocês primeiro! – Kegan deu dois passos para o lado e Stroke se posicionou do outro, ambos com as varinhas em punho para qualquer contratempo – Sabem o feitiço, mande-os embora!

Nos olhamos nervosos, mas não recuamos. Apertei a varinha entre os dedos e vi meus amigos fazerem o mesmo, um nítido esforço para manterem a lembrança boa em mente. Concentrei todas as minhas forças no dia que cheguei a Hogwarts e apontei a varinha para o dementador da ponta, que se aproximava de mim.

- EXPECTRO PATRONUM! – berrei, mas nada aconteceu – EXPC-, DROGA! EXPECTO PATRONUM! – uma luz prateada saiu da ponta da minha varinha, mas se dissolveu rapidamente

Continuei apontando a varinha para o dementador e gritava o encantamento com todas as minhas forças, mas não surtia efeito. Louise, Scott e Yulli já haviam desmaiado e Kegan ordenou que Lu, Sam e Mark se adiantassem. Alex resistia firme, mas sua mão começou a tremer violentamente até que desmaiou também. Eu já estava de joelhos na cela e suava frio. Comecei a ouvir a voz fraca do meu avô pedindo para socorrê-lo. Ele implorava por ajuda, mas não me deixava sair para procurar. Sua voz foi morrendo aos poucos, até que desapareceu. Abri os olhos e ainda estava de frente para o dementador. Só restavam Lu e Megan de pé, e uma águia e um esquilo prateados forçavam dois dementadores a recuar. O esquilo de Megan se dissolveu quando o dementador recuou e ela caiu desacordada em seguida. Apontei a varinha com a mão trêmula para ele, e sabia que seria a última tentativa.

- EXPECTRO PATRONUM! EXPECTRO PATRONUM! EXPECTRO PATR-

Não terminei de dizer o encantamento. Minha cabeça pesou e os olhos fecharam, e a última coisa que lembro sentir foi o chão gelado batendo no meu rosto quando cai desmaiado.

ººº

- Foi horrível... – ouvi a voz fraca de Louise perto de mim – De repente estava de frente para o meu avô ouvindo outra vez ele contar sobre a minha mãe. Ouvi também coisas que não sei o que são. Era uma mulher e um homem discutindo, e ouvi choro de criança também. Talvez seja algo de quando era pequena e que esqueci
- Eu ainda sinto calafrios – agora era Scott que falava – Podia até ouvir o barulho que todos aqueles morcegos faziam quando me atacaram!
- Eu ouvi uma mulher, ela gritava ‘Connor, não! Não mate minha filha!’ repetidamente. Ela soava desesperada! – Alex falou também parecendo cansada e assustada, e sua voz saia abafada – Acho que era minha mãe...
- Eu vi meus pais discutindo e gritando que iam se separar – Mark parecia mastigar alguma coisa enquanto falava – Foi um pesadelo pra mim, ficaram brigando pela minha guarda. E você, Yul? Lembrou de que?
- Me vi no dia da morte da minha avó, dois dias depois do meu aniversario de 15 anos – Yulli tinha a voz triste e abri os olhos - Ei, o Ben acordou!

Scott e Lu me ajudaram a levantar e esfreguei os olhos, ainda tonto. Estávamos sentados do lado de fora da prisão, perto de um quebra-mar. Vários alunos estavam espalhados por ali, com expressões exaustas. Kegan veio correndo ao perceber que estava acordado e empurrou uma barra de chocolate imensa em minhas mãos, sorrindo aliviado.

- Coma isso, vai fazer bem – disse sentando do meu lado – Como está se sentindo? Está tudo bem?
- Acho que sim – dei de ombros e mordi um pedaço do chocolate – Ouvi o vovô. Quando ele, você sabe... – minha voz cortou e engoli seco – Quando o vi morrer no acampamento
- Algo me dizia que o dementador lhe forçaria a reviver aquele dia – Kegan apertou meu ombro e abaixei a cabeça, prendendo o choro que queria sair – Não tem como esquecer, não é?
- Não, ele morreu nos meus braços e eu só tinha 7 anos. Não sabe como foi horrível ter que deixá-lo lá sozinho, morto, e encontrar o caminho de volta para pedir ajuda – mordi outro pedaço do chocolate e começava a me sentir melhor – Talvez minha lembrança boa não tenha sido tão boa assim
- Bobagem – Kegan ficou de pé e pediu a atenção da turma – Não quero que fiquem desanimados por não terem conseguido enfrentar o dementador. Não espetava que todos obtivessem sucesso em uma primeira tentativa. Bicho-papão é diferente, ele não apresenta perigo real. Mas agora que todos ficaram bem assustados poderemos treinar com eles novamente, pois tenho certeza que todos assumiram a forma dessas criaturas horríveis que vimos hoje. Quando achar que estão preparados de verdade, voltaremos a Azkaban.
- Não, quero outra chance! – levantei decidido – Deixe-me voltar lá! Sei que posso afastá-lo agora!
- Não, ninguém vai entrar lá outra vez – ele me olhou em tom de aviso para não insistir – Vamos voltar para a escola agora, e não tem argumentação.

Stroke ajudou a levantar os alunos mais fracos e em pequenos grupos íamos deixando a fortaleza de Azkaban e caindo de volta na sala de Defesa Avançada. Todos tinham feições cansadas, abatidas, mas não paravam de comentar o que tinha acontecido. Embora tenhamos sido forçados a reviver nossas piores lembranças, e a maioria de nós ter desmaiado sem executar o feitiço, estávamos satisfeitos. E ansiosos por continuar o treinamento, mesmo que seja com um bicho-papão, para retornar a Azkaban e enfrentar os dementadores com sucesso. Custe o que custar, na próxima vez eu não iria desmaiar e meu patrono em forma de urso teria a chance de se ficar sólido, afastando todos que viessem para cima de mim. Promessa de um futuro auror.

Thursday, January 10, 2008


Algumas boas lembranças de Natal de Alex McGregor

O natal na casa de meus avós estava sendo bem diferente este ano. Minhas primas Elizabeth, Hanna e Alice estavam passando as festas com as famílias de seus namorados, e neste ano seriamos só meus avós, Dylan, Patrícia, Ian, Virna e eu. Kyle e Sergei estavam viajando a trabalho e não viriam passar as festas conosco. Meus amigos estavam com suas famílias, e este seria o primeiro Natal da família de Logan sem o senhor Warrick e havia muita coisa no testamento do pai deles que eles precisavam acertar, inclusive com alguns sócios que eles nem sabiam existir, então Logan estaria muito ocupado, e não poderia estar comigo.
Patrícia estava em seus últimos dias de gestação e muitas vezes me peguei com vontade de torcer-lhe o pescoço. Tudo era motivo para reclamação, ela agia como se fosse a única mulher do mundo a gerar uma criança, e isso por si só, já a tornava o ser mais especial sobre a face da terra, claro que Dylan era o maior culpado disso tudo. Além de ter sido peça fundamental na concepção da criança, vivia achando lindo sair no meio da noite à procura das coisas mais esquisitas para ela comer. Ela devia ter um parafuso solto, pois querer comer picles com sorvete de madrugada ou comida tailandesa com chucrute não era uma coisa muito normal não é? Bem, minha avó dizia que grávidas têm desejos estranhos e que devíamos fazer tudo para atender a estes desejos para que a criança não nascesse com algum defeito ou mancha, então fazíamos o que era necessário. Merlim nos livrasse de ter uma criança com seis dedinhos em cada pé, ou uma cabeça desproporcional. *batendo na madeira*
Tudo ia bem até a hora que ela enjoou do marido. E aí eu segurava minha vontade de rir, quando Dylan se aproximava e ela o espantava dizendo:
- Não suporto olhar para você hoje Dylan... Calado Dylan, sinto que vou vomitar se você disser mais alguma coisa... Dylan, você está com uma aparência insuportável... - o coitado ficava tão desolado, mas fazer o que? O desejo dela era uma ordem e lá ia ele dormir no sofá da biblioteca, que era o canto mais afastado do quarto deles. E aí sobrava para alguém ter que ajuda-la a levantar, pois ela estava tão grande que parecia uma tartaruga de casco para baixo, girando no mesmo local sem se mover (pausa para limpar o veneno rsrs). .
Para suportar tudo eu andava tomando poções calmantes, e vivia fechada no meu quarto, lendo, estudando ou mesmo dormindo. Já estava entrando na fase de trocar o dia pela noite, se bem que com o tanto de neve que estava caindo aqui, não faria diferença. Na véspera de natal, estávamos ouvindo meu avô ler o conto de Duas cidades e entoávamos algumas canções de Celestina Warbeck, enquanto Patrícia andava de um lado a outro em frente à lareira impaciente, quando de repente parou e ouvimos o som de água caindo. Ela nos olhou assustada e disse:
- Acho que fiz xixi. Não deu tempo de ir ao banheiro...
Minha avó muito experiente disse:
- Não é xixi, sua bolsa estourou.
Dali para iniciar a correria foram coisas de segundos, pois até eu me vi correndo para os lados de Patrícia, que mesmo com nossas divergências, não ligou.
Dylan a pegou no colo e a levou para a cama, minha avó correu a pegar suas poções e ungüentos para o parto, Virna, dava ordens de como arrumarmos os lençóis, e Ian mais atrapalhava do que ajudava. Depois de tudo pronto, ela expulsou Ian e Dylan do quarto e Dylan protestou:
- É a minha mulher, quero ficar com ela... - e Patrícia gritou da cama:
- Fora Dylan! Não quero você me vendo ter um filho.
- Mas eu sou curandeiro... Já vi de tudo...
- Acredite filho tem coisas que não é bom o marido ver, perde o encantamento sabe? - disse vovô e o puxou para fora, eu fiquei ali parada no meio do quarto olhando para a movimentação delas e disse:
- Se não precisam de nada eu vou descer... - comecei a dizer quando Patrícia disse:
- Fique aqui.
- Como?- e minha avó e Virna a olharam curiosas, pois ela e eu nunca nos demos bem.
- Estou começando a ter dores e seria bom alguém me distrair. Vovó vai estar ocupada e Virna também... Pode ficar. Se quiser é claro.
- Ok!
Aproximei-me e começamos a conversar, quer dizer fiquei ouvindo-a falar de sua família trouxa, sobre sua ancestral bruxa famosa, para ela é claro, sobre o dia que ela conheceu Dylan, e ela devia estar com dores terríveis, pois até contou o que ele gritava em alguns momentos... Íntimos. Vovó ficou embaraçada e Virna se encolheu enquanto a examinava, tudo parecia ir bem ate que as dores aumentaram e eu fiz a besteira de segurar-lhe a mão.
- Patrícia quer algo para a dor? – perguntou vovó paciente e ofereceu várias vezes durante o trabalho de parto e a resposta era sempre a mesma.
- Não! Estou indo bem... - e apertava minha mão com força e gritava a plenos pulmões:
- Dylan eu te odeio, é culpa sua eu estar tendo estas dores horríveis... - e se dividia entre xingar e arquejar, enquanto enxugávamos o suor que caia em bicas de sua testa.Após algum tempo Virna disse que era a hora de fazer força e Patrícia parecia exausta, disse que não faria nada. Vimos quando estremeceu com uma contração e vovó disse:
- Você precisa empurrar na próxima vez, ou seu bebê não vai nascer... Você está perdendo muito sangue.
- Mas dói demais... Está me machucando muito... Dylan eu te odeio! Quero alguma coisa para a dor... Qualquer coisa, façam isso parar. - notei os olhares que vovó e Virna trocaram e Virna disse:
- Agora não podemos te dar nada, ou pode prejudicar a criança.
- Você disse que ia me dar algo para a dor, quero isso AGORA! - ela disse com toda a força que podia, mas Vinra respondeu:
- Oferecemos a você varias vezes, e você não quis. Há um momento em que podemos dar alguma coisa para a dor, e ele passou. Agora terá que ser por sua conta. - Virna respondeu de forma calma.
- Quer dizer que vou ter que vou sentir tudo???Não vou agüentar... E fechou os olhos, vovó sinalizou que uma contração se aproximava e eu disse apertando a mão de Patrícia:
- Qual é Paty? (ela odiava quando eu a chamava assim, mas eu precisava chamar sua atenção). Pra quem suportou este barrigão por nove meses, uma dorzinha a mais, não é nada. (e pensava na minha mão que já estava insensível e se ela teria movimento quando fosse liberada). – e continuei meu discurso:
- Você é forte, é o filho do Dylan que ta ai dentro, já imaginou que bebê lindo vai ser?? - as palavras penetraram em sua mente e ela me olhou determinada:
- Dylan é lindo não? E me ama....
- Sim, e você também é linda e o ama muito. Você não quer ter o bebê dele em seus braços?- ela ainda me olhava assustada e pareceu que me viu pela primeira vez e eu disse para encoraja-la:
- Deixe seu bebê nascer! - e nesta hora ela sentiu uma contração forte e com uma energia renovada fez força, a ponto de ficar vermelha e logo ouvimos um choro alto e forte.
Dylan entrou correndo no quarto e após ver que a mulher e a criança estava bem, foi posto para fora com um grito de Patrícia, mas pude ver que ele tinha lágrimas nos olhos.
Após limpar a criança, vovó a entregou para a mãe que sorria alegre e nem parecia a mulher enlouquecida das ultimas horas. Virna após cuidar de Patrícia pensou em chamar Dylan para conhecer a sua filha. Antes de ir até a porta ela me olhou e disse seca:
- Você foi bem. – e isso seria o máximo que ela me diria, mas estava tudo bem. O principal foi que pude ser útil de alguma forma. Quando Dylan entrou agora mais calmo, beijou Patrícia e segurou sua menininha com todo cuidado. Achei melhor sair para que tivessem privacidade quando Patrícia me chamou:
- Alexandra! – virei-me para ela e ela disse:
- Obrigada!
- Por nada. - e após ver uma troca de olhares entre eles, ela falou:
- Gostaria que você fosse madrinha de nossa filha. - como eu olhasse espantada ela disse:
- Não estou dizendo que seremos amigas, mas quero que Ariel tenha uma mulher forte ao seu lado para apóiá-la se eu não estiver presente, e quem melhor do que a tia dela? Você aceita?
Ela me estendeu a criança e a peguei com cuidado, e nesta hora a pequenina abriu os olhinhos e os fixou em mim.
- Você pode contar com a titia sempre meu amor. – respondi.
Claro que meus últimos dias de folga em casa foram para babar em cima de Ariel, mas dei graças a Merlim quando pude voltar para a escola, já não agüentava mais não dormir à noite por causa de choro de recém nascido. Minha afilhada é linda, mas tem uns pulmões....

Monday, January 07, 2008


- Espera um pouco – Interrompi Louise chocado – Ela tentou...tipo, matar vocês? De verdade? – olhei para Yulli e Alex com cara de assombro e elas não estavam muito diferentes

Estávamos de volta a Hogwarts para nosso último semestre antes da formatura e Louise nos relatava tudo que o avô havia contado sobre sua mãe, depois que ela descobriu que ela ainda estava viva, tendo estado presa em Azkaban todo esse tempo. E eu reclamando do meu natal entediante, o dela foi bem pior!

- Foi o que vovô disse – falou com a voz desanimada – Segundo ele, ela surtou depois que George nasceu. De uma hora pra outra pôs na cabeça que estava fazendo tudo errado, que não seguia seu mestre como deveria ser e tinha que se redimir. Para isso, teria que se livrar da família mestiça dela. É uma louca!
- Lou, isso é horrível! – Yulli exclamou horrorizada – Sinto muito, de verdade...
- É, eu também – Ben deu um tapinha de leve nas costas dela – Péssimo jeito de descobrir que sua mãe está viva
- Pois pra mim ela está morta – falou assumindo um tom sério – Espero que capturem ela outra vez e a tranquem em Azbakan até apodrecer

Ia fazer um comentário, mas a porta da sala abriu e Karen entrou sorridente, com alguns outros alunos que reconheci como sendo todos do 7º ano, mas que não faziam aulas de História da Magia. Sentamos direito na cadeira esperando os demais alunos se acomodarem e fiquei observando Karen tirar várias pastas de dentro da bolsa e espalhar pela mesa. Começou então a colar alguns panfletos no quadro negro, mas estavam todos cobertos. Quando colou o que parecia ser o último, a porta tornou a abrir e Kegan entrou com o Dashwood e o Dolohov. Os dois sentaram na última fileira e ele parou ao lado da minha irmã soando empolgado. Olhei para trás e as meninas tinham o mesmo ar de curiosidade: o que poderia estar motivando a permanência dos dois na mesma sala sem brigar?

- Imagino que estejam se perguntando: Que diabos Kegan veio fazer aqui? – ele começou e rimos, concordando com a cabeça
- Bom, eu explico – Karen tomou a palavra e ele fez uma reverência idiota que a fez olhá-lo atravessado – Dentro de 6 curtos meses, todos vocês estarão se formando e McGonagall procurou Kegan e eu antes das férias de natal e nos convidou para comandar do comitê que vai organizar a festa.

A turma se agitou na sala e o falatório começou. Nossa festa de formatura seria organizada pelos dois bicudos? Isso eu quero mesmo ver dar certo. No entanto, era uma idéia animadora. Karen era excelente em organizar tumultos.

- Lógico que topamos na hora e algumas idéias já começaram a surgir – Kegan falou alto, cessando o falatório – Karen, na verdade, teve a idéia e eu achei excelente... - ele deu um sorriso besta pra ela e Ben tossiu alto algo que soava como “puxa-saco”. Rimos e Karen revirou os olhos
- A professora McGonagall e o diretor Dumbledore já aprovaram e Kegan e eu aproveitamos as férias de vocês para ir atrás do material para pesquisa. Passamos duas semanas em Nova York. Não façam isso – acrescentou sem mudar o tom de voz quando ameaçamos entoar um huuuum – Passamos duas semanas em Nova York assistindo a todos os musicais em cartaz, coletando discos com trilhas sonoras e gravando vídeos com uma câmera trouxa, pois o tema da formatura de vocês será a Broadway! – falou empolgada sacudindo a varinha e descobrindo os panfletos no quadro, que se revelaram serem cartazes de musicais

Se antes Kegan conseguiu contar o falatório simplesmente elevando o tom de voz, agora seria preciso um chicote acompanhando. A turma inteira dessa vez se agitou e só se ouvia as conversas paralelas. Encarei as meninas empolgado e os olhos delas só faltavam brilhar. Musicais da Broadway! Não poderia ter jeito mais cheio de estilo para encerrar sete anos de estudo em Hogwarts! Eu que conhecia mais musicais por já ter assistido alguns com minha mãe comecei a contar tudo que sabia sobre cada um deles para elas, me empolgando cada vez mais. Karen e Kegan sorriam satisfeitos de pé na frente da sala e depois de algum tempo lançaram o feitiço do silêncio na turma. Era o único modo de calarmos a boca.

- Então Karen, acha que eles gostaram da idéia? – Kegan falou brincando e desfazendo o feitiço
- Sim, algo me diz que nossa idéia foi aprovada – sorriu para ele animada
- Uma festa de formatura de bruxos com um tema de trouxas? – Dolohov falou alto e 39 cabeças viraram para ele – Não acham que é um pouco contraditório?
- Não, não acho – Kegan cruzou os braços e o encarou. Já não é de hoje que ele vem perdendo a paciência com alguns alunos da Sonserina – Acho que os bruxos ainda podem aprender muito com os trouxas. E no que depender de nós dois, esse preconceito besta acaba nessa formatura. O que você prefere? Participar da brincadeira com o resto da turma, ou não se formar?
- Bom, nós dois somos os encarregados de organizar tudo, mas quem quiser ajudar é muito bem vindo! – Karen interrompeu depois que Dolohov se calou e Kegan desfez a expressão desafiadora – É só nos procurar nos intervalos das aulas e deixar os nomes
- Mas fiquem sabendo que uma vez que assinarem seus nomes nessa lista, não tem mais volta – Kegan pegou o papel em cima da mesa e sacudiu, dando uma risada quase maléfica – Vocês estarão assinando o contrato de venda das suas almas a nós dois, e vamos fazê-los ralar. Pensem bem antes de se inscrever para fazer parte do comitê
- É, ele tem razão, o trabalho é árduo – Karen concordou séria – Agora os que não fazem de História da Magia podem sair se quiserem, pois vou começar minha aula. E não, Kegan, não pode assistir. Vá procurar algo de útil para fazer – disse sorrindo debochada para ele

Os alunos que não faziam a matéria foram saindo aos poucos da sala, mas notei que alguns ficaram, talvez na esperança de que Karen comentasse mais alguma coisa sobre os planos para a formatura. Kegan saiu derrotado por ter sido barrado e rimos da cara dele. Pra conquistar minha irmã ainda teria que ralar mais um pouco, ela não era fácil. E também não foi fácil dar uma aula normal depois de um anuncio como esse. Depois de meia hora Karen se deu por vencida e transformou a aula de História da Magia em uma roda de bate papo sobre musicais da Broadway, com todos dando idéias de decoração e apresentações para a festa. Sorte dos alunos que ficaram... E sorte nossa ter dois professores jovens e empolgados, determinados a transformar nossa despedida de Hogwarts em um evento digno da avenida mais famosa de Nova York. Sem duvida essa seria a marca que íamos deixar na escola.

Wednesday, January 02, 2008


31 de Dezembro de 1978

- Atenção! – Julian saiu da cozinha com uma taça cheia de champanhe erguida – Faltam duas horas e trinta e três minutos para a meia noite!

Todos na sala ergueram as taças e gritaram animados. Estávamos no apartamento novo de Julian e Chelsea com vista para o rio tâmisa, de onde poderíamos ver a queima de fogos da Westminster Bridge. Julian consultou o relógio mais uma vez e diminuiu dois minutos de sua contagem maluca, arrancando gritos empolgados outra vez de todos os convidados. Todos, menos eu. Continuei olhando pela janela com o mesmo ar desanimado que havia assumido desde o natal e só desviei a atenção da movimentação na rua quando Remo sentou rindo ao meu lado, atirando uma corneta de volta para Brendan.

- O que foi, meu amor? – disse me abraçando e parando de rir – Está sentada aqui desde que chegamos. Não comeu nada ainda, não conversou com ninguém, não dançou. Quer dar uma volta na rua?
- Desculpe, mas não estou tendo meus melhores dias de férias.
- Queria poder fazer alguma coisa para consertar isso
- Você já fez tudo que podia – sorri um pouco e encostei a cabeça em seu ombro – Não se preocupe, vou melhorar. Só preciso de tempo para assimilar tudo que ouvi...

º°º°º°º°

Uma semana antes, 25 de Dezembro de 1978

- Remo, querido, abra a porta – a mãe de Remo falou alto, correndo pela casa – É o seu tio Jamie!

Remo revirou os olhos e levantou do sofá sem muito animo, caminhando até a porta. Antes de chegar até lá a campainha tocou mais uma vez e quando abriu a porta, um homem de cabelos castanhos claros, barba e óculos quadrados o puxou para um abraço, bagunçando seus cabelos e empurrando um pacote amassado em sua mão. Remo deu um sorriso amarelo para ele e voltou ao sofá, largando o pacote na árvore.

- Não vai apresentar a namorada ao seu tio favorito, Remo? – o homem já estendeu a mão para mim e apertei sem graça
- Tio, essa é a Louise – disse forçando o sorriso – Lou, esse é o meu tio Jamie, irmão da minha mãe
- Muito prazer, Louise! - o homem sacudiu meu braço com entusiasmo – Depois você e eu vamos conversar um pouco! - e se afastou, entrando na cozinha
- Único irmão dela, e meu único tio. Por isso ele diz que é o favorito – Remo acrescentou quando ele sumiu de vista
- Você não parece gostar dele – ri – Mas me pareceu simpático. Só um pouco entusiasmado demais!
- Acredite, vai mudar de opinião depois que meu pai servir o eggnog. Ele sempre exagera e começa a ficar inconveniente, fala bobagem demais e acaba dando vexame.

E Remo tinha razão. Depois de algumas doses do eggnog feito pelo pai dele, tio Jamie começou a falar mais alto, rir de qualquer coisa e tinha as bochechas muito rosadas. Ele sentou ao meu lado para conversar e fazia umas perguntas bastante inconvenientes, estava sem saber o que responder. Remo veio ao meu resgate assim que viu e me puxou para longe dele.

Passamos o restante da noite o evitando. Sempre que Jamie chegava muito perto, Remo me puxava para outro canto. Fomos migrando de grupo em grupo de conversas a noite toda, até que ele nos pegou. Apareceu de surpresa por trás de mim e nos abraçou, com uma revista na mão. Dava pra sentir o bafo de conhaque de longe.

- Quando você me disse seu sobrenome, sabia que conhecia de algum lugar – falou atropelando as palavras – Como pude esquecer? Acho que é a idade começando a pesar!
- Tio, por favor, dá pra nos soltar? – Remo se desvencilhou dele e tirou seus braços de cima de mim
- Falha minha esquecer algo assim. Sua mãe fez coisas que não são para serem esquecidas facilmente! – falou piscando sem parar
- Já chega de eggnog por hoje, tio Jamie – Remo empurrou-o para longe de mim e tomou o copo da mão dele, irritado
- Ora, o que é isso, rapaz? – fez uma careta quando Remo fez o copo evaporar – Todo mundo sabe que a mãe dela tentou eliminar a família toda! Não estou comentando nada de novo! Sorte não conseguir, não é? Ela está viva!

A cara de choque que fiz fez com que ele entendesse que tinha falado mais do que deveria. Só então vi que a revista que ele tinha nas mãos era o Inquisidor e tomei sem cerimônias. Remo lançou um olhar muito irritado a ele antes de segurar meu braço e me guiar para o seu quarto. Eu folheava a revista com as mãos trêmulas e quando encontrei o que procurava ele fechou a porta.

- Lou, ele estava bêbado, está falando bobagens – Remo caminhou até a cama e tentou puxar a revista – Esquece isso, por favor.
- A crueldade dos primeiros seguidores do lorde das trevas, conhecidos como comensais da morte, está assustando a sociedade bruxa agora que conseguiram fugir da fortaleza de Azkaban. Dentre os mais inescrupulosos – ia lendo o artigo depressa em voz alta e ela ia morrendo aos poucos - estão James Avery, acusado de torturar e matar seu pai, e Elizabeth Graham, presa pelo assassinato do marido, Henry Storm, e pela tentativa de assassinato dos filhos de 3 e 1 ano! Ela está viva. - disse com a voz rouca - Ela matou o meu pai.
- Você não vai acreditar no que essa tal Rita Skeeter escreve, não é? – Remo sentou ao meu lado e conseguiu puxar a revista para ele, pois estava imóvel
- Queria poder dizer que não, mas acredito – minha voz quase não saiu – Algo me diz que é verdade, eu sei. E você também sabe.
- É, eu sei – ele me abraçou e comecei a chorar – Mas não quero que leia o resto. Dizem que essa Rita Skeeter não é confiável, e não quero que se baseie nas bobagens que ela diz
- Quero ir pra casa – disse secando as lágrimas – Quero falar com o meu avô, agora.
- Eu levo você, vamos. – ele levantou e me puxou pela mão, desaparatando comigo sem nem voltarmos para a sala. Aquele tinha sido o pior natal da minha vida, sem contestações.

º°º°º°º°

De volta ao dia 31...

- Atenção! – Julian berrou pela enésima vez e Brendan puxou uma vaia, rindo – Não, agora é serio! Faltam cinco minutos para a meia noite!

Todo mundo gritou empolgado e arrisquei erguer a taça junto com eles. O apartamento novo deles ainda estava vazio, com poucos móveis. Haviam acabado de comprar e começavam a mobiliar para se mudar, mas queríamos assistir a queima de fogos do rio e decidiram fazer a festa nele assim mesmo.
Um a um meus tios e primos começaram a se levantar e se acomodar perto das janelas para ter uma boa visão da ponte. Chelsea passou distribuindo taças para os que ainda estavam de mãos vazias e vi Julian e Brendan saírem da cozinha cada um com uma garrafa de champanhe na mão. Começaram a brincar de sacudi-la, mas ainda faltava muito tempo. Aquilo não ia dar certo.

- Que pressão é essa?? – Julian berrava sacudindo a garrafa cada vez mais forte
- Aponta isso pra lá, seu idiota! – Brendan saltou para longe quando ele mirou a rolha nele, mas também sacudia a sua – Vai começar a contagem!
- Parem de sacudir isso, vai estourar antes de meia noite! – Susan gritou da janela
- Suzie, olha a pressão, olha a pressão! – Julian avançou pra cima de Susan com a garrafa já prestes a explodir e ela correu pra trás de George. Ele virou a garrafa pra mim – Lou, que pressão é essa?
- Julian, vira essa garrafa pra outro! – falei rindo e protegendo o rosto – Ela está quase estourando!
- Agora sim! – Brendan correu para perto da janela com a rolha já na ponta da garrafa. Um toque e ela saia – 10 segundos! 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1, FELIZ ANO NOVOOOOO!

Brendan sacudiu a garrafa uma última vez e a rolha voou da boca da garrafa, acertando Julian em cheio. Ele por sua vez virou depressa para o irmão e estourou a sua para cima dele, e começaram uma guerra com os espumantes. Os fogos da Westminster Bridge já explodiam no céu de Londres, mas quase ninguém viu. Julian e Brendan vieram para cima da gente girando as garrafas e dando um verdadeiro banho em todo mundo. Minha roupa e meus cabelos estavam ensopados de champanhe e Remo não estava muito diferente. Ele me puxou para junto dele rindo e me beijando.

- Feliz ano novo, meu amor
- Feliz ano novo – respondi o beijando outra vez – Que tudo de ruim que aconteceu em 1978, fique em 1978
- Exato. Esse vai ser o nosso ano!
- Não tenha duvidas quando a isso...
- AEE, FELIZ ANO NOVOOO!

Julian surgiu do nada e derramou o resto do champanhe da garrafa sobre nossas cabeças, nos abraçando e pulando. Virei o restinho que ainda tinha na minha taça na cara dele e nos abraçamos, rindo. Não adianta ficar se lamentando por coisas que os outros fizeram. Ano novo, vida nova. E agora estava disposta a não deixar nada de ruim me abalar nesse novo ano.