Thursday, January 17, 2008

O que não mata, te fortalece

Das memórias de Alex McGregor

- Ben, Louise, Scott, Alex e Yulli, vocês primeiro! – Kegan deu dois passos para o lado e Stroke se posicionou do outro, ambos com as varinhas em punho para qualquer contratempo – Sabem o feitiço, mande-os embora!

Apontei a varinha com firmeza e inicialmente talvez pela excitação não sentisse o frio mortal que os dementadores lançavam sobre nós.
- EXPECTO PATRONUM! – e uma luzinha prateada acendeu na ponta de minha varinha e a minha lontra prateada investiu contra aquelas criaturas cadavéricas e encapuzadas, mas eles eram muitos e muito fortes, logo a minha determinação de me manter de pé começou a fraquejar. Um a um, meus amigos foram caindo desmaiados eu fui me sentindo péssima com uma série de memórias ruins que insistiam em invadir minha mente, o que tornava tudo mais difícil.

Um dia de sol...
Uma mulher de cabelos e olhos escuros...
Um cheiro familiar. Mamãe!
O cheiro de grama recém cortada...
O som de risos...
Um homem de cabelos loiros e olhos tão verdes quanto à grama... Papai!
A sensação de voar...
Cair e ser apanhada por mãos fortes.
Proteção.
Um ar pesado de tensão.
O medo...
Os gritos...
Os raios verdes e vermelhos se cruzando...
O choro aflito do bebê...

- Mas eu não quero estudar numa estúpida escola inglesa. Porque faz isso comigo vovô? Não me ama mais? - os olhos da garota estavam nublados e seu queixo tremia, ela lutava para segurar as lágrimas. O homem mais velho com olhos cinzentos a olhava com pesar e disse:
- Amo-a demais minha pequena, e por isso levo a sério a recomendação de não deixar todos os McGregors concentrados no mesmo lugar, temos inimigos e corremos perigo. Nunca se esqueça disso.
- E estudar sob a supervisão de Dumbledore não vai ser tão ruim assim, você fará amigos valiosos lá... - dizia vovó me abraçando antes que eu entrasse no trem para Hogwarts.

Sacudi a cabeça para afastar as lembranças de quando era criança, e tentei novamente:

- Expectum Patrono... - é o que lembro de pensar em dizer, mas não tinha certeza, antes de deixar o frio me dominar novamente:

- Connor! Não!
Olhos verdes arregalados num corpo sem vida.
-Não mate minha filha, ela é inocente. Faço o que quiser, mas não mate minha filha...
Choro aflito de um bebê... O meu choro
Um gemido de dor...
Um abraço apertado...
O cheiro de sangue...
O vazio da morte.

- Quero que seja minha Selene...
- Sou sua Kyle...
- Vocês não podem ficar juntos, porque são irmãos.
O olhar torturado de Kyle.
Seu arrependimento.
Sua culpa... Não, nossa culpa.
A sensação de sentir-se suja...
O medo de ser condenada ao Inferno.
Viver no inferno, até descobrir sua salvação: Logan.

- Não mate a minha filha!

Minhas mãos tremiam e meus joelhos foram cedendo, a exaustão foi se entranhando em mim de tal forma que quando a escuridão chegou, eu a abracei de boa vontade.
Não queria mais lutar.
Recobrava-me aos poucos e logo um pedaço de chocolate era posto em minha mão. Lu ajudava aos professores a cuidarem de nós e cada um de meus amigos trazia no rosto os horrores de suas lembranças ruins, mas começamos a falar, isso exorcizaria nossos medos e nos faria mais fortes. Cada um contou um pouco do que mais o marcou e eu disse:
- Eu ouvi uma mulher, ela gritava: ‘Não mate minha filha!’ - Repetidamente. Ela soava desesperada! – falei cansada e assustada, e minha voz saiu abafada:
- Acho que era minha mãe... E também outras coisas...
Olhei para Lu e achei que ele tivesse visto minhas lembranças, preparei-me para um olhar de recriminação, mas tudo o que ele fez foi me dar mais um pedaço de chocolate e abraçar a todos nós como se pudesse passar um pouco de sua força, e nos apegamos uns aos outros, isso nos fortalecia.
- Estamos juntos! Podemos vencer! – não sei qual de meus amigos disse isso, mas foi bom ouvir.
Naquela hora eu soube que se algum dia precisasse falar sobre as minhas dores, meus amigos estariam ali para me dar uma mão, sem julgamentos. E isso é o que me tornaria forte contra os dementadores na minha carreira de auror e como pessoa.