Tuesday, April 17, 2012


É a primeira noite de volta a Hogwarts depois da semana de recesso. A torre da Corvinal está mais uma vez sendo perturbada pela tempestade que cai do lado de fora, mas estou tão cansado que não me importo. Deito confortável em minha cama e durmo assim que fecho os olhos. E então acordo, pulando da cama com a varinha em punho. Uma sirene ensurdecedora ecoa por toda a torre. Abro a cortina e vejo meus companheiros de quarto também com suas varinhas em punho, assustados, se revezando em procurar a causa do barulho ou proteger seus ouvidos. Não sei que horas são, mas pelas caras amassadas, estamos no meio da madrugada.

- O que é isso? – Julian pergunta apertando duas almofadas na cabeça.
- Não tem nada lá fora, que barulho é esse? – Justin diz olhando pela janela.
- Rupert? – Jamie me sacode – O que está acontecendo?

Todos me olham como se eu de alguma forma tivesse a resposta para aquele barulho. Não tenha uma. Dou de ombros, tão confuso quanto eles, e só quando chego ao salão comunal e vejo Amber e os outros monitores evacuando os alunos é que me lembro. A simulação. A maldita simulação de evacuação que McGonagall implantou. Houve uma reunião sobre isso com os monitores de Hogwarts, mas nenhuma data prevista para o primeiro treinamento. Aparentemente, a surpresa do alarme era o que ia testar se estamos aptos a salvar vidas na eventualidade de um novo ataque.

Me junto aos outros, ainda sonolento, mas já ciente do que devo fazer. Todos perguntam o que está acontecendo, mas respondo apenas a Julian e Justin, antes que saiam correndo para tentar resgatar alguém que não está em perigo. As instruções que foram passadas diziam para levar os alunos até o corredor do alojamento dos professores, no 4º andar, e tirá-los do castelo pela passagem secreta que ficava no armário de vassouras. Aquela era a única passagem ainda vigiada 24h por Filch, então nunca a usávamos.

Os alunos são espremidos no túnel, mas todos chegam ao anexo do Três Vassouras que funciona como uma pousada. Ao todo, quase três horas são gastas na evacuação. Se um novo ataque ocorresse no dentro do castelo, ninguém estaria a salvo. McGonagall deixa isso claro na reunião com os monitores naquela mesma madrugada. Outras simulações virão e temos que melhorar o tempo. Evacuar os alunos em menos de meia hora é a meta. Milagre é a palavra de ordem.

Já é mais de 5 da manhã quando ela nos libera e embora os outros monitores não pensem duas vezes antes de voltar pra cama, Kaley, Amber e eu estamos alertas e sem sono. Não tivemos oportunidade de conversar desde que chegamos ao castelo, então vamos até o lago ver o nascer do sol e colocar os assuntos em dia.

Amber ainda não nos contou sobre a conversa com o irmão, três dias antes, então passamos a próxima hora ouvindo-a relatar que, apesar da duvida inicial, acreditou na história do irmão. Acreditou quando ele contou que com 17 anos, sem emprego e dinheiro nenhum juiz daria a guarda de uma criança de sete anos a ele, e que então aceitou a bolsa que havia conquistado na Caltech e se mudou para a Califórnia, com a meta de voltar para buscá-la quando pudesse sustentar os dois. Quatro anos depois, já um engenheiro formado, descobriu que ela havia sido adotada e nunca conseguiu uma autorização judicial para saber o nome da família.

- Caltech? – comento impressionado – Ele deve ser um gênio.
- Ele tem um QI de 187 e era da Corvinal quando estudou aqui. Sim, Russell é bem inteligente.
- Isso explica muito... – Kaley comenta revirando os olhos quando rimos – E por que o gênio esperou tanto tempo pra entrar em contato? Há sete anos ele sabe que pode lhe enviar uma carta com o endereço de Hogwarts.
- Disse que teve receio de que não me deixassem falar com ele. E só criou coragem de escrever agora porque estou me formando e, caso quisesse encontrá-lo, não precisaria da autorização de ninguém.
- E...? – perguntamos juntos.
- E ele encontrou pistas de que nossos pais talvez estejam vivos.
- Ele sabe onde eles estão?
- Ele acha que viu nosso pai na rua há alguns meses atrás, em San Diego, mas ainda não conseguiu localizá-lo.
- Talvez ele tenha feito confusão – sugiro e Kaley concorda comigo.
- É, talvez, mas Russ jura que era ele. Enfim, depois que me formar, vou passar uns dias na Califórnia, conhecer sua família melhor. Ele está casado há cinco anos e tem uma filha de quatro chamada Zoey.
- Estou muito feliz por você, Amber – Kaley diz com um sorriso sincero no rosto.
- Também estou feliz – ela diz sorrindo também e se vira pra mim – Não teria conseguido sem você. Obrigada por estar lá, do meu lado.
- Sempre.

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Prestar atenção às aulas durante semana é muito difícil. As sirenes tocam a todo instante, interrompendo nossas aulas, horário de almoço ou jantar e causando grande exaustão nos alunos. No entanto, depois de uma bronca de McGonagall, conseguimos diminuir o tempo de evacuação para uma hora e meia. Melhoras ainda precisam ser feitas, mas já estamos mais confiantes que, se preciso, podemos tirar as pessoas do castelo em segurança.

Quarta pela manhã recebo um correio coruja. Phil praticamente cospe minha carta no meu prato de cereais e toma posse do meu suco de laranja, mas ele fez uma longa viagem, então deixo que pegue o que quiser. É uma carta do meu padrinho, então automaticamente já sei o que tem dentro do envelope. Mais uma resposta sobre editoras, negativa ou positiva. Guardo o envelope, sem coragem de abrir. Mais uma resposta negativa para a publicação do livro e passo o dia de desanimado, então decido que é melhor deixar para depois.

A aula de Herbologia da tarde é interrompida por mais uma rodada da sirene maluca e depois de completar a evacuação e voltar ao castelo, somos liberados pelo resto do dia. Vamos todos para o abrigo, cansados demais para liderar alguma aula da AD. No instante que piso nele, sinto que algo está diferente. Clara também percebe, mas ninguém mais parece notar.

- O que foi? – Justin pergunta vendo que Clara está olhando ao redor – Está ouvindo alguma coisa?
- Não, é mais sentindo – ela responde com uma expressão desconfiada – Cheiro diferente, não é de nenhum de nós.
- Vocês trouxeram as meninas aqui uma noite, não? – JJ pergunta.
- Não é de nenhuma delas – Clara afirma e Justin faz a mesma cara estranha dela, como se farejassem o lugar.
- Posso sentir também, mais alguém esteve aqui – ele assenti, também captando o cheiro.
- Quem você trouxe aqui, Jamal? – me viro para ele, acusador. Todos o encaram, ninguém duvidando que o cheiro seja de alguma garota com quem Jamal saiu.
- Se vamos ficar fazendo o abrigo de motel, precisamos estabelecer algumas regras – MJ diz indignado – Eu sento nesses sofás, não quero ficar me preocupando com o que posso estar tendo contato!
- Eu não trouxe ninguém aqui! – Jamal se defende com um tom de voz ofendido – Por mais suspeito que eu sempre pareça, esse abrigo é nosso, nunca vou trazer ninguém aqui sem a autorização de vocês.
- Bom, alguém esteve aqui – digo andando pelo lugar – Tem coisa fora do lugar.
- Como você sabe disso? – Haley pergunta descrente.
- Eu só sei! – digo um pouco rude e ela me olha espantada – Desculpa.
- Qual é o problema, Rup? – Julian pergunta preocupado. Todos estão me encarando.
- Não é nada, é que tio Gabriel me mandou outra carta hoje – tiro a carta amassada do bolso, já aberta.
- Más noticias? – Hiro a puxa da minha mão e lê – Sinto muito.
- Você vai conseguir uma editora, Rup. Só precisa ter paciência – Arte tenta me animar.
- Eu sei, mas é frustrante. Deu muito trabalho escrever aquilo tudo e ninguém quer publicar.
- É uma história um tanto quanto maluca, se você for analisar pela perspectiva de um trouxa – Keiko diz e todos assentem – Mas temos certeza que alguém vai se interessar.
- Sim, e quando isso acontecer, as editoras que rejeitaram o livro vão se arrepender – Tuor completa e dou um meio sorriso, grato pelo apoio de todos.

O assunto do livro tira o foco do estranho que esteve no abrigo, mas não consigo parar de pensar nisso. Estamos no meio de uma guerra contra vampiros e fazendo simulações de evacuação até duas vezes por dia, não pode ser coincidência. Alguém esteve ali e as intenções podem ser mais do que ter um lugar para se esconder das aulas. Não consigo bolar um plano de imediato, mas sei que preciso fazer alguma coisa. Não posso deixar alguém usar nossos tuneis contra o nosso lado nessa guerra.

Saturday, April 14, 2012



Algumas lembranças de Haley Warrick

Depois da minha conversa com o doutor Pace, eu pensei em conversar com Justin na escola, mas não conseguimos um momento adequado, pois tínhamos que nos preparar pra o feriado de Páscoa. Ok, confesso que eu não fiz o menor esforço para falar com ele sobre os meus sonhos, afinal eu estava dormindo bem, havia parado com  com as poções e o apanhador de sonhos estava funcionando, porque não seguir em frente? E quando chegamos no rancho para o feriado e encontramos o pai, a avó e a irmã dele, como convidados surpresa, optei por esperar um pouco mais. Tinhamos um feriado todo para namorar sem meu pai lançar olhares feios a Justin, e quem sabe em um destes nossos momentos eu contasse a ele, sobre o vampiro.
Como a familia da Arte iria passar o feriado conosco, a casa estava super movimentada, pois toda a familia havia resolvido se concentrar no rancho. E havia também os primos e amigos que vinham passar o dia e à noite voltavam para suas casas que eram próximas como as primas Samantha e  Suzannah, filhas do primo Cody ou os filhos da prima Annabeth, Sam e Jefrey. Ou acabavam dormindo por aqui mesmo, afinal se a diversão está boa para que interromper?
Nossa prima prima Julianne, que era casada com o professor Reno de Durmstrang, havia resolvido passar o feriado conosco, ela estava se divertindo muito e mesmo cercada de cuidados pelos curandeiros da familia, pois ela era a gravida da vez, estava deixando o stress de lado e isso parecia fazer bem a ela, e sua gravidez estava indo bem. Seu filho Archer, uma cópia do pai, era muito engraçado, óbvio que não teve dificuldade nenhuma em se juntar com nossos vários primos e primas e se divertir muito na piscina, cavalgando ou estar junto com Luke e Daniel testando os novos artigos da Gemialidades Wesley, ou mesmo participando dos vários jogos esportivos que faziamos para passar o tempo. Era engraçado ver o espanto de tio Reno, quando mamãe dizia que a casa ainda estava vazia rs.
E no domingo de Páscoa, todos nós estavamos muito empolgados, pois papai junto de tio Lu e tio Reno criaram um enorme labirinto feito de feno e flores, cheio de pequenos ninhos recheados de ovos de chocolate de todos os tamanhos, muitos coelhos tanto de pelúcia, e vários vivos em cercadinhos suspensos para não serem pisados na correria ou mesmo atacados pelos vários cachorros da familia, além dos muitos ovos e chocolates espalhados pelos cantos da casa. Era comum, você ir pegar um copo no armário, e dentro encontrar um ovinho ou puxar uma cadeira para se sentar e achar um bilhetinho com pistas sobre onde procurar por mais chocolates.
Uma outra ótima surpresa foi a reforma que mamãe fez no porão da casa e o transformou numa pequena sala de cinema com direito a posteres de filmes nas paredes, cadeiras super confortáveis, máquina de pipoca,  algodão doce, refrigerantes, e para não haver briga, havia sempre sessões de cinema tanto para os mais novos quanto para os adultos mas que acabavam sempre lotadas, independente da idade. Afinal quem em sã consciência resiste aos 101 Dalmatas? Ou a algum filme com muitos tiros e socos?
Conversei com minha mãe sobre as aulas de Oclumência e como Artemis também andava com problemas em seus sonhos, minha mãe se encarregou de nos dar as primeiras aulas, eu até achei uma coisa fácil, isso até a hora em que meu irmão Ty assumiu. Ele era bem exigente, e algumas vezes nós saíamos da aula tremendo pela exaustão, mas não reclamávamos. Claro, que uma coisa assim não causou estranheza em ninguém, afinal os McGregors e os Chronos viviam em vigilância constante. Uma vez não consegui resisti muito e meu irmão conseguiu ver minhas lembranças dos sonhos e quando acabou, tudo o que ele fez foi me abraçar, dizer que eu iria me sair bem e me dar um enorme pedaço de chocolate.  Esperava que quando fossemos  ter aulas com tio Ben na escola,  não precisassemos comer tanto chocolate, ou não conseguiriamos mais subir numa vassoura rs.

-o-o-o-o-o-

- Haley, acorda, precisamos voltar. – disse Justin, me acordando com um beijo e quando ele se levantou senti um pouco de frio. Abri os olhos e fiquei vendo-o se vestir, iluminado pela fogueira que ele havia feito para nos aquecer na velha mina abandonada.Haviamos ido até lá a cavalo  para fazer um picnic, e deixamos  os animais pastando sossegados perto da entrada.
- Precisamos ir embora, antes que seu pai venha atrás de mim com uma espingarda.- ele disse preocupado e eu sorri:
- Papai não vai fazer isso, ele acha que estou segura com você. Não viu como ele o elogiou para o seu pai, e contou o jeito que você me salvou para a sua avó? Segundo Ethan, meu pai agora o chama de ‘jovem de ouro’.- respondi e comecei a me vestir quando ele já vestido me entregou a minha camiseta. Comecei a me arrumar, mas ele tornou a me agarrar, me pressionando contra a parede da caverna e me beijou. Quando me soltou, disse sério:
- Você quer conversar algo sério comigo não é?
- Como sabe? Alguém te falou alguma coisa? Foi o Julian não é?
- Não, ninguém disse nada, eu só sinto que você quer me falar algo, e me trouxe aqui para isso, e eu acabei me empolgando com o isolamento e não te deixei falar nada.
- Também não me esforcei para falar. - sorrimos um ao outro. Respirei fundo e pedi que ele tornasse a sentar na minha frente, e comecei a contar a ele,  tudo o que havia acontecido desde o sequestro até os sonhos com Trevor. Via pelo seu rosto que ele ficava tenso, e algumas vezes se revoltava mas não me interrompia. Quando acabei fiquei olhando-o tensa e esperando que ele ficasse zangado e começasse a brigar, mas ele olhou para o fogo por alguns segundos e depois se virou para mim e disse:
- Eu achei que você fosse me contar que estava grávida.
- O quê? De onde você tirou esta idéia maluca? - disse espantada e minha voz ecoou na caverna, fazendo os cavalos se assustarem.
- Achei isso porque você começou a ir várias vezes na enfermaria, perdeu o apetite e num momento ficava amorosa, em outro discutiamos.Achei que fossem os hormônios.
- Mas eu não estava dormindo direito, estava sem o apanhador de sonhos. E você também discutia comigo. E nós não somos descuidados... – me defendi e ele assentiu:
-  Eu sei, mas mesmo assim, você estava estranha, agora sei o motivo.
- Está chateado comigo?
- Por não estar grávida? Sim.- e eu lhe dei um tapa no ombro, xingando-o de bobo e rimos.
- Haley, não posso ficar chateado com algo que estava além das suas forças. Aquele Trevor, é um rastreador e pelo que você disse, deve ser um vampiro muito velho e ter poderes que nem suspeitamos, um deles pode ser o de manipular os sonhos. Ninguém do grupo de Cadarn sobrevive muito tempo, se não tiver algo que possa ser explorado. E claro que tenho olhos e devo admitir, ele tem boa aparência.- disse franzindo o rosto e continuou:
-Só quero que quando perceber algo estranho e precisar de ajuda, me procure, posso não ser um curandeiro formado, mas o pouco que sei pode ajudar, mesmo sendo um namorado cabeça dura, prometo ouvi-la.- assenti e depois de trocarmos mais beijos, voltamos para o rancho cavalgando devagar, conversando e fazendo planos para o futuro, quando de repente, parei e olhei para um lado da trilha. Me virei para Justin e disse:
- Precisamos acelerar...Sua mãe está me dizendo que teremos boas novas.- ele olhou para o local one eu estivera olhando e sorriu como se ainda pudesse ver a sua mãe. Disparamos nossos cavalos e quando entramos em casa, a familia toda estava reunida ao redor de Ethan e Brianna, e meu pai estava empolgado levitando umas almofadas coloridas e um garotinho de pouco mais de um ano, ria muito junto com minha sobrinha e meu priminho:
- Hey, que bom que chegaram. Venham conhecer o novo amiguinho da Selene e do Liam. Olhei para Ethan e ele sorria enquanto Brianna olhava toda amorosa para o bebê.
- Como você conseguiu um bebê entre o café da manhã e o jantar? Expresso Cegonha?- eu quis saber enquanto o abraçava e ele respondeu baixo:
- Sabe que Brie e eu somos cadastrados como pais adotivos por causa do abrigo, e Lance precisava de um lugar para ficar, até ser adotado. É provisório até o tribunal encontrar alguém para ficar com ele, já que os pais morreram de overdose.
- Aham...sei.- foi o que respondi e fui brincar com o pequeno Lance. À medida que as horas foram passando, aquele menininho ia conquistando cada membro da família. Quando Ethan e Brianna subiram juntos para colocar o bebê para dormir, Justin pegou em minha mão e disse:
- Ethan e Brianna não têm noção de que a família deles começou hoje não é?
- Não, eles não  perceberam. – sorri quando ouvi o pequeno Lance chorar e minha mãe sair apressada da cozinha, levando uma mamaderia e dizer automaticamente: ‘Vovó está indo.’




Lembranças de Artemis A. C. Chronos

Hogwarts – Antes do feriado de Páscoa.

- Nossa Arte, você está com uma cara péssima! – Lenneth comentou rindo assim que levantei da cama.

- Eu não consegui dormir direito. – Eu resmunguei parecendo um zumbi de filme trouxa, enquanto andava pelo quarto procurando minhas roupas. – Preciso de um banho e de um café bem forte.

- A gente espera você. – Lena falou e eu acenei, entrando no banheiro para tomar um banho.

Foi outra noite mal dormida...

Eu já estava perdendo as contas de quantas noites eu passava sem dormir direito.

Desde a Segunda Tarefa eu tinha sonhos estranhos quase todas as noites.

Era estranho, pois eu realmente dormia, mas sempre acordava cansada, como se não tivesse descansado nada. E tinham os sonhos ou pesadelos, cada vez mais frequentes.

Eu me apoiei na pia do banheiro e lavei o rosto, suspirando cansada. Só o toque da água no meu rosto já me fez sentir melhor e me animei ao pensar que com uma boa ducha gelada ficaria ainda melhor.

Quando levantei o rosto, porém, e me olhei no espelho, fui invadida por lembranças dos sonhos.

Vi um campo cheio de mortos e ouvia o barulho de uma batalha ao longe.

Ouvia o grito dos moribundos, alguns implorando por misericórdia, outros gritando apenas de dor.

A cena então mudou e me vi cercada por sete figuras encapuzadas em negro. Elas eram diferentes, mas ao mesmo tempo parecidas e me olhavam com curiosidade, encarando-me profundamente.

Me senti tonta e minhas pernas tremeram, sem conseguir me sustentar. Eu me sentia como paralisada, consciente, mas incapaz de mover um único músculo e senti medo. Cai na direção do chão com força, mas tive tempo de me jogar um pouco para o lado e não bati com a cabeça na banheira. Quando caí, puxei a toalha e derrubei vários tubos de shampoo e cremes e logo ouvi a voz de Lena na porta.

- Arte, o que houve?

Eu não conseguia responder, completamente paralisada. Senti minha consciência desaparecer lentamente e ouvi Lena me chamando novamente, agora com preocupação e logo ouvi quando Lenneth gritou por Rin e Altair.

Meus olhos se prenderam na porta e vi quando Altair a arrombou e correu na minha direção. Então perdi completamente a consciência.

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Acordei algum tempo depois. Quando exatamente eu não sei.

Estava na ala hospitalar mais uma vez e não me surpreendi quando tentei levantar e me vi cercada por praticamente todos os meus amigos que me olhavam preocupados. Todos ainda estavam com uma cara de sono e percebi que tinha ficado pouco tempo desacordada. Junto deles estavam mamãe, papai e a enfermeira.

- Pelos deuses, Artemis! O que você teve? – Papai logo perguntou, me abraçando com força.

- Eu... – Comecei a falar, mas minha boca estava seca e pigarreei. – Eu me senti tonta e desmaiei, acho que só isso.

- Só isso?! – Mamãe perguntou preocupada. – Altair teve que arrombar o banheiro e a encontrou pálida e caída no chão! Isso não é “só isso”.

- Acho que é o cansaço... Tenho me esforçado muito para voltar a minha rotina. – Eu falei evasiva.

- Já te falamos para não se esforçar. – Papai falou, tentando soar irritado, mas pelo seu tom de voz senti que estava aliviado e ele acariciou meus cabelos.

- Acho melhor ela ficar aqui agora de manhã, precisa descansar e quero que todos a deixem em paz! – A Enfermeira Bulstrode falou meio ríspida e todos concordaram, despedindo-se de mim um por mim. Tuor ficou por último e bagunçou meu cabelo.

- Você está escondendo alguma coisa, eu tenho certeza. – Ele falou me olhando fundo nos olhos e não pude evitar de corar. – Mas vou esperar você estar pronta para falar. Melhoras.

Ele saiu e uma sensação forte surgiu em meu peito... Eu não queria que ele fosse embora.

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Os seres encapuzados me cercavam novamente. Eu sentia que eles não me fariam mal, e que me olhavam apenas com curiosidade.

A única coisa que eu era capaz de ver eram seus olhos por dentro das capas e capuzes negros.

Um deles tinha os olhos completamente negros e dentro desses olhos pareciam brilhar milhões de estrelas. Outro tinha um livro enorme preso ao seu pulso, com um olhar muito antigo, sério e rígido. Outro tinha um olhar antigo, mas que parecia cheio de vida. Os olhos de um tinham um brilho alucinado, enquanto os olhos de outro pareciam queimar com um fogo vermelho.Os olhos de um deles brilhava com uma luz alegre e me fazia pensar em coisas que eu desejava. O último deles tinha um olhar que parecia vazio, como se estivesse perdido.

Eles começaram a se aproximar de mim, deslizando no ar, e os olhos de estrelas era o mais próximo, seguido de perto pelos olhos de vida e pelo da corrente. Por mais que eu soubesse que não fossem me fazer mal, me senti angustiada e perguntei o que queriam comigo. Eles não responderam e desapareceram no ar, como fumaça.

Eu estava de novo no campo de batalha... Ao longe eu via uma cidade negra que se erguia ao céu. De sua maior torre saia uma nuvem negra que se espalhava por todo o céu. Vi com nojo que a cidade era toda feita de ossos e corpos, e rostos vazios me encaravam das paredes.

Me afastei assustada e senti como se caísse em um abismo, mergulhando no vazio.

Algo então começou a me perseguir... E o medo que eu senti era enorme. Comecei a correr, com medo até de olhar para trás. Senti a coisa cada vez mais perto de mim, mas por mais que eu fugisse parecia não andar nada...

Por Lenneth V. Aesir

Todas acordamos sobressaltadas, quando um pequeno grito espalhou-se pelo quarto. Eu me levantei rapidamente com a varinha em punho e ouvi gemidos e alguém que parecia estar ficando sem fôlego.

Abri rapidamente as cortinas que envolviam minha cama e vi que todas do dormitório estavam acordadas e olhavam assustadas umas para as outras. O som de gemidos continuava e percebi que vinha da cama de Arte. Corri até ela e me assustei, pois assim que cheguei perto a ouvi gritar.

- Chamem os aurores agora! – Eu gritei e vi quando uma das alunas de Hogwarts saiu correndo pela porta do dormitório. Os guarda-costas de Artemis sempre estavam por perto: eles dormiam em um quarto vizinho ao nosso, enquanto revezavam-se de vigias no salão comunal.

Puxei as cortinas da cama de Arte preocupada e eu e Lena arregalamos os olhos quando olhamos para nossa amiga. Ela estava pálida, parecendo um cadáver e suava horrivelmente. Seu rosto estava transfigurado em um semblante de dor e pavor e se contorcia toda. Lena sentou do seu lado e pegou sua mão e logo arregalou os olhos. Eu me sentei também, chamando por Arte e quando peguei sua mão, vi que estava gelada.

- Eu já vi isso acontecer! – Uma das garotas da Grifinória, amiga de Arte também, falou. Seu nome era Victorie e estava assustada, com as mãos na frente da boca.

- O que quer dizer, Vic? – Lena perguntou e nesse momento Rin entrou correndo no quarto, ainda de pijamas.

- Você não estava em Hogwarts ainda, Lena, mas no nosso Terceiro Ano, Arte teve um ataque igual a esse no meio do Clube de Duelos! – Victorie explicou, enquanto Rin pegava o pulso de Arte, com o semblante preocupado.

- Vou levá-la para a enfermaria agora. – Rin falou e nós a ajudamos a pegar Arte no colo. Rin se assustou em como ela parecia não pesar nada e saiu correndo do dormitório. Eu e Lena fomos atrás dela e pedimos que Vic viesse junto, para repetir o que tinha dito.

No salão comunal, Altair já estava alerta e quando viu Arte inerte nos braços de Rin, ficou pálido também. Os dois eram aurores treinados e logo o perdemos de vista, pois corriam desesperados. Antes de sair da Grifinória, mandei meu patrono chamar Tuor. Ele iria querer saber o que estava acontecendo.

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Quando chegamos na enfermaria, Arte já estava deitada em uma cama e seus pais estavam ali. Alucard andava de um lado para o outro impaciente e preocupado, com Altair ao seu lado, tentando acalmá-lo. Enquanto isso, Mirian, Rin e a Enfermeira Bulstrode se debruçavam sobre Artemis, usando magia para tentar melhor o seu estado.

- Sr. Chronos. – Eu chamei e ele me olhou.

- Obrigado pela ajuda garotas, mas deveriam voltar para a cama e descansar. – Ele falou indicando nós três e pediu que Altair nos acompanhasse.

- Vic, repita o que você nos disse. – Eu disse me explicando e o pai de Arte nos ouviu com atenção, enquanto Victorie dizia que Arte tinha tido o mesmo ataque há alguns anos atrás.

Quando ouviu isso, ele pareceu ficar ainda mais preocupado e trocou um olhar rápido com a esposa, que levantara a cabeça apenas para ouvir o que Vic tinha a dizer. Ela também pareceu ficar ainda mais preocupada.

Nesse momento, Tuor entrou correndo e Alucard o impediu de correr até a cama de Arte, pedindo para se acalmar. Vimos então que a cor no rosto de Arte parecia voltar aos poucos e ela acordou.

- Mãe... – Ela falou, sua voz assustada e a abraçou com força, começando a chorar.

- Está tudo bem, querida estamos aqui... Me diga o que houve.

Arte soluçou mais um pouco antes de começar a falar. Ela explicou que há semanas não conseguia dormir direito e que estava tendo sonhos estranhos. Ela disse que se sentia sugada por esses sonhos e quando acordava sentia-se cansada.

- E hoje foi pior! – Ela falou entre lágrimas. – Eu sabia que era um sonho, um pesadelo! Mas não conseguia acordar! E tudo parecia tão real!

Mirian não falou nada, enquanto ela e o marido abraçavam a filha. Nunca vira Arte tão abalada e troquei um olhar preocupado com Lena, Vic e Tuor. Mirian trocou um olhar intenso com Alucard e soube que apenas com aquele olhar eles pensavam em algo.

- Enfermeira Bulstrode, poderia dar uma poção para Arte dormir essa noite? – Alucard perguntou. – Sem sonhos, por favor. Acho que você tem alguns frascos das poções do Logan, certo?

- Claro. Ele me enviou algumas poções extras recentemente. Vou pegar um pouco imediatamente. – Ela falou, indo na direção de um pequeno armário ao fundo.

Então ouvimos mais barulho do lado de fora e vimos Haley entrar acompanhada por Clara e Justin. Eles nos olharam surpresos e Clara trocou um olhar conosco.

Quando viram Arte na cama, ficaram preocupados também e todos começaram a falar juntos. A Enfermeira ralhou com todos e Justin ajudou Haley a se sentar em uma cama vizinha a Arte. A Enfermeira fez as duas beberem a poção, mas antes de beber, Arte pediu para falar com Tuor e a ouvi dizer.

- Fica do meu lado, por favor. – Ela pediu, a voz fraca pelo choro, e Tuor assentiu com ternura, segurando sua mão com força.

- Não vou sair daqui, prometo.

A Enfermeira a fez beber a poção e Arte deitou novamente, encarando Tuor intensamente. Seus olhos fecharam-se lentamente e ela adormeceu. Pouco depois, Haley adormeceu também e saímos da ala hospitalar. Apenas Tuor e Justin ficariam, pois Mirian pediu que os deixasse passar a noite ali.

Logo começamos a conversar com Clara e cada uma contou o que tinha acontecido, mas decidimos ir dormi logo, pois estávamos muito cansadas e os pais da Arte nos incentivaram a isso. Nos despedimos e voltamos para os nossos dormitórios, mas ouvi Alucard dizendo:

- Precisamos de ajuda profissional, demoramos demais para isso.

- A Vic estava certa, é o mesmo ataque da outra vez. – Mirian falou e pelo seu tom de voz eu senti um aperto no peito.

This is me for forever
One of the lost ones
The one without a name
Without an honest heart as compass
This is me for forever
One without a name
These lines the last endeavor
To find the missing lifeline

Oh how I wish for soothing rain
All I wish is to dream again
My loving heart lost in the dark
For hope I'd give my everything

My flower, withered between
The pages two and three
The once and forever bloom
Gone with my sins
Walk the dark path sleep with angels
Call the past for help
Touch me with your love
And reveal to me my true name

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Por Artemis A. C. Chronos

- Entre, por favor. – Uma voz que eu não conhecia respondeu, quando bati na porta da sala do Tio Ben.

Entrei logo em seguida e me surpreendi quando Tuor se levantou de uma cadeira, assim como um homem com aparência séria e profissional.

Eu sorri para Tuor, corando um pouco ao lembrar daquela noite que pedi que ficasse do meu lado por causa dos pesadelos. Quando acordei no dia seguinte, ele estava dormindo em uma cadeira do lado da minha cama, com um cobertor sobre ele. Senti uma ternura enorme e o agradeci muito por estar do meu lado.

Ele sorriu de volta e se virou para o homem. Os dois pareceram trocar um olhar cheio de significado e apertaram as mãos, despedindo-se.

- Te vejo depois. – Tuor falou, passando a mão de leve na minha e eu acenei.

- Sente-se por favor. – O homem falou, sorrindo para mim. – É um prazer finalmente conhecê-la pessoalmente, Artemis Chronos, já tinha ouvido falar muito da senhorita. A semelhança física com sua mãe é enorme, mas tem nos olhos a obstinação do seu pai.

- Obrigada... Acredito que saiba mais de mim do que eu mesma. O senhor é...

- Desculpe, falha minha. Me chamo Martin Pace, sou o psicólogo do Curso de Auror. – Ele respondeu e eu assenti. Já tinha ouvido muito falar dele. Ele ajudava no curso de auror do Tio Micah e todos que faziam o curso diziam que gostavam de conversar com ele.

- É um prazer conhecê-lo também, todos falam muito bem de você.

- Tenho certeza que não tão bem assim. – Ele falou rindo e sorri também, me sentindo mais a vontade. Ele me ofereceu uma xícara de chá que eu peguei e bebi calmamente.

- Desculpe, perguntar, mas por que me chamou aqui? Achei que era o Tio Ben, desculpa, o professor O’Shea que tinha me chamado.

- Eu pedi que lhe chamasse. Artemis, gostaria de conversar com você, a pedido dos seus pais.

- Meus pais acham que preciso da ajuda de um psicólogo? – Perguntei levantando uma sobrancelha e ele pareceu se divertir.

- Não se preocupe, tenho certeza que Mirian e Alucard não acham que está louca. Mas nós psicólogos podemos ajudar e trabalhar de diversas formas. E eles acreditam que você possa estar precisando de minha ajuda. Gostaria que conversássemos um pouco. – Eu assenti e ele continuou, pegando uma pasta. – Tomei a liberdade de pegar seus arquivos, tanto os da escola quanto os da Academia de Auror. A Aurora mais nova da história, uma conquista entanto! Meus parabéns.

- Estudei com detalhes todo o seu histórico e conversei com muitos de seus amigos e seus pais, para tentar entender melhor o que tem acontecido com você. O trauma de perder sua memória, e parecer impossível reavê-la, pode ter sido maior do que você mesma acha. – Ele continuou, olhando uma página do meu histórico. Fiquei um pouco curiosa de saber o que tinha escrito, mas deixei ele continuar falando. – Todas as tentativas de reaver suas memórias falharam e você recupera suas memórias muito lentamente. Seu pai levantou a possibilidade do líder dos vampiros estar tentando manipular sua mente, mas seus registros mostram que você sempre foi uma boa neglimente. Mas não quero deixar de lado essa possibilidade...

- E tem os vários casos de desmaios e perdas de consciência. E mais recentemente o caso dos pesadelos. – Ele falou e eu senti o medo subir pelo meu peito novamente. Os últimos três dias eu só conseguira dormir depois de tomar a poção da enfermeira e graças a isso não tinha sonhos, mas ainda acordava fraca. – Me conte como são e o que você tem sentido.

Eu assenti mais uma vez e comecei a contar tudo desde o início. Contei sobre como foi acordar e não me lembrar de nada. Contei de como foi participar das Tarefas do Torneio sem memória. Contei de como aos poucos me lembrava de acontecimentos, mas parecia esquecer outros, principalmente os mais importantes. Contei dos meus sentimentos confusos para com Tuor, apesar de corar um pouco. Por fim tomei coragem de contar dos pesadelos, dizendo o que eu via e o que eu sentia quando estava neles. Ele me ouviu sem interromper e graças aos céus não fez nenhuma anotação, pois se fizesse isso ai sim eu me sentiria uma doida. Quando terminei, um pouco sem fôlego ele assentiu e massageou as têmporas, pensando. Ele então pegou minha pasta e leu algum trecho, levantando uma sobrancelha.

- Artemis, nesses pesadelos, você os vê de cima, de dentro de um personagem ou de você mesma?

- É na minha própria visão. É como se eu estivesse ali. É muito real. E eu tenho a noção de que é um sonho, mas não consigo acordar.

- Entendo... Há muitos distúrbios do sono que causam esses tipos de sintomas, principalmente após um trauma grande... Mas no seu caso há um agravante. Conversei com sua mãe antes e com alguns de seus amigos, como te falei. Eles me contaram que você já teve um caso de ataque como esses, onde perdia a consciência e só com muito esforço conseguiram trazê-la de volta.

- Eu não me lembro disso... Mas Vic comentou sobre isso, é verdade... Falaram que foi durante um duelo.

- Exatamente. Na época você não tinha sofrido trauma nenhum para causar esses problemas, ao contrário de agora, e acho difícil entender o que é exatamente. Mas sua mãe me contou sobre os problemas de instabilidade mágica que você apresentava naquela época. Ela me explicou também que na época você teve algum tipo de aula, algo que equilibrava essa instabilidade, que não tem mais hoje. – Ele explicou apoiando os cotovelos na mesa e me olhando nos olhos. A menção de aulas ou algo me equilibrando fez meu cérebro sentir “cócegas”. Aquilo quase me fazia lembrar de algo, mas era muito fraco e logo desapareceu. – Esses são problemas comuns, mas para bruxos em fase de desenvolvimento inicial dos poderes, como em crianças. É raro isso acontecer com um bruxo maduro, como você. Mas em seus arquivos mostram que você tem uma reserva mágica imensa, muito maior do que o normal. Essa sempre foi uma característica da sua família, mas no seu caso é ainda mais exagerado. Isso explicaria porque você tem esses ataques. Mas receio de que o trauma de perder as memórias pode ter piorado esse quadro. Acredito que até algumas semanas, seus poderes ainda estavam adormecidos, como se por efeito da perda de memória. Mas durante a sua Segunda Tarefa, você demonstrou uma habilidade mágica intensa e todas suas reservas mágicas devem estar vindo a tona.

- Sim, tudo isso tem acontecido desde após essa tarefa.

- Exatamente... Até o momento seus pais tentaram tratá-la apenas com a magia, mas não surtiu efeito. E dado o seu quadro de instabilidade mágica, é um pouco arriscado, motivo pelo qual decidiram parar. Mas agora estamos interessados em tratá-la com métodos trouxas. Em vez de fugir e impedir que tenha esses pesadelos, vou tentar descobrir a origem deles. – Ele falou e eu não pude evitar de ficar um pouco amedrontada. Ele sorriu antes de continuar. – Não tenha medo, quero fazer sessões de indução de sonhos, sonhos lúcidos e sonhos guiados. Quero ajudá-la a entender o que está acontecendo. E tenho fortes razões para acreditar que a chave para recuperar suas memórias podem estar nesses sonhos e quero ajudá-la. Está disposta?

- Sim. – Eu respondi prontamente. – Estou com medo, mas quero entender o que está acontecendo e quero recuperar minhas memórias.

- Falou como uma verdadeira Chronos. Vamos ter sessões três vezes por semana. Sempre no seu horário de dormir. Além disso, pedi que o Professor O’Shea treinasse Oclumência com você, precisamos ter certeza que sua mente não está sendo invadida por ninguém. – Ele falou e se levantou e eu o imitei. Apertamos nossas mãos e ele me sorriu. – Nos encontramos na próxima segunda. Não se preocupe, irei ajudá-la com certeza.

- Obrigada, Dr. Pace. – Eu respondi sincera e me despedi saindo da sala.

- Artemis. – Ele me chamou quando eu saia da sala e me virei. – Não se preocupe com seus sentimentos conflitantes para alguns de seus amigos. – Ele falou e eu soube que se referia a Tuor. – Lembre-se que para você é como se estivesse vivendo sua vida toda novamente, é normal ter dúvidas... Aos poucos vai se sentir melhor com esses sentimentos e vai saber como lidar com eles.

Eu agradeci mais uma vez e me despedi, pensando em tudo que tínhamos conversado. Tinha que enfrentar esse medo estranho que assolava meus sonhos... E concordava com ele, a chave para entender minha perda de memórias podia estar nesses sonhos e nesses pesadelos.

N.A.: Nemo, Nightwish.


Friday, April 13, 2012


A semana de Páscoa na Califórnia não poderia estar melhor. Até Clara, que não estava em seus melhores dias, tinha que admitir que estavam sendo dias agradáveis. Pela primeira vez em muito tempo conseguimos que todos tirassem folga do trabalho para viajar, até mesmo Nick e Becky conseguiram uma brecha na sobrecarregada agenda de auror para nos acompanhar. E também era a primeira viagem em família das gêmeas do tio Gabriel, que já estavam com quase quatro anos e cada vez mais parecidas com a mãe. Evan, a alguns meses de completar 7 anos, se parecia cada vez mais com tio Gabriel, por mais improvável que isso fosse.

A programação inicial, priorizando as gêmeas e Evan, era a Disneylândia. Fomos direto para Anaheim e passamos três dias na cidade para curtir os dois parques, mas depois seguimos viagem de carro para Santa Monica. Nosso hotel ficava bem próximo ao píer, o que nos permitiu ficar no meio do movimento da cidade e a 30 minutos de carro do centro de Los Angeles.

Nick, Becky, Clara e eu havíamos passado a quarta-feira no Six Flags e como chegamos todos no hotel se sentindo mal por ter passado o dia inteiro de cabeça pra baixo em montanhas-russas, combinamos que a quinta-feira seria 100% light. Nossa programação se resumia a encontrar o resto da família em Venice Beach e curtir a praia, e quem sabe, se a coragem permitisse, até jogar um pouco de basquete nas quadras do balneário. Até já tínhamos alugado as bicicletas que nos levariam até lá e tomávamos café em uma lanchonete no píer quando uma garota de boné e mochila com um mapa na mão entrou pela porta e fez meus planos para o dia mudarem por completo.

- Aquela é a Amber? – Clara perguntou indicando a garota que havia acabado de entrar.
- Quem é Amber? – Nick perguntou enquanto pedia para a garçonete encher outra vez sua caneca de café.
- A namorada do Rup – Becky respondeu debochada e Clara riu.
- Ela não é minha namorada – respondi já levantando.
- Não por falta de tentativa... – Clara completou e Becky e Nick ergueram as mãos para ela bater.
- Muito engraçado – disse olhando atravessado pra eles e me afastei, parando ao lado dela do outro lado da lanchonete – Amber?
- Rup! Oi! – ela se espantou ao me ver, mas me abraçou – O que está fazendo aqui? Pensei que iam ficar em Anaheim.
- Eu que pergunto isso, por que não me disse que ia estar em Los Angeles?
- Mudança de planos de última hora... Obrigada! – ela agradeceu o café ao balconista e se encaminhou em direção à porta.
- Seus pais estão aqui no píer? Vou dar um oi a eles.
- Eles não vieram, estou sozinha – ela estava tentando se livrar de mim – Tenho que ir, só parei pra pedir uma informação. Nos vemos em Hogwarts?
- Espere, onde está indo? – ela saiu da lanchonete, mas fui atrás.

Fiz sinal para os três na mesa e eles entenderam que eu ia sair, mas que não era pra ninguém me seguir. Amber andava depressa e tenho certeza que ela só não desaparatou no meio do píer porque estávamos cercados de trouxas. Consegui alcança-la já quase do outro lado da rua.

- Amber, pare – fiz menção de segurar seu braço, mas ela parou antes – O que está acontecendo? E não diga nada, porque a conheço melhor do que gosta de admitir e sei que, se veio até aqui e não me contou, está escondendo alguma coisa importante.
- Meu irmão me escreveu – ela puxou uma carta amassada do bolso e me entregou – Ele está aqui em Los Angeles.

Peguei a carta da sua mão e li rápido, devolvendo a ela. Russell, seu irmão mais velho, era quase um assunto proibido. Desde que a havia abandonado no orfanato aos sete anos, logo depois que seus pais desapareceram, Amber parou de confiar nas pessoas. Ela não culpava os pais por ter se tornado tão fechada, ela não sabia o que tinha acontecido com eles. Ela culpava Russell, que era a única família que lhe restava e havia prometido busca-la quando se formasse em Hogwarts, mas nunca voltou.

- Papai encontrou cinco Russell Brennan morando em Los Angeles. Estava indo bater na porta do terceiro.
- Por que não me disse nada? A data da carta é de quase um mês atrás.
- Se tivesse contado, você e Kaley não me deixariam ir atrás dele sozinha.
- Se quiser, vou embora – esperei ela me expulsar, mas ela não respondeu – Você quer que eu vá embora?
- Não. Não quero fazer isso sozinha.
- Então não estará sozinha.

Mandei uma mensagem pra Becky dizendo que não ia voltar e acompanhei Amber até um endereço em Pasadena, a meia hora de Santa Monica. O prédio de cinco andares e aparência antiga, mas conservado, ficava na Colorado Blvd. Amber parou na entrada e podia sentir a hesitação nela, mas seguiu em frente. Quando finalmente criou coragem de tocar a campainha, um homem negro na faixa dos 40 anos abriu a porta. Definitivamente não era seu irmão. Ela se desculpou e ele foi gentil nos desejando mais sorte na próxima antes de irmos embora.

Costa Mesa era o próximo destino. A cidade ficava a cerca de uma hora de carro de Pasadena, mas como nosso transporte era o ônibus, levamos mais de duas horas para chegar ao destino. Dessa vez era uma casa, mas o Russell Brennan que morava nela não tinha mais que 13 anos. Quando voltamos à rua, Amber estava mais calada que o normal. Restava apenas um endereço, o que significava que era nele que seu irmão morava.

- Vamos? – peguei o papel com os endereços em sua mão – Palmdale é muito longe, vamos levar umas três horas pra chegar lá – ela não respondeu, tampouco se moveu – Que tal almoçarmos? Já passa das duas.

Ela concordou, claramente aliviada por ter uma desculpa de adiar em mais algumas horas o momento pelo qual ela vem esperando desde os sete anos. Encontramos uma lanchonete não muito longe do bairro onde o Russell de 13 anos morava e demoramos muito mais que o necessário para terminarmos nossos sanduiches. Quando não dava mais para enrolar, Amber deixou que eu pedisse a conta e partimos.

Perdemos muito mais que três horas para chegar até Palmdale. Como já passava das 15h, o transito estava um verdadeiro nó. Quando finalmente descemos o céu já começava a querer escurecer e minha família já devia estar deixando Venice Beach de volta para Santa Monica. Era outra casa, em um bairro típico do subúrbio americano. As crianças já estavam de volta da escola e a rua estava tomada por elas, correndo de um lado pro outro a pé ou em suas bicicletas. Caminhamos até o numero indicado no endereço e Amber se dirigiu até a porta, mas parou no meio do caminho.

- O que houve? - perguntei a alcançando. Andava sempre dois passos atrás dela quando ela ia bater na porta de alguém.
- Isso foi um erro, não posso fazer isso – ela havia entrado no modo racional automático, quando dificilmente conseguíamos fazê-la mudar de ideia.
- Se não está pronta pra isso podemos ir embora, mas pense bem. Chegamos até aqui, quer mesmo desistir?
- E se não for como imaginei?
- Quer dizer se ele a convencer a perdoá-lo? – ela hesitou, mas assentiu – Então você vai ter seu irmão de volta. Tem que dizer a ele tudo que está entalado, mas também deve ouvi-lo, entender seus motivos.
- Não, não posso fazer isso! – ela passou por mim em direção a rua, mas a porta da casa abriu de repente, congelando nós dois.

Uma garotinha loira de no máximo cinco anos passou correndo pelo jardim e um homem em torno dos seus 30 anos saiu atrás dela, gritando para que ela não corresse daquela maneira. Não havia necessidade alguma de perguntar seu nome, porque ele era uma cópia fiel de Amber, mas homem e 10 anos mais velho. Ele saiu atrás da garota, mas quando seus olhos baterem nela, ele congelou.

-Amber? – primeiro o espanto, depois seu rosto se iluminou em um sorriso sincero. Ele fez menção de abraçá-la, mas ela recuou – É você mesma?
- Você me abandonou – foi a única coisa que Amber conseguiu dizer, mas ao menos não fugiu.
- Nina, eu sinto muito, mas nunca foi minha intenção deixa-la pra trás.
- Não me chame assim! Não tem o direito!
- Por favor, vamos entrar. Temos tanto o que conversar, quero que você entenda tudo que aconteceu nos últimos 10 anos – ele esticou o braço para tocar seu ombro, mas ela o repeliu.
- Não encoste em mim! – e saiu andando na direção da rua.
- Amber! – fiz sinal para ele esperar e corri atrás dela. Ela só parou quando segurei seu braço – Ei, o que está fazendo?
- Foi um erro vir aqui, não quero ouvir suas desculpas. Ele me abandonou!
- Eu sei, ele foi um idiota, mas porque não lhe dá uma chance de explicar? Ele tinha 17 anos, talvez não tenha tido escolha.
- Você está do lado dele? – ela ficou zangada.
- Não, claro que não! Estou do seu lado, sempre. Só que acho que deve ouvi-lo. Goste ou não, ele é seu irmão. Seu único laço com sua família biológica.

Ela olhou para Russell, em pé no meio da calçada, visivelmente abatido. Pensei que ela fosse voltar, dar a ele uma chance, mas não poderia estar mais enganado. Amber deu uma olhada rápida na rua e quando nenhuma das crianças parecia estar prestando atenção ao que acontecia ali, desaparatou. Seu irmão correu até onde eu ainda estava parado, desesperado para saber onde ela estava, mas eu não fazia ideia de onde ela havia ido.

Era a primeira vez que via Russell Brennan, tudo que sabia a seu respeito tinha sido contado pela versão de Amber, mas por alguma razão sabia que sua preocupação em recuperar a relação que tinha com a irmã era verdadeira. Não fazia ideia de onde Amber estava hospedada, mas sabia o que fazer. Com uma única ligação para seu pai, descobri que ela estava no Four Seasons de Hollywood e ele me deu até o numero do quarto.

Convenci Russell a me deixar conversar com ela antes dele tentar qualquer coisa, porque a conhecia melhor que ele para saber que, caso se sentisse pressionada, ia se fechar ainda mais. Ele acabou concordando, mas não tinha muita opção. Sua esposa estava trabalhando e não poderia deixar a filha sozinha, nem queria levar ela para o que poderia ser um confronto pesado.

Não ia pegar ônibus para levar mais três horas até o centro de Los Angeles, então desaparatei de dentro da casa na rua deserta mais próxima do Four Seasons. Era um hotel cinco estrelas, não tinha duvidas. Parei na recepção para perguntar pelo quarto e eles a chamaram no interfone. Respirei aliviado quando ela atendeu, ao menos tinha voltado direto para ele. A recepcionista me autorizou a subir e ela já estava com a porta aberta quando cheguei à cobertura. O quarto era um mini apartamento, com uma sala grande e duas portas nas laterais, cada uma levando a um quarto. Era ali que seus pais sempre se hospedavam quando visitavam a Califórnia, tendo um quarto só deles e outro dela.

- Como me achou? – ela perguntou quando fechou a porta.
- Liguei para o seu pai.
- Claro.
- Você está bem?
- Sim – ela sentou no sofá tentando parecer indiferente, mas não durou muito – Não.
- O que houve? – perguntei sentando ao seu lado.
- Perdi o controle. Ele tem uma família só dele.
- O que esperava encontrar?
- Não sei – ela admitiu – Não acho que estaria preparada para o que quer que fosse.
- Não estou dizendo que abandoná-la foi certo, mas se ele não a queria em sua vida, por que lhe escreveu agora, 10 anos depois? – ela deu de ombros, sem saber o que responder – Ele deve ter tido uma boa razão para isso e você deveria dar a ele a oportunidade de contá-la. Mesmo que depois não queria mais vê-lo, não quer poder dizer a ele tudo que vem guardando todo esse tempo?
- Gritar com ele faria com que eu me sentisse melhor.

Ela relaxou um pouco e passamos a noite inteira conversando sobre seus sentimentos conflitantes sobre o irmão. Com um pouco de resistência, ela concordou em conversar com ele no dia seguinte e ligou para sua casa. Em poucas palavras, combinaram de se encontrar no hotel depois que ele saísse do trabalho, já que ela se recusou a ir até sua casa. Para não passar o dia inteiro sozinha na ansiedade de como a conversa ocorreria, convidei-a para passar o dia conosco na Universal Studios.

- Kaley me ligou antes de você chegar, histérica e me dando bronca – ela disse mudando de assunto de repente – Você ligou pra ela?
- Não – ela me olhou desconfiada – Mandei uma mensagem. Achei que talvez não estivesse no hotel, queria saber se tinha procurado por ela.
- Eu o respeitava tanto, Rup – ela voltou ao assunto Russell – Quando era pequena. Prendia-me em cada palavra que dizia, achava que ele era a pessoa mais sábia do mundo. Mais até que meus pais. Então, depois de um tempo, percebi que ele só inventava a maioria das histórias para me impressionar, mas não me importava. Não acredito que ficamos tantos anos sem nos ver.
- Sabe o que pensei quando a conheci? Que você era um enigma, que eu talvez nunca fosse capaz de decifrar. Sempre com a guarda levantada e sem deixar ninguém se aproximar, intimidadora. E mesmo agora, depois de ter quebrado essa barreira, ainda consigo me impressionar com a profundidade de sua força, seu jeito diferente, mas verdadeiro, de lidar com sentimentos... E sua beleza, claro – completei em tom de brincadeira.
- Você também não é de se jogar fora, Rup – e ela respondeu com um sorriso lindo no rosto.

Ficamos em silêncio na sala, nos encarando sem desviar o olhar. Amber estava à vontade o suficiente para não me afastar, mas não tinha certeza de até que ponto estaria sendo prudente. Ela já havia deixado claro que não estava preparada para entrar nesse território e se eu insistisse, podia acabar fazendo com que ela se fechasse ainda mais. Não sei se teria tentado alguma coisa, porque ela foi mais rápida.

- Acho melhor eu dormir, está tarde – ela se levantou de repente do sofá, caminhando na direção da porta de seu quarto – Nos vemos amanhã na Universal. Boa noite.
- Amber.
- Boa noite, Rupert.

E fechou a porta do quarto, me deixando sozinho na sala.

°°°°°°°°°

Amber fechou a porta e encostou o corpo contra ela, deslizando até o chão, as mãos na cabeça. Era a primeira vez, em muito tempo, que ela perdia o controle das emoções. Se por um lado o que mais queria fazer era abrir a porta do quarto e voltar para a sala, voltar para onde havia deixado Rupert e dizer tudo que tinha vontade, seu lado racional dizia que ainda não era o momento certo, que uma precipitação poderia colocar tudo a perder.

Os 30 segundos que passou sentada no chão do quarto com a cabeça apoiada na porta pareceram uma eternidade. Nunca havia feito um esforço tão grande para manter a racionalidade, mas no fim quem venceu foi a vontade irracional. Ela levantou do chão, respirou fundo e apertou os dedos contra a maçaneta.

Abriu a porta bem a tempo de ver Rupert fechando a da sala ao sair.

Thursday, April 05, 2012


Depois que voltamos da semana de férias em Orlando, as semanas restantes entre a viagem e o recesso de Páscoa passaram voando. Íamos pra casa na manhã seguinte e estava recolhendo minhas coisas espalhadas pelo Salão Comunal antes de dormir quando vi Hiro sentar em uma das poltronas e levantar incomodado, puxando o Zangado de pelúcia que tinha dado a Clara do meio das almofadas. Senti o cheiro do problema antes mesmo que ele percebesse o que tinha nas mãos, mas foi tudo rápido demais para que eu pudesse impedir.

- O que é isso? – Leslie, que estava sentada na poltrona do lado, perguntou.
- O Zangado que comprei pra Clara, não lembra? – Hiro respondeu rindo, olhando para o boneco na mão.
- Não, quando você comprou isso? – me aproximei dos dois para fazer alguma coisa, mas não sabia exatamente o que deveria fazer.
- No dia que fomos ao Boardwalk!
- Está me confundindo com alguém, Hiro. Soube que você foi passear lá, mas eu estava com as meninas nesse dia, no safári – ela riu e passou a mão na testa dele de brincadeira – Bem que Jamal disse que você não estava bem das idéias.

Leslie levantou da poltrona ainda achando engraçado Hiro estar confundindo as coisas e foi para o dormitório. Hiro olhou para o Zangado e dava pra ver seu cérebro funcionando depressa, juntando as peças. Quando ele me encarou, àquela altura congelado atrás do sofá, já havia entendido tudo. Não estava muito certo se deveria dizer alguma coisa, mas nem foi preciso. Ele empurrou a pelúcia contra o meu peito e saiu do salão comunal com uma expressão furiosa no rosto sem dizer nada.

- É... – olhei pro Zangado na minha mão e deixei escapar um suspiro – Estamos ferrados.


ºººººº

O recesso de Páscoa finalmente havia chegado e estava ansiosa para ir para casa e embarcar com a minha família para a Califórnia, mas ao invés de arrumar as coisas para ir embora, as meninas e eu decidimos que passar a noite no Old Haunt seria muito mais produtivo. Desde que havíamos voltado de Orlando e havia admitido gostar de Hiro, meu mês estava sendo péssimo. Ficava cada vez mais difícil fingir que estava tudo bem quando ele vinha conversar comigo e contar qualquer coisa relacionada à Leslie, aquilo me matava por dentro. Sentia-me péssima porque gostava dela, mas não conseguia evitar sentir raiva por eles estarem juntos. Então quando Lena deu a sugestão de sairmos um pouco pra se divertir, não pensei duas vezes antes de topar.

Já passava das 3 da manhã quando deixamos o pub e pegamos o túnel de volta para o castelo. Tínhamos que sair da sala de armaduras e cada uma fazer o caminho até seu salão comunal no mais completo silêncio, mas o plano foi por água abaixo quando abrimos a porta pra sair do túnel e Keiko soltou um berro ao dar de cara com Jamal nos esperando. Arte tapou a boca dela apavorada, mas o grito já tinha ecoado pela sala e provavelmente despertado metade dos professores no andar de cima.

- Que diabos, Jamal! – bati nele, meu coração disparado com o susto - Ficou maluco?
- Deixem pra discutir na Sonserina, temos que sair daqui depressa! – Lena agarrou a mão de Arte e correram na direção das escadas para voltarem à torre da Grifinória.
- Ele sabe – ele falou com uma voz fúnebre enquanto descíamos as escadas pras masmorras correndo – Não podia deixar você chegar no Salão Comunal sem saber, ele pode estar esperando.
- Do que está falando?
- Hiro, ele já sabe de tudo.
- Como isso aconteceu? – minha voz saiu um pouco mais desesperada do que o planejado.
- Deduziu sozinho quando Leslie disse que não foi com ele ao Boardwalk porque estava no safári. Sinto muito, eu queria impedir, mas não deu tempo.
- Não é sua culpa, isso ia acontecer mais cedo ou mais tarde. Pode falar “eu avisei”.
- Estou tão apavorado com o que pode acontecer quando vocês se encontrarem que nem estou no clima para lhe reprimir.
- O que você vai fazer? – Haley perguntou preocupada. Já estávamos no térreo.
- Acho que não me resta muita coisa além de encará-lo.
- Sorte sua que meu irmão não fica acordado até essa hora a menos que esteja em uma festa – Keiko disse a senha e entramos, o salão estava vazio – Tem mais algumas horas pra dormir e pensar no que dizer.

Dormir não foi fácil. Sabia que assim que todos despertassem não teria como evitar um confronto com Hiro, mas a preocupação com o que poderia aconteceu deu lugar à raiva por estar naquela situação. Raiva por estar gostando dele, raiva por ele ter me beijado há três anos e despertado algo que até então nunca havia passado pela minha cabeça, raiva por ele estar feliz com Leslie e saber que não tinha chance nenhuma contra isso, raiva por ter que vê-lo todos os dias e não poder fazer nada para mudar isso. E principalmente, raiva de mim mesma por ter colocado Jamal naquela situação. Quando amanheceu e sai da cama, estava tão irritada que devia estar dando choque.

As meninas logo levantaram também e começamos a arrumar nossas coisas, ainda estava tudo espalhado e o trem sairia em menos de duas horas. Penny e Leslie ficaram deitadas vendo nossa movimentação pelo quarto, ajudando a localizar objetos perdidos apontando onde eles estavam. Já podia ouvir muito barulho vindo do salão comunal, o que significava que todos já haviam acordado, mas nem sinal de Hiro. Já começava a achar que ele ia deixar pra falar comigo no trem quando ele entrou no quarto.

- Clara – ouvi sua voz atrás de mim, mas não virei.
- Agora não, Hiro, estou arrumando minhas coisas – respondi jogando minhas coisas na mochila sem parar.
- Não, vamos conversar agora! – ele disse firme e me vi obrigada a encará-lo – A errada aqui é você, perdeu o direito de decidir quando quer falar comigo.
- Er... Devemos ir embora? – Penny me olhou curiosa.
- Sim meninas, por favor – Hiro respondeu – Preciso conversar com ela a sós.
- Sim, vamos sair – foi Leslie quem tomou a iniciativa e me perguntei se ela já sabia – Arrumem as coisas depois, dá tempo.
- Ok, só não façam nenhuma bobagem – Haley largou a mochila na cama e me olhou séria antes de sair.
- Como pode? – Hiro falou assim que elas fecharam a porta – Não acredito que fez isso!
- Desculpa ok? Não estou orgulhosa disso. Sei que foi errado.
- Então por que fez?
- Você sabe o motivo.
- Quero ouvir de você.
- Não, sinto muito, isso você não vai conseguir. Só deixe o Jamal de fora disso, ok? Ele não teve culpa de nada, joguei-o no meio da confusão e ele não tinha como sair.
- O que aconteceu com a gente? Sempre fomos melhores amigos, por que não voltamos a ser como antes?
- Porque as coisas mudaram, Hiro. Nós crescemos.
- Não quero deixar de ser seu amigo, nunca quis isso. Não quero que nada mude.
- Sinto muito, mas ser sua amiga é a última coisa que eu quero.
- Isso é tudo que posso oferecer.
- Então pode ficar com ela, eu não quero – joguei a mochila nas costas e comecei a andar na direção da porta.
- É assim então? Você decide que não somos mais amigos e vai embora? Não vamos mais nos falar?
- Sim! É exatamente isso que vai acontecer! – parei de frente a ele – Sei que posso me adaptar as mudanças, mas não quero. Infantil da minha parte? Pode ser, mas é assim que eu sou. Se as coisas não podem ser do jeito que eu quero, não vou ficar com o prêmio de consolação.
- Clara, somos amigos há 17 anos, nos conhecemos desde que nascemos. Por que você quer jogar isso fora?
- Por que não sei lidar com o fato de que estou apaixonada por você e você ama outra pessoa! – comecei a gritar, já não queria saber se alguém estava ouvindo – Por que cansei de me magoar, cansei de fingir que está tudo bem, e ficar perto de você dói. Se para ficar bem tenho que me afastar, então que seja. E se você se importa comigo ao menos um pouco, vai respeitar isso e me deixar em paz!

Virei de costas outra vez e abri a porta, saindo do quarto. Como esperava, estavam todos do lado de fora ouvindo a discussão e tentaram disfarçar quando passei, mas fizeram um péssimo trabalho.

- Gostaram do show? – perguntei irritada, passando pelo meio deles e saindo do salão comunal.

Ainda tinha tempo de tomar café antes de embarcar no trem, mas não sentia fome alguma. Só queria sair dali o mais depressa possível e fui direto pra Hogsmeade. Filch já estava embarcando os alunos que estavam prontos e procurei uma cabine vazia no inicio do trem, pois sabia que ele sempre viajava nos últimos vagões e não queria discutir outra vez. As meninas me encontraram uma hora depois e Arte e Lena já estavam sabendo da confusão, então Arte me dispensou de ter que patrulhar os vagões com ele e me deixou quieta na cabine a viagem toda.

Nem foi preciso pedir, pois ninguém tocou no assunto durante todo o trajeto até Londres. Enquanto elas conversavam ao meu lado, ia encarando a paisagem do lado de fora calada e pensativa. Eu tinha mesmo dito ao Hiro, que sempre foi meu melhor amigo, que não queria que ele se aproximasse de mim outra vez? Aquilo só podia ser um pesadelo. Vez ou outra via as meninas me olhando cautelosas, talvez esperando que eu caísse no choro de repente, mas eu me recusava a chorar. Por mais que aquilo fosse o que eu mais queria fazer, não ia dar o braço a torcer.

Chegamos a King’s Cross perto das 15h. Rupert veio me procurar no vagão e descemos juntos do trem. As meninas estavam logo atrás de mim e formavam uma espécie de barreira, como se estivessem prontas para evitar que Hiro se aproximasse. Dessa vez quem veio nos buscar foi minha mãe, ela estava parada do outro lado conversando com tia Yulli, tia Alex e tia Miriam, e minha cara devia estar muito ruim, ou talvez mães saibam mesmo de tudo, porque assim que me viu seu semblante mudou.

- Ei, o que houve? – mamãe perguntou quando me aproximei – Está tudo bem?

Fiz que não com a cabeça e ela me puxou para um abraço. Afundei o rosto em seu casaco e ela me apertou com mais força. Aquilo foi o que bastou para que eu começasse a chorar.


Now waking up is hard to do
And sleeping's impossible too
Everything's reminding me of you
What can I do?

It's not right, not okay
Say the words that you say
Maybe we're better off this way
I'm not fine, I'm in pain
It's harder everyday
Maybe we're better off this way
It's better that we break

Better That We Break – Maroon 5

Wednesday, April 04, 2012


Dormir na enfermaria até que não foi tão dificil. Foram duas noites bem tranquilas e as poções não foram tão ruins, afinal haviam sido feitas pelo meu pai e ele sempre procurava suavizar o gosto de lama das poções, eram a sua marca. Somente as meninas sabiam dos meus sonhos com o vampiro e durante os intervalos das aulas, diziam que eu precisava fazer alguma coisa, e eu dizia que iria dar um jeito. Justin estava todo preocupado e tentava saber o que estava acontecendo e toda vez que ele tentava me fazer falar, eu o distraia de alguma forma, na maioria das vezes, o beijava e ele sabia o que eu estava fazendo e optou por me dar um tempo e não ficar me estressando.
No final do terceiro dia quando cheguei na enfermaria para pegar minha poção para toma-la no dormitório, a enfermeira disse que eu deveria ir até a sala do tio Ben, pois o doutor Pace, psicólogo do curso de auror, queria me conhecer e seria ele quem me entregaria a poção para aquela noite e já estava me esperando. Como não tinha como escapar, fui até lá, e depois de bater na porta e ser autorizada a entrar, respirei fundo e segui adiante:
- Olá, sou Haley Warrick a enfermeira Bulstrode disse que o senhor queria falar comigo.- e ele sorriu me cumprimentando:
- Oi, Haley, sou o doutor Pace, que bom que atendeu ao meu convite, sente-se.- obedeci e entrelacei minhas mãos no colo, e depois de algum tempo comecei a mexer a perna impaciente.
-Fui obrigada já que minha poção para dormir está com você.- respondi sincera e ele não se abalou:
- Você é muito parecida com a sua mãe. Inclusive no jeito desconfiado e direto, já devem ter dito isso a você. - e eu respondi:
- Sim, já me disseram que somos muito parecidas.- disse sem me estender muito e ele continuou me olhando e eu o encarei de volta, e depois do que pareceram vários minutos eu disse:
- O senhor pode me liberar? Tenho que arrumar as malas para o feriado e gostaria muito de dormir cedo.
- Como você se sentiu quando percebeu que havia sido sequestrada por ser confundida com sua mãe? Sente-se roubada em não ser reconhecida por você mesma e por isso não consegue dormir?- ele disse calmo e eu o olhei:
- Não acho que falar mal da minha mãe vá fazer eu te achar legal e querer revelar meu lado obscuro.- eu disse sarcástica e ele retrucou:
- Seu lado obscuro já a fez pensar em suícidio depois que voltou para a escola?
- Merlim, não! De onde você tirou uma coisas destas? Eu só não consigo dormir por causa do...- e ele ergueu uma sombrancelha e eu bufei:
- Ok, vou fazer o seu jogo para você não dizer depois que eu sou dificil. Não consigo dormir porque fico tendo sonhos com o vampiro que me sequestrou, e ai fico nervosa e perco o sono.- ele continuou:
- Você tem namorado?
- Sim, tenho, ele é maravilhoso. Posso ir?
-Ainda não, que tipo de sonhos? - fiquei vermelha e ele me disse:
- Não precisa ter vergonha de me contar, já ouvi de tudo na minha vida e não vou te julgar caso você esteja tendo sonhos românticos com seu sequestrador. E tudo o que for dito aqui, fica aqui, Haley, eu só quero te ajudar.
- Porque? Eu não pedi ajuda.
- Quando alguém passa pelo que você passou, a ajuda precisa vir sem que eles verbalizem o pedido de socorro, afinal eles não querem continuar a serem vistos como vitimas.
- Não sou uma vitima. - Disse defensiva e ele respondeu:
- Soube que você levou uma punhalada para salvar a vida do seu sobrinho, é preciso coragem pra abrir mão da própria vida por alguém.
- É o que a gente faz por quem a gente ama, não é?
- Sim, é o que se faz. Mas porque você se sente constrangida em falar que se sente atraída pelo vampiro que te sequestrou? Ele tem nome não?
- Me recuso a dizer o nome dele.
- Não falar o nome de alguém não o faz desaparecer.Acha que está traindo o seu namorado?- ele pressionou e eu praticamente despejei tudo em cima dele, me levantando da cadeira e andando de um lado a outro enquanto ia falando:
- E não estou? Tive sonhos vividos com o..aquele cara, o beijei...tenho recebidos presentes e algumas vezes me sinto encantada, e acabo comparando-o com Justin, meu namorado que lutou ao lado de meus amigos para me salvar com aquele que me colocou em perigo e isso não é justo.Pois eu o amo do jeito que ele é, mas não parece ser o suficiente, depois de tudo....- ele abriu a boca para falar mas eu continuei o desabafo:
- E o tal vampiro? Ele fica invadindo os meus sonhos, e me fazendo viver uma história que eu até achei que era a minha mas não era, ele me confundiu com uma outra garota e só foi por isso que eu sai do transe ok? Eu queria ir até o fim! , e neste ultimo sonho acabei perdendo o controle dos meus poderes e quase coloquei fogo no quarto que divido com as minhas amigas, elas poderiam ter morrido porque não controlo a minha libido? Eu percebi que sou uma daquelas garotas que trai o namorado, não fui criada assim mas é isso o que eu sou: uma traidora!- e me joguei com tudo na poltrona e ele me olhava sério:
- Haley, se você fosse uma ‘traidora’, você não se sentiria tão culpada. O estresse pós traumático em pessoas que foram sequestradas, algumas vezes faz com que se desencadeie a síndrome de Estocolmo, ja ouviu falar?
- Sim, a pessoa pensa que se apaixonou pelo sequestrador, uma coisa revoltante.
- Este vampiro pelo que ouvi falar dele, é um rastreador, ele naturalmente fica obcecado por suas vitimas e com a sua fragilidade, ele explorou isso.
- Certo, então você tá me dizendo que um vampiro não pode se apaixonar por mim? O que vai dizer depois disso? Pra eu deitar na linha do trem?- disse zombando e ele respondeu:
- Você tem um humor autodepreciativo que é muito interessante.
- Isso também deve ser um traço de família.- provoquei e ele sorriu:
- Eu sei, e por isso não vou te considerar uma suicida em potencial e recomendar o quarto branco e a camisa cheia de laços.- e eu parei de rir e ele continuou:
- Vou indicar que você tenha aulas de Oclumência com o professor O’Shea aqui na escola e se puder continuar com estas aulas em casa, acredito que você conseguirá evitar as invasões deste vampiro e assim não terá medo de matar suas amigas e com o tempo se sentirá mais segura. – suspirei aliviada:
- Isso eu posso fazer doutor, reconheço que você é legal.- e ele continuou:
- E acredito que você deva conversar com seu namorado e contar tudo o que conversamos aqui.
- Não posso fazer isso, vai acabar com meu namoro, e isso que você quer não é legal. - eu disse assustada:
- Porque contar a verdade a alguém que te ama, vai acabar com o seu namoro?
- Porque nenhum cara vai aceitar na boa que a namorada sonha com outro, ainda mais o Justin que é ciumento e vai deixar de confiar em mim.
- Ele a ama, vai entender que você está agindo certo, não querendo que haja segredos entre vocês. Se ele é esperto como penso que seja, já deve ter percebido que você está escondendo alguma coisa, e está esperando ouvir o que quer que seja da sua boca. É hora de você enfrentar seus medos Haley, não dê mais poder ao seu captor, pense sobre isso. E se quiser conversar novamente, é só avisar à enfermeira que agendo um horário para você, me considero um bom ouvinte. – engoli em seco, e a contra gosto reconheci que o psicólogo tinha razão. Respirei fundo e me levantei:
- Posso ir agora?
- Sim, aqui está a sua poção, espero que ela te ajude.- assenti e comecei a me dirigir para a porta, segurei a maçaneta e de repente me virei para ele:
- Trevor. Este é o nome do vampiro. – ele assentiu e eu fui embora pensando em como contar ao Justin, o que estava acontecendo comigo.

Tuesday, April 03, 2012


Algumas anotações de Haley Warrick

Ela caminhava por um castelo antigo, e devagar chegou até a porta entalhada artisticamente.Era acompanhada por algumas damas, que davam risadinhas e diziam coisas tolas que ela não se preocupou em ouvir... Sabia que todos os seus sonhos haviam sido apenas uma preparação para hoje...O dia de seu casamento.
Casamento? Como assim casamento?- Algum ponto da consciência de Haley a alertou mas algo a fez deixar esta preocupação de lado e seguir em frente. Ele esperava por ela.Ela podia sentir a ansiedade dele nos sussurros em sua cabeça...
‘Venha para mim.... Venha para mim’.
A porta se abriu e ela entrou sozinha em quarto enorme.Deu alguns passos hesitantes, mas sua falta de coragem a envergonhou. Levantou o queixo orgulhosa e caminhou até o meio do quarto, onde havia um enorme espelho oval que estava em frente à uma enorme cama, arrumada com lençóis brancos e renda e com um dossel dourado e entalhado com pequenas rosas.
Parou em frente ao espelho e viu que estava usando um vestido branco antigo, num modelo muito parecido com os usados na época da nobreza, do tipo usado em casamentos. Ela se olha no espelho e percebe que aqueles intensos olhos verdes que a encaram de volta, parecem ser de outra pessoa, enquanto suas mãos alisam reverentes o luxuoso colar de brilhantes no pescoço. Levanta a mão graciosamente e retira o prendedor de prata dos cabelos e os deixa cair soltos por suas costas, e retorna o olhar para o espelho, esperando que ele pare de espia-la pelas sombras. Com um leve movimento dos ombros, uma das mangas do vestido desce e espõe seu ombro direito e esse é todo o encorajamento de que ele precisa. Sorri vitoriosa,e fecha os olhos, quando percebe que num piscar de olhos ele se aproxima e fica atrás dela.Ele é mais alto pelo menos uma cabeça, e suas mãos grossas acariciam seus braços que se arrepiam. Ele ergue seu cabelo, colocando-o cuidadosamente sobre o ombro coberto, e devagar beija seu ombro exposto. A boca dele vai subindo e logo ela sente seu hálito quente sobre seu pescoço.
- Não tenha medo, serei gentil.- ele diz rouco em seu sotaque da velha Inglaterra.
- Eu sei que será, meu senhor...- ela responde em sotaque igual, numa voz tão diferente da sua.- e algo dentro dela se revira, em alarme, enquanto ele continua a beija-la e sussurrar:
- Eu a amo tanto Aileen.Tudo será como antes...
- Quem é Aileen?- ela se vira para ele e o vê direito pela primeira vez, saindo daquele torpor estranho:
- Porque eu estou aqui? Como você me tirou do castelo?- e ela percebe suas mãos esquentando e ele se afasta com a ameaça. De repente as coisas começam a rodar de forma violenta e ela quase se afoga, quando sente o jato de água fria.


- Haley! Haley, acorda, você quase botou fogo no quarto. – disse Keiko me sacudindo enquanto Clara, segurava algumas bandagens com unguento e ia enrolando ao redor das minhas mãos que ardiam cheias de bolhas, Penny e Leslie guardavam as varinhas de onde haviam tirado uma enorme quantidade de água gelada.
- Não podiam ter deixado a água morna? Assim vou ficar doente.- resmunguei quando espirrei e Penny respondeu:
- Desculpe o mau jeito, estávamos evitando que você virasse o Tocha do Quarteto Fantástico e nos fritasse junto. Ainda se você tivesse o corpo magnifico do Chris Evans, valeria o risco.
- Haley, seus pesadelos pioraram muito estes últimos dias, não acha melhor buscar ajuda profissional, com um psicólogo?- disse Leslie e eu a encarei:
- Não sou maluca, foi só um pesadelo. E obrigada por me acordarem.- e Clara disse:
- Psicólogo não é coisa de maluco ok? Por sorte temos um olfato apurado e sentimos o cheiro de fumaça, e quando vimos que ele vinha da sua cama, agimos. O que fez você perder o controle do fogo que você tem controlado tão bem? Foi a discussão com o Justin no treinamento?- ela disse me encarando quando terminou de fazer o curativo.
- Não, não foi isso...- e vi que as meninas haviam aberto a porta de nosso quarto para dissipar o cheiro de fumaça:
- Vocês vão me zoar.- respondi e Keiko disse:
- O mínimo que merecemos como agradecimento por estarmos com cheiro de fumaça, é ouvir os detalhes picantes do seu pesadelo. Sim, sei que tem detalhes picantes, acho que ouvi alguns gemidos antes de sentir o cheiro de queimado. – revirei os olhos:
- Ok, entendi. Estes dias tenho tido alguns sonhos muito vívidos...Parecem reais...E tem um cara que...- disse e senti meu rosto ficar vermelho.
- Um cara que não é o Justin.- disse Penny e eu a encarei:
- Como você sabe que não é ele?
- Se fosse o Justin você não se sentiria constrangida em dividir detalhes, já tivemos noite das garotas antes. Então tem um cara que?- ela incentivou e vi quando Clara pegou uma barra de chocolate de nosso estoque de emergência e a dividiu conosco.
- No começo eu sonhava com o lugar onde Julian e eu ficamos presos, mas depois mudava para umas paisagens muito bonitas, eu nunca o via, mas sentia sua presença sabe?- elas assentiram e eu continuei:
- Era como se, me mostrando aqueles lugares lindos, eu pudesse esquecer o cativeiro. Depois comecei a ouvir a voz dele me chamando, uma voz conhecida que me dava medo e ao mesmo tempo curiosidade para continuar, era quase como se eu estivesse obcecada...Só que ao mesmo tempo não era eu, o corpo era o meu, mas a atitude, a forma de vestir...Eram da época da nobreza, a noite de um casamento,e eu sabia que já havia estado ali antes, era como... Como se eu estivesse vendo uma vida passada.
- Você conseguiu fazer uma regressão sozinha? Sem preparo e sem uma âncora? Isso é perigoso. Há relatos de familiares de pessoas que fizeram isso, sem o seu ponto de volta e entraram em coma profundo. Em Cambridge há estudos de psiquiatras muito respeitados...- disse Leslie preocupada e Keiko a cortou:
- Depois você dá bronca, agora vamos aos detalhes, pois tem uma noite de núpcias a ser explicada aqui: Vocês ficaram?Como era o beijo dele?Ele é bonito?
- Não! Não ficamos e ele não me beijou, porque quando pude sair daquela sensação de estar no corpo de outra pessoa, percebi que o cara era o vampiro que me sequestrou, e eu reagi, tentei queima-lo. Penso que por isso, quase botei fogo em nosso quarto.Eu...Eu poderia ter matado a todas nós e agora que sei quem ele era, estou com receio de voltar a dormir e não conseguir me controlar. - e comecei a chorar.Chorei um tempo e ninguém falou nada, quando sequei meus olhos, Clara disse:
- Haley, eu acho que hoje você deveria ir dormir na enfermaria.
- Clara!- disse Penny chocada e ela se explicou, enquanto se levantava e olhava ao redor da minha cama e remexia as cortinas:
- A enfermeira pode te dar uma poção que a faça dormir sem sonhar, e desta forma este vampiro tarado não pode entrar em seus sonhos. Acho que ele fez isso porque você estava vulnerável, há vários dias você tem dormido mal. O apanhador de sonhos que o Justin te deu, desapareceu.
Olhamos para o alto da minha cama onde o presente de Justin costumava ficar e só agora eu percebia que ele não estava mais lá.
Concordei, afinal eu precisava dormir, ou acabaria tendo um esgotamento nervoso e eu não podia continuar sendo uma vitima, ou depois de tudo novamente colocar em risco a vida de minhas amigas. Levantei e Clara iria comigo, até a enfermaria, afinal ela era monitora e não seria punida por estarmos andando pelo castelo, tarde da noite.
- Clara, acho que os presentes que ando recebendo todos estes dias, é dele...do vampiro.- eu me recusava a dizer o nome dele.Uma atitude infantil, eu sei, mas eu queria manter o máximo possível de distância.
- Tem certeza? São coisas muito românticas e pessoais e sabemos que o Índio é meloso, todo mundo zoa ele por isso.- ela disse e eu respondi:
- A discussão com o Justin, foi porque o agradeci por aquele desenho tão bonito.
- Aquele em que você estava cuidando do Testrálio?? Eu também achei que ele o tinha feito, é lindo.
- Sim, é lindo e não foi ele quem o fez. Ficou de bico, me dando aqueles olhares desconfiados, não aguentei e disse que se ele não confiava em mim, não poderíamos ficar juntos e ele me respondeu que eu podia fazer o que quisesse.- e eu e ela dissemos juntas:
- Idiota!
Mal viramos o corredor e vi Justin vindo rápido ao meu encontro. Ficamos nos encarando e ele disse:
- Eu confio em você, mas eu tava processando o meu ciúmes, por isso fiquei de cara feia.Você me desculpa?- não pensei duas vezes ao me atirar em seus braços, e não pude evitar que algumas lágrimas rolassem. Odiava isso.
Ele me ergueu no colo, e me carregou enquanto ia dizendo palavras no idioma de sua tribo, que me acalmaram. Ele só me soltou quando me deitou numa das camas da enfermaria, e a enfermeira veio me examinar toda agitada, pois havia acabado de atender a Arte, que repousava numa cama próxima e veio resmungando:
- Outra com problemas? Deste jeito isso aqui vai virar uma reunião social. O que houve?
- Enfermeira Bulstrode, Haley precisa de uma poção para dormir sem sonhar. Tem tido pesadelos com o sequestro há varios dias. Acho que é estresse pós traumático. - Clara explicou.
- Deveria ter me procurado antes, senhorita Warrick, como o fez o senhor McGregor, teria poupado sofrimento.- ela me deu a poção e lembro que antes de virar o vidro todo na boca, olhei nos olhos de Justin, e ele passou a mão em meu rosto, dizendo que tudo ficaria bem. Acreditei nele, quando senti que as bolhas em minhas mãos sumiram e eu apagava.

You'll complete me right?
Then my life can finally begin
I'll be worthy right?
Only when you realize the gem I am?
And I won't keep it up even though I would love to
Once I know who I'm not then I'll know who I am
But I know I won't keep on playing the victim
Cuz I want to decide between survival and bliss



Nota da autora: trechos de “Precious illusions’ Alanis Morissete