Tuesday, April 17, 2012 É a primeira noite de volta a Hogwarts depois da semana de recesso. A torre da Corvinal está mais uma vez sendo perturbada pela tempestade que cai do lado de fora, mas estou tão cansado que não me importo. Deito confortável em minha cama e durmo assim que fecho os olhos. E então acordo, pulando da cama com a varinha em punho. Uma sirene ensurdecedora ecoa por toda a torre. Abro a cortina e vejo meus companheiros de quarto também com suas varinhas em punho, assustados, se revezando em procurar a causa do barulho ou proteger seus ouvidos. Não sei que horas são, mas pelas caras amassadas, estamos no meio da madrugada. - O que é isso? – Julian pergunta apertando duas almofadas na cabeça. - Não tem nada lá fora, que barulho é esse? – Justin diz olhando pela janela. - Rupert? – Jamie me sacode – O que está acontecendo? Todos me olham como se eu de alguma forma tivesse a resposta para aquele barulho. Não tenha uma. Dou de ombros, tão confuso quanto eles, e só quando chego ao salão comunal e vejo Amber e os outros monitores evacuando os alunos é que me lembro. A simulação. A maldita simulação de evacuação que McGonagall implantou. Houve uma reunião sobre isso com os monitores de Hogwarts, mas nenhuma data prevista para o primeiro treinamento. Aparentemente, a surpresa do alarme era o que ia testar se estamos aptos a salvar vidas na eventualidade de um novo ataque. Me junto aos outros, ainda sonolento, mas já ciente do que devo fazer. Todos perguntam o que está acontecendo, mas respondo apenas a Julian e Justin, antes que saiam correndo para tentar resgatar alguém que não está em perigo. As instruções que foram passadas diziam para levar os alunos até o corredor do alojamento dos professores, no 4º andar, e tirá-los do castelo pela passagem secreta que ficava no armário de vassouras. Aquela era a única passagem ainda vigiada 24h por Filch, então nunca a usávamos. Os alunos são espremidos no túnel, mas todos chegam ao anexo do Três Vassouras que funciona como uma pousada. Ao todo, quase três horas são gastas na evacuação. Se um novo ataque ocorresse no dentro do castelo, ninguém estaria a salvo. McGonagall deixa isso claro na reunião com os monitores naquela mesma madrugada. Outras simulações virão e temos que melhorar o tempo. Evacuar os alunos em menos de meia hora é a meta. Milagre é a palavra de ordem. Já é mais de 5 da manhã quando ela nos libera e embora os outros monitores não pensem duas vezes antes de voltar pra cama, Kaley, Amber e eu estamos alertas e sem sono. Não tivemos oportunidade de conversar desde que chegamos ao castelo, então vamos até o lago ver o nascer do sol e colocar os assuntos em dia. Amber ainda não nos contou sobre a conversa com o irmão, três dias antes, então passamos a próxima hora ouvindo-a relatar que, apesar da duvida inicial, acreditou na história do irmão. Acreditou quando ele contou que com 17 anos, sem emprego e dinheiro nenhum juiz daria a guarda de uma criança de sete anos a ele, e que então aceitou a bolsa que havia conquistado na Caltech e se mudou para a Califórnia, com a meta de voltar para buscá-la quando pudesse sustentar os dois. Quatro anos depois, já um engenheiro formado, descobriu que ela havia sido adotada e nunca conseguiu uma autorização judicial para saber o nome da família. - Caltech? – comento impressionado – Ele deve ser um gênio. - Ele tem um QI de 187 e era da Corvinal quando estudou aqui. Sim, Russell é bem inteligente. - Isso explica muito... – Kaley comenta revirando os olhos quando rimos – E por que o gênio esperou tanto tempo pra entrar em contato? Há sete anos ele sabe que pode lhe enviar uma carta com o endereço de Hogwarts. - Disse que teve receio de que não me deixassem falar com ele. E só criou coragem de escrever agora porque estou me formando e, caso quisesse encontrá-lo, não precisaria da autorização de ninguém. - E...? – perguntamos juntos. - E ele encontrou pistas de que nossos pais talvez estejam vivos. - Ele sabe onde eles estão? - Ele acha que viu nosso pai na rua há alguns meses atrás, em San Diego, mas ainda não conseguiu localizá-lo. - Talvez ele tenha feito confusão – sugiro e Kaley concorda comigo. - É, talvez, mas Russ jura que era ele. Enfim, depois que me formar, vou passar uns dias na Califórnia, conhecer sua família melhor. Ele está casado há cinco anos e tem uma filha de quatro chamada Zoey. - Estou muito feliz por você, Amber – Kaley diz com um sorriso sincero no rosto. - Também estou feliz – ela diz sorrindo também e se vira pra mim – Não teria conseguido sem você. Obrigada por estar lá, do meu lado. - Sempre. °°°°°°°°°° Prestar atenção às aulas durante semana é muito difícil. As sirenes tocam a todo instante, interrompendo nossas aulas, horário de almoço ou jantar e causando grande exaustão nos alunos. No entanto, depois de uma bronca de McGonagall, conseguimos diminuir o tempo de evacuação para uma hora e meia. Melhoras ainda precisam ser feitas, mas já estamos mais confiantes que, se preciso, podemos tirar as pessoas do castelo em segurança. Quarta pela manhã recebo um correio coruja. Phil praticamente cospe minha carta no meu prato de cereais e toma posse do meu suco de laranja, mas ele fez uma longa viagem, então deixo que pegue o que quiser. É uma carta do meu padrinho, então automaticamente já sei o que tem dentro do envelope. Mais uma resposta sobre editoras, negativa ou positiva. Guardo o envelope, sem coragem de abrir. Mais uma resposta negativa para a publicação do livro e passo o dia de desanimado, então decido que é melhor deixar para depois. A aula de Herbologia da tarde é interrompida por mais uma rodada da sirene maluca e depois de completar a evacuação e voltar ao castelo, somos liberados pelo resto do dia. Vamos todos para o abrigo, cansados demais para liderar alguma aula da AD. No instante que piso nele, sinto que algo está diferente. Clara também percebe, mas ninguém mais parece notar. - O que foi? – Justin pergunta vendo que Clara está olhando ao redor – Está ouvindo alguma coisa? - Não, é mais sentindo – ela responde com uma expressão desconfiada – Cheiro diferente, não é de nenhum de nós. - Vocês trouxeram as meninas aqui uma noite, não? – JJ pergunta. - Não é de nenhuma delas – Clara afirma e Justin faz a mesma cara estranha dela, como se farejassem o lugar. - Posso sentir também, mais alguém esteve aqui – ele assenti, também captando o cheiro. - Quem você trouxe aqui, Jamal? – me viro para ele, acusador. Todos o encaram, ninguém duvidando que o cheiro seja de alguma garota com quem Jamal saiu. - Se vamos ficar fazendo o abrigo de motel, precisamos estabelecer algumas regras – MJ diz indignado – Eu sento nesses sofás, não quero ficar me preocupando com o que posso estar tendo contato! - Eu não trouxe ninguém aqui! – Jamal se defende com um tom de voz ofendido – Por mais suspeito que eu sempre pareça, esse abrigo é nosso, nunca vou trazer ninguém aqui sem a autorização de vocês. - Bom, alguém esteve aqui – digo andando pelo lugar – Tem coisa fora do lugar. - Como você sabe disso? – Haley pergunta descrente. - Eu só sei! – digo um pouco rude e ela me olha espantada – Desculpa. - Qual é o problema, Rup? – Julian pergunta preocupado. Todos estão me encarando. - Não é nada, é que tio Gabriel me mandou outra carta hoje – tiro a carta amassada do bolso, já aberta. - Más noticias? – Hiro a puxa da minha mão e lê – Sinto muito. - Você vai conseguir uma editora, Rup. Só precisa ter paciência – Arte tenta me animar. - Eu sei, mas é frustrante. Deu muito trabalho escrever aquilo tudo e ninguém quer publicar. - É uma história um tanto quanto maluca, se você for analisar pela perspectiva de um trouxa – Keiko diz e todos assentem – Mas temos certeza que alguém vai se interessar. - Sim, e quando isso acontecer, as editoras que rejeitaram o livro vão se arrepender – Tuor completa e dou um meio sorriso, grato pelo apoio de todos. O assunto do livro tira o foco do estranho que esteve no abrigo, mas não consigo parar de pensar nisso. Estamos no meio de uma guerra contra vampiros e fazendo simulações de evacuação até duas vezes por dia, não pode ser coincidência. Alguém esteve ali e as intenções podem ser mais do que ter um lugar para se esconder das aulas. Não consigo bolar um plano de imediato, mas sei que preciso fazer alguma coisa. Não posso deixar alguém usar nossos tuneis contra o nosso lado nessa guerra. |