Thursday, August 30, 2007

"Curtição" de férias!

Do diário de Monn Midge Speaker, ou o que sobrou de sua integridade!


Bem, resolvi por tudo que passou literalmente para trás… imagine uma grande pilha de lembranças… sabe aquela lááá embaixo, com orelhas no papel e manchas de café? Pois bem, é lá que deixei todo o final do ano letivo, no fundo do mar de lembranças e espero, sinceramente, que esse mar não se agite a ponto das lembranças serem jogadas a praia!

Então lá fui eu, coloquei minha capanga (bolsa trouxa de amarrar na cintura, cheia de compartimentos que é a última moda, o lance do momento) vermelha, combinando claramente com meu scarpin de bolinhas e fui em direção ao meu primeiro encontro às escuras… sim, com um enorme frio na barriga! As meninas disseram que isso era perigoso, que só gente maluca participava desses encontros e só os piores malucos se correspondiam pelo Profeta Diário (ainda bem que lembrei de assinar com codinomes, se alguém me reconhece lendo a coluna, ai meu Merlin, porque eu tenho esses acessos de loucura constantes?). Elas estavam com medo de que eu fosse seqüestrada ou coisa pior, mas consegui convence-las de ir, se claro, dissesse exatamente aonde iria, levasse minha varinha e um spray de pimenta que as trouxas usam para se proteger... meio inútil, claro, pois tenho varinha, mas nunca se sabe, né? Acabou que as meninas só me deixaram ir mesmo para esses encontros se fosse acompanhada de Burphy que rapidamente chamaria por socorro se algo acontecesse!

Enfim, cheguei ao parque conforme havíamos combinado e fiquei aguardando Edward que disse que estaria vestindo camiseta verde e me carregando uma surpresa... E qual não foi a MINHA surpresa ao ver um cara de blusa verde limão carregando um balão em forma de margarida pink com a seguinte frase: “Uma flor para minha flor!”

Juro, minha vontade de sair correndo foi MUITO grande, mas algo me dizia que, ao menos interessante o encontro seria, afinal havíamos nos falado muitas vezes por cartas e ate uma vez pela lareira, então segurei meus impulsos e sorri. Edward era meio nerd, usava óculos casco de tartaruga e tinha os cabelos despenteados. Usava aparelho corretivo nos dentes (coisa de seus pais que são trouxas, é claro!) e sua calça estava curta, mostrando então as meias igualmente verdes que usava.

Pensei em aparatar, isso é verdade, mas resolvi encarar o problema de frente, pois com certeza aquilo seria um problema... Ele me viu *droga* e veio ao meu encontro. Ele teve a coragem de falar alto o trocadilho que estava no balão e amarrou o mesmo no meu pulso.

ED: E ai chuchu, vamos fazer o que?
MS: er... aparatar?
ED: O que meu chuchu?
MS: Ah, desculpe, nada não, nada! Não sei... que tal darmos uma volta?

Eu simplesmente não poderia ficar parada com aquele carinha me encarando, era simplesmente medonho demais. Ele deu a idéia de visitarmos as barracas de jogos e perguntou qual bichinho eu iria querer de brinde e como demorei a assimilar o cenário, ele disse que seria surpresa.

Então lá estava eu, Monn Midge Speaker, com um balão pendurado no pulso, vestida que nem trouxa, acompanhada de um nerd que trajava verde limão e estava em sua 13ª tentativa de acertar as latas empilhadas. Sim, eu achei que estava no fundo do poço, que nada poderia ser pior... e eu estava redondamente enganada!

Me afastei da barraca pois já estava ficando roxa de vergonha com os ‘oh shit’ que ele emitia cada vez que errava as latas e quase QUASE fugi mas ele praticamente me impediu quando chegou me abraçando por trás e tampando meus olhos. Tive medo de abri-los... mas tive que ver o que ele tinha me aprontado como surpresa... ele carregava em uma das mãos um urso tão verde quanto sua blusa e do tamanho do meu fêmur... ou maior! E na outra, vários doces trouxas que sempre encontramos nesses parques... por alto vi um pacote grande de pipoca, 2 algodões doces, 1 maçã do amor e uns saquinhos de balas. Não que eu quisesse ferir seus sentimentos, mas recusei cada uma de todas as guloseimas, afinal não posso sair de minha dieta, mas para ele não ficar muito triste peguei o ursão no colo e aceitei uma raspadinha de frutas, mas não acho que foi a melhor escolha... antes me encher daquelas loucuras açucaradas do que a idéia de ficar sentada numa mesa com ele me encarando desesperadamente, observando cada gole que eu dava.

Eu estava tão sem graça que, para disfarçar, fiz uma das maiores burradas do dia: ofereci a ele minha bebida! E quando ele aceitou me deu um largo sorriso tão demorado que eu poderia ate contar quantos dentes ele tinha se minha atenção não tivesse se focado em algo muito estranho preso em seu canino... para uma chocrível coincidência esse algo era verde porem aparentemente morto! Ufa! Disse que não queria mais a raspadinha, que estava enjoada de morango, e ele foi buscar uma de uva para mim... mas a verdade é que eu não poderia de jeito maneira por aquele canudo na minha boca de novo... nunquinha!

Volta Ed com mais 2 raspadinhas, uma de uva e a outra de abacaxi... disse, novamente sorrindo muito, que era para o caso de eu enjoar de novo, pois ele não queria levantar o tempo todo, queria ficar todo o tempo juntinho de mim e ai sim eu tive enjôos!!

Bom, ele começou a falar de si próprio, de quando ele se formou em Hogwarts e de quando conseguiu seu emprego de analista laboratorial bruxo chefe na Estufas Mágicas e outras coisas de sua vida, inclusive o quão ele era popular na escola (ah, valeu, bicho-grilo!!) e o papo estava tããão chato que tive que me esforçar muuuito para ao menos fingir prestar atenção e essa foi outra das piores partes do dia... porque eu comecei a reparar como ele era, er... estranho... e comecei, sem querer, obviamente (porque ninguém em sã consciência gosta de prestar atenção nisso) a observar seu nariz, se é que assim o podemos chamar... nossa, o que eram aqueles pontos pretos? Sinais de nascença ou cravos de trasgos? Era realmente nojento e passei a observar com mais afinco e isso me levou ao PIOR erro do dia... ele provavelmente achou que eu o estava observando com carinho e atenção (não sei de onde ele tirou isso) e foi se aproximando, se aproximando... me puxou pelo pescoço e ... ECAT! Ele simplesmente ME BEIJOU!!! Como, me diga, COMO eu pude deixar isso acontecer? Oh Merlin, nem eu sei...

Só sei que depois disso corri para o toalete mais próximo com a desculpa do enjôo e aparatei direto para casa... a desculpa foi esfarrapada, mas o enjôo... isso sim era de verdade!

...

Recebi naquela tarde uma carta de Yull, perguntando se eu por acaso tinha me inscrito em alguma coluna de namoro do Profeta... AI MERLIN, como ela descobriu?
Bem, ela dizia na carta que a descrição enviada por uma participante parecia muito com a de uma adolescente britânica desesperada como eu, então ela estava me escrevendo só por desencardo de consciência... terminou a carta assim:

“Ah Monn, não seria você, SERIA? Por Merlin garota... está matando gatos a grito?”

Minha resposta?

“Não honey, eu estou matando FORMIGAS a soluços!
Mas não se preocupe, o primeiro encontro foi simplesmente DESASTROSO e não devem haver outros!”


Tuesday, August 28, 2007

Férias!

Diário de férias – por Monn Midge Speaker


Enfim férias... Foi o que eu disse assim que contei as ‘novidades’ para Tha e Sam... pq eu estava com um peso nas costas tão grande quando desembarquei do trem que não conseguia, simplesmente, me sentir bem... E agora sim, está tudo melhor... Sabe, no fim das contas, até que não agi, assim, tãããão mal... Tudo bem, tudo bem... Eu er... Trai meu namorado da pior forma possível e sim, fiquei trebada, sai com meu ex-ex namorado e depois sai correndo, mas fazer o que... Errar é ser bruxo, persistir no erro é ser trouxa! Então resolvi abstrair todas essas informações, afinal, sem o Drake na escola em setembro, não vou precisar me preocupar com o que fiz ou deixei de fazer, e decidi não ir mais passar as férias nem na casa de Sam, muito menos na casa de Agatha, para assim, não ter que me deparar com seus respectivos irmãos...

Sabe como é, estava meio a toa, não tinha muito que fazer, as meninas só viriam me visitar no fim do mês e uma coisa leva outra e acabei me inscrevendo no ‘correio-amizade’ do profeta diário. Este ‘correio-amizade’ não nada menos, ou melhor, não ERA para ser nada menos que o ato de você se corresponder com outras pessoas que ainda não conhece, fazendo novas amizades... É, ERA para ser assim...

Para se inscrever você tem que mandar um perfil que são mais os seus dados principais e uma foto. Bom, essa parte foi difícil... Tirei mais de 30 fotos e acabei resolvendo enviar uma que tirei no final do ano letivo, ainda em Hogwarts... E o perfil, ó Merlin, demorei uns 2 dias e ½ escrevendo, jogando pergaminhos fora, e escrevendo de novo... No final ficou assim:


Nome: Monn
Adjetivo: Confusa!
Cor: er... ROSA!
Defeito: Complicada e perfeitinha!
Loucura: muitas... mas muuuuitas mesmo!
Medo: ficar sozinha!
Hobby: Namorar, dançar, cantar, compor...
Sonho: Um grande amor e uma cabana, de luxo, mas cabana!
Substantivo: Drama!
Vontade: muitas...

Achei que tudo me descrevia muito bem e mandei Burphy entregar a carta no endereço que estava no profeta. Até ai, tudo bem, o estranho me aconteceu 2 dias depois... Nem lembrava mais que havia encaminhado o cadastro, acordei e fui tomar café da manhã e ouvi um barulho estranho na janela da cozinha... Uma coruja muito bem adestrada, diga-se de passagem, entrava e saia da cozinha largando em uma pilha de cartas, uma a uma. Depois do que eu já tinha contado mais de 20 entradas e saídas, ou seja, mais 20 cartas, a coruja piscou para mim e saiu voando em direção ao sul... Fiquei por um momento lá, parada, com cara de besta, observando os envelopes sob a mesa da cozinha... Grandes, médios e pequenos. Azuis, vermelhos, pardos e brancos... Haviam até alguns berradores no meio, então resolvi logo ver do que se tratavam para que não ‘explodissem’ todos ao mesmo tempo. E qual não foi minha surpresa? Todas as cartas, TODAS, inclusive um pequeno cartão anexado a uma grande caixa de bombons, TODOS estavam endereçados a mim!

Peguei os berradores e enquanto ouvia o 1°, acariciava os demais para que eles não se rebelassem. A 1ª mensagem dizia lago mais ou menos assim:

“Seus olhos são verdes, seus cabelos loiros
Deixe-me te conhecer melhor e serei seu noivo”


MS: ECA, que brega!

Parti para o 2°, mas não era muito melhor não:

“Monn coisa mais linda
Mais linda de olhar
Quero te encontrar e
Contigo para sempre ficar”


MS: Er... Ok desisto!

Nada melhor poderia aparecer naquela pilha, eram versinhos e mais versinhos, cantadas, alguns recadinhos um tanto que indiscretos, algumas letras de música, 3 caixas de bombons e uns 7 buquês de flores magicamente diminuídos para caberem nos envelopes!

As cartas eram tão, mas TÃO ruins que, quando lia uma nem tão ruim assim, já achava a coisa mais poética do mundo! 95% das pessoas que me escreveram queriam me encontrar, me conhecer, me namorar e, acreditem, recebi um anel de noivado dentro de um dos envelopes. Obviamente fiquei com a jóia, mas achei que seria melhor não me encontrar com esse tipo de pessoas, me pareceram meio, er... Doidos! E de gente doida já estou cheia a minha volta!

Respondi a uns 10 carinhas na hora, respondendo as perguntas dele sobre mim e querendo saber mais sobre eles. Tive a brilhante idéia de pedir fotos dos caras e, ao fim, implorei a Burphy que fosse fazer as entregas. Tive que prometer a gata uns biscoitinhos na volta, pois eram tantas entregas que ela se cansou só de me observar amarrar os envelopes nela, o que foi extremamente difícil, afinal, uma coisa é você amarrar um rolo de pergaminho na pata de sua gata-coruja e outra coisa COMPLETAMENTE diferente é você tentar amarrar mais de 10 envelopes perfumados na mesma. Mas no fim, tudo certo, amarrei metade de cada lado para a bicha não ir cambaleando e a soltei na janela...

Quando a gata chegou eu mal pude acreditar... Ela estava com uma cara de ‘não muito amigos’, na verdade, estava mais com cara de ‘não tenho nenhum amigo, não me importo com isso e quero que você morra!’. Ela já entrou pela janela da cozinha cheia de atitude, se sacudindo toda para os embrulhos e mais embrulhos que estavam nela caírem e saiu correndo sem nem querer saber de seus biscoitos. Acho que ela fugiu com medo de que eu fosse responder as cartas ainda hoje...

Se antes tinha achado tudo aquilo um exagero, depois eu nem sabia o que falar... Antes a simplicidade de algumas caixas de bombons do que os pacotes recebidos agora. Ok, claro que amo receber presentes, mas estava tudo muito exagerado, extremamente... Recebi 2 caixas de echarpes Biba (ok ele se superou com a compra... echarpes Biba? Uau!), de um carinha de Stoke Newington e uma blusa do Pink Floyd, banda trouxa de rock, de um cara que mora Camden Town. Tá que eu não gosto muito desse estilo pesado de rock trouxa, mas ao menos ele se importou com meu gosto, já que disse que amava moda trouxa (não que possamos considerar ISSO como moda trouxa!)... Sem contar nas inúmeras caixas de bombons diet, já que expliquei que amava chocolate, mesmo o tendo como pior inimigo!! Enfim, respondi a meia dúzia de perguntas e sou bombardeada com presentes? Imagina se resolver marcar encontro com algum deles... Se bem que, porque não marcar? Estou solteira, desimpedida, mofando nas férias e querendo esquecer os últimos acontecimentos... é, é isso, vou responder as cartas... Talvez marcar algum encontro... Vou ver se dou uma filtrada nos caras e... Vamos ver no que dá!

Thursday, August 23, 2007


Das memórias de Alex McGregor

Início das férias de 1978, num dia quente de julho.

Este ano minhas férias, estavam diferentes. Minhas primas Hannah, Elizabeth e Alice, não tinham vindo para minha casa este ano, porque estavam conhecendo as famílias de seus namorados e meus amigos estavam viajando com suas famílias. Dylan e Patrícia estavam em casa, pois o adiantado estado de gravidez a impedia de viajar e ela precisava de repouso, estava inchada, mal humorada, uma verdadeira megera, enfim ela estava como sempre foi :P; Ian havia terminado seu namoro com uma garota de Dursmtrang, e decidiu “curtir a vida”, saindo todas as noites e voltando quando o sol já ia alto, e daí dormia praticamente o dia todo. E Kyle... Estava em casa também. Conversávamos pouco e os assuntos eram sobre outras pessoas, nada profundo ou que pudesse gerar algum comentário ferino de Virna, pois a mãe dele ficava nos olhando feio, e eu não queria passar as minhas férias em casa chateada. Pois logo poderia viajar e rever meus amigos. Era só ter forças e agüentar um pouco. Kyle deveria estar vivendo o mesmo problema, pois sempre conversava com Sergei pela lareira e cobrava a visita do amigo, ou entrava em contato com os Chronos, aguardando aquelas missões perigosas com ansiedade. Após alguns dias nessa rotina, nossos nervos estavam á flor da pele. E tudo era motivo para piadinhas e provocações de ambas as partes.
Meus avós convidaram o Logan para ficar em nossa casa por alguns dias e eu estava elétrica, cuidando de tudo. Kyle apenas observava minha agitação e não falava nada. Eu estava em casa esperando, que Logan chegasse para irmos ao cinema, tomar sorvete e fazer um programa típico de namorados e havia posto uma roupa nova que comprei com minha avó e desci as escadas, indo em direção à sala. Kyle saiu da biblioteca e após me olhar da cabeça aos pés disse:
- Você não vai sair com esta roupa. – esbravejou Kyle.
- Como não? É a roupa que escolhi usar.
- Mas não vai mesmo. Olha o comprimento desta saia, mais um pouco e posso dizer que você usa apenas uma camisa. Vá trocar de roupa agora! - mandou autoritário.
- Mas não vou mesmo, você não manda em mim. - o encarei irritada.
- Daqui você não sai vestida assim.
- Ah eu saio, e quero ver quem vai ser homem pra me impedir. - Ele se moveu tão rápido e quando percebi eu estava sobre seus ombros sendo carregada escada acima.
- Me solta seu brutamontes. - e para enfatizar minhas palavras, socava suas costa com os punhos fechados. - e ele nem se abalava. Debati-me com força e ele segurou minhas pernas apertadas.
- Seu idiota, troglodita, porco.
- Você engordou não é? por isso tá economizando no tecido para suas roupas? – disse zombeteiro e comecei a gritar mais furiosa ainda.
- É um grosseirão mesmo, estúpido...
- O que está havendo aqui? – meu avô perguntou enquanto subia as escadas atrás de nós irritado.
- Foi ele / ela. – dissemos os dois ao mesmo tempo.
- Alexandra, o que houve?
- Ele pensa que manda em mim, podendo dizer o que posso ou não vestir. Como não obedeci, este bruto resolveu usar a força. - meu avô olhou com os olhos apertados para ele e Kyle disse:
- Olha o tamanho da saia que ela está usando vovô. Mandei-a trocar de roupa. Aí ela disse que queria ver se aqui tinha homem que a impedisse de sair deste jeito, resolvi mostrar que tinha. – disse irritadinho.
- Kyle, sempre os eduquei para nunca usarem a força contra uma mulher, não acho que você vá começar a fazer isso agora, especialmente com a Alex, não é? – e senti um prazer enorme quando Kyle baixou os olhos envergonhado e disse manso:
- Não senhor. – se havia alguém que Kyle respeitava ate debaixo d'água era vovô.- antes que eu comemorasse meu avô virou para mim e disse:
- Vá trocar esta roupa. Neta minha não fica andando por aí, com uma saia destas.
- Mas vovô, está na moda. Vovó já viu minha saia e não reclamou. - choraminguei.
- Pois fez muito mal, espero não ter que repetir minha ordem. Se quiser sair de casa hoje, use outra roupa. Kyle tinha um olhar de triunfo nos olhos, quando me viu engolir seco e não responder.
- Sim senhor. - antes de subir para ir ao meu quarto trocar de roupa, olhei fundo nos olhos do Kyle e disse:
- Eu odeio você!- e vi a expressão dele mudar. Entrei no quarto arrancando minhas roupas, não usaria nada que Kyle houvesse tocado.
Quando desci, meu avô estava na biblioteca, fui até lá ver se ele aprovava o meu traje. Entrei de queixo erguido:
- Posso sair assim ou não estou decente?- mas minha atitude de desafio mudou quando vi a expressão de dor no rosto de meu avô sentado no sofá, ele tinha os olhos fechados segurando o braço esquerdo. Aproximei-me rápido:
- O que o senhor tem? – como ele não respondesse, gritei por ajuda e logo minha avó corria aflita da cozinha e Kyle apareceu também. Por sorte Dylan estava em casa e ele o examinou. Dylan deu a ele uma poção e sem dizer mais nada desaparatou levando vovô. Olhei para Virna e ela explicou:
- Seu avô foi para o hospital. Enfarte.
Kyle soltou uma praga e foi atrás, sem me esperar, subi e tentei acordar ao Ian. Como ele dormisse pesadamente, joguei um copo de água na sua cara:
- Ouch! Quer me matar afogado?
- Levanta, vamos para o hospital, vovô teve um enfarte. Preciso de você porque ainda não posso aparatar e o Logan não chegou. Ian o que vou fazer se ele morrer?- e cai em prantos e ele me abraçou confortando
-Calma, vovô não vai morrer, ele é forte. – enquanto ia colocando as roupas apressadamente. Descemos e ele aparatou para o hospital me levando junto. Quando chegamos, tivemos que ficar esperando enquanto Dylan cuidava do vovô. Kyle estava parado ao lado da porta de emergência e eu me sentei ao lado de Ian. Às vezes eu e Kyle nos encarávamos e logo desviávamos os olhos. Pois o que víamos nos olhos um do outro eram acusações sobre quem tinha feito meu avô passar mal.
A porta da enfermaria se abriu e Logan entrou apressado, eu praticamente pulei da cadeira e me joguei em seus braços chorando. Ele dava tapinhas em minhas costas e dizia palavras de conforto. Depois do que me pareceram horas, Dylan saiu para dar notícias:
- Ele teve um enfarto leve. Vai ficar de repouso aqui hoje e amanhã poderá ir para casa. Vovó está lá dentro com ele e vai ficar. Eu adiantei meu plantão e vou ficar aqui para acompanhá-lo. Agora, seria melhor vocês voltarem para casa. – antes que eu protestasse Logan se adiantou para falar com Dylan.
- Como está o estoque de poções revitalizantes musculares? É o que ele está tomando não? Se precisar posso fazer mais, sou certificado para isso.
Dylan olhou-o surpreso.
-Sim, além de anticoagulantes. Você é?
- Este é o Logan Warrick meu namorado. Logan, este é meu irmão mais velho, Dylan, Ian você conhece e Kyle também. – fiz as apresentações.
- Os nossos estoques estão bem, e temos um ótimo preparador de poções que está de plantão hoje. Obrigado pelo oferecimento.
No dia seguinte vovô voltou para casa e o cobrimos de cuidados. Logan, e ele acabaram ficando amigos e viviam jogando xadrez de bruxo ou uma partidinha de poker ou canastra, e eu ficava sempre por perto, vendo se ele estava confortável, se não sentia fome ou sede. Kyle ás vezes se juntava a eles, a pedido de meu avô, e esta era uma das ocasiões.
- Se e soubesse que assim manteria você em casa mais tempo, teria enfartado antes Alexandra. - brincou vovô e olhei com cara feia e ele continuou brincalhão: - Acho que isso é só para impressionar o seu namorado. – e Logan respondeu:
- Só de estar comigo ela já me impressiona senhor McGregor. - e Kyle revirou os olhos, quando toquei no ombro de Logan sorrindo.
- Talvez numa hora destas, eu tenha uma overdose de açúcar. Já me sinto nas alturas, em ouvir os pombinhos. – disse Kyle e um clac foi ouvido e sua cadeira caiu para trás. Quando ele levantou, vovô começou a rir, junto com Logan e ele foi até um espelho em cima da lareira e se olhou: ele estava com a cara cheia de listras brancas e vermelhas, iguais às bengalinhas tão comuns no natal. Ele olhou para mim e eu disse com uma cara marota:
- Ops, vejo que o açúcar pode tornar as pessoas mais belas. – como ele não quisesse irritar meu avô ou talvez pelo fato de Logan, estar no mesmo ambiente que nós, acabamos rindo, mas pelo que conheço do Kyle, assim que ele puder, ele vai aprontar alguma para mim.

Monday, August 20, 2007


'Um dia a maioria de nós irá se separar. Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora, as descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos que compartilhamos... Saudades até dos momentos de lágrima, da angústia, das vésperas de finais de semana, de finais de ano, enfim, do companheirismo vivido'

- Cara… Tem um flamingo no canto da sua sala!
- Não é um flamingo, seu idiota – falei rindo – É só um abajur comprido!
- Acho que o Stanley devia parar de fumar, não está fazendo bem a ele – Karina falou arrancando risos da gente
- Que engraçada que você é – Stanley provocou – Porque não pega isso que você está queimando e enfia-
- OI! – Peter atirou uma almofada nele ao mesmo tempo em que atirei um pé do meu sapato – Olha a educação, você não está naquele pardieiro que chama de casa
- Não fala da minha casa, seu otário – ele rebateu, devolvendo meu sapato atirando-o com força para cima de mim – Ao menos minha mãe sempre sabe por onde meu pai anda. Já a sua não pode se dar ao luxo de dizer o mesmo... – Peter fez um gesto obsceno para ele e Stan riu debochado
- Quanta delicadeza desses meninos... – olhei para Karina e ela revirou os olhos
- MAS QUE BAGUNÇA É ESSA??

Wayne apareceu na sala com um aspirador de pó na mão, parecendo muito irritado. Ele usava terno e gravata e seu cabelo estava anormalmente penteado. Olhava da gente e para os cinzeiros em cima da mesa de centro e parecia a ponto de entrar em colapso. Stanley me olhou assustado. Ele sempre teve medo do meu irmão.

- FORA! – Wayne berrou com o aspirador na mão – FORA DA MINHA CASA, TODOS!

Em menos de cinco segundos só havia restado eu e Wayne na sala, e o rastro que Peter, Stanley e Karina haviam deixado para trás. Olhei enfurecido para ele por ter expulsado meus amigos e puxei a bacia de pipoca para o meu colo, botando os pés em cima da mesa, como se o desafiasse a me provocar.

- O que está fazendo sentado ai ainda? Ajude-me a limpar essa bagunça, ele já vai chegar! Sabe que mamãe proibiu magia dentro de casa, tenho que arrumar a sala à maneira trouxa!
- Claro que eu ajudo... – peguei o copo de suco da mesa – Depois que acabar de comer

Sorri debochado para Wayne e enchi a mão de pipoca, enfiando tudo na boca. Ele caminhou até o sofá e antes que eu pudesse reagir, sugou todo o conteúdo da bacia e do copo com o aspirador, fazendo tudo evaporar.

- Pronto, acabou. Pode me ajudar agora? – fiquei olhando a bacia e o copo vazio e Wayne me deu um tapa – Levante logo dai!
- Posso saber o motivo do chilique? – disse alisando a cabeça – Está parecendo uma dona de casa!
- O diretor da Academia de Aurores está vindo para me entrevistar, imbecil – Wayne ajeitou as almofadas do sofá. Tive uma súbita visão da vovó fazendo isso na casa dela – Eles não podem entrar aqui e sentir esse cheiro que vocês deixaram!
- Ao menos saberia quem você é de verdade, e não esse Wayne psicótico – disse rindo – Estava tudo no nosso quarto mesmo...
- Estava mexendo nas minhas coisas? – ele apertou minha orelha e o empurrei
- O quarto também é meu, posso mexer onde quiser
- A gaveta onde guardo as MINHAS roupas não é nossa, é só minha – ele aspirou tudo que estava em cima da mesa e me encarou furioso – Torne a abri-la e acabo com você
- Tanto faz... – disse sentando no sofá outra vez – Por que ele vem até aqui, afinal? Não sabia que faziam entrevista em casa
- Eu me inscrevi para estudar em Londres, eles querem saber por que não dei preferência à da Suécia. E você há de convir que meu histórico não é nada que se espera de um candidato a auror – ele pegou uma almofada no sofá e começou a me espancar com ela – E sai desse sofá, está amassando as almofadas! Faz um favor pra humanidade e desaparece por algumas horas também, que tal?
- E se eu quiser assistir sua entrevista? – provoquei
- SOME DAQUI!

Wayne atirou uma almofada para cima de mim e sai da sala rindo. Desde que ele recebera os resultados dos N.I.E.M.s com notas surpreendentemente boas, estava diferente. Não na maneira idiota de agir comigo, mas levava mais a sério o fato de que agora ele seria um aluno da Academia de Aurores e não era mais um moleque, que precisava crescer. Era engraçado ver isso. A campainha tocou e ouvi uma voz diferente sendo recepcionada pelo meu irmão. O diretor havia chegado. Queria ficar escondido na sala para ver a entrevista, mas sabia que se Wayne me visse na sala, teria que passar o resto das férias dormindo no quarto que foi de Karen. Então não vi alternativa senão ir para o jardim.

Não tinha ninguém em casa além de Wayne, eu e os empregados. Mamãe e Megan haviam saído para fazer compras de presentes para meu pai, pois hoje era aniversário dele, Karen não morava mais conosco e estava em sua casa e papai estava no Ministério. Odiava a casa tão vazia, sentia falta de Karen por perto para conversar. Fiquei deitado com as costas na grama durante todo o tempo em que meu irmão ficou preso na entrevista, olhando para o nada. Devia estar cochilando quando ele jogou uma flor dentro da minha boca e levantei engasgado.

- Como foi a entrevista? – perguntei cuspindo a margarida na grama
- Boa – disse sentando ao meu lado – Consegui a vaga
- Wayne, isso é ótimo! – falei animado – Porque está com essa cara de bunda?
- Não é cara de bunda, esse é um momento solene... – ele se esticou e me olhou com uma cara pomposa – É o momento onde percebo que estou, enfim, livre de você. Não vou mais ouvir roncos seus à noite...
- É... – fiz a mesma cara idiota que ele – É um momento histórico pra mim também. Saber que vou acordar todos os dias nas férias e não dar de cara com você babando na cama ao lado...
- Pede perdão!

Havia esquecido por completo dessa brincadeira idiota que costumávamos fazer um com o outro quando nos ofendíamos e não deu tempo de me defender. Wayne já estava em cima de mim e apertava minha cara com a mão, deixando apenas minha boca livre para respirar. Dava socos no braço dele tentando me soltar, mas em vão. Wayne era muito mais forte. Ele me prendia sem dar brecha para me soltar e me batia nele com mais raiva, quando vimos uma sombra nos cobrir.

- Ah pelo amor de Deus, parem com isso, os dois! – mamãe estava de volta e nos olhava impaciente – Wayne, seu pai está lhe chamando na sala!

Wayne me soltou e entrou apressado. Levantei depressa do chão para segui-lo. Se papai estava lhe chamando, certamente seria para dar uma bronca. E depois de apanhar dele, não seria nada ruim assistir a mais esse espetáculo. Mas quando entrei na sala e vi a cara que papai sabia, entendi que a bronca dessa vez viria para a pessoa errada. E não me enganei.

- Wayne, pode me explicar que cheiro é esse? – papai falou controlando o tom de voz
- Ah papai, o senhor sabe... – meu irmão respondeu despreocupado. Ele ia me dedurar e rir
- Sim, eu sei! – ele agora não se controlava mais – O que quero saber é porque minha sala está assim!
- Pai, eu- - ia assumir a culpa antes de ser delatado, mas Wayne me interrompeu
- Desculpa pai, não vai se repetir – falou abaixando a cabeça
- É bom que não. E por que vocês estão sujos de terra? Vão se lavar, não vão sentar à mesa nesse estado

Wayne assentiu com a cabeça e subiu as escadas mudo. Corri atrás dele e quando já estávamos no quarto o segurei.

- Por que assumiu a culpa? Não foi você
- Digamos que livrei sua cara pela última vez – disse segurando meu ombro e fazendo a mesma cara solene e idiota de antes – A partir de Setembro não vou mais estar por perto para cuidar de você. Mas mesmo quando eu não estiver por perto, estarei por perto. Quero dizer, se divirta, se meta em encrenca, seja feliz, e quando pensar em mim, não quero que me veja como um lúgubre.

Wayne me soltou e entrou no banheiro, fechando a porta. Fiquei parado olhando pra porta sem entender bem o que ele quis dizer, mas não ri. Naquela tarde pensei em tudo o que eu e ele tínhamos passado juntos. Pensei em como brincávamos em Harper Woods, como ele sempre me deixava lá sozinho no escuro, todas as brigas e encobertas, e em todas as noites que dividimos o mesmo quarto. Ia sentir muitas saudades disso, e acho que não seria o único.

Depois de me limpar e me arrumar para o jantar, fui até o escritório do papai e contei a verdade. Fiquei de castigo pelo resto das férias, mas não me arrependi. Wayne finalmente contou a ele que havia sido aceito na Academia de Aurores e papai admitiu que não poderia ter recebido um presente de aniversário melhor que aquele. Karen também apareceu para o jantar e trouxe um álbum de fotos que havia se misturado por engano nas coisas dela quando se mudou. Passamos o resto da noite revendo fotografias antigas e rindo, relembrando as histórias que cada uma delas carregava. Olhei para meus irmãos sentados no chão passando as fotos de mão em mão, e depois meus pais dividindo uma poltrona, contando as histórias que não lembrávamos mais por serem de quando éramos muito pequenos. Aquela noite foi a última vez que vi minha família completa, reunida dentro da casa onde cresci.

Friday, August 17, 2007


Dormia enrolada confortável no cobertor, sonhando com os planos de formatura que Scott e eu já começávamos a elaborar, quando um barulho ensurdecedor me fez saltar da cama. Procurei meus óculos no criado-mudo e vi George ainda fora de foco sentado na cama, com a mesma cara assustada. Levantamos ao mesmo tempo e corremos para a janela, para encontrar vovô John no quintal com uma máscara preta no rosto e um maçarico na mão. Ele tirou a máscara e sorriu para nós dois quando nos viu na janela.

- Desçam, quero lhes mostrar uma coisa! – disse animado e olhei confusa para George
- O que ele está aprontando?
- Não faço idéia, mas agora estou curioso – George calçou os chinelos e correu até a porta – Não vem?

Calcei os chinelos também e desci atrás de meu irmão. Desde que havíamos voltado de Canterbury, estávamos na casa do nosso avô bruxo. E por mais que não conversássemos sobre isso, todos sentiam que a casa estava diferente sem a vovó. Era como se tudo estivesse mais vazio, mais triste, e vovô se esforçava ao máximo para não deixar que nos contaminássemos com a melancolia que estava presente em cada cômodo. Chegamos ao quintal ainda de pijamas e ele polia algo de metal de aparência esquisita.

- Bom dia vovô – disse sonolenta – O que é isso?
- Uma fênix, ora! – falou como se fosse a coisa mais obvia do mundo
- Er... Não se parece uma fênix – George me olhou sem entender também – E pra que precisa de uma de ferro?
- Isso se chama arte abstrata, nunca ouviu falar? – vovô parecia chocado e reprimi a vontade de rir – Joanna me emprestou alguns livros enquanto vocês estavam na aula, me ajudou com algumas coisas da loja, sabem
- Está muito bonito, vovô – belisquei George discretamente quando ele me olhou de sobrancelha erguida – Se parece sim com uma fênix, é que George só lê livros sobre quadribol
- Mas vovô, pra que está usando esse fogo todo? – George me olhou feio e se virou para ele – Por que não usa magia e termina logo isso?
- Está brincando? – outra vez ele nos olhou perplexo – E onde está a graça? Essas ferramentas que Henry me emprestou são fantásticas! Construí praticamente tudo para a loja sem usar magia! Não é demais?

Sorri para o vovô e ele sorriu de volta, abaixando a máscara outra vez e continuando a soldar sua fênix de ferro. George entrou para ver televisão e fiquei sentada no banco do jardim observando ele trabalhar. Vovô havia comprado uma loja no Beco Diagonal há alguns meses e depois que vovó morreu, meus avôs trouxas estavam se dedicando em ajudá-lo com o que fosse preciso. Vovó Joana era a mais animada e vinha visitá-lo constantemente. A tal fênix parecia ser a ornamentação que faltava para que a loja de artigos contra arte das trevas estivesse completa.

Depois de servir o almoço, uma deliciosa comida congelada, vovô decidiu nos levar ao Beco Diagonal para comprarmos nossos materiais e visitar a loja. Despachei uma coruja avisando Remo que estaria lá na parte da tarde e usamos a lareira para irmos até o Caldeirão Furado. Minha lista de livros era extensa agora que iria cursar meu último ano em Hogwarts. Mais de uma hora depois, quando consegui eliminar todos os itens dela e voltar para a loja do vovô, Remo já me esperava lá. Ele sorriu ao me ver entrar e apertou a mão do meu avô.

- Podemos começar amanhã mesmo, Remo! – vovô estava radiante
- Sim, estou animado, Sr. Graham – Remo respondeu no mesmo tom – Tenho certeza que vou gostar de trabalhar aqui com o senhor
- Como é que é? – falei surpresa, largando as bolsas atrás do balcão e abraçando Remo – Você vai trabalhar aqui? Como pareço ser a última a ficar sabendo disso??
- Calma meu amor, você não foi à última – falou me dando um beijo – Cheguei há algum tempo já e como não sabia onde você estava, resolvi ficar esperando. E conversando com seu avô, ele me ofereceu uma vaga aqui. E aceitei.
- Mas isso é ótimo! – olhei para vovô e ele piscou pra mim – Estou muito feliz, de verdade!
- Já terminou suas compras? Vim buscá-la para que conheça o apartamento – ele olhou para vovô – Não tem problema de Louise ir comigo?
- Não, claro que não! – vovô falou sorrindo – Deixei as compras ai mesmo, querida. Quando for para casa posso levar. Traga minha neta de volta antes das 23h, rapaz.
- Sim senhor.

Despedi-me do vovô e saímos da loja, desaparantando em seguida. Já havia feito o teste e passado, mas como não sabia onde ficava o lugar, Remo aparatou comigo. Senti aquela sensação de desconforto e quando ela passou, estava em uma sala semi-mobiliada. O barulho que vinha da janela não deixava dúvidas: o apartamento ficava na Carnaby Street.

- Então? – Remo falou depois de me deixar analisar o cômodo – O que achou?
- Faltam alguns móveis, mas presumindo que vocês começaram a fazer a mudança essa semana, está excelente!
- Vem, vou mostrar o resto – ele me puxou pela mão através de um corredor – Não é muito grande, mas somos apenas dois

O corredor tinha quatro portas. Uma levava à cozinha, uma ao banheiro e as outras duas para os dois quartos. O quarto que seria o dele já estava quase todo arrumado, apenas com algumas caixas ainda lacradas. A janela tinha vista para um café bastante freqüentado por pessoas da nossa idade. A rua inteira, na verdade, era tomada de jovens. Carnaby Street era como o point da moda em Londres.

- Vocês não poderiam ter escolhido um bairro melhor, e uma rua mais perfeita que essa! – disse animada, saindo da janela e voltando a olhar para o quarto
- Que bom que gostou Louise! – Sirius saiu do quarto dele atraído pelo barulho – Aluado foi bem chato quanto à localização, acho que estamos bem perto da sua casa
- Sim, apenas há duas estações de distância – Remo respondeu
- Vou até Holborn terminar de trazer minhas coisas. Tiago falou que ia me ajudar e até agora não apareceu, então desisti de esperar – Sirius terminou de calçar os sapatos e saiu do quarto – Se ele aparecer, mande catar pulga de pelúcios. E pode mostrar meu quarto a ela, mas não se assuste com a bagunça – ele sorriu e desaparatou

Remo indicou o quarto de Sirius com a cabeça e entrei. Realmente ainda estava uma bagunça. Todas as caixas já estavam abertas, e tinha roupa pendurava em todas elas. A cama estava desmontada e o colchão em pé contra a parede. A vista da janela dele dava para um dos pubs badalados da rua. Voltamos para a sala. Passamos o resto da tarde e parte da noite organizando as coisas. Sirius logo retornou com dezenas de caixas e Quim apareceu também para ajudar. Já passava das 21h quando Sirius desceu para comprar uma pizza e depois de comermos, sentei no sofá com Remo para descansar.

- Lou, queria perguntar uma coisa a você – Remo disse parecendo escolher as palavras
- O que foi?
- Queria que você viesse morar aqui, comigo – falou em um fôlego só e me assustei – Quero morar junto de você

Apesar de saber que não era a melhor coisa a se fazer no momento, não pude evitar ficar calada sem responder por um tempo. Não esperava uma proposta dessas, assim tão de repente. Remo parecia já esperar por isso, e esperou pacientemente até que eu assimilasse o que ele acabara de me propor. Não nego que nunca pensei nessa possibilidade, pois queria passar o resto da minha vida com ele e eventualmente, o dia se dividirmos o mesmo teto chegaria. Mas havia me esquecido de pensar em como seria quando ele chegasse.

- Não posso – respondi depois de pensar bastante
- Por que não? – ele parecia um pouco desapontado
- Agora não é hora. Não que eu não queria, não é isso – acrescentei depressa – Claro que quero morar com você, mas ainda nem me formei, não posso simplesmente chegar em casa e comunicar ao meu avô Henry que vou embora, que vou morar com o meu namorado.
- Entendo – disse parecendo menos chateado – Me precipitei um pouco, não?
- Não acho que tenha se precipitado... Se vovô não fosse tão paranóico, ou se não tivesse Sirius aqui também, teria aceitado de imediato – disse sorrindo – Morar com você é tentador, mas também ter que dividir o espaço com Sirius Black é exigir demais. Ele vai transformar esse apartamento em um antro
- Bom, então acho que vou ter que procurar um outro lugar para ano que vem – ele segurou minha mão e entrelaçou os dedos nos meus – Seu avô gostando ou não, ano que vem você é só minha.
- Pode apostar que sim – disse beijando-o
- Mas, como não quero me indispor com mais um avô seu, e esse parece gostar de mim, acho que está na hora de levar você de volta a St. James

Remo levantou e estendeu a mão para mim, mesmo que não sentisse a mínima vontade de me deixar ir embora. Eu também queria ter ficado lá, mais do que qualquer outra cosia que já houvesse desejado. Mas eu não podia. Eu tinha 17 anos, morava na casa de meu avô, e dormia numa cama comprada por ele. Nada era meu, a não ser os meus sonhos e a certeza de que a partir daquele momento, nem todos os caminhos me levariam de volta pra casa.

Thursday, August 09, 2007

Lembranças

Do diário de Monn Midge Speaker... Baseado em fatos reais, ou não... Não sei ao certo!


AC: E ai, você vai nos contar agora o que aconteceu no baile?
SW: Sim, ou teremos que te obrigar a tomar a Veritaserum que estávamos guardando para causas menos nobres?
MS: er... Não, não vou contar nada e não, vocês não têm Veritaserum... E não conto NEM sob tortura, antes que pense nas maldições imperdoáveis que você anda escutando em sua sala comunal, Tha... Eu simplesmente não POSSO contar, não a vocês...
SW: Aha, eu sabia q tinha acontecido algo...
AC: Porque não pode nos contar, poxa somos suas melhores amigas...
MS: Sim, sim, minhas melhores amigas e (apontando para Agatha) irmã de meu provável-ex-nunca-futuro-atual-namorado e (apontando para Sam) irmã de meu ex-futuro-alguma-coisa-que-se-acha-o-pegador-da-escola-namorado... Sim, claro que posso contar pra vocês!
AC: Ué, você não ta achando que vamos falar com alguém né?
SW: Sim, Monn... Somos suas amigas e só deixamos escapar algo por acaso quando o acaso não é nada por acaso e você premeditou tudo, fazendo com que soltássemos o certo para a pessoa certa...
AC: Tipo, como fez/fizemos com nossos irmãos...
SW: Pra vc dar uns pegas neles... Antes de começar a namorá-los firme etc...
MS: Sim, esse é o problema, são irmãos de vocês, e por mais que esteja me matando de vontade de contar pra vocês e precisar multo falar disso, bem, vocês podem tomar as dores dos irmãos, daí brigarem entre si e sobrar pra mim e sei lá o que mais... E sinceramente, NÃO TO PODENDO!
AC: Ok, se prometermos não tomar dores de ninguém, você conta?
MS: er...
SW: É, juramos que não vamos falar nada...
AC: E nem te interromper... Juramos!

... As duas cruzam os dedos e os braços entre si e fazem um tipo de dança da promessa tão tosca que fizeram Monn cair na gargalhada e começar a falar, falar coisas que queria falar há mais de um mês mas não tinha tido coragem de falar com ninguém... Coisas muito importantes para ela... Coisas que mexeram com seus sentimentos mais profundos, com suas crenças, seu corpo... Ó Merlin, como ela queria, precisava falar sobre isso!

“No dia, no dia do baile, eu fiquei muito fula da vida porque o Perseu me avisou em cima da hora que não poderia estar comigo no baile e isso me deixou mais, digamos, volúvel... daí me apareceu Drake, lindo, de smoking e todo olhares pra mim... e que olhares... e que olhos... e que Drake... e um fogo me subiu... senti meu rosto corar, meu coração acelerar... senti um calor no baixo ventre e ai... enfim... daí me apareceu o maldito elfo...”.

SW: Poxa, Monn, tá matando elfo a grito? huahua
AC: hihihi...
MS: Eu disse SEM-INTERRUPÇÕES, não foi, Samantha? Hunf
SW: Ok, calma, calma!
Ms: CALMA digo eu... não fiz nada com elfo algum... continuando...

“... então, me apareceu o maldito elfo com whisky de fogo e eu, como sempre, achei que meus problemas seriam afogados em um desses copinhos coloridos e atraentes... e só DEPOIS me lembro que é com esses copinhos que meus problemas geralmente começam!
Eu estava com Sam e resolvi tomar coragem de ir cumprimentar Drake e Josh... Cheguei perto e ficamos nos encarando... Mas mais que me encarar, Drake simplesmente me comia com os olhos, alias, como sempre fez, e Sam já não estava nem mais prestando atenção em nós, já estava nos amassos com o Josh, então eu me senti sem ter pra onde correr, tendo que encarar a situação, eu o queria mais que tudo... Daí, mais um elfo, mais umas doses, um bom papo no ouvido e Drake me convenceu a irmos passear pelos jardins.
Nesse momento eu já tinha bebido mais de uns 20 drinks eu acho, até porque, com todo esse teor de álcool em meu ser, não poderia ter mais certeza de nada... Enfim... Bebi muito porque queria tomar coragem para fazer o que meus instintos estavam mandando que fizesse... E Drake, aparentemente, fazia o mesmo... Mas estava encorajando mais MEUS instintos do que os dele, já que a cada dose que ele tomava, me trazia 3 ou 4... Então, a partir daí, só me lembro de flashs... De sensações, de sentimentos, de prazer, de alívio... Mas é como se tudo fosse um grande, GRANDE, quebra-cabeças... E estou a mais de um mês tentando juntar as peças...”

AC: Perae, tá querendo nos dizer que nesse tempo todo, o que você não quis nos dizer é o que você justamente não sabe dizer, por que não lembra o que aconteceu?
MS: Não, eu lembro... Eu vim lembrando aos poucos... Na maioria das vezes quando não estou pensando nisso, o que é difícil de acontecer, já que ISSO não sai da minha cabeça mas...
SW: Continuuuua, continua menina, quero saber, me conta o que aconteceu...
AC: Até parece que você não sabe... Vindo de Monn, já até sei o final...
MS: Sabe é? Acho que não!
AC: Claro que sei... Você foi dar uns amassos nos Drake e se empolgou e...
SW: E...?
AC: E vomitou né? Na cara dele? Ou cuspiu nele após vomitar ao seu lado? Rs
MS: ha ha ha, acho que vou parar de contar PARA VOCÊ!
AC: Ok, ok, desculpe-me... Mas que tinha a probabilidade disso acontecer tinha, NÉ?
SW: Cala a boca, Tha... Quero saber... Vai Monn, menina, desabafe... Conte-nos tuuudo, nos mííííínimos detalhes!
AC: Ah sim, quero REALMENTE saber dos detalhes, se isso não incluir vômitos, obvio!
MS: É , também gostaria de saber os detalhes, pena que não sei bem ao certo a quem recorrer para questionar...
SW: Como ASSIM???
MS: Bem, é que... Ai, deixa eu continuar!

“Fomos dar uns amassos nos arredores da Floresta Proibida, afinal, por ser proibida, achamos que estaria mais vazia... tolo engano... alias, nos encontramos por lá, não foi Tha? Enfim, ficamos nos amassando por lá e cá e acabamos entrando mais do que devíamos na floresta... e sabe com o é por lá, mais movimentado ainda com tantos animais e seres mágicos... resolvemos voltar a orla e fomos procurar um canto com menos gente, o que parecia meio difícil de se achar”

AC: Perae, volta a cena, volta... Eu te vi sim, e você estava no meio de uma roda de garotos... E perae, agora que me lembrei, eles estavam, te beijando? MONN MIDGE SPEAKER, você participou da roda de formandos?
SW: Calma ae digo eu, o que É uma roda de formandos?
AC: Ah, meu irmão me contou... Os garotos mais populares escolhem alguma tola bêbada o suficiente e usam de premio numa rodinha de uns 5 garotos e ficam, er... Beijando ela e coisas do tipo...
SW: Monn, foi você essa tola bêbada o suficiente? Ai Merlin, claro que foi você fica muito tola quando esta o suficientemente bêbada... Eu vou MATAR o Drake... Ele que te levou né? Ele te obrigou a ir, né?
MS: Bem, eu REALMENTE não lembro se ele me obrigou, acho que obrigar obrigaaar não... Mas deve ter feito sim, uma leve pressão... Enfim... Só sei que de 5 caras, eu só lembro de 4, bicho, esse é o maior problema, eu beijei alguém que eu NEM SEI QUEM ERA!
SW: Ai, me diz que essa é a pior parte, diz...
MS: er... talvez! Só lembro que estava eu no meio de Drake, Stephan Harper e Wayne Foutley da Sonserina, alguém que não lembro e, pasmem, Sirius Black... E ele parecia tão ou mais bêbado que eu!
AC: Alguém que você não lembra E Black? Ok, não sei o que é pior!
SW: O pior é não saber quem foi o 5°... E se foi, e se era... Eca, o Ranhoso?
MS: Já pensei no pior, até nisso, mas são os mais populares não é mesmo? Ele não era naaada popular, e Black não iria deixar o Seboso participar disso... O problema é que, se os demais marotos estão comprometidos, realmente não sei quem seria tããão popular assim, a ponto de participar deste er... Seleto grupo!
SW: Seleta SURUBA, você quer dizer, né? E não se esqueça que nem todos os marotos estão namorando hein... Quem sabe Black não levou seu amiguinho cara de rato para uma despedida de ano a altura que ele não tem?!?
MS: er... Sinceramente, eu espero do fundo do meu coração que o Black não tenha feito essa maldade, essa, essa... Isso comigo... Nem Drake, né? Mas não acabou por ai... Antes eu tivesse saído daí pra ir dormir!
AC: Ai Merlin, medo de ouvir!
SW: Medo nada, conta logo menina!

“Como eu disse, eu lembro de flashs... eu estava lá na roda... daqui a pouco Drake me falou algo de ir para um lugar mais calmo... passei por Tha e Amos... que alias, não estavam nem um pouco calmos, pra falar a verdade, do que me lembro da, er... saudade de Amos, ele dava de 10 em cima dos 5 da rodinha...”

AC: Será que você poderia nos contar o que VOCÊ fez e não o que você acha que eu fiz? Afinal, se você não lembra de sua noite, como pode lembrar da alheia, hunf?
MS: É, mas lembro bem... Enfim...

“Drake me levou para um lugar que eu não sabia ao certo onde era... só sabia que estava muito escuro... eu também não estava ligando muito para ONDE estávamos, né? Daí lembro de mais ou menos o que aconteceu e pronto, um apagão...”

SW: Só isso? Acabou?
MS: Dá pra você me deixar acabar de contar? Ainda não disse the end, disse?

“... acordei na manhã seguinte com uma luz forte no meu rosto, uma puta dor de cabeça e sentindo um forte cheiro de sabe Merlin o que... fui abrindo os olhos aos poucos, querendo me situar, tentando lembrar de onde estava... foi quando percebi que estava na cabana do Hagrid... levantei correndo, sem saber o que tinha acontecido e vi meu vestido jogado longe, pendurado numa chaleira em cima da mesa... meus sapatos aos pés da porta... quando procurei por companhia, não achei, e isso que me deu mais medo... com quem eu havia passado a noite? A grande questão... porque não havia ninguém lá comigo?”

SW: Você, er... Você, não... Eca, dormiu com Hagrid, não né?
MS: CLARO QUE NÃO! Mas tenho que confessar que com a enxaqueca que estava, cogitei seriamente isso... Até achar seu irmão caído do outro lado da cama, roncando como uma gárgula! Daí me arrumei do melhor jeito que consegui com toda aquela dor de cabeça em mim e lembranças vindo com mais rapidez me fazendo, ao mesmo tempo sentir arrepios bons e ruins... Ia sair de fininho... Mas imaginei que Hagrid não iria gostar de ver Drake no chão de sua casa quando voltasse, se é que ainda não havia nos visto. Então o chamei baixinho e disse que estava indo para a Corvinal, que ele deveria fazer o mesmo... e...
AC/SW: Eeeeeeeeee?
MS: E ele lançou um largo sorriso quando abriu os olhos e me viu e me puxou para um beijo... Meio estranho, pois ele estava só de roupas intimas e eu de vestido e sapatos nas mãos... Ambos com aquele gosto de guarda-chuva misturado com ressaca... mas ficamos ali deitados um tempo ainda abraçados, nos beijando... Curtindo o momento... E NAQUELE momento tudo me pareceu certo... Aquilo me pareceu certo... Mas depois começaram a pipocar lembranças de que, 1° eu tinha namorado, 2° isso não era certo, 3° eu estava bêbada, 4° Drake me induziu a beber, 5° a rodinha, 6° eu TINHA namorado! Então... Então... Eu levantei e sai correndo... Fui direto ao corujal que nem uma babaca e me entreguei a Perseu em poucas palavras, dizendo que não poderíamos ficar mais juntos e que não poderia explicar o motivo... E cá estou eu... Sem memória, sem namorado e sem muitas outras coisas que perdi naquela noite!


Monday, August 06, 2007


“Lembro-me dessa pescaria em particular, não por ter sido a melhor nem a pior, mais por ter sido a ultima ao lado de meu pai”

- Wayne, Scott, andem logo!

A voz enérgica do meu pai, ampliada magicamente, invadiu meu quarto e saltei da cama assustado. Wayne também caiu no chão com o susto e logo minha mãe entrava no quarto mandando que levantássemos, arrancando os lençóis de cima da gente e dobrando.

- Depressa, seu pai está irritado por vocês ainda não terem descido!
- Mas estamos de férias, por que está nos tirando da cama... – procurei pelo relógio no quarto – às 7h??
- Por acaso esqueceram que vocês vão sair hoje para a pescaria? – mamãe falou impaciente

Olhei para Wayne e ele parecia também ter esquecido por completo desse detalhe. Desde que eu tinha 3 anos, Wayne tinha 5, papai nos leva para uma pescaria anual em uma região campestre aqui na Suécia. Sempre foi muito divertido, eram 3 dias que os homens da família ficavam longe das mulheres da casa, sem brigas, apenas passando um tempo juntos. Mas há algum tempo que essa pescaria deixara de ser divertida. Há pelo menos três anos, nós vamos arrastados.

Papai já estava todo equipado na cozinha quando descemos, as caras amassadas denunciando que ainda estávamos dormindo. Ele não nos deu bronca, tampouco sorriu. Apenas mandou que entrássemos logo no carro e comunicou que tomaríamos café no caminho, por causa do nosso atraso. Nos despedimos da mamãe e saímos para o que parecia ser nossa caminhada até a forca, dada nossa animação contagiante.

A viagem até o lago Vättern era de aproximadamente três horas. Wayne correu para sentar no banco da frente, o que agradeci, pois assim não teria que viajar todo aquele tempo ao lado do papai. Queria estar em qualquer lugar, menos ali. Louise tinha me convidado para ficar uns dias na casa dela e cheguei a aceitar, mas mamãe vetou. Depois de não ter aparecido em casa para o ultimo Natal, ela proibiu a família de se separar nessas férias. Wayne também andava mal humorado, pois Wart tinha viajado para o Hawaii e o convidou, mas meu irmão foi obrigado a recusar.

O lago Vättern estava do mesmo jeito que lembrava da viagem do ano passado. E de todos os outros anos. Passaram-se 11 anos desde que papai me trouxe aqui pela primeira vez e tudo continuava exatamente igual. Porém, papai parecia achar algo de novo a cada ano. Wayne desceu do carro de má vontade e começou a montar a barraca perto da água, sem magia. Papai nos proibia de usar varinha aqui, pois tinham muitos trouxas acampados ao redor. Regra estabelecida desde que éramos crianças, já éramos craques em deixar um pedaço de lona com aparência de algo confortável para se passar três noites.

A sexta-feira já havia terminado. Papai tinha uma tenda só dele e eu dividia uma, absurdamente pequena atualmente, com Wayne. Não dormi à noite, diferente do meu irmão. Além de Wayne roncar, ficava jogando as pernas para cima de mim e eu as empurrava para longe, para vê-las voltando a bater em mim segundos depois.

Levantei logo cedo no sábado e descobri que papai já estava com suas botas de pesca dentro da água ajeitando o anzol. Peguei minhas coisas e me juntei a ele. Como diz o ditado trouxa: se não pode vencê-los, junte-se a eles. Papai hoje estava mais animado, até sorria e falava animado das tais mudanças que ele insistia em ver no cenário. Não via nada, mas resolvi deixar o mau humor de lado e cooperar, se era para ver meu pai animado. Wayne levantou muito tempo depois, já quase ao meio dia, e saiu da barraca arrastando seu equipamento de pesca, sentando afastado e começando a montar as coisas.

Estávamos cada um em um pedaço do lago e quando fui caminhar mais para o fundo, senti um buraco debaixo dos meus pés. Era uma parte bem mais funda, que não estava ali no ano passado. Olhei para papai e ele estava distraído mais afastado da gente, então virei para Wayne.

- Ei, Wayne... – meu irmão me olhou entediado – Vem até aqui, acho que achei uma coisa!
- O que é? – meu pai me ouviu e veio caminhando interessado
- Não pai! – falei depressa, mas ele me ignorou – Não, não é nada, só queria mostrar ao Wayne, não é nada demais!
- Ora vamos, o que você ac- - Mas não ouvi o resto da frase, pois papai já havia pisado na vala e afundado. A única coisa visível era seu chapéu, boiando no lago.

Wayne começou a gargalhar enquanto eu me desesperava. Não pelo fato de que meu pai ainda não havia emergido, mas sim porque sabia que quando ele saísse da água, torceria meu pescoço. E acertei, não é a toa que adoro adivinhação. Vi algumas bolhinhas se formando na água e segundos depois, mais assustador que o monstro do Lago Ness, papai pôs a cabeça na superfície. E as risadas escandalosas de Wayne não tornavam em nada esse momento ao menos descontraído. Ele apanhou o chapéu que boiava, saiu de dentro do lago e torceu ele quando passou por mim para tirar o excesso de água, desaparecendo dentro da barraca.

Papai passou o resto do dia com a cara fechada. E o fato de suas roupas, incluindo o calção, estarem penduradas num varal improvisado na frente da barraca não facilitava as coisas. Logo anoiteceu e sentamos em volta da fogueira que ele fez para comermos alguma coisa. Mas ninguém falava nada, então Wayne teve a brilhante idéia de reclamar.

- Essa viagem está um saco! – disse jogando uma pedra no fogo – Quero voltar, ir para o Hawaii com o Wart
-Como você é chato, Wayne – resmunguei – Reclama de tudo!
- Cala boca você, panaca! Você tentou me afogar hoje!
- Não queria que você se afogasse, só caísse – olhei para papai e não consegui prender o riso – Mas acabou que não foi você quem caiu...
- Muito engraçado, Scott – papai falou sério – Foi uma brincadeira estúpida, poderia ter machucado seu irmão
- Ora papai, tenho um pouco de senso de humor, foi engraçado! – agora ria alto, mas ele ainda estava sério

Wayne levantou e imitou papai afundando na vala, e ele acabou dando risada. Mas então papai começou a falar da casa que ele queria construir no lago, a mesma que ele queria quando éramos crianças, e Wayne mais uma vez falou mais do que devia.

- O senhor ainda não desistiu dessa insanidade? Sabe que mamãe nunca ia deixar, e é burrice fazer uma casa aqui, esse lugar está morto!
- Mas que absurdo é esse? – papai olhou Wayne espantado – O lugar não está morto, está tudo como sempre foi, é um excelente lugar para se ter uma casa de campo. Poderíamos vir mais vezes, a pescaria não precisaria mais ser anual!
- Ah ótimo, tudo que precisamos é que essa porcaria de viagem se torne mais freqüente...
- Wayne, cala a boca! – falei quando vi que papai parecia chateado – Você não tem tato?
- Não me mande calar a boca, panaca! – Wayne sacudiu o graveto que mantinha no fogo para cima de mim e caiu uma fagulha na minha camisa, queimando
- Agora já chega!

Atirei o graveto que usava para assar um marshmallow no chão e parti pra cima de Wayne, o derrubando no chão. Papai levantou de um salto e agarrou minha camisa pelas costas tentando nos apartar, mas acabei acertando o cotovelo no rosto dele. Wayne conseguiu me atirar para o lado e cai no chão a tempo de ver papai com a mão no rosto por causa da pancada perder o equilíbrio e cair por cima da fogueira. Na tentativa de se esquivar do fogo, ele chutou um pedaço de madeira direto pra cima da nossa barraca. O fogo lambeu a lona depressa e em questão e segundos, não tínhamos mais onde dormir.

- Legal panaca, muito legal mesmo! – Wayne levantou do chão e me empurrou com o pé – Vou dormir no carro!

Meu irmão marchou até o carro e se trancou lá dentro. Papai ainda olhava abismado para a barraca em chamas e desobedecendo a sua própria regra, fez sair água da varinha e apagou o fogo, entrando em sua barraca ainda intacta e me lançando um olhar de desapontamento. Legal, a viagem perfeita!

Demorou um tempo até que eu fosse dormir no carro com Wayne. Queria ter certeza que ele já estaria dormindo quando eu entrasse, ou certamente ia querer me bater. Mas não consegui pregar o olho pela segunda noite consecutiva. E mais uma vez, levantei cedo. Papai estava de pé na beira do lago, olhando para a água. Parei ao lado dele, mas não disse nada. Foi ele quem quebrou o silencio.

- Sua mãe e eu ficamos chateados quando só um dos nossos quatro filhos voltaram para a casa no Natal – disse ainda olhando para a outra margem do lado – Queria apenas passar um tempo com vocês. Wayne se formou e logo sairá de casa, e você nunca pareceu precisar da nossa ajuda para nada desde que entrou para Hogwarts, sei que não irá demorar a se mudar também. Sentimos falta de como nossa família costumava ser mais unida.

Uma das piores coisas que você pode sentir é a sensação de ver alguém de quem você sempre dependeu, dependendo de você. Naquele momento entendi que tudo que meu pai queria era fazer algo divertido junto da gente, que fossemos um pouco mais unidos, e que ele sentia mais falta disso do que jamais pude imaginar. E ao constatar isso, me senti um idiota por não ter cooperado muito.

- A casa ficaria boa se fosse na beira do lago – falou de repente – Naquela margem do lado de lá
- É, ficaria ótimo lá – menti. Afinal, que mal faria? - Acha que venderiam o terreno para você?
- Não sei. Sua mãe me mataria...
- É, talvez...

Ficamos parados olhando para o lago sem conversar e minutos depois Wayne acordou e parou ao meu lado, também passando a encarar a água sem falar nada. Papai disse que estava na hora de voltar para a casa e depois de juntarmos as coisas que restaram, sentamos na beira da água para pescar uma ultima vez antes de pegarmos a estrada de volta a Gotland, dessa vez sem discussões ou brincadeiras de mau gosto. E acho que enquanto estávamos ali, mudos, havíamos entendido o motivo de termos voltado ao lago esse ano. Tínhamos voltado para nos despedirmos...

Friday, August 03, 2007


- Ei Remo, GO DEEP!

Brendan correu para trás e atirou uma bola de rugby com força na direção de Remo, mas ela passou direto e meu primo fez uma dancinha idiota em comemoração. Essa cena se repetiu diversas vezes durante o mês de Julho. Desde que Remo chegou a Canterbury para passar as férias comigo, meus primos não param de implicar com ele. Susan e Chelsea eram as únicas solidárias e não participavam das brincadeiras idiotas.

E o pior de todos eles, era meu avô. Durante o dia, ficar sozinha com Remo se tornou algo impossível. Sempre que vovô via ele se aproximar de mim ou me beijar, mandava Brendan, Julian ou George atrapalharem. A única hora que conseguíamos ficar a sós era depois que todos já estavam dormindo, mas ainda assim Remo era obrigado a enfeitiçar os três patetas para que eles não acordassem e notassem sua ausência todas as noites.

Já estávamos em Agosto e era nosso ultimo dia em Kent, no dia seguinte de manha voltaríamos a Londres. Os meninos estavam mais uma vez espalhados pelo jardim jogando bola, e Susan, Chelsea e eu olhávamos entediadas e tomando o cuidado de permanecer longe: era impressionante como eles ficavam violentos quando jogavam rugby! Cansada de não fazer nada, e querendo aproveitar mais o ultimo dia em Kent, saquei a varinha e apontei para a bola que, no momento, voava na direção de Julian.

- Reducto!- a bola explodiu segundos antes de Julian tocá-la e vi-o cair embolado na grama com o susto
- EI! – Julian gritou ainda sentado no chão – Pensei que você não pudesse usar isso fora da escola!
- Tecnicamente, ela já é maior de idade pelas leis bruxas, então tem autorização de usar magia fora de Hogwarts – Remo falou prendendo o riso. Sabia o quanto ele tinha apreciado o susto
- Ok, que seja – Brendan falou brabo – Agora vamos jogar com o que? Faça outra bola aparecer!
- Não mesmo! – Chelsea respondeu depressa – Chega desse jogo idiota, queremos fazer algo também, além de ver vocês jogarem bola!
- Ora, façam alguma coisa então as três, e nos deixem aqui jogando! – George reclamou
- Bom, continuem jogando vocês então, se quiserem conjuro outra bola – Remo se afastou dos três e sentou ao meu lado – Quero ficar um pouco com ela, se não se incomodam
- E mesmo que se incomodem, superem isso com terapia! – falei revoltada, abraçando ele

Percebi que Brendan considerou a hipótese de chamar meu avô para se juntar ao grupo no jardim, mas foi impedido por Susan, que comunicou que iríamos todos passear pela cidade. Levantei do gramado de mãos dadas com Remo e saímos junto com Susan e Chelsea para fora dos portões da casa. Julian logo nos alcançou, e não demorou muito para Brendan e George se postarem um de cada lado meu.

- Quanto o vovô está pagando vocês para me importunarem? – fuzilei os dois com o olhar, falando entre dentes
- O suficiente – George respondeu cínico
- George, você sabe que vamos voltar pra escola daqui a um mês, e que posso ‘acidentalmente’ mandá-lo para a ala hospitalar por boa parte do período letivo, não sabe? Já estou boa, vou voltar ao time de quadribol em Outubro. Nunca se sabe quando um balaço perde o rumo...
- Voce não arriscaria me matar atirando um balaço na minha cabeça – disse convencido
- Quer pagar pra ver? – parei de andar e fiquei de frente para ele – Dê mais um passo atrás de mim, e no 1º jogo da temporada que for Lufa-lufa contra Grifinória você vai ter sua resposta!

George me olhou de lado e voltei a caminhar de mãos dadas com Remo, mas ele não saiu do lugar. Brendan ainda continuou nos seguindo, mas graças a Merlin tenho uma prima companheira e que me entende como ninguém, afinal, também já passou por isso. Duas, aliás. Chelsea puxou Julian para longe de onde estávamos e Susan veio correndo na direção de Brendan, pulando em cima dele e o derrubando no chão. Ela era pequena, mas o impacto quando não se está esperando um golpe é bem maior. Quando Brendan conseguiu se livrar de Susan empurrando-a para o longe dele, já tínhamos corrido para o outro lado do parque.

- Espera, não tenho fôlego pra correr mais que isso – parei de repente, puxando Remo
- Você só não tem fôlego pra correr, não é? – falou cínico
- Cala a boca – olhei para trás e Brendan ainda estava do outro lado, Susan estava empurrando ele – Vamos caminhar mesmo, mas fora daqui. Se ele se aproximar, desaparatamos

Descemos a rua enfim a sós e logo estávamos no meio da King's Bridge. Um grupo enorme de turistas se encontrava por ela, todos participariam de um passeio de barco que tem na cidade, no rio histórico de Canterbury. Já havia feito aquele passeio inúmeras vezes quando era criança, vovô fazia questão aprendêssemos a história da cidade. Desviamos da aglomeração e sentamos em um dos bancos perto da ponte.

- Seu avô faz marcação serrada – Remo falou me abraçando – Como ele sempre sabe onde a gente está?
- Ele era da Scotland Yard, mas mesmo tendo se aposentado, ainda acha que está de serviço. O passatempo favorito dele é vigiar a criançada que mora na rua, e dar susto nelas
- Acha que ele sabe que não dormi no quarto do seu primo nenhuma noite? – disse preocupado e ri
- Quanto a isso não precisa se preocupar, quando ele dorme, nem uma bomba o faz despertar – beijei-o e ele pareceu mais aliviado – E também, ele confia que os três cães de guarda dele dêem conta do trabalho sujo. Ele só esqueceu que somos bruxos e temos nossas próprias armas
- Ele me odeia
- Ele não ter odeia – olhei para ele – Vovô é implicante assim mesmo, era o mesmo tormento quando minha tia apresentava os namorados quando era mais nova. É como se ele achasse que deve isso ao meu pai, de se certificar que vou estar sempre segura
- Que bom então que ele não sabe que sou um lobisomem – ele riu, mas a risada soou triste
- Remo, eu já falei que não me sinto em perigo por causa disso. E não dê confiança ao vovô, ele vai sempre implicar com você, e nada que você faça pode mudar isso, é fato. Pense pelo lado positivo: amanhã estamos indo embora e vou passar o resto das férias com meu avô John, que é bruxo e gosta de você!
- Já é um consolo – ele me deu um beijo demorado – Bom saber que não vamos precisar fugir por um mês para conseguir fazer isso
- E vocês já decidiram o que vão fazer na semana que vem?
- Sirius mandou uma coruja dizendo que encontrou um apartamento legal no West End
- É um bom lugar, e St. James fica no Wes End
- Sim, por isso gostei da localização, mas parece que Tiago está com planos de morar com Lílian
- E por acaso Lílian está ciente dos planos de Tiago? – ri
- Duvido muito – ele riu também – O que foi? – falou quando viu que eu olhava para o relógio na praça
- Acho melhor começarmos a refazer o caminho de casa, daqui a pouco começa a escurecer e hoje vamos ao Kings Head

Remo levantou do banco e segurou minha mão para voltamos para casa. Quase todos os dias à noite, eu, Remo, Chelsea, Julian e Brendan íamos ao pub mais badalado da cidade, para a revolta de Susan e George, que ainda eram menores. E como hoje era nossa última noite em Canterbury, íamos nos despedir do bar. E algo me dizia que seria uma noite bem mais livre que as outras...