Friday, October 29, 2010


Uma semana antes do Dia das Bruxas.

Com o fim de Outubro se aproximando, a atmosfera no castelo se resumia a apenas duas coisas: Hogsmeade e Halloween. Nosso primeiro fim de semana no vilerajo era no próximo sábado e no mesmo dia, à noite, teríamos o banquete de Dia das Bruxas tradicional da escola. Comemoraríamos um dia antes, já que o dia 31 em si cairia em um domingo e não tínhamos autorização para grandes festas em dias que não fossem sextas ou sábados. Ao menos não oficialmente.

Os alunos do 3º ano estavam ansiosos por poderem deixar o castelo pela primeira vez, mas o que deixava nossa turma do 5º ano realmente ansiosa era a festa pós-banquete. Uma festa não-oficial, na Lufa-Lufa, onde apenas alguns alunos de outras casas eram convidados. Nossos convites estavam garantidos, já que MJ havia se tornado o DJ oficial da casa e não nos deixaria de fora, e dada convidado tinha direito a um acompanhante, mesmo que ele não tenha sido convidado. Todos já estavam começando a se movimentar para convidar alguém e eu não estava saindo do lugar. Na verdade, não sabia o que deveria fazer, já que não conseguia falar com nenhuma garota sem gaguejar e fazer papel de idiota.

- E ai, Rup! – Jamal sentou do meu lado no muro do pátio – Bela vista.
- O que?
- Claire Hendersen – ele falou e senti meu rosto corar – Percebi que estava olhando pra ela ainda do outro lado do pátio.
- Está tão na cara assim?
- Não, é que eu capto um olhar com segundas intenções de longe. É um dom – ele riu – Está pensando em convidar ela pra festa dos lufanos? Tem o meu apoio.
- Não, sem chance. Não sei nem como chegar até ela sem parecer estúpido. Meu limite é “Oi, Claire”, e com muito custo.
- Você está dizendo que não sabe como falar com uma garota? – Jamal pareceu chocado – Você, que é amigo de Jamal Coleman Shacklebolt, não sabe chegar numa menina?
- É muito esquisito quando você se refere a você mesmo na 3ª pessoa.
- Cenoura, isso é um absurdo! Diria até pecado.
- Não posso fazer nada se sou tímido e não tenha essa facilidade que você tem de falar com as pessoas.
- Claro que você pode fazer alguma coisa! Aliás, eu posso fazer muita coisa pra ajudar – ele passou o braço ao redor do meu ombro e apontou a mão livre pro jardim à nossa frente – Há um mundo que você ainda não conhece e eu, na condição de seu novo melhor amigo, vou apresentá-lo a você.
- Do que está falando?
- Estou falando do novo Rupert que está para nascer. Não vou convidar ninguém para a festa na Lufa-Lufa, e obviamente nem você. Vou como seu wingman e vou lhe ensinar como pegar uma garota. Você é meu pupilo agora, Cenoura. E vou transformar sua vida, pode ter certeza disso.

Jamal continuou apontando para o que deveria simbolizar o horizonte e me peguei olhando para onde sua mão indicava com uma expressão pensativa no rosto. Não sabia se aquilo ia funcionar, mas se eu não tinha absolutamente nada a perder, por que não tentar?

ºººººº

30 de Outubro, véspera do Dia das Bruxas.

O banquete de comemoração ao Dia das Bruxas ainda não havia terminado, mas os buracos nas mesas das casas começavam a ficar notáveis. A mesa da Lufa-Lufa era a mais desfalcada. Quase nenhum aluno do 3º ano pra cima estava sentado nela, e absolutamente nenhum do 7º se encontrava no salão principal. A segunda mesa mais desfalcada era a da Sonserina, e notei que meus amigos já não estavam mais lá. Jamal era o único que havia ficado para trás e vi quando ele entregou algo a Penny, levantando em seguida e caminhando na direção da mesa da Corvinal. Justin e Julian levantaram assim que ele chegou.

- Vamos deixá-lo sob os seus cuidados, Jam – Julian deu dois tapas em suas costas e os três riram – Cuide bem do nosso menino.
- Vocês deixam um menino, mas eu vou devolver um homem – eles riram ainda mais e Jamal agarrou a manga da minha camisa, me puxando com uma força que eu não conhecia – Vamos, Cenoura! Já estamos atrasados para a lição numero um.
- Qual é a lição numero um?
- Reconhecimento da área de caça.
- Boa sorte, Rup! – Julian gritou enquanto Jamal me arrastava pra fora do salão, ele e Justin com um sorriso debochado no rosto.
- Esperamos que não volte cedo hoje, mas se chegar primeiro, deixe uma meia na porta pra sabermos se devemos entrar ou não! – Justin gritou mais alto ainda. Eles iam pagar por isso. Não sabia como, mas iam.

Jamal parou de me arrastar e passou a caminhar ao meu lado, e ia me dizendo o que íamos fazer quando chegássemos à festa. Basicamente, íamos ficar parados em um canto por alguns minutos e apenas observar a movimentação. Um aluno do 2º ano estava plantado na entrada do salão comunal do lado de fora e ia checando uma lista de nomes.

- Algum acompanhante com vocês? – ele perguntou vendo que estávamos sozinhos.
- Nossas acompanhantes estão ai dentro – Jamal respondeu.
- Quem são elas na lista? – ele consultou o pergaminho parecendo afobado.
- Como vamos saber? Nem nos deixou entrar ainda pra ver quem está ai.
- Como?
- Você ainda é muito novo pra isso – Jamal bagunçou o cabelo dele e tive que segurar o riso – Podemos entrar ou não, amigo?

O garoto parecia confuso, mas disse a senha e uma pintura se moveu, revelando uma passagem arredondada. Quando entrei no salão comunal da Lufa-Lufa, tive a sensação de estar entrando em um imenso barril. Tudo lá dentro era arredondado, até mesmo as poltronas. As cores da casa, amarelo e negro, predominavam em todos os móveis, cortinas e quadros. Já tinha bastante gente lá dentro e vimos nossos amigos conversando de um lado, mas antes que pudesse ir até lá Jamal agarrou meu braço e me guiou até o canto oposto.

- Nada de interagir com a galera, hoje você está aqui com outro propósito.
- Não vamos nem dar um olá?
- Você já falou com eles hoje, eles superam se ignorá-los um pouco – Jamal pegou dois copos de uma bandeja e colocou um na minha mão – Beba um pouco, você precisa relaxar.
- Isso é whisky de fogo – cheirei o copo e fiz uma careta.
- Só beba, não vai matar – ele ficou me encarando e não tive escolha senão beber. Era horrível – Está vendo esses grupinhos de meninas espalhados? – fiz que sim com a cabeça, ainda tentando me acostumar ao gosto da bebida – Nunca faça um movimento com elas nessa formação. Você precisa separar o alvo do bando.
- Isso é lição mais avançada, você ainda não está pronto. Hoje vamos caçar as duplas, uma pra cada.
- Ok – engoli o resto do whisky, tentando disfarçar o nervosismo – E em quem eu devo me aproximar? Leslie?
- O que? – ele riu – Não, muito fácil. Claire Hendersen.
- Eu não posso chegar na Claire – agora quem riu foi eu – Ela é demais pra mim.
- Não na minha turma – Jamal deu um tapa forte nas minhas costas e engasguei – Você vai terminar com especialização em gostosas.
- Olhe pro Justin! – apontei para nosso amigo, já encostando uma menina contra a parede – Ele chegou segundos depois! Parece tão fácil assim, mas pra mim não é. Eu não consigo falar com ela sem gaguejar e parecer um idiota!
- É a Victoire que ele está imprensando contra a parede, não foi tão simples – Jamal tentou me acalmar, mas não funcionou muito – Rupert, relaxa. Você só precisa agir com naturalidade. Converse com a garota como se ela fosse uma de nós. Ela não é uma criatura que se deve temer, é só uma garota.
- E se eu começar a gaguejar?
- Foi por isso que você bebeu um copo de whisky, e vai tomar mais um – ele puxou outro copo da bandeja e me empurrou – Álcool ajuda a deixar a gente mais solto, sem vergonha de coisas que sóbrio não faríamos – assim que ele disse isso, virei o copo de uma vez só – Ok, vamos com calma, nenhuma garota gosta de garotos vomitando no pé delas.
- O que eu devo falar pra ela?
- Fale sobre o que você quiser, mas certos tópicos são proibidos, como aulas, provas, tempo, doenças, outras garotas – ele apoiou as duas mãos nos meus ombros e me encarou sério – Nunca fale sobre outras garotas com uma garota, nem mesmo se for sua irmã. Alias, nunca mencione parentes num primeiro encontro.
- Ok, entendi. Posso falar sobre a festa?
- Sim, pode! – ele sorriu animado – Viu? Já está entendendo. E quando ela começar a falar, não interrompa. Deixe que ela fale a vontade e sempre, SEMPRE, concorde e sorria. Ela pode estar falando sobre a poeira do chão, mas você deve parecer interessado no assunto.
- Certo, fingir interesse.
- Eu vou até lá e vou apresentar você a ela, e enquanto eu me ocupo com a amiga, você convida ela pra dançar.
- Assim, do nada?
- Garotas que não estão acompanhadas esperam que alguém as tire pra dançar. Elas não estão aqui sozinhas porque ninguém as convidou, mas porque queriam estar livres para escolher. E garotas como a Claire gostam de poder. Você o tem agora. Ela pode comer na sua mão, se souber como conduzi-la até lá. Pronto?

Respirei fundo e fiz que sim com a cabeça, então ele indicou a direção onde deveríamos ir e o segui. Claire estava sozinha com uma amiga da Lufa-Lufa e conversaram em meio a risadas. Odeio quando garotas estão conversando e rindo, sempre tenho a sensação de que eu sou o motivo da piada. A conversa parou quase que instantaneamente quando Jamal parou ao lado delas, mas não pareciam chateadas, estavam sorrindo.

- Boa noite, senhoritas – Jamal falou todo sorridente e se virou para Claire – Você já conhece o Rupert? – e me puxou depressa para o lado dele.
- Sim, claro que conheço o Rupert – ela sorriu de um jeito que não conseguia decifrar e me encarou – Tudo bem, Rup?
- Natural... – Jamal cochichou de modo que só eu pude ouvir e depois se virou para amiga dela – Enquanto eles conversam, que tal uma dança? – e a garota aceitou de imediato, deixando Jamal conduzi-la para o meio da pista e segundos depois já grudar as mãos em sua cintura.
- Não sabia que ia vir na festa.
- Eu não podia perder, senão não poderia dançar com você – tomado pelo whisky de fogo, estendi a mão para ela.


Achei que ela ia me ignorar, mas Claire deu outro sorriso misterioso e pegou minha mão. Tentei não ser tomado pelo pânico e a conduzi para o meio dos outros casais. Ela já tinha as mãos em volta do meu pescoço, mas ainda estava incerto sobre o que fazer com as minhas. Olhei para Jamal e ele já estava beijando a menina. Não podia ficar ali parado feito um pateta, então coloquei as mãos na cintura dela receoso, mas ela não me afastou. Ok, fiz tudo que ele mandou, mas e agora? Eu deveria fazer o que ele estava fazendo? Aparentemente, sim.

- Seu amigo é rápido – ela comentou vendo Jamal e sua amiga se agarrando.
- É, rápido demais...
- Você é o oposto, não é? Ótimo, porque eu gosto de estar no controle.

Antes que pudesse reagir, Claire puxou meu pescoço pra cima dela e me beijou. Minhas mãos escorregaram na mesma hora, mas recuperei o controle delas e agarrei sua cintura direito, a puxando pra mais perto. Esperava que eu desse o primeiro passo, não ela, mas eu estava em uma festa beijando Claire Hendersen. Naquele momento, qualquer outra coisa que não estivesse relacionado ao ocorrido havia perdido a importância.

Monday, October 25, 2010


- Ei, Justin, hoje você está com fome hein! – Keiko comentou, enquanto Justin devorava o terceiro prato. Ele deu de ombros meio sem jeito, enquanto todos ríamos e ele bebia mais um copo de suco de abóbora.
- Ei, devagar ai garotão, sei que quer ser preparar para as Olimpíadas, mas assim é demais! – Jamal comentou rindo.
- Justin, ta praticando esportes demais, tadinho não come desde quando? – Eu falei rindo. Justin sorriu e olhou rapidamente para mim. Nossos olhos se encontraram e foi então que aconteceu.
Não sei se foi pelo jeito que ele me olhou, pelos próprios olhos, ou por algo maior e mais profundo. Mas eu conheci aquele olhar. Nossos olhares ficaram fixos, paralisados, um olhando profundamente dentro do outro.
Eu o vi correndo pela floresta. Primeiro corria normalmente, mas então, em uma explosão rápida, ele corria em quatro patas. Em seguida o vi voando pelas montanhas, no corpo de uma águia. Depois ele estava no meio de uma manada de cervos, em outro momento ele cheirava o ar, ele tocava o solo com as mãos e sentia seu pulsar. Eu via suas memórias.
E eu sabia que ele via as minhas.
Ele podia ver Avalon, ver o primeiro momento em que abri a barreira, manipulando as brumas. Depois ele viu Camelot surgindo no ar, viu minhas espadas brancas se formando. Ele viu o Poço Sagrado, viu o Trono, viu os dragões da ilha.
Nós ficamos sem fôlego, como se tivéssemos saído de dentro d’água. Justin deixou o garfo cair no prato com um barulho forte, enquanto eu derrubei um copo ao tentar levantá-lo, quando a ligação mental se desfez.
Todos nos olhavam surpresos e curiosos, sem entender nossos olhares assustados e surpresos. Então o olhar dele tornou-se assustado e preocupado.
- Justin! – Eu comecei a falar, mas ele levantou-se com pressa e saiu correndo pelo salão.
Eu levantei da mesa e corri atrás dele, deixando todos para trás curiosos. Vi os olhares de muitos em nós, mas não parei de correr atrás dele. Pouco me importava com os ciúmes e fofocas de qualquer um deles.
Era ele. Ele era o lobo daquela noite.
Por isso eu o conhecia. Mas havia algo mais, algo mais profundo.
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- Ei, na Arte pode confiar. E essas brumas vão nos esconder de todos. – Julian falou, quando estávamos apenas eu, ele e Justin na beira do lago, apertando a mochila no ombro. Era noite, a noite em que tivemos aquele contato mental. Naquele dia eu alcancei-o na saída dos grandes portões e o segurei. Nossos olhares se cruzaram novamente e eu pude ver o medo em seus olhos, como o de um animal ferido ou amedrontado. Eu apertei sua mão com mais força e ele pareceu querer soltá-la, mas relaxou. Foi quando Tuor e Julian nos alcançaram. Justin olhou para Julian e algo nisso me fez perceber que Julian sabia. Despistei Tuor e o tirei dali, dizendo que Justin tinha se lembrado de algo importante. Ele não acreditou, é óbvio, mas resolveu engolir, pois sabia que na hora certa eu explicaria tudo.
- Tudo bem, eu sei disso. – Ele falou e em seguida olhou para mim novamente. Eu esperava com antecipação pulsante. Então, diante dos meus olhos, Justin transformou-se em um lobo marrom. O mesmo que correra ao meu lado naquela noite. Agora eu sabia: os olhos do lobo e de Justin eram iguais, com o mesmo brilho. Eu me ajoelhei, pois o lobo ainda parecia ter receio, e estiquei minha mão para ele, como eu faço com os dragões. Ele cheirou o ar e se deixou acariciar, enquanto eu transmitia a ele minhas energias. Então aconteceu novamente. Houve um fluxo poderoso de energias, tanto de mim para ele, quanto dele para mim. E nos afastamos curiosos.
- Querem parar de fazer isso, se eu soubesse o que é. – Julian falou, catando as roupas de Justin. Eu me virei enquanto ele voltava a forma humana e trocava de roupa.
- Também quero saber. – Ouvi a voz humana de Justin falar, mas ainda sentia em sua voz a energia do lobo.
- Aqui não é lugar. Já que confiou em mim, confiarei em você. – Eu falei e fechei os olhos. Abri minhas asas e fomos envoltos por uma nuvem de plumas e luz, enquanto eu nos teleportava para Avalon.

Surgimos ao lado do poço e eu cambaleei cansada. Usar os poderes de Chronos para teletransporte, que eu às vezes chamava de dobrar o espaço, para três pessoas consumia muita energia. Chronos surgiu ao meu lado, me ajudando a me manter em pé e sorri para ele. Depois, estiquei a mão para o cais e enviei a barca para pegar minha mãe, que já esperava na margem. Quando eu estava em Avalon, eu era capaz de perceber em torno de 1km ao meu redor.
Eu ainda estava muito fraca e sentei na grama, enquanto mamãe chegava. Justin olhava surpreso para Chronos e meio admirado para mim. Ele se sentou ao meu lado e fechou os olhos, tocando meu rosto com as mãos.
Foi um toque macio e diferente. Era quente. Imediatamente eu senti minhas forças aumentando lentamente, e percebi que ele me passava suas energias. Eu me afastei antes que sugasse demais e notei que o cansara.
- Impressionante. – Ouvi mamãe falar. Eu e Justin saltamos meio encabulados com a proximidade. – Você tem poderes interessantes, meu caro Justin.
- Boa noite, senhora Chronos. – Justin e Julian responderam.
- Vocês sabem que podem me chamar apenas de Mirian. Então é verdade, o Guardião vive em você novamente.
- Guardião? – Julian perguntou. Notei como para Justin não era uma palavra nova, pois ele parecia pensar em algo.
- Sim, seus poderes são os de um Guardião, ou Shaman, como às vezes são chamados. – Chronos explicou, fazendo todos olharem para ele. – Sua família é antiga e o poder é passado de geração em geração, mas há muitos anos o poder do Guardião não surgia.
- Eu queria aproveitar e perguntar: quem é você? – Justin perguntou. Pelo seu olhar ele conhecia Chronos. Tivemos mais um contato mental, quando o vi perdido em um estábulo e Chronos apareceu para ele. Eu olhei sem entender para Chronos e ele sorriu.
- Eu já o procurei antes. Quando ele começou a desenvolver esses poderes, eu o procurei e tentei guiá-lo. Ele estava perdido e confuso, sem saber o que fazer, achando que havia algo de errado com ele. Eu lhe disse que isso era um dom, que seria usado para o bem, pois haveriam pessoas que precisariam de seus poderes no futuro. Mas na época não me apresentei, eu sou Chronos, um espírito antigo e patriarca da família. Sou o Guardião de Artemis, minha rainha.
- E eu devo agradecê-lo. Aquela sua visita conseguiu me acalmar e pude enxergar aquilo como um dom e não como uma maldição. Eu fico realmente agradecido. – Justin falou e vi como se sumisse um peso de seus ombros.
- Foi daquela vez que me mandou uma carta não foi? Uau, Chronos foi te visitar em pessoa! – Julian falou admirado.
- Mas eu não entendi como você percebeu a presença dele, Chronos, na época ele estava do outro lado do oceano.
- Minha querida, um dia você será capaz disso também. – Ele sorriu. – E também, eu o percebi, pois seus poderes são semelhantes. Vocês já notaram isso. Vocês dois são semelhantes, são companheiros, e possuem o mesmo tipo de poder e de espírito. – Assim que ele falou, nos olhamos novamente. Sentimos o fluxo de energia entre nós e consegui controlar para que não houvesse o contato mental.
- E precisam aprender a usar isso também. – Mamãe falou rindo, agora abraçada a mim. – Deixe-me explicar um pouco mais. A sua famíla, os Silverhorn, são uma família, ou clã, antigo de sua região. Sempre foram líderes de seu povo por possuir o poder de entender a natureza e usar seus poderes. Sua família é capaz de curar, proteger, controlar os elementos, se transformar e muito mais. São o que os indígenas americanos chamavam de shamans.
- E dentro de você há um espírito antigo. Não tão antigo quanto eu ou Arturia, mas muito antigo. – Chronos explicou. Eu e Justin ouvíamos ávidos e quietos.
- Mas por que em mim? – Ele perguntou.
- Porque será necessário. O espírito do Guardião surge sempre que há uma grande necessidade. Muitas vezes não para seu portador mas para as pessoas ao redor.
- E no momento há muitas pessoas precisando desse poder... – Julian entendeu, falando admirado. – Quero dizer, você descobriu seus poderes na mesma época que a Clara! Ela poderia precisar de sua ajuda para entender melhor sua condição e assim como você a aceitou como dom, fazer o mesmo. E agora temos a Arte!
- Eu... Eu fico muito instável às vezes e sinto como se você fosse mais um a me manter em equilíbrio. – Eu falei admirada. E era verdade. Desde que ele começara a conviver conosco, eu me sentia mais em equilíbrio. Achei que era devido à presença dos dragões em minha vida, mas era também dele. – Venha, quero que conheça Avalon.
- Está é a Avalon?! Até para nós ela é conhecida. – Ele falou admirado e só então deu-se conta de onde estava.
Nós o levamos para andar por Avalon, pois ele ainda não conhecia. Julian trabalhara muito comigo nos preparativos para o livro, então o deixei contar um pouco de sua história. Ele explicou que Arturia criara Avalon e sua barreira, mas há dois anos eu me tornara a nova rainha e agora Avalon era minha. Justin parecia a beira de um colapso e eu entendia bem o porque.
Avalon mexia com qualquer um com o mínimo de percepção mágica, pois a Ilha inteira parecia feita de energia pura. Para mim e para ele que tínhamos uma forte comunhão com a natureza e suas energias, pisar em Avalon era como receber um choque de energia. Eu pude reparar que ele notava o quão antigas eram aquelas construções e florestas. Ele ficou impressionado com o Poço Sagrado e disse que poucas vezes vira algo com tanta energia.
Quando subimos a colina para Camelot, ele ficou um tempo paralisado diante do Templo de Seph, impressionado pela energia daquele lugar. Eu quero ver a reação dele diante do Templo de Chronos ou do Trono, pensei com um sorriso.
Realmente, assim que entramos em Camelot e ele se viu diante do Templo de Chronos ele ficou paralisado, enquanto seus olhos transmitiam um encantamento intenso. Ele via o mesmo que eu, como daquele Templo simples parecia brotar todas as energias da Ilha e de seus arredores. Eu vi então lágrimas em seus olhos e soube que ele vira alguma coisa. Ele teve a mesma sensação diante do Trono de Arturia, só que mais intenso, tanto que ele cambaleou um pouco e apoiou-se na parede.
- Posso ter um minuto a sós com a Arte? – Ele perguntou. Eu entendi o que ele vira. Engoli em seco, enquanto o pedia que não revelasse nada. Julian pareceu curioso, mas seguiu mamãe que o levou de volta para a praça. Justin porém pediu que Chronos ficasse.
- Antes de mais nada, quero que veja também. – Ele falou e fixou seu olhar em mim. Então eu vi o que ele vira no Templo de Chronos, e senti um aperto no coração.
- Não... Ela não. Ela não merece. – Eu falei com lágrimas nos olhos. – Não posso deixar.
- Não, Arte. Você nada poderá fazer, isso será meu. Eu também preciso ficar forte e lutar para proteger aqueles que eu amo.
- Eles são muito importantes para você não é? Principalmente ela. Você gosta da Haley.
- Sim, eu gosto. Assim como são importantes para você. Você acha realmente certo escondermos deles o que pode acontecer conosco?
- É o melhor a fazer. Justin, imagine se contássemos a eles. Eles ficariam desesperados, teriam medo e o medo é o pior companheiro possível. E quanto mais se tenta fugir de algo, mais próximo se torna disso.
- Justin. – Chronos falou pela primeira vez. Ele sabia o que tínhamos visto. – Quero lhe propor algo. Não há muito que eu possa ensinar a Artemis no momento. Ela precisa desenvolver sozinha as próprias habilidades, antes de estar preparada para o próximo nível de seu treinamento. – Eu concordei, pois ele tinha razão. – Então eu te proponho o seguinte: quero que ajude Artemis a aprender a equilibrar suas forças e treine-a também. Você, e Clara, são os únicos dos amigos capazes de fazer com que ela use todos os seus poderes. Em troca, eu o treinarei pessoalmente.
Justin ficou admirado e surpreso, olhando para ele e para mim de olhos arregalados. Eu sorri para ele, encorajando-o e ele sorriu de volta. Depois dessa conversa e do que tínhamos visto, tínhamos um sorriso cansado.
- Eu aceito. Farei de tudo para ajudá-la, minha rainha. – Ele falou sorrindo para mim e eu corei com a implicância. – Mas apenas por um ano. Precisarei voltar a minha tribo para estar preparado.
- Estou de acordo. A partir de agora, então, você é meu novo pupilo. E treinará Artemis também. Há coisas que apenas você sabe e coisas que apenas ela sabe. Vocês tem muito o que aprender um com o outro. Você, Justin, tem o que é necessário para se tornar realmente forte: o amor. Ninguém é poderoso sem ele. Artemis é um exemplo disso. – Ele falou, me deixando vermelha.
- Eu concordo. No pouco tempo que convivi com você, Arte, eu reparei o modo como você é capaz de fazer tudo por aqueles que se importa. Eu admiro isso em você.
Voltamos para a praça central, onde mamãe contava um pouco sobre o passado dos Silverhorn para Julian, que ouvia interessado. Notei que algo surgia em sua mente, uma idéia talvez e fiquei curiosa. Justin anunciou que seria treinado por Chronos e Julian ficou de queixo caído.
- Você vai treinar com a Arte e com o Chronos?! Esse mundo é muito injusto! – Ele falou indignado, mas abraçando o amigo e a mim.
- Então você vai achar ainda mais injusto. Justin, como eu falei antes, seu clã tem o poder da cura. Eu aprendi muito nos anos em que desenvolvi meus poderes e aprendi muito com o próprio Dumbledore. Eu vejo em seu caminho muitas provações e vitórias e gostaria de perguntar: aceitaria aprender sobre cura e proteção comigo?
- Sim! – Justin respondeu, depois de ficar mais alguns segundos chocado e surpreso. Eu sorri para mamãe e ela me dirigiu um olhar feliz. Em um dia Justin conseguira se tornar o pupilo das duas pessoas mais poderosas que eu conheço. Uau!

Ele a desejava.
Ele não desejava apenas seu poder, sua coroa e seu reino. Mas ele a desejava como mulher. Ele desejava tê-la apenas para ele e sob o domínio dele. Queria ter seu corpo, seu rosto e seus olhos apenas para ele.
E ele seria capaz de tudo para tê-la.
Movido pelo desejo, tanto carnal quanto de poder, ele foi capaz de trair sua pátria e cometeu os maiores sortilégios.
Usando os poderes e conhecimentos a ele confiados como sacerdote, ele invadiu Avalon e derramou sangue em seu solo sagrado.
Rechaçado por Arturia, ele fugiu para cometer um sacrilégio ainda maior.
Usando magias proibidas e com o auxílio de outros bruxos e necromancers invasores, ele rompeu os lacres desse mundo, abrindo suas portas para outras dimensões.
Ele permitiu que os demônios e monstros de outra dimensão entrassem no mundo que Arturia lutara para proteger e criar.
Ele permitiu a vinda dos Abissais.
Mordred, o "mau conselho", iniciou a maior batalha que a Bretanha já viu em toda a sua história.


Esse texto foi finalizado quando perdi uma das pessoas que me ensinou sobre amor e amizade. Por isso eu dedico ele a minha avó, Maria Odila, por todos os ensinamentos e amor que você me deu.

Friday, October 22, 2010


Algumas anotações de Justin Silverhorn

Era noite de lua cheia e eu me sentia inquieto...Já havia feito tudo o que podia para me acalmar, mas nem mesmo o treino de trancabola, havia me cansado o bastante.
Olhei ao redor e vi Rupert e Julian ocupados tentando adiantar os deveres da semana, pois os treinos para as Olimpiadas, estavam deixando a todos com pouco tempo. Saí do salão da Corvinal e quando me virei no corredor, vi Pirraça se preparando para jogar um balão de água em um casal de namorados. Olhei-o fixamente e ele se virou para mim e sorri quando vi que ele tremeu ao me ver mexer a cabeça em negativa. Levantei uma sombrancelha e ele bufou irritado, voando em direção a uma parede e fazendo o balão de água estourar atrás dele.
Sai do castelo e corri em direção à floresta e logo eu corria em forma de lobo e me sentia livre. Corri por um tempo e logo me preparei para voltar ao castelo, queria ver Haley, quando ouvi o uivo de um lobo ao longe. Sabia que havia outro lobo pelos arredores, e queria saber se ele era apenas um lobo perdido ou algo mais. Corri em direção á floresta e deixei que o lobo tomasse conta de todos os meus sentidos e logo eu estava rastreando o lobo desconhecido.
Embrenhei-me pela floresta e corri rápido e de repente dei uma trombada com algo grande e peludo. Mexi a cabeça para clarear as idéias e logo vi o outro lobo assumir a posição de ataque. Olhei bem em seus olhos e o achei conhecido, vasculhei sua mente rapidamente e vi que era a Clara. Fiquei surpreso, mas logo sai logo de sua cabeça porque ela começou a ficar irritada. Optei por recuar bem devagar, e me transformar em humano para que ela pudesse confiar em mim e se acalmar. Entrei atrás da árvore e sai bem devagar, a reação do lobo amarelado foi a que esperei, ele me encarou no que pensei ser surpresa e também recuou para trás de uns arbustos e quando voltou, já era a Clara. Ficamos nos olhando um pouco e eu disse:
- E ai? Você vem sempre aqui uivar para a Lua?
- Não, isso não é a minha praia, mas parece ser a sua.- ambos sorrimos e escutamos uivos ao longe.
- Estes uivos não eram os nossos, somos mais afinados, este bicho parece estar em agonia.- ela comentou enquanto começávamos a andar pela floresta e conversar.
- Você é um lobisomen, Clara?
- Não sou um lobisomem em si, herdei a transformação em lobo do meu pai, no começo qualquer coisa que me tirasse do sério, fazia com que eu me transformasse e era perigoso, pois eu perda totalmnte a noção das coisas, mas com o tempo e treinamento adequado aprendi a controlar.
- Huum, quer dizer então que aquele papo sobre vocês garotas virarem bicho na TPM é verdadeiro? – brinquei e ela riu:
- Sim, nao provoque uma mulher na TPM, elas mordem. Mas e você? Herdou o jeito de lobo mau de quem?
- Bem, eu poderia demorar horas te explicando, mas acho melhor te mostrar uma coisa.
- Owww, não vem com este papo, conheço a sua fama, Touro Sentado.- e antes que ela falasse mais alguma coisa, eu me tranformei em corvo na frente dela e depois voltei á minha forma humana. Ela assobiou e disse espantada:
- UAU! Não sei se prefiro penas ou pêlos.
- Posso me transformar em qualquer animal de tamanho razoável. Quanto maior, mais magia utilizo. Só não fico muito bem quando me transformo em gato, as bolas de pêlo são indigestas, fico sentindo o gosto delas por uma semana, argh. – começamos a rir e eu continuei:
- Eu sou um transmorfo...- e quando vi o brilho divertido em seus olhos eu disse logo:
- Um transmorfo e não um transformista ok? Julian já me atormenta bastante com estas piadinhas.- ela me olhou de olhos franzidos:
- Que falta de senso de humor, Justin, e é uma boa piada. Hey, lembrei de uma coisa... Você por acaso é o lobo de estimação da Haley? Porque não sou eu que fico com a cabeça no colo dela pra ela coçar minha orelha e me dar comida. Amo a Haley, mas tudo tem limite, então só pode ser você não é?
- Sou apenas o lobo que ela alimenta, esta coisa de transformação entre espécies dá muita fome.- tentei ser evasivo.
- Mas ela fica muito tempo com você, e ela o adora...e considerando que vocês não se dão bem na forma humana...- ela pressionou e eu tentei mudar o jogo.
- Você já escolheu com quem você vai ficar?
- Ok, vamos mudar de assunt...- ela soltou um berro e caiu num buraco no chão.
- CLARA! Você está bem? Diga alguma coisa...- gritei iluminando o buraco no chão com a minha varinha:
- Eu estou bem, não é fundo, parece que caí numa sala abandonada.- pulei no buraco atrás dela, e iluminei o local. Era uma sala de bom tamanho cheia de teias de aranhas e alguns móveis velhos e quebrados, havia alguns potes de cerâmicas lacrados com cera numas estantes, muitos panos velhos comidos por traças, um heiro forte e mofo.
- Não quero ver o que tem ai dentro, pode ter algum bicho morto...O que será que é isso tudo?- Clara disse apontando ao redor com os braços.
- Parece com um abrigo de tornado, mas é tudo tão velho...Veja, nos lacres têm até brasões....Pode ser da época dos fundadores. – nessa hora ouvimos o uivo do lobo e parecia mais perto.
- Acho melhor irmos embora para o castelo e voltarmos aqui um outro dia, quando estiver mais seguro, parece que o Rex está nervoso. – disse Clara e concordei. Sai do abrigo e a puxei para cima, e começamos a andar em direção ao castelo.
- Er..Huum...Clara, quero pedir a você que não conte sobre mim aos outros...
- Aos outros ou à Haley?
- É complicado...
- Complicado é você continuar bancando o lobo manso só pra ficar perto dela. Acho que já está na hora dela saber sobre você. E você também quer isso ou não ficaria rondando o castelo esperando por ela. Na verdade você quer se dar bem com ela.
- Você está certa, mas por favor não conte nada a ela agora, deixa que eu conto, acho que ela se zangaria menos, ao saber por mim...
- Você gosta dela!- ela disse me encarando.
- Claro que sim, ela faz parte do grupo..- e ela me deu um tapa no ombro, dizendo:
- Você realmente gosta dela, por isso o medo dela saber que você está mentindo este tempo todo, bancando o terapeuta animal, mas já posso te adiantar uma coisa: ela vai ficar muito zangada com você. E eu quero ver isso de camarote.- ela riu divertida e eu acabei rindo com ela. Dei-lhe um leve empurrão dizendo:
- Tá com você! -
Começamos a correr e logo estávamos transformados em lobos e antes de sairmos da floresta, ouvimos os uivos agoniados novamente e ao trocar um olhar com Clara, concordamos silenciosamente que voltaríamos outro dia para descobrir quem era aquele outro lobo solitário.

N.Autora: um post escrito a 4 mãos e muitas risadas...

Thursday, October 21, 2010


Das anotações de Haley McGregor Warrick

Eu, Keiko, Arte e Lena estavamos disputando partidas de ‘purrinha’, um jogo que tio Gabriel no ensinou em uma de nossas viagens ao Rio de Janeiro, em que você pega palitinhos de dente, e a outra pessoa tenta adivinhar quantos você tem nas mãos, e estávamos bem distraídas, quando Clara entrou feito um tufão e disse:
- Se não bastasse o James pegando no meu pé, Zach acabou de me dar um ultimato: ele quer sair comigo. Mas agora eu não posso pensar nisso, tenho que pensar nas Olimpíadas, e isso serviu de desculpa por enquanto...O que eu faço?- largamos os palitinhos em cima da mesa e no pusemos ao redor dela:
- Respira fundo e desabafe, estamos aqui pra isso...Conte tudo, principalmente os detalhes mais picantes.- disse Keiko e Clara olhou feio, mas antes que ela resmungasse Lena disse:
- É, queremos ação, já estava ficando chato ver estas duas ai discutindo por causa de palitos de dentes.- disse Lena e eu respondi:
- Você só está reclamando porque começou a roubar no jogo e te pegamos.- e ela mostrou a língua e rimos, então Clara disse:
- Alooww! Meu momento de crise é mais sério.Podemos nos focar no que importa?
Corremos para o nosso dormitório onde teriamos mais privacidade e não demorou muito chocolates, e doces eram distribuidos em nossa roda de bate papo. Clara começou a falar sobre os garotos de sua vida, e comparavamos com os que estavam em nossas vidas e entre um comentário e outro dávamos muitas risadas, em dado momento Lena disse:
- Mas isso é bom não é? Ter dois garotos bonitos e legais interessados em você?
- Ah mas é o normal, sempre tem algum garoto interessado em alguma garota nesta escola, você sabe disso, tem saído com Justin. – disse Clara e eu me mexi desconfortável.
- Justin, embora seja incrível, é meu amigo.Não me dou bem com os garotos...
- Ah mas você não levou a sério, aquele papo da Vic não é? Ela é super enjoada e se acha a ultima bolacha do pacote.- disse Arte e ela nos contou rapidamente o que Victoire Weasley havia dito sobre Lena.
- Olha, não posso tirar toda a razão da sebosa. Você às vezes parece um cara.- disse Keiko franca e Lena estreitou os olhos:
- Antes parecer um garoto, do que um quadro do Picasso em overdose com esta tinta toda na cara. – e vimos as duas trocarem olhares tensos:
- Isso se chama maquiagem, ô garotão, e se você pelo menos soubesse como se chama não seria ‘um dos caras’, sacou?- e Lena se levantou irritada:
- Talvez eu devesse esfregar meu punho na sua cara, pra tirar o excesso.- e Keiko respondeu:
- Sou capaz de te deixar com o olho roxo, chamando a mamãe e nem vou estragar as minhas unhas.- e Keiko se preparou e nos pusemos na frente delas, porque ela iam brigar feio.
- Lena, a Keiko sabe lutar melhor que os garotos. Ela cresceu lutando com o Hiro e tendo nossos irmãos dando aulas de defesa pessoal a ela. – disse Arte e eu, enquanto Clara, que seria a única a conseguir segurar a Keiko estava na frente dela, dizendo:
- Acalme-se Kika, se você sair no tapa com ela ela vai estragar a sua escova e seu cabelo nunca brilhou tanto. Aliás, você podia fazer uma no meu, estamos em momento mulherzinha mesmo. – e vimos que Keiko se acalmou, e eu encarei Lena:
- Nós somos amigas, não deviamos ter estas confusões entre nós, é besteira. Lena, mesmo que você vá me odiar depois, estar arrumada não te faria uma descerebrada. E você não teria se incomodado tanto com o que a Vic falou, se não sentisse que no fundo ela possa ter alguma razão.
- E se você tem que amassar a cara de alguém, seria a da Victoire, porque você é uma garota bonita, e se melhorasse o visual só um pouco, ninguém teria nada que falar de você. Reconheça, algumas vezes todas nós queremos nos sentir bonitas. – disse Arte e Lena pareceu se render.
- E vou fazer isso como? Não temos nenhuma loja ou salão de beleza na porta ao lado.
- Mas nós temos a Keiko, que é a ‘personal stylist’ mais talentosa que conhecemos em se tratando de transformações e nunca deixaria uma amiga na mão.- disse Clara e Keiko olhou presunçosa e Lena disse:
- Desculpa dizer aquilo sobre sua maquiagem, eu exagerei.- e nos viramos sérias para Keiko que estava olhando as unhas e ao ver nossos olhares disse:
- Tá! Tá! Desculpa te chamar de garotão, seu cabelo é bom demais pra ser o de um cara. Sabe dá pra deixar ele bem bonito, e só com alguns retoques...
-Sério? Você pode fazer alguma coisa sem me deixar parecendo a Cruela Devil??
- Minha cara, eu sou Keiko, a magnifica, e eu posso transformar você numa princesa.
- Ai céus, ela fez a citação do Paolo do ‘Diário da Princesa’. Já está até com o olhar alucinado.- disse Arte e Keiko pegou uma escova e apontou para nós distribuindo as tarefas:
- Vamos lá garotas, temos uma transformação a fazer: esta noite morre uma pata, com perdão da palavra, e nasce uma princesa.
E Keiko se mostrou tão maluca quanto o cabeleireiro do filme, e o resultado pareceu ter valido a pena, pois no dia seguinte quando Elena entrou no salão para o café da manhã, vários garotos viraram seus pescoços para acompanhar os passos dela.

o-o-o-o-o-o-o

Hoje o sonho parecia diferente mas não era...Começou em um lugar enorme cheio de portas fechadas, que eu não conseguia abrir e depois me via perdida numa floresta densa e assustadora...Eu sentia os perigos, corria e acabava caindo em algum lugar escuro e ninguém me ouvia...Ao longe ouvi o uivo de um lobo e gritei chamando por ele, mas quando ele correu ao meu encontro, ouvi o som de uma armadilha se fechando e ele ganindo cheio de dor...

Acordei tremendo, e me levantei antes da hora, pois não conseguia mais ficar na cama sem me mexer e poderia acordar as meninas, que estavam cansadas por causa das seletivas, e hoje eu teria a minha última, Montaria, espero não cair do cavalo por causa do sono.
As seletivas estavam correndo bem, eu já estava classificada em tênis em duplas com a Lizzie, havia conseguido classificação em esgrima e no tiro esportivo.Hoje seria a seletiva para Montaria em equipes e individual. Nos reunimos na arena que tio Hagrid montou e após as explicações inciais e o percurso que deviamos fazer foram definidos. Notei que Julian estava conversando com Lizzie e Justin estava ao lado de Elena e ele tinha o braço em cima de seu ombro, e conversavam com as cabeças juntos e davam risadinhas. Parece que a transformação havia dado certo.
O professor tirou da arena os curiosos, e inicou as provas individuais e todos nós nos classificamos, alguns com pontuações melhores que os outros.
- Atenção todos! Como vocês sabem, os mais qualificados estão sendo escolhidos como treinadores de suas equipes e eu decidi que a senhorita Warrick e o senhor Silverhorn, serão so responsáveis pelos treinos da equipe de montaria, e vão determinar os competidores e suas provas. Tenho total confiança neles de que os cavalos estarão em segurança, e vocês também é claro. (rimos porque o tio Hagrid sempre se preocupa com os animais antes).
Nem preciso dizer que não fiquei satisfeita com a escolha dele, mas fiquei na minha. Justin se aproximou e após o constrangimento inicial, conversamos sobre o pessoal que achávamos que teriam melhores condições de trabalhar em equipe para competir, e fiquei pasma que ele não tinha idéias tão diferentes das minhas. Definimos a equipe que disputaria o o Cross-Country, onde os atletas competem numa corrida em terreno aberto ou acidentado. Diferente de uma corrida em estrada ou corrida em pista principalmente no percurso, que poderá incluir relva, lama, mata ou água, e no sistema de classificação, seria: eu, Justin, Elena, Julian, Thomaz e Kevin. Terminamos o treino e marcamos os dias de treinamento para que não se chocassem com os das outras modalidades.

Já era tarde da noite, e como eu não havia encontrado o lobo pelos arredores, resolvi ir para o estábulo escovar Perséphone, a égua que eu usaria para competir, mas quando cheguei no estábulo, havia luz e o som de alguém cantando algo baixinho, eram palavras diferentes e eu não as entendia. Aproximei-me devagar e vi que era Justin escovando a minha égua:
- O que você faz aqui? Esta égua é minha.- disse sem me conter.
- Esta égua é da escola, e eu a estou escovando novamente, ela merece, proque foi incrível hoje na arena. Ela gosta quando canto em cherokee, ajuda a relaxar.E eu vou montar o parceiro dela, Hades, não se preocupe. - de repente a égua bufou me reconhecendo e eu me aproximei dela dizendo:
- Hey menina linda, você foi muito bem hoje, te trouxe um presente.- e logo a égua mastigava a maçã, enquanto eu ficava perto de Justin.
- Porque você não está dormindo bem?- ele perguntou e eu disse:
- Acho que isso não é da sua conta.- respondi e me virei para acariciar a égua, ouvi ele respirando fundo e sufoquei um grito quando ele me virou de frente para ele e me segurou pelos ombros:
-É da minha conta, porque eu quero vencer, e isso não será possível se você ficar doente, pois você é a melhor amazona que temos. Quer você goste ou não, estamos nisso juntos, e se quisermos ter bons resultados, teremos que dar uma trégua nestas brigas infantis.
- Quem contou a você sobre isso? Julian?Elena?
- Ninguém me falou nada, mas não precisa ser muito inteligente para perceber que você não tem dormido bem. Com estes estes circulos pretos embaixo dos olhos, está parecendo um panda. Por favor, diga-me o que está havendo, talvez eu possa te ajudar. – olhei em seus olhos e pude perceber preocupação neles.
- Tenho tido pesadelos e acabo acordando antes da hora. Vou pedir à enfermeira alguma coisa pra dormir.
- O ruim das poções para dormir é que com o tempo elas perdem o efeito e sua falta de sono se tornará crônica, ou pior: você poderá se viciar, você sabe que isso não é bom.
- Sim, eu sei, mas não quero prejudicar a equipe ou os estudos, e para isso preciso dormir direito.
- São sonhos sobre o quê? Espera, deixe-me adivinhar: com seu namorado e o quão másculo ele fica naquela malha colante?- ele riu e acabei rindo também.
- A malha esquisita faz parte da luta greco-romana, seu bobo. E não, meus pesadelos não são com ele. Estou presa no escuro e ninguém consegue me ouvir...E várias outras coisas...- como eu fiquei calada, ele disse:
- Finalmente fiz você rir, ao invés de rosnar, estou melhorando nisso. Você vai dormir bem esta noite, Haley vou me assegurar disso.- ele disse com a voz rouca e meu coração bateu mais rapido pois ele continuava me segurando. Ficamos nos olhando por algum tempo e eu disse tentando ser engraçada:
- Ah é? Você vai cantar para mim também?- ele sorriu e antes que ele respondesse, ouvimos barulho e ele se afastou.
- Haley, cadê você?- e era Graham que nos encontrou e após me olhar sério, perguntou encarando Justin:
- Está tudo bem por aqui?
- Sim, estamos terminando de cuidar da Perséphone, me dá um minuto que vou levar isso lá dentro e vamos embora.- e sai quase correndo, levando as escovas usadas e não ouviu a troca de palavras entre os dois rapazes.

- O que você quer com a Haley, Silverhorn?
- Qual é McKay? Vai me dizer para eu ficar longe da sua garota?Não confia nela?
- Você é quem não me inspira confiança, ou você pensa que não percebi o jeito que você olha para ela? – os dois se encararam por algum tempo e Justin disse:
- Então você deve saber que olhar não tira pedaço. Ela gosta de você, porque eu não sei, mas gosta.
- Então aqui vai um aviso: Fique longe da minha namorada, Silverhorn. Posso ser extremamente protetor com o que é meu.- e Justin respondeu:
- Pois aqui vai um fato: Continue pensando assim, e é isso que vai fazer ela te chutar. A Haley não pertence a ninguém.
– quando Haley voltou notou o clima estranho entre os dois rapazes, puxou seu namorado pela mão, deu um aceno de despedida para Justin, e foi para o castelo.

Mais tarde, antes de me deitar, vi que na janela do nosso quarto havia um amuleto muito parecido com o que minha sobrinha Selene havia ganhado de Justin, porém este estava mais enfeitado e tinha várias contas coloridas, penas...Fiquei admirando-o por um bom tempo, até que ouvi o uivo do lobo, e acabei sorrindo, ao saber que ele havia aparecido. Não sei se foi coincidência ou não, mas eu dormi muito bem aquela noite.
Haley McGregor Warrick às 3:47 PM

Thursday, October 14, 2010


Desde que McGonagall havia me subornado para treinar a equipe de ginástica de Hogwarts eu andava sem tempo até para respirar. Acidentalmente ela despertou um lado meu adormecido há cinco anos que eu esperava não ter que ver outra vez, mas agora era tarde demais. Eu dormia e acordava pensando nos treinos, mal conseguia me concentrar nas aulas. Eu respirava ginástica. Não demorou muito para que eu percebesse que havia me transformado no meu antigo treinador, mas era tarde demais para reverter isso também.

Logo as meninas selecionadas pela professora Bones descobriram que eu não estava ali para brincar e que ia exigir muito delas. Aliás, eu mencionei isso no primeiro treino, emendando com um pedido de desculpas antecipadas por possíveis crises de choro que causaria em algumas delas. A maioria pareceu assustada o suficiente para sair correndo, mas ninguém desistiu. Estavam todas dispostas a encarar minha linha dura para conquistar uma medalha.

Todas eram muito dedicadas e aceitavam minhas sugestões e correções sem questionar, pois sempre que falava alguma coisa era para melhorar as apresentações. Não era difícil trabalhar com aquele grupo, mas é claro que toda regra tem sua exceção. De um grupo de quase 30 ginastas, apenas duas causavam problemas. Brittany e Ashley se recusavam a aceitar que eu estava mandando ali e faziam o que queriam, e eu deixava. Era engraçado vê-las errando, sem saber o que fazer para consertar. Brittany ainda levava jeito e não errava muito, mas Ashley era um desastre.

Estava quase começando um bolão para ver quando ela iria abrir o queixo nas barras assimétricas, mas achei melhor não dar corda e interferir, principalmente quando ela decidiu que ia participar da equipe de Ginástica Rítmica, que já estava formada e era capaz de manejar todos os aparelhos, coisa que ela não sabia. Passei uma semana tentando fazê-la entender que eu não ia deixá-la constranger toda a escola fazendo papel de palhaça em aparelhos que não sabia usar, mas o estresse final foi no treino de quinta-feira, depois que ela acertou a testa com tanta força na barra superior que ficou parecendo um unicórnio.

- Não! – disse enfática – Você não vai competir na Ginástica Artística.
- Não estou pedindo a sua permissão! – Ashley interrompeu minha passagem - Você não pode dizer no que eu vou competir!
- É ai que você se engana. McGonagall me deu total liberdade de treinar a equipe de Ginástica e isso me dá o direito de vetar quem não sabe o que está fazendo.
- Eu.posso.competir. – ela disse com os dentes cerrados.
- Não, não pode! – comecei a falar no mesmo tom de voz alterado dela – Você vai acabar cometendo um suicídio naquelas barras e eu não vou permitir isso! E também não vai competir na equipe de Ginástica Rítmica porque não tem controle nenhum com a fita e o arco! Não adianta nada quatro irem bem e uma estragar tudo dando um nó em si mesma com a fita!
- Você está me sabotando porque não gosta de mim, acha que McGonagall vai aprovar isso?
- É, você não é mesmo a minha pessoa favorita no mundo, mas antes da nossa inimizade, vem a minha equipe. Minha intenção é ajudar para que possamos ganhar medalhas e estou dizendo que se você competir junto da equipe, vai atrapalhar o desenvolvimento das outras. Se quiser pode ir reclamar com McGonagall e vamos ver quem ela apóia. Você é ótima com a maça e se quiser competir nessa equipe, terá que ser apenas com ela. É pegar ou largar, o que vai ser?

Ashley me fuzilou com o olhar, mas arrancou a maça na minha mão e saiu pisando duro pelo ginásio. Olhei para Keiko, Arte, Bela, Kaley e Blair me esperando sentadas no tatame com os aparelhos da coreografia e elas riram, mas ficaram sérias quando dei um sorriso perigoso.

- Ela me irritou, então se preparem pra sofrer hoje.

As cinco levantaram resmungando, mas se posicionaram para começar o ensaio da coreografia. Elas podiam se vingar de mim depois que trouxessem o ouro para Hogwarts.

ºººººº

O treino daquela quinta-feira havia sido o mais exaustivo de todos, mas mesmo depois de brigar com Ashley e quase torturar as meninas com o ensaio da coreografia, voltei ao ginásio depois das 20h. Aquele era o melhor horário, raramente alguém aparecia e ainda precisava praticar minha apresentação. Estava tão ocupada com os outros treinos e ajudando as meninas da equipe que não havia começado a pensar no que fazer. A única certeza que tinha era de que iria competir no Solo, onde eu me saia melhor.

Como havia previsto, o ginásio montado ao lado do campo de quadribol estava vazio. Perdi algum tempo parada no meio do tatame tentando elaborar alguma coisa, e então a coreografia da minha última apresentação naquilo me veio à mente. Havia cinco anos que não pensava nela e muito menos praticava, mas sabia que podia fazer. Imaginei a música na minha cabeça e comecei a relembrar os passos. Antes que percebesse, já estava repetindo a seqüência os saltos sem dificuldades. Não sei quanto tempo passei repassando os movimentos mentalmente e os repetindo no tatame, mas percebi que não estava sozinha quando encerrei a apresentação pela 5ª vez e alguém soltou uma exclamação de surpresa. Olhei para trás procurando o dono da voz na escuridão do ginásio e vi Zach sentado na arquibancada, uma bolsa e uma toalha ao lado dele.

- Não sabia que tinha companhia – falei sem graça, vendo ele se aproximar.
- E eu não sabia que você era tão boa assim! – ele parecia realmente surpreso – Onde aprendeu a fazer isso?
- Em algum momento entre meus 5 e 10 anos de idade. Fazia ginástica antes de entrar pra Hogwarts, mas parei porque não teria como me dedicar como antes estando aqui.
- É, sei como é. Comecei a fazer ginástica com 7 anos, depois de tanto mofar esperando que Kaley terminasse suas aulas para irmos para casa, acabei me rendendo e pedindo que minha mãe me matriculasse.
- Você também é muito bom. São poucos os garotos que tem a coragem de se inscrever na ginástica.
- Ah, isso é bobagem – ele deu de ombros, sorrindo – Ok, tem alguns aparelhos que não nos favorecem, mas não vejo nada de errado em boa parte deles.

Houve um momento de silêncio bastante constrangedor, em que tratei de me ocupar recolhendo minhas coisas para não parecer pior, e sabia que ele mantinha os olhos em mim. Merlin, por favor, não me deixe olhar para ele e estar com o rosto vermelho. É humilhação demais.

- Quer ajuda com isso ai? – ele estendeu a mão para pegar os arcos que tentava segurar junto com mais 500 coisas.
- Obrigada. Não posso deixar aqui ou tudo desaparece, o pessoal da Luta Greco-Romana é muito bagunceiro.
- Clara, o que você vai fazer no sábado que vem? – ele soltou de repente e deixei uma fita escapar – Temos visita a Hogsmeade e depois a festa e pensei...
- Por favor, não. – falei antes que começasse a pensar muito.
- Você nem me deixou terminar.
- Eu sei o que você vai dizer, mas não posso. Não agora – minha expressão era de quem tentava parecer estar tomando uma decisão difícil, mas eu já havia ensaiado isso – Preciso me concentrar nessas olimpíadas, pois deve ter percebido mais cedo que estou um pouco obcecada em vencer.
- É, deu pra notar depois que aquela menina do 4º ano começou a chorar.
- Pois é, eu preciso manter o foco nisso, não posso me distrair com nada. Pra falar a verdade, nem sei se vou a Hogsmeade. O ginásio vai estar vazio o sábado inteiro e posso aproveitar isso.
- Entendi, sem problemas – ele assentiu – Mas se por acaso eu lhe convidar para sair depois dos jogos, você não vai inventar outra desculpa?
- Não, prometo não inventar desculpas.
- Ok, então talvez eu lhe convide para alguma coisa... – ele fez uma cara pensativa e rimos.
- Tenho que voltar para a Sonserina, ainda não fiz o dever de Herbologia e o professor Longbottom está me vigiando.
- Vou ficar para treinar um pouco – ele foi rápido como um gato e me deu um beijo no rosto – Até amanha.

Virei de costas depressa, antes que a coloração do meu rosto me traísse e voltei apressada para o salão comunal. Eu ainda não estava pronta para lidar com ele e Thruston no meu pé, mas minhas desculpas agora tinham prazo para terminar e isso estava começando a me deixar em pânico. Acho que preciso de uma noite de terapia em grupo no dormitório feminino.

Friday, October 08, 2010

Namoro

Primeira semana de aula.

- Ei, Artemis. – Eu me virei no corredor, enquanto conversava animada com Clara, Keiko e Haley sobre a equipe de Ginástica. Era Stefan que veio falar comigo, sorrindo jovialmente para mim e para minhas amigas. Senti o coração pulando mais rápido.

- Oi, Stefan, tudo bom? – Perguntei, querendo bater nas garotas que abriam sorrisinhos.

- Oi, Haley, Clara e Keiko, como estão todas? – Ela falou rindo.

- Ótimas! Mas temos que nos apressar, vamos treinar um pouco agora. Arte não se atrase! – Clara falou, e as três saíram correndo com risinhos antes que eu pudesse fazer outra coisa. Droga, vou matar elas!

- Nossa vocês estão mesmo interessadas nas Olimpíadas. – Ele comentou.

- Sim, ainda mais com a Clara como treinadora. Ela tem espírito competitivo por todas da equipe.

- Nota-se, será difícil tê-la como treinadora. – Ele falou e eu concordei. Ficamos em um silêncio um pouco constrangedor, e ele começou a caminhar ao meu lado, acompanhando-me, lentamente, até o salão que Mimi reservou para os treinos da equipe. – Então, Arte, animada para o Quadribol também?

- Sim, bastante. Só espero que o John não invente coisas demais no último ano dele. E você, Stefan, como estão os treinos?

- Estão indo bem, acho que consigo ao menos uma medalha! Estou treinando principalmente para Ciclismo. Quero ganhar do Damon. – Ele deixou o desafio no ar e eu senti vontade de bater em mim, nele e no Damon.

- Que vença o melhor! – Eu falei e tentei apressar o passo. Ele me segurou o braço, calmamente e com ternura, e me fez me virar para ele. Encarei seus olhos com o coração batendo forte, mas sem demonstrar. Esperei que ele me beijasse ou algo assim, mas foi com decepção que o vi sorrir.

- Não vou deixar de lutar por você. – Ele falou e eu sorri, apesar de estar decepcionada. Mas então, ele me surpreendeu, e me beijou. E eu retribui o beijo, por alguns minutos, quando nos afastamos. – Arte...

- Sei o que vai me pedir. Ainda não sei, Stefan, me deixe pensar mais um pouco, por favor.

Eu falei e não esperei ele terminar de falar, sai correndo, vermelha e confusa.

Que droga, porque eu não consigo me decidir entre ele e Damon?!

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- Também, era de se esperar, você está gostando dos dois, é normal ficar confusa. – Tuor falou, após o baque seco da flecha. – Uau, errou!

Eu tinha acertado perto do centro, mas muito ruim para minha mira. Eu descansei o braço do arco na posição de espera da arquearia e suspirei, enquanto Tuor pegava mais uma flecha para mim. Ele sempre me acompanha nos treinos de arquearia, assim como eu sempre o acompanhava em seus treinos de patinação, e treinávamos Natação junto de Clara e Rupert. Hoje estávamos sozinhos no campo de treinamento de arquearia.

- Isso me deixa irritada, que droga! Queria me decidir logo.

- Você sabe de quem eu sou a favor.

- Assim como eu sei quem as garotas querem que eu namore. – Eu falei incisiva e ele riu.

- Mas lembre-se: é você que tem que decidir.

- Não me diga! – Eu falei, atirando mais uma flecha. Dessa vez errei feio e ela acertou a borda do alvo. Tuor gargalhou e segurou minha mão, enquanto baixava meu braço junto de mim.

- Vamos lá, calma. Sei que vai saber quem escolher. Bom de qualquer forma, eu a apoiarei. – Ele falou, quando se afastou para eu dar mais um tiro. Dessa vez eu acertei no alvo com perfeição e sorri. – Viu? Não foi difícil! É só não ter pressa, tanto na arquearia quanto nos garotos.

Eu ri também, enquanto treinava mais alguns tiros. É incrível como ele consegue me acalmar. Cada dia mais o Tuor se torna mais importante para mim. Mas ele iria embora nesse ano. Eu tremi e disparei uma flecha longe, acertando o gramado. Baixei o arco querendo apagar isso da minha mente, enquanto Tuor sorria.

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Eu corria pela escola, ao redor do castelo, treinando para as competições de Triatlo, e aproveitava para pensar. Stefan e Damon.

Cada um deles tinha suas qualidades, mas também defeitos. Tinha vezes que eu preferia o carinho de Stefan, mas as vezes preferia a impetuosidade de Damon. Eu podia sentir que os dois gostavam muito de mim. Claro que eu me irritava com o Damon, pois se ele dizia que gostava tanto assim de mim, porque ele sai ficando com todas?

- Ei, pensando em mim, querida? – Levei um susto quando o ouvi se aproximando. Damon passou a correr do meu lado, sorrindo. Meu coração acelerou e não apenas pela corrida.

- O que foi? – Perguntei, direta.

- Oh, quanto carinho! Isso tudo é para esconder o quanto você gosta de mim, é? – Ele falou, e enquanto corria, tentou se aproximar de mim, mas me afastei e acelerei o passo. – Ei calma aí, queria falar com você.

- De novo, o que quer? – Eu falei e parei de correr. Eu mal parecia cansado e notei que ele também, quando parou diante de mim. Ele sorriu.

- Bom, soube que estaria treinando para o Triatlo e já que eu tenho que treinar para o Pentlato, resolvi aproveitar.

- Damon, eu quero treinar e você está me atrasando. – Eu falei, já me virando.

Então ele fez algo totalmente diferente do que Stefan tinha feito e que era bem típico dele. Ele segurou meu braço e me puxou, beijando-me longamente. Eu não o soquei como da outra vez e me entreguei ao seu beijo por um longo tempo, até nos afastarmos. Ele tentou me beijar de novo, mas eu me afastei e ele suspirou, enquanto pegava algo no bolso.

- Você é difícil mesmo hein? E viu como é melhor sem o soco?

- Se quiser eu posso te dar outro soco agora mesmo. – Eu ameacei, mas sorri. Ele esticou a mão e a abriu diante de mim. Era uma bonita margarida e eu a peguei com os olhos brilhando.

- Eu fiquei sabendo que você gosta de flores, então peguei essa nas estufas. Espero que goste.

- É muito bonita, obrigada, Damon. Até que você sabe ser gentil, hein? – Eu sorri e ele sorriu meio sem jeito, para depois sorrir mais atrevido novamente.

- Viu, tenho mais qualidades do que você imagina. – Ele respondeu, se aproximando de mim novamente. Dessa vez eu não fugi e aguardei, mas ele fez a besteira de falar. – E eu sabia que você não tinha começado a namorar o Stefan por minha causa.

Isso me fez o sangue subir na cabeça. Eu o afastei com um forte empurrão. Segurei a flor, pois ela nada tinha a ver com a idiotice dele, e sai pisando forte. Ele fez a coisa certa: não correu atrás de mim, pois então eu ia fazer ele engolir aquela flor.

Antes de mais nada, fui até a estufa e coloquei a margarida em um vaso.

Saí decidida pela escola, procurando a quadra de tênis, onde sabia que Stefan estaria. Ele estava lá realmente, treinando com John, quando me viu e parou me olhando curioso. A quadra estava cheia de alunos que treinavam tênis ou outras modalidades e esperei ele vir até mim.

- Arte, o que houve? – Ele perguntou, preocupado.

Eu o puxei então para mim e o beijei longamente na frente de todos, mas pouco ouvi das exclamações de todos. Stefan ficou um momento sem reagir, mas logo em seguida me beijou com vontade e passou a mão pela minha cintura, me abraçando forte. Meu coração batia loucamente, embalado pelo contato com os lábios dele. Damon foi apagado completamente da minha mente por aquele tempo em que Stefan me beijou.

- Quero namorar com você, Stefan. – Eu falei quando nos afastamos e me senti feliz ao ver os olhos dele brilhando, enquanto abria um largo sorriso, antes de me beijar novamente, enquanto me levantava do chão com um forte abraço.

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- Quer dizer então que o Damon te fez aceitar a proposta do Stefan? – Tuor falou, meio chocado quando eu contei para ele. Só faltava ele para saber da história, pois contara para todos que estava namorando com Stefan. A história do beijo de Damon, porém, só contei para Tuor e para as meninas. A novidade de que eu e Stefan estávamos namorando espalhou-se rapidamente pela escola.

- Exatamente. Não agüentei ouvir da boca daquele idiota que eu estava em dúvidas! E o Stefan é melhor para mim com certeza! – Eu falei baixinho, enquanto conversávamos no corujal. Já era de noite e todos jantavam no salão principal, mas arrastei Tuor até ali para contar para ele.

- Nossa, o Damon merece os parabéns. Mas, Arte... – Eu sabia o que ele ia falar, pois também me remoia. – Não acha errado começar o namoro apenas como um desafio ao Damon?

- Eu pensei nisso também, Tuor, mas quando beijei Stefan foi por vontade própria. E cá entre nós, ele demora um pouco para tomar atitudes.

- Ta bem, tenho que concordar. – Ele sorriu. – Mas sério, cuidado, porque você pode machucar tanto o Stefan quanto você.

- Eu sei disso, vou tomar todo o cuidado do mundo...

Ele sorriu e me abraçou, dizendo mais uma vez que me apoiaria.

No salão principal, sentei-me ao lado de Stefan e jantei com ele, Lizzie, John, Tuor, meus sobrinhos e Elena. Todos nos parabenizavam, enquanto eu e ele ríamos abraçados. Eu sabia que Damon nos olhava, mas fiz questão de não olhar para ele.

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A noite que havíamos combinado havia finalmente chegado.

Era uma conhecida tradição que os membros de nossa família sempre tentassem algo contra as regras da escola durante o início do ano. Meu pai e minha tia invadiram a Biblioteca em seu primeiro ano, meus irmãos foram para a Floresta no primeiro dia de aula, enquanto todos os meus tios tinham feito algo parecido.

Assim, eu, Luky e Bela tínhamos feito um acordo quando os dois entraram na escola a 2 anos atrás. Nós esperaríamos por Mina e Luthien, e quando elas finalmente estivessem na escola, faríamos finalmente nossa excursão Chronos pela escola.

Agora que eu era monitora, isso se tornara mais fácil, mas também mais perigoso. Eu podia andar livremente pela escola a noite, então foi fácil conseguir com que meus primos saíssem do salão sem que os outros notassem tarde da noite.

Havíamos decidido visitar a Floresta, até porque seria mais divertido e desafiador. Ah, decidi também não usar a minha cópia do mapa para deixar as coisas ainda mais desafiadoras.

Com as habilidades de Luthien e Mina, foi fácil sair do castelo sem que ninguém notasse, e assim que saímos para o brilhante céu noturno, foi como se estivéssemos livres. Vi o olhar alegre de meus sobrinhos enquanto respiravam o ar noturno. Olhei em volta, prestando atenção nas janelas, e dei o sinal, e nós cinco saímos correndo na direção da floresta.

A floresta era cheia de sons e nos embrenhamos por ela, indo cada vez mais fundo. Não tínhamos medo de nada, na verdade estávamos doidos para encontrar algo, a caçada está no sangue de nossa família. Apenas umas 2 horas depois decidi que deveríamos voltar e Mina indicou o caminho. Tínhamos ouvido o som de animais estranhos, o tropel dos centauros, visto teias gigantes, sempre muito animados e curiosos.

Mas foi um único lobo que chamou minha atenção. Ele correu ao nosso lado por um tempo, curioso e surpreso. Depois, quando paramos para olhá-lo, ele parou para nos olhar também, era de um marrom intenso e muito bonito. Era muito fofo o modo como ele inclinou a cabeça para o lado nos olhando curioso, mas assim que seus olhos se fixaram nos meus, ele sumiu na floresta. Tive a sensação de conhecê-lo e de que aquele lobo fugira justamente por isso: por eu ter tido essa sensação.

Sunday, October 03, 2010

Dragões

Lembranças de Artemis A. C. Chronos

O treino de hoje, e provavelmente de toda a próxima semana, não será em Avalon.

Desde que eu vi a Sala do Trono e vi aqueles dragões pintados junto aos símbolos da família e de Arturia eu adquiri uma certa obsessão por dragões.

Eu tinha certeza que Arturia era muito ligada a eles. Na verdade, eu podia ver isso em minhas visões do passado:

Desde criança, quando Arturia ainda morava na Grécia, ela tinha o dom de se comunicar com os animais, todos eles. Ela se comunicava com os cães do pai, com gatos, com pomorins, com pássaros, com corujas. Até mesmo com grifos e hipogrifos ela era capaz de se comunicar. Certa vez, quando ela e o irmão estavam em perigo ao andar por um bosque próximo da fazenda do pai, ela foi capaz de se comunicar com uma quimera e impedi-la de atacá-los. Em suas batalhas haviam sempre alguns exemplares de animais fantásticos, principalmente hipogrifos e é claro os dragões.

A primeira vez que ela viu um dragão foi quando tinha em torno dos 10 anos de idade. Era um filhote de um Chifres-Longos Romeno que seu pai havia apreendido de um mercador. O pai de Arturia pretendia devolve-lo para seu habitat natural, mas até lá, ele ficaria na casa dos Chronos. Arturia se apaixonou por ele e passou a tratar dele pessoalmente. De início o filhote teve medo e tentou atacar Arturia, mas ela não demonstrou medo e deixou-se machucar alguma vezes, até o dragão notar que ela nada faria contra ele e aproximou-se a ela. Então uma forte amizade surgiu entre eles. A jovem Arturia comunicava-se com ele com facilidade e logo o dragão cresceu e ela podia até mesmo montá-lo. A separação dos dois foi triste, mas Arturia em pessoa o levou até a Romênia, para que pudesse voltar aos seus semelhantes.

Desde então, Arturia sempre manteve uma forte relação de carinho e amor com os dragões. Ela conversou e domou todas as raças existentes, inclusive o temido Rabo-Córneo. Em algumas batalhas, ela montara um Negro das Hébridas ou um Sueco, seus dragões de “estimação”.

A ligação entre Arturia e dragões ia além do carinho e da amizade, era também uma questão de sobrevivência e confiança mútua. Arturia usava muito seus poderes mágicos, fosse para cura, para proteção ou para batalha. Suas reservas mágicas, como a de todos de minha família, eram enormes, mas esgotavam-se com facilidade, uma vez que as magias que ela realizava eram poderosíssimas. Então, ela necessitava muito de sangue de dragão, pois naquela época um dos poucos usos conhecido era o de equilíbrio mágico. Porém, Arturia recusava-se a machucar qualquer dragão e justamente por isso, o sangue de dragão que ela recebia era diferente. Ele era dado pelos dragões de bom grado. Espontaneamente, os dragões levantavam suas escamas e cortavam sua couraça para doar sangue a ela. O sangue doado por um dragão é ainda mais poderoso do que o sangue comum, uma vez que revelam a confiança e o amor do dragão. Ao ser diluído com a água sagrada do Poço, aquilo se tornava uma poderosa mistura para ajudar Arturia a manter seus níveis mágicos em equilíbrio.

Então, como daqui pra frente eu iria consumir muito minhas reservas mágicas, era a hora de eu me tornar amiga de um dragão.

O governo de Arturia foi o primeiro a unificar as ilhas da Grã-Bretanha, em um reinado de justiça e relativa paz, que durou quase 120 anos. Durante todo esse tempo, Arturia não mediu esforços para proteger a população de sua querida terra e enfrentou invasores e traidores para dar a seu povo a paz que mereciam. Os dragões eram vitais e importantes para Arturia, e eles também a seguiam em batalha, de modo que necessitavam de cuidados e tratamentos. Uma família em especial, os Mcfust, sempre tiveram um carinho especial pelos dragões. O primeiro Mcfust foi o tratador de dragões de Arturia, um de seus fiéis guerreiros e seguidores. Ao finalmente conseguir alcançar a paz que almejava, Arturia recompensou todos aqueles que lutaram ao seu lado. Pelos serviços e pela lealdade dos Mcfust, Arturia concedeu a eles as Ilhas Hébridas e deu a eles o importante cargo de tratar dos Dragões Negros, a principal raça usada por ela. Além deles, os Focinhos Curtos Suecos eram treinados e tratados pela própria família Chronos, mas esses em menor quantidade.

Eu não sei me comunicar com animais, mas tenho outro dom que percebi desde que comecei a treinar em Avalon: tenho a capacidade de sentir a energia do mundo. Eu sou capaz de perceber o fluxo de energia no ar, na terra, na água, no fogo, na luz, até mesmo nas sombras. Isso me permite compreender com facilidade animais e plantas, além de pessoas. Também me garante um domínio mágico elevado, além de me permitir moldar tais energias. Por isso sou boa em Transfiguração! Acredito que isso me permitirá entrar em contato com os dragões, pois eles são seres repletos de sabedoria e energia, em comunhão com a natureza.

Tia Morgan era descendente dos Mcfust, sendo herdeira das Ilhas e do tratamento dos dragões. Por séculos sua família tratou e cuidou dos dragões, desenvolvendo por eles um carinho cada vez maior. Os dragões também os respeitavam e amavam, convivendo pacificamente com eles. Papai sempre me disse que Morgan, Carlinhos, e seus filhos, sempre foram muito queridos pelos dragões. E se eu queria tanto conhecer os dragões, era a eles que eu deveria recorrer.

Então, para saciar minha curiosidade pelos dragões, Tia Morgan, mãe de Lizzie e John, permitiu que eu fosse visitar as Ilhas Hébridas, onde eu poderia conhecer os dragões. Ela, porém, falou que apenas eu poderia ir, para evitarmos de causar estresse nos dragões, isso deixou meus amigos indignados, mas ela disse que depois tentaria levar todos.

Assim, na manhã de um sábado bem cedo, meus pais foram me buscar em Hogwarts e aparataram comigo para as Ilhas Hébridas. As ilhas eram uma reserva dos dragões onde eram tratados e protegidos, inclusive de comércio ilegal de produtos obtidos através deles.

- Seja bem vindos! – Tio Carlinhos nos recebeu no porto da ilha principal. A única maneira de se chegar às ilhas é de barco, pois há uma poderosa barreira envolvendo-as que impede aparatação e também vôos, para impedir de intrusos entrarem e dragões saírem da ilha. Senti orgulho do trabalho realizado pelos Mcfust ao longo dos séculos.
- Muito obrigado novamente, Carlinhos. – Papai falou, abraçando-o com um sorriso.
- Imagina, é um prazer recebê-los. Então, curiosa pelos dragões? A primeira vez que Haley veio aqui, ela quase desmaiou.
- Ela já me contou! Estou muito entusiasmada! – Eu falei sorrindo também.

Tio Carlinhos nos acompanhou pela estrada de terra que ia do porto até a casa deles, que era também a sede da reserva. Tia Morgan já nos esperava na porta, sorrindo. Ela vestia uma roupa diferente, igual a que Tio Carlinhos usava, e imaginei que era uma roupa especial para tratar dos dragões. Além deles dois, haviam outros bruxos e tratadores nos arredores. Notei que um grupo de 10 pessoas, contando comigo e com meus pais, iria me acompanhar na visita. Isso era necessário, pois os Negros das Hébridas são mais agressivos que os Gauleses.

- Arte, sua mãe já me contou que você quer realmente se aproximar de um dragão. – Tia Morgan começou, enquanto caminhávamos por um das trilhas que saiam da sede.
- Sim, gostaria muito.
- Isso é muito perigoso, Arte, se eles a conhecessem eu poderia deixar, mas eles vão ficar receosos com a sua presença. Mesmo que estejamos com vocês, eles podem se tornar perigosos, por terem medo de vocês.
- Eu sei que posso acalmá-los.
– Falei segura.
- É arriscado. – Tia Morgan começou, mas Tio Carlinhos gargalhou.
- Querida, vamos deixá-la tentar. Vamos levá-la para alguns dos filhotes. Eles são ariscos, mas ao menos é mais fácil de lidar com eles.

Morgan concordou, principalmente depois de papai deixar claro que iria me proteger. Papai é um pouquinho mais rápido que um filhote de dragão... O grupo então, com Carlinhos na frente, seguiu na direção de umas montanhas da ilha. Ainda não tínhamos visto um único dragão, mamãe me explicou que pelo horário eles ainda estariam descansando, aquecendo-se sob o sol matinal. Mas eu podia sentir a vibração no ar e na própria terra devido a presença daqueles seres tão poderosos.

- Os dragões costumam deixar sua ninhada ali. Recentemente uma das ninhadas nasceu. A mãe anda muito arisca, mas ela também tem estado cansada e machucou-se ao lutar com um macho. Vamos aproveitar para tentar sedá-la e cuidar dela enquanto você se aproxima dos filhotes. – Morgan explicou.

Assim que chegamos perto da montanha, pude vê-la e eu senti a respiração ficar perdida em meu peito. Ela era linda.

A mãe dragão tinha pelo menos oito metros de comprimento e era de um negro profundo. Suas cristas eram brilhantes e afiadas, assim com os dentes que ainda apareciam para fora da boca. Ela estava enroscada em torno de algo, enquanto soltava fumaça pela narina, com as asas fechadas sobre si. Seus olhos púrpuras estavam fixos em nós e ela emitia uma espécie de rugido baixo como aviso. Apesar de eu sentir que ela amava seus tratadores, ela estava assustada e preocupada com seus filhotes. Então notei que ela tinha uma ferida feia na cauda, e uma de suas asas também tinha um rasgo, além de um enorme arranhão no pescoço. Eu senti compaixão e pena por ela, e minha vontade de chegar perto foi ficando cada vez maior.

Carlinhos, junto do restante dos tratadores, sacaram as varinhas e apontaram para ela, disparando feitiços sedativos na direção de seus olhos. Ela rugiu enfurecida e cuspiu uma labareda de fogo, sem sair do lugar para proteger a ninhada, enquanto eles protegeram-se com escudos mágicos. Eu estava paralisada observando aquilo. O modo como o fogo saia de sua boca era magnífico e eu podia sentir a energia que ela possuía.

Meus pais ajudaram e após alguns minutos de disparos de magia, a mãe finalmente caiu lentamente no chão, fechando os olhos totalmente sedada. Morgan e mamãe correram para o ferimento na cauda, enquanto o restante do grupo concentrava-se em preparar curativos e tratamentos para a asa e para o pescoço. Tio Carlinhos e papai me indicaram o caminho a frente e me aproximei devagar. E os vi.

Eram três filhotes, do tamanho de um labrador adulto, de uma cor meio acinzentada, com olhos de um azul profundo. As suas cristas não passavam de pequenos esporos e eles olhavam assustados para a mãe e para nós.

Nos aproximamos devagar e paramos do lado da barriga da mãe. Carlinhos ficou olhando de longe, e eu e papai avançamos devagar. Eu ia tentando me comunicar com eles, sentindo suas energias e a alma deles. De início eles rosnavam para mim, mostrando os dentes ameaçadores, mas depois eles me olharam confusos, não reconhecendo em mim uma ameaça e sem saber como eu podia entendê-los.

Não que eu escutasse seus pensamentos ou algo do tipo, era mais como uma sensação. Era como se eu conseguisse tocar e sentir a alma deles, sentir a energia que fluía por seus corpos. Um deles, mais curioso que os demais, veio em minha direção e achei lindo como ele dava pequenos saltos, ainda sem conseguir sustentar o peso completamente. Suas pequenas asas batiam lentamente, de curiosidade.

Eu prendi a respiração enquanto esticava a mão a frente. O filhote cheirou minha mão, com a mandíbula perigosamente perto de mim. Seus intensos olhos azuis fitavam dentro dos meus e por fim ele deu mais um pulinho a frente, esfregando a cabeça em minha mão, feliz com o carinho. Tio Carlinhos urrou de alegria, enquanto papai respirava aliviado. Os outros dois filhotes aproximaram-se mais confiantes e pediam minha atenção e meu carinho. Eu ria muito enquanto os acariciava, e quando vi estava sentada no chão, abraçando-os e acariciando-os.

Reparei quando os efeitos do sedativo da mãe diminuíram, na verdade, percebi antes dos demais. Fiquei alerta, mas a mãe me olhava curiosa, com os imensos olhos púrpuras fixos em mim. Ela já não parecia com raiva ou com medo, então me aproximei do seu rosto. Os tratadores ficaram meio tensos, mas eu os acalmei. A cabeça dela era enorme, maior do que eu, mas me aproximei sem demonstrar medo, apenas curiosidade e preocupação. Os filhotes me seguiam, com as pequenas asinhas batendo de excitação. Eu encostei as duas mãos entre as narinas dela e ela fechou os olhos como agradecida, enquanto eu deixava minhas energias fluírem para ela. Chronos estava as minhas costas, sorrindo, e o vi acariciando-a também. Depois, eu fui até o ferimento no pescoço, e me abaixei ao lado de Morgan. Estiquei as mãos para a ferida e deixei minhas energias fluírem para o ferimento, imitando os movimentos de mamãe e Morgan. As duas ficaram surpresas com a facilidade com que aprendi, pois partículas de luz dourada saiam das minhas palmas e fluíam para o dragão. Senti-a relaxando, agradecida pelo fim da dor. Os filhotes agora estavam acariciando a mãe, escondendo-se entre suas patas e debaixo das asas. A mãe fechou os olhos lentamente, descansando, mas não sem antes me lançar um longo e profundo olhar.

Todos me parabenizaram, admirados com minha coragem e com a facilidade com que lidei com eles. Enquanto íamos para o grande território dos dragões, contei como me comuniquei com eles e papai me mostrava as fotos que tirara orgulhoso, deixando-me vermelha enquanto via meu eu na foto brincando com os filhotes.

Finalmente, após dobrar uma curva na montanha em um vale, chegamos a grande planície dos dragões e eu fiquei sem fôlego. Por quilômetros a minha frente estendia-se uma planície cheia de vida. As árvores eram grossas e antigas, cheias de poder e energia. O sol brilhava com força e eu podia ouvir uma cachoeira ali perto, imaginando a beleza de sua queda. Mas a coisa mais bela era a quantidade de dragões. Eram muitos, talvez uns 30, o restante estaria nas ilhas menores que compõem o arquipélago. Alguns planavam pelo céu, outros estavam deitados preguiçosamente na grama. Alguns alimentavam-se de enormes porções de carne deixadas pelos tratadores. Outros mediam suas forças, a maioria deles jovens, e pareciam brincar.

Então ouvimos um rugido e um grande macho pouso do nosso lado. Todos nos assustamos e sacamos as varinhas apreensivos, mas ele nos olhos e simplesmente deitou, acostumado à presença dos tratadores. Morgan sorriu, e esticou a mão, acariciando-o entre as narinas, enquanto ele emitia um som de felicidade. Eu pude senti-lo e seus olhos fixaram-se em mim. Ele conseguiu ver minha alma e soube que eu era amiga.

- Tia Morgan, qual o dragão mais velho que vocês têm na reserva? – Perguntei de repente.
- Hum... Acho que o velho Fidelus, ele vive aqui desde antes dos meus bisavós. Fidelus é Fiel em latim e desde sempre ele foi chamado assim. – Ela respondeu após pensar um pouco.
- Posso visitá-lo? – Perguntei, uma curiosidade em minha mente.
- Tudo bem. Ele costuma ser bem calmo. – Carlinho falou nos guiando para uma montanha próxima ao mar.

Ele explicou que Fidelus era tão antigo que todos os dragões o respeitavam, apesar de já não ser tão poderoso como antigamente. Ele vivia em uma gruta própria perto do mar. Assim que chegamos perto, eu soube que era ele que eu procurava. Sua gruta ficava na direção em que Avalon se localizava.

Ele estava a nossa espera, deitado sobre as quatro patas com a cabeça virada em nossa direção. Seus olhos imediatamente fixaram-se em mim e vi que brilhavam de alegria. Ele também olhou às minhas costas, para Chronos, e seus olhos brilharam ainda mais. Ele soltou um rugido alegre e veio em nossa direção. Os tratadores se assustaram, sacando as varinhas, mas os parei. Eu vi que com aquele intenso olhar, o dragão era capaz de ver minha alma, me entendendo perfeitamente.
- Fiquem calmos. – Eu falei e fui na direção do dragão.

O imenso dragão parou perto de mim, os olhos ainda brilhando, e sua enorme cabeça chegou perto de mim e ele fez algo que eu jamais esperei. Ele me lambeu!

Sua língua, que não era das coisas mais cheirosas do mundo, roçou meu rosto, mas em vez de eu sentir nojo, eu achei divertido e gargalhei. Acariciei seu focinho com carinho, enquanto ele parecia à beira de explodir de felicidade.

Era ele um dos últimos dragões de Arturia e era extremamente antigo. Ele ainda era um filhote quando Arturia morreu, mas era da ninhada do dragão que Arturia montou em sua guerra contra Mordred, Percivilis. Mas ele ainda se lembrava do carinho e do amor que Arturia tinha por ele, de como ela o criara e tratara dele desde que saíra do ovo. E ele me reconhecera como sua herdeira e alegrava-se por eu ter voltado, por ter trazido de volta Avalon.

Só voltei para Hogwarts no final da tarde, meio a contra gosto. Ao longo de todo o dia, Fidelus me seguiu, carinhoso e prestativo. Eu estava admirada com ele. Ele era um animal cheio de força, de energia, de poder e de sabedoria, com o conhecimento de centenas de anos. Eu estava apaixonada por ele, e por todos os demais dragões. Os tratadores estavam admirados e logo me permitiram caminhar livre pelos campos, ainda mais com Fidelus ao meu lado. Quando me despedi, prometi a Fidelus que voltaria para vê-lo e pedi para que Morgan e Carlinhos me deixassem visitá-lo pelo menos uma vez por semana. Fidelus me deixou ir, mas senti em minha alma como se ele falasse “não demore, senti sua falta”. Meus olhos ficaram cheios de água ao perceber esse carinho.