Friday, October 29, 2010 Uma semana antes do Dia das Bruxas. Com o fim de Outubro se aproximando, a atmosfera no castelo se resumia a apenas duas coisas: Hogsmeade e Halloween. Nosso primeiro fim de semana no vilerajo era no próximo sábado e no mesmo dia, à noite, teríamos o banquete de Dia das Bruxas tradicional da escola. Comemoraríamos um dia antes, já que o dia 31 em si cairia em um domingo e não tínhamos autorização para grandes festas em dias que não fossem sextas ou sábados. Ao menos não oficialmente. Os alunos do 3º ano estavam ansiosos por poderem deixar o castelo pela primeira vez, mas o que deixava nossa turma do 5º ano realmente ansiosa era a festa pós-banquete. Uma festa não-oficial, na Lufa-Lufa, onde apenas alguns alunos de outras casas eram convidados. Nossos convites estavam garantidos, já que MJ havia se tornado o DJ oficial da casa e não nos deixaria de fora, e dada convidado tinha direito a um acompanhante, mesmo que ele não tenha sido convidado. Todos já estavam começando a se movimentar para convidar alguém e eu não estava saindo do lugar. Na verdade, não sabia o que deveria fazer, já que não conseguia falar com nenhuma garota sem gaguejar e fazer papel de idiota. - E ai, Rup! – Jamal sentou do meu lado no muro do pátio – Bela vista. - O que? - Claire Hendersen – ele falou e senti meu rosto corar – Percebi que estava olhando pra ela ainda do outro lado do pátio. - Está tão na cara assim? - Não, é que eu capto um olhar com segundas intenções de longe. É um dom – ele riu – Está pensando em convidar ela pra festa dos lufanos? Tem o meu apoio. - Não, sem chance. Não sei nem como chegar até ela sem parecer estúpido. Meu limite é “Oi, Claire”, e com muito custo. - Você está dizendo que não sabe como falar com uma garota? – Jamal pareceu chocado – Você, que é amigo de Jamal Coleman Shacklebolt, não sabe chegar numa menina? - É muito esquisito quando você se refere a você mesmo na 3ª pessoa. - Cenoura, isso é um absurdo! Diria até pecado. - Não posso fazer nada se sou tímido e não tenha essa facilidade que você tem de falar com as pessoas. - Claro que você pode fazer alguma coisa! Aliás, eu posso fazer muita coisa pra ajudar – ele passou o braço ao redor do meu ombro e apontou a mão livre pro jardim à nossa frente – Há um mundo que você ainda não conhece e eu, na condição de seu novo melhor amigo, vou apresentá-lo a você. - Do que está falando? - Estou falando do novo Rupert que está para nascer. Não vou convidar ninguém para a festa na Lufa-Lufa, e obviamente nem você. Vou como seu wingman e vou lhe ensinar como pegar uma garota. Você é meu pupilo agora, Cenoura. E vou transformar sua vida, pode ter certeza disso. Jamal continuou apontando para o que deveria simbolizar o horizonte e me peguei olhando para onde sua mão indicava com uma expressão pensativa no rosto. Não sabia se aquilo ia funcionar, mas se eu não tinha absolutamente nada a perder, por que não tentar? ºººººº 30 de Outubro, véspera do Dia das Bruxas. O banquete de comemoração ao Dia das Bruxas ainda não havia terminado, mas os buracos nas mesas das casas começavam a ficar notáveis. A mesa da Lufa-Lufa era a mais desfalcada. Quase nenhum aluno do 3º ano pra cima estava sentado nela, e absolutamente nenhum do 7º se encontrava no salão principal. A segunda mesa mais desfalcada era a da Sonserina, e notei que meus amigos já não estavam mais lá. Jamal era o único que havia ficado para trás e vi quando ele entregou algo a Penny, levantando em seguida e caminhando na direção da mesa da Corvinal. Justin e Julian levantaram assim que ele chegou. - Vamos deixá-lo sob os seus cuidados, Jam – Julian deu dois tapas em suas costas e os três riram – Cuide bem do nosso menino. - Vocês deixam um menino, mas eu vou devolver um homem – eles riram ainda mais e Jamal agarrou a manga da minha camisa, me puxando com uma força que eu não conhecia – Vamos, Cenoura! Já estamos atrasados para a lição numero um. - Qual é a lição numero um? - Reconhecimento da área de caça. - Boa sorte, Rup! – Julian gritou enquanto Jamal me arrastava pra fora do salão, ele e Justin com um sorriso debochado no rosto. - Esperamos que não volte cedo hoje, mas se chegar primeiro, deixe uma meia na porta pra sabermos se devemos entrar ou não! – Justin gritou mais alto ainda. Eles iam pagar por isso. Não sabia como, mas iam. Jamal parou de me arrastar e passou a caminhar ao meu lado, e ia me dizendo o que íamos fazer quando chegássemos à festa. Basicamente, íamos ficar parados em um canto por alguns minutos e apenas observar a movimentação. Um aluno do 2º ano estava plantado na entrada do salão comunal do lado de fora e ia checando uma lista de nomes. - Algum acompanhante com vocês? – ele perguntou vendo que estávamos sozinhos. - Nossas acompanhantes estão ai dentro – Jamal respondeu. - Quem são elas na lista? – ele consultou o pergaminho parecendo afobado. - Como vamos saber? Nem nos deixou entrar ainda pra ver quem está ai. - Como? - Você ainda é muito novo pra isso – Jamal bagunçou o cabelo dele e tive que segurar o riso – Podemos entrar ou não, amigo? O garoto parecia confuso, mas disse a senha e uma pintura se moveu, revelando uma passagem arredondada. Quando entrei no salão comunal da Lufa-Lufa, tive a sensação de estar entrando em um imenso barril. Tudo lá dentro era arredondado, até mesmo as poltronas. As cores da casa, amarelo e negro, predominavam em todos os móveis, cortinas e quadros. Já tinha bastante gente lá dentro e vimos nossos amigos conversando de um lado, mas antes que pudesse ir até lá Jamal agarrou meu braço e me guiou até o canto oposto. - Nada de interagir com a galera, hoje você está aqui com outro propósito. - Não vamos nem dar um olá? - Você já falou com eles hoje, eles superam se ignorá-los um pouco – Jamal pegou dois copos de uma bandeja e colocou um na minha mão – Beba um pouco, você precisa relaxar. - Isso é whisky de fogo – cheirei o copo e fiz uma careta. - Só beba, não vai matar – ele ficou me encarando e não tive escolha senão beber. Era horrível – Está vendo esses grupinhos de meninas espalhados? – fiz que sim com a cabeça, ainda tentando me acostumar ao gosto da bebida – Nunca faça um movimento com elas nessa formação. Você precisa separar o alvo do bando. - Isso é lição mais avançada, você ainda não está pronto. Hoje vamos caçar as duplas, uma pra cada. - Ok – engoli o resto do whisky, tentando disfarçar o nervosismo – E em quem eu devo me aproximar? Leslie? - O que? – ele riu – Não, muito fácil. Claire Hendersen. - Eu não posso chegar na Claire – agora quem riu foi eu – Ela é demais pra mim. - Não na minha turma – Jamal deu um tapa forte nas minhas costas e engasguei – Você vai terminar com especialização em gostosas. - Olhe pro Justin! – apontei para nosso amigo, já encostando uma menina contra a parede – Ele chegou segundos depois! Parece tão fácil assim, mas pra mim não é. Eu não consigo falar com ela sem gaguejar e parecer um idiota! - É a Victoire que ele está imprensando contra a parede, não foi tão simples – Jamal tentou me acalmar, mas não funcionou muito – Rupert, relaxa. Você só precisa agir com naturalidade. Converse com a garota como se ela fosse uma de nós. Ela não é uma criatura que se deve temer, é só uma garota. - E se eu começar a gaguejar? - Foi por isso que você bebeu um copo de whisky, e vai tomar mais um – ele puxou outro copo da bandeja e me empurrou – Álcool ajuda a deixar a gente mais solto, sem vergonha de coisas que sóbrio não faríamos – assim que ele disse isso, virei o copo de uma vez só – Ok, vamos com calma, nenhuma garota gosta de garotos vomitando no pé delas. - O que eu devo falar pra ela? - Fale sobre o que você quiser, mas certos tópicos são proibidos, como aulas, provas, tempo, doenças, outras garotas – ele apoiou as duas mãos nos meus ombros e me encarou sério – Nunca fale sobre outras garotas com uma garota, nem mesmo se for sua irmã. Alias, nunca mencione parentes num primeiro encontro. - Ok, entendi. Posso falar sobre a festa? - Sim, pode! – ele sorriu animado – Viu? Já está entendendo. E quando ela começar a falar, não interrompa. Deixe que ela fale a vontade e sempre, SEMPRE, concorde e sorria. Ela pode estar falando sobre a poeira do chão, mas você deve parecer interessado no assunto. - Certo, fingir interesse. - Eu vou até lá e vou apresentar você a ela, e enquanto eu me ocupo com a amiga, você convida ela pra dançar. - Assim, do nada? - Garotas que não estão acompanhadas esperam que alguém as tire pra dançar. Elas não estão aqui sozinhas porque ninguém as convidou, mas porque queriam estar livres para escolher. E garotas como a Claire gostam de poder. Você o tem agora. Ela pode comer na sua mão, se souber como conduzi-la até lá. Pronto? Respirei fundo e fiz que sim com a cabeça, então ele indicou a direção onde deveríamos ir e o segui. Claire estava sozinha com uma amiga da Lufa-Lufa e conversaram em meio a risadas. Odeio quando garotas estão conversando e rindo, sempre tenho a sensação de que eu sou o motivo da piada. A conversa parou quase que instantaneamente quando Jamal parou ao lado delas, mas não pareciam chateadas, estavam sorrindo. - Boa noite, senhoritas – Jamal falou todo sorridente e se virou para Claire – Você já conhece o Rupert? – e me puxou depressa para o lado dele. - Sim, claro que conheço o Rupert – ela sorriu de um jeito que não conseguia decifrar e me encarou – Tudo bem, Rup? - Natural... – Jamal cochichou de modo que só eu pude ouvir e depois se virou para amiga dela – Enquanto eles conversam, que tal uma dança? – e a garota aceitou de imediato, deixando Jamal conduzi-la para o meio da pista e segundos depois já grudar as mãos em sua cintura. - Não sabia que ia vir na festa. - Eu não podia perder, senão não poderia dançar com você – tomado pelo whisky de fogo, estendi a mão para ela. Achei que ela ia me ignorar, mas Claire deu outro sorriso misterioso e pegou minha mão. Tentei não ser tomado pelo pânico e a conduzi para o meio dos outros casais. Ela já tinha as mãos em volta do meu pescoço, mas ainda estava incerto sobre o que fazer com as minhas. Olhei para Jamal e ele já estava beijando a menina. Não podia ficar ali parado feito um pateta, então coloquei as mãos na cintura dela receoso, mas ela não me afastou. Ok, fiz tudo que ele mandou, mas e agora? Eu deveria fazer o que ele estava fazendo? Aparentemente, sim. - Seu amigo é rápido – ela comentou vendo Jamal e sua amiga se agarrando. - É, rápido demais... - Você é o oposto, não é? Ótimo, porque eu gosto de estar no controle. Antes que pudesse reagir, Claire puxou meu pescoço pra cima dela e me beijou. Minhas mãos escorregaram na mesma hora, mas recuperei o controle delas e agarrei sua cintura direito, a puxando pra mais perto. Esperava que eu desse o primeiro passo, não ela, mas eu estava em uma festa beijando Claire Hendersen. Naquele momento, qualquer outra coisa que não estivesse relacionado ao ocorrido havia perdido a importância. |