Wednesday, November 30, 2011


Depois que Arte acordou e voltou para a escola, as coisas em Hogwarts começavam a voltar ao normal, mas com algumas pequenas diferenças. Agora a segurança do castelo estava triplicada, para onde olhássemos víamos um auror passando, observando a movimentação. Eles não falavam com os alunos nem abordavam ninguém, mas estavam sempre presentes. Eram como estátuas vivas, de olho em cada movimento nosso. Embora saiba que eles estão ali para nossa própria segurança, confesso que me sinto incomodada. Nossa liberdade e privacidade havia evaporado com tantos olhos e ouvidos de Minerva McGonagall passeando pelos corredores.

A rotina de Arte aos poucos também voltava ao normal. Tirando o fato de que agora ela era seguida por quatro aurores particulares, continuávamos fazendo tudo como antes. Todos ajudaram a preparar vários cartões com informações úteis sobra sua vida, para que ela os carregasse no bolso e lesse sempre que tivesse tempo. Não tinha nenhuma grande revelação neles, apenas coisas simples, mas que se mostraram muito úteis em sua primeira semana de volta a Hogwarts.

Como boa parte de sua memória estava focada em nosso 3º ano, nos dividimos em grupos de estudo para ajudá-la a ficar em dia com a matéria. Como campeã no Torneio ela não precisaria fazer nenhuma prova, mas isso não significava que podia se formar sabendo menos que um aluno do 4º ano. Hoje era dia de estudar Herbologia com MJ, JJ e eu. Saímos juntas do Salão Principal depois do jantar, mas mal conseguimos chegar à escada. Foi tudo tão rápido que tudo que nem consegui reagir. James correu na nossa direção e agarrou minha cintura, Arte sacou a varinha, lançou o estupefaça e ele voou contra os degraus. Os aurores correram para perto dela, mas ergui as mãos gritando para não fazerem nada, enquanto corria até James.

- James! – bati em seu rosto de leve e ele abriu os olhos – Você está bem?
- Acho que bati a cabeça no degrau – um dos aurores se aproximou para ajudá-lo a levantar e Arte parou atrás de mim – O que houve?
- Você ia atacar ela!
- Não! Somos amigos agora, não lembra? Também sou monitor da Grifinória, como você – e apontou pro distintivo que tinha preso na capa – Não somos melhores amigos, mas nos damos bem.
- Desculpa... Não me lembrava disso.
- Ele vai sobreviver, só não o ataque outra vez, pode ser? – falei rindo e quando viu que James também ria, relaxou.
- Vejo você mais tarde? – perguntou e assenti, mas ele não ousou se aproximar de novo e só acenou enquanto se afastava.
- Não vi nenhum cartão que dizia que ele era seu namorado – Arte falou quando James já estava longe – Devia ter feito um.
- Ele não é meu namorado – ela fez uma cara de quem não estava acreditando e ri – Não, é verdade, não somos exclusivos, saímos com outras pessoas.
- Então vocês são o que? Tem um nome pra isso?
- Sim, somos amigos com benefícios – ela agora tinha uma expressão confusa – Não se preocupe, você também não entendia quando tinha memória. Vamos, estamos atrasadas.

Os meninos já estavam nos esperando em uma área mais afastada da biblioteca quando chegamos. A mesa estava toda ocupada com diferentes livros de Herbologia e MJ começou a explicar a matéria enquanto tomávamos nota de tudo que ele dizia. Arte sequer piscava para não perder nenhuma palavra. Já estávamos estudando há mais de duas horas quando Jamal apareceu. Devolveu um livro que havia retirado para a bibliotecária e puxou uma cadeira na nossa mesa, sentando do meu lado.

- Arte, amanhã vamos estudar Trato de Criaturas Mágicas depois da aula de DCAT, ok? – ele falou e Arte assentiu animada.
- Essa eu lembro que sempre gostei.
- Qual é o lance entre a Gabriela e o Devon? – Jamal se virou pra mim – Eles estão namorando escondido ou alguma coisa parecida?
- Não, ela gosta dele, mas ele não faz nem idéia disso.
- Tem certeza?
- Ele não sabe de nada, porque convidou a Kaley pro Baile de Inverno. Ela me contou na aula de Feitiços – MJ respondeu por mim e eu assenti.
- Por que as perguntas? Vai convidar ela? – ele fez que sim com a cabeça e me surpreendi – Achei que ia com a Penny.
- Não, ela vai com um garoto de Durmstrang que convidou ela ontem – notei que ele não tinha gostado muito dessa novidade, mas achei melhor não comentar nada na frente de todo mundo – Karl qualquer coisa.
- Ah, o alto, loiro, olhos verdes que parece um Deus grego? – Arte comentou.
- Isso você se lembra? – JJ disse incrédulo e nós duas começamos a rir. A bibliotecária pigarreou.
- Ele é amigo da Lenneth, estava com ela hoje de manhã quando nos falamos. E ele não é alguém com uma aparência fácil de esquecer.
- Todo mundo já tem par? – JJ negou, mas MJ fez sinal de positivo com a mão.
- Vou com a Lenneth. O namorado dela não pode vir e ela me pediu para acompanhá-la – Jamal deu uma risada debochada e foi atingido por uma borracha – Ela tem namorado, não ouviu essa parte? Temos passado muito tempo juntos por causa do Livro do Ano e acabamos ficando amigos. Ela é muito legal e temos muito em comum.
- Não liga pra ele, MJ – empurrei Jamal pro lado e ele parou de rir – Arte, e você?
- Não sei... Estava pensando em convidar o Tuor. Vocês falam que ele era meu namorado e eu gosto dele, ele é legal. Não sei ainda.
- Acho que devia convidar ele sim – JJ a incentivou – Ele gosta muito de você e vai ficar muito feliz.
- Mas ele vai entender se não o convidar, então não se sinta pressionada – falei e todo mundo concordou.
- Você vai com o Thruston ou anda beijando mais alguém que costumávamos odiar e eu ainda não sei? – ela perguntou em tom de deboche.
- Não, só ele. E sim, vamos juntos, por favor, não o estupore de novo.
- Espera ai, como assim “de novo”? – Jamal interrompeu, já rindo.

Contamos o que tinha acontecido antes de chegarmos e os três tiveram um ataque de riso que acabou nos expulsando da biblioteca. Encerramos os estudos do dia e os meninos voltaram para o salão comunal, mas nós ainda tínhamos compromisso. O dia estava longe de terminar.

ººººººº

- Mais alto! – incentivei e Arte se esforçou mais, melhorando o alcance do chute – Melhorou, mas ainda pode mais!
- Tem certeza que eu era boa nisso? – ela perguntou ofegante, pegando outro impulso.

Seu chute acertou a parte mais alta do saco de areia, mas ela perdeu o equilíbrio e caiu sentada no tatame. Atirei uma garrafa d’água a ela e sentei no chão ao seu lado. Ela esvaziou a garrafa em questão de segundos, jogando também a água no rosto vermelho e quente. Depois abriu os braços e se jogou de costas no tatame.

- Não se acomode, ainda não acabamos.
- Você é má.
- Quando se lembrar das suas aulas na AD vai se arrepender dessa acusação. Anda, levanta. Combate direto agora.

Puxei-a pelo braço para que ficasse de pé e recomeçamos o treino, dessa vez com um confronto direto. Mesmo tendo perdido boa parte da memória, ainda se lembrava da maioria dos movimentos e foi capaz de manter a luta nivelada por um bom tempo, mas o coma havia afetado sua condição física e o cansaço acabou vencendo. Quando já estava começando a perder o fôlego, sua concentração foi afetada e acabei derrubando-a. Repetimos a luta cinco vezes e nas cinco vezes terminou da mesma forma, mas ela não desanimou. Voltamos a treinar golpes no saco de areia e alguns dos exercícios físicos que estávamos usando nas aulas da AD e já passava das 21h quando resolvemos encerrar. Se continuasse se empenhando como hoje, não ia demorar muito e já estaria em forma outra vez. Muito em breve a Armada teria sua professora de volta.

Saturday, November 26, 2011


Das anotações de Haley McGregor Warrick

Após a primeira tarefa e com Arte de volta ao castelo, havia chegado a hora de começarmos a testar as poções para nos transformarmos em animagos. No ano anterior tio Ben, havia nos ensinado o básico, como por exemplo escolhermos o animal que gostariamos de nos transformar, preferencialmente um animal que já houvéssemos visto e estivesse vivo, porque tendo a imagem em nossa mente em três dimensões, assim como o seu comportamento seriam essenciais para uma boa transformação, e aqueles que mostrassem aptidão teriam uma aprovação ministerial para continuar com o experimento e ao final teriam o seu registro no Ministério da Magia. Tio Ben havia nos explicado que já tinha visto quem quisesse se transformar em macaco mas se comportava como uma galinha, pois não não tinham a menor noção de macaquices. E todos sabiam que ter a capacidade de se transformar num animal podia ajudar a pessoa a passar despercebida por algum perigo, ou mesmo se defender, portanto todos os bruxos queriam este dom, mas era óbvio que ele já havia reprovado muita gente por falta de talento.

Haviamos feito um acordo de tentar nos transformar sozinhos, e se desse certo, manteríamos em segredo. Foi chato ver o olhar de decepção de tio Ben, quando nenhum de nós conseguiu sequer sentir um tremor ou mesmo fazer algum pêlo nascer. Então nas aulas de animagia do sexto ano, nenhum de nós, se esforçou o bastante para isso, pois que graça teria poder se transformar num animal e todo mundo saber disso?

Nos reunimos no QG, na noite após a primeira tarefa, pois seria uma boa oportunidade de mostrarmos um pouco da nossa rotina para a Arte, para que ela fosse nos conhecendo novamente. Quando ela entrou na sede junto de Lena, Tuor e MJ, seus olhos se arregalaram, ao ver os vários vidros de poção em cima da mesa, e num dos cantos havia comida e cervejas amanteigadas. Arte nos olhou surpresa e disse:

- Acho que como monitora chefe eu deveria ser conta este tipo de encontro no meio da noite, mas porque eu sinto que eu seria a última pessoa a reclamar disso?

- Porque você ajudou a deixar este lugar com a nossa cara, usando seus poderes para abrir galerias, reforçar os feitiços de proteção, e quando o assunto era diversão você sempre foi animada. - disse Justin e a olhou sério por uns segundos, mas ela franziu os olhos como se sentisse dor de cabeça, e Clara alertou:

- Devagar, Jerônimo, não queremos que ela fique pior.- e Justin sorriu se desculpando:

- Achamos que seria bom para você voltar a vivenciar as coisas normais que fazia antes, pode ajudar na sua recuperação.Tudo bem com você?

- Sim, estou bem, eu só queria não me sentir tão perdida.

- Não se preocupe com isso, sempre estaremos por perto para ajudar você em tudo o que precisar ok? – disse Keiko e ela assentiu, querendo saber:

- Todos vão usar a poção para tentar se transformar?

- Nem todos, Clara, e Justin não precisam, são sortudos. – disse Hiro e Julian zombou:

- É, eles são transformistas naturais.- até Clara riu da brincadeira e Arte os olhou em dúvida, e Justin assumiu um ar professoral:

- Não acredite no Corvo, ele gosta de bancar o engraçadinho. Clara e eu somos transmorfos: pessoas que têm a capacidade de assumir a forma de animais. No caso da Clara, isso acontece porque o pai dela, é um lobisomen, então ela se transforma num enorme lobo amarelado. Já eu posso me transformar no animal que quiser, porque sou o shaman de minha tribo, faz parte dos meus poderes.

- Sério?- ela quis saber e se aproximou mais dele e notei como o olhava com admiração e curiosidade, olhei para Tuor, e ele os observava em silêncio. Arte fechou os olhos, e disse uma frase no idioma indìgena:

- ‘Nossas preces são suas, filha da Verdade’.- e arregalou os olhos, e Justin sorriu para ela:

- Foi a despedida de minha avó a você quando vocês se conheceram. – e ficaram se olhando, Jamal disse, interrompendo os dois:

- Está muito bom o clima nostálgico, mas a noite urge. E ai, Haley?

- As poções estão prontas, podemos testar.- eu disse e ele olhou para os vidros, cético:

- Tem certeza de que vai funcionar?

- Acredito que sim, e se não funcionar o o pior que pode acontecer é irmos parar na enfermaria uivando ou babando....- eu respondi e todos riram da minha sinceridade.

- Mas não podemos testar todos de uma vez, ou vai gerar desconfiança.- disse Rupert.

- Acho que devemos tirar no cara ou coroa para ver quem serão os primeiros.- sugeriu MJ e ao final do sorteio, os primeiros a testar as poções seriam eu, Julian, Lena, e JJ, e estávamos empolgados. Tomamos as poções e ficamos parados nos olhando por um tempo, até comecei a pensar que haviamos feito algo errado, quando olhei para Lena e seus olhos estavam mais puxados e alguns pêlos começaram a aparecer em seu rosto. Levantei a mão para toca-la e ela deu um pulo para trás, com medo das garras que estavam saindo de minhas mãos.

- Está funcionando...está funcio..rrrrrrrrrrrr..nando, disse Julian e sua voz estava mais para um rosnado, ele começou a se dobrar, parecendo com dor, e não demorou Lena, JJ e eu também caíamos ao chão. Foi como se o inferno abrisse as portas, tamanho o calor e dor que sentiamos, mas de repente tudo passou. Abri meus olhos e olhamos uns para os outros e parecia que usavamos partes de fantasias de Halloween: JJ tinha penas saindo pelo pescoço e cabeça, seu rosto estava bicudo, Lena estava com metade do rosto com pêlos negros e ronronava como gata, enquanto alisava os bigodes e uma de suas orelhas de gata. Eu tinha penas marrons nos braços e meus olhos estavam enormes, junto com as mãos em forma de garra, e Julian tinha pêlos dourados em parte do rosto e corpo e rosnava, parecendo o labrador do rancho, Bart.

-Pelos deuses, o que será que deu errado?- eu achei que houvesse dito, mas Justin se aproximou e me olhou nos olhos, preocupado:

- Não sei o que houve, princesa, mas todos vocês terão que ir para a enfermaria, estão tentando voltar à forma humana há mais de meia hora, e não conseguem, só agora parecem me entender, não vamos arriscar que esta quase transformação se torne irreversivel. Cenoura já sabe a desculpa?- e Rup assentiu, dizendo:

- Sim, poção polissuco com pêlos e penas: péssima combinação. Não se sintam frustrados, até que foram bem para uma primeira tentativa, só tentem não nos morder ou bicar, acho que não temos vacina antirábica na escola.

Meus amigos se organizaram para nos ajudar a ir para enfermaria, só então notei que por estarmos semi transformados, não conseguiamos nos mexer direito sozinhos. Hiro, Arte e Jamal me equilibravam junto com JJ, Lena foi amparada por Tuor e Keiko, que fazia para ela os mesmos barulhinhos que fazia quando brincava com seu gato, Peppo, e Justin ficou encarregado de ajudar Julian. Quando começamos a andar, ouvi uma gargalhada de Justin.Todos nos viramos para olhar para trás, e ele se explicou:

- Nunca pensei que fosse dizer isso um dia, mas eu preciso: Senta, garoto! – e Julian se sentou como um bom cachorro, e notamos que um rabo agitado estava saindo de suas calças. Acho que da minha quase forma de coruja eu comecei a rir alto, e posso jurar que os barulhos estranhos espalhados aqui e ali eram as gargalhadas de meus amigos tanto humanos quanto animais.


Friday, November 25, 2011


O clima no castelo na manhã daquele sábado era de final de campeonato. Todo mundo estava empolgado com o inicio oficial do Torneio Tribruxo naquela manhã, quando aconteceria a 1ª tarefa. E o clima também era de mistério, pois ninguém além do nosso grupo e das campeãs sabia que Arte tinha acordado e iria competir. Por isso, quando ela apareceu na arena com a varinha na mão, a algazarra na torcida de Hogwarts foi ensurdecedora.

Ela se saiu bem, dado o seu estado no momento. Foi a que passou mais rápido pela arena, mas também a que apresentou menos perícia em magia. Isso não importava para a torcida de Hogwarts. Todos tinham total confiança que Arte ia recuperar sua memória, ou ao menos parte dela, e representaria muito bem a escola no Torneio. Ganhando ou perdendo, estaríamos todos orgulhosos dela.

Quando a tarefa terminou e a pontuação foi anunciada, fomos ao encontro dela na tenda dos campeões. Ela parecia bastante assustada com tudo e sua expressão era sempre vaga, mas ela nos reconhecia. Mesmo que não lembrasse tudo que havíamos feito juntos, sabia quem éramos nós e que éramos seus amigos, importantes em sua vida.

- Você foi muito bem, Arte! – Lenneth a encorajou e ela sorriu ainda assustada.
- Vamos fazer uns cartões com algumas informações úteis pra você, não se preocupe – Hiro falou a encarando – Nada bombástico, mas coisas básicas que você precisa saber.
- Sim, como quem é idiota, quem você deve evitar, qual de nós é seu melhor amigo... – Clara falou apontando pra si mesma e todo mundo riu, até mesmo Arte – Aos poucos você vai recuperar pelo menos o básico.
- Contem como foi a tarefa pra vocês – Arte olhou para Gabriela e Lenneth tentando soar mais relaxada – Só pude ouvir os gritos dentro da tenda e estava tão nervosa que estava quase passando mal.
- Eu passei por um Trasgo Montanhês que quase me nocauteou – Gabriela falou rindo de nervoso – Ele surgiu do nada no meio daquela neblina toda, nunca pensei que um trasgo pudesse se esconder numa arena aberta. Quando vi ele já estava em cima de mim, seu bastão passou raspando pela minha cabeça, até arrancou alguns fios de cabelo – ela passou a mão na cabeça fazendo uma careta e rimos – Rolei pro lado, porque foi a única coisa que consegui pensar na hora, e depois desarmei ele com um feitiço. Ele demorou tanto pra entender pra onde o bastão tinha ido que me deu tempo de correr.
- Gabi pegou três baús, que ela disse que eram o limite por pessoa – Clara explicou e Arte fez um sinal de positivo pra Gabriela – Demorou mais a sair porque ficou procurando pelas pistas.
- Eu passei por sufoco – Lenneth falou passando a mão na testa, ainda cansada – Tentei me basear na alquimia para superar os obstáculos e estava indo bem, até encontrar os diabretes. Eles estavam tirando a minha concentração, ficavam me seguindo pra todo lado! – sua voz saiu esganiçada e a gargalhada foi geral – Enfim, queria tentar fazer em menos tempo possível e só peguei só duas dicas. Desesperei um pouco com os diabretes, admito, desisti do 3º baú pra me sair logo e me livrar deles.
- Então vocês têm mais dicas que eu, só peguei uma e foi pura sorte – Arte não soava desanimada, mas surpresa por ter ao menos uma dica na mão – Só queria sair logo daquela arena. E viva.

Rimos outra vez e ficamos mais um tempo na tenda conversando sobre a tarefa, até que a torcida de Beauxbatons apareceu para seqüestrar Gabriela e comemorar sua primeira colocação. Lenneth e Arte aproveitaram a deixa pra voltar ao salão comunal e tomar um banho e o grupo dispersou. James estava organizando uma festa na Grifinória para comemorar a volta de Arte e combinamos de nos encontrarmos lá mais tarde, pois eu ainda tinha compromisso. MJ foi o único a caminhar para o lado oposto ao de todo mundo. Ele andava estranho, mais distante, mais calado, aquele não era o seu jeito normal. MJ nunca estava desanimado, ele era o que sempre tinha a solução simples pros problemas e estava sempre de bom humor. Observei-o caminhar na direção do lago e o segui.

- Ei, MJ! – chamei-o quando estava perto e ele parou de andar, olhando para trás – Posso falar com você um instante?
- Claro, Rup – ele abriu um sorriso, mas eu o conhecia bem demais para saber que estava o forçando – Viu os últimos desenhos que deixei pra você? Pedi pro Julian lhe entregar ontem.
- Sim, sim, ele me deu, estão ótimos. Você definitivamente vai ser o ilustrador, mas não é sobre isso que quero falar.
- Então o que é?
- Está tudo bem com você?
- Sim, por quê?
- Porque seu rosto diz outra coisa. Somos amigos há tempo demais para eu não ser capaz de perceber quando algo está errado.
- Não tem nada de errado, é que são tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo, estou um pouco cansado. O ataque, Arte morrendo, Arte revivendo, Arte em coma, Arte fora do coma, os treinamentos, o Torneio, os N.I.E.M.s...
- MJ, você é um dos meus melhores amigos, conheço-o melhor do que os outros, eu sei que algo está errado. Não tem problema se não quer me dizer o que é, mas espero que saiba que pode contar comigo para o que for preciso. O que quer que seja vou apoiá-lo.
- Eu sei, você é meu melhor amigo, é só que... Eu não... – ele parou de falar, encarando o chão. Era como se, o que quer que fosse, dizer aquilo era difícil.
- Você não está pronto para falar – apertei seu ombro e ele assentiu sem dizer nada – Tudo bem, quando estiver pronto, estarei aqui.
- Obrigado. Sei que vai estar.
- Estou indo encontrar com o professor Longbottom e a tia Hermione agora, no Old Haunt. Eles vão me contar umas histórias sobre um duelo de bruxos que deu errado, uma detenção na floresta negra, de quando a tia Hermione o petrificou e o que aconteceu depois, quer ir? – e ele assentiu animado – Ótimo, só preciso esperar Amber chegar e vamos até o escritório dele.
- E quando você vai admitir que gosta dela?
- Ei, você não fala sobre os seus problemas, eu não falo dos meus – brinquei e ele riu. A primeira risada sincera do dia.
- Justo. Vou pegar meu caderno de desenho e encontro você aqui de novo em cinco minutos.

MJ correu de volta pro castelo e voltou logo depois, junto de Amber. O professor Longbottom já estava nos esperando em seu escritório com a tia Hermione e cortamos a multidão que ainda circulava pelos terrenos da escola, direto para Hogsmeade. Ainda empolgados com a 1ª tarefa que havíamos acabado de assistir, o começo da conversa foi totalmente desviado para o Torneio Tribruxo que eles assistiram quando estavam no 4ª ano, mas mesmo assim fiz algumas anotações, caso meu livro virasse mesmo uma série. Já passava das 15h quando começamos a falar das histórias do 1º ano deles em Hogwarts e elas foram muito além das que eles haviam prometido. O céu já começava a escurecer quando deixamos o pub e voltamos para a escola, e eu estava mais do que satisfeito. MJ havia feito rascunhos de todas as imagens e cenas que eles descreveram e eu estava com o caderno de anotações cheio. Com aquelas histórias, já tinha o suficiente para começar a trabalhar no esboço do livro. Agora finalmente poderia começar a transformar aquilo em realidade.

Thursday, November 24, 2011

Primeira Tarefa

- Muito bem, vamos dar início à Primeira Tarefa. – Um homem, funcionário do Ministério, pelo que tinham me contado - acho que trabalhava em algo de esportes - começou a falar, sorrindo para nós. – Ela será simples. Cada uma de vocês atravessarão a cortina dessa tenda e estarão em uma arena circular. A arena é no campo de Quadribol, é uma pena termos que usá-lo.
- Senhor Wood. – A Diretora de Hogwarts falou e ele sorriu.
- O objetivo é chegar do outro lado dela. Simples assim. – Ele terminou sorrindo.
- O que teremos que enfrentar? – Uma das outras Campeãs, acho que de Durmstrang, cujo nome era Gabriela falou. Ela era amiga de Clara e minha, pelo menos foi o que me falaram.
- Muito inteligente. Obviamente, não será assim tão fácil. Vocês deverão enfrentar várias dificuldades e armadilhas no caminho. – Wood completou. – E algumas surpresas...
- Precisamos apenas chegar do outro lado? Como será a pontuação? – Lenneth, Campeã de Beauxbatons perguntou. Ok, não sei porque acho que estou confundindo, não lembro bem. Lenneth também disse que era minha amiga há pelo menos dois anos, desde as Olimpíadas, seja lá o que isso for.
- A pontuação será dada pela performance de vocês ao enfrentar as dificuldades. A maneira como vão se proteger e usar a magia para chegar ao outro lado vai definir a pontuação final. Quanto mais criativas, rápidas, ágeis e eficazes, maior será sua pontuação.
- Há também um fator a mais. – O outro homem do Ministério começou a falar. – Na arena estarão espalhados vários baús, como esses. – Ele falou, indicando um baú em cima de uma mesa. – Dentro dele estão dicas que podem lhes ser úteis. Há um total de 15 baús, sendo que cada uma de vocês só pode levar 3 dicas.
- Somos obrigadas a buscá-los? – Lenneth perguntou novamente.
- Não, podem ignorá-los se desejarem. A pontuação de vocês não será modificada por pegarem mais ou menos baús, mas eles contêm informações que podem lhes ser úteis. Cabe a vocês decidirem se os querem procurar ou não. – Ele completou.
- Agora vamos selecionar a ordem. – O Wood voltou a falar e abriu o baú. Dentro do baú não víamos nada, apesar da sala estar bem iluminada com os raios de sol que passavam pelo fino pano da tenda. – Cada uma de vocês deve colocar a mão aqui dentro e tirarão um número. Esse número identifica a ordem que vocês entrarão. Depois que entrarem, devem finalizar a prova. – Ele continuou e olhou para mim. – Dentro de alguns minutos, sairemos dessa tenda para assumirmos nosso lugar na mesa dos juízes e vocês três ficarão sozinhas.
- Ao ouvir o apito, a primeira deve entrar. Ao ouvir o segundo apito, a segunda, e ao som do último apito, a última pode entrar na arena. Se entrarem antes do apito, serão penalizadas em suas pontuações. – O outro homem explicou. – Senhorita Chronos, gostaria de ser a primeira? – Ele perguntou e eu me sobressaltei. Eu não tinha falado nada desde que chegara à Escola e me encaminhei até o baú. Coloquei a mão ali dentro e tateei, sentindo três formas ovais, peguei a primeira que toquei.
- Número 3. Você será a última, pode se sentar se desejar. Boa sorte – O homem falou e eu me sentei em um banco observando as outras duas. Gabriela sorteou o número 1 e assim ficou definido a ordem da tarefa.
- Muito bem. Desejo a todas boa sorte. – Wood falou alegre. – Não se preocupem, temos muitos bruxos aqui para protegê-las e ajudá-las se precisarem.
- Caso queiram ajuda imediata, lancem faíscas vermelhas para o alto. – O outro homem explicou. – Senhores, senhoras, devemos deixá-las a sós. – Ele falou, indicando os Diretores das outras escolas. – Mas antes, cada um pode ter uma palavra com sua Campeã.
- Não se esforce, entendeu? – Minerva falou, olhando fundo em meus olhos. – Sei que dará o seu melhor, mas não se arrisque. Estamos com você. Boa sorte.
- Obrigada. – Eu consegui dizer, sentindo o nervosismo. Ela sorriu e saiu, acompanhada pelo Wood que me desejou boa sorte também. Os outros Diretores a seguiram e ficamos sozinhas. Dava para ver que as três estavam nervosas, mas de longe eu era a pior e começava a suar e a tremer. Lenneth e Gabriela sentaram uma de cada lado meu e começaram a tentar me acalmar. Eu sorri para elas, mas não conseguia me acalmar. Pessoas haviam morrido nesse Torneio, pessoas mais capazes que eu e elas não ficavam preocupadas?
Minha mãe passou a noite inteira treinando comigo. Ela me ensinou coisas que ela chamava de básicas e que achava que eu precisaria. Me ensinou um feitiço de luz, Lumus, um feitiço para lançar faíscas vermelhas, um feitiço para determinar o norte, um feitiço para levitar objetos e um feitiço para ataque, em que um jato vermelho saia de minha varinha. Eu mal me lembrava do nome de metade deles. Eu treinei com mamãe até quase 3 da manhã, quando ela me obrigou a dormir para descansar. Eu estava animada quando fui dormir e acordei essa manhã pronta para competir. Mamãe disse que sabia que eu iria me sair bem, mas como se agora eu mal podia me manter calma? Ela e meu pai me trouxeram para Hogwarts afastada de tudo e de todos e só cheguei depois que todos os alunos já tinham deixado o castelo. Ao ver o tamanho daquele castelo eu comecei a me sentir ansiosa. Sentia como se aquele castelo me pressionasse por ser sua campeã e isso começou a mexer comigo. Quando chegamos perto do local onde seria a tarefa, ouvi ao longe a gritaria das torcidas e meu estômago embrulhou.
O apito soou e eu me sobressaltei. Gabriela levantou rapidamente e assentiu para mim e para Lenneth. Ela nos abraçou e desejou sorte e eu consegui balbuciar algo de volta. Ela saiu pela tenda correndo. Lenneth continuou comigo e começou a me contar de seus amigos e como tínhamos nos conhecido. Ela falou do garoto, Tuor, que dizia ser meu namorado e disse que desde as Olimpíadas eu já gostava dele. Eu a ouvi, mas tudo que ela me contava não significava nada para mim, pois não me lembrava de nada... Ao menos ela conseguiu meu acalmar um pouco.
Não sei bem quanto tempo se passou, mas pareceu uma eternidade para mim, e o segundo apito soou. Lenneth se levantou e me perguntou se eu ficaria bem sozinha. Queria gritar que não, mas consegui fingir um sorriso e ela também saiu correndo pela abertura da tenda. Agora eu estava sozinha, esperando a hora de competir, sabe-se lá em que ou como.
Minha garganta estava seca e peguei um copo de água de uma garrafa que deixaram para nós. Me senti bem imediatamente, quase renovada. Joguei água em meu rosto e era como se a água fria penetrasse em minha pele e me animasse.
O terceiro apito soou e eu me assustei. Como eu estava ansiosa e nervosa, o tempo passou muito rápido. Eu engoli em seco e apertei a varinha com força. Pensei em meus familiares e nos rostos dos meus amigos, ao menos os que eu me lembrava, e em Fidelus. Queria ao menos que um deles estivesse comigo. Mas teria que ir sozinha.
Dei o primeiro passo na direção da tenda, repensando minha estratégia: sair o mais rápido possível daquela arena. Comecei a acelerar o passo, querendo terminar o mais cedo possível.
Passei quase correndo pela abertura da tenda e fui recebida com a luz do sol, me cegando momentaneamente e me obrigando a cobrir os olhos com a mão. Recebi também o choque de milhares de gritos, de centenas de alunos. Então meus olhos se acostumaram à luz e baixei a mão.
Então eu me senti tonta, assustada. Senti quando minha boca caiu diante do tamanho do estádio e da gritaria das pessoas. Eu fiquei apavorada.
Voltei a tremer e dei dois passos atrás, pressionada pela massa de cores, barulhos, bandeiras, presenças, olhoares diante de mim. Senti quando a multidão de torcedores oscilou, sem saber porque eu recuava. Algumas vaias chegaram até mim e eu senti lágrimas nos olhos. Eu iria desistir...
Mas então comecei a ouvir pessoas gritando meu nome. Eram gritos de incentivo. Não conseguia distinguí-los daquela distância, mas sabia que eram os gritos de meus amigos e familiares. Sei que é loucura, mas ouvi o bater das asas de Fidelus e seu rugido calmo e sereno. Meu coração começou a bater mais forte, em compasso com os gritos e vivas da torcida. Eu apertei a varinha com força e a determinação voltou para mim e dei um passo à frente, encarando pela primeira vez a arena que eu deveria enfrentar.
Só então percebi que eu não conseguia enxergar nada... Parecia uma espécie de neblina meio alaranjada e que encobria toda a arena. A única coisa que eu via, bem ao longe, talvez uns 150 metros de onde eu estava, era uma abertura com os brasões das três casas, indicando o fim da arena. Eu não pensei duas vezes e sai correndo naquela direção.
De início, corri livre, mas então senti um calor repentino embaixo dos meus pés e saltei assustada para o lado, pois uma cobra cinzenta sibilava para mim. Umas criaturas azuis estranhas começaram a voar ao meu redor, gritando com umas vozes estranhas e agudas. Elas começaram a atacar meu cabelo e eu balançava a cabeça e os braços com força, querendo afastá-las de mim. Gritei o único feitiço que eu lembrava, Lumus, e um orbe de luz saiu de minha varinha, atordoando as criaturas.
Bati de repente em algo invisível e cai para trás e me vi caindo dentro de um buraco. Perdi o equilíbrio e cai com força no chão. Senti dor nas costas e me levantei com dificuldade, sentando-me. O buraco não era muito fundo e indo pela direita poderia voltar ao nível superior. De repente senti algo perto de mim e quando me virei vi duas criaturas com menos de 30cm de altura, com chapéus vermelho pontiagudos. Eles tinham olhos vermelhos e me olhavam malignamente, e vi um baú fechado as suas coisas. Comecei a me arrastar para longe deles e vi que os dois tinham uma espécie de bengala nas mãos. Gritando alguma coisa, eles avançaram, brandindo a bengala contra mim. Não sei bem como eu fiz, mas rolei de lado, esquivando do primeiro e arranquei a bengala do segundo, usando-a para bater em sua cabeça. O primeiro voltou a pular contra mim, mas eu o atingi no meio da cintura e ele voou contra a parede do buraco. Eu me levantei e sai correndo do buraco, jogando a bengala contra ele, sem nem pensar em pegar o baú. Percebi então que não me cansei com eles e que minha mente parecera clara ao enfrentá-los.
Continuei correndo em linha reta, desviando, não sei como, de mais criaturas azuis e uns caranguejos estranhos que babavam e começaram a correr atrás de mim. Do nada, surgiu diante de mim uma criatura metade ave, metade cobra. Ela silvou para mim e se enrolou protetoramente ao redor de alguns ovos prateados. Seu pescoço era longo e subiu há pelo menos dois metros acima de mim, enquanto eu o olhava boquiaberta. Ele silvou e seu corpo mergulhou a frente, tentando me morder. Eu desviei de lado e minha varinha se mexeu sozinha. Um feitiço explodiu no caranguejo mais perto de mim e ele foi jogado contra a ave-cobra, que começou a atacá-lo. Corri o mais rápido dali, enquanto os caranguejos e a ave-cobra brigavam.
A saída estava perto de mim agora, talvez há uns 80 metros, mas eu tinha me desviado para a direita ao escapar dos caranguejos. De repente, da neblina, surgiu uma criatura do meu tamanho diante de mim. Ela era majestosa e até mesmo bela, metade águia e metade cavalo de um tom dourado de amarelo, com o rabo de um leão. Seus olhos eram verdes e me encaravam, enquanto seu bico batia ameaçadoramente. Ela estava entre eu e um baú e atrás dos dois eu podia ver a saída. Não sei bem o porque, mas soube que deveria respeitar aquela criatura e fiz uma reverência.
Senti quando o animal ficou admirado e ele se dobrou também fazendo uma reverência. Eu me encaminhei até ele lentamente e quando ele me deixou passar, acariciei-o no lombo, entre a junção de águia e cavalo. Ele pareceu gostar e me observou enquanto abria o baú.
Dentro dele estava uma cápsula com os brasões das três escolas e assim que a toquei, ela se tornou menor, cabendo em meu bolso e a guardei imediatamente. Sai correndo dali e já via a saída perto de mim, então, algum instinto me fez pular de lado, no momento em que um dardo do tamanho do meu braço furava o chão onde eu estivera.
Com o barulho que misturava um riso humano com o silvar de um inseto, a criatura mais medonha que eu vira surgiu diante de mim. Tinha o dobro de meu tamanho, com um rosto humano cheio de dentes afiados, mas o corpo de um leão e uma cauda de escorpião, apontada para mim. Ela ria enquanto se erguia imensa diante de mim, seus dentes batendo e rangendo, enquanto sua cauda ficava reta. Eu gritei no momento em que um outro espigão era jogado contra mim e me joguei para o lado esquerdo, tentando chegar perto da saída. Mas a criatura me acertou com sua pata e me jogou de lado. Me virei depressa e minha varinha novamente disparou sozinha, lançando um feitiço prateado que explodiu nos olhos do monstro. Ela gritou de dor e se afastou de mim e consegui me erguer, mas a cauda da criatura parecia ter vida própria e um novo espigão foi jogado contra mim. Eu consegui pular a tempo, mas tropecei e cai no chão novamente. A criatura gritava de raiva e agora corria na minha direção. Eu estava paralisada de medo, sem conseguir pensar em levantar a mão e jogar faíscas e sabia que alguém viria me ajudar. Alguém tinha que vir me ajudar!
Fechei os olhos quando ela saltou diante de mim. Mas ouvi o barulho de asas e o barulho alto de um bico e quando abri os olhos, vi a águia atacando com suas garras, empinando-se em seu corpo de cavalo. Ela batia suas asas e se colocou entre eu e o monstro, atacando-o com garras e bicadas. O monstro gritou de dor e tentou acertar a água com sua cauda, mas eu disparei um feitiço contra a cauda e ela começou a pegar fogo. O monstro urrou de dor e a águia acertou seu rosto com as garras, fazendo-o recuar. Ela fugiu gritando e a águia virou-se para mim, batendo o bico. Ela fez uma nova reverência e eu corri até ela e a abracei. Ela me fez lembrar Fidelus e vi que eu chorava, preocupada com ela e de medo. Ela não estava machucada, com exceção de uma das asas que parecia estar em um ângulo estranho.
Eu então ouvi como uma voz, e, podem me chamar de doida, mas parecia vir da águia, me falando para terminar a prova. Eu assenti e sai correndo na direção da saída e a cruzei, caindo no chão exausta.
Imediatamente vários bruxos correram na minha direção e entre eles estavam meus amigos e meus pais, incluindo aquele garoto Tuor e as outras campeãs. Todos falando juntos e começaram a me levantar, para tratar de meus ferimentos.
- Cuidem da águia, por favor, cuidem dela. – Eu falei entre lágrimas e um homem muito alto e forte, com uma barba enorme assentiu para mim e correu para dentro da arena. Acho que era funcionário de Hogwarts...
- Você foi excelente Artemis! – Ouvi papai falando em meu ouvido, enquanto me levava para um banco para eu me sentar. – A única que enfrentou uma Manticore e se saiu muito bem!
- Ainda fez amizade com um grifo! Essa é a nossa Arte! – Ouvi Hiro gritando e sorri.
- Senhores, estamos prontos para a pontuação. – Todos foram interrompidos por Minerva que se levantou da mesa do júri. Ela sorriu para mim. Todos abriram espaço para que eu pudesse vê-los e deixei que Tuor me ajudasse a chegar até eles. Só agora percebia como estava cansada.
- Vocês todas atuaram muito bem, meus parabéns. O tempo da maioria também foi bom, mas algumas tiveram performance a desejar. – Uma mulher tão alta quanto o funcionário de Hogwarts, e diretora de uma das escolas falou, olhando para mim. – Mas vamos anunciar as notas.
- Preferimos anunciar a nota total do júri. – O outro diretor falou. – Em vez das notas individuais, para ser mais simples e direto, pois imagino que todas querem descansar. Senhor Wood?
- Com prazer. – Ele respondeu e se levantou, pigarreando. – Primeiro a Senhorita Lafayette... – Gabriela ficou tensa do meu lado e a ouvi resmungando sobre ter demorado demais. – Você completou a prova em 30 minutos, a mais longa de todas. Mas teve uma boa performance e mesmo buscando o máximo de dicas, não se atrasou muito. O Júri lhe deu a pontuação de 40 pontos, meus parabéns.
A torcida de sua escola começou a gritar e bater palmas, enquanto Gabriela sorria.
- Agora a senhorita Aesir... A senhorita completou a prova em 26 minutos, apresentando uma excelente performance e grande conhecimento de alquimia. Pegou poucas dicas, procurando fazer um bom tempo. O Júri lhe atribuiu a nota de 38 pontos, meus parabéns.
Agora foi a outra torcida que gritou e começou a comemorar, pois as duas estavam praticamente empatadas. Lenneth ficou um pouco vermelha e sorriu.
- Senhorita Chronos... – Eu engoli em seco. Apertei a mão de Tuor e senti quando ele me olhou. – A senhorita completou a prova em 22 minutos, o menor tempo de todas. – A torcida de Hogwarts começou a gritar e Wood aguardou que se acalmassem. – Apresentou tato e conhecimento de criaturas raras, como o Grifo, e teve um bom desempenho com a Manticore. Porém, a sua performance como um todo deixou a desejar, parecendo uma competição trouxa e não uma competição mágica. – Todos começaram a gritar protestos e Wood levantou a mão. – Conheço a sua situação e me simpatizo com você, mas não podemos protegê-la. O Júri lhe atribuiu a nota de 30 pontos.
Hogwarts começou a vaiar, mas com um olhar de Minerva se calaram e começaram a comemorar. Abracei Tuor, aliviada e vi a alegria espalhando-se pelo seu rosto. Eu sorri para ele. Fomos separados por uma massa de alunos que queriam me parabenizar e eu sorria para todos, que me abraçavam e comentavam sobre a prova. Prometeram uma festa para comemorar e não importa a pontuação, sabiam que eu fui ótima. Meus pais também me parabenizaram alegres e eu sorri para todos.
Podia não me lembrar de muita coisa, mas sabia que aquelas pessoas me eram importantes... Podia não me lembrar principalmente de Tuor, mas se todos diziam que ele me era importante, devia ser verdade... E eu poderia dar uma chance a ele.
Aquela Tarefa servira para me mostrar o meu potencial e superar meus medos. Meu corpo e minha varinha lutaram por mim e eu não poderia ficar parada...
Fora que tinha uma escola acreditando em mim e eu não vou decepcioná-los!



Lembranças de Artemis A. C. Chronos

- Você se lembra de mim? – A senhora perguntou, sentada na cama ao meu lado.

Eu estava sentada na minha cama novamente, com as costas apoiada por um travesseiro. Havia acabado de ir ver Fidelus e por alguns instantes angustiantes eu não o reconhecera. Mas então, depois do susto inicial, o carinho que ele sentia fluiu para mim e eu o reconheci... Lembrei-me de todos os meus dias com ele nas Ilhas Hébridas, dos filhotes de dragão, da companhia dele. Foi um encontro cansativo, tanto física, quanto mentalmente e até mesmo emocionalmente. Depois voltei para meu quarto para descansar, pois o esforço para sair do quarto foi enorme.

Eu olhei para a senhora e a observei atentamente. Ela tinha um rosto... Às vezes até esqueço as palavras... Severo. Mas sereno e bondoso. Ela era assim mesmo, severa, mas podia sentir que era uma boa pessoa, uma excelente na verdade. Ela usava óculos dourados redondos, uma capa e um chapéu verdes, mas com tons em vermelho, amarelo e azul. Seu rosto aparentava ser de uma idade avançada, mas seus olhos azuis ainda eram intensos e cheios de vida e sabedoria. Ela lembrou um pouco minha mãe e olhei de uma para a outra. Mamãe não saia do meu lado desde que acordei e ainda não havia me contado tudo. Voltei a me concentrar na senhora, encarando-a longamente no fundo dos olhos.

Então comecei a sentir como se algo flutuasse no fundo da mente e um nome me veio à cabeça: Minerva Mcgonogall.

- Você é a Mimi... Minerva Mcgonogall. – Eu falei e me corrigi rapidamente. Ela levantou uma sobrancelha, mas sorriu.
- É você mesma... – Ela pareceu relaxar e continuou sorrindo, dando pequenos tapinhas em minha mão. – Eu sou Minerva Mcgonogall, Diretora de Hogwarts, lembra-se da escola?
- Sim... Ou melhor, vagamente. Conheço o nome, mas não me lembro do local... – Eu fiz um esforço e me senti tonta. Minerva e mamãe logo me ajudaram a recuperar o equilíbrio.
- Acalme-se, uma coisa de cada vez. – Minerva falou calmamente. – Você não deve se esforçar. A Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts é onde nós ensinamos bruxos jovens como você. Todos os bruxos devem passar por ela e estudar para aprender a controlar a magia.
- Eu estudava lá... Grifinória, não é? – Eu teimei e forcei um pouco mais. Me senti tonta novamente e mamãe me segurou, brigando comigo por continuar insistindo.
- Você ainda estuda e sim é da Grifinória. Uma aluna exemplar da Grifinória, se devo acrescentar, mas não deixe os outros saberem. – Ela sorriu. – Sei que é muita informação, mas, mais do que aluna, você é Monitora da Grifinória.
- Eu monitora?! – Eu me assustei e comecei a rir. Não me lembrava de muitas coisas, mas tinha a impressão de que isso era engraçado.
- Você mereceu e provou isso nos últimos dias. Além disso, eu a selecionei como Monitora-Chefe, junto de seu amigo Rupert. – Ela falou e esperou eu assimilar a questão. Eu me assustei ainda mais e vi o sorriso espalhar-se pelo rosto dela. – Novamente, não me arrependi e tenho certeza que fiz uma excelente escolha.
- Obrigada... Eu não sei como agradecer e no momento não posso fazer nada pelo cargo, sou inútil. – Eu falei, simplesmente.
- Você está longe de ser inútil, minha cara. Além disso tudo, você ainda é Auror, a Auror mais nova da história da magia. – Ela falou e eu me engasguei sozinha, tossindo.
- Calma, o que é um auror? E como eu posso ser a mais nova? Não sei de nada! – Eu falei.
- Auror é a profissão dos bruxos que decidem lutar contra seres e bruxos malignos. Uma profissão que você escolheu e que faz muito bem. – Mamãe respondeu por ela e sorriu.
- Não era para estarmos indo com calma? – Eu falei, meio chocada. Elas sorriram antes de continuarem.
- É necessário correr com algumas coisas. Artemis, você não deve se lembrar, mas além de Hogwarts existem muitas outras escolas, e duas delas, Durmstrang e Beauxbatons, são tão antigas e tradicionais quanto a nossa. – Eu assenti, reconhecendo vagamente aqueles nomes. – Essas três escolas fazem um Torneio a cada 4 anos. O Torneio Tribruxo. – Eu assenti novamente e ela olhou para mamãe antes de continuar. – É selecionado um Campeão de cada escola e eles competem pelo Taça Tribruxa em três provas. Esse torneio está acontecendo no momento.
- É verdade? Será que eu poderia vê-lo? – Perguntei, olhando para mamãe. – Quem são os campeões?
- De Durmstrang é sua amiga Lenneth Valkyrie, de Beauxbatons é sua amiga Gabriela... – Ela voltou a olhar para mamãe quando perguntei sobre o de Hogwarts. – E o de Hogwarts é você.
- EU?! – Eu voltei a ficar assustada. Milhares de coisas vieram a minha cabeça, mas me senti atropelada. Não fui capaz de perceber nada que me veio a cabeça, então fiquei tonta e voltei a perder o equilíbrio e elas me ajudaram a me sentar.
- Sim, você. O Cálice a selecionou mesmo estando em coma. Ela a julgou digna de competir e nos deu esperanças de que voltaria inteira. – A Diretora falou sorrindo.
- Mas o que eu posso fazer? Quando é a primeira tarefa?
- É amanhã. – Ela respondeu e eu fiquei boquiaberta. – Arte, preciso saber: você quer participar? Eu entenderia e não me importaria se você decidisse não participar. Por lei, você não pode desistir, mas se fizer as provas e ficar parada na largada, não há problema. Todos entenderiam. Você passou por muito nas três últimas semanas, merece um descanso... – Eu fiquei um tempo calada, pensando.
- Tem certeza que eu sou a Campeã? – Eu finalmente perguntei e ela assentiu.
- Eu mesma tirei seu nome do Cálice...
- Os outros Campeões, estão de acordo? E os alunos?
- Eles te apóiam. Seus amigos a apoiarão em qualquer momento.
- E sua família também. – Mamãe falou e como se respondesse, Fidelus soltou um rugido.
- Eu não sei nada ainda... Não lembro de nenhuma magia...
- Eu posso te ensinar, até amanhã. – Mamãe se propôs, animada. – Daria tempo de pelo menos você ter chance.
- Eu.... – Eu fiquei calada novamente, digerindo tanta informação. Fidelus rugiu novamente, me encorajando. Pensei em todos aqueles rostos que eu vira durante o dia, em como estavam felizes ao me ver acordar. Pensei em como eles iriam me apoiar, mesmo que eu não lembrasse deles ou de muitas coisas... – Eu vou participar.

Wednesday, November 23, 2011

Rebirth

Lembranças de Tuor H. E. Mithrandir / Mirian O. C. Chronos / Justin B. Silverhorn

23 de Novembro

Pela visão de Tuor

As semanas se arrastavam desde o ataque na véspera do Dia das Bruxas.

Já chegávamos a quase 4 semanas após o ataque e nesse tempo todo Arte não dera sinais de que iria acordar.

Seu estado estava estável, o que era, de certa forma, um bom sinal, pois ela pelo menos não estava piorando. Mas também não melhorava. Às vezes, ela parecia reagir um pouco a nós, a um toque meu, ao rugido de Fidelus, à voz de Mirian ou de algum de seus familiares, mas nada muito significativo.

Eu me comunicava diariamente com Gaia ou Flonne através de corujas e elas me contavam como a Arte estava. E sempre ia visitá-la nas sextas a noite, que era quando Minerva liberava a todos nós, depois do horário das aulas. Sempre nos reuníamos na sala da Diretora às 17hrs e entrávamos na lareira, saindo em um prédio vizinho à sede londrina. Então nos revezávamos a visitar o quarto de Arte e eu tentava passar o máximo de tempo possível com ela.

E agora a Primeira Tarefa se aproximava. Gabriela e Lenneth sempre iam visitar a Arte conosco, e nos apoiavam sempre, mas já há duas semanas vinham se preparando para a tarefa. Todos os dias víamos Lenneth ou Gabriela na biblioteca e várias vezes vimos uma das duas correndo pelos jardins, procurando conhecer melhor a propriedade, pois a tarefa poderia ser nos jardins por exemplo. Claro, nenhum de nós conhecia qual seria a tarefa e passávamos horas conversando sobre as possibilidades. Alguns acreditavam que teriam dragões novamente, mas eu dizia que não, pois seria uma grande vantagem para a Arte.

Então vinha esse problema. Com a Tarefa cada vez mais próxima e nenhum sinal da campeã de Hogwarts acordar, os murmúrios contra a seleção dela cresciam entre os alunos mais chatos. Eram raros, pois a quantidade de pessoas que apoiava e gostava da Arte era enorme, mas haviam sempre sussurros. Mais de uma vez eu ou um dos garotos quase brigamos com alguns desses grupinhos, pois eles começaram até mesmo a dizer que era culpa da Arte dos vampiros nos terem atacado. Eu não permitiria estragarem a memória dela, não depois de tudo que ela sacrificou por cada um deles.

Na Quarta de tarde, Minerva liberou uma visita extraordinária, pois era no dia antes da Primeira tarefa. Todos se reuniram em sua sala às 17hrs em ponto e ela avisou que deveria ser uma visita rápida.

- Estou permitindo que a visitem apenas porque amanhã é a Primeira Tarefa. Ainda não sabemos se ela vai acordar e o que vai acontecer. – Ela falou, enquanto as chamas roxas crepitavam às suas costas. – Mas imagino que queiram dar a ela algum apoio.

Todos assentimos e ela entrou primeiro nas chamas, deixando que o Vice-Diretor Ben nos organizasse em fila para entrar na lareira, sendo que ele iria por último.

Chegamos na sede dos Chronos por volta das 17:15 e logo Seth veio nos receber. Ele disse que Alucard estava com o Clã, pois haviam encontrado Maxmilliam, um forte aliado de Cadarn e o atacariam hoje. Quanto a Mirian, ela estava dentro da casa, tratando de Artemis. Logo perguntamos se ela estava bem e ele disse que sim, mas que na última hora seu estado mágico havia se tornado muito instável.

- Mas ainda vão visitá-la. Só que agora serão em grupos de 2 pessoas apenas e por pouco tempo. Não sabemos o que está acontecendo com ela. O primeiro grupo, por favor. – Ele falou e Hiro e Keiko entraram juntos na casa, enquanto nós nos sentávamos na biblioteca dos Chronos.

Eu fiquei por último, junto de Justin e todos foram visitar Artemis, sem contar Minerva e Ben. Sempre que voltavam, eu me preocupava, pois eles pareciam meio tristes, mesmo que não quisessem que eu percebesse. Justin apertou meu ombro e me levantei do sofá e fomos juntos até o quarto de Artemis.

A primeira coisa que vi foi Fidelus. Na verdade, parte de sua cabeça. O enorme dragão estava com as patas apoiadas na janela e sua cabeça quase entrava no quarto. Ele soltava uns gemidos estranhos e vi que tinha um cabo vermelho ligado entre ele e Artemis, e percebi que era sangue de dragão que circulava pelo tubo. Então percebi que Artemis gemia e se remexia na cama. Ela respirava com dificuldade, oscilando entre respirações rápidas e lentas, e seu rosto parecia cheio de dor. Justin logo correu para o lado de Mirian e começou a passar suas energias para Arte, tentando acalmá-la, mas ela continuava a se remexer. Eu corri para ela e segurei sua mão e comecei a pensar nela, em nossos momentos juntos.

Após algum tempo, Artemis pareceu relaxar e parou de se debater, mas parecia que seu sono estava ainda mais profundo... Mirian limpou o suor da testa e eu me apressei a ajudá-la a se sentar.

- O que houve? – Eu perguntei.

- Não sei. Assim que o outro grupo saiu, ela começou a se debater. O coma mágico está mergulhando ainda mais profundamente. Fidelus está mal também. – Ela falou e vi que Fidelus havia caído no chão do lado de fora da janela e seu peito subia e descia lentamente. Seu peito parecia bater em ressonância com Arte e me lembrei de uma coisa que ouvi de Morgan, a tratadora de dragões das Ilhas Hébridas: “Artemis e Fidelus estão mais ligados do que imaginávamos. Acho que ele está passando suas energias para ela, tentando salvá-la. Se um dos dois morrer, temo que o outro também irá...”

- O coma está ficando muito profundo, senhora Mirian. Temos que fazer algo, ou temo que ela nunca mais será capaz de retornar. – Justin falou e eu engoli em seco.

- Vou chamar os curandeiros e médicos. – Mirian falou, séria. – Precisamos tentar trazê-la de volta... Tuor, me perdoe, vocês terão que ir embora.

- Eu posso ficar um minuto a sós com ela? – Eu perguntei, a voz fraca, e eles assentiram, saindo do quarto.

- Estarei ao lado da porta. – Justin falou e me abraçou antes de sair.

Eu me sentei na cama ao lado de Arte e segurei sua mão. Ela estava quente, pelando em febre, como nunca esteve nessas últimas semanas. Eu não pude evitar e comecei a chorar e me deitei ao seu lado, abraçando-a com força. Pressionei sua cabeça contra meu peito e afaguei seus cabelos. Eu queria que ela voltasse logo, queria que ela sorrisse para mim uma vez mais. Tola, teimosa! Como você pode lutar sozinha?

De repente, então, ouvi Fidelus soltar um rugido forte e senti a mão de Artemis se mover. Foi um toque leve nos dedos. Eu me sentei assustado e a observei. Então sua mão voltou a se mexer. Mais um rugido de Fidelus e ouvi suas asas batendo com força, fazendo um barulho alto. Ele rugiu alto mais uma vez e pude ouvir suas garras se enterrando no chão. E então, ela então apertou minha mão!

- Artemis! – Eu gritei e comecei a sorrir. Justin e Mirian entraram correndo, no momento exato em que Artemis abria os olhos.

Seus lindos olhos azuis se abriram e se fixaram em mim. Ela me encarou por alguns segundos e depois virou sua cabeça para a mãe e Justin. Eles soltaram exclamações, paralisados na porta. Artemis então, tentou se sentar, mas não tinha forças e caiu deitada novamente. Eu a segurei e a ajudei a se sentar.

- Ela está acordada! – Eu gritei, agora chorava também e vi que Mirian também, assim como Justin. Mirian correu para o outro lado de Artemis e pegou sua mão. Justin saiu correndo, para chamar os outros. – Você está bem? – Eu perguntei e ela me olhou vagamente, como se estivesse confusa.

- Mãe.... – Sua voz estava fraca e sua boca seca, mas ela começou a falar. – O que aconteceu? Minha cabeça dói tanto...

- Nada filha, é uma longa história. Você está bem! – Ela falou e abraçou a filha. Ela então olhou pra mim e abriu um sorriso enorme, que eu retribui feliz.

- Graças aos deuses você voltou, Arte. Estava nos deixando com medo! Sua teimosa! – Eu falei, apertando sua mão. Ela então me olhou e seus olhos pareceram vazios por alguns instantes. Ela soltou minha mão e se afastou um pouco de mim.

- Quem é você? – Ela perguntou e eu olhei-a sem entender.

-O que você disse? Eu sou Tuor, seu namorado. – Eu respondi, sorrindo para ela, mas ela olhou para a mãe confusa.

- Eu não tenho namorado... Eu não conheço nenhum Tuor e não sei quem é você. – Ela falou, agora sua voz parecia clara como água. Caiu em meu peito como um balde d’água fria.

Todos chegaram nesse momento e eu a olhei sem entender. Meu peito doía muito... Arte não me reconhecia.

Eu me afastei da cama dela, enquanto ela olhava em volta. Seus olhos estavam vazios, sem reconhecer ninguém. Mas após alguns segundos seus olhos voltaram a brilhar e ela reconheceu Clara, Keiko, Hiro, Haley, Rupert, Julian, MJ, JJ e Jamal, mas não os outros. Eu me afastei ainda mais e Justin colocou a mão em meu ombro. Keiko também veio até mim e me abraçou eles também haviam escutado perfeitamente o que eu ouvi. Ela não me reconhecia. Meu peito doía.

Now it is time for you to close your eyes
They´ve seen much pain it´s slowly filling your mind
Pretty as they are but now so pale
You better leave all your worries far behind

Not long ago when you had the Fire
Burning inside of you brighter than any flame
You were the one that I believed in
Keeping our hopes up high where are you now?
Where do you aim?

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A notícia de que Arte tinha acordado espalhou-se rapidamente pela família Chronos e seus amigos. A casa ficou pequena novamente para tanta gente. Alucard, Ty, Griffon e Isaac voltaram da caçada imediatamente. Eles trouxeram boas notícias: Celas havia matado Maxmilliam e antes disso, Cewyn o mordera, conseguindo absorver suas memórias e tinham novas localizações de Cadarn.

Ela não reconhecia a maioria das pessoas de primeira. Ela os olhava sem conhecer por alguns segundos e, apenas algum esforço considerável, ela se lembrava deles. Mas não mudava o fato de que todos estavam felizes com sua recuperação.

Minerva nos permitiu ficar na casa, enquanto todos tentavam ir ver Artemis ou conversavam com seus familiares. Por volta das 18hrs, Justin disse que queria tentar desvendar o que tinha acontecido com ela. Ele disse que eles dois tinham uma ligação mental forte e que ele seria capaz de tentar ler sua alma. Ele então entrou no quarto dela, acompanhado por Mirian, Alucard, Seth, Griffon, Emily, Luna, Luthien, Mina, Bela e Luky. Além deles, eu, Clara e Justin fomos com eles.

- Artemis, você se lembra de mim? – Ele perguntou, sentado na cama ao lado de Arte. Ele a olhava intensamente e os olhos não se afastavam. Ele então pegou sua mão com leveza e a apertou entre as suas.

- Claro que lembro. Você é o Justin, não é? Amigo do Corvo. Por que pergunta? – Ela respondeu, após pensar por um instante. Ela olhou em volta e pareceu perceber algo no ar. Seus olhos vagavam por todos os rostos, confusa.

- Sim, sou eu mesmo, que bom que se lembra. – Justin sorriu, respondendo calmamente. – Você sabe o que eu sou?

- Como assim? Você é um aluno transferido. Entrou na escola ano passado. – Eu falei chocada. Vi que todos tiveram reações preocupadas. – O que foi?

- Quero que olhe em meus olhos, Artemis, apenas em meus olhos. Esqueça tudo e concentre-se apenas em mim. – Ela obedeceu e fixou seus olhos nos dele novamente. – Relaxe. Sinta o vento em seu rosto. Demora um pouco para perceber...

Não sei bem porquê, mas tive a impressão de que aquelas palavras doeram na mente de Artemis, pois ela fez um careta estranha. Mas depois os dois mergulharam em silêncio. Após alguns minutos, Justin disse que estava tudo bem e fez sinal para sairmos. Todos saíram com ele do quarto, ficando apenas Seth, Mina, Luthien e Bela no quarto, conversando com Arte.

Pela visão de Justin

- Justin, o que ela tem? – Tuor perguntou assim que saímos do quarto. Ele ainda tinha os olhos vermelhos e a preocupação que ele sentia, assim como o amor que ele sente por Arte, quase doeram em mim. Ele era o que tinha o maior dos motivos para estar triste.

- Ela perdeu toda a memória? – Alucard logo perguntou. Todos tínhamos percebido esse detalhe, mas agora eu percebia a profundidade disso.

- Sim... Na verdade mais do que isso. E sinto dizer, mas de forma irrecuperável. – Todos começaram a falar ao mesmo tempo, querendo saber detalhes e dizendo que havia formas de se reaver as memórias. Apenas Mirian permaneceu calada, olhando para mim.

- Ele está certo. – Ela finalmente falou, sua voz saindo frágil e baixa, mas todos se calaram. – Eu percebi isso também. Eu mesma antes de chamá-los tentei trazer suas memórias de volta, mas nada que eu fizesse surgiu efeito.

- Eu também não. Apesar de ainda estar fraco, tenho força suficiente para esse tipo de magia, mas não fui capaz. A mente e o coração dela estão completamente mergulhados em trevas. Ela se lembra de muito pouco.

A verdade é que ela esqueceu as suas memórias mais importantes, de todos. – Eu continuei, olhando para todos nos olhos. – Ela não se lembra de mim, apenas como o amigo do Julian, não se lembra que Haley vê espíritos, não se lembra dos ataques e batalhas. Não se lembra que Clara é capaz de se transformar em lobo, que sou um Shaman, nem que Rupert está escrevendo um livro ou coisas assim. Nada, ela perdeu todas as memórias mais importantes de todos. – Eu continuei e todos me ouviam calados. – Ela se esqueceu completamente de seus poderes como Sacerdotisa e como Rainha, esqueceu completamente Avalon e Chronos. É provável que ela nem se lembre de ter se inscrito no Torneio Tribruxo.

Mas o pior: ela esqueceu completamente de Tuor. – Eu falei, olhando preocupado para ele. Ele por sua vez ficou calado olhando para o chão, enquanto Julian e Keiko seguravam sua mão ou braço. – Para ela, ele não passa de um estranho. Ela não sabe que são namorados, não sabe que são amigos... Para ela é como se ele nunca tivesse existido. E eu temo pelo pior... Acredito que não apenas isso, acredito que por algum motivo que não sei perceber, ela aniquilou todo o passado e todo o futuro que poderia ter com ele. É como se ela não pudesse mais se envolver com ele...

Pela visão de Mirian

Foi um choque saber que Arte tinha acordado, mas que perdera todas as suas memórias. Principalmente para Tuor. Devíamos tanto a ele... Pela segunda vez ele trouxera Artemis de volta, talvez na última tenha sido coincidência, mas não havia dúvidas de que fora ele que a trouxera de volta à vida. E agora ela sequer o reconhecia...

Era estranho, pois com algum esforço, ela se lembrava de nós, sabia nos reconhecer, mas não ele. Ela simplesmente apagara tudo que a ligasse a ele. Ela apagara também todos os seus poderes de Sacerdotisa, como Rainha, e eu tenho certeza de que se esquecera de Chronos também.

Seus amigos queriam ficar com ela, mas não podíamos deixar. Artemis precisava de cuidados ainda, pois estava fraca. Minerva então pediu que Ben os levasse para Hogwarts e cada um foi se despedir dela. Apenas Minerva ficou e pediu que ninguém falasse a ela sobre o Torneio, e que ela faria isso.

Mas não mudava o fato de estarmos felizes. A felicidade que eu sentia era enorme e acho que nunca me senti tão feliz desde que dera luz aos meus filhos. Era como se Arte tivesse nascido de novo. Ela se esquecera de tudo, parecia com dificuldade até de se comunicar às vezes.

Aos poucos ela foi se lembrando e íamos ensinando-a algumas coisas, como contando histórias do mundo bruxo e ela os devorava ávida. Ela se emocionou realmente com a breve história que resumimos das Guerras de Voldemort.

Decidi não colocá-la de imediato em contato com a magia, pois não sabíamos o que isso poderia causar. Apenas por volta das 20hrs dei a ela sua varinha. Foi como se a varinha a selecionasse novamente. Sensível como eu sou à magia, pude ver o fluxo de magia circulando entre ambas. Artemis pareceu mais completa.

Então decidi levá-la para fora.

Fidelus estava quieto desde que Artemis acordara, estranhamente na verdade. Mas acho que ele entendia que devia ficar quieto. Ela poderia se assustar com ele ou com seus rugidos e piorar seu estado. Aquele dragão amava realmente minha filha.

- Quero que você veja algo e me diz se você se lembra. – Eu falei, enquanto eu e Lu a ajudávamos a andar. Minerva, Seth, Griffon, Ty e Luna vinham logo atrás de nós. Artemis tinha dificuldade de andar, como se tivesse que reaprender, fora que o tempo que ficou desacordada a debilitara bastante.

- O que? – Ela perguntou curiosa. O esforço de falar e se mover era bastante, então ela evitava falar.

- Você vai ver. Surpresa. – Lu falou com carinho.

Viramos a esquina da casa e Fidelus ficou visível. Ele logo levantou a cabeça, nervoso e contente, suas asas batendo ansiosas. Artemis ficou paralisada onde estava, os olhos arregalados, a boca entreaberta enquanto tentava falar algo. Ela olhou para nós confusa e sorrimos, incentivando-a.

Ela começou a andar à frente e nós a ajudamos. A cada passo ela parecia mais nervosa, quase tremendo. Senti que o esforço que ela fazia era enorme, tanto física, quanto mentalmente.

Fidelus se aproximou lentamente, mas foi o suficiente para Artemis se sobressaltar e se afastar. Isso pareceu ferir os ferimentos dele, pois suas asas se abaixaram tristemente. Mas Arte engoliu em seco e se soltou da gente. Ela caminhou até ele lentamente, a mão esticada à frente. Fidelus ficou parado, aguardando-a. Lu andava lentamente perto dela, com receio dela cair, mas ela se aproximava do dragão cada vez mais firmemente.

Sua mão então tocou o focinho do dragão. E quase pude sentir como se um choque elétrico passasse de um para o outro. Lágrimas vieram aos olhos de Artemis e eu senti lágrimas nos meus olhos também.

- Fidelus... – Ela gaguejou, entre lágrimas. O dragão soltou um rugido baixo e feliz e deixou-se acariciar. Artemis então pulou para frente, abraçando o dragão com carinho. Nós nos sobressaltamos, mas ela se pendurou no pescoço do dragão e esse a segurou protetoramente, suas asas batendo alegres. – Eu... Eu estou tão feliz de estar com você.

Eu esfreguei as lágrimas, enquanto Lu me abraçava e observamos juntos os dois. Fidelus e Artemis estavam realmente unidos, uma união de sangue e alma tão poderosa que sobrevivera à perda de memória dela. E eu tinha esperanças de que ele a ajudaria a se recuperar mais rapidamente.


Saturday, November 19, 2011


Lembranças de Mirian O. C. Chronos

Levamos Artemis para o Hospital St. Mary às pressas.

O helicóptero que Quim conseguira para a gente nos deixou na cobertura do hospital que já tinha uma equipe inteira a nossa disposição esperando por nós. Eu, Brian, Ethan e Louise fizemos parte da equipe que começou a tratar imediatamente de minha filha. Lu, Seth, Luna, Griffon e Tuor estavam conosco e foram levados para um quarto onde pudessem esperar notícias. Griffon queria ajudar, mas ele era formado apenas como curandeiro e não como médico trouxa, ao contrário de nós quatro.

Artemis não podia ser levada para o St. Mungus, pois sua instabilidade mágica era tamanha que tínhamos medo de piorar o seu estado de saúde se ela chegasse perto de um local com tanto acidente mágico como o hospital dos bruxos.

Não sabíamos ainda como Tuor a havia trazido de volta a vida. Eu tinha certeza que minha filha tinha morrido, nos meus braços praticamente. Senti sua vida indo embora e todo o meu treinamento como médica e curandeira me diziam que ela tinha falecido. Mas ela voltara a vida. E eu não podia estar mais feliz.

Eu tentei ajudar o máximo que podia, mas estava acordada por quase 48 horas já, sem descanso, e o médico chefe da equipe me mandou descansar. Louise me acompanhou e me deu um calmante para que eu pudesse dormir. Dormi deitada em uma das camas dos residentes, próxima à sala onde Artemis era operada. Meu sono foi leve e curto, mas mesmo assim reparador. Dormi ali por umas 2 horas e quando me levantei me senti mais disposta e fui procurar meus familiares.

Foi fácil encontrá-los, pois era o quarto mais cheio do hospital, pois todos estavam ali: Lu andava de um lado para o outro preocupado, enquanto Ty, Griffon, Seth, Renomaru, Scott, Ben, Quim ou Logan tentavam acalmá-lo. Alex e Yulli estavam lá também, assim como Miyako, Gabriel, Rory, Emily e Luna, sendo que esses últimos se revezavam em tentar acalmar a situação. Tuor estava sentado em uma poltrona e cochilava quando cheguei, com um cobertor sobre ele. Eu o olhei com admiração renovada, agradecida por tudo que ele fez pela minha filha. Gaia, Celas e Isaac tinham acompanhado Flonne ao St. Mungus, mas tinham ficado aqui no St. Mary pelas primeiras horas. A todo momento algum auror se comunicava com meu marido ou com Quim, transmitindo as últimas informações.

Assim que apareci na porta, todos começaram a falar ao mesmo tempo e fiz sinal por silêncio para não perturbar o sono de Tuor.

- Como ela está? – Lu quis logo saber e eu o abracei com carinho, pois ele sentia o mesmo que eu. Apertei sua mão e só esse toque pareceu suficiente para dar novas esperanças para mim e para ele.

- Ainda é cedo para dizer, Lu, mas estamos operando-a agora. A situação é grave, mas a equipe está fazendo de tudo para salvá-la. – Eu expliquei e todos assentiram.

- Por que ela decidiu lutar sozinha? – Quim perguntou e por incrível que parece, quase todos riram.

- Até parece que você não conhece os Chronos. – Alex respondeu e rimos novamente.

- Mas eu conheço minha sobrinha: se ela lutou, era porque tinha chances de ganhar. Ele deve ter lutado até o fim. – Ty falou, com certo orgulho na voz.

- Eu não tenho dúvidas disso. – Seth falou. – Quando chegamos lá, não havia sinais dos vampiros, com exceção de Gustav.

- Ela enfrentou sozinha quase uma centena de vampiros... Admirável. – Renomaru falou e então olhou para Tuor. – Vocês já sabem como ele a trouxe de volta?

- Não fazemos idéia. – Griffon respondeu. – Ela estava morta, tenho certeza disso. E passou mais de 12 horas sem vida...

- Ele não tinha conhecimento de alquimia para trazê-la de volta a vida. – Renomaru falou, assumindo seu ar de professor. – Nós os alquimistas viemos buscando como criar a vida e reviver os mortos a milhares de anos. – Ele falou, e eu levantei uma sobrancelha. O “nós” dele pareceu ser muito enfático e me perguntei se ele já havia tentado. – Nem mesmo meu avô com a Pedra Filosofal conseguiu trazer mortos de volta a vida.

- Você acha que ele a transformou em um Homunculus? – Luna perguntou.

- Não, tenho certeza que não. – Renomaru explicou. – Ela não é um homunculus, tenho certeza. Fora que como falei, ele não tem conhecimento de alquimia para isso... Ela é um ser humano completo e não encontro explicações para ele ter conseguido trazê-la de volta a vida...

- O importante é que ela voltou... – Eu falei com lágrimas nos olhos. – Mas concordo que precisamos observá-la, não sabemos que efeitos colaterais isso pode causar a ela...

Todos concordaram e eu sai da sala, voltando para a equipe que tratava da Arte.

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O estado de Arte ainda era muito grave e a equipe do hospital passou 18 horas tratando de seus ferimentos. Havia um traumatismo craniano, ossos quebrados, costelas quebradas, perfurações de órgãos internos, hemorragias internas... Sem contar o esgotamento físico e mágico.

Ao final das 18 horas, porém, recebemos ótimas notícias. Eles tinham conseguido estabilizar seu quadro e ela iria para o quarto para observação. Mas talvez a melhor de todas chegou por Ben, que havia ido para a cerimônia de seleção dos campeões. Ele voltou nos dizendo que Artemis havia sido selecionada pelo Cálice e isso nos encheu de alegrias e esperanças!

Arte foi levada para o quarto do hospital e ficou em observação. Ela foi mantida no hospital trouxa por uma semana inteira, pois não podíamos arriscar em levá-la para outro local com seu estado de saúde ainda debilitado. Mas precisávamos levá-la para algum lugar mais seguro, nada impedia dos vampiros tentarem atacá-la ali e seria mais difícil protegê-la. Muitas coisas aconteceram nessa semana em que ela ficou no St. Mary...

- Senhora, ela salvou a minha vida, de meu marido e de meu filho. Enquanto eu puder lutar, enquanto minha gravidez permitir, quero dedicar meu tempo para protegê-la. Ela é como uma irmã, na verdade uma filha para mim, e se alguém vai protegê-la, quero ser uma dessas pessoas. – Flonne falou, assim que saiu do St. Mungus, dois dias depois de dar entrada. Ela foi imediatamente visitar Artemis e me fizera esse pedido no mesmo dia.

- E eu estarei com ela também. Darei tudo de mim para protegê-la, a qualquer custo. – Laharl completou a esposa e seu olhar era intenso. Eles se propuseram a isso quando souberam que haveriam sempre pelo menos 3 aurores com Artemis agora.

Eu não pude negar o pedido deles, e os dois, junto de Rin e Altair foram designados como os guarda-costas de Artemis e nunca saiam de perto dela. Mas por enquanto, não faltavam pessoas para estar com ela. Toda a noite revezávamos em quem dormiria com a Arte, pois apenas um acompanhante era permitido pelo hospital. Todos os tios dela e amigos da família se revezaram.

Os amigos dela queriam muito ir vê-la e recebiam notícias através de nós ou Tuor, o único autorizado a vê-la, enquanto ela estivesse tão fraca. Diariamente, Ben, Neville ou mesmo Minerva, o acompanhava a visita no final da tarde. Prometemos que quando ela fosse transferida para a sede dos Chronos, eles poderiam ir visitá-la.

Recebi muitas visitas e votos de esperança e melhoras de diversos bruxos do mundo inteiro. Vários queriam vir visitá-la, mas eu restringi as visitas a parentes e não deixaria que outros a visitassem antes de seus amigos. Lu estava cuidando da imprensa e não deixávamos nenhum repórter chegar perto do quarto de nossa filha.

Depois de uma semana, o quadro de Artemis se estabilizou e pudemos levá-la para a sede londrina dos Chronos. Era foi transferida de carro no sábado de manhã, com grande proteção dos aurores. Arte foi instalada em um quarto no térreo, para ser mais fácil de transportar e cuidar. Magia era proibida em um raio de 300 metros ao seu redor e ninguém entrava no quarto de varinha. A única magia permitia era a de cura e realizada por algum curandeiro especializado.

Os membros da tribo do Justin, liderados pela sua avó, vieram visitar Artemis no dia seguinte de sua transferência. Eles me asseguraram que estavam juntos comigo e com Arte e que rezariam por ela e para que os espíritos de seu povo a protegessem. Eu agradeci pelo carinho e a avó de Justin passou um longo tempo sentada ao lado de Artemis, calada.

Os garotos foram visitá-la na sexta seguinte, logo após o almoço. Minerva em pessoa os levava e eles foram liberados das atividades e aulas da tarde, para poder visitar Artemis. Estavam todos os seus amigos ali, inclusive seus amigos de Durmstrang e Beauxbatons. Eles levavam uma bandeira de Hogwarts e vinham com diversos votos de melhoras e uma quantidade enorme de flores, dos mais diversos tipos e cores. Ela era muito querida realmente.

- O que Fidelus faz aqui? – Haley perguntou admirada, quando eles entraram pelo portão e foram recebidos por um longo olhar de Fidelus, o dragão de Artemis. Ele os encarou com intensidade, mas sem mudar seu olhar triste, que o acompanhava desde que Artemis fora atacada. Ele soltou um pequeno rugido ao reconhecê-los, e voltou a deitar a cabeça, olhando pela janela que dava no quarto de Artemis.

- Desde que Artemis foi atacada, não houve um dia em que Fidelus não tenha tentado fugir das Ilhas. – Eu falei com um sorriso, pois estava me afeiçoando ao dragão. – Ele se tornou arisco e agressivo e sua saúde também não está boa. Então quando a trouxemos para cá, decidimos que ele merecia vir também.

- E desde que ele veio para cá, a situação da Arte melhorou. – Lu completou. – Faz bem aos dois. O carinho dele é enorme. Ele não sai dali o dia inteiro, apenas para se alimentar e outras necessidades. Nós inclusive alargarmos a janela, para ele ter maior contato com ela. É difícil saber quem sai menos de perto dela: eu, Mirian, Flonne ou Fidelus. – Ele falou e sorriu, fazendo todos sorrirem.

- E como ela está? – Minerva perguntou e vi os rostos apreensivos de meus sobrinhos.

- Ela está estável. – Eu expliquei. – Não piora, mas também não melhora... E não dá sinais de que vá acordar... Quando Fidelus ruge, às vezes ela tem uma reação, ou quando estamos conversando perto dela.

- Podemos entrar no quarto dela? – Hiro perguntou e eu sorri para ele.

- Podem e devem. Mas há algumas regras. Vocês vão entrar em grupos de 4, sem varinhas. E os outros que vão ficar esperando nas outras salas, também não devem fazer nenhuma magia. – Eu falei.

- Entreguem qualquer item mágico que tiverem. Mapas, bússolas, pingentes, qualquer coisa com magia antes de entrarem. – Lu completou e todos começaram a tirar esses itens de seus bolsos.

- E quando estiverem lá, pensem e falem coisas boas. – Minerva completou. – Ela pode estar desacordada, mas não significa que não vá ouvir vocês. Transmitam felicidade, contem de seu dia a dia na escola, fará bem para ela.

Todos assentiram e eu vi como pareciam ter crescido tanto em tão pouco tempo. O trauma do ataque os afetara de alguma forma, e pareciam ter amadurecido. Eu não via crianças, mas já adultos ali, que encararam a possibilidade de perder uma amiga e que sabiam que tinham que transmitir segurança para ela.

A visita foi longa, pois eram muitos, mas foi boa. Todos se emocionaram e saiam chorando do quarto, mas vi que o choro não era de desespero ou medo, mas sim de esperança e alegria, acreditavam que ela voltaria. Eles conversavam com ela alegremente, contando o dia a dia deles, de como era divertido ter um monte de alunos estrangeiros no castelo. Contavam do campeonato de Quadribol, de como o time da Grifinória perdera um jogo sem a goleira deles, de como os alunos estavam animados com o Torneio e a seleção dela como Campeã. Diziam que até os Fantasmas estavam entusiasmados e não viam a hora de poder revê-la.

Tuor, Justin, Keiko e Minerva foram os últimos a entrar no quarto, e eu os acompanhei. Tuor logo foi para seu lado e beijou sua testa, segurando sua mão com força. Às vezes Artemis reagia a ele e uma ou duas vezes eu vi seu pingente piscando lentamente. Então percebi algo errado, quando Keiko se debruçava para beijá-la também e depois Justin acariciava os cabelos de minha filha. Tuor perguntou na mesma hora.

- Mirian, você tirou os pingentes dela? – Ele perguntou e eu neguei.

- Não. Nem o Lu que eu saiba. Onde eles estão? – Eu perguntei. Os dois pingentes de Artemis, a Pedra de Ísis em formato de lótus branca, dada por mim e pelo Lu, e o pingente em formato de flor de lótus rosa, dado por Tuor, não estavam no pescoço de Artemis. Não havia nem sinal do cordão que os prendia.

- Que estranho... Será que alguém mexeu? – Minerva perguntou, mas Flonne disse que ninguém tirou nada do quarto, pois ela saberia.

- Eles estavam ai até ontem, tenho certeza. – Eu comentei e começamos a procurar pelo quarto, em gavetas, embaixo do travesseiro ou mesmo embaixo da cama. Mas não encontramos nada.

- Posso estar errado... – Justin começou a falar e paramos de procurar pelo pingente. – Mas os pingentes sumiram magicamente...

Não encontramos os pingentes em lugar algum e continuava um mistério de como, ou porque, eles tinham sumido.


Tuesday, November 15, 2011


- Ok pessoal, se reúnam aqui um instante – Haley chamou e formamos um circulo na saída do vestiário – Quando entrarmos em campo vai haver provocação, mas não quero que deixem isso atrapalhar tudo que treinamos – ela disse olhando para Alvo e Malfoy – Eles vão tentar desestabilizar vocês, mas sabemos que são capazes de jogar e não vão decepcionar, então apenas ignorem.
- Não se preocupe, não vamos dar ouvidos a nada – Malfoy respondeu e Alvo assentiu – Quando o jogo acabar, nós é que vamos rir.
- Esse é o espírito. Sonserina no três – Haley disse animada e esticou a mão para colocarmos as nossas por cima – Um, dois, três, Sonserina!

Montamos nas vassouras e entramos em campo. O time da Fidei já estava sobrevoando as arquibancadas e Tommy, agora narrador do campeonato, já havia anunciado a escalação deles.

- E vem ai o novo time da Sonserina – o ouvimos gritar empolgado da cabine dos professores – Goyle, Menken, Lupin, Warrick, Cohen e as duas novidades do time, Escórpio Malfoy e Alvo Severo. Foi uma decisão arriscada da capitão Haley Warrick em escalar dois alunos do 1º ano, vamos ver se valeu à pena.

Como previsto, ouvimos algumas risadas vindo das arquibancadas. A maior parte delas era na torcida da Grifinória e não foi difícil identificar Tiago, Fred e Luky puxando o coro das piadas. Olhei para Alvo e ele logo assentiu, assegurando que não estava se importando. Os dois times se posicionaram e o juiz autorizou o inicio da partida.

Não foi um jogo fácil. O time da Fidei era bom e muito bem organizado, mas por mais que eles tenham dado trabalho, o nosso time ainda era melhor. Cada gol marcado pelos artilheiros franceses eram logo anulados por um gol nosso. Embora Malfoy não tenha marcado tantos gols quanto Haley e JJ, quando ele tinha a posse da goles ninguém conseguia roubá-la. Ele era rápido e pequeno, a facilidade com que fazia as manobras estava deixando os batedores e artilheiros da Fidei tontos.

Já passávamos de uma hora de jogo quando vi um ponto dourado brilhando perto da arquibancada da Lufa-Lufa. Olhei para o lado depressa, procurando Alvo, mas ele também já tinha visto e disparava na direção dele. Infelizmente o apanhador da Fidei estava logo atrás.

- Vamos lá Alvo, prove que não erramos em escolher você... – disse baixo do alto do campo, vendo duas figuras verde e amarela voando a toda velocidade pra cima das arquibancadas.

Os dois deram um rasante em cima das pessoas e o pomo fez uma curva rápida, voando para o meio do campo. Os dois o perseguiam, mas parecia que o pomo estava gostando da brincadeira, pois começou um ziguezague que fez com que eu o perdesse de vista em questão de segundos. O pomo voltou a voar na direção das arquibancadas, agora da Sonserina, e mantinha uma reta para uma das torres onde ficavam as escadas. Não parecia que ele ia fazer uma curva, mas os dois apanhadores não estavam se importante em se chocar com as madeiras. Eles já estavam a centímetros de uma tragédia quando o pomo subiu de repente. O apanhador da Fidei virou para o lado errado e Alvo disparou pra cima do pomo, fechando a mão tão afobado que arrancou a bandeira da Sonserina que estava no topo da torre.

- Ele conseguiu! Alvo Potter capturou o pomo! – a voz de Tommy beirava a histeria – Sonserina venceu!

Alvo voltou para o meio do campo exibindo o pomo preso entre os dedos, embolado na bandeira da Sonserina, e o sorriso em seu rosto ia de uma orelha a outra. Voamos pra cima dele e o engolimos em um abraço coletivo. Definitivamente não tínhamos feito a escolha errada.

ººººººººº

- Vamos lá, seus preguiçosos! Oito!

Gritei do meio da sala e todos começaram a socar os sacos de areia espalhados nela. A visita a Arte na sede dos Chronos na sexta-feira havia dado um novo ânimo ao grupo. Já havíamos elaborado um plano impecável para não sermos descobertos e dado início ao treinamento da Armada do Dragão, mas agora estávamos mais focados. Agora não éramos mais só o nosso grupo fechado, tinham mais de 30 alunos na sala obedecendo nossos comandos e precisávamos de organização.

Como não tínhamos como sair com todas aquelas pessoas para corridas matinais e eles precisavam de preparo físico, bolamos uma série de exercícios que pudéssemos fazer dentro do castelo. Estávamos usando a sala secreta dos fundadores, agora adaptada para parecer um centro de treinamento. Eu fiquei encarregada de comandar os exercícios físicos e estava gostando muito dessa patente. Todo o estresse com aulas e qualquer outra coisa eram descontados nos gritos que estava dando para conduzir a aula.

- Vocês realmente esperam enfrentar um vampiro batendo desse jeito? – gritei passando ao lado de Gabriela, que já estava com o rosto vermelho – Nove! – gritei outra vez e eles passaram a chutar os sacos de areia – Vamos Alvo, ou tudo que sabe fazer é capturar pomo de ouro?

Alvo me olhou apavorado, mas passou a se concentrar mais no exercício. Ele, Escórpio e Olivia estavam entre os alunos que treinávamos, mas não eram os únicos do 1º ano. Não que tivéssemos qualquer pretensão de deixá-los lutar, mas era reconfortante saber que, caso algo saísse do controle, eles teriam noção de como se defender.

- Não estão chutando alto o bastante! – passei ao lado de James e ele mantinha uma expressão concentrada no rosto, mas sabia que estava no limite – Dez! – agora todos pararam os chutes e se dividiram em duplas, se revezando para fazer abdominais. Passei ao lado de Amber e Kaley – Estão esperando o que pra começar? Outro ataque?
- Estou tentando decidir quem eu odeio mais – Amber falou quase sem fôlego – Você ou ela, por ter me convidado pra Armada – e apontou pra Kaley, que estava quase morrendo para completar as abdominais.
- Vamos lá, não parem! – bati palma na cara das duas – Se alguém tiver um ataque cardíaco Justin sabe socorrer.
- Eu sou a única a ponto de desmaiar? – Penny perguntou pingando de suor.
- Não. Eu continuo vendo nosso avô morto no fim do túnel dizendo “venha para a luz” – Patrick respondeu ofegante, segurando os joelhos da irmã.
- Vinte abdominais cada um e depois podem alongar por 5 minutos – dessa vez não gritei, mas falei alto o bastante para que todos ouvissem.

Todos estavam circulando entre as duplas ajudando a monitorar os exercícios e incentivar os que já estavam ficando sem energia e me aproximei de Justin e Hiro, que conversavam fora do tatame. Estavam discutindo o que fazer em seguida.

- Boa aula, G.I. Jane – Justin disse rindo – Quando isso acabar vão estar todos prontos para se juntar ao exercito.
- Obrigada, estou me sentindo mais leve depois de tantos gritos – e os dois riram – O que vamos fazer agora? Não posso pedir mais nenhum exercício, vão desmaiar até se pedir pra bater palma.
- Justin acha uma boa idéia fazê-los treinar o patrono – Hiro falou – A maioria aqui já sabe como produzir um, mas quantos sabem produzir um corpóreo?
- É verdade, aposto que quase nenhum. E Arte ia nos ensinar o Magnus Patrono, eles precisam dominar o normal antes de passar para o próximo nível.
- Exato, então vou conduzir essa parte do treino e Hiro vai cuidar dos mais novos que ainda não aprenderam o feitiço, vai ensiná-los como executá-lo.
- Quer me ajudar? Só os que já chegaram ao 5º ano sabem o que é um patrono e temos uma boa quantidade de gente abaixo disso.
- Claro, sem problema.

Olhei para o tatame e eles estavam começando o alongamento comandado por Keiko. Quando acabaram Justin assumiu e todos que tinham menos de 15 anos vieram de encontro a Hiro e eu. Além de Alvo, Escórpio e Olivia, também estava no grupo Daniel, Tiago e os gêmeos do professor Longbottom, Frank e Alice. Mina e Luthien eram as únicas com menos de 15 anos que ficaram no outro grupo. Enquanto Justin já organizava o resto da turma para começarem a praticar o feitiço, levamos os menores pro outro lado da sala e pedimos que sentassem no chão. Todos se atiraram no tatame na mesma hora, exaustos.

- Sei que estão todos cansados e o feitiço patrono exige muito esforço, então antes de começarmos a praticá-lo quero que todos relaxem e pensem primeiro em uma lembrança feliz – Hiro andava entre eles enquanto falava – Procure na memória a melhor lembrança que tem, ela precisa ser muito boa.
- O feitiço é feito de energia positiva, então se não tiverem uma lembrança feliz em mente, ele não vai funcionar – completei – Vamos dar cinco minutos para descansarem e encontrarem a lembrança ideal, e então vamos começar a praticar.

Todos deitaram no tatame e fecharam os olhos, relaxando. Alguns faziam caretas enquanto tentavam pensar que lembrança seria boa o suficiente, outros mantinham expressões sérias e concentradas. Do outro lado da sala Justin comandava os mais velhos e os outros ajudavam os que estavam enfrentando dificuldade para manter o patrono estável. Não era fácil se concentrar em um feitiço tão potente depois de uma série cansativa de exercícios, mas ninguém teria hora do descanso em uma batalha.

- Muito bem, todos já conseguiram pensar em uma lembrança feliz? – acabei com a hora do recreio e todos abriram os olhos, assentindo – Então vamos começar a praticar. De pé!
- O feitiço patrono, como Clara já falou, é feito de energia positiva. Quando é conjurado corretamente, toma a forma de um animal prateado e de aspecto único para cada bruxo.
- Não esperamos que consigam executar com perfeição hoje, mas se conseguirem que algo prateado saia da varinha, já será um grande passo.
- Repitam alto e de forma clara: Expecto Patronum!

Eles repetiram o encantamento e depois de alguns minutos de prática, fumaças começaram a sair das varinhas. Ainda eram muito fracas, não formariam nem um mosquito patrono, mas já era alguma coisa. Estavam todos esgotados quando mandamos que parassem, quase uma hora depois, mas muito animados. Hiro distribuiu chocolate e começamos a organizar os grupos para saírem da sala sem sermos vistos, sempre monitorando os corredores com o mapa do maroto.

Quando todos já tinham voltado em segurança para os salões comunais, só o nosso grupo voltou à sala. MJ trouxe um prato de cupcakes da cozinha e garrafas de cerveja amanteigada e brindamos o avanço das aulas. Não éramos um exército que ia exterminar todos os vampiros da face da Terra, mas íamos estar preparados para dar trabalho e estragar qualquer que fosse o plano deles. Quando os vampiros voltassem, estaríamos esperando por eles.

Tuesday, November 08, 2011


Levantei cedo no sábado, com Julian puxando meu lençol e me atirando pra fora da cama antes das 8h. Era o segundo fim de semana de quadribol e com o campeonato com oito times a mais, os ânimos estavam alterados. Com Arte em coma e longe de Hogwarts, o time da Grifinória havia levado uma surra de um dos times de Durmstrang na semana passada tendo Timothy como goleiro reserva. Hoje tínhamos uma partida para ficar de olho, com a Sapientai Angeli, o melhor time de Beauxbatons, enfrentando o melhor time de Durmstrang, os Red Phanters. E amanhã era a partida que todos de Hogwarts estavam esperando, onde finalmente vamos descobrir quem são os novos jogadores da Sonserina quando ela entrar em campo contra a Fidei Angeli.

O salão principal estava um caos quando chegamos. Os dois times de que iam se enfrentar trocavam provocações amistosas, mas era o bastante para colocar fogo na rivalidade entre as escolas. Gabriela, a apanhadora da Sapientai e campeã de Beauxbatons, e Devon, um dos batedores, estavam em cima da mesa da Corvinal comandando a bagunça da torcida de Beauxbatons. O capitão do time de Durmstrang não deixou barato e subiu na mesa da Sonserina agitando o bastão e chamando os colegas para cantar o hino da escola.

- Vamos sentar na mesa da Lufa-Lufa? – Julian sugeriu vendo a algazarra na nossa mesa e assenti.

Zach estava rindo da bagunça quando chegamos e abriu espaço para nós dois, enquanto Justin se espremia ao lado de Kaley. Foi o café mais barulhento de Hogwarts desde que chegamos à escola, mas não estava conseguindo me divertir com as provocações. Amber estava sentada cinco pessoas de distancia com Richard, também fugindo da bagunça na Corvinal. Desde a festa de Halloween o namoro dos dois passou a me incomodar. Não sabia explicar satisfatoriamente o motivo, mas já não achava mais normal ela namorar alguém com quem não tinha absolutamente nada em comum. Eles levantaram alguns minutos depois e sorriram pra mim quando passaram ao meu lado. Sorri de volta, mas acabei perdendo a fome. Ele era legal, não podia negar isso, mas agora sempre que nos víamos tudo que vinha a mente enquanto apertava a sua mão era o quanto de força seria preciso para quebrá-la. Procurei Jamal do outro lado e vi que ele já tinha saído da mesa da Sonserina, então sai a sua procura. Precisava resolver isso antes que enlouquecesse. Tinha um livro para escrever, não podia perder meu tempo com planos de vingança sem fundamento.

- Preciso da sua ajuda – parei ao lado dele quando o alcancei no saguão e ele se assustou com a minha chegada repentina – Fiz uma besteira. Eu acho.
- Está me assustando com essa cara de quem matou alguém e precisa da minha ajuda pra esconder o corpo.
- Tem que me arrumar uma namorada.
- No momento não sei de nenhuma vendendo – Jamal riu e bateu com a mão no meu ombro, me encarando – O que está acontecendo?
- Preciso de uma namorada pra parar de me incomodar com o namoro da Amber – admiti e ele sacudiu a cabeça, como se de alguma forma já esperasse por isso – Não posso gastar todo o meu tempo pensando em diferentes formas de torturar Richard Tyrell, preciso voltar a focar no meu livro!
- E você acha que arrumar uma namorada é mesmo a solução pro seu problema?
- Não sei se é a solução definitiva, mas é um começo.
- Rupert, se você está apaixonado pela Amber, arrumar uma namorada que não seja ela não vai ajudar.
- E como eu vou saber se estou apaixonado por ela ou se é só atração? Você viu como ela estava na festa.
- Infelizmente nisso não vou poder ajudar. Nunca me apaixonei, não faço idéia de como possa ser.
- Mas pode me arrumar uma namorada. Vai me ajudar nisso ou não?
- Claro que sim. Está vendo aquele grupo de meninas de Beauxbatons saindo do salão principal? – ele apontou na direção delas e uma nos viu – Aquela que está olhando pra cá e sorrindo, seu nome é Sophie. Notei como ela estava olhando pra você no jantar ontem. Pode chamá-la para sair, ela vai aceitar.
- Só podemos ir a Hogsmeade mês que vem, se é que vamos poder sair de novo depois do que aconteceu, o que eu digo?
- Convide-a para o jogo de quadribol amanhã. Ela é da Fidei, que vai jogar contra a Sonserina. Depois que nosso time massacrar o dela, vai poder consolá-la à vontade.
- Ah sim, a tão esperada partida que vai revelar os jogadores misteriosos – Jamal abriu um sorriso sarcástico – Não tem ninguém excepcional na Sonserina, não entendo esse mistério todo.
- Exatamente o que a Arte disse – ele riu, mas de repente seu semblante mudou – Ela vai ficar bem, não é?
- Vai. O Cálice a escolheu como campeã de Hogwarts. Ele nunca escolheria alguém incapaz de competir.
- E se ela não acordar a tempo? E se ela nunca mais acordar?
- Ela vai acordar – pousei a mão em seu ombro e ficamos em silêncio por um tempo – Ela tem que acordar.

Jamal tentou forçar um sorriso e fiz o mesmo, não voltando ao assunto. Falar sobre Artemis era difícil. Estávamos todos esperançosos de que ela saísse do coma antes da primeira tarefa, mas não conseguíamos evitar pensar que talvez ela nunca acorde. Arte tinha que acordar.

ºººººº

Passei o dia inteiro pensando na conversa que tive com Jamal. Por mais que eu me esforçasse, era muito difícil não pensar em como o namoro de Amber e Richard me incomodava. Também pensei bastante na garota de Beauxbatons que Jamal falou. Já havia notado que sempre que eu olhava pra ela, ela estava me olhando, mas ainda não tinha ido até ela me apresentar. A partida de quadribol passou e eu mal consegui prestar atenção. Só percebi que a Sapientai havia vencido quando um mar de alunos com roupas azuis e douradas passou correndo por mim, comemorando.

A verdade é que a única coisa na minha cabeça e que sabia que tinha que fazer naquele momento era ver o que Amber tanto fazia no salão comunal da Lufa-Lufa. Desde que havia saído do salão principal com Richard, ela estava enfiada lá dentro. Nem no jogo os dois apareceram. Sem perceber, me peguei indo na direção das estufas. As janelas do salão comunal davam para os jardins ao redor delas e quando cheguei lá, Justin estava se ajoelhando no chão e tentando limpar o vidro sujo de terra. Levou um susto tão grande quando me viu que chegou a ficar pálido.

- Você se move como um fantasma, cenoura – ele botou a mão no coração e ri – O que está fazendo aqui?
- Parece que o mesmo que você – ajoelhei-me ao lado dele e espiei pela janela – O que tanto elas fazem ai dentro?
- Quero esmagar todas aquelas frutas com uma mão só – Justin fechou o punho olhando Zach dar uma fruta que tinha acabado de colher na boca de Haley – Odeio lufos.
- Odeia nada, MJ é Lufa-Lufa. Você odeia só o Zach, assim como eu odeio o Richard.
- Já estamos admitindo ciúmes? – Justin me olhou surpreso.
- É, pode ser.

Paramos de conversar e ficamos o resto do tempo espiando as meninas pela janela, nos escondendo sempre que alguém ameaçava olhar na direção delas. Não sei dizer quanto tempo ficamos deitados na grama suja, mas a diversão acabou quando sentimos um tapa forte nas nossas cabeças. Viramos para ver quem era o agressor e Kaley estava parada de pé entre nós dois. Sua cara era de poucos amigos. Justin levantou depressa e antes que ele abrisse a boca pra falar qualquer coisa ela lançou um olhar feio e apontou pra fora da estufa. Ele abaixou a cabeça e saiu sem olhar pra trás. Fiz menção de fazer o mesmo, mas ela me segurou.

- Você é um idiota!
- Não estou acostumado a pessoas me chamando de idiota. O que eu fiz?
- Está achando que está apaixonado pela Amber e quer estragar o namoro dela.
- Quem contou isso pra você? – perguntei, mas já amaldiçoando Jamal mentalmente.
- Além do fato de você está deitado na grama espiando ela pela janela? – ela falou com sarcasmo – Penny. Mas foi Jamal que contou a ela. Não faça isso.
- Eu nunca disse isso a ele, ok? Ele que sugeriu.
- Rupert, você mais do que ninguém sabe o quanto é difícil para ela confiar em alguém. Foi um passo muito grande aceitar o convite de Richard e outro maior ainda começar a namorar ele, por favor, não estrague isso.
- Eu não quero estragar nada, só que me incomoda ver os dois juntos. Não estou dizendo que estou apaixonado por ela, só que me sinto desconfortável.
- Foi você quem incentivou! – ela me deu outro tapa – Você disse que ela devia dar uma chance a ele!
- Eu sei disso, por isso estou tão irritado! Eu a joguei nos braços dele.
- Olha Rupert, se você está mesmo apaixonado, eu vou ser a primeira a dizer para lutar por ela, mas tenha absoluta certeza do que sente antes de tentar alguma coisa. Se quebrar essa barreira e depois mudar de idéia, ela morre sozinha antes de confiar em alguém outra vez. Apesar de toda a racionalidade, ela jamais vai se recuperar de uma decepção envolvendo você – como não respondi, ela continuou – Se você não tem certeza, deixe as coisas como estão.

Assenti com a cabeça e Kaley foi embora, me deixando sozinho nas estufas. Ela tinha razão. Confiança era algo difícil para Amber e de todas as pessoas em Hogwarts, Kaley e eu éramos os únicos em quem ela realmente confiava, eu não podia trair isso. O que eu realmente sentia? As muitas horas que passávamos juntos por causa dos rascunhos do livro eram as que eu mais aguardava todos os dias e já havia imaginado como seria sair com ela, mas nunca cheguei a pensar em como seria se começássemos a namorar, muito menos se isso significava que estava apaixonado. Era isso que eu realmente queria? Passei um bom tempo andando sem rumo pelos jardins, vendo as pessoas transitarem. O sol já começava a se pôr quando a vi passando. Decidido, atravessei o jardim na direção do lago. Sabia o que queria fazer.

- Oi – disse parando em sua frente e estendendo a mão – Sou Rupert.
- Oi Rupert – ela sorriu e me estendeu a mão também – Sophie.


Let's pretend everything’s fine,
Put on our fake smiles and keep wasting our time.
Let's pretend we're fine,
Go out in style and come home in denial.
Let's pretend we're fine.

If you really gotta know, I'm not doing so good.
It hurt me way more then I thought it could.

Let’s Pretend – Plain White T's