Tuesday, November 08, 2011


Levantei cedo no sábado, com Julian puxando meu lençol e me atirando pra fora da cama antes das 8h. Era o segundo fim de semana de quadribol e com o campeonato com oito times a mais, os ânimos estavam alterados. Com Arte em coma e longe de Hogwarts, o time da Grifinória havia levado uma surra de um dos times de Durmstrang na semana passada tendo Timothy como goleiro reserva. Hoje tínhamos uma partida para ficar de olho, com a Sapientai Angeli, o melhor time de Beauxbatons, enfrentando o melhor time de Durmstrang, os Red Phanters. E amanhã era a partida que todos de Hogwarts estavam esperando, onde finalmente vamos descobrir quem são os novos jogadores da Sonserina quando ela entrar em campo contra a Fidei Angeli.

O salão principal estava um caos quando chegamos. Os dois times de que iam se enfrentar trocavam provocações amistosas, mas era o bastante para colocar fogo na rivalidade entre as escolas. Gabriela, a apanhadora da Sapientai e campeã de Beauxbatons, e Devon, um dos batedores, estavam em cima da mesa da Corvinal comandando a bagunça da torcida de Beauxbatons. O capitão do time de Durmstrang não deixou barato e subiu na mesa da Sonserina agitando o bastão e chamando os colegas para cantar o hino da escola.

- Vamos sentar na mesa da Lufa-Lufa? – Julian sugeriu vendo a algazarra na nossa mesa e assenti.

Zach estava rindo da bagunça quando chegamos e abriu espaço para nós dois, enquanto Justin se espremia ao lado de Kaley. Foi o café mais barulhento de Hogwarts desde que chegamos à escola, mas não estava conseguindo me divertir com as provocações. Amber estava sentada cinco pessoas de distancia com Richard, também fugindo da bagunça na Corvinal. Desde a festa de Halloween o namoro dos dois passou a me incomodar. Não sabia explicar satisfatoriamente o motivo, mas já não achava mais normal ela namorar alguém com quem não tinha absolutamente nada em comum. Eles levantaram alguns minutos depois e sorriram pra mim quando passaram ao meu lado. Sorri de volta, mas acabei perdendo a fome. Ele era legal, não podia negar isso, mas agora sempre que nos víamos tudo que vinha a mente enquanto apertava a sua mão era o quanto de força seria preciso para quebrá-la. Procurei Jamal do outro lado e vi que ele já tinha saído da mesa da Sonserina, então sai a sua procura. Precisava resolver isso antes que enlouquecesse. Tinha um livro para escrever, não podia perder meu tempo com planos de vingança sem fundamento.

- Preciso da sua ajuda – parei ao lado dele quando o alcancei no saguão e ele se assustou com a minha chegada repentina – Fiz uma besteira. Eu acho.
- Está me assustando com essa cara de quem matou alguém e precisa da minha ajuda pra esconder o corpo.
- Tem que me arrumar uma namorada.
- No momento não sei de nenhuma vendendo – Jamal riu e bateu com a mão no meu ombro, me encarando – O que está acontecendo?
- Preciso de uma namorada pra parar de me incomodar com o namoro da Amber – admiti e ele sacudiu a cabeça, como se de alguma forma já esperasse por isso – Não posso gastar todo o meu tempo pensando em diferentes formas de torturar Richard Tyrell, preciso voltar a focar no meu livro!
- E você acha que arrumar uma namorada é mesmo a solução pro seu problema?
- Não sei se é a solução definitiva, mas é um começo.
- Rupert, se você está apaixonado pela Amber, arrumar uma namorada que não seja ela não vai ajudar.
- E como eu vou saber se estou apaixonado por ela ou se é só atração? Você viu como ela estava na festa.
- Infelizmente nisso não vou poder ajudar. Nunca me apaixonei, não faço idéia de como possa ser.
- Mas pode me arrumar uma namorada. Vai me ajudar nisso ou não?
- Claro que sim. Está vendo aquele grupo de meninas de Beauxbatons saindo do salão principal? – ele apontou na direção delas e uma nos viu – Aquela que está olhando pra cá e sorrindo, seu nome é Sophie. Notei como ela estava olhando pra você no jantar ontem. Pode chamá-la para sair, ela vai aceitar.
- Só podemos ir a Hogsmeade mês que vem, se é que vamos poder sair de novo depois do que aconteceu, o que eu digo?
- Convide-a para o jogo de quadribol amanhã. Ela é da Fidei, que vai jogar contra a Sonserina. Depois que nosso time massacrar o dela, vai poder consolá-la à vontade.
- Ah sim, a tão esperada partida que vai revelar os jogadores misteriosos – Jamal abriu um sorriso sarcástico – Não tem ninguém excepcional na Sonserina, não entendo esse mistério todo.
- Exatamente o que a Arte disse – ele riu, mas de repente seu semblante mudou – Ela vai ficar bem, não é?
- Vai. O Cálice a escolheu como campeã de Hogwarts. Ele nunca escolheria alguém incapaz de competir.
- E se ela não acordar a tempo? E se ela nunca mais acordar?
- Ela vai acordar – pousei a mão em seu ombro e ficamos em silêncio por um tempo – Ela tem que acordar.

Jamal tentou forçar um sorriso e fiz o mesmo, não voltando ao assunto. Falar sobre Artemis era difícil. Estávamos todos esperançosos de que ela saísse do coma antes da primeira tarefa, mas não conseguíamos evitar pensar que talvez ela nunca acorde. Arte tinha que acordar.

ºººººº

Passei o dia inteiro pensando na conversa que tive com Jamal. Por mais que eu me esforçasse, era muito difícil não pensar em como o namoro de Amber e Richard me incomodava. Também pensei bastante na garota de Beauxbatons que Jamal falou. Já havia notado que sempre que eu olhava pra ela, ela estava me olhando, mas ainda não tinha ido até ela me apresentar. A partida de quadribol passou e eu mal consegui prestar atenção. Só percebi que a Sapientai havia vencido quando um mar de alunos com roupas azuis e douradas passou correndo por mim, comemorando.

A verdade é que a única coisa na minha cabeça e que sabia que tinha que fazer naquele momento era ver o que Amber tanto fazia no salão comunal da Lufa-Lufa. Desde que havia saído do salão principal com Richard, ela estava enfiada lá dentro. Nem no jogo os dois apareceram. Sem perceber, me peguei indo na direção das estufas. As janelas do salão comunal davam para os jardins ao redor delas e quando cheguei lá, Justin estava se ajoelhando no chão e tentando limpar o vidro sujo de terra. Levou um susto tão grande quando me viu que chegou a ficar pálido.

- Você se move como um fantasma, cenoura – ele botou a mão no coração e ri – O que está fazendo aqui?
- Parece que o mesmo que você – ajoelhei-me ao lado dele e espiei pela janela – O que tanto elas fazem ai dentro?
- Quero esmagar todas aquelas frutas com uma mão só – Justin fechou o punho olhando Zach dar uma fruta que tinha acabado de colher na boca de Haley – Odeio lufos.
- Odeia nada, MJ é Lufa-Lufa. Você odeia só o Zach, assim como eu odeio o Richard.
- Já estamos admitindo ciúmes? – Justin me olhou surpreso.
- É, pode ser.

Paramos de conversar e ficamos o resto do tempo espiando as meninas pela janela, nos escondendo sempre que alguém ameaçava olhar na direção delas. Não sei dizer quanto tempo ficamos deitados na grama suja, mas a diversão acabou quando sentimos um tapa forte nas nossas cabeças. Viramos para ver quem era o agressor e Kaley estava parada de pé entre nós dois. Sua cara era de poucos amigos. Justin levantou depressa e antes que ele abrisse a boca pra falar qualquer coisa ela lançou um olhar feio e apontou pra fora da estufa. Ele abaixou a cabeça e saiu sem olhar pra trás. Fiz menção de fazer o mesmo, mas ela me segurou.

- Você é um idiota!
- Não estou acostumado a pessoas me chamando de idiota. O que eu fiz?
- Está achando que está apaixonado pela Amber e quer estragar o namoro dela.
- Quem contou isso pra você? – perguntei, mas já amaldiçoando Jamal mentalmente.
- Além do fato de você está deitado na grama espiando ela pela janela? – ela falou com sarcasmo – Penny. Mas foi Jamal que contou a ela. Não faça isso.
- Eu nunca disse isso a ele, ok? Ele que sugeriu.
- Rupert, você mais do que ninguém sabe o quanto é difícil para ela confiar em alguém. Foi um passo muito grande aceitar o convite de Richard e outro maior ainda começar a namorar ele, por favor, não estrague isso.
- Eu não quero estragar nada, só que me incomoda ver os dois juntos. Não estou dizendo que estou apaixonado por ela, só que me sinto desconfortável.
- Foi você quem incentivou! – ela me deu outro tapa – Você disse que ela devia dar uma chance a ele!
- Eu sei disso, por isso estou tão irritado! Eu a joguei nos braços dele.
- Olha Rupert, se você está mesmo apaixonado, eu vou ser a primeira a dizer para lutar por ela, mas tenha absoluta certeza do que sente antes de tentar alguma coisa. Se quebrar essa barreira e depois mudar de idéia, ela morre sozinha antes de confiar em alguém outra vez. Apesar de toda a racionalidade, ela jamais vai se recuperar de uma decepção envolvendo você – como não respondi, ela continuou – Se você não tem certeza, deixe as coisas como estão.

Assenti com a cabeça e Kaley foi embora, me deixando sozinho nas estufas. Ela tinha razão. Confiança era algo difícil para Amber e de todas as pessoas em Hogwarts, Kaley e eu éramos os únicos em quem ela realmente confiava, eu não podia trair isso. O que eu realmente sentia? As muitas horas que passávamos juntos por causa dos rascunhos do livro eram as que eu mais aguardava todos os dias e já havia imaginado como seria sair com ela, mas nunca cheguei a pensar em como seria se começássemos a namorar, muito menos se isso significava que estava apaixonado. Era isso que eu realmente queria? Passei um bom tempo andando sem rumo pelos jardins, vendo as pessoas transitarem. O sol já começava a se pôr quando a vi passando. Decidido, atravessei o jardim na direção do lago. Sabia o que queria fazer.

- Oi – disse parando em sua frente e estendendo a mão – Sou Rupert.
- Oi Rupert – ela sorriu e me estendeu a mão também – Sophie.


Let's pretend everything’s fine,
Put on our fake smiles and keep wasting our time.
Let's pretend we're fine,
Go out in style and come home in denial.
Let's pretend we're fine.

If you really gotta know, I'm not doing so good.
It hurt me way more then I thought it could.

Let’s Pretend – Plain White T's