Thursday, April 05, 2012 Depois que voltamos da semana de férias em Orlando, as semanas restantes entre a viagem e o recesso de Páscoa passaram voando. Íamos pra casa na manhã seguinte e estava recolhendo minhas coisas espalhadas pelo Salão Comunal antes de dormir quando vi Hiro sentar em uma das poltronas e levantar incomodado, puxando o Zangado de pelúcia que tinha dado a Clara do meio das almofadas. Senti o cheiro do problema antes mesmo que ele percebesse o que tinha nas mãos, mas foi tudo rápido demais para que eu pudesse impedir. - O que é isso? – Leslie, que estava sentada na poltrona do lado, perguntou. - O Zangado que comprei pra Clara, não lembra? – Hiro respondeu rindo, olhando para o boneco na mão. - Não, quando você comprou isso? – me aproximei dos dois para fazer alguma coisa, mas não sabia exatamente o que deveria fazer. - No dia que fomos ao Boardwalk! - Está me confundindo com alguém, Hiro. Soube que você foi passear lá, mas eu estava com as meninas nesse dia, no safári – ela riu e passou a mão na testa dele de brincadeira – Bem que Jamal disse que você não estava bem das idéias. Leslie levantou da poltrona ainda achando engraçado Hiro estar confundindo as coisas e foi para o dormitório. Hiro olhou para o Zangado e dava pra ver seu cérebro funcionando depressa, juntando as peças. Quando ele me encarou, àquela altura congelado atrás do sofá, já havia entendido tudo. Não estava muito certo se deveria dizer alguma coisa, mas nem foi preciso. Ele empurrou a pelúcia contra o meu peito e saiu do salão comunal com uma expressão furiosa no rosto sem dizer nada. - É... – olhei pro Zangado na minha mão e deixei escapar um suspiro – Estamos ferrados. ºººººº O recesso de Páscoa finalmente havia chegado e estava ansiosa para ir para casa e embarcar com a minha família para a Califórnia, mas ao invés de arrumar as coisas para ir embora, as meninas e eu decidimos que passar a noite no Old Haunt seria muito mais produtivo. Desde que havíamos voltado de Orlando e havia admitido gostar de Hiro, meu mês estava sendo péssimo. Ficava cada vez mais difícil fingir que estava tudo bem quando ele vinha conversar comigo e contar qualquer coisa relacionada à Leslie, aquilo me matava por dentro. Sentia-me péssima porque gostava dela, mas não conseguia evitar sentir raiva por eles estarem juntos. Então quando Lena deu a sugestão de sairmos um pouco pra se divertir, não pensei duas vezes antes de topar. Já passava das 3 da manhã quando deixamos o pub e pegamos o túnel de volta para o castelo. Tínhamos que sair da sala de armaduras e cada uma fazer o caminho até seu salão comunal no mais completo silêncio, mas o plano foi por água abaixo quando abrimos a porta pra sair do túnel e Keiko soltou um berro ao dar de cara com Jamal nos esperando. Arte tapou a boca dela apavorada, mas o grito já tinha ecoado pela sala e provavelmente despertado metade dos professores no andar de cima. - Que diabos, Jamal! – bati nele, meu coração disparado com o susto - Ficou maluco? - Deixem pra discutir na Sonserina, temos que sair daqui depressa! – Lena agarrou a mão de Arte e correram na direção das escadas para voltarem à torre da Grifinória. - Ele sabe – ele falou com uma voz fúnebre enquanto descíamos as escadas pras masmorras correndo – Não podia deixar você chegar no Salão Comunal sem saber, ele pode estar esperando. - Do que está falando? - Hiro, ele já sabe de tudo. - Como isso aconteceu? – minha voz saiu um pouco mais desesperada do que o planejado. - Deduziu sozinho quando Leslie disse que não foi com ele ao Boardwalk porque estava no safári. Sinto muito, eu queria impedir, mas não deu tempo. - Não é sua culpa, isso ia acontecer mais cedo ou mais tarde. Pode falar “eu avisei”. - Estou tão apavorado com o que pode acontecer quando vocês se encontrarem que nem estou no clima para lhe reprimir. - O que você vai fazer? – Haley perguntou preocupada. Já estávamos no térreo. - Acho que não me resta muita coisa além de encará-lo. - Sorte sua que meu irmão não fica acordado até essa hora a menos que esteja em uma festa – Keiko disse a senha e entramos, o salão estava vazio – Tem mais algumas horas pra dormir e pensar no que dizer. Dormir não foi fácil. Sabia que assim que todos despertassem não teria como evitar um confronto com Hiro, mas a preocupação com o que poderia aconteceu deu lugar à raiva por estar naquela situação. Raiva por estar gostando dele, raiva por ele ter me beijado há três anos e despertado algo que até então nunca havia passado pela minha cabeça, raiva por ele estar feliz com Leslie e saber que não tinha chance nenhuma contra isso, raiva por ter que vê-lo todos os dias e não poder fazer nada para mudar isso. E principalmente, raiva de mim mesma por ter colocado Jamal naquela situação. Quando amanheceu e sai da cama, estava tão irritada que devia estar dando choque. As meninas logo levantaram também e começamos a arrumar nossas coisas, ainda estava tudo espalhado e o trem sairia em menos de duas horas. Penny e Leslie ficaram deitadas vendo nossa movimentação pelo quarto, ajudando a localizar objetos perdidos apontando onde eles estavam. Já podia ouvir muito barulho vindo do salão comunal, o que significava que todos já haviam acordado, mas nem sinal de Hiro. Já começava a achar que ele ia deixar pra falar comigo no trem quando ele entrou no quarto. - Clara – ouvi sua voz atrás de mim, mas não virei. - Agora não, Hiro, estou arrumando minhas coisas – respondi jogando minhas coisas na mochila sem parar. - Não, vamos conversar agora! – ele disse firme e me vi obrigada a encará-lo – A errada aqui é você, perdeu o direito de decidir quando quer falar comigo. - Er... Devemos ir embora? – Penny me olhou curiosa. - Sim meninas, por favor – Hiro respondeu – Preciso conversar com ela a sós. - Sim, vamos sair – foi Leslie quem tomou a iniciativa e me perguntei se ela já sabia – Arrumem as coisas depois, dá tempo. - Ok, só não façam nenhuma bobagem – Haley largou a mochila na cama e me olhou séria antes de sair. - Como pode? – Hiro falou assim que elas fecharam a porta – Não acredito que fez isso! - Desculpa ok? Não estou orgulhosa disso. Sei que foi errado. - Então por que fez? - Você sabe o motivo. - Quero ouvir de você. - Não, sinto muito, isso você não vai conseguir. Só deixe o Jamal de fora disso, ok? Ele não teve culpa de nada, joguei-o no meio da confusão e ele não tinha como sair. - O que aconteceu com a gente? Sempre fomos melhores amigos, por que não voltamos a ser como antes? - Porque as coisas mudaram, Hiro. Nós crescemos. - Não quero deixar de ser seu amigo, nunca quis isso. Não quero que nada mude. - Sinto muito, mas ser sua amiga é a última coisa que eu quero. - Isso é tudo que posso oferecer. - Então pode ficar com ela, eu não quero – joguei a mochila nas costas e comecei a andar na direção da porta. - É assim então? Você decide que não somos mais amigos e vai embora? Não vamos mais nos falar? - Sim! É exatamente isso que vai acontecer! – parei de frente a ele – Sei que posso me adaptar as mudanças, mas não quero. Infantil da minha parte? Pode ser, mas é assim que eu sou. Se as coisas não podem ser do jeito que eu quero, não vou ficar com o prêmio de consolação. - Clara, somos amigos há 17 anos, nos conhecemos desde que nascemos. Por que você quer jogar isso fora? - Por que não sei lidar com o fato de que estou apaixonada por você e você ama outra pessoa! – comecei a gritar, já não queria saber se alguém estava ouvindo – Por que cansei de me magoar, cansei de fingir que está tudo bem, e ficar perto de você dói. Se para ficar bem tenho que me afastar, então que seja. E se você se importa comigo ao menos um pouco, vai respeitar isso e me deixar em paz! Virei de costas outra vez e abri a porta, saindo do quarto. Como esperava, estavam todos do lado de fora ouvindo a discussão e tentaram disfarçar quando passei, mas fizeram um péssimo trabalho. - Gostaram do show? – perguntei irritada, passando pelo meio deles e saindo do salão comunal. Ainda tinha tempo de tomar café antes de embarcar no trem, mas não sentia fome alguma. Só queria sair dali o mais depressa possível e fui direto pra Hogsmeade. Filch já estava embarcando os alunos que estavam prontos e procurei uma cabine vazia no inicio do trem, pois sabia que ele sempre viajava nos últimos vagões e não queria discutir outra vez. As meninas me encontraram uma hora depois e Arte e Lena já estavam sabendo da confusão, então Arte me dispensou de ter que patrulhar os vagões com ele e me deixou quieta na cabine a viagem toda. Nem foi preciso pedir, pois ninguém tocou no assunto durante todo o trajeto até Londres. Enquanto elas conversavam ao meu lado, ia encarando a paisagem do lado de fora calada e pensativa. Eu tinha mesmo dito ao Hiro, que sempre foi meu melhor amigo, que não queria que ele se aproximasse de mim outra vez? Aquilo só podia ser um pesadelo. Vez ou outra via as meninas me olhando cautelosas, talvez esperando que eu caísse no choro de repente, mas eu me recusava a chorar. Por mais que aquilo fosse o que eu mais queria fazer, não ia dar o braço a torcer. Chegamos a King’s Cross perto das 15h. Rupert veio me procurar no vagão e descemos juntos do trem. As meninas estavam logo atrás de mim e formavam uma espécie de barreira, como se estivessem prontas para evitar que Hiro se aproximasse. Dessa vez quem veio nos buscar foi minha mãe, ela estava parada do outro lado conversando com tia Yulli, tia Alex e tia Miriam, e minha cara devia estar muito ruim, ou talvez mães saibam mesmo de tudo, porque assim que me viu seu semblante mudou. - Ei, o que houve? – mamãe perguntou quando me aproximei – Está tudo bem? Fiz que não com a cabeça e ela me puxou para um abraço. Afundei o rosto em seu casaco e ela me apertou com mais força. Aquilo foi o que bastou para que eu começasse a chorar. Now waking up is hard to do And sleeping's impossible too Everything's reminding me of you What can I do? It's not right, not okay Say the words that you say Maybe we're better off this way I'm not fine, I'm in pain It's harder everyday Maybe we're better off this way It's better that we break Better That We Break – Maroon 5 |