Thursday, January 24, 2008

El Beso del Final

Por Kegan O’Shea

Um elfo usando camisa estampada e carregando uma bandeja repleta de copos decorados com folhas de hortelã passou pelo meio do jardim e logo várias mãos agarraram os drinks. O elfo sorriu satisfeito e voltou à bancada para preparar mais. A bebida que estava fazendo tanto sucesso chamava-se Mojitos, havia sido ensinada por Karen aos elfos e estavam sendo preparadas no aniversário de 18 anos de seus irmãos gêmeos, Scott e Megan. A festa era ao melhor estilo Cubano e o jardim, com autorização do diretor, fora decorado para parecer um autêntico clube noturno de Havana. Para qualquer lugar que se olhasse tinham casais dançando salsa, mambo e rumba, uns em ritmos mais acelerados, outros aproveitando os movimentos da dança para deixar os passos mais lentos com os parceiros.

Apesar de não parecer muito, também estava me divertindo bastante na festa. Já havia dançado com as meninas, uma por vez e em passos totalmente descompassados, mas agora cada uma delas estava na companhia dos namorados recém-chegados à festa e estava outra vez ao lado da mesa de comidas observando as pessoas dançando uma conga animada, se revezando para passar debaixo de um bambu. Quem os segurava cantavam alto “até onde você pode descer?” e a fila de desafiadores aumentava cada vez mais. Mas começava a não olhar mais. Meus olhos e total atenção estavam voltados para Karen. Ela estava de pé do outro lado do jardim conversando com a professora Sprout. Pedi licença aos dois e me encaminhei até lá. Ben já andava me encarnando dizendo que me tornaria o rei dos tocos, mas não me importava. Ainda ia conseguir convencê-la de que gostava dela de verdade. Sprout notou primeiro que estava me aproximando e se apressou em inventar uma desculpa para se retirar, sorrindo pra mim. Karen, no entanto, assumiu uma expressão séria quando me viu.

- Sua receita fez sucesso – comentei apontando para o copo de mojitos na mão dela – A garotada não para de pedir
- Eles bebem qualquer coisa – respondeu seca
- Qual é o problema agora, Karen? Está esquisita comigo há alguns dias e não me lembro de ter dito nenhuma bobagem!
- Qual o problema? – ela riu, mas uma risada que me assustou – O problema é que você passou dos limites nessa disputa idiota pela preferência dos alunos! Azkaban?? Será que nem por um segundo pensou no quanto estava sendo irresponsável, nessa tentativa desesperada de chamar a atenção deles??
- Não os levei até lá só para ser o professor legal, levei porque fazia parte da dinâmica da aula! – respondi indignado – E não fui irresponsável! William foi comigo, tínhamos tudo sob controle!
- Ah sim, claro... Está me dizendo então que o Batman e o Robin dariam conta de mais de 50 dementadores caso eles se rebelassem e atacassem os alunos? Os dois sozinhos protegeriam os 40 alunos?
- Sim, estou afirmando isso! Você pode me achar idiota, irresponsável e o que for, mas nunca colocaria meus alunos em perigo por causa de uma briga besta! – dei um passo a frente e ela não recuou, mas me olhou de um jeito que dizia claramente “dê mais um passo e é um homem morto” – Qual é o problema de verdade? Por que não acredito que seja esse.

Karen me encarou sem dizer nada e achei que fosse sair e me largar falando sozinho, mas não saiu do lugar. Apenas virou de costas para preparar mais uma bebida e depois tornou a ficar de frente pra mim.

- Eu fiquei preocupada, ok? – ela parecia mais calma agora – Meus irmãos estavam lá, e me contaram que se sentiram mal.
- Sim, eles desmaiaram. Mas Megan conseguiu produzir um patrono corpóreo antes disso, ela se saiu muito bem!
- Megan sempre foi o lado forte da família. Não fico surpresa que tenha conseguido – ela sorriu e me senti aliviado. Não seria assassinado, afinal
- Ela disse que segundos antes de desmaiar viu ela e Scott em um enterro, e depois disso não tinha mais força pra continuar de pé. Quem era?
- Justin, um amigo de infância deles – Karen falava desanimada e me arrependi de tocar no assunto, mas era tarde demais – Tinham a mesma idade, toda a turma deles, e ele tinha Lupus. Morreu aos 13 anos, foi o primeiro baque dos meninos.
- Desculpe, não devia ter perguntado
- Tudo bem, você não sabia
- Vou compensar a bola fora – estendi a mão e ela me olhou de lado – Vamos dançar
- Não, melhor não.
- Por favor? – insisti – Só uma música! Você só dançou com Scott a noite inteira, vai começar a criar teia...

Por um instante achei que ela não fosse aceitar, mas para minha total surpresa, Karen segurou minha mão. Mas não foi tão simples assim, claro. Enquanto a conduzia para o meio da pista, ia me ditando regras para não ser obrigada a me bater. Deixou bem claro que qualquer movimento mais avançado ia me custar caro. Então se queria conseguir alguma coisa e ainda ser capaz de ter um filho no futuro, era bom escolher bem os movimentos.

O amigo do meu irmão, Toquinho, era o DJ improvisado da festa. Achava ele meio maluco, mas estava conseguindo manter as pessoas na pista de dança por todo o tempo alternando entre salsa e mambo. Fez um sinal de positivo quando me viu voltando para o meio da pista e ri, pois tinha certeza que ia mudar o ritmo só pra me complicar. Não demorou muito para meu irmão e os amigos cutucarem uns aos outros e apontarem na nossa direção, disfarçando as risadas de deboche. Mas ela parecia não notar. Sorte a minha, ou talvez não pudesse ter a chance de descobrir que Karen sabia dançar salsa, e muito bem! Sentia-me como uma criança aprendendo a andar tentando acompanhar os passos dela, mas era fisicamente impossível dançar no mesmo ritmo.

Como previsto, Toquinho não demorou a tirar a salsa ou qualquer outra musica agitada dos alto-falantes no jardim. Deu inicio a uma seqüência de rumba e de repente um espaço enorme se abriu e Scott e Yulli, ambos já influenciados pelo rum excessivo nos copos de mojitos, passaram disparados e se postaram bem no dentro da roda. Toquinho ajeitou a iluminação pra focar apenas os dois e eles começaram a dançar. Estava dividido entre rir e prestar atenção nos movimentos, mas por mais engraçado que aquilo estivesse, tinha que admitir que eles dançavam bem.

Logo o show terminou e eles continuaram dançando, mas de maneira mais moderada. Aos pouco as pessoas na pista paravam de rir e recomeçavam a dançar com seus pares e aproveitei a música ainda lenta para puxar Karen para mais perto. Sempre com cautela, claro. Ela não parecia que ia apresentar resistência, então consegui deixar seu rosto colado no meu. A noção de perigo que tenho me dizia para ficar quieto e aproveitar a oportunidade sem tentar mais nada. Mas não queria dar ouvidos a ela, preferia me arriscar.

- Você é linda, sabia? – falei no ouvido dela, mas ela não recuou
- Já pedi pra parar com isso
- Por que foge tanto?
- Não fujo, mas já disse que tenho namorado. Somos só amigos, Kegan
- Mas quero ser mais que isso, sabe disso

Percebi, mesmo sem ver seu rosto, que ela ficou balançada. E sabendo disso, não consegui me conter. Beijei seu ombro devagar, fui subindo para o pescoço, bochecha e quando cheguei na altura da boca e pensei que ela fosse recuar, Karen virou o rosto e me beijou. Envolvi meus braços em volta dela e desejei que aquele momento durasse pra sempre. Mas, infelizmente, sabia que não seria fácil assim...

When rain has hung the leaves with tears,
I want you near, to kill my fears
To help me to leave all my blues behind.

For standin' in your heart,
Is where I want to be, and I long to be,
Ah, but I may as well, try and catch the wind

Donovan – Catch the wind