Friday, November 09, 2007


Do diário de Alex McGregor

-...Se Madame Hook mandasse dar mais uma volta no campo para “esticar os músculos”, eu seria capaz de esticar o pescoço dela. – resmungou Louise e rimos cansados, enquanto voltávamos do treino de quadribol.
- E ela tem coragem de chamar de “time dos sonhos” hunf..., tem dias que tenho pesadelos com os treinos dela, isso sim. – disse Yulli.
- Bem, pelo menos amanhã temos o passeio extra a Hogsmeade, e vamos poder descansar de tudo por algumas horas. Ao chegar ao castelo e sentir o cheiro da comida que vinha do salão principal, nosso ânimo se renovou e nos dirigimos para lá. Após o jantar, teríamos nossas aulas extras e cada um foi para um lado diferente. Lu e eu fomos para a torre de Astronomia, e no meio do caminho Lu parou sobressaltado.
- O que foi?- perguntei preocupada.
- Endora. - e ele começou a subir os degraus praticamente voando, e fui atrás dele o mais rápido que podia, quando estava próxima, ele vinha descendo os mesmos degraus com a professora Endora nos braços, e ela estava pálida e de olhos fechados.
- Vou levá-la para Madame Pomfrey. - e enquanto ele seguia correndo para a enfermaria, parei e sentei-me fechando os olhos. Fiz uma projeção e avisei madame Pomfrey o que estava acontecendo, voltei ao meu corpo, e fui a direção a ala hospitalar. Ao chegar lá Lu estava do lado de fora esperando, e pelo seu olhar preocupado, temi pelo pior.
- Como ela está? O que foi? Ela falou alguma coisa?- enchi-o de perguntas.
- Ainda não sei, madame Pomfrey não me deixou ficar lá. Ela chamou Dumbledore. - e ao olhar para os olhos dele, senti que alguma coisa muito ruim estava se aproximando rápido.
Ficamos lado a lado esperando, e como nada no castelo era segredo por muito tempo nossos amigos foram chegando querendo saber noticias da professora, e como não sabíamos de nada, apenas esperamos. Scott estava aflito, e devo reconhecer que eu também. Após algum tempo que nos pareceu longo, a enfermeira apareceu na porta:
- Ela pediu para senhorita McGregor e o senhor Chronos entrarem.
Lu e eu entramos naquela sala excessivamente branca com o familiar cheiro de poções, e vimos o diretor sentado numa cadeira ao lado da cama, conversando com a professora. A face dela estava mais corada, mas os olhos não brilhavam mais da mesma forma, enquanto sorria para nós:
- Obrigada senhor Chronos por sua atitude rápida.
- Não foi nada professora. – disse Lu um pouco embaraçado.
- O que a senhora teve? – perguntei antes que ela falasse mais.
- Sempre ansiosa, precisa aprender a controlar isso, mesmo assim conseguiu avisar a Pomona do meu estado e a posto em alerta, sem ter algum dano na sua volta rápida ao corpo. Posso ver pelos seus olhos... É... Acho que meu trabalho está pronto.
O diretor nos olhou sério e disse:
- Seria bom se vocês se sentassem, a conversa pode demorar um pouco. Gostaria que eu ficasse Endora?
- Pode ficar Alvo, não temos segredos, e minhas crianças, já não são tão crianças assim. E quando for a hora quero as pessoas amadas comigo. - senti um aperto no peito.
O diretor sentou-se ao pé da cama e ela pediu que nos sentássemos mais perto dela. Madame Pomfrey, puxou uma cortina para que tivéssemos privacidade e se retirou para sua sala.
Ela nos olhou nos olhos e começou a dizer:
- Leciono nesta escola há mais tempo do que posso me lembrar e algumas vezes fui abençoada com alunos que tinham algo mais. Esta é uma destas vezes, e fico feliz por conhecê-los.
- A senhora fala como se fosse embora... - comecei a dizer e Lu estava rígido ao meu lado.
- E de certa forma eu vou, mas sempre estarei com vocês. – ela disse e continuou como se não houvesse sido interrompida, e pegou na mão do Lu.
- Alucard, quando você veio a mim obrigado, eu sempre pensei que um dia conseguiria chegar à parte que Hellion não havia alcançado. A parte do bom e gentil rapaz que eu poderia ensinar e também aprender, que ter dons e ser ‘diferente’ não era tão ruim. Era uma questão de adaptação, e vejo que você depois de muito sofrimento, mas também coragem e amor, conseguiu se adaptar, e embora você ainda esteja dilacerado de dor pela perda dos seus pais, com o tempo você vai encontrar a felicidade.Para você Alucard, nunca precisei falar sobre seu futuro, pois você também tem esse dom. Um de seus filhos vai ter o mesmo dom, ainda mais intenso que você. O outro vai sofrer de solidão, mas vai esconder isso e vai ter um poder enorme, que nem ele conhecerá. E o outro filho,será a última luz em sua vida, afastando você e toda sua família de vez das trevas! – sorriu e as mãos deles entrelaçadas brilhavam. - notei que Lu fazia força para não chorar, mas sorriu a ela e disse ‘obrigado’.
Engoli seco quando ela me olhou e estendeu as mãos. Sai da cadeira e me aproximei mais da cama:
- Alexandra... Sabia que quando a vi pela primeira vez aos 11 anos, quebrando minhas xícaras de chá durante a aula, eu sabia que teria que ter paciência com você, pois um dia eu teria que ensinar coisas importantes e você precisava de tempo para amadurecer? Ate que um dia no ano anterior você precisou, de mim e eu sabia que teria que ensinar tudo o que podia a você, e procurei fazer isso da maneira mais tranqüila possível, como se o fizesse a uma filha. E acredite-me criança, neste último ano, consegui saber o que as mães sentem ao ver os filhos dar os primeiros passos para a vida, e me sinto orgulhosa, em ver que você não tem medo do seu dom ou de ir em busca de sua felicidade. Ambos amam de uma forma tão intensa que consigo sentir isso. - Lu e eu rimos, e ela continuou:
- Alex, já contei a você sobre o seu futuro, você lembra?
- Sim senhora. - disse e minha voz não soava firme.
- Só não disse que você vai ter filhos maravilhosos, valentes, e um deles, a sua menininha vai receber um presente meu, e que quando chegar a hora isso vai ajudar a sua família, mesmo que ela seja uma família formada por pessoas que não terão o mesmo sangue (e colocou sua mão sobre minha barriga e pensei ter visto aquele brilho novamente). Terão sofrimentos, provações, mas vocês terão o laço mais forte que é o amor, lembre-se que o amor perdoa tudo, Alex. (e esticou a mão para o Lu que a segurou). Quando eu me for, quero que ambos continuem a se apoiar, pois num futuro nem tão distante, a sobrevivência do nosso mundo, vai depender dos laços de amizade. Se eu tivesse tido filhos gostaria que fossem como vocês, seriam amados... Abençoados sejam... - e sua mão pendeu frouxa entre as nossas, enquanto seus olhos se fechavam. Senti minhas lágrimas deslizando grossas por meu rosto, e Lu me abraçou também chorando. O diretor tinha os olhos brilhando e apoiou as mãos em nossos ombros para nos consolar.
Terminava ali a vida de Endora Beers, a melhor professora de Adivinhação que Hogwarts já teve, e a mulher que em pouco tempo, me deu exemplos de como deveria ser o amor de mãe, se a minha mãe estivesse viva. Pois em algumas vezes, quando estava muito triste, não precisava falar nada e ela me acolhia em um abraço apertado e secava minhas lágrimas, e esclarecia minhas duvidas, sem deixar de me corrigir se eu estivesse errada. Um amor que nos acalenta, e nos prepara para enfrentar tudo o que surgir no caminho. Vamos sentir muito a sua falta.

Why do you weep?
What are these tears upon your face?
Soon you will see
All of your fears will pass away
Safe in my arms
You're only sleeping


N.A.- Into the West – Annie Lennox