Monday, April 20, 2009 - Senhorita – ouvi um barulhinho no meu ouvido, mas ignorei – Senhorita. O barulhinho voltou. Me mexi na cama incomodada, abraçando o travesseiro e tapando o rosto com ele. Ouvi o tal barulho mais algumas vezes, até que senti um dedo fino e gelado tocar meu ombro. Saltei da cama gritando e me agarrei no cortinado, arrancando o do lado esquerdo. O pano verde caiu por cima de mim e descobri só a cabeça, dando de cara com um elfo encolhido do lado da cabeceira da cama, a mão tremula segurando um envelope. - O que foi? O que aconteceu? – perguntei assustada, nunca um elfo da escola veio me acordar. - Chegou uma carta para a senhorita Lupin – o elfo estendeu a mão ainda tremula e peguei o envelope – A coruja deve ter recebido instruções para não desistir até que a carta chegasse ate a senhorita – e estendeu a outra mão, com marcas de bicada de coruja. - Ok. Obrigada – falei ainda um pouco aérea e o elfo desapareceu. Virei o envelope para ver o remetente e tinha a letra da Haley, com um recado de que só abrisse a carta com JJ do meu lado. Ainda demorei enrolada na cortina, pensando no que deveria fazer, até que consegui assimilar as coisas e levantei. Calcei os chinelos e sai de pijama mesmo do dormitório, indo até onde JJ ainda dormia, no dormitório dos meninos. - JJ, acorda – sacudi meu amigo na cama. Ele resmungou alguma coisa e cobriu o rosto com o cobertor – Sai da cama, anda! – puxei a coberta com força e ele rolou pro lado, se segurando para não cair. - O que foi? Quem morreu? – disse mal humorado, olhando para o relógio na parede – São 9 horas da manhã! - Haley mandou uma carta pra nós dois, só posso abrir com você junto, então sai daí porque estou curiosa! O mau humor dele passou na mesma hora, atiçado pela curiosidade de saber o conteúdo da carta. Se livrou das cobertas apressado e sentamos na cama, rasgando o envelope. Não era muito grande, mas a cada linha, não sabíamos se riamos ou se ficávamos chocados. Ela contava que o corvo havia aparecido no rancho dizendo que era filho do tio Ty. E no fim das contas, era mesmo. Tinha mais algumas linhas com queixas sobre o amigo dele, Justin, mas estávamos chocados demais com a historia do tio Ty para prestar atenção. - Uau! Ele é filho do ídolo dele, que doido isso – JJ comentou com assombro. - Ele deve estar nas nuvens, não? E tonto, com aquele monte de gente que deve ter se apresentado como parente – e rimos, imaginando Julian conhecendo toda a família McGregor de uma vez só – Cadê o esquizofrênico? Decidiu ir pra casa? – falei apontando para a cama vazia no canto do quarto. Dos meninos do primeiro ano, só JJ e Sheldon haviam ficado na escola. - Sei lá, nem vi sair. Mas ele acorda muito cedo, deve estar jogando xadrez de bruxo sozinho por ai, ou lendo alguma coisa em grego. - O que vamos fazer hoje? – perguntei desinteressada no que Sheldon podia estar fazendo – Agora estou totalmente desperta e não vou conseguir mais dormir! - É, nem eu. Vamos dar uma olhada no corredor do sexto andar, quase não vamos lá. - Ótima idéia. Vou trocar de roupa, espero você no salão comunal pra gente tomar café e depois vamos pra lá. Voltei ao meu dormitório para trocar de roupa e encontrei JJ de volta, seguindo para o salão principal. Poucos alunos haviam ficado na escola naquela semana. A maioria eram alunos do sétimo ano desesperados com os N.I.E.M.s, sendo raramente vistos em outro lugar senão a biblioteca. Tomamos um café rápido e sem tumulto pela primeira vez, e deixamos o salão rumo aos corredores do sexto andar. Sempre passávamos rápido pelo corredor para chegar ao sétimo, mas nunca chegamos a parar nele e olhar ao redor. - Eu vejo tantas portas, mas no cronograma da escola diz que as únicas aulas que tem aqui são Runas Antigas e Estudo dos Trouxas – JJ comentou apontando para as portas espalhadas pelo corredor. - Eca, não pretendo estudar nenhuma delas – fiz uma careta imaginando uma aula de Runas e ele riu. - Que barulho é esse? – JJ parou de andar de repente, olhando de um lado para o outro – Não está ouvindo? Está vindo dali... Ele apontou para o final do corredor e saiu andando até lá. Fui atrás dele e JJ empurrou uma porta pesada, permitindo que ouvisse o barulho que só ele estava ouvindo antes. Entrei atrás dele na sala e naquele momento eu percebi que me formaria em Hogwarts sem conhecer tudo sobre o castelo. Era uma sala cheia de televisões e acoplado em cada uma delas tinha um videogame. Ela estava vazia, exceto por uma única pessoa que sequer notou nossa entrada. Sheldon estava agarrado a um controle, vidrado em uma das TVs enquanto uma barulheira infernal de tiro ecoava pelo corredor. Fechei a porta depressa e JJ caminhou até ele, estalando os dedos na sua cara e o tirando do transe. - Bom dia, Sheldon. O que é isso aqui? – JJ perguntou tão chocado quanto eu. - Uma sala de videogame, o que mais parece ser? – Sheldon respondeu pausando o jogo e nos encarando. - Desde quando Hogwarts tem uma sala de videogame? – perguntei. - Desde 2008, quando a diretora McGonagall aceitou a sugestão do professor O’Shea de inovar a escola e acompanhar as tecnologias trouxas – ele começou a explicar – Não funciona sempre, somente de sexta à noite até domingo à tarde, e nos feriados. - Que demais... O que você está jogando? – JJ já se animou, sentando do lado dele. - Halo 3. - Legal! Posso jogar? – ele perguntou ansioso – Meu irmão tem um videogame, sempre jogo com ele! – e Sheldon estendeu um controle a ele, mas meio que a contragosto. - Também quero jogar – sentei no sofá ao lado de JJ – Meu irmão também tem um videogame, mas nunca tive paciência de jogar com ele. Como é esse jogo? Alguém pode me resumir rapidinho? Qual que atira? -É, boa idéia, resume pra ela, Sheldon – JJ encarou ele, esperando. - Não. A roda foi uma boa idéia, relatividade foi uma boa idéia. Isso é uma noção, e uma das mais podres. - Por quê? – perguntei cruzando os braços. - Por quê? – ele repetiu, sorrindo idiotamente - Oh, Clara, Clara, Clara. - Oh, o que, o que, o que? – disse começando a me irritar. - Isso é uma simulação de batalha muito complexa com uma curva de aprendizagem muito íngrime. Há armas pesadas, veículos e estratégias para seguir sem mencionar uma estória de fundo intrigante. - Maneiro. Explodi a cabeça de quem? – perguntei com um controle na mão. - A minha – Sheldon respondeu com cara de pânico. - O jogo é no espaço e temos que matar alienígenas, enquanto tentamos descobrir o segredo de Halo – JJ resumiu a história do jogo pra mim. - Tá legal, já entendi. Se preparem, rapazes. - É o único jeito de jogar com o time completo – JJ comentou com ele, rindo. - Sim, mas o time vai sofrer pela falta de experiência dela, e sem mencionar o fato... - Sheldon, lá vai sua cabeça de novo – atirei novamente contra o jogador dele, que tinha acabado de voltar à vida. - Certo, não é de boa esportiva atirar na cabeça de alguém que acaba de "renascer". Tem que dar uma chance para... – ele começou a me passar sermão, mas explodi outra vez seu jogador – Ah, qual é! Sheldon sentou correndo no sofá, reassumindo o controle e salvando seu jogador das minhas granadas. O jogo, que antes era só ele comandando a equipe de 3 jogadores, agora era um time desfeito, onde cada jogador estava por contra própria e devia derrubar o oponente para descobrir sozinho o segredo de Halo. E eu, com toda minha falta de experiência com videogames, estava dando um banho neles. - Joshua, Joshua! – Sheldon gritou desesperado, depois de mais de uma hora de jogo aonde ele ia perdendo forças a cada minuto – Ela me encurralou. Me dê cobertura! - Cubram isso, otários! – falei totalmente envolvida no jogo, me tornando até um pouco agressiva. - Clara, você está pegando fogo! – JJ falou empolgado, vendo tudo explodir na tela. - É, e o Sheldon também! – respondi na mesma empolgação, rindo alto. - Tá legal, já chega – Sheldon largou o controle na mesa e levantou revoltado – Não sei como, mas ela está roubando. Nenhuma menina é tão bonita e tem habilidade no videogame. - Espere, Sheldon, volte – ainda rindo, chamei sua atenção antes que ele abrisse a porta da sala – Você esqueceu algo. - O que? - Essa granada de plasma – apertei o botão novamente e o jogador dele foi pelos ares. JJ se jogou para trás, rindo – Olha, está chovendo seus pedaços. - De risada agora, mas espere só até você precisar de suporte técnico em algum outro jogo – disse irritado e saiu da sala, batendo a porta. - Nossa, ele é meio que um mal perdedor, não é? – comentei ainda rindo com JJ - Hiro disse que ele também é um vencedor bem desagradável. - Bem, foi legal – interrompi o jogo e coloquei o controle na mesa – Mas sem o Sheldon para irritar não vai ter mais graça. Vamos fazer outra coisa? - Acho que minha bola ainda está cheia, quer jogar um pouco lá fora? Topei a idéia e saímos da sala de jogos, deixando ela vazia. O dia estava bonito e embora o sol parecesse forte, não estava calor. Passamos o resto da manha e boa parte da tarde jogando futebol nos terrenos do castelo e quando a tarde começava a cair, fomos fazer uma visita a Hagrid. Ele adorou ter companhia e nos contou várias histórias da época que nossos pais eram alunos de Hogwarts, nos levando de volta ao castelo quando já havia escurecido. Nunca achei que fosse gostar tanto de passar um feriado presa na escola. Hogwarts era mesmo uma caixinha de surpresas. |