Friday, April 17, 2009


- Tem certeza que não quer ir conosco, Clara? – perguntei pela enésima vez a minha prima.
- Pode vir com a gente, Clara, não tem problema – Connor colocou a mochila na carruagem e desceu outra vez – A perspectiva de ter o castelo só pra gente é convidativa, mas na pratica não é tão bom assim.
- Obrigada pelo convite, mas vou ficar aqui – Clara sorriu e me abraçou – E não vou ficar sozinha, JJ também não vai pra casa. Tragam um ovo de páscoa pra mim, pode ser?
- Bom, você é quem sabe – beijei sua testa e entrei na carruagem com Connor – Pode deixar que trago o maior ovo que encontrar. E qualquer coisa, é só chamar pelo espelho.

Ela assentiu com a cabeça e acenou se despedindo quando a carruagem se moveu e nos levou pela estrada de terra até Hogsmeade. Estava indo passar o recesso de páscoa na casa de Connor, já que meus pais estavam no Caribe aproveitando o sol e não tinha sido convidado. E como Gabriel disse que ia trabalhar no feriado, não me restou opção senão ir para a casa do meu melhor amigo. E a família dele era ótima, sempre me faziam se sentir muito bem vindo.

A viagem de trem de volta a Londres foi tumultuada. Alguns veteranos decidiram zoar com a cara dos calouros e contaram que um dos vagões do trem estava transportando dementadores, desafiando os novatos a irem lá conferir. Alguns mais valentes topavam o desafio e quando abriam à porta da cabine, tremendo dos pés a cabeça, os veteranos que estavam escondidos dentro dela com capas pretas lançavam um jato de fumaça de extintor de incêndio na cara deles. Os coitados saiam quase congelados e acreditavam que eram mesmo dementadores, que ao abrirem a porta todo o frio que fazia lá dentro escapava. A todo instante passava um aluno do primeiro ano correndo pelo nosso vagão, gritando que havia ficado cara a cara com um dementador.

- Estação de King’s Cross – Otter repetiu alto o letreiro que lia pela janela – Chegamos!
- Até mais, pessoal – Connor e eu apertamos a mão de Otter e Nigel – Amanha nos falamos para combinar alguma coisa essa semana.
- Ei Connor, fala pra sua mãe que vamos lá comer aquele pudim que ela faz – Nigel brincou enquanto desembarcávamos.
- Vou falar, pode deixar – Connor riu e apontou pro outro lado da plataforma – Micah!

Olhei na direção que ele apontava e vi seu irmão mais velho, Micah, parado acenando. De mãos dadas com ele tinha um menino de cabelos castanhos e fortes olhos azuis de no máximo 5 anos, que acenava animado. Fomos até eles e o garotinho saltou do chão direto pro colo de Connor, o abraçando apertado. Era Eduardo, um dos trigêmeos do seu irmão.

- Que saudade, tio! – o menino falou ainda agarrado ao pescoço dele.
- Também senti saudades, Dudu – Connor respondeu alisando suas costas – Oi mano! Não sabia que vinha passar a páscoa em Londres!
- Quisemos fazer uma surpresa. Olá Nick, tudo bom? – disse estendendo a mão.
- Tudo ótimo e faminto!
- Então vamos embora, Andrea está esperando vocês para servir o jantar.

Deixamos a estação com Micah e Eduardo e seguimos de carro até West Kensington, onde Connor morava. Seus pais já estavam nos esperando, junto com a esposa do Micah, Evie, e as suas outras duas filhas de 5 anos, Ella e Eva. Pelo que parecia, a semana de folga seria movimentada.

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A semana na casa de Connor passou num piscar de olhos, mas conseguimos fazer bastante coisa. Encontrávamos Otter e Nigel quase todo dia para andar a toa pelas ruas de Kensington, levamos Eduardo ao Old Trafford para assistir a um jogo do Manchester United contra o Arsenal e passamos um dia inteiro no Beco Diagonal reabastecendo os bolsos nas Gemialidades Weasley. Clara havia feito uma encomenda absurda para mim, pedia quase a loja inteira, incluindo uma caixa de Feitiços Patenteados para Devanear. Tio George, que atendia na loja no dia que estávamos lá, deduziu que a extensa lista era para ela e vetou a compra da caixa de feitiços. “Ela vem tentando comprar isso há meses, mas é proibido para menores de 17 anos, não posso arriscar perder o estoque se o Ministério descobrir”, ele explicou quando não tive alternativa senão confessar que eram para Clara.

Era o último dia de folga, voltaríamos para Hogwarts domingo de manha, e ainda dormia no chão do quarto quando uma gritaria me fez saltar assustado, chutando a cômoda no pulo. Connor também acordou com os gritos e tropeçou no lençol, caindo por cima de mim. Empurrei-o pro lado sem delicadeza e me livrava das cobertas para poder levantar, mas a porta do quarto abriu e descobrimos o que estava gerando aquela confusão. Dois meninos loiros de olhos verdes entraram correndo e pulando em cima de mim. Afastei os dois rindo e agarrei suas orelhas, como sempre fazia, sem apertar para não machucar. Eram Aaron e Aidan, os gêmeos de 5 anos do meu primo Chris.

- O que estão fazendo aqui? – perguntei sem entender porque eles haviam invadido o quarto.
- Viemos passar o dia com você, primo! – Aidan respondeu feliz e Aaron concordou com a cabeça.
- Bom dia, seus preguiçosos – alguém bateu na porta aberta e vi que era Chris – Já são 11h, isso é hora de estar dormindo?
- Dá um desconto, Chris – falei bocejando, levantando do colchão – Chegamos quase 5 da manha em casa.
- E o que estavam fazendo na rua até essa hora?
- Estávamos em Covent Garden – Connor explicou levantando do chão e apertando a mão de Chris.
- Bom, chega de dormir. Vamos passear pela cidade com as crianças naqueles ônibus de turismo e elas fazem questão da presença de vocês – Chris falou rindo e puxou os gêmeos pelas mãos – Vamos meninos, deixem eles acordarem direito e trocarem de roupa.

Chris saiu do quarto com os gêmeos e fechou a porta. Ainda fiquei um tempo sentado na cama tentando focar no que deveria fazer, mas depois de alguns minutos levantei e fui direto para o banheiro lavar o rosto e escovar os dentes. Nada como passar o dia inteiro rodando a cidade num ônibus lotado de turistas tagarelas para acabar com o sono.

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- Não vou subir nesse negocio ai não – Evie comentou com Micah
- Mas não tem perigo, meu amor – Micah respondeu achando graça – É seguro.
- Eu não quero ir mamãe, estou com medo – Ella agarrou a mão de Evie, assustada.
- Não se preocupe, a mamãe também não vai a lugar algum – Ela sorriu para a menina, que se acalmou um pouco – Vou ficar aqui com a minha filha, podem ir vocês – disse decidida e eu ri.

Estávamos no pé do London Eye, uma gigantesca roda-gigante as margens do Rio Tâmisa. Do alto dela era possível ver boa parte da cidade e a noite a vista era ainda mais bonita, mas os seus 135 metros assustavam. Eduardo, Aaron, Aidan e Eva estavam animados, mas Ella e Lucy, filha de Wes, o outro irmão de Connor, não pareciam empolgadas. Evie e Shannon, esposa do meu primo, decidiram ficar no chão com as meninas enquanto os outros subiam, e como já havia andado na roda 3 vezes, fiquei também.

- Olha o Dudu colado no vidro! – Lucy apontou para o primo, rindo.
- Ai meu Merlin do céu, isso é tão alto... – Evie comentou aflita, apertando a mão de Ella – Cadê o Micah que não estou vendo perto do meu filho??
- Calma Evie, ele está do outro lado com a Eva, Chris e Wes estão perto dos meninos – Shannon respondeu rindo, apertando os olhos para enxergá-los de longe.
- E não tem perigo, Evie – falei também rindo – Aquele vidro é grosso, não tem como de atravessar ele. Nunca teve acidente no London Eye. E se tiver, tem dois médicos lá em cima e um auror... – comentei prendendo o riso quando ela me olhou atravessado.
- Obrigada, Nicholas, agora estou tranqüila.
- Disponha – e ela acabou rindo.
- Nick, seu pai comentou que você não escolheu ainda uma carreira pra seguir, é verdade? – Shannon perguntou me encarando.
- É sim – falei meio desanimado – Tentei de tudo, mas não consigo ver nada que me interesse de verdade.
- Nunca pensou em ser auror como ele? – Evie perguntou prestando atenção na conversa.
- Acho que não sirvo pra isso – disse dando de ombros – Olhe pra mim, não vou conseguir sobreviver na academia. Não sou um bom atleta pra agüentar todo o esforço físico exigido.
- Você não precisa estar em forma para ser um bom auror – Shannon me corrigiu, espantada com o que disse – Alastor Moody era uma bolha ambulante e mesmo assim foi recordista em capturar bruxos das trevas. Fiquei sabendo que você é um ótimo aluno em transfiguração e também em DCAT e Feitiços.
- Não sou tão bom assim, minhas notas não são qualificadas para tentar carreira como auror.
- Porque você é preguiçoso, Chris já me passou sua ficha – ela rebateu – Quando se esforça, sei que se sai bem nas matérias.
- Onde está querendo chegar?
- Micah e eu estamos montando um curso de um mês que poderia substituir as provas para se passar para a academia. Não adianta um aluno ter as notas mais altas em poções e DCAT na escola, mas chegar à academia e não conseguir sequer passar num treinamento simples de Vigilância e Rastreamento.
- Também acho, em Durmstrang os alunos que queriam entrar para a academia de aurores passaram por um curso também e pularam as provas oficiais – Evie completou.
- Exato, foi assim que Micah e eu entramos para a academia, mas não adianta ter apenas em Durmstrang. Enfim, estamos organizando isso, mas um curso mais rápido que o de lá, e McGonagall nos autorizou a testá-lo com os alunos de Hogwarts. Não estaria interessado em entrar para o grupo? Se você se sair bem nele, estará na academia e garanto que sobreviverá aos três anos de preparação.

Fiquei encarando Shannon por alguns segundos, pensativo. Não tinha uma carreira a seguir decidida e estaria mentindo se dissesse que nunca pensei em ser auror, como meu pai. É uma profissão atrativa, sem duvida, então por que não tentar?

- Ok, conte comigo! – estendi a mão e ela sorriu animada, apertando – Quando começa?
- Vamos a Hogwarts ainda essa semana divulgar, começa já na próxima semana. Bem vindo a bordo!

Shannon estava tão animada que me puxou para um abraço, sem conseguir parar de sorrir. Talvez ela tivesse razão, eu poderia sim ser um bom auror. E sem sombra de duvidas, papai ficaria extremamente feliz com isso. Mas o que mais o deixaria feliz não era o fato de estar considerando seguir a carreira que ele queria, mas o fato de que eu estava feliz com a perspectiva de me tornar um auror.