Tuesday, April 14, 2009


Faltavam apenas três dias para o feriado de páscoa e recebi a visita da coruja do meu irmão, Héstia. Puxei o pergaminho enrolado na pata dela e tinham poucas linhas. Era mais um recado do que uma carta.

“Mana mala,

Mamãe vai passar a páscoa com papai e tio George na casa do Harry e tio Ben e tio Scott vão para o Caribe. Se você e Nick quiserem vir para casa, vou estar aqui, porém trabalhando todos os dias. Suas opções são ficar aqui comigo sem poder sair, ir para Londres com eles ou ficar na escola. Quando decidir o que quer fazer, responda a carta.

Beijos do seu irmão que te ama e te perturba,
Gabriel”

Dobrei a carta outra vez e deixei Héstia comendo o resto do meu café enquanto ia até o outro lado mesa. Nick conversava com Connor quando parei ao seu lado e entreguei o bilhete do meu irmão. Ele pegou já abrindo para ler e ia voltar para o meu lugar, mas fui impedida antes de dar três passos. Ainda um pouco fora de foco devido ao sono, vi a figura de Sheldon parado na minha frente, um sorriso contido no rosto e abraçado a dois grossos livros de poções.

- Bom dia – Sheldon falou com sua voz quase robótica – A julgar pelas condições climáticas do dia de hoje, não teremos aula de vôo. Acho que será de muito valor se aproveitarmos esse tempo livre para começarmos mais cedo nossa aula.
- Bom dia Sheldon – respondi bocejando – Ótima idéia começar a aula mais cedo, assim terminamos mais cedo também.
- Não, não. – ele me corrigiu, balançando a cabeça como se eu tivesse dito algo absurdamente ridículo – Não devemos terminar mais cedo, e sim adiantar um capitulo do livro se vamos ter mais tempo.
- Mas eu pensei que quisesse adiantar a aula pra se livrar do compromisso mais cedo.
- Não seja boba. Espero você no salão comunal depois do almoço, vai estar vazio hoje.

Ele ajeitou os óculos no rosto e saiu do salão principal sem dizer mais nada. Olhei para trás e Hiro me observava rindo. Caminhei até lá sentando ao seu lado e ele tentou transformar os risos em uma tosse, sem muito sucesso.

- Cale a boca – falei impaciente, puxando uma taça de suco.
- Mas eu não disse nada.
- Mas está pensando.
- Sheldon não é uma má pessoa, só é um pouco... – e fez um pausa, procurando a palavra
- Maluco? Esquisito? – sugeri
- Excêntrico.
- Excêntrico, maluco, é tudo a mesma coisa.
- Tente ser mais paciente, ele não tem muitos amigos.
- E de quem será a culpa? – perguntei debochada e ele riu
- Promete que vai contar até 10 toda vez que ele disser algo que a irrite? – eu não respondi, apenas revirei os olhos, então ele insistiu – Clara?
- Ok, ok, eu prometo contar até 50 sempre que ele me irritar.

Hiro se deu por satisfeito e voltou à atenção ao prato de bacon esfriando na sua frente, mas minha fome já tinha evaporado. Queria ir para casa no feriado, ir a praia e rever meus amigos, mas quando Gabriel dizia que ia trabalhar em feriados, sabia que só veria meu irmão de madrugada em casa. Não queria ficar sozinha na escola, mas a perspectiva de passar a páscoa com meus pais na casa do tio Harry também não era muito animadora. Ele tinha muitos filhos e o mais velho, Tiago Sirius, era particularmente irritante. Empurrei o prato de torrada para o lado e deixei Héstia pousar no meu braço, saindo do salão. Até o fim do dia enviaria a coruja de volta com minha resposta final. Por enquanto, ia apenas me preocupar em não matar um sonserino nas próximas horas.

ººº

Pouco antes das 14hs já estava sentada no sofá do salão comunal da Sonserina a espera de Sheldon. Da ultima vez que me atrasei fui obrigada a ouvir um sermão sobre pontualidade, então não iria dar margem para ele repetir o monologo dessa vez. Hiro estava sentado na poltrona lendo um livro e consultei o relógio. Exatamente às 14hs, nem um segundo a mais ou um segundo a menos, Sheldon saiu da passagem dos dormitórios e caminhou até o sofá, parando na minha frente.

- Você está no meu lugar – disse me encarando.
- Como? – falei confusa
- Você está no meu lugar – ele repetiu.
- Esse não é o seu lugar, o sofá é de todos os alunos da Sonserina.
- Mas eu sempre sento nesse canto, então esse é o meu lugar.
- Mas você... – ia questionar outra vez, mas não consegui terminar a frase
- Por Merlin, apenas chegue pro lado e deixe-o sentar ai! – Hiro falou suplicante da poltrona, me olhando por cima do livro.
- Ok, pode sentar ai, não faz diferença pra mim... – revirei os olhos chegando para o lado.
- Se não fazia diferença, por que não saiu quando disse que estava no meu lugar? – Sheldon questionou sentando no sofá e se acomodando.
- 10, conte até 10 – Hiro falou quando o encarei irritada.
- Hiro, se pretende aqui e assistir a aula, peço que não atrapalhe – Sheldon ouviu e o repreendeu.
- Não vou atrapalhar, Sheldon. Só falei com ela rápido.
- Eu ouvi, você mandou que ela contasse até 10, mas a aula é de poções, não matemática.
- Ok Sheldon, esquece o Hiro sentado ali, vamos logo com isso! – falei virando de costas pra poltrona e encarando ele com o livro na mão.
- Ah, entusiasmo, gosto disso – Sheldon pareceu satisfeito com alguma coisa pela primeira vez desde que o conheci – Muito bem, abra o livro no capitulo 5, Poções Calmantes.

Abri o livro na pagina que ele mandou e aproveitei seu súbito bom humor para continuar bancando a empolgada com a aula. E depois de 2 horas de estudos, descobri que era bem mais agradável aturar Sheldon quando ele não era contrariado. Por alguns breves segundos, cheguei até a gostar dele. Mas eram breves segundos mesmo, logo ele fazia algum comentário sarcástico, embora não percebesse que estava fazendo isso, e tudo voltava ao normal. Perto das 16hs, quando as aulas terminaram, o salão começou a encher e Sheldon foi obrigado a encerrar a aula. Ele desapareceu pelo túnel que levava aos dormitórios, me deixando sozinha no sofá. Fechei o livro cansada e me atirei no lugar que ele dizia ser seu e Hiro riu, balançando a cabeça. Não demorou muito e nossos amigos apareceram.

- E ai? Como foi a aula com o esquisito? – Keiko perguntou sentando do meu lado
- Até que hoje não foi tão ruim – respondi espantada comigo mesma – O que vão fazer na páscoa? Alguém vai ficar na escola?
- Eu vou para o rancho, a família toda vai pra lá – Haley respondeu animada.
- Eu também vou pra casa, minha mãe vai me pegar esse ano, vou passar o feriado com ela! – Jamal falou animado.
- Keiko e eu também vamos pra casa, Miyako já deve estar com a barriga enorme, quero vê-la!
- Eu não sei ainda, mamãe não está programando nada especial e o DJ está um porre agora que entrou pro time da Corvinal, não sei se quero passar o feriado todo o ouvindo contar suas aventuras em campo – JJ fez uma careta e rimos.
- A Arte também vai pra casa, falou hoje que vai passar o feriado na casa do tio Griffon – Keiko comentou – E você? Vai pra casa com o Nick?
- Não sei ainda, talvez fique aqui, se JJ resolver ficar – disse um pouco mais animada com a idéia de ficar em Hogwarts – Gabriel vai trabalhar e meus pais vão pra casa do tio Harry. Não quero passar o feriado todo com o Tiago no meu pé, ele é muito mala!
- Ele é chatinho mesmo, o Alvo é mais legal – Jamal concordou comigo – E o Rupert? Por que não vai pra casa dele?
- Tio George também vai pra casa deles com meus pais, Rup e Becky vão com ele, eu acho.
- Ah, se você precisa de companhia pra ficar aqui, então eu não vou pra casa! – JJ se animou e estendeu a mão para eu bater – Vamos ficar e explorar o castelo vazio.
- Fechado! – bati na mão dele oficialmente empolgada e levantei do sofá – Vou até o corujal responder ao Gabriel que vou ficar, vejo vocês no jantar.
- Vou com você, assim mando logo uma carta pra mamãe dizendo que não vou pra casa – JJ levantou também e saímos juntos do salão comunal.

Mandei Héstia de volta para o Brasil explicando exatamente o porquê não iria para Londres e dizendo que ficaria no castelo com JJ, assim mamãe não iria reclamar que vou ficar sozinha e querer me obrigar a ir com ela. Uma semana sem aula e com o castelo vazio. Ah, se ao menos tivéssemos um mapa do maroto na mão...