Monday, September 29, 2008


- Louise!

Ouvi alguém gritar meu nome e nem tive tempo de virar e um par de mãos já me abraçava, me erguendo do chão. Brendan me deu um beijo estalado no rosto e me colocou no chão, dando a vez para Julian fazer o mesmo. Minha família trouxa veio junto com meu avô bruxo pra formatura e se meus avôs olhavam tudo espantados, os olhos dos meus primos chegavam a brilhar. Acho que nem em todos os relatos que fiz a eles sobre Hogwarts os prepararia para ver tudo aquilo. Abracei cada um deles e vi Remo se aproximar com Susan, que pra variar ficou pra trás. Ela me abraçou mais empolgada que os outros e ele me ergueu do chão como Brendan e Julian, me beijando em seguida. Ouvi meu avô Henry pigarrear e os dois idiotas fazerem o mesmo, mas ignorei rindo e continuei agarrada a ele, para provocar mais.

Levei todos para o salão principal e depois de acomodá-los na mesa reservada, fui me juntar à turma para as fotos padrões. Demorou um bocado, alguns sonserinos como Dolohov e Bellatrix não colaboravam, mas os próprios colegas de casa deles começavam a reclamar e eles pararam com as frescuras. Logo depois teve nosso numero de dança e enquanto rodava com Ben de um lado pro outro no palco, ficava imaginando o tanto que eu não ia rir daquilo se tivesse na platéia. Mas era nossa última noite em Hogwarts, valia a pena a pagação de mico. E valeu mais ainda ver Yulli perder o controle e beijar Scott no meio do numero.

Fizemos tudo que uma festa de formatura pedia. Dançamos até o pé doer e pedir pra tirar as sandálias; bebemos tudo que passava nas bandejas; confraternizamos com os fantasmas e até com os quadros, que ficavam bem saudosos todo ano nas formaturas; conversamos e abraçamos colegas com quem mal falávamos durante esses 7 anos, mas estávamos indo embora, agora éramos todos amigos; pregamos uma última peça no Filch, que entrou no salão praguejando e foi contido com apenas um olhar de Dumbledore; e quem tinha namorado, deu aquela sumida básica por algumas horas na festa... A lei era aproveitar tudo, em todos os sentidos. E também teve o pacto. Depois que os convidados fossem embora, viraríamos a noite nos jardins, deitados na grama, recordando. Ninguém ia dormir aquela noite...

ººº

3 horas da manhã, arredores do lago negro

- Essa festa vai entrar pra história – Mark comentou rindo e atirou um punhado de água pra cima do Lu – Quem diria que Alucard Chronos era um pé de valsa de marca maior?
- Eu tenho muitos trunfos guardados na manga... – Lu entrou na onda
- É verdade, tivemos várias revelações essa noite – Ben entrou na conversa e vi que ele encarou Scott, que estava largado na grama com a cabeça no meu colo, alheio à conversa. Os três ainda bebiam o resto do whisky de fogo que contrabandeamos da festa e aquilo não ia terminar bem – Será que teremos mais gente saindo do armário hoje?
- Está falando comigo? – Scott percebeu a indireta e se mordeu
- Não exatamente, mas se a carapuça serviu... – ele riu olhando para Mark, que preferiu não corresponder à risada
- Não gosto de indiretas, se tem alguma coisa pra falar comigo, fale logo na cara – Scott já estava de pé e Ben fez o mesmo, ficando no mesmo nível dele
- Que irônico, já que você vive em uma!
- O que quer dizer com isso? – Scott já tinha a voz alterada
- Acho que sabe bem o que quero dizer – Ben respondia no mesmo tom. As muitas doses de whisky de fogo começavam a falar – Todo mundo sabe, como pode não ver? É tão cego assim ou é mesmo burro?

Ben virou o resto do whisky no copo e encarou Scott, pronto para uma briga. Ficamos todos sem reação desde quando a discussão começou. Ninguém queria tomar partido e nem cogitamos a hipótese de analisar quem estava certo e quem estava errado. Simplesmente ficamos imóveis sem saber o que fazer, vendo Scott e Ben discutirem bem na nossa frente.

- Você é um tremendo de um babaca! – Cott berrou exaltado – Não passa disso!
- Se eu sou babaca você é no mínimo imaturo! – Ben gritou de volta, tão exaltado quanto ele – Adora brincar com os outros, mas quando é com você, fica nervosinho!
- Isso não foi uma brincadeira, foi uma infantilidade da sua parte!
- Eu nem estava falando com você! Você que ficou todo nervosinho ai! Se está estressadinho assim é porque se doeu!
- Gente, por favor, vamos nos acalmar... – Lu tentou amenizar, mas foi completamente ignorado
- E eu sou infantil? – Ben riu e percebi que aquela seria a sua sentença de morte – Ao menos eu sei quem eu sou e admito pra mim mesmo. Já você não pode se dar ao luxo de dizer o mesmo...
- Não fale do que não sabe! Meta-se na sua vida! – Scott botou o dedo na cara dele e podia jurar que nunca mais o veria tão nervoso quanto naquele momento
- Não põe o dedo na minha cara - Ben agarrou seu dedo e torceu. Scott não moveu um músculo
- Não tem autoridade pra me dizer o que fazer
- Então você também não pode me impedir de fazer isso...

O que veio em seguida sem sombra de duvida era o menos improvável, o que ninguém nunca sequer apostaria. Ben ainda segurava o dedo de Scott e o puxou com força pra cima dele, lhe dando um beijo quase cinematográfico. Senti o ar me faltar nos pulmões e levei a mão à boca, tonta. Olhei para o lado e as meninas tiveram exatamente a mesma reação. Todas estavam de olhos arregalados e as mãos no rosto, parecendo estarem a ponto de desmaiar. Mark e Lu não esboçavam reação alguma. Olhavam estarrecidos para a cena, esperando acordar e ver que nada daquilo estava de fato acontecendo.

Quando os dois se afastaram, também não esperávamos o movimento seguinte. E mesmo que esperássemos, não daria tempo de impedi-lo. Scott deu um passo para trás, fechou o punho e acertou um soco em cheio no meio da cara de Ben. Ele foi a nocaute e Scott saiu pisando forte para dentro do castelo. As meninas se apressaram em acudi-lo na grama e meu primeiro impulso foi correr atrás de Scott.

- Scott, espera! – gritei tentando alcançá-lo no pátio e ele parou
- Ele é um babaca! – Scott tremia de nervoso – Odeio aquele idiota!
- Não, você não odeia. Está querendo enganar a quem? A mim ou a si mesmo? – sabia que tinha sido dura, mas ele precisava ouvir

Scott não respondeu e começou a andar de um lado para o outro ainda nervoso, claramente tentando falar. Mas acho que não conseguia juntar palavras e formar sentenças, pois só balbuciava coisas que não entendia. Por fim ele parou na minha frente e me encarou de verdade pela primeira vez, com uma expressão no rosto de dar pena.

- Você vai continuar gostando de mim, mesmo eu sendo... assim? – disse com uma voz abafada, quase inaudível
- Eu te amo, seu bocó. E nem eu e nem as meninas vamos te abandonar. Nunca.

Passei a mão em seu cabelo e ele me abraçou apertado, deitando a cabeça em meu ombro e não conseguindo mais segurar o choro. Pela primeira vez os papéis inverteram, era vez do terapeuta deitar no divã. Aquela noite de formatura estava longe de terminar.