Sunday, September 21, 2008
A festa de comemoração da suada Taça Interescolar de Quadribol estava animadíssima. Madame Hooch colocara o troféu dourado em cima da mesa dos professores e as costumeiras quatro grandes mesas das casas haviam desaparecido e dado lugar a pequenas mesinhas, espalhadas por todo o Salão Principal. Por todos os cantos, bandeiras de Hogwarts estavam estendidas e pequenos pomos de ouro voavam entre as pessoas.
Eu, Mark, Alex, Lu e os outros jogadores do time, éramos eventualmente puxados para sessões de autógrafos ou fotos, e nos divertíamos muito com isso. Quando Dumbledore abriu a pista de dança improvisada no Saguão de Entrada, fomos todos para lá e de lá só saíamos eventualmente para pegarmos novas taças de hidromel, whisky de fogo ou cerveja amanteigada. Ninguém tinha pressa de deixar a festa...
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- Monn, você viu Louise? Ou Scott? Já os procurei por todas as partes! – não fazia tanto tempo desde que a pista havia sido liberada e centenas de alunos se acotovelavam por um espaço nela, enquanto arriscavam passos de rock. - Vi. Vi Louise. Ela foi por ali. – respondeu apontando o dedo na direção dos jardins e começou a rir, descontroladamente.
O nível alcoólico que ela apresentava não me inspirou nenhuma confiança de que Louise realmente estivesse nos jardins, mas mesmo assim, resolvi procurá-los lá, onde possivelmente estaria mais vazio. Um vento gelado cortou meu rosto assim que atravessei as portas de carvalho, mas continuei andando pelo gramado úmido. De fato, não havia sinais de Louise ou Scott, mas avistei Yoshi sentado na beira do lago e fui a sua direção, parando a alguns passos dele.
- A Lula Gigante não costuma se expor uma hora dessas, sabia? – perguntei e ele se assustou, virando-se para me encarar. Sorriu.
- Se cansou da festa? – ele perguntou depois de me sentar ao seu lado.
- Também. Estava procurando Louise e Scott, eles simplesmente desapareceram do mapa. Mas descobri que é inútil procurar alguém lá dentro. Está lotado. E você?
- Você sabe que sou um tanto anti-social. – sacudiu os ombros - Parabéns pela captura. Quase conseguiu fazer Madame Hooch enfartar de ansiedade. – rimos.
- Obrigada. – ficamos em silêncio por vários minutos.
- Leoncius McLaggen me chamou para trabalhar no laboratório dele. – ele disse em voz baixa após alguns minutos.
- Aquele amigo do Slug? Que é dono do maior laboratório de poções da Grã-Bretanha??? – perguntei empolgada e ele confirmou. – Yoshi, isso é maravilhoso! Você conseguiu! Parabéns!!! Já contou para tia Yhara e Yuri?
- Não. Na verdade, eu queria que você fosse a primeira a saber. – ele sorriu tímido e retribui.
- Estou muito feliz por você. Vai seguir a carreira que sempre quis e tenho certeza de que vai se dar muito bem. Sabe, algumas pessoas ainda estão “despejando verdades” desde que as dei um gole daquele Veritasserum que você me ensinou a fazer, na prova dos NOM’s, se lembra? – perguntei e ele assentiu. Rimos nos lembrando. – Nossa, parece que foi ontem... Em pensar que em menos de um mês estaremos formados e deixaremos Hogwarts para sempre... – deixei a frase ir morrendo e senti o peso dela no peito. Yoshi pareceu sentir a mesma coisa, pois não respondeu.
Encarávamos a água escura do lago, em silêncio, quando três vozes masculinas passaram apressadas atrás de nós e viramos o rosto para ver de quem eram. Régulo Black parecia agitado e andava na frente. Professores Stroke e Kegan o seguiam, ambos com semblantes tensos.
- Será que aconteceu alguma coisa séria? – Yoshi perguntou quando eles sumiram pelos portões.
- Acho que não. No mínimo Régulo deve ter aprontado mais alguma... Nem apareceu para o jogo de hoje e agora quer estragar a nossa festa de comemoração. Covarde! – falei com raiva, mas rindo logo em seguida. - Se fosse sério, teriam parado a festa.
- É, você está certa. – ele concordou se voltando novamente ao lago.
- Bom, falando em festa, me lembrei de que está acontecendo uma lá dentro e como eu sou uma das novas “celebridades” do momento, acho melhor entrar e participar mais um pouco desta. Não quer ir?
- Não. Vou ficar aqui mais um pouco e depois, direto para o dormitório. Aproveite por mim.
- Pode deixar. – sorri me despedindo e retomando o caminho para o Saguão de Entrada, sozinha.
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- O que está fazendo aqui sozinha, com uma baita festa lá fora? Te procurei por todos os cantos. – Mark entrou no Salão Principal da Lufa-lufa e se sentou na poltrona à minha frente, sorrindo.
- Desculpa. Eu fui procurar Louise e Scott nos jardins e quando entrei, procurei vocês, mas também não consegui encontrá-los, aí vim para cá. O dia foi muito cansativo. Como está tudo?
- Animado. Quando sai de lá, Alex e Lu estavam presos em uma espécie de coletiva de imprensa, dando detalhes de todas as goles do jogo. – rimos e nos encaramos por vários segundos. – Está tudo bem?
- Está, só estou cansada. Não vou mais voltar pra festa. Vou ficar aqui mais um pouco e dormir. Volte para lá.
- Ta brincando? Eu também estou um caco! Vou te fazer companhia, se você quiser... – se acomodou melhor na poltrona. Como só ri, sem dizer nada, ficamos em silêncio alguns segundos encarando a lareira. – O que vai fazer quando sair daqui? Quais os planos para as férias?
- Não sei. Pela primeira vez, não tenho planos para as férias de verão. Aliás, a idéia de deixar Hogwarts, e não voltar em setembro, me assusta. Vou para casa, vou começar a organizar essa “nova vida” fora desses túneis da Lufa, desses corredores de monitorias, dessas salas de aula e masmorras... – comecei a citar e parei, soando desanimada. Ele se mexeu desconfortável, mas não quis abrir espaço para assuntos depressivos, então sacudi a cabeça. – E você?
- Devo variar entre a casa da minha mãe e a casa do meu pai durante as férias. Depois delas... – ele parou uns instantes e me olhou de soslaio.
- Depois delas, o que? – perguntei curiosa e ele riu abaixando a cabeça.
- Depois delas eu vou me apresentar no Puddlemere para o time reserva.
- COMO? – gritei empolgada saltando da cadeira e ele riu. – Que história é essa?
- Quando jogamos as semifinais na Alemanha, um olheiro deles veio conversar comigo e me convidar. Tenho a chance de seguir carreira profissional no quadribol. – ele respondeu também animado e com um sorriso largo. Soltei um grito e voltei a me sentar. – Porque não me contou antes???
O sorriso sumiu do rosto dele e eu percebi que ele não havia me contado, talvez por receio de me magoar, contando uma notícia tão boa logo após a morte dos meus pais. Parei de sorrir também.
- Entendi. – falei séria sem conseguir esconder o tom de mágoa.
- Desculpe, Yull. Eu queria te contar, eu IA te contar, mas não sabia se era o momento certo.
Um silêncio incômodo e pesado ficou entre nós por vários minutos. Me senti mergulhando nos acontecimentos do último mês e eles passavam como flashes. Mas somente uma parou. Uma para a qual eu não tive tempo de dar atenção e analisá-la com cuidado, mas que agora retornara com muita nitidez. Lembrei da festa do Club do Slug, o aperto no peito que senti quando Sergei chamou meu nome e a sensação de estar voando quando nos encaramos. Devo ter ficado muito distante, pois só retornei à Sala Comunal, quando Mark segurou meu braço e percebi que ele parecia preocupado e ansioso.
- Não queria te magoar, mas acho que te magoei mais, não é? – ele perguntou baixo e me lembrei do que estávamos falando minutos antes. Esperei calada em silêncio antes de responder.
- Escuta, Mark. O fato de eu ter perdido os meus pais me abalou muito, emocionalmente, você que convive diariamente comigo sabe disso mais do que ninguém e acho que já percebeu que mudei muito o meu jeito de ser e de encarar as coisas, desde então. – ele concordou com a cabeça, mas não me interrompeu. – Mas isso não muda o fato de eu continuar querendo saber sobre os seus problemas ou sobre as suas conquistas, entende? Você não precisava ter me poupado. Eu não ia pensar nada de você se tivesse me contado uma notícia tão boa quanto essa! Você é meu amigo, eu desejo o melhor pra você sempre, e o meu estado emocional em cada dia não muda isso.
Ele pareceu murchar e abaixou a cabeça para encarar seus próprios pés. Esperei que ele dissesse alguma coisa, mas só quebrou o silêncio vários minutos depois.
- Você está certa. Eu quis te proteger de um sofrimento que você não teria. Você tem toda a razão. Nós somos amigos há tanto tempo e eu agi como se não te conhecesse o suficiente. – terminou a frase e pareceu pesá-la. Sorri.
- Já passou. O que interessa é que você vai conseguir todos os ingressos de jogos do Puddlemere pra mim, daqui pra frente. – ele também se descontraiu e riu. Mas depois de alguns segundos, o sorriso dele ficou diferente.
- Sabe o que eu acho? Que nós somos os “namorados” mais AMIGOS que eu conheço. Reparou que durante todo esse tempo, só nos tratamos como amigos, amigos, amigos...? Ta, nós realmente somos bons amigos, mas... Ainda somos namorados, não somos?
Nos encaramos e acho que passei a minha incerteza para ele, pois a vi em seus olhos também.
- Sinceramente? Acho que nós nunca fomos namorados. – respondi sincera forçando um sorriso. – Vivemos momentos ótimos, inesquecíveis eu diria. Mas o que eu sinto por você não é amor. É nada mais do que uma bela e forte amizade. Eu estava confundindo isso, esse tempo todo, mas agora eu tenho certeza. – disse tudo o que estivera engasgado de uma vez, mas para minha surpresa, Mark não parecia decepcionado. Ele riu.
- Eu nunca concordei tanto com alguém. Nosso namoro é uma farsa! – rimos com vontade e me senti aliviada de que tivesse sido tão fácil ter tido aquela conversa com ele. – Então, amigos? Só amigos? – ele perguntou estendendo a mão e eu ri.
- Sim. Para sempre. – não a apertei, mas o puxei para um abraço longo que ele retribuiu.
I hope you know, I hope you know
That this has nothing to do with you
It’s personal, myself and I
We got some straightening out to do
And I’m gonna miss you like a child misses their blanket
But I’ve gotta get a move on with my life
It’s time to be a big girl now
And big girls don’t cry
- Fergie.