Sunday, September 28, 2008 “É hoje!” “Meu estômago está dando um nó” “E se eu tropeçar na hora de pegar o diploma??” “Vou sentir saudades de Hogwarts” Tudo que se ouvia durante todo o dia eram comentários da turma do 7º ano sobre a formatura que se aproximava. Estávamos apenas há horas de recebermos nossos diplomas e sermos, oficialmente, bruxos formados. E se o estômago da menina da Corvinal estava dando um nó, o meu já não existia mais. Tinha sido escolhido com a maioria dos votos para ser o orador da turma e mesmo tendo o discurso pronto e praticamente decorado, não conseguia evitar estar nervoso. A movimentação no castelo durante todo o dia ficou por conta dos últimos preparativos para a festa. Karen andava de um lado pro outro, nervosa e ditando ordens alucinadamente, e sobrou pro meu irmão ouvir e acatar a todas sem reclamar. A festa era toda sobre a Broadway e íamos apresentar um numero de dança sobre a peça Chicago. Meu par seria a Louise e já estávamos bem empolgados, mas também ansiosos para acabar logo com o show. Passei o dia todo andando pelo castelo como se estivesse me despedindo de cada corredor, cada passagem, cada sala de aula. Estava aqui há apenas dois anos, mas era estranho ir embora e saber que não íamos mais voltar em Setembro. Por várias vezes esbarrei com meus amigos perambulando sozinhos pelos corredores, assim como a grande maioria do 7º ano. Cumprimentávamos-nos com a cabeça, sorrindo, e continuávamos andando, um fingindo não saber o que o outro estava fazendo e também fingindo não achar aquilo bobo. Não era bobo sentir saudade de uma escola, porque Hogwarts era mais que uma escola. Hogwarts era um lar. O dia ainda estava claro quando me dei por vencido e segui para a Lufa-Lufa para começar a me arrumar. E ele já dava indícios de que ia escurecer quando encontrei o resto da turma no saguão de entrada, todos usando becas pretas com o brasão da escola e segurando um chapéu de feiticeiro na mão. A professora McGonagall logo chegou batendo palma e nos mandando formar uma fila, mas pediu que hoje não houvesse distinção de casa, pois éramos uma única turma. Parei atrás do Lu e minha mão estava gelada. Olhei de lado e vi as meninas apertando as mãos umas das outras, nervosas também. Era o medo do que viria quando o dia terminasse assombrando a todos nós. Saímos para o gramado atrás da professora e a primeira pessoa que vi nas cadeiras dos convidados foi minha irmãzinha, Anna. Ela usava um vestido todo florido, com um laço no cabelo, e quando me viu acenou animada e cutucou nossos pais. Meu pai fez um sinal positivo com a mão e sorri para ele, retribuindo o sinal. Sentamos nas cadeiras reservadas aos formandos sem qualquer critério e acabei sentado entre Scott e Yulli. O diretor Dumbledore começou um breve discurso e a cada palavra dele, sentia meu estômago afundar. Ele então parou de falar, esperou as palmas cessarem, e encarou a minha fileira de formandos. - É um distinto prazer para mim lhes apresentar nosso orador. Esse jovem rapaz era um sextanista quando foi transferido de uma escola distante, com costumes diferentes. Ele é simples, estudioso, competitivo quando preciso, e incomparável em suas conquistas acadêmicas. Senhores e senhores, Benjamin Thomas McKanson O’Shea. Todo mundo aplaudiu, meus amigos assobiavam animados, e levantei da cadeira. Fiz um enorme esforço para me controlar e não começar a tremer enquanto caminhava até o palanque, seria muito vexame. Parei diante do microfone e as palmas cessaram, ficando tudo no mais absoluto silêncio para ouvir o que eu tinha a dizer. Silêncio até demais. - Diretor Dumbledore, professores, companheiros de sala, família e amigos, bem vindos. Nunca pensamos que esse dia chegaria. Nós rezávamos para que chegasse depressa, riscávamos dias no calendário, contava as horas, minutos e segundos, e agora que chegou, eu estou triste porque isso significa deixar os amigos que me inspiraram e professores que foram meus mentores. Eu vivo em dois mundos. Um é o mundo mágico. Ele é repleto de feitiços, caldeirões fervendo, pessoas que viram bicho, quadribol e criaturas fantásticas. É um mundo recompensador, mas meu segundo mundo é muito superior. Meu segundo mundo é habitado por coisas e pessoas menos excêntricas, mas igualmente reais, que são minha inspiração para tudo. Louise, Yulli, Alexandra, Samantha, Miriam, Scott, Marcus e Alucard são loucos, companheiros e pessoas imensamente generosas. Eles foram meu pilar aqui, do qual sem eles eu não me manteria de pé. Tenho orgulho de poder chamá-los de amigos. Mas minha maior inspiração vem do meu melhor amigo, o cara fascinante que escolheu meu nome, Kegan O’Shea. Meu irmão nunca me disse que eu não podia fazer tudo que quisesse fazer ou ser quem eu quisesse ser. Ele encheu meu mundo com diversão, livros e música, persistindo em seus esforços para me servir de exemplo, mas sempre dizendo para que eu me espelhasse em alguém melhor que ele. Enquanto ele me guiava nesses incríveis 18 anos, não sei se ele algum dia se deu conta que a pessoa que eu mais queria ser era ele. Obrigado mano. Você é minha inspiração para tudo. Olhei para trás e vi meu irmão sorrindo orgulhoso, ao mesmo tempo em que estava surpreso. Sorri satisfeito e tornei a olhar para frente. - E enquanto nos preparamos para deixar Hogwarts hoje… ººº - E lembrem-se: quando estiverem sozinhos em uma noite de verão, olhem para as estrelas e façam um pedido. Façam de suas vidas um espetáculo. Eu sei que, aqui, eu fiz isso. Obrigado. Toda nossa turma e os convidados ficaram de pé para aplaudir meu discurso e encarei meus amigos, os mais empolgados com as palmas. Quando cheguei a Hogwarts transferido da Irlanda não imaginava que fosse encontrar os melhores amigos que alguém podia ter e nem que seria o orador da turma. Não havia duvidas de que aquele tinha sido o melhor momento da minha vida. |