Monday, September 29, 2008 Todas as luzes se apagaram por um minuto e foi o tempo em que Louise, Ben, Scott, eu, Alex, Lu, Sam e Mark, tivemos para entrarmos e nos posicionarmos na pista de dança. A platéia pareceu sentir nossa movimentação, pois se calaram, esperando. Quando o primeiro foco de luz vermelha se acendeu em cima de Louise, que estava atrás de uma falsa cela de prisão, a barulheira tomou conta do jardim. Havíamos ensaiado por vários meses a representação de um dos tangos mais conhecidos de “Chicago”. Ben e Louise dançavam colados pelo salão como se fosse a coisa mais natural do mundo e quando eles pararam no centro, imediatamente um foco de luz se acendeu sobre mim e uma nova algazarra se iniciou. Scott já estava me esperando, e quando cheguei até ele, me pegou com força pela cintura e rodopiamos três vezes, antes de derrubá-lo no chão, caindo por cima dele. Então...surtei. Sem que pudesse me conter, esqueci propositalmente da coreografia original (que se tivesse seguido, teria que ter puxado com o dente o lenço que estava amarrado em seu pescoço) e criei meu próprio passo. Por um breve segundo, sorri marota para Scott que pareceu se assustar, mas não teve tempo de reagir ao meu próximo ato, que foi beijá-lo intensamente. Os convidados pareciam ter ido à loucura, pois pude ouvir uma confusão se armando por todos os cantos. Gritos, risadas, assobios e palmas frenéticas. Nada disso importava. Continuei beijando Scott e ele continuou correspondendo, até o foco que estava sobre nós se apagar e se acender do outro lado, onde Alex e Lu começavam sua própria performance. Quando finalmente nos soltamos e levantamos, Scott me encarava zonzo. - O que foi isso?! Você enlouqueceu? – ele perguntou com os olhos arregalados. Sam e Mark já haviam entrado na pista também. Sorri. A música parou. Dobrei meu corpo para trás de modo que a cabeça ficasse inclinada para baixo. Scott me segurava e afundou sua própria cabeça ao lado do meu pescoço. - Nós dois sabemos que não sou eu quem vai ser o seu “par perfeito”. – ele disse baixo e rimos, enquanto todos se levantavam para aplaudir fazendo um barulho estrondoso e nos juntávamos para agradecer. Fechamos as apresentações de dança de maneira memorável. -------- Tudo na festa estava tão bom e tão lindo que havia superado todas as nossas melhores expectativas. Embora alguns formandos continuassem hesitando em se misturarem, grande parte de nossa turma estava unida e aproveitava junta as últimas horas em Hogwarts. Tia Yhara, Yuri e Sabrina já haviam ido embora, prometendo nos buscar na estação de King’s Cross na manhã seguinte. Yoshi também já havia ido dormir. Com o passar das horas, muitos começavam a demonstrar cansaço e se jogavam pelos gramados. Mas uma coisa que eu e meus amigos tínhamos aprendido muito bem (e com direito a “O”) em Hogwarts era “fazer festa” e sobreviver até o final de cada uma delas. Havia prometido para mim mesma que iria afastar, pelo menos durante toda aquela noite, todos os pensamentos e lembranças tristes, e curtia cada segundo. Eu, Scott, Alex, Louise, Sam e Ben, principalmente, aceitávamos todas as taças de bebidas que passavam em nossa frente e lá pelas tantas horas da madrugada, eu já não estava em condições de responder por nenhum dos meus atos. Lembro-me de ter avistado Sergei, Lu e Mirian sentados em uma mesa. Lu e Mirian conversavam e riam entre si, enquanto Sergei parecia alheio. Ele me encarava sem desviar os olhos e retribui o gesto, o que fez com que nós dois ríssemos e ele se levantasse traçando uma reta na minha direção. Quando parou a meio passo de mim, não precisei dizer nada. Ele me puxou pela cintura com força e agilidade incríveis e nos beijamos com vontade. Depois disso, só me lembro de sairmos cortando caminho entre as pessoas enquanto trocávamos beijos, e pararmos em um ponto deserto do castelo, durante várias horas. -------- A noite anterior havia sido surpreendente para todos nós. Algumas de suas conseqüências ainda tomariam bastante tempo até que nos acostumássemos com elas. Quando o sol raiou no castelo, tivemos de superá-las temporariamente, pois havia chegado o momento que estávamos evitando há diversas semanas: a última partida de Hogwarts. Depois de muita relutância, finalmente me vi sentada no Expresso, naquela que seria minha última vez lá dentro. Ver o castelo desaparecer à medida que o trem avançava em direção a Londres, foi uma das piores sensações da minha vida. Eu e todos os meus amigos nos espremíamos em uma mesma cabine e parecíamos compartilhar do mesmo silêncio. Nos encaramos por vários minutos, sem dizermos nada, e quando retomamos as falas preferimos não tocar no assunto. Não queríamos e não iríamos nos despedir nunca daquele que havia sido nosso verdadeiro lar nos últimos sete anos... |