Wednesday, September 24, 2008

Quando os caminhos se separam

Por George Graham Storm

- O senhor está liberado, Sr. Storm – Madame Pomfrey abriu as cortinas da minha cama sorridente – Sr. Foutley também, podem voltar ao salão comunal.

Assenti com a cabeça e tornei a fechar as cortinas, trocando de roupa. Scott e eu passamos o domingo inteiro e parte da segunda na enfermaria e depois de tomar muitas misturas de poções e ter todos os danos reparados, pudemos sair. Mas a marca negra gravada em mim, infelizmente, era permanente. Dumbledore me explicou que nenhum feitiço poderia removê-la e que ela sumiria com o tempo somente quando Voldemort, o criador da marca, fosse morto. Passaria o resto da minha vida usando camisa de manga comprida se fosse necessário, mas nunca deixaria ninguém vê-la.

- Vou voltar pra Grifinória, você vem? – Scott parou na porta da enfermaria
- Não, pode ir. Vou assistir à última aula de hoje...

Scott se despediu sumindo no corredor e fiz o caminho contrário. A última aula do dia seria DCAT e não sabia como fariam, mas precisava ir até a sala. Ainda não sabia o quanto à história da noite de sábado havia se espalhado e nem se os alunos sabiam o que tinha acontecido com o professor, mas quando cheguei à sala, percebi que sabiam apenas uma parte. Toda minha turma estava sentada aguardando Stroke entrar e me seguiram com o olhar enquanto caminhava para o fundo da sala. Eram olhares de curiosidade pelo fato de estar todo arranhado e Régulo não estar comigo, estávamos sempre juntos. Mas não fazia idéia de onde ele estava e nem se queria procurá-lo. Ficamos sozinhos na sala por cerca de 20 minutos, quando Kegan entrou muito sério e parou na frente da sala, esperando a turma se calar.

- Boa tarde – disse encarando os alunos um a um, com um semblante tão sério que assustava – O diretor me pediu que falasse com vocês hoje, pois ele precisou se ausentar. Acho que muitos, ou a maioria, já sabem que dois comensais invadiram a escola sábado à tarde e levaram três alunos – a turma inteira virou para me encarar, mas continuei olhando fixo para Kegan - O professor Stroke e eu resgatamos os alunos, mas ele, infelizmente, não sobreviveu – a turma agora soltava exclamações chocadas e me olhavam com olhares acusadores. Algumas meninas começaram a chorar – Ele morreu em serviço, fazendo o que mais gostava, e é assim que deve ser lembrado. Até o fim do ano letivo eu assumirei suas turmas, mas hoje todos estão dispensados. Àqueles que quiserem acompanhar o enterro do professor Stroke, será às 20h no cemitério de Durness, vilarejo vizinho a Hogsmeade. A professora Foutley e eu estaremos acompanhando os alunos. Podem ir agora, nos vemos na quarta-feira.

A turma lentamente foi recolhendo o material e deixando a sala. Fiquei por último e Kegan esperou que todos saíssem, me parando quando passei.

- Tudo bem?
- Não. Me olharam como se eu fosse o culpado pela morte dele.
- Bobagem, só ficaram surpresos, daqui a pouco esquecem. Vem conosco no funeral, não é?
- Acho que sim...
- Venha sim, William ficaria feliz. Espero você no saguão às 19:30.

Kegan deixou a sala e sai atrás dele, sem muita pressa. Ainda era cedo e tinha algumas horas até o enterro, então voltei para a Grifinória. Os olhares dos alunos que estavam no salão comunal me acompanharam por todo o caminho até o dormitório e bati a porta, irritado. Não demorou muito e Scott bateu.

- Se serve de consolo, também recebi alguns olhares desconfiados – disse fechando a porta sentando em uma das camas vazias
- Ninguém sabe realmente o que aconteceu e nos encaram com olhares acusadores, não é justo.
- As pessoas quando não tem acesso a todos os fatos, criam eles por conta própria e acabam espalhando informação errada. Mas não dê importância ao que eles pensam, nós sabemos o que aconteceu e, principalmente, que não temos culpa.
- Como consegue não ligar para o que as pessoas pensam com essa facilidade toda?
- Anos de experiência – ele riu – É difícil no começo, mas acredite, com o tempo fica mais fácil e você acaba acostumando.
- Valeu. Vou fazer o meu melhor, agora que tenho essa coisa – apontei a marca no braço.
- Falando nisso... – Scott levantou e caminhou até a porta – Vi seu amigo atormentando um elfo para ajudá-lo a encontrar as peças de roupa que não estavam no dormitório dele. Acho que está com pressa em juntá-las...

Ele saiu do dormitório e fui até a janela. Vi Régulo andando a passos largos no pátio ao lado de um elfo, ambos com os braços carregados de livros e peças de roupa. Sabia o que ele estava fazendo, nunca uma ação sua foi tão obvia, mas não consegui ir até eles. Estava dividido entre a decepção por saber que ele estava envolvido no ocorrido de sábado e o fato de que, agora, sabia que nossa amizade sofreria mudanças. Os dois sumiram quando passaram pela porta do saguão e sentei na cama outra vez. Queria ir até lá, mas ao mesmo tempo não achava certo. Régulo tinha colocado a minha vida e a da minha irmã em risco, em troca de reconhecimento.

Passei o resto da tarde deitado encarando o teto do dormitório até dar a hora de descer para o enterro. Me arrumei depressa e desci junto com outros alunos da minha casa que decidiram ir, Scott, Fábio, Lu e Miriam entre eles. Passávamos no corredor do 3º andar quando vi Régulo saindo da sala de troféus com uma caixa na mão. Parei de andar e ele fez o mesmo, me encarando incerto, exatamente do mesmo jeito que eu. Scott percebeu e empurrou os outros escada abaixo, me deixando para trás. Devia ir embora, passar direto por ele, mas sabia que não podia fazer isso. Não era tão simples assim, Régulo e eu somos amigos desde crianças, o considerava um irmão e não podia deixá-lo ir sem me despedir. Ele parecia pensar a mesma coisa, pois quando dei um passo à frente, ele deu outro. Ele riu e parei, deixando que viesse até onde eu estava.

- Você está bem? – Régulo perguntou preocupado
- Sobrevivi, não? Estou indo para o enterro do professor Stroke agora – respondi vago – O que está fazendo?
- Você sabe o que estou fazendo – ele riu, mas sem perder o tom sério
- Você não tem que fazer isso, Regy.
- Você podia vir comigo – Falou animado - Formamos uma dupla imbatível! Sua mãe ficaria orgulhosa.
- Minha mãe quase matou a mim e a minha irmã – minha expressão mudou ao lembrar e ele murchou – Nunca mais quero ouvir falar dela.
- Desculpa, sabia que não devia ter dito isso, sinto muito pelo que aconteceu. Não sabia que o alvo dela eram vocês, ou não teria ajudado os dois a entrarem.
- Teria sim. Eu sei disso e você também sabe. Nada faria você mudar de idéia.
- Você contou ao diretor que fui eu que permiti a entrada dos comensais no castelo?
- Não contei a ninguém e nem vou contar. Seu segredo morre comigo, não se preocupe.
- Não faz diferença se contar, estou indo embora mesmo e não volto mais a Hogwarts – deu de ombros e me encarou - Não vem mesmo comigo?
- Não – disse ríspido
- Vamos ficar de lados opostos então.
- Não faça isso, Regy. Você tem opção, não precisa ir. Pode mudar, ainda há tempo!
- Já escolhi meu caminho, é o que estou destinado a ser. Vou honrar minha família, ela já foi manchada pelo Sirius e pela Andrômeda e vou fazer meus pais esquecerem eles e se orgulharem de mim.
- Nesse caso... – tirei o cordão que usava e era igual ao dele, e o fechei na mão – É aqui que nossos caminhos se separam. Não quero ser um deles.
- É uma pena, mas se um dia mudar de idéia, pode me procurar.
- Não vou mudar de idéia – dei um sorriso fraco – Mas se um dia você se arrepender, sabe onde me encontrar.
- Nunca vamos deixar de ser amigos, não é?
- Não – entreguei o cordão a ele e ele o guardou no bolso. Parei na ponta da escada e o encarei no que seria a última vez por 2 anos - Só estamos tomando rumos diferentes...