Tuesday, September 30, 2008


Depois da confusão entre Scott e Ben, o pacto de virar a noite no jardim foi por água abaixo. Mark levou Ben até a enfermaria para consertar o nariz, Lu voltou com Miriam para a Grifinória e as meninas alcançaram Scott e eu ainda no pátio. Scott não queria ir para a Lufa-Lufa, então nos abrigamos na Corvinal, deserta àquela hora da madrugada. Foi a 1ª vez que Scott se abriu de verdade com a gente, sem deixar nada para trás ou incompleto. Ouvimos muitas coisas que já sabíamos, mas que esperamos pacientemente ouvi-las saindo da boca dele. Tentávamos não interromper ao máximo, e quando a sessão de terapia reversa terminou o dia já começava a amanhecer. E como ninguém tinha arrumado as malas, cada um voltou pra sua casa e marcamos às 10h no saguão de entrada.

Nunca fazer a mala para ir embora foi tão sofrido. Yulli começou a chorar quando percebeu que nunca mais ia dormir naquela cama e Alex e eu começamos a chorar também. Foi uma tragédia, porque uma vez que começamos, não conseguíamos mais parar. Colocava as roupas dobradas na mala e as lágrimas iam pingando por cima delas, ficaram todas molhadas. Ainda tentamos tirar as cortinas da cama e levar junto, mas não conseguimos. Sprout deve ter fixado elas porque algum aluno já deve ter tentado levar antes. Quando deixamos o dormitório e olhamos as camas de madeira com cortinas amarelas pela última vez, o choro aumentou. Chorávamos tanto que assustamos Mark e Ben, que já tinham terminado de arrumar as coisas e nos esperavam no salão comunal.

- Meninas, o que aconteceu? – Ben perguntou preocupado, vendo Yulli soluçar
- Eu não quero ir embora! – Yulli agarrou a poltrona perto da lareira – Podem ir, eu vou ficar!
- Vamos embora, Yul – Mark a segurou tentando não rir – Sabe que não adianta, temos que ir...
- Mas... Mas... – ela soltou a poltrona e afundou o rosto no ombro dele

Ben abriu a passagem do retrato e caminhamos o mais devagar possível até ela. Fiquei por último e antes de sair, parei e encarei o salão comunal uma última vez. Não sabia ainda como seria me acostumar a não ver mais aquela sala arredondada, com poltronas amarelas e ar tão aconchegante. Comecei a chorar de novo, dessa vez mais contida, e fechei a passagem. Scott, Sam, Lu e Miriam já nos esperavam no saguão e Miriam também tinha o rosto vermelho de quem estava chorando. Havíamos combinado de deixar o castelo do jeito que chegamos a ele. Ou seja, de barco. Então enquanto todos os alunos iam caminhar na direção do jardim para pegar as carruagens, faríamos o caminho contrario na direção das estufas. Era uma grande escadaria que levava até o cais do castelo, e o começo dela ficava atrás delas. Mas antes que descêssemos os degraus do saguão, notamos que Ben não nos seguia.

- Anda, Ben! – Lu chamou – Não vamos de carruagem, esqueceu?
- Não galera, podem ir, eu vou com os outros – Ben deu de ombros tentando parecer indiferente, mas sabíamos que ele não queria fazer isso
- Ah não! – Alex bateu o pé – Você vai com a gente, que graça tem de você ir sozinho?
- Não tem problema, é serio. Eu vejo vocês no trem. Não fiz a travessia de barco, não faz sentido.

Todos começaram a protestar e olhei feio para Scott. Primeiro ele fingiu que não era com ele, depois não conseguiu mais me ignorar e correspondeu o olhar com um de súplica, mas ignorei e me mantive firme. Ele sacudiu a cabeça derrotado e deu um passo a frente.

- Vem com a gente também – sabia o quanto aquilo estava sendo difícil pra ele, e fiquei feliz de ter feito – Você faz tão parte do grupo como qualquer um de nós, e não vamos encerrar por completo o ciclo se você não for junto.
- Desculpa – Ben respondeu um pouco sem graça
- Depois a gente conversa sobre isso. Agora vamos embora, ou não chegamos a tempo em Hogsmeade. Esqueceram quantos degraus temos que descer? – Scott berrou enérgico e lembramos do pouco tempo que nos restava

Corremos para trás das estufas, agora com Ben junto, e descemos apressados pelas escadas que levavam até o cais subterrâneo em tempo recorde. Entrei no mesmo barco que Alex, Yulli e Sam, e dessa vez Ben se acomodou conosco. Scott, Mark, Lu e Miriam ocuparam o outro barquinho Estava mais apertado que da ultima vez, estávamos muito maiores agora e tivemos que nos espremer nos bancos. Quando conseguimos nos acomodar, eles começaram a se mover sozinhos. Enquanto íamos passando pelo túnel escuro que saia no lago, sentíamos o barco perder velocidade. E quando saímos do túnel e voltamos a enxergar, entendemos o porquê. Os barcos acomodavam 4 pessoas, mas de 11 anos, e não de 18. Não estávamos apenas maiores, mas também pesados demais para eles.

- Houston, we have a problem – Scott falou olhando ao redor do barco e vendo a água cada vez mais perto da borda.
- Temos que equilibrar os barcos, do contrario vamos chegar à margem do lago depois que o trem partir – disse também notando a água se aproximar.
- Isso se chegarmos lá! – Alex levantou rápido e o barco balançou. Ela parou com as mãos esticadas, se equilibrando.
- Ben, passe pra cá e Miriam passa pro barco delas – Lu sugeriu – 5 garotas e 4 garotos deve ser mais equilibrado, não?

Conseguimos aproximar os barcos mais um pouco e Lu ajudou Miriam a subir na borda. Ben fez o mesmo e combinaram de saltar na mesma hora, para não desequilibrar nenhum dos lados. Mark contou até 3, mas Lu demorou 1 segundo a mais para soltar a mão de Miriam e Ben caiu no barco deles antes que ela pudesse passar pro nosso. O barco deles sacudiu com violência e agarramos os braços de Miriam bem a tempo. Ela caiu por cima da gente ao mesmo tempo em que o outro barco virou. Sentamos cada uma em uma ponta para equilibrar e começamos a rir.

Os barcos eram encantados e mesmo sem ninguém dentro, uma vez que já estavam no lago, não parariam até alcançar a margem. Os 4 iam nadando atrás dele e Lu e Ben alcançaram logo, conseguindo subir rápido, mas Mark e Scott não tiveram a mesma sorte. Eles até estavam ao lado do barco e mantinham as mãos na borda, mas riam tanto que não sobravam forças pra tomar impulso. E as nossas gargalhadas não colaboravam, só incentivavam os dois a rirem cada vez mais. Já estávamos quase no meio do lago quando eles conseguiram subir outra vez.

O problema da falta de equilíbrio estava resolvido e o resto do percurso foi completado no mais absoluto silêncio. Estávamos todos de costas para a estação de Hogsmeade, admirando o castelo no alto do penhasco. À medida que íamos nos aproximando da margem, ele ia diminuindo. As torres e torrinhas ficavam cada vez menores e quando o barco parou, eram apenas pontos de um pequeno castelo ao longe. Nem percebemos que tínhamos que descer, e foi Hagrid que nos tirou do transe.

- Ah, ai estão vocês! – ouvimos a voz rouca e grave dele e nos assustamos – Todo ano alguém quer voltar de barco, espero que não tenham afundado no caminho!
- Não afundamos por pouco, mas um barco virou – Scott foi o 1º a descer e estendeu a mão para nos ajudar.
- É, dá pra perceber – Hagrid também estendeu a mão e puxou Alex e Miriam de uma vez só – Mas agora vamos andando, o trem parte em 10 minutos! Façam uma boa viagem!

Nos despedimos dele e corremos para o trem. Já estavam todos a bordo, mas conseguimos uma cabine vazio no último vagão. Éramos 9 rostos espremidos contra uma única janela, todos querendo ter uma última visão do castelo enquanto o trem se movia e ele ia sumindo aos poucos. Quando Hogwarts já não era mais visível, sentamos em silêncio nos bancos, todos com o mesmo pensamento: aquilo não era um adeus. Olhei mais uma vez pela janela e mesmo sem ver o castelo, disse para mim mesma: “até breve, Hogwarts. Até breve”.


The End.

É muito triste se despedir do Hogwarts Wonder Years, nosso primogênito, mas uma hora o Adeus haveria de chegar. Mas como a Louise lembrou, não é um Adeus de verdade, é um Até Breve, pois logo as histórias continuarão, mas em um novo espaço e agora cada um com as responsabilidades da carreira que escolheu.

A partir de amanhã uma nova turma chega no pedaço. São os filhos desses Anos Incríveis, que chegaram pra ficar e aprontar todas com uma Hogwarts totalmente reformulada, agora que o mundo bruxo está livre de Voldemort e seus seguidores.

Então... Ficam as boas vindas aos novatos, e para os antigos... Até breve!