Monday, August 15, 2011


Setembro de 2015, início do 6º ano

- Ei – James acenou e se jogou na grama ao meu lado – Está fugindo de mim.
- Não estou fugindo, só estou mais ocupada – me ajeitei no tronco da árvore para encará-lo – Não tem como fugir de você, está sempre por perto.
- Eu estou perto quando importa – ele sorriu - Então... Você é tipo um animago?
- Não é tão simples assim.

Fechei o livro que lia e comecei a contar toda a história a ele. James ouviu a tudo pacientemente e não fez nenhuma interrupção, mas podia ver que ele estava ao mesmo tempo impressionado e assustado. E acho que contar sobre a vez que quase me transformei no meio de uma aula, por causa dele, não ajudou muito.

- Quer dizer que você poderia ter me matado? – ele falou quando terminei a história.
- É, poderia. Se meus amigos não tivesse me acalmado você não teria a menor chance.
- Isso não tem mais risco de acontecer, não é?
- Pode ficar tranqüilo, já aprendi a controlar isso, agora só me transformo quando quero – ele pareceu aliviado e ri – E também, não odeio mais você.
- Ah não? – ele se aproximou mais – O que você sente por mim agora?
- Você é ok... – ele já estava colado em mim – Acho que dá pro gasto.

James deu um sorriso sacana e me empurrou contra a grama, deitando em cima de mim. Dessa vez não tentei impedi-lo e deixei que me beijasse a vontade. As coisas iam começar a mudar em Hogwarts e acho que seria muito fácil me acostumar a essas mudanças.

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Quando disse que mudanças iam acontecer, estava falando sério. Se tivesse que descrever o nosso 6º ano em Hogwarts em uma única palavra, essa palavra seria festa. Voltamos para a escola dispostos a nos divertir e todos levaram a idéia a sério. Não que tenhamos abandonado os estudos, ainda íamos às aulas e fazíamos os trabalhos para ter notas boas, mas aquela não era a nossa prioridade.

Minha mudança começou quando decidi parar de fugir de James. Não éramos namorados, isso nunca foi cogitado, mas estávamos sempre juntos. Encontrávamos-nos às escondidas a todo instante pelo castelo, nunca fui tantas vezes ao banheiro da Murta como naquele ano. Como não éramos namorados, não éramos exclusivos um do outro. Ele podia sair com quem quisesse, e eu fazia o mesmo.

Arte e eu mantivemos a rotina de correr todos os dias de manhã durante todo o 6º ano e agora era ela que me ajudava a treinar tae-kwon-do. Ainda praticávamos na beira do lago depois da corrida, mas com o meu foco todo voltado para a vaga na equipe brasileira para as olimpíadas, também separamos duas horas por dia depois das aulas para um treino mais focado e intenso na sala que costumava usar com Hiro. Mina e Luthien sempre apareciam para ajudar quando não tinham aula e ai eu suava de verdade, mas estava dando resultado. Meus reflexos estavam muito melhores e minha confiança crescia cada vez mais.

As festas da Lufa-Lufa tinham todo um novo significado agora. Haley, Keiko, Lena, Penny e eu criamos um caderno onde atribuíamos uma pontuação para cada menino que ficássemos nas festas lufanas. Se fosse mais velho valia mais. Se fosse mais velho e lindo de morrer, valia o triplo. Se fosse mais novo só valia meio ponto. Julian, JJ, MJ, e especialmente Jamal, quando descobriram sobre o caderno ficaram revoltados. Além do medo porque todas nós tivemos oportunidade de os avaliarmos, acharam um absurdo que estivéssemos testando os garotos de Hogwarts para dar nota, como se eles não fizessem o mesmo com as meninas. Jamal só parou de protestar quando lhe mostramos a página com seu nome, cheia de pontos máximos dados por todas nós.

Esse oba-oba durou o ano inteiro. E apesar de saber que no ano seguinte era ano de N.I.E.M.s e teríamos que levar as coisas mais a sério, todo mundo sabia que ele ia continuar. Seria nossa despedida de Hogwarts, e tínhamos que aproveitar cada segundo.




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1º de Setembro de 2016


Estava voltando para Hogwarts para o último começo de ano letivo. A penúltima viagem de trem. Arte e Rupert agora eram os monitores-chefes e já tinham passado as tarefas da viagem, então estava cada um por si. Faltava pouco para encerrar a ronda e passava com Hiro pelos vagões da frente quando uma conversa chamou nossa atenção. Reconheci de imediato uma das vozes como a de Alvo Severo, filho do tio Harry, mas o outro não sabia quem era.

- Eu tenho que ir pra Sonserina – o menino que não conhecíamos falou – Toda minha família foi de lá.
- Minha família inteira é Grifinória, mas meu irmão falou que eu vou pra Sonserina – Alvo respondeu e parecia um pouco apavorado – Não quero ir pra Sonserina.
- Por que não?
- Os bruxos ruins vão pra Sonserina.
- Ei – entramos no vagão e os dois se assustaram. Assim que bati o olho no outro menino, soube que era um Malfoy – Que história é essa que só os bruxos ruins vão pra Sonserina?
- Somos ruins por acaso? – Hiro perguntou cruzando os braços e o garoto Malfoy encarou Alvo, que já estava encolhido no banco.
- Foi o que o Tiago falou – ele deu de ombros, tentando se justificar.
- Você ainda acredita no seu irmão? – Hiro e eu rimos – Tiago só quer assustar você.
- Tinha esquecido que vocês todos são Sonserina.
- Se você for pra Sonserina, será muito bem recebido – Hiro já tinha descruzado os braços e ele parecia menos acuado – E quem sabe essa não é a chance que tem pra vencer o Tiago?
- Deixe que o chapéu seletor decida o que é melhor pra você, ele nunca erra – pisquei pra ele e Alvo parecia mais tranqüilo – Nos vemos na seleção.
- Vou voltar pra nossa cabine, você vem? – Hiro perguntou quando saímos da cabine deles.
- Já encontro vocês, vou ver se a Arte está no vagão dos monitores.

Hiro se despediu e começou a caminhar na direção contraria. Nossos amigos já deviam estar na milésima partida de Snap Explosivo e acabado com todos os doces do carrinho, mas ainda tínhamos um bom tempo de viagem para aproveitar juntos, então não me apressei. Arte não estava no vagão quando entrei. Esperei alguns minutos, mas como ela não apareceu resolvi seguir Hiro. Já estava quase com a mão na porta quando ela abriu e James entrou. Quando viu que estávamos sozinhos, a trancou.

- Enfim, sós – ele já veio me abraçando e me beijando.
- Pode abrir a porta, nem se anima.
- Não faz isso comigo, não nos vemos há dois meses! – ele parou de beijar meu pescoço, mas não soltou minha cintura – Nesse tempo você ganhou uma medalha olímpica e foi atacada por vampiros, podia ter morrido.
- É, mas não morri. E não é minha culpa se passou as férias inteiras fora de Londres, estiva na cidade por quase três semanas.
- As férias nos separaram, mas Hogwarts sempre nos une. Vamos lá, sei que estava com saudades também... – ele começou a desabotoar minha blusa – Dois meses é tempo demais.

Queria impedi-lo, de verdade. O problema é que eu nunca conseguia. Nossa relação era complicada. Não o amava nem nada disso, nunca cheguei a pensar na hipótese de nos tornarmos namorados, e acho que nem ele. O que sentia por James era pura e simples atração física. A porcaria da atração física que me incapacitava de impedi-lo de continuar, mesmo que no fundo eu soubesse que era o certo a se fazer. Estávamos em um trem cheio de alunos e os outros monitores podiam entrar ali a qualquer momento, mas já não estava mais em posição de tomar decisões sábias. O oba-oba já havia recomeçado e eu sabia esse ano ia ser ainda mais intenso.