Monday, August 29, 2011


- Bom dia, Cenoura – Julian falou animado quando apareci para o café.
- Bom dia – respondi sério e sentei ao seu lado.
- Alguém acordou mal humorado... – Justin comentou rindo e os olhei atravessado.

Sim, eu estava de mau humor. Como se não bastasse ter tido que dormir sem uma chance de resposta ao ataque de Amber, ela havia me ignorado por completo hoje. Desci para o salão comunal disposto a consertar o que quer que eu tenha feito de errado, mas quando tentei falar com ela, fui ignorado. Ela simplesmente virou a cara e me deixou falando sozinho.

- Nós ouvimos ontem, na escada – Julian tentava não rir – Cara, ela acabou com você.
- Foram três ganchos certeiros – Justin deu um tapa nas minhas costas, rindo – Aposto que doeram.
- Ela é maluca! Não fiz nada demais e ela surtou. E me ignorou hoje. Não vou mais pedir desculpas, se ela não quer mais falar comigo, que seja.
- Tem certeza disso? – Justin perguntou sério, sem rir.
- Sim, tenho! – peguei uma torrada da bandeja e levantei, saindo do salão.

Se ela queria me ignorar, então ia fazer o mesmo jogo. Vamos ver quem vence.

ºººººº

Já estávamos no final da primeira semana de aula e eu já estava querendo desistir da aposta que fiz comigo mesmo. Continuava sendo ignorado por Amber e aquilo estava me torturando. Demorou muito tempo até que conseguíssemos nos entender e, passado o inicio conturbado, ela agora era minha melhor amiga. Ela era a única com quem podia conversar sobre o que quisesse, sem ter que ouvir piadinhas. Amber não era a pessoa mais fácil do mundo de se conviver, mas eu tinha aprendido a gostar do seu jeito esquisito e por mais que fosse difícil admitir, estava sentindo sua falta.

- Ei – Jamal se aproximou do muro onde eu estava sentado há horas.
- Oi – ele puxou o caderno que estava na minha mão e o acertou com força na minha cabeça – Ei! Por que fez isso?
- Pra ver se seus neurônios voltam a funcionar – ele me devolveu o caderno e sentou no muro – Será que não aprendeu nada que lhe ensinei nesses dois últimos anos?
- Do que você está falando?
- Amber! Justin me contou o que aconteceu, não acredito que você pisou na bola desse jeito.
- Ah não, você também? Ela que surtou, não tive culpa.
- Sim, você teve! Quando uma garota lhe dá seu telefone, ela espera que você ligue. E se é uma garota bonita, você liga!
- Mas eu não fiz por mal! Já tentei me desculpar, mas ela não quer me ouvir. E agora anda com a Kaley pra cima e pra baixo e ela parece um cão de guarda, não me deixa chegar perto.
- Acabei de ver as duas vindo pra cá quando sai. Quando elas chegarem ao pátio, vou afastar Kaley da Amber e o resto é por sua conta. Peça desculpas, se ajoelhe, qualquer coisa, mas recupere essa amizade que me custou um ano de ensinamentos pra você conquistar.

Jamal bateu de leve nas minhas costas e desceu do muro, esperando as meninas passar. Elas saíram do saguão de entrada logo depois, mas ao invés de desviarem para a direção do jardim, caminharam na nossa direção. Pulei do muro na mesma hora quando elas pararam na nossa frente. Houve uma troca de cumprimentos bem sem graça e um longo momento de silêncio, quebrado por Kaley.

- Acho que eles precisam conversar a sós – ela disse olhando para Jamal e ele lhe estendeu o braço.
- É, isso já ta constrangedor demais pra ter platéia – Jamal comentou e os dois riram, saindo do pátio.
- Desculpa! – falamos ao mesmo tempo.
- Por que está se desculpando? – perguntei surpreso.
- Por ter me exaltado no salão comunal. Minha reação foi exagerada, não devia ter gritado com você.
- Não, você tinha razão por estar com raiva, eu pisei na bola. Somos amigos, você é minha melhor amiga, não há motivos para só nos falarmos aqui. Esse é nosso ultimo ano, não quero perder contato com você só porque não vamos mais nos ver todos os dias.
- Isso não vai acontecer, nós vamos manter contato.
- Com certeza. Vou ligar pra você tantas vezes que vai me pedir pra deixá-la em paz, você vai ver.
- Idiota – ela falou séria, mas depois sorriu.
- Também senti sua falta.
- O que tanto você escreve ai? – ela apontou pro caderno que tinha nas mãos – Carrega ele pra todo lado desde que voltamos.
- Ah, ainda não é nada demais – apoiei o caderno no muro e desfiz o laço, abrindo para ela poder ver – Estou pensando em escrever um livro e estou anotando algumas idéias.
- Um livro? – ela pareceu surpresa – Pensei que queria ser Curandeiro.
- Eu quero, não desisti disso, mas sempre tive vontade de escrever um livro. Estou com essa idéia na cabeça desde que comecei a ajudar Artemis com alguns registros.
- Já pensou em um tema?
- Sim. Quero contar a nossa história.
- Eu e você? – ela me olhou sem entender.
- Não, do mundo bruxo. Quer escrever para os trouxas.
- Ah, isso faz mais sentido. É uma boa idéia.
- Pensei em contar a história da 2ª guerra bruxa, mas pra isso teria que pedir muitas autorizações.
- Isso daria ótimos livros, talvez sete. Um pra cada ano do Harry Potter em Hogwarts, afinal, as coisas começaram a acontecer quando ele chegou aqui.
- Sete? Não sei nem se consigo escrever um!
- Como você pretende contar a história da 2ª guerra em um único livro?
- Acho que tem razão.
- Eu sempre tenho razão.
- Senti falta da sua modéstia também – brinquei e ela riu – Bom, então vou precisar de mais de um livro pra contar tudo, mas isso só vai acontecer se o primeiro for bom. O problema é que continuo sem saber como conduzir isso. Não queria contar só a história do tio Harry.
- Então conte a história sob o ponto de vista de várias personagens. O foco principal vai acabar sendo ele, tudo leva a ele, mas isso não quer dizer que você precise narrar a história por ele. Foram tantas pessoas envolvidas, deve ter milhões de histórias paralelas. Aposto que o professor Longbottom tem várias delas pra contar.
- Você é um gênio.
- Você só está falando o óbvio.
- Quer me ajudar?
- Não sei, não sou muito boa com histórias. Você é que é o bom em escrever.
- Agora é você que está dizendo o óbvio. Sei que sou melhor que você nisso, mas você é boa com idéias e adora me corrigir, vai ser de grande ajuda. E se me ajudar a fazer esse livro sair, coloco seu nome na dedicatória.
- Ah, o sonho de toda garota – ela fez uma careta como se estivesse encantada e rimos.

Comecei a mostrar a ela o que já tinha anotado, como descrições detalhadas de Hogwarts, Beco Diagonal, Hogsmeade e algumas outras locações, assim como um catalogo quase completo dos animais mágicos, e Amber me ajudou a avaliar o que era importante incluir e o que precisávamos mudar para não dar pistas demais. Com a ajuda dela, agora tinha mais certeza que aquele livro poderia se tornar uma realidade. A paz estava restabelecida.