Saturday, January 01, 2011

Decisão

Lembranças de Artemis A. C. Chronos

Eu corria pelo salão de treinamento, observando atentamente meu oponente. Ele corria paralelamente a mim e as colunas de sustentação nos separavam.
Eu saltei para frente, pronta para atacá-lo, cortando o ar verticalmente com as duas espadas, porém, acertei apenas o chão. No instante seguinte ouvi um barulho estranho e olhei ao redor. De longe, vi quando dezenas de bolas de fogo surgiram no ar e foram atiradas contra mim. Estiquei os braços a frente e conjurei escudos, protegendo-me. Nesse momento, um vento levantou terra do chão e tive minha visão tapada, me obrigando a saltar para trás, esfregando os olhos. Então eu senti o movimento no ar e quando abri os olhos, havia um punho a centímetros de meu rosto. Eu ofeguei, enquanto o punho recuava.

- Até hoje seus únicos mestres foram pessoas poderosas, mais do que eu, mas sua mãe e Chronos não usam todos os seus poderes contra você e se concentram em poderes mais simples, mais sutis. – Justin falou. Ele ficou em pé diante de mim e parecia nem estar cansado, enquanto eu ofegava. – Um pouco de, como meus amigos trouxas dizem, “apelação” nunca é demais. Use mais o ambiente ao seu redor. Conjure suas energias e suas forças para ajudá-la, use poderes e magias mais “apelonas”. Deixa eu te mostrar.

Ele falou e sacou a varinha, batendo com sua ponta em sua mão. Na mão surgiu um pequeno aparelho trouxa, que eu reconheci como sendo um videogame portátil, algo como PSP. Ele colocou para rodar um vídeo de um dos jogos. O nome do jogo era Final Fantasy e reconheci Sephiroth, um personagem muito famoso no mundo trouxa, que Luky adorava. Era um vídeo em que ele sozinho enfrentava o mocinho do jogo. Mesmo sendo um jogo, eu fiquei admirada com ele e com seu modo de luta. Ele lutava usando tudo ao seu redor, cortando pedaços dos prédios e atirando-os, além de invocar uma enorme tempestade e um meteoro. Vê-lo erguer a mão aos céus, e esse se tornar negro com a iminência da tempestade, me deu calafrios.

- Entendeu? – Justin perguntou, e eu fiz que sim. – Chega por hoje, você já se cansou muito. Melhore seus movimentos, movimente-se mais e use tudo ao seu redor, então poderemos lutar mais intensamente!

*********

Algumas semanas depois

Eu fechei os olhos concentrando-me.

Justin estava escondido na escuridão do salão, observando-me. Ele também me sondava, tentando descobrir como eu atacaria, assim como eu. Eu havia aprendido o que ele quis dizer sobre usar o ambiente a minha volta e me movimentar, e mostraria a ele hoje.

Começamos a correr juntos, paralelamente. Ainda nos sondávamos, e invoquei minhas espadas, que surgiram no ar enquanto eu fechava os punhos. Justin lutava sem armas, apenas conjurando e manipulando os elementos que ele tão bem controlava.

Ele investiu primeiro, pulando na minha direção com os punhos envoltos em fogo, mas eu rolei de lado e cortei o ar com as espadas. Ele desviou com facilidade e ia começar a implicar comigo quando ele percebeu que eu não mirava nele. O pilar ruiu sobre ele, e ele teve que saltar para se defender. Eu estiquei minha mão direita ao céu e imediatamente uma chuva forte começou a cair. Para mim não faria diferença, pois podia mover-me livremente pela água, o meu elemento, mas mesmo para ele, seria mais difícil se locomover.

Mas ele também era bom e fez um círculo com as mãos. O ar por onde sua mão passava ondulava e logo um círculo de ar estava diante dele e ele o socou, soltando diversas baforadas de ar, como socos de vento. Eu saltei de lado, bloqueando os golpes com as espadas e me escondi atrás de uma coluna. Senti os impactos na coluna e saltei de lado quando um jato de água saiu do chão, atingindo onde eu estava. Então, saltei na direção de um dos pilares e com três cortes rápidos, o cortei em pedaços. Em seguida cortei o ar com as espadas e os pedaços foram jogados contra Justin. Eu comecei a pular de pilar em pilar, disparando raios e feitiços com as espadas, sem parar. Não podia permitir que Justin tivesse tempo de contra-atacar e o pressionei, obrigando-o a ficar na defensiva. Enquanto isso eu corria em círculos ao seu redor, usando os pilares como impulso, arma e proteção.
A chuva fizera surgir várias poças e as comandei, jogando-as contra Justin, criando um paredão de água. Ele esticou os dois braços para ela, tentando pará-la, mas meu controle sobre a água era maior do que o dele, e ele foi obrigado a fazer uma parede de terra subir do chão para protegê-lo.

Então, estava ao seu lado, com uma das espadas apontada para seu pescoço. Ele arfava, e eu também. Ele deu de ombros rendendo-se e eu sorri, baixando as espadas, que desapareceram no ar.

- Aprendi?
- Muito. Garota, tenho medo de você! – Ele falou rindo e eu sorri também, caindo exausta no chão. Ele sentou do meu lado e pegou minha mão, e encostou a outra em minha testa e logo senti suas energias passando-as para mim. – Pronto, agora sim você está pronta para enfrentar batalhas sérias! Acho que já podemos pedir pro seu irmão ou outro vampiro ajudar com o treinamento!
- Obrigada, não precisava. Se você acha que estou pronta.
- Está, com certeza. – Chronos falou, surgindo ao nosso lado. Mamãe entrou pelo portão, sabendo que o treino havia terminado. Quando eu e Justin treinávamos, mamãe nem ninguém entrava, uma vez que lutávamos para valer.
- Dessa vez exageraram no treino, hein? – Mamãe falou, olhando ao redor. Ainda chovia e vários pilares estavam no chão. – Acho que Seth estaria ótimo para treinar com você. Ou podemos pedir a Derfel ou Cewyn. Eles adorariam ajudar.
- Na verdade, quanto mais melhor. – Justin comentou, pensativo. – Vampiros nunca atacam sozinhos, acho melhor chamar pelo menos dois.
- Muito bem observado, Justin. – Mamãe concordando. – Artemis precisa aprender a enfrentar vários inimigos ao mesmo tempo.
- Bom, agora, Justin, devemos intensificar os seus treinos, enquanto Artemis treina com a mãe e sua família. – Chronos falou e Justin assentiu.
- Sim. Já acho que podemos tornar os treinos mais sérios.
- Já te ensinei bastante sobre cura, o resto você deve aprender por si só. A arte da cura é a mais difícil de se aprender: ela tem que vir de você e não dos outros. Acho que o levarei para conhecer Azkaban.
- Ela está há uns 10 anos sob o controle de sua família não é, Senhor Mirian?
- Sim, mas ainda hoje há os fantasmas de seu passado. Lá você entenderá melhor o que quero dizer e pode até nos ajudar.

*********

- Não use seus poderes, Artemis, e mantenha-se perto de mim. – Papai falou, quando nos preparávamos na sede alemã.
- Eu não entendo porque todos vocês falam para eu não usar meus poderes.
- Os vampiros ainda não demonstraram interesse em você. Para eles você é apenas membro de nossa família. Eles não sabem de seus poderes ainda. – Ty falou, com a mão na minha cabeça, bagunçando meu cabelo,
- Você é nosso trunfo e também não queremos que se torne alvo deles. – Mamãe falou, ajoelhando-se diante de mim. – Prometa que não sairá de perto de nós?
- Prometo, mãe. – Eu falei, sendo sincera. Eu ainda tinha muito a aprender e não seria idiota de tentar algo sozinha.
- Senhor, estamos prontos. – Altair falou e vi que ele já estava pronto. Altair era o líder dos grupos de batedores e espiões do clã, chamados de Sombras. Ele já vestia sua roupa negra, que tinha a habilidade de se camuflar automaticamente, devido a um feitiço desilusório.
- Muito bem, Altair, você liderará seu grupo na frente. Iremos logo depois de vocês. Derfel e Cewyn já estarão lá, esperando-nos. Tentem destruir os guardas antes de nossa chegada, para que os peguemos de surpresa. Seth já está na região também.
- Sim, senhor. – Ele falou e desaparatou no ar.

Estava com a varinha em punho, e olhei ao redor, vendo que todos estavam preparados: Ty e papai estavam do meu lado, já que eles fariam minha proteção. Mamãe, Tia Celas e Tio Isaac seriam os líderes do ataque e conversavam com os aurores envolvidos. Gaia, Joseph e Eddie estavam juntos conversando com aurores do Ministério, enviados por Tio Quim e por Krum. Griffon e Emily davam as últimas instruções para o grupo suporte, juntos de Rin, Arthuria e Luna. Meus sobrinhos estavam no rancho de Tia Alex, pois nenhum deles participaria do ataque, porém o restante do clã estaria em ação.

Com os últimos ataques dos vampiros, como os ataques a Lizzie e Gaia, além dos ataques às cidades, os Ministérios e o Clã decidiram dar início a ataques mais intensos e periódicos aos vampiros. Os Executores de Cewyn e Derfel, as Sombras de Altair e os Caçadores de Seth estavam trabalhando duro para descobrir o paradeiro dos vampiros de Cadarn e foi com a ajuda deles que descobrimos a localização desse último esconderijo. Ele ficava na Turquia, conforme esperávamos, pois não acreditávamos que eles estivessem perto da Alemanha, da França ou da Inglaterra, onde nosso clã era mais forte e mais presente.

Como o esconderijo era grande, havíamos movimentado toda aquela força contra eles, já que havia a possibilidade do próprio Cadarn estar ali. Quanto a mim, seria minha primeira caçada, e eu estava entusiasmada, mas também assustada. A nenhum dos meus amigos foi permitido participar, apesar de eu ter insistido, mas Ty estava certo ao dizer que tirando eu, apenas Haley, por ter crescido com treinamento de auror, e Clara, por ser uma lobisomem, teriam chance. Porém, Clara estava de castigo e Tia Alex proibiu Haley de participar. Justin seria de grande ajuda, mas ele preferia usar seus poderes para a defesa e não ataque. Eu também desenvolvi meus poderes para a proteção e a defesa, mas era meu dever participar dessa batalha. Eu ainda não entendia, nem compreendia, o verdadeiro significado em ser a Rainha, mas sabia que era meu dever ajudar a proteger a todos. E eu faria isso.

*********

- Arte, como você está? – Ty perguntou, preocupado, ajoelhado diante de mim.

Minha família me encarava também, preocupados. Eu estava paralisada, olhando para minhas mãos, manchadas de sangue. O sangue não era meu, era de inimigos e de aliados, que eu havia ajudado a curar.

A batalha havia acabado. Ela havia sido rápida, mas foi sangrenta e perigosa. Eu pouco participei, ficando de longe ajudando a afastar Inferi e a curar os feridos. Mas foi o suficiente para eu ver o que uma batalha de verdade significava.
Em uma batalha, a vida e a morte estão ligadas por um fio pequeno e qualquer deslize pode ser o fim. Minhas roupas estavam manchadas de lama e sujeira, mas também de sangue. Eu tratei de feridos e incendiei vampiros... Em cada vampiro que eu via, eu podia ver o terror em suas almas, o medo, a angustia... Aqueles que matamos eram Escravos, sem vontade, forçados a se transformar em armas sedentas de sangue. Eles queriam que seu sofrimento acabasse, eles me imploravam que os ajudassem, que eu os destruísse para que pudessem descansar. Era horrível. E nem Cadarn ou sua cúpula de vampiros foi encontrada.

Eu estava assustada... Estava amedrontada... Mas também, aquela batalha me serviu para ter certeza de algo: eu jamais descansaria enquanto Cadarn estivesse vivo. Não perdoaria jamais aquelas coisas horríveis que ele fez. Aquela batalha mudou algo dentro de mim permanentemente, me fez ter certeza que o que eu queria era lutar para proteger aqueles que eu amava, para proteger a todos que eu pudesse. Nascia em mim uma guerreira.

Eu lutaria. Foi com um brilho de decisão que eu respondi a meu padrinho.

- Estou, Ty, agora eu estou.