Tuesday, September 06, 2005

Papo cabeça ou dor de cabeça?

Do diário de Louise Storm


O salão comunal da Lufa-lufa tava lotado. Todos os seus moradores pareciam ter tirado a noite para bater papo, fazendo uma algazarra tão grande que era impossível se ouvir uma conversa sem que a pessoa gritasse. Yulli e Marcus tentavam em vão manter a ordem, pois ninguém parecia disposto a obedecer. Yulli berrou algo como distribuir detenção e Mark ameaçou descontar pontos de quem não abaixasse a voz, mas logo desistiram. Eles não iriam tirar pontos de lufos, né? Eu tentava manter uma conversa com Alex, mas já estava ficando rouca por ter que gritar e acabamos por nos largarmos no sofá, observando o falatório alheio. Passado algum tempo, três alunos do sétimo ano, entre eles o monitor-chefe Amos Diggory, emergiram da passagem secreta que dava no salão comunal com os braços entulhados de bolinhos e cerveja amanteigada, decretando feriado lufano. Quem ia discordar do monitor-chefe? O que era só falatório virou festa. Os poucos que tentavam estudar fecharam os livros, todos esquecendo que ainda era uma quinta-feira e que teria aula na manha seguinte. Não estava com animo pra celebrar nada, ainda mais se nem tinha o que celebrar, e me levantei falando que ia dar um passeio. Ainda eram 20:30, tinha mais meia hora para caminhar sem levar detenção. Queria falar com o Scott, passar minhas duvidas pra ele, ainda não havia conseguido fazer isso desde que elas aumentaram.

Como se lesse meus pensamentos (andava desconfiada que ele tivesse esse dom), Scott estava saindo da torre da Grifinória quando cheguei nela. Ele também queria me falar alguma coisa e caminhamos para o pátio, onde alunos do 6º e 7º ano ainda circulavam. Sentamos no muro e ele falou primeiro. Começou me contando que tinha uma menina no calo dele, uma tal de Hilary não sei das quantas. Disse que ela não dava folga, tinha até decorado seus horários e aparecia como os elfos domésticos, de surpresa, em todos os cantos. E que como se não bastasse o chiclete da Hilary, o povo da escola andava pegando no pé dele mais do que nunca, implicando sem razão. Eu sabia muito bem porque amolavam tanto o Scott, mas não ia dizer isso assim, na cara dele, se ele dizia não entender o motivo. Era melhor que ele descobrisse sozinho. Quando vi que ele tinha terminado, comecei a contar minhas duvidas. Ele quis me enforcar quando relatei o ocorrido de quarta-feira, mas concordou com Yulli que ele deveria estar querendo falar comigo. Ainda acrescentou que achou suspeito ele estar, em todas as vezes que vi, olhando na nossa direção. Não tinha me tocado dessa parte.

LS: Era pra você diminuir minhas duvidas e não aumentar elas!
SF: Mas o que você quer que eu faça? É esquisito, ora!
LS: Será que ele sabe que eu gosto dele?
SF: Não... Eles nunca sabem. O resto da escola pode até saber, e eu acho que sabem mesmo, mas o alvo nunca sabe.
LS: Como assim “o resto da escola sabe”?
SF: Por favor, vê se essa cara não diz tudo?

Scott fez uma cara de idiota, dizendo que era a minha quando via o Remo. Era realmente estúpida, não pude deixar de rir. Empurrei-o de brincadeira, mandando-o parar porque já tava atraindo olhares curiosos. Scott se desequilibrou e quando viu que ia cair da mureta, segurou meu braço e caímos os dois pra fora do pátio.
Começamos a rir feito dois retardados, ainda estirados na grama, quando senti um par de pés parar perto de nossas cabeças. Viramos pra ver de quem eram os pés e vi Remo sorrindo, a cabeça inclinada tentando se enquadrar no nosso ângulo torto.

RL: Se machucaram?
SF: Não, a grama amorteceu.

Scott se levantou depressa batendo a grama da roupa e me largou lá deitada. Sacana, fez de propósito, tenho certeza. Remo estendeu a mão para me ajudar e senti meu rosto ficar quente. Ele me puxou do chão e agradeci, tirando os pedaços de grama da roupa e tentando desamassar ela. Pro meu espanto, ele não foi embora. Ficou ali conversando com a gente, sempre sobre assuntos interessantes. Isso era ótimo, ele tinha conteúdo. Porque ser bonitinho e burrinho é dose! A gente até aproveita, mas chega uma hora que cansa. Ficamos um bom tempo ali, não sei dizer o quanto. Não era difícil conversar com ele, era tão fácil... Perdi a noção da hora e quando olhei para os lados, Scott tinha sumido! Cachorro! Saiu de fininho e me largou lá! Meu rosto agora não estava mais quente, pegava fogo! Tinha me dado conta de que estava completamente sozinha com ele. E agora? Opções sobre o que fazer não me faltavam, faltava mesmo era a cara de pau de pô-las em pratica. Ele também se deu conta de que estávamos sozinhos, pois começou a olhar pra grama. “Ô pai, a hora é agora!”, falei para mim mesma. Senti a coragem começar a brotar e estava tomando fôlego pra falar o que sentia, quando três furacões lufanos passaram por nós, se plantando ao meu lado. Yulli, Alex e Mark, todos com uma caneca de cerveja amanteigada na mão e falando alto.

AM: Looou, você ta perdendo a festa!
MF: Feriado Lufo, Uhuu!
YH: Você perdeu o show de malabarismo do Alfie!
LS: Como é?
MF: Vamos lá, a festa não vai acabar não, a monitoria liberou!


Os três me arrastaram pelo braço, me afastando de Remo. Acenei pra ele me despedindo, sem saber o que fazer. Já estávamos dentro do salão comunal quando eles me largaram. Olhei furiosa pros três, que riam descontroladamente.

LS: Vocês não têm semancol???
YH: Que foi Louise?
LS: Porque me arrastaram pra cá??
MF: Pra festa ora! Você sumiu e fomos te procurar.
AM: Hiii, acho que a gente atrapalhou alguma coisa...
LS: Atrapalharam sim, seus empatas!

Subi p. da vida pro dormitório, gritando revoltada. Não tava acreditando naquilo! Eles não tinham culpa, já estavam pra lá de animados e só queriam que eu aproveitasse a festa. Mas o problema é que não perceberam com quem eu tava conversando!! Bati a porta do dormitório ainda urrando e me enfiei na cama com a roupa que tava, com vontade de matar um. Se eles tivessem me dado só mais uns minutinhos...