Monday, September 05, 2005

Um conto de fadas praticamente perfeito...

Pela primeira vez na minha vida, eu contava os segundos para que a aula da Minerva acabasse. Estávamos transfigurando castiçais em coelhos. Ou pelo menos tentando. Havia uma infinidade de castiçais com rabinhos de pompom e orelhas perdidos pela sala, e animais peludos com pés de prata. Os meus coelhos estavam praticamente perfeitos. Uma dúzia de coelhinhos brancos e olhinhos vermelhos estavam sobre a minha mesa que eu havia transformado em cercado, e corriam e saltitavam felizes. As pessoas em volta me olhavam com ar de desdém e cochichavam coisas fúteis, entre risadinhas. Sei que Alex, Yulli e Louise tinham também alguns belos coelhinhos em suas mesas. E elas conversavam animadas comigo. Mas não me pergunte sobre o que falavam, eu não tenho idéia. Meu coração saltitava a mil, parecendo um tambor doido pra subir pela garganta e pular pra fora. Quem sabe até seria melhor, sem esse tunc-tunc desordenado, eu não ia precisar fingir que estava calma?

Faltava um minuto pra aula acabar. Trinta segundos. Quinze. Dez. Cinco. Dois...

Saí correndo da sala. Tive a impressão de esbarrar em alguém que soltou um palavrão enquanto uma dúzia de pergaminhos se espalhava pelo chão. Eu estava indo para o meu primeiro encontro com Sirius Black. É, aquele que aconteceu durante as férias não foi intencional. Este estava marcado. Cheguei ao corredor onde estava a estátua da bruxa de um olho só ofegante. Parecia que alguém havia lançado um feitiço congelante nas minhas mãos, porque elas estavam geladas e levemente roxas.

Quando parei, lembrei que devia ter passado no salão comunal antes. Meus cabelos deviam estar horríveis. Eu sou uma tapada mesmo, quem mais na escola iria a um encontro romântico sem arrumar os cabelos e passar colônia? Tive vontade de desaparatar, pena que eu não tinha idéia de como se faz isso. Cavar um buraco no chão também não seria uma má idéia, mas não deu tempo. Sirius apontou no corredor e acenou para mim.

Olhei em volta e não havia nenhuma porta, nenhuma janela, nenhum quadro onde eu pudesse me enfiar antes que o garoto se aproximasse. Tive que ficar ali mesmo. Então ele chegou, sorrindo e me deu um beijo. Pensando bem, até que não era tão difícil. Eu estava gostando bastante daquilo tudo. Me senti transportada à uma daquelas histórias infantis que mamãe costumava ler para mim.

Estávamos indo maravilhosamente bem. Mas, como todo conto de fadas que se preze, adivinhem quem estava faltando? Exatamente, a bruxa malvada. Não demorou cinco minutos e Danna apontou no corredor. Ela, e o intragável do Lestrange. Aqueles cabelos roxos eram inconfundíveis, ainda mais quando acompanhados de um exemplar mal acabado de gorila.

Os dois mal-amados se aproximaram gargalhando desdenhosamente. Quando Danna percebeu que eu a encarava e que Sirius estava ao meu lado, segurando uma das minhas mãos, a gargalhada morreu. Ela me fitou friamente dos pés a cabeça com cara de nojo, como seu eu fosse uma montanha muito alta de meleca de trasgo.

Danna olhava furiosa para mim. Parecia que eu estava fazendo algo terrivelmente desumano e cruel. Juro que se ela não fosse minha irmã e eu não conhecesse seus métodos fajutas de irritar os outros, teria ficado com medo. Lógico, como toda bruxa malvada, minha irmã precisa fazer muita cara feia. E uma cena patética de ciúmes também viria a calhar. Então, como era previsível, foi exatamente o que ela fez.

Danna: O que é isso? Posso saber o que está acontecendo aqui?
Sarah: Não pode não.
Danna: Papai sabe que você anda se esfregando com esse projeto de ser humano pelos corredores da escola?
Sarah: Não é da sua conta. E projeto de ser humano que você daria tudo pra que estivesse aí ao seu lado, no lugar do babacão, não é mesmo?

Sirius arregalou os olhos, espantado. Lestrange também.

Rodolphos: Que história é essa, Danna? Não sabia disso.
Danna: Rodolpho, não se atreva a cair nas lorotas de minha irmãzinha. Ela está querendo encobrir a sem-vergonhice, desviando de assunto.
Sarah: Não estou desviando do assunto. Acontece que o que eu faço ou deixo de fazer não é da sua conta. Cresce primeiro, depois vem falar comigo.
Danna: Passa a ser da minha conta quando a filhinha do papai vai prejudicar a família, se arrastando na lama, com tipos como este.
Sarah: Danna, isso é ciúme de mim ou do Sirius?
Danna: Não tenho ciúmes de nenhum dos dois, irmã. Mas se você vai se esfregar por aí, como uma qualquer, escolha pelo menos alguém de uma casa decente. Um grifinório não é ninguém.
Sarah: Se não é ninguém pra você, ótimo. Desaparece da minha frente antes que eu perca a paciência e te dê uma dentenção, sua oferecida. Ei grandalhão, faz um favor? Leva a sua árvore de natal aí pra bem longe.
Danna: Detenção? Você? Com que moral? Porque não me leva agora pra algum professor e tenta me dar detenção? Quero que você explique os motivos pra eles.

Tive vontade de azará-la ali mesmo. Raios, o que eu fiz pra merecer isso? Devo ter colado chiclete na cruz em outra encarnação, só pode.

Danna: Mas quer saber? Rodolphos, vamos embora, não vale a pena ficar aqui vendo este projeto de Monitora dando mal exemplo pros outros. Hunf... detenção... já temos a piada da semana, querido.

Ela agarrou o carrancudo pelo braço e saiu, não sem antes piscar marotamente para o Sirius. Tirei a varinha do meio das vestes e fui pra cima dela. Sirius me segurou.

Sirius: Deixa ela. Não vale a pena.
Sarah: Me solta você também. Por que não me ajudou?
Sirius: Ela ia não ia fazer nada. Sua irmã não tem limites, mas não tem capacidade pra azarar você.
Sarah: Não duvide da capacidade dela. Danna é má, invejosa, arrogante.
Sirius: Esquece ela. Nós não viemos aqui pra isso.
Sarah: Ah é? E pra que viemos?
Sirius: Por que eu queria te ver. Senti sua falta. Olha, eu trouxe uma coisa.

Sirius tirou do pescoço uma correntinha com um pingente prateado, com formato de cachorro. E o colocou em mim.

Sirius: Quero que você fique com ele. Eu o tenho desde que nasci.
Sarah: Não posso aceitar. Ele é seu.
Sirius: Agora ele é seu. Pra não esquecer de mim.
Sarah: Eu, er... obrigada!

O que isso significava? Será que Sirius dava um cordão desses para todas as garotas? Não, senão eu já teria visto alguns deles desfilando pela escola. Então, será que era sério? Será que eu finalmente teria um namorado?

Sarah: Eu preciso ir agora. Tenho que terminar uns deveres.

Vocês vão dizer: isso é coisa que se diga num momento desses? Pois é, podem me bater. Eu disse.

Sirius me beijou. Eu acariciei seu rosto e me deixei levar. Depois, segurando meus ombros, ficou me observando.

Sarah: Que foi?
Sirius: Nada, só estou admirando.

E, como todo conto de fadas que se preze, este também terminou em um beijo e teve um final feliz.

Pelo menos por enquanto.