Sunday, October 30, 2005

Segredos e Mentiras...

Do diário de Louise Storm

O Halloween costumava ser uma data animada pra mim, era sinal de festa na escola com todos juntos, brincando, rindo e se divertindo. Mas o desse ano não estava me empolgando nem um pouco. Eu sabia que era noite de lua cheia e isso agora pra mim significava um namorado solto no mato em forma de lobisomem. Ate ai tudo bem, eu sempre soube que ele era um, mas o problema era que ele não havia me contado ainda.

Remo veio me procurar cedo na manha daquele dia 31 de Outubro, com uma conversa pra boi dormir de que teria que ir pra casa passar uns dias. Disse que a avó estava muito doente e queria se despedir dele, pois tinha certeza que era dessa vez que ela batia as botas. Eu fingi acreditar na historia e apenas disse que esperava que ela se recuperasse. Ele passou o dia todo na minha cola, fazendo minhas vontades e tentando a todo custo não me desagradar, como se já estivesse querendo compensar algo que estava por vir. Ai que nervoso que aquilo tava me dando!

Eram mais ou menos 7 da noite quando seguimos para o salão principal para nos juntarmos ao restante da escola. Já estava todo mundo lá, em pé, comendo, bebendo e dançando. Esse ano a festa tinha sido organizada pela Monn e seu grêmio e estava mais animada que as anteriores. Mas não estava adiantando, não conseguia sorrir e brincar, tava me remoendo por ele não ter me contado. E minha cara devia estar deixando transparecer isso, pois todo mundo vinha perguntar o que eu tinha e Remo não parava de se desculpar por ter que ficar fora esses dias, me fazendo agrados a toda hora. Não passou muito tempo e ele disse que precisava ir. Despedimos-nos no saguão mesmo e voltei pro salão. Meus amigos conversavam animados e logo vieram ate mim. Passei pouquíssimo tempo com eles e dei a desculpa de que precisava ir ao banheiro para sair. Como não sentia a menor vontade de voltar para a Lufa, segui pro pátio. Ainda não havia nem sentado na mureta e ouço a voz de Scott atrás de mim.

SF: Sabia que você não iria a banheiro nenhum!
LS: Cott, não to com animo pra brincar hoje...
SF: Eu sei que não, por isso te segui. O que houve?
LS: Não sei ao certo...
SF: Deixa ver se eu adivinho: é o lobisomem solto na floresta essa noite?
LS: É isso que não sei!
SF: Ok, não estou entendendo, seja mais clara.
LS: Não sei se o que me incomoda mais é o fato dele ser um e não poder estar aqui hoje ou o fato dele não ter me contado ainda!

Scott se sentou ao meu lado e apoiei minha cabeça em seu colo. Ele alisava meu cabelo enquanto eu falava e tentava responder tudo que eu dizia sem fazer nenhuma gracinha.

SF: Não acho que ele tenha deixado de te contar porque acha divertido...
LS: Eu sei que não, mas ainda acho que ele deveria ter dito! Ele ta pensando o que? Que vai conseguir me evitar por três dias? Acho que mesmo que eu não soubesse, acabaria descobrindo, não?
SF: Lou tenho certeza que ele teria lhe contado, se soubesse como. E veja bem, quem esta falando isso é alguém que nem gosta dele direito.
LS: Ta bom, sei que não deve ser fácil, mas porque não confiaria em mim? Ele não pode simplesmente me evitar toda vez que tiver lua cheia, certo?
SF: Se coloca no lugar dele e imagina como deve ser difícil contar pra pessoa que gosta que uma vez por mês você se transforma numa fera assassina que pode matar ela? Eu, honestamente, teria receio de revelar isso e a pessoa se afastar, por medo.
LS: Mas ele não vai me perder por causa disso, eu não me importo com esse “pequeno detalhe”!
SF: Mas mulher, ele não sabe disso! Porque ao invés de ficar se remoendo, você não vai visitar ele amanha na ala hospitalar e acaba com essa agonia de uma vez por todas?
LS: É, você tem razão, como sempre! Acho que amanha vou dar um passeio pela enfermaria...

Cott me abraçou e beijou minha testa, dizendo para eu não sair dali que ele voltaria num instante. Ele entrou correndo, voltando minutos depois com uma mochila cheia nas costas.

SF: Vamos, anda!
LS: O que é isso? Ah Cott, não quero ir pra festa não. Pode ir se quiser, eu que to chata hoje e não quero estragar a alegria de ninguém...
SF: Você não ta chata e não vamos voltar pra festa, vamos a outro lugar.
LS: Pra onde? Aqui não ta bom?
SF: Sei que você não tem medo, mas não me agrada muito ficar exposto no jardim com um lobisomem a solta. Não sai da minha cabeça a possibilidade dele aparecer aqui e engolir nós dois antes que possamos pensar em correr!

Ele agarrou minha mão e saiu me puxando castelo adentro. Subimos vários lances de escada ate chegarmos numa sala vazia na torre oeste do castelo. Scott se pendurou na janela e saiu. Quando percebeu que eu não estava atrás dele, botou a cara pra dentro de volta.

SF: Você não vem?
LS: Não vou aonde? O que você ta fazendo?
SF: Vem logo, quero te mostrar uma coisa.
LS: No telhado?? Não pode ser aqui? Não vou subir ai, olha a altura! Estamos no 7º andar!!
SF: Você monta uma vassoura sem nenhum tipo de segurança e ta com medo de uma torre alta? Francamente...

Diante disso, fui obrigada a segui-lo. Acompanhei Scott pelo parapeito da janela ate darmos à volta na torre. Ele falou “não olha pra baixo”, mas tarde demais. Já havia espiado a altura e meu sangue gelou imaginando que teríamos pastel de Louise se minha mão escorregasse daquelas pedras. Cott se pendurou no telhado e me puxou quando já estava firme lá em cima. A vista lá do alto era linda, dava pra ver todo o terreno da escola, do pátio, passando pelo Salgueiro Lutador, até a orla da floresta. No canto esquerdo tinha o campo de quadribol, vazio àquela hora.

SF: Que tal?
LS: Uau, que linda a vista daqui... – eu dizia olhando para os lados encantada.
SF: Pronto, agora você já sabe onde é meu refugio!
LS: Há quanto tempo você vem aqui?
SF: Já tem uns três anos... Quando você mora numa casa onde 95% dos moradores implicam com você 24hs por dia e suas amigas não podem estar sempre lá dentro, precisa de um lugar onde ninguém te encontre. Sempre que to estressado ou chateado com alguma coisa, venho pra cá. Passa na mesma hora, só de poder ver tudo isso do alto.
LS: Adorei Cott, obrigada por me trazer aqui...

Sentamos-nos no telhado e ele tirou da mochila duas garrafas de cerveja amanteigada e alguns biscoitos. Começava a me sentir melhor, Scott estava me animando de novo, quando ouvimos uma gritaria vinda do lago. Levantamos assustados, mas não conseguimos identificar o que acontecia. Somente vultos eram vistos de tão longe. Provavelmente eram alunos pregando peças, é comum no Halloween os santinhos se rebelarem. Deitamos novamente, observando as estrelas. Scott tinha razão, o estresse passava na hora quando se estava ali...