Wednesday, October 05, 2005

Tudo que é bom... dura pouco

do diário falante de Sarah Victoria Batland

Hogwarts, 04 de outubro de 1976. 1 hora da manhã.

Pois é, diário. Depois de tantos dias sem dar as horas pra você, eu apareci. Sim, sei que você está profundamente magoado comigo e que isso não tem perdão, sob nenhuma hipótese, e se eu tentar me justificar, você vai ficar ainda mais zangado. O quê? Ora, é claro que eu prefiro gastar meu tempo livre ao lado do Sirius e... diário, isso é ciúme?? Pode parar, sem drama, outro amigo ciumento eu não agüento!!

Bom, onde eu estive esse tempo todo? Fazendo simulados, depois na ala hospitalar, na vingança contra o Sebex, na festa da Lou e... cumprindo uma detenção. Que foi? Não arregala esse olhão não. E pode baixar esse dedo apontado pro meu nariz, diário. Não é você quem vai me dar lição de moral. Não vou mais te contar nada.

******************

Oi? Diário?? Ta curioso, né???? Sabia que você não ia agüentar e ia acabar me cutucando aqui. Afinal, não é todo dia que eu, Sarah Victoria Batland, sua magistral dona certinha, ganha uma detenção. Estava eu, linda, maravilhosa e sorridente, sentada na mesa da Corvinal esta manhã comendo minhas torradas com geléia de grapefruit, quando as corujas invadiram o Salão Principal na sua habitual visita matinal. O que eu não esperava era que uma coruja das torres daqui da escola aterrissasse dentro do meu copo de suco de abóbora, e deixasse cair uma carta de aspecto oficial na minha frente. Do que você está rindo? Sim, fiquei sem meu suco de abóbora, mas quem se importa??

De quem era a carta?? Calma, diário. Permita-me continuar a narrativa: peguei a carta que por um mísero milímetro não caiu dentro da travessa de ovos com bacon, e abri. Havia um selo de Hogwarts na parte superior do pergaminho. Uma caligrafia um tanto desajeitada fulgurava diante de meus olhos.

Prezada senhorita Batland
Em virtude dos acontecimentos da semana passada no Saguão de entrada envolvendo três alunos sonserinos e uma poção roubada, e sabendo de sua participação, fui obrigado por forças maiores a aplicar-lhe uma denteção. Esteja no meu escritório às 17 horas.
Atenciosamente
Horácio Slughorn


Ai Merlin, o que foi agora? Sim, o Slugh me deu uma detenção!! Por que, não pode? Será que só a Minerva tem esse poder na escola? Por que não foi ela? Sei lá eu porque, oras. Se você não parar de fazer perguntas cretinas, juro que vou te pôr debaixo da cama amarrado com a fita cor de rosa da Monn e te deixo de castigo mais duas semanas.

Você só funciona sob ameaça, né? Assim que eu gosto, um ouvinte comportado. Então, faltando dois minutos para as cinco horas da tarde, lá estava eu, em frente à sala do professor de poções, estática, ouvindo os risinhos debochados da minha querida irmã e seus colegas recalcados. Fiz de conta que estava olhando para um bando de trasgos e, depois de um minuto que pareceu uma eternidade, o professor Slughorn apareceu sorridente, e me convidou a entrar na sala, pegando mais da metade dos livros que eu carregava nos braços.

Slugh, todo pomposo, fez sinal para que eu me sentasse. Mordendo os dentes para não cair na gargalhada, obedeci. Nesse instante, a professora Minerva entrou na sala, carregando uma bandeja repleta de etiquetas. Sob o olhar severo da professora, Slughorn fez um pequeno discurso envolvendo a ética e os bons costumes, e falou também da convivência pacífica entre alunos de casas diferentes, dando a entender que os sonserinos não são tão ruins como o resto da escola pensa. Mas no final, no instante em que McGonagall virou-se para acender o fogo na lareira, ele me deu os parabéns, e afirmou que eu era realmente a melhor aluna que ele já teve a honra de ensinar. Disse que nem ele mesmo teria feito melhor.

Quando Minerva virou-se novamente, Slugh estufou o peito, me pegou pela mão e me conduziu até a estante onde os ingredientes de poções ficam guardados. Minerva estendeu um daqueles gigantes rolos de etiquetas, e então eu percebi o que teria que fazer: rotular nada menos que 783 frascos de gororobas esquisitas, e teria até a meia noite para deixar tudo pronto. Puxei a pena e as etiquetas e comecei: ararambóia, olhos de besouro, chifre de unicórnio... pobres bichinhos... perninhas de aranha seca, guelricho, ditamno, blábláblá....

Quando olhei pro lado, percebi que McGonagall não estava mais na sala. Slughorn roncava baixinho estirado em uma poltrona ao lado da lareira, com a cara coberta pelo Profeta Diário.
A gaveta da escrivaninha estava entreaberta, e lá dentro havia uma pasta que chamou a minha atenção.

Diário? Ta dormindo?? Não vai dizer "Óóóóóó!!" nem nada parecido? Quando é pra falar você não fala! Bom, já que você não vai perguntar, seu mal-agradecido, a pasta dentro da gaveta continha os arquivos dos alunos da Sonserina. Se o Flitwick tiver uma pasta dessas e alguém encontrar uma ficha com o meu nome lá dentro, tô lascada. Pelo que eu percebi, os pergaminhos funcionam como uma pena de repetição rápida, e todo o histórico escolar (todo mesmo, desde cochilos em sala de aula até idas à biblioteca de madrugada) fica registrado ali. Ahá, agora você abre os olhos e fica curioso de novo, né? Vou pensar se vou contar o resto.

Não, não vale. Essa cara de menor abandonado não cola. Ok, elas estão aqui. As fichas da Danna, do Rodolpho Lestrange e do Seboso, claro. Não olha assim, é só um empréstimo. Eu vou devolver assim que... ai Merlin, assim que eu acabar de lê-las e arranjar uma desculpa pra entrar sozinha na sala do Slguhorn de novo.

Escondi os pergaminhos no meio das vestes no instante em que Slugh engasgou com o jornal entrando pelo nariz, e voltei às prateleiras. Eu tinha dez minutos e mais de cento e vinte frascos à minha espera. Os mais difícies, diga-se de passagem. Como eles estavam lá no alto, e, a julgar pela grossa camada de poeira que os encobria, deduzi que eram ingredientes que ninguém usava há muito tempo. Rabisquei uns nomes esquisitos lá, que lembrava ter visto no livro de poções avançadas do Sirius. No instante em que coloquei a última etiqueta, Minerva abriu a porta e Slugh pulou da cadeira, assustado.

Orgulhoso, ele correu os olhos cheios de sono pelas estantes e sorriu para mim. Minerva me deixou sair, e agora estou aqui, tentando em vão fazer você parar de rir, seu diário infeliz...

E além de tudo isso, ainda tem a festa do Sirius que eu preciso organizar com o Remo! Ai Merlin, preciso de um vira tempo!!

E espero sinceramente que ninguém resolva utilizar aqueles frascos tão cedo...