Thursday, November 03, 2005

Abrindo o jogo

Do diário de Louise Storm

Levantei cedo no dia seguinte da confusão toda. Na verdade acho que não preguei os olhos, o chão da cozinha era extremamente desconfortável e roncos ecoaram a noite inteira. Os elfos nos serviram o café ali mesmo, nas enormes mesas que ficavam sob as das casas do salão principal, e Dumbledore apareceu por volta das 9hs para nos liberar. As meninas murmuravam algo como “banho de 2 horas” e “nunca acampar” enquanto nos encaminhávamos para nossas casas. Scott me puxou e ficamos para trás.

SF: O que você vai fazer agora?
LS: Acho que conversar com ele...
SF: Vê lá o que você vai falar, não piora as coisas.
LS: Não vou lá arrumar barraco, vou conversar direito com ele.

Despedi-me de Scott e fui pra lufa tomar um banho rápido e sair logo, antes que alguém pudesse me ver e perguntar aonde ia. Os corredores da escola estavam vazios, apesar de ser dia de aula. Por termos perdido a noite na cozinha, o diretor liberou a parte da manha para que todos se organizassem. Também não havia sinal de gente viva na ala hospitalar, madame Pomfrey não estava por perto. Apenas uma cama estava ocupada e seu ocupante parecia distraído, olhando pela janela. Parei ao lado dela e Remo despertou do transe, me olhando assustado. Podia sentir seu cérebro trabalhando rápido, na tentativa de encontrar uma justificativa convincente para estar ali, quando havia me dito que ia para casa.

Vamos fazer um trato

Uma combinação
De que forma, de que jeito
Agora vamos viver
Sem claustrofobia,
Sem tristeza e dor
Um profundo intenso, leve
E provisório amor

RL: Lou? Como que você...
LS: Pensei que estivesse há quilômetros de distancia.
RL: Houve mudança de planos...
LS: Sim, estou vendo. Sua avó não está mais doente?
RL: Não, está sim, mas...bem...é que...
LS: É que...?
RL: Eu perdi o trem, foi isso!
LS: Perdeu o trem ou ele te atropelou?
RL: Ah isso... – disse olhando para os machucados. – Bom, é que eu estava distraído, sabe... Não vi que o trem estava saindo.
LS: Ta tentando dizer que caiu nos trilhos?
RL: Foi exatamente isso! Estava distraído pensando que não ia ver você por três dias, e não percebi o trem partindo... Não é a toa que meu apelido é aluado, não?
LS: Boa tentativa, mas não me convenceu.
RL: Não?
LS: Não passou nem perto.
RL: Lou, eu posso explicar, juro, mas não sei nem por onde começar...
LS: Por que não começa pela verdade?
RL: É complicado demais.

Vamos fazer um trato
Uma combinação
Que palavras precisamos
Agora nos dizer?
Com calma, gentileza
E satisfação
Novos planos e projetos
Vamos escrever

LS: Deixa eu te ajudar: eu já sei da verdade, sei por que você está aqui.
RL: Sabe? Mas como? Quem...

Remo começou a gaguejar e não encontrava as palavras para formar uma única frase. Ele definitivamente não esperava por essa. Resolvi que já que havia começado, iria até o fim.

LS: Isso não vem ao caso agora, o que interessa é que eu sei. Por que não me contou antes?
RL: Não sei ao certo...
LS: Você não acha que na condição de sua namorada, eu merecia ouvir a verdade por vontade própria sua, ao invés de vir aqui arranca-la a força?
RL: Desculpe... Não era assim que pretendia lhe contar. Acho que tive medo de você se afastar quando soubesse. Foi bobagem minha?
LS: Totalmente. Nunca iria deixar de gostar de você por causa de um pequeno detalhe como esse!
RL: Pequeno detalhe... Você parece o Tiago falando. Ele acha que isso é um mero empecilho em minha vida.

Quanta bobagem! Como que eu iria fugir dele por causa de uma besteira dessas? Ele não é lobisomem em tempo integral, só uma vez por mês. Durante 29 dias no mês ele continua sendo o garoto por quem me apaixonei. Acho que ele estava começando a entender isso, pois já esboçava um sorriso tímido no rosto.

LS: Talvez ele tenha razão. Você já esta entrando no 6º ano aqui sem ninguém ter descoberto e nem ter te atrapalhado em nada.
RL: Você e a Sarah descobriram... E devo supor que a gangue de vocês saiba não?
LS: Gangue? Nossa, estou lisonjeada... E sim, Alex, Cott e Sam sabem. Mas somente eles, ninguém mais.
RL: Como vocês descobriram? Quando?
LS: Foi por acaso... Estávamos perto da floresta tem uns três anos e vimos Tiago, Sirius e o gordo sumirem pelo buraco do salgueiro nas suas formas animagas, só não vimos você. Depois ouvimos um uivo. Foi só somar dois mais dois, já estávamos desconfiadas, era a prova que faltava.
RL: E porque não contaram antes que já sabiam?
LS: Porque não era pra termos descoberto nada não?
RL: É, tem razão... Não acredito que guardaram esse segredo tanto tempo.
LS: Posso fazer uma pergunta?
RL: Claro...
LS:Como você pretendia me evitar por três dias inteiros toda vez que tivesse lua cheia?
RL: Não faço idéia... Estava pensando nisso quando você entrou. E sem duvida estaria pensando na mesma coisa, caso realmente não tivesse notado o trem sair e caído nos trilhos. Mas juro que pretendia contar, só tentava descobrir uma maneira... Ainda bem que você veio falar comigo, isso já estava me consumindo.
LS: Chega de segredos e mentiras, ok? Senão isso não vai dar certo.
RL: Sem duvida, nada de mentiras daqui pra frente.

Dá para imaginar
Por que eu estou aqui?
A verdade de repente

Tomou conta de mim
Minha defesa agora
Quero apresentar
Admito simplesmente
Que me arrependi

Remo me puxou pra junto dele e me beijou. Seu rosto tinha uma expressão cansada, abatida e vários arranhões estavam espalhados pelo corpo. Nunca tinha imaginado o quanto ele devia sofrer durante as transformações, mas começava a ter uma vaga idéia. Madame Pomfrey voltou um tempo depois, mas acabou cedendo aos apelos dele para que não me expulsasse e me deixou ficar até o reinicio das aulas naquela tarde. Scott estava certo, o melhor que poderia ter feito era abrir o jogo com ele. Ao menos agora poderia tentar ajudar antes e depois das transformações.


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N.A.: Trechos da música “Combinação”, do Kid Abelha.