Monday, November 07, 2005 Fantasmas do passado Do lembranças de Scott Foultey Era mais uma aula comum de adivinhação. Estávamos estudando aeromancia, que era a arte da adivinhação através de trovões, relâmpagos ou formas de nuvens. Como não havia sinal de chuva, optamos pela 3ª opção. A turma se espremia na janela, tentando interpretar os diferentes e esquisitos formatos que as nuvens desenhavam no céu já quase escuro. Louise e Sam avistavam dezenas de pinhões e Alex só via mascaras, enquanto eu, pela primeira vez numa aula da Endora, não via absolutamente nada. A professora se postou ao meu lado, pousando a mão em meu ombro, e começou a estudar a nuvem para onde olhava há horas. A sala fedia a incenso, talvez isso estivesse atrapalhando minha concentração. Endora viu asas na minha nuvem, depois afirmou que era um bicho voador. Sarah parou de analisar a sua e veio socorrer, dizendo que estava enxergando dentes pontiagudos no tal animal. A noite já caia e as nuvens já começavam a desaparecer, quando Yulli apontou empolgada para onde olhávamos. -É um morcego, é um morcego! Decifrei! Olhei alarmado para a nuvem, quando nesse instante um morcego enorme, de carne, osso e pêlo entrou voando pela janela, fazendo a turma correr. Ele vinha em minha direção. A sala foi ficando escura e senti a cabeça bater no chão. -Scott? Scott? SCOTT! *********************************** -Scott, cadê você? Scott? Não tem graça, onde você se escondeu? Corria da minha irmã pelos jardins da nossa casa na Suécia, passando pelo meio dos arbustos e tulipas da mamãe. Ouvia a voz de Megan ao longe e abafava o riso para que ela não me rastreasse por ele. Já estava bem distante dela, entrando na parte mais afastada do imenso jardim, quando senti meu pé partir velhos pedaços de madeira e o chão sumir. Tentei me segurar nas plantas, mas não consegui, foi tudo rápido demais. Bati em um chão duro e desmaiei. Não sei quanto tempo passei ali, desacordado. Quando abri os olhos, estava no fundo de um antigo poço que pertencia aos terrenos da casa e que eu nem sabia da existência. Era tudo muito escuro, sujo e silencioso. Alguns fios de água corriam no canto dele, provavelmente davam em algum rio. Minha primeira idéia foi segui-lo ate achar a saída, mas ao dar três passos desisti. O que um bruxo de seis anos, sem varinha e sem saber fazer qualquer tipo de mágica vai fazer andando sozinho num túnel escuro e desconhecido? Olhei para o alto, para a saída do poço. Já estava escuro, devia estar ali há horas e ninguém veio me socorrer. Será que Megan acha que ainda estou escondido? Não, ela não é burra, deve ter dito que desapareci e ninguém consegue me encontrar. Talvez não se lembrem que tem um poço aqui, ou talvez nem saibam da existência dele! Melrin, e se nunca ninguém me encontrar? Terei que viver aqui, comendo inseto e bebendo essa água suja? Diante dessa terrível previsão, comecei a berrar por socorro. A pior idéia que tive, devo dizer. Meus gritos ecoaram pelo buraco onde estava e uma nuvem negra veio voando em minha direção. Eram morcegos, dezenas deles, batendo aquelas asas pontudas e fazendo barulho. Eles me cercaram e cai no chão, assustado. Encolhi-me todo, tentando proteger meu rosto das garras deles. Os morcegos continuaram voar ao meu redor e sentia suas asas baterem em mim. ---------------------------------------------------------- -Como um bando de bruxos adultos não consegue encontrar um menino de seis anos em um jardim fechado?? -E se ele saiu da propriedade, Stuart? E seu o meu menino tiver sido seqüestrado? -Mas nós estávamos brincando nos jardins, mamãe... Scott não saiu ou os guardas teriam visto. -Megan tem razão querida, os seguranças teriam impedido sua saída. -Stuart! Esqueceu que é possível que os seqüestradores tenham aparatado aqui dentro e raptado nosso filho?? -Calma Isadora, por favor. Não vamos nos precipitar, ele deve estar escondido, você sabe como são as crianças... -Pois faça alguma coisa! De que adianta você ser o Ministro da Magia se não consegue nem encontrar seu filho que sumiu há horas?? Os bruxos saíram da sala de estar da mansão Foutley e com as varinhas iluminando o jardim escuro, recomeçaram as buscas. ---------------------------------------------- Senti uma mão me tocar. Abri os olhos e rapidamente os fechei, pois a claridade invadia o poço e me incomodava. Reabri os olhos devagar e vi a figura de meu pai ao meu lado, sorrindo. Ele me ergueu e limpou meu rosto sujo, manchado pelas lagrimas que escorreram a noite inteira e que haviam se misturado com a terra do fundo do poço. Ele me pegou no colo, desaparatando em seguida, direto para os jardins iluminados de minha casa. -Desculpe a demora filho, mas somente há alguns minutos seu avô chegou e nos avisou da existência desse antigo poço. Levamos um tempo até localizarmos ele. Meu pai me levou para dentro de casa, tentando me acalmar. “Nós caímos para nos levantarmos outra vez”, ele dizia enquanto subia as escadas ate meu quarto comigo no colo. ***************************************** -SCOTT? ELE TA ACORDANDO! Abri os olhos e vi que estava deitado no chão da sala de adivinhação, a turma inteira ao meu redor com olhares curiosos. As meninas estavam ajoelhadas ao meu lado com expressões preocupadas. Não acredito, sonhei com aquele dia outra vez... O dia em que meu pavor por morcegos começou. Logo agora que pensei que estava livre do trauma, eles reaparecem... |