Saturday, November 19, 2005 Nem tudo é o que parece.... A mulher olhava a chuva fina caindo pela janela, como se esperasse algo acontecer. As chamas da lareira estavam diminuindo, mas a mulher não se movia para avivá-lo. Sua mente vagava para um passado distante, enquanto amassava entre os dedos a carta escrita pelo filho. Ela parecia em transe e as memórias daquele outro dia nublado se fizeram presentes mais uma vez... FLASHBACK********************** -Vamos meu amor, durma um pouquinho. Papai logo vai chegar....- ela repetia baixinho para o bebê gorducho em seus braços, mas queria convencer a si mesma de suas palavras. Ultimamente brigavam muito por causa de seus ciúmes exagerados, e pensava numa forma de se desculpar com o marido. Novamente ele havia saído correndo sem dar explicações, e a deixara sem saber aonde ou o quê ele iria fazer. Finalmente o bebê adormeceu e ela o colocou no berço. Mal teve tempo de afastar a franja loura que insistia em cair sobre seus olhos, quando ouviu um estalo, seguido de um barulho parecido com uma queda. Correu rápido para o marido que havia aparatado e estava caído no chão: -Por Merlim, o que houve? Dotty, seu amo está ferido! - gritou para a elfa, enquanto tentava levantar o homem grande caído no chão, segurando uma trouxinha de roupa. Logo o quarto estava cheio de outros elfos e a trouxinha junto ao corpo do marido, tratava-se de uma criança adormecida, que apenas resmungou. O homem a protegia segura em seu corpo, embora seus ferimentos fossem graves e a palidez da morte já cobrisse seu rosto: -Virna..... a criança... proteja-a... -Shiii, não fale meu amor. Descanse para recuperar as forças. - ela dizia para seu marido, enquanto ela e os elfos trabalhavam rápido para curar os ferimentos. -Onde você esteve Kyle? O que houve? Quem lançaria contra você um feitiço destes? - ela perguntava baixinho, para o homem inconsciente. Como se pressentisse o seu fim o homem abriu seus olhos cinzentos e chamou sua atenção: -Proteja... A criança... Meu sangue... Minha a... - enquanto seus olhos perdiam a vida. Um grito semelhante ao de um animal ferido escapou da boca da mulher. Enquanto chorava agarrada a ele, não viu que seus sogros entravam no quarto e a amparavam. -O que fizeram ao meu marido? -Eu não sei o que aconteceu, Virna. Só sei que esta criança é filha de Elizabeth.- disse a mulher. - O que ela tem a ver com isso? Não a vemos há um bom tempo. - perguntou irritada, ao ouvir o nome da prima do marido. -Pelo que acabei de saber ela... Foi morta junto com Connor, parece que foram atacados juntos. E agora isto... - a voz do homem falhou ao olhar para o filho morto. Virna estava com a mente fervilhando: o cunhado mais novo morto, uma prima distante morta... E seu marido mesmo na hora da morte, tentou proteger aquela criança. -Esta criança é dele? - o monstrinho do ciúme novamente exibia suas garras. Correu até o berço, onde a criança havia sido acomodada junto ao seu filho e a olhou: -Não se parece com Elizabeth. E esta menina tem os cabelos negros de.... - parou e ficou olhando do filho para o marido e procurando as semelhanças. -Não seja tola Virna, Kyle nunca a trairia. - disse a sogra, adivinhando os seus pensamentos. Ela olhava para os cabelos escuros, a pele clara e quando o bebê abriu os olhos, as lágrimas que jorravam de seus olhos secaram, como que por encanto. -Esta criança é filha dele. Ele acabou de dizer antes de morrer: proteja a criança, meu sangue, minha. -Não creio que seja isso, Virna.. .- começou o homem. - Só pode ser. Elizabeth e Kyle sempre ficavam de segredinhos nas reuniões de família e depois ela sumiu por quase um ano. Diziam que era sobre o trabalho e Connor, sempre estava com eles, mas ele nunca falava nada sobre o que conversavam. Nesta hora, bateram na porta de entrada, e logo um elfo vinha anunciar: -Ama, tem homens do Ministério, querendo falar com o amo. A mulher saiu do quarto acompanhada pelo homem mais velho, e encontrou quatro bruxos em seu vestíbulo: -O que querem com meu marido? -Soubemos que houve um ataque numa vila em Edimburgo, e pelas poucas informações só houve dois sobreviventes e seu marido é um deles. Queremos que nos ajude a chegar aos malfeitores. -Meu filho acaba de morrer, e o outro sobrevivente é um bebê. -O bebê é filho de Connor e Elizabeth McGregor?Porque esta é a certidão de nascimento que recuperamos do corpo de seu outro filho, senhor. Sinto muito. - perguntou o mais velho e exibiu um pergaminho. Josiah McGregor olhou a certidão de nascimento e nela estava escrito o nome da criança: Alexandra, e dizia que ela era filha de seu filho Connor, que agora jazia morto. No presente -Ei Virna, estou falando com você, pare de sonhar acordada. Virna virou-se para a irmã e sorriu: -Não a vi entrar, Millie.Estava distraída. - disse se desculpando. -Recebeu carta de quem? -É de Kyle, e sua voz suave endureceu um pouco, e a irmã ficou alerta: -Ele está bem? Dylan? Ian? -Está ótimo. Vai ser o padrinho de casamento de Dylan e estava me dando algumas ordens. -Como assim? -Disse que Alexandra será seu par e que não vai permitir que eu a destrate. Como se ele mandasse em mim. Atrevido. Sempre se doendo pela fedelha, igual ao pai. Feiticeirazinha das trevas é o que ela é. -Você precisa deixar isto no passado minha irmã. A menina é inocente e não sabemos direito o que aconteceu de verdade... -Nunca! Para mim, ela sempre vai ser a prova viva do erro de meu marido, e eu sempre vou odiá-la. -Abra seu coração e você verá que ela é uma boa menina, que adora seus filhos. -Se você quiser continuar desfrutando de minha amizade, cale-se. - disse rispidamente e notando que a bruxa havia ficado magoada com seu tom de voz, mudou de assunto: -Millie, apronte-se: vamos para Londres fazer compras. Temos que estar bem bonitas, afinal um casamento é motivo de celebração. E temos que escolher presentes bem bonitos para os noivos. Enquanto a bruxa saia para aprontar-se, Virna olhava novamente para a carta em sua mão: -Meu filho... Se você soubesse que a culpa por você crescer sem o seu pai, é desta menina, você não a defenderia tanto.... - e virou-se para avivar o fogo na lareira. |