Saturday, December 10, 2005

Em Hogsmeade... com um humor do cão

Era dia de visita a Hogsmeade. Sarah estava de pé ao lado da escada que levava ao Salão Principal. Seus colegas já haviam saído, restava apenas meia dúzia de alunos entregando os formulários a Filch, o zelador. Melchior iria ficar na biblioteca estudando Runas. Dissera à amiga que não valia a pena desperdiçar o dia em um passeio sem companhia pelo vilarejo. A garota começava a cogitar seriamente a hipótese de se juntar ao amigo e enfiar a cara nos livros, quando Sirius apontou no final do corredor.

Sarah: Até que enfim!! Pensei que tivesse desistido.
Sirius: Sem cobrança, tá? Não tô num dia bom hoje.
Sarah: O que houve? Caiu da cama e bateu o dedão, foi?
Sirius: Vai ficar fazendo piadinha com a minha cara o dia todo? Se for, eu volto agora mesmo pro meu quarto.
Sarah: Eu hein! Você precisa se benzer. Vamos logo, antes que o Filch não deixe a gente sair.

Sarah puxou Sirius pelo braço, passou pelo zelador e entregou-lhe os dois formulários de autorização, murmurou um "bom dia" que não obteve resposta e saiu porta afora, ainda conduzindo o namorado carrancudo.

A neve cobria o caminho até o vilarejo, e pequenos flocos que pareciam algodão despencavam alegremente do céu. Sarah enrolou o cachecol no pescoço e tentou aninhar-se nos braços de Sirius, que por sua vez, não se mexeu.

Sarah: O que há com você, afinal?
Sirius: To cansado, só isso.
Sarah: Cansado por quê? Pelo que me consta, você não treina quadribol, já fez seus NOM's e tem uma cama quente e confortável para passar a noite.
Sirius: Acontece que fazem TRÊS noites que eu não prego o olho!
Sarah: Três noites?? O que você ficou fazendo? Contando testrálios?

Faz três noites que eu não durmo, olá lá
Pois perdi o meu galinho, olá, lá
Coitadinho, olá, lá, pobrezinho olá, lá
Eu perdi lá no jardim!!!


Sarah se virou, impaciente, procurando o dono da voz. Alguns passos atrás deles, Bellatrix Black e Danna Batland gargalhavam, balançando os braços imitando as asas de um galo, e Rodolpho Lestrange as acompanhava, fingindo chorar por ter perdido seu galo de estimação. Sirius encarou os três, furioso. Lestrange retomou o verso "faz três noites que eu não durmo..." e Sirius avançou sobre o colega, já com a varinha em punho. Sarah o deteve pela gola das vestes, fazendo o cachecol do garoto se soltar e ser levado pelo vento. A garota murmurou uma azaração, e o trio sonserino se afastou pela estrada, às gargalhadas, em direção a Hogsmeade. Com um movimento da varinha, Sarah fez o cachecol do namorado voltar até suas mãos.

Sarah: Você tá mal mesmo, sabia? Fazia um bom tempo que você não entrava nas confusões desses três. Já cansei de dizer que a Danna e os amigos dela não prestam.
Sirius: Ah, claro... você esperava o que? Que eu aplaudisse o belo coral e pedisse uma dúzia de autógrafos? Eu não tenho sangue de barata.
Sarah: Você os conhece, sabe que é só não dar bola. E que é história é essa de passar três noites em claro?
Sirius: Pergunte ao seu amiguinho fresco, se fiquei uma noite em claro, a culpa foi dele e daquele maldito morcego!
Sarah: Não fala assim do Scott!! Ele não é fresco! Só é um pouco... sensível.
Sirius: Sei... aliás, a sensibilidade dele é visível pela forma que cuida dos próprios bichos. Sensível, medroso e burro, né?
Sarah: A culpa não foi dele! Foi George que deixou o Tobby fugir da gaiola...
Sirius: E por causa disso perdi uma noite de sono! A gritaria infernal que eles fizeram por causa de um reles morcego acabou com a minha noite. Na segunda noite, Rabicho resolveu roncar a noite inteirinha. Parecia que o Expresso Hogwarts estava parado ao lado da minha cama, apitando freneticamente.
Sarah: E por que você não lançou um feitiço silenciador no Pedro?
Sirius: Porque não raciocinava mais. Estava acordado há 44 horas, caramba! Tentei arrastar o Rabicho até a janela e atirá-lo pra fora, mas Aluado me impediu. E esta noite eu também fiquei acordado porque o seu amigo Remo resolveu resmungar o tempo todo durante o sono, e não havia feitiço que o acordasse. Passava das 4 da manhã quando consegui pregar os olhos. E então, sem mais nem menos, fui atirado a três metros de distância da minha cama.
Sarah: Que nada, Sirius... você deve apenas ter tido um pesadelo e caído da cama. Isso é normal, sabia?
Sirius: Normal?? É normal também encontrar o livro de poesias de Scott Foutley no chão, ao lado da minha cama?
Sarah: Você não está querendo insinuar que Scott... olha aqui, se você falar mal dos meus amigos de novo, eu dou meia volta e vou para a biblioteca.
Sirius: Não tem nada aqui te impedindo de ir.
Sarah: Sirius! Que bicho te mordeu?
Sirius: Você não ia defender seus amiguinhos? Eu já sei que você se importa mais com eles que comigo, não precisa me lembrar disso a cada 5 minutos, ok?

Sarah achou melhor não responder. O cachorrão devia estar em um dia realmente péssimo, para apelar à chantagem emocional. Os dois seguiram lado a lado, calados. Caminhavam um tanto afastados, mantendo uma distância considerável, cada um imerso em seus próprios pensamentos.

Logo chegaram à rua principal. Estava lotada de estudantes alegres e tagarelas, que tinham os braços carregados de sacolas e embrulhos para o Natal. Dezenas deles também carregavam as caixas dos trajes de gala para o baile de inverno da próxima semana. Sirius olhava aquilo tudo indiferente, quase que com desprezo. Sarah tentou puxar conversa duas vezes, mas não obteve sucesso. A paciência da menina já estava por um fio. Era melhor não provocar.

Ele é branco e amarelo, olá lá
Tem a crista vermelhinha, olá lá

Bate as asas, lá lá,
Abre o bico, olá lá,
Ele faz qui ri qui qui.
Faz três noites que eu não durmo, ola lá

Pois perdi o meu galinho, ola lá...

Os sonserinos estavam parados à porta da Zonko's. Dessa vez, havia pelo menos uns dez alunos, todos cacarejando e batendo as asas para Sirius e Sarah. Quando a música terminou, explodiram em risos sarcásticos e correram em todas as direções, fugindo dos jatos vermelhos e amarelos que saíam da varinha de um furioso Almofadinhas.

Sarah olhava abismada para os pirralhos e para o namorado. Quando tentou abrir a boca, Sirius a cortou:

Sirius: Se pensa que vai defender esses pivetes, ta perdendo seu tempo. Não gaste sua saliva à toa.
Sarah: Eu não ia defendê-los. Só acho que não é azarando uma dúzia de estudantes menores que você que seus problemas vão se resolver. Não adianta descontar sua raiva nos outros.
Sirius: Falou a voz da sabedoria! Quer saber? Cadê o seu amiguinho esquisito?? Te deu folga hoje?
Sarah: Melchior não é esquisito. É meu melhor amigou, ouviu? E, não que seja do seu interesse, mas ele está na biblioteca de Hogwarts estudando. Coisa que eu deveria ter ficado fazendo também. Pelo menos não estaria irritada.
Sirius: Ah sim, então eu deixei a princesinha irritada? Não precisa andar comigo se não quiser. Já que minha companhia é tão ruim assim, porque não vai atrás do cabeça de repolho? Você já disse mesmo que preferia estar lá estudando com ele. Se é assim, pode ficar com ele.
Sarah: Sirius, espera! Eu não disse que quero ficar com ele...
Sirius: Tchau, Sarah.

O rapaz virou as costas e saiu, deixando marcas na fofa camada de neve que havia se impregnado no chão. Sarah sentiu o queixo tremer, indignada. Se assim ele quer, assim será. Não dou dez minutos pra ele estar de volta, pensou a jovem. Ela foi até a loja de animais, e comprou uma gaiola nova e alguns mimos para Ellys, a sua coruja. Sentiu que alguém aproximava-se às suas costas e, pensando tratar-se de Sirius, fez de conta que não havia percebido a presença. Quando os dedos gelados tocaram seu pescoço, porém, a garota abafou um grito e virou-se, assustada.

Sarah: O que você quer aqui? Anda, circulando, sua amiguinha Danna não está escondida debaixo da minha capa.
Rodolpho: Eu sei que não, belezinha. Você devia fazer como sua irmã e aproveitar mais a vida, sabia? Essa história de ser certinha o tempo todo cansa... Vem aqui, eu vou te ensinar alguns dos prazeres que a vida tem a oferecer.
Sarah: Tira as mãos do meu braço, seu troglodita nojento! E sai da minha frente, estou com pressa!
Rodolpho: Se eu fosse você, ficava aqui mais uns minutinhos... Sabe como é, às vezes podem estar acontecendo coisas lá fora que você não gostaria de presenciar. Já dizia minha querida bisavozinha: "O que os olhos não vêem, o coração não sente". E eu complemento: e a testa permanece lisinha.

Sarah empurrou Lestrange para o lado e saiu da loja bufando, carregando a gaiola. No instante em que alcançou a rua, entretanto, a gaiola caiu de suas mãos com estardalhaço, frente à cena que acabara de presenciar. Sirius estava encostado em um poço, com as mãos de Danna percorrendo seu rosto. O barulho da gaiola chamou a atenção dos dois, e Sirius empurrou a garota.

Danna: Ei! Até segundos atrás você não estava nada agressivo comigo, querido.

Sirius vinha em direção à Sarah, tentando encontrar palavras para se explicar.

Rodolpho: Eu tentei avisar, gracinha... Se tivesse cedido aos meus encantos, não passaria por essa humilhação. Mas chifres não existem, é só uma coisa que colocam...

Plaft!!

A mão direita de Sarah voou no rosto de Rodolpho Lestrange. Os cinco dedos da garota ficaram marcados na bochecha agora vermelha do sonserino.

Rodolpho: Sua... ai!! Você é nervosinha, mas tem uma mão!! Acho que deslocou meu queixo!
Sirius: Sai da frente, Lestrange. Antes que eu tenha que te mostrar como realmente é um queixo deslocado. Sarah, espera!!!!

A garota não deu ouvidos. Estava farta. Sirius corria atrás dela, e a segurou pelo braço.

Sarah: Me solta! Tá me machucando!
Sirius: Você tem que me ouvir. Eu não fiz nada, aquela doida que me agarrou.
Sarah: Claro, eu vi como você estava detestando a situação. Me deixa em paz, garoto.
Sirius: Em paz? Depois eu é que sou infantil e intolerante né? Tudo bem. Depois a gente se fala.

Com um toque da varinha, Sirius transformou-se em cachorro e correu pelo matagal. Então Sarah gritou às costas dele, enfurecida:

Sarah: Pois faça bom proveito! Aproveita a neve pra esfriar essa cabeça oca e enfiar alguma coisa útil nela. E eu NÃO QUERO falar com você depois!

A garota sentiu as lágrimas encherem-lhe os olhos. Não estava triste. Estava profundamente irritada com as atitudes infantis de Sirius Black. Deu meia volta e correu de volta para a escola. Encontraria Melchior na biblioteca, e ele teria paciência para ouvi-la.


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N.A. A música cantada por Bellatrix, Rodolpho e Danna chama-se "Meu galinho", é uma cantiga infantil (que eu cantava quando criança XD).