Thursday, December 29, 2005
Entre mortos e feridos, salvaram-se todos!
Do diário de Louise StormO dia do show chegou. Fui arrancada da cama cedo por Brendan, que saltava por cima de mim, pisando nas minhas pernas e dizendo que tínhamos que chegar antes lá ou pegaríamos a ultima fileira do show. Apesar de achar que ele estava exagerando um pouco, me levantei e fui tomar meu banho.
Já estavam todos na cozinha quando desci pra tomar café. O único que não estava lá era George, que não iria ao show. Ele não gostava do grupo e tinha programado sair com os amigos trouxas da cidade. Susan dormia sobre os braços na mesa e Julian terminava de abastecer uma enorme mochila com dezenas de sanduíches que vovó ia embalando, enquanto Brendan enchia garrafas com água e usava uma camisa da banda pra lá de chamativa. Quando deu 9hs da manha, saímos de casa.
Ao chegarmos ao Hyde Park, local onde seria o show, uma fila imensa podia ser vista do lado de fora dele. Barracas de camping, cadeiras de praia e juro que até churrasqueiras portáteis estavam espalhadas por toda a extensão da calçada que circulava o parque. Procuramos o final da fila, já quase saindo do bairro e sentamos no chão. Encontrei Monn no caminho, sentada dentro de uma barraca cor de rosa com Agatha. Elas carregavam um monte de tralhas e pareciam empolgadas. Chelsea nos encontrou uma hora depois, trazendo vários binóculos nos braços.
Por volta das 15hs os portões do Hyde Park foram abertos e foi ai que a confusão começou. As pessoas, na ânsia de entrar depressa e grudar as caras na grade em frente ao palco, começaram a correr e empurrar uns aos outros, querendo passar a frente. Levei uns 15 empurrões, fora as inúmeras cotoveladas enquanto tentava entrar. Brendan agarrou meu braço e o de Susan e foi nos rebocando portão adentro, enquanto nos guiávamos pela cabeça de Julian e Chelsea, ambos altos, para não nos perdermos na multidão. Quando as pessoas atingiram o gramado do parque, começaram a correr desesperadamente em direção ao palco. De longe avistei Monn e Agatha passarem como cometas, berrando enlouquecidamente e indo na direção à área vip enquanto tentavam arrastar um enorme baú de aparência pesada. Elas pareciam duas loucas, trajadas a caráter, com cabelos coloridos e roupas e faixas do The Wonders. Naquele momento me senti normal ao lado de Brendan e sua camisa extravagante da banda.
Susan até sugeriu corrermos também, mas de que adiantava? Mais da metade do gramado do parque já estava tomado pela multidão que acampou na fila. Sem esperanças de ficar a menos de 1 km de distancia da banda, nos acomodamos pela parte de trás, junto com os demais que haviam chegado essa manha. As 20hs as luzes do parque foram apagadas, indicando que o show estava prestes a começar, e o povo começou a gritar. Meninas chorando e berrando até ficarem sem voz e garotos tentando controla-las em vão. Hora ou outra passava um segurança carregando uma desmaiada no colo e largava no ambulatório.
Quando era exatamente 21hs, as luzes do palco acenderam e as cortinas abriram, permitindo que os The Wonders entrassem. Ou pelo menos eram o que os gritos e assobios deveriam estar indicando. De onde estávamos não dava pra ver absolutamente nada, a não ser o topo da cabeça deles. O som ao menos era nítido, o que já valia a ida e o transtorno ate ali.
JS: Paguei mais de 50 libras pra ver o cabelo do Guy Patterson??
CH: Ah não reclama, foi pra isso que trouxe os binóculos, toma!
LS: Não é tão ruim aqui, ao menos não estamos sendo amassados.
BS: Fácil pra você falar, já que esta montada no meu ombro! Quanto você ta pesando??
LS: Prefiro não responder, ainda estou carregando os quilos do natal...
Brendan me pôs no chão e levantou Susan, que estava sentada na grama cansada de não ver nada alem da iluminação do palco. O show já estava na metade quando o vocalista, James, simplesmente desapareceu. Só ouvíamos a voz dele, mas nada de ver o cara. Foi quando eu percebi que a área vip ficava um pouco próximo de onde estávamos e nela continha um palco extra. Foi tudo muito rápido: James surgiu naquele minúsculo palco para tocar para a platéia mais afortunada, uma massa veio correndo na nossa direção, Julian se desequilibrou e derrubou Susan, alguém me deu uma cotovelada no rosto e ao cair, agarrei o braço de Brendan. Saímos rolando na pequena inclinação que tinha no parque entre os milhares de pés que corriam e pisavam ameaçadores na grama, quase esmagando nossas cabeças. Chelsea ficou parada agarrada na arvore, sem saber pra onde ir. Julian conseguiu levantar do meio da multidão trazendo Susan pela gola da camisa e agarrou-a pelo braço, arrastando até a parte mais afastada, onde eu jazia ao lado de Brendan.
Brendan levantou do chão todo amassado, limpando a terra da roupa e me ajudando a levantar. Meu cabelo estava cheio de grama e meu nariz sangrava. O infeliz que me acertou em cheio no mínimo tinha deslocado ele, pois doía demais! Chelsea tirou um lenço de dentro da bolsa e me deu para ajudar a estancar o sangue. Maldito James Mattingly II, porque tinha que vir pra cá??? Mais uma vez não víamos nada, a não ser por uma cabeleira loira descontrolada no palco, agarrando o infeliz do vocalista, mas não dava pra ver quem era e pouco me importava àquela altura do campeonato.
Passamos o resto do show lá atrás, o mais longe possível dos palcos, cantando já sem empolgação. Dos cinco binóculos de Chelsea, apenas um estava inteiro. Os outros quatro estavam estraçalhados no chão depois de serem pisoteados pelas fãs histéricas. Já passava das 23hs quando o show acabou e esperamos aquela massa de gente deixar o parque para sairmos. Meu nariz ainda sangrava e a camisa de Brendan além de terra, tinha manchas de sangue também. Susan resmungava que odeia tumulto e que nunca mais sai conosco pra esses eventos e Julian e Chelsea vinham fechando o cortejo dizendo que apesar do sufoco, até que foi divertido. Ta que eu to com o nariz do tamanho de uma batata e nem posso usar magia pra consertar ele porque não sei o feitiço certo, mas tenho que admitir que foi mesmo engraçado. Valeu a pena vir, melhor do que ficar em casa engordando de tanto comer. Afinal, programas de índio também fazem parte da vida...