Friday, December 23, 2005
Os dois lados da moeda
Do diário de Igor Kanne Kargo Montte, era esse o nome do homem que havia se apresentado pra mim. Ele é do tipo de pessoa que se vestia de uma maneira toda engraçada. Botas longas e escuras, um cachecol todo colorido pendurado em seu pescoço, dentes amarelados e tinha a aparência de ter em volta de uns 28 anos. Baixinho, magro, e usando um chapéu preto, como o daqueles burgueses que vão a festas em castelos. Fiquei intrigado com a maneira que ele me encarava, fitando meus olhos, como se esperasse uma reação minha, do tipo, estrondosa.
- Achei que teria de esperar mais um ano pela sua vinda. Mas isso não seria problema, esperei tantos, não é mesmo?! (Disse ele, dando algumas risadas e com o tom de voz irônico).
- Olha Kargo, é isso mesmo teu nome, certo? Pois bem, eu não sei bem do que você está falando, sobre sua espera, e o que estou fazendo aqui. Na verdade agi por impulso, era como se eu tivesse mesmo que vir parar aqui. Mas nem sei onde estou, não sei como uma carta de baralho pôde fazer tudo isso. E agora tô aqui, vendo você me encarando, como se esperasse respostas minhas, e olho pra trás de você, e vejo um monte de gente, com corujas voando pra todos os lados, varinhas, caldeirões. Afinal, o que é isso?!
- Calma Sr. Kanne, deixe que eu te explique tudo. Você está no Beco Diagonal. Bruxos de todas as partes do Mundo vem aqui para fazer compras de materiais, vestes, varinhas, etc. Para começar mais um ano letivo em sua escola. Você está aqui para o mesmo...
- Desculpa te intrometer no meio de sua fala, Sr. Montte. Mas você disse Bruxos?
- Façamos o seguinte, me acompanhe até aquela sorveteria, sentaremos em uma mesa e te explicarei tudo. (Falou Kargo dando mais algumas risadas e depois cochichou baixinho): - Bem que Dumbledore disse que eu teria que entrar em muitos detalhes para esse garoto!
- O que você disse?
- Ah, nada! Venha comigo até a Sorveteria Florean, sentaremos em uma mesa e discutiremos tudo!
Sentamos em uma das mesas que tinha na sorveteria. Pude ver muitas crianças, jovens e até adultos. Alguns a família estava toda empolgada, em conjunto. Outros pareciam desanimados com a idéia de já irem comprar seus materiais escolares.
Kargo começou a me explicar tudo. Disse-me que meus pais foram Bruxos também. Estudaram em Hogwarts à muito tempo, e sempre seguiram as regras perfeitamente. Mas que algo saiu diferente, eu nasci e eles voltaram ao dia a dia deles, no mundo dos humanos. Que no caso, Kargo me explicara que são chamados de trouxas. Kargo voltou a me dizer que não sabe bem o motivo, pois Dumbledore não havia explicado-o. Mas meus pais sempre evitaram meu contato com o Mundo dos Bruxos. Impedindo que eu soubesse sobre o passado deles, e que eu freqüentasse Hogwarts. Só que todos os anos, desde os meus 11 anos de idade, chegavam cartas, vindo de corujas, onde se endereçavam para mim. Me chamando para entrar no colégio. Mas meus pais sempre recusavam e escondiam os convites de mim. E isso foi ficando mais sério. Dumbledore dizia nas cartas, que eu devia ir para Hogwarts. Eu não podia fugir do destino que havia sido imposto para mim. Ele dizia entender o medo dos meus pais, que até agora, na verdade eu mesmo não entendo. Mas Dumbledore dizia, que mais cedo ou mais tarde, um dos lados iriam vir me buscar, seja o mal, ou o bem. E ele queria que a escolha fosse minha, simples e pura, para que eu seguisse os padrões e regras de Hogwarts e decidisse qual rumo tomaria para minha vida.
As coisas voltaram a rodar dentro da minha cabeça. Kargo Montte ia falando, e eu ficava cada vez mais confuso. Mas pelo que pude compreender, era como se eu tivesse nascido, com algo, que fosse me direcionar para o lado mal. Era como se esse fosse meu destino, mas que eu poderia mudá-lo. E acredito que foi isso que minha mãe tentou me dizer, antes de partir. Que eu posso ter a vida direcionada à um caminho, mas que se eu quiser, posso seguir qual for o melhor deles. Só tenho medo de não saber o melhor...
Kargo Montte também me explicou que os alunos costumam se ingressar em Hogwarts e fazer desde o primeiro ano, até o sétimo, que é o último deles. Mas que os professores do colégio discutiram algumas vezes entre eles, e chegaram na conclusão de que eu deveria entrar direto no quinto ano. Já que minha idade já era de 16 anos, e que eu podia, se estudasse bastante, alcançar as metas de um aluno desse ano. Kargo falou que eu não podia começar desde o primeiro ano, que eu já precisava me preparar com feitiços e aprendizados mais fortes, para que na hora certa, eu estivesse pronto. Mas estivesse pronto pra o que?!! Eu não conseguia entender...
- Creio que você possa não ter entendido muitas das coisas que te falei. Mas estamos aqui, para que possamos comprar seus materiais escolares. Tudo que você irá precisar para seu ano letivo. Daqui iremos partir para Hogwarts. O colégio está meio vazio nesse período do ano, mas você poderá encontrar alguns dos poucos alunos que ficaram no colégio mesmo. Como você não tem para onde ir, decidimos que você deverá ficar lá até o início das aulas, e nesse período os professores arranjaram algo para você fazer. Creio que deverá ter algum teste extra perto do início das aulas, e assim, se você estudar bastante nas férias, pode se sair bem, e entrar facilmente no quinto ano.
- Deixa eu ver se entendi. Irei para Hogwarts hoje ainda, estudarei as férias todas, e um pouco antes das aulas eu farei um teste, para saber se entrarei ou não para o quinto ano?
- Isso mesmo!
- Tá maluco? Vou passar as férias estudando?
- Ué, e o que você queria Sr. Kanne? Entrar já no quinto ano, sem experiência alguma? Assim, de bandeja?
- Não! Não é isso! Eu queria poder entender o que está acontecendo! Parece que nada faz sentido pra mim!!
- Calma, calma! Você está estressado agora. Faz assim, fique aqui sentado na sorveteria, que irei comprar todos seus materiais escolares. Quando eu voltar, iremos partir para Hogwarts, ok?
Passado algum tempo, Kargo voltou, carregando consigo uma grande sacola, cheio de objetos dentro. O primeiro deles que ele me entregou foi uma varinha. Ele disse que aquela já estava guardada pra mim. Novamente não consegui entender nada, mas fiquei observando-a. Ela era bem rígida e de cor avermelhada. Achei bastante bonita. Logo depois, Kargo foi me colocando um grande paletó, que parecia mais um vestido, em mim. Guardei minha varinha no bolso da frente e fui acompanhando-o pela rua, como ele me pediu.
- Pronto, aqui estamos! Engraçado é que só tínhamos como meio de transporte agora, essa invenção dos trouxas, o carro. Mas acho que dá pro gasto. Entre, fique à vontade. Eu ficarei por aqui mesmo.
- Eu irei sozinho?
- Não, lógico que não Sr. Kanne. Um de seus professores, o William Stroke está dentro do carro. Ele irá te acompanhar até Hogwarts e te proteger caso precise.
- Me proteger?
- Ande logo Sr. Kanne, eles estão à sua espera. Eu preciso fazer mais algumas coisas aqui no Beco Diagonal. Foi um prazer te conhecer! Espero que você se saia bem nos testes.
O carro era todo preto, com os vidros também bem escuros. Abri a porta, sentei-me no banco de trás e de meu lado estava meu professor que já foi logo se apresentando:
- Creio que seja Igor Kanne, estou certo? Deixe que me apresente. Sou William Stroke, seu professor de Defesa Contra as Artes das Trevas.
- Prazer Sr. Stroke. Mas posso te perguntar uma coisa? Por quê você veio me buscar?
- Bom, eu sou o único professor dessa finalidade. Ou melhor, acho que seria o que melhor poderia te proteger caso você tenha outro ataque dos Comensais da Morte.
- Outro ataque?
- Eles estão atrás de você Igor. Mas agora vamos parar de perguntas, descanse que logo logo você já estará em Hogwarts.
Tive a sensação de um frio estranho na barriga. Tudo rodando e rodando de novo dentro de minha cabeça. Toda vez que eu achava que minhas dúvidas poderiam ser respondidas, mais e mais eu ia ficando sem entender. Por quê esses Comensais estavam atrás de mim? Por quê toda essa proteção?
Devagar fui ficando sonolento, até cair em sono. As horas passaram voando, e só me dei conta disso quando senti o Sr. Stroke me cutucando e dizendo que chegamos em Hogwarts.
Saí do carro, ergui a cabeça, e vi, de perto, um castelo que não consigo nem descrever ainda aqui nesse diário. Era incrível, perfeito, imenso. Seria o início de uma nova vida para mim? Ou os dois lados de uma moeda, entre o bem e o mal?