Thursday, December 22, 2005

A passagem para minha nova vida


Do diário de Igor Kanne

Confesso que não sabia se estava para fazer a coisa certa. Apenas uma carta, e rasgando-a eu podia descobrir todo meu mistério, meus segredos e de toda minha família. Mas assim, tão fácil? Não podia ser algo real, mas acredito que não tinha mais nada a perder, mas nada a duvidar, e também mais nada o que viver nesse Mundo que parecia que já não me pertencia mais...

Pois bem, o início de toda essas minhas dúvidas surgiu com a morte de meu pai, e o sumiço ou fuga, de minha mãe. Meus pais sempre foram bastante misteriosos, cada dia com um segredo a mais. E desde que completei 11 anos de idade, eu podia sentir a cada véspera de aniversário, que algo estava à minha procura. E a cada ano que se passava eu sentia mais e mais meus pais rondando em volta de mim, como se quisesse me proteger de algo. Algo que nunca pude entender até então.

Era uma noite comum, talvez não tão comum, por no próximo dia ser mais um de meus aniversários, dessa vez o meu décimo sexto ano de vida. Eu voltava tarde da rua, tinha dado uns roles por aí, estava bem pensativo sobre muitas coisas que eu estava sentindo. Umas sensações que eu não conseguia explicar. Voltei tarde, já era mais de 23 hrs. Entrando em casa já pude ver o desespero do meu pai, que veio brigando comigo, me dizendo para nunca mais fazer isso. Eu sem entender nada, pois sempre costumava andar de noite pela rua, fiquei bastante espantado com a reação dele. De repente entre berros, xingamentos e raiva, recebi um soco na cara que me fez cair no chão. Nunca olhei meu pai com tanta mágoa como naquele momento, e me arrependo até agora disso, que minha última visão dele fosse assim. Algo que não posso mais mudar aqui dentro, entende? Mas fazer o quê? A vida me pegou de surpresa de uma maneira que eu nem conseguia entender. Dessa mesma maneira, com o sangue escorrendo pelo canto da minha boca, corri para o meu quarto, no andar de cima da casa, e me tranquei por lá mesmo.

Eu chorava deitado na minha cama, e em meu travesseiro foi se fazendo uma mistura de lágrimas e sangue, o cheiro começava a invadir meu quarto, não me lembrava daquele cheiro a bastante tempo. E com muita raiva tomando meu corpo, que já estava pesado e bastante cansado, fiz uma promessa à mim mesmo: Eu nunca choraria por mais ninguém, e se fosse assim, seria apenas uma lágrima que representaria toda dor guardada dentro de mim.

De repente ouço gritos da minha mãe, vindo do andar de baixo da casa, e a porta de entrada da mesma se bate. Corri para janela, bem cansado e pude ver meu pai no jardim, tirando algo do bolso de seu paletó. Não conseguia entender o que estava vendo, parecia uma varinha. Mas o que meu pai estaria fazendo com uma coisa daquelas na mão? O tempo mudou de uma vez, começando uma chuva com bastante trovões. A janela do meu quarto começava a embaçar, acontecia tudo tão rápido que me deixava cada vez mais confuso. Vi então se aproximando do meu pai, três pessoas que vestiam trajes negros, com capuz. E só pude ouvir minha mãe gritando outra vez:

- Comensais da Morte!!

O que ela poderia estar querendo dizer com aquilo tudo? Eu não conseguia entender. Meu pai apontou a varinha na direção das pessoas encapuzadas, e só pude ver uma luz surgindo lá embaixo e meu pai caindo no chão, imóvel. Gritos e mais gritos vinham de minha mãe, que parecia chorar desesperada e gritar ao mesmo tempo. Corri degraus abaixo, e fiquei de frente à minha mãe em total desespero. Ela me viu, e disse que a hora tinha chegado. E que se eles tivessem aceitado isso antes, talvez nada disso poderia estar acontecendo. Ela me pedia desculpas, e chorava. Desesperada ela tirou algo do bolso dela, e enquanto fazia isso, pude ver uma outra varinha caindo junto ao chão. Fiquei mais surpreso ainda, até que ela olhou bem nos meus olhos e me disse:

- Filho, você tem de nos desculpar. Pegue esse colar, coloque em seu pescoço e nunca o tire. Ele vai te guiar para o seu caminho. Por favor, aja o que houver, siga o que seu coração diz, e não seus medos e vozes que vão rondar sua cabeça. Você pode acreditar que deve seguir um caminho imposto pela sua vida, mas você tem que entender que não é obrigado a segui-lo, você quem controla sua vida, e assim, será. Agora vá, eu te amo muito, seu pai também amava-o. Mas agora é tarde para dizer isso. Corra Igor! Corra! Não deixe que eles o alcance-o. Siga as vibrações do anel pendurado na corrente, você vai saber o que deve fazer!

Minha mãe disse isso, colocou o colar de prata em meu pescoço, e correu para fora de casa, fechando a porta. Essa foi a última imagem que vi de minha mãe, frente a frente aos homens encapuzados, e próximo ao corpo de meu pai que se encontrava no chão do jardim.

Colocado o colar de prata e o anel que ficava pendurado nele, logo senti uma vibração inexplicável. O anel começou a flutuar, como se puxasse a corrente e meu corpo para uma direção. E foi o que fiz, segui a direção imposta por ele. Correndo para os fundos da casa, achei uma abertura por debaixo do carpete, abrindo-a, pude ver um baú. Eu não sabia como iria abri-lo, mas logo que cheguei próximo, uma faísca saiu do anel, e o baú se abriu. Como se esperasse isso de mim.
Eu ouvia a chuva aumentar mais ainda, os trovões caiam fortes lá por fora da casa, e pude ouvir minha mãe gritar mais algumas coisas, e luzes piscarem por toda parte. Dentro do baú comecei a ver que tinham várias cartas enviadas de um lugar chamado Hogwarts. Folheei todas elas rapidamente, e eu via mensagens escritas, como se dissesse que minha hora tinha chegado, que eu devia seguir meu caminho. Que lá, eles me protegeriam e fariam de mim a minha escolha certa. Outras cartas diziam que meus pais podiam querer evitar meu contato com a bruxaria, mas que em um momento, os Comensais viriam me buscar, para seguir ou o lado do bem, ou o do mal, como nasci para seguir.

Eu ia lendo cartas e mais cartas, cada vez entendendo menos. Mas parecia que eu podia entender que meus pais evitavam que eu soubesse de algo, e que a muito tempo eu fora chamado para ir para um lugar, Hogwarts, onde eu viveria e aprenderia o que deveria ser aprendido. Mas era como se dissessem que eu nasci para seguir um lado, que meus pais não queriam aceitar.
Abri outra carta, parecia ser a última enviada, e nela dizia em um trecho:

“ Mais cedo ou mais tarde um dos lados irão buscar teu filho, e vocês sabem que aqui em Hogwarts ele poderá ter a proteção e o auxílio para ele escolher que lado ele queira realmente seguir. Deixe essa oportunidade para ele, e não se espante caso ele caia na Casa da Sonserina. Mas o verdadeiro coração de Igor o guiará para sua eterna escolha. Caso aceite o que peço, rasgue a carta de baralho que acompanha essa mensagem. Com isso, Igor irá parar no Beco Diagonal, e Kargo Montte estará em sua espera, para auxiliá-lo nas compras e na ida à Hogwarts. Ouça meu conselho, Sr. Kanne, você sabe que não poderá escondê-lo do Mundo para sempre.”
Dumbledore


Terminei de ler a carta, e pude ouvir a porta de minha casa bater muito forte. Quando olhei pra trás vi os três homens encapuzados de preto, se aproximando de mim. Aquilo foi me deixando nervoso e com muito frio. Só pude sentir de novo uma vibração estranha vindo do anel, que me puxava para perto da carta de baralho. Com impulso ou não, eu precisava acreditar naquele novo Mundo que me esperava, onde meus segredos poderiam enfim ser explicados. Rasguei à carta, e como em um passe de mágica, estava em um novo lugar...

- Bem vindo ao Beco Diagonal! Esperei por anos você aqui! Deixe que me apresente Sr. Igor Kanne. Sou Kargo Montte à suas ordens!