Sunday, December 18, 2005

Se meu armário falasse...

Do diário de Samantha Wood

- Sam! Você já arrumou suas malas para amanhã?
Sarah parecia muito mais agitada do que o normal e ficou me cercando enquanto eu terminava de abotoar o vestido e colocar os sapatos para o baile.
- Já...eu já respondi isso 5 vezes! A mala está embaixo da cama. Por que você está tão estressada? Isso tudo é nervosismo para o baile?
- Eu não estou estressada...só espero que ele não tenha claustrofobia – disse, como se estivesse falando consigo mesma.
- Quem tem claustrofobia?
- Ahh... eu não disse nada disso!
- Disse sim, Sarah! Você está muito esquisi...
- Hora de ir! – Sarah segurou meu braço e quase me empurrou escada a baixo. Eu mal conseguia acompanhar o ritmo dela com aqueles sapatos apertados e de salto tão fino que servia como estaca pra matar vampiro.
- Sarah...por Merlin! O que aconteceu com você hoje, hein?
- Nada! Eu já disse que estou bem! Uhnn...pode sair...
- Você está na frente, pode abrir a porta e...
- Não estou não – disse a garota, me dando um empurrão contra a porta do Salão comunal da Corvinal que abriu de repente, me fazendo dar com a cara no chão do corredor. Por alguns segundos, pensei ter quebrado o nariz.
- Sarah, sua maluca! O que deu em voc... – fui levantando, esfregando o nariz, mas parei de falar quando Yull e Lou surgiram na minha frente, com um sorriso diabólico no rosto. Minha primeira reação foi tentar entrar no Salão Comunal, mas era tarde demais. Sarah fechou a porta, despediu-se das meninas e foi correndo para o salão principal, enquanto eu me debatia, tentando evitar as duas. Yull agarrou minha perna, enquanto Lou imobilizou meus braços e as duas foram me arrastando pela escola.
- Louse Storm, você acabou de assinar seu atestado de óbito! Agora é sério, meninas, a brincadeira foi muito engraçada, mas vocês estão amassando meu vestido!
- Não é brincadeira, Sammy. Você vai agradecer a gente. – disse Yull, ainda me puxando pelos pés, enquanto eu tentava, inutilmente, dar uma joelhada nela.
- Eu...ai, eu bati com as costas no degrau!
- Se prepara que a escada vem aí – respondeu Lou com uma risadinha irônica
- Eu vou processar vocês! Cadê a segurança de Hogwarts? Eu estou sendo seqüestrada e nem um fantasma vem me socorrer...deixa, deixa, eu vou enviar uma carta pro ministério da Magia! Vocês vão passar 4 anos em Azkaban!
- Se você for boazinha e parar de se sacudir toda, nós te levamos para lá sem passar pelas escadas...
- Vocês tem 3 segundos para parar! 1...2... – antes que eu pudesse chegar no 3, já estava quicando escada a baixo. – Vocês vão ter que pagar a operação da minha coluna, suas loucas!
- Sam, acredite, nós somos suas amigas e só queremos seu bem. – disse Yull, largando minhas pernas. Lou me ajudou a levantar, mas as duas continuaram me cercando.
- Ah, não entendi a brincadeira, mas tudo bem, eu perdôo...
- Entra aí, Sam.
- Entrar onde? Nesse armário empoeirado? Acho que vocês estão com um pequeno problema cronológico. Estamos no Natal, 1° de abril já passou há muito temp...
Hoje não era o dia de completar as frases. Em uma fração de segundos, eu já estava esparramada no chão do armário. Só vi a sombra de Cott fechando a porta na minha cara. Levantei depressa e concentrei todas as minhas forças em um só objetivo: demolir a porta. Chutei, dei socos, pontapés e quando lembrei que era bruxa e coloquei a mão nas vestes para pegar a varinha, Yull anunciou:
- Sam, nós pegamos a sua varinha. Tem comida aí dentro...bem, divirtam-se!
- Yull!! Louise! Por favor!! Eu vou derrubar essa porta!!! Eu vou gritar a noite inteira até alguém aparecer e vocês vão ficar em detenção até virarem fantasmas! Eu vou...
- ...bufar e bufar até a porta ir pelos ares, lobo mau? – ouvi uma voz conhecida atrás de mim e fui virando lentamente, esperando um louco com uma serra elétrica me atacar, como em um filme de terror trouxa, mas um par de olhos verdes e um sorriso maroto me encaravam no meio da escuridão do armário.
- JOSH?! O que ...o que você está fazendo aqui???
- Não faço idéia. Essas suas amigas malucas me jogaram aqui há uma meia hora...eu já me convenci de que não vai adiantar nada empurrarmos a porta. Ela foi enfeitiçada. Bom, pelo menos não estou mais sozinho. – completou, sorrindo.
Infelizmente, tudo o que eu mais queria no momento era estar sozinha. O armário até conservava o cheiro de incenso da minha época zen...eu poderia fazer uns exercícios de ioga e tudo ficaria bem! Por que o Josh tinha que estar ali? Claro, fazia parte do plano maléfico delas. Peguei um pão da cestinha e, sem perceber, comecei a triturar com as mãos e a atirar pedacinhos por todo lado.
- Eu não acredito...elas vão me pagar. Isso foi desonesto e...vil! Não é possível que ninguém esteja nos ouvindo e...
Josh ia desviando dos pedacinhos de pão, enquanto eu andava de um lado para outro do armário e ele tentava me acalmar, mas quando eu segurei a garrafa de suco de laranja, o menino se jogou no chão em posição de defesa.
- Sammy, eu acho que você está um pouquinho...uhnn...descontrolada demais...
Voltei a atenção para ele com um olhar fulminante e agarrei o salame da cestinha, apontado pra ele como uma espada.
- SE VOCÊ NÃO QUER AJUDAR, NÃO ATRAPALHA! TUDO ISSO É POR SUA CAUSA!
- ...mas, Sammy...o que eu fiz??
- VOCÊ NASCEU E CONHECEU MEU IRMÃO! ELE NUNCA DEVIA TER CHEGADO PERTO DE VOCÊ! EU SEMPRE SOUBE QUE...
- Você está muito nervosa...
- QUEM ESTÁ NERVOSA AQUI?! EU ESTOU BEM!
- Olha...tem suco de maracujá ali na cestinha...
Dirigi um olhar assassino para ele e agarrei o vidro de Ketchup, fazendo uma linha vermelha no chão, dividindo o armário em dois.
- Esse é o seu lado do armário. Esse é o meu. Ninguém ultrapassa, todos ficam felizes e amanhã nos unimos para degolar aquelas infelizes.
- Sam, para que isso?
- SHHH! É proibido falar, cantar ou emitir qualquer espécie de som até amanhã de manhã.
- Sam...
Percebendo que ele não ia desistir de me irritar mais do que eu já estava e diante da falta que a minha varinha fazia, voltei as minhas viagens de infância e lembrei de uma coisa que eu seeempre fazia para irritar o Drake.
- A árvore da montanha o-lê-iá-ô, a árvore da montanha o-lê-iá-ô. Nessa árvore...
Comecei a cantar. Considerando a cara do Josh, que estava bem próxima de alguém sob o efeito da maldição Cruciatus, ele ia pensar duas vezes antes de abrir a boca mais uma vez.
- Isso é ridículo! Vamos conversar e...
- ...um galho, aiaiai que belo galho, aiaiai que amor de galhoooo...
- ...resolver logo isso. Eu ainda não entendi porque você não quer conversar comigo...
- ...o galho da árvore, a arvore da montanha o-lê-iá-ô...
-...nós sempre fomos como irmãos, não entendo isso agora.
Ahh, ele tinha atingido meu ponto fraco. Era hora de tomar medidas drásticas.
- Um hipogrifo incomoda muita gente, dois hipogrifos incomodam, incomodam muito maaaaais...
Josh lançou um último olhar e balbuciou algumas coisas antes de sacudir e abaixar a cabeça. Perdi as contas de quantas horas eu fiquei cantando, mas deu tempo dele comer 5 sanduíches, 2 pacotes de bolachas e alguns sapos de chocolate.
- 999 hipogrifos incomodam muita gente, 1000 hipogrifos incomodam, incomodam, incomodam, incomodam...
- SAMANTHA, PELO AMOR DE MERLIN!
Fiquei tão estarrecida com o “Samantha” que perdi a conta dos hipogrifos.
- Você...me chamou do quê?
- Samantha! Até onde me consta, esse é o seu nome.
- Idem, mas eu achei você pensasse que fosse Sammy ou Samizita, Irmãzinha, Guti.guti ou algo do gênero.
- Eu só quero paz antes que meus ouvidos explodam. Nós já estamos aqui há 4 horas e eu ainda não entendi porque você está tão irritada. Foram as suas amigas retardadas que me arrastaram até aqui e me jogaram nesse armário imundo! Eu tenho todos os motivos do mundo para ficar nervoso!
- A culpa de tudo isso é sua e você é tão tapado que ainda não percebeu! – gritei com ele, levantando e pegando o salame de novo. Acho que ele ficou tão traumatizado que deu um salto e tentou me desarmar. – Fica do seu lado do Ketchup, Josh!
- Não! Agora a gente vai conversar e se você está revoltada comigo por alguma coisa, quero que você me diga agora, porque eu não lembro de ter te feito nada nessa e nem nas minhas vidas passadas! Sempre te tratei com o maior carinho. Você é a irmã do meu melhor amigo e eu te considero...
Se ele não tivesse bons reflexos graças ao quadribol, agora teríamos um cadáver no armário. Comecei a atirar todos os objetos que estavam ao alcance das minhas mãos. Ele tentava, inutilmente, se desviar.
- Isso, é por você me tratar como sua irmã caçula de 4 anos de idade! – um sapo de chocolate saiu voando pelo armário.
- Isso é por você nunca ter olhado minha certidão de nascimento para descobrir que eu tenho 16 anos! – foram as bolachas...
- Isso é por você não ter me convidado para esse maldito baile! – foi a jarra de suco de abóbora
Eu só não sabia se ele estava mais espantando com as revelações ou com minhas várias tentativas de cometer um assassinato, mas quando eu peguei o queijo do chão e estava pensando na minha próxima sentença bombástica, ele imobilizou meus braços e olhou sério pra mim.
- O queijo vai ser pelo quê? Por que eu nunca fiz isso?

Continua no próximo episódio...


Hehehe, levou um bom susto, né, diário enxerido? Mas eu não faria isso com você não...ele me beijou! Até agora eu ainda não sei se ele fez isso pra calar a minha boca e evitar a morte iminente ou porque ouviu sininhos ou algo assim.
De repente, a porta do armário fez um estalido e eu afastei ele com um empurrão forte, amaldiçoando o trasgo que veio abrir a porta justo agora. Do outro lado, apareceram Yull, Drake, Alex e Lou, com as caras mais lavadas do mundo, encarando a criatura descabelada que ainda apertava um queijo na mão...eu! Virei para Josh e ele sorriu pra mim, parecendo ter entendido o porquê de estarmos trancados ( vai ser lerdo lá na China...ou eu tenho um péssimo gosto, ou todos os homens são umas topeiras). Corri em direção as meninas, ainda pensando em qual maldição usaria, mas no fundo, beeem no fundo mesmo...beeeeem no fundo meeeesmo, eu até desculpava aquelas idiotas por terem me deixado perder o baile e me obrigado a passar a noite inteira trancada em um armário sujo contando hipogrifos. No fim, até que valeu a pena...e muito! Mas elas vão ouvir!! Quem sabe depois...não sei o porquê, mas eu estou me sentindo muito bem agora. Deve ser o tal espírito natalino...