Thursday, December 22, 2005

Um segurança incomoda muita gente, dois seguranças incomodam, incomodam muito mais...

Do diário de Scott Foutley

Férias, o sonho de todos os alunos durante o ano. Tempo em que a gente se diverte em casa, fazendo o que bem entender... Ao menos é isso que as férias das minhas amigas devem significar, porque as minhas estão longe dessa definição!

Já estávamos chegando ao fim da 1ª semana do recesso de natal e eu ainda não havia posto os pés pra fora dos terrenos da mansão. Minha irmã também estava enclausurada aqui e tudo porque papai estava surtando com os ataques em Hogwarts e com outros que andaram acontecendo pelas ruas, nos proibindo de sair para nossa própria segurança. Acontece que nem ele nem mamãe estavam em casa para ao menos conversarmos. Papai fazia três aparições diárias: uma para o café da manha, outra para o almoço e a ultima no jantar, e se limitava a dizer “Está um caos no Ministério, preciso me aposentar” em todas elas. Já mamãe estava viajando, trabalhando enlouquecidamente para organizar um show dos The Wonders 11 anos depois da separação deles. Pelo que ela me dizia nas cartas, seria um único show na Inglaterra e estava deixando ela de cabelos brancos. Então era somente eu, Megan, os trocentos empregados e os seguranças.

Naquela tarde, véspera da véspera de Natal, papai talvez contagiado pelo espírito natalino, nos autorizou a sair e comprarmos os presentes que estavam faltando para os parentes que chegariam na noite seguinte. O único problema é que não saímos sozinhos, tivemos a intragável companhia de seus seguranças... As sombras não davam descanso, seguiam cada passo meu e da minha irmã, não dando espaço nem para abrirmos os braços.

Megan andava reclamando que precisava comprar uns sapatos de uma loja trouxa e persuadimos as malas a atravessarem a barreira para o lado de lá conosco. A loja era imensa, um verdadeiro mundo onde se vendia do lápis ao mais sofisticado conjunto de vestes. Os olhos de Megan chegavam a brilhar vendo tanta coisa e ela tentava encontrar um jeito de enfiar tudo em seu quarto.

MF: Ai Cott, olha esse sapato! Eu preciso comprá-lo!
SF: Megan, você já viu o preço disso? Dá pra comprar milhões de sapatos mais baratos...
MF: Ora não me amola, papai nos deve essa, ele nem parou em casa ainda desde que chegamos!
SF: Isso é chantagem, quase uma exploração!
MF: Então explore-o também, olha aquele aparelho de som que lindo! Tocaria seus discos da Cher tão bem...

Olhei para a aparelhagem de som e meus olhos atingiram o brilho dos de Megan e seus sapatos. Passei a mão na etiqueta e cheguei a me arrepiar com o preço, mas quer saber? Papai não nos deu mais que 3 minutos de atenção desde que voltamos e já têm cinco dias que estamos largados as moscas em casa! Apontei o aparelho para um dos seguranças e ordenei que carregassem ate o caixa, pois eu ia levar. Megan levantou com os braços cheios de sapatos e bolsas e largou na mão do outro, sorridente.

Os seguranças botaram as coisas num canto e colaram na gente outra vez. Aquilo já estava me incomodando, será que nos seguiriam até no banheiro?? Comecei a olhar ao redor, tentando encontrar um meio de sair dali sem ser visto. Havia uma porta aberta não muito longe, bastava uma corrida sem olhar para trás. Olhei para os seguranças. Eles estavam distraídos rindo de um gibi na prateleira. Megan estava olhando um vestido de preço astronômico. Agarrei o braço dela e sai rebocando minha irmã em direção a porta. Assim que entendeu o que eu pretendia, largou o vestido em cima de uma vendedora e correu.

Estávamos na rua, ar livre e barulho, e sem as sombras. Havia uma lanchonete logo à frente e atravessamos a rua caminhando direto para ela. Estávamos famintos e aproveitamos a folga para almoçarmos porcarias. Dali fomos direto a um parque de diversões trouxa instalado no parque principal da cidade. Eram filas gigantescas e dezenas de trouxas de todos os estilos andando de um lado para o outro ignorando o frio em busca de um pouco de diversão. Deixei Megan na fila de um que parecia interessante e sumi, voltando minutos depois com dois enormes algodoes doces para nos mantermos ocupados enquanto esperávamos.

Chegou a nossa vez e entramos em um carrinho que parecia um ovo colorido coberto só pela metade. Uma barra de ferro nos prendeu e começamos a nos preocupar. Pra que tanta segurança? Havia alguma possibilidade daquilo sair do chão?? Mas não deu tempo de colher essa informação com o monitor, pois o infeliz apertou um botão verde na maquina e o troço começou a girar descontroladamente enquanto corria de um lado para o outro. Em meio aos gritos eu via meu algodão doce balançar como uma borracha na minha mão ate escapar e sair voando, indo parar na cara de uma garota no ovo vizinho. Megan puxava os cabelos em desespero, desejando não ter comido aquele hambúrguer gorduroso e eu desejava mais do que tudo que ela mantivesse o dito cujo no estômago pelo máximo de tempo que desse!

- Aperta o botão vermelho seu infeliz! – Eu berrava em vão para o monitor com um sorrisinho imbecil na cara, se divertindo com as cabeças batendo dentro dos carrinhos.

Já estava achando que o ovo sairia de órbita quando aquele brinquedo dos infernos parou de girar. Descemos tristes dele, Megan arrastando seu algodão doce avariado pelo chão quase chorando. Parei em frente à entrada dele e foi ai que li a placa.

MF: Twister... É me senti dentro de um...
SF: Quer ir a outro brinquedo?
MF: Se for o carrossel eu quero...
SF: Vamos à roda gigante, não tem muita emoção.

Sentei com minha irmã na cesta gigante da roda e logo começamos a subir lentamente. Dava pra ver quase toda a cidade de Gotland lá do alto. E também dava pra ver os seguranças de papai entrando em pânico na rua procurando por nós dois. Depois de uma volta que pareceu interminável, saímos daquele troço sonolento. Atravessava o parque com Megan quando senti uma mão bater no meu ombro e duas enormes sombras brotarem na nossa frente.

Os seguranças saíram nos arrastando do parque pela gola das camisas e murmurando algo como “coleiras” e “bolas de ferro”. Fomos praticamente atirados dentro do carro, em meio a todas aquelas sacolas que trouxemos da loja de departamentos trouxa. A revolta maior dos trogloditas era que eles não poderiam contar ao papai que fugimos. O que o ministro diria ao saber que seus seguranças mais eficientes perderam seus filhos de 15 anos no meio da cidade lotada? Ainda resmungando muito, eles seguiram para o aeroporto conosco, onde iríamos buscar a mamãe que chegava hoje, para passar um agitado natal na casa dos Foutley...