Sunday, March 19, 2006

Efeito Borboleta

Do diário de Yulli Hakuna

- A lua de Saturno estava ligada com a constelação de Sagitário formando ângulos obtusos quanto à lua de Marte, e perpendiculares ao plano formado pela constelação de Capricórnio. A lua de Saturno estava ligada com a constelação de Marte formando ângulos obtusos quanto à lua de Capricórnio, e perpendiculares ao plano formado pela constelação de Sagitário. A lua de Capricórnio... Não, a lua de Marte... Merlin... A lua de Sagitário... AHH, CHEGA!

Estávamos no Salão Comunal por volta das oito horas da noite. Sam e Scott também estavam lá fazendo suas revisões conosco. Com a aproximação dos NOM’s, a euforia no castelo tornava-se motivo de revolta para os quintanistas. Revisões e mais revisões, deveres e mais deveres... Estava com a cara enfiada em um único parágrafo da página 105 do livro de adivinhações faziam pelo menos duas horas, mas nada do que era dito naquele pedaço de 3 linhas era absorvido pelo meu cérebro que já rodava com tantas informações...

SF: O que foi Yulli? Convulsão?
YH: Abstinência...
SF: Quer mais um livro de adivinhações aí? Peguei o estoque inteiro da biblioteca!
YH: Tira esses livros da minha frente ou... Eu preciso de uma festa agora ou entro em colapso!
SW: Você está doida? E as revisões? Os NOM’s estão chegando, esqueceu?
YH: Impossível de se esquecer se toda hora me fazem questão de lembrar deles... – Olhei com cara amarrada pra Sam que devolveu com um sorriso sem graça – Você anda sendo influenciada pela Sarah? Vamos ter uma festa agora ou eu vou ter que apelar para a Sala Precisa?

Nem precisei ser mais objetiva. Em pouco tempo, tínhamos um salão comunal abarrotado de estudantes empolgados. Estava sentada ouvindo uma música monótona tocar e os alunos se movimentarem na pista de dança, enquanto esperava a legião de alunos da Grifinória chegar.

Minha garganta estranha quando não te vejo
Me vem um desejo doido de gritar
Minha garganta arranha a tinta e os azulejos
Do teu quarto, da cozinha, da sala de estar
Minha garganta arranha a tinta e os azulejos
Do teu quarto, da cozinha, da sala de estar

Quando todos já estavam acomodados, as músicas mais agitadas começaram. Tiago me puxou até o meio da pista e conduzíamos aquele ritmo rápido das melodias. Uma grifinória do quinto ano dançava ali perto, e soltava risadinhas empolgadas para ele... Aquilo não me irritava mais! O que estava me deixando nervosa era ver que ele correspondia abertamente a elas mesmo dançando comigo...

YH: Pode ir dançar com ela se você quiser... Acho que faria o ano dela mais realizado!
TP: Quê? Não... Não quero nada com ela, Yull!
YH: Yulli, Y-ul-l-i... Não está parecendo que você não quer nada com ela... Poderia ao menos demonstrar suas verdadeiras vontades mais abertamente concorda?
TP: O que está acontecendo com você hein?
YH: Nada... Você!
TP: O que eu fiz?
YH: Só pelo fato de ter nascido, compreende?
TP: Nossa, vou pegar uma bebida para aliviar os nervos... Os NOM’s estão te deixando pirada!

Venho madrugada perturbar seu sono
Como um cão sem dono, me ponho a ladrar
Atravesso o travesseiro, te reviro pelo avesso
Tua cabeça enlouqueço, faço ela rodar
Atravesso o travesseiro, te reviro pelo avesso
Tua cabeça enlouqueço, faço ela rodar

Fui sentar irritada. Não sei o que estava acontecendo comigo, acho que estava irritada por não saber... O que me causava tanto motivo de nervos? Porque eu briguei com o Tiago mesmo sabendo que ele sempre foi desse mesmo jeito? Ele me encontrou e veio carregando dois copos grandes de cerveja amanteigada. Ofereceu um para mim e se sentou ao meu lado sem falar nada. As pessoas pareciam estar se divertindo e eu senti um amargo no estômago em pensar que nada estava adiantando para aumentar meu humor... Devia ter falado que precisava de um exílio para a Sibéria por um ano! A menina sentou-se perto de onde estávamos com uma amiga, mas fez questão de ficar bem na frente do Tiago e não parava de olhar um só minuto.

Segurei firme a mão dele e caminhei até ela olhando atravessado. A menina teve reação imediata, abaixou os olhos, riu nervosa e fingiu não estar prestando atenção. Continuei meu caminho em uma trajetória reta e sem interrupções.

Sei que não sou santa, às vezes vou na cara dura
Às vezes ajo com candura pra te conquistar
Mas não sou beata, me criei na rua,
E não mudo minha postura só pra te agradar...

YH: Oi, você, qual o seu nome?
NB: Najla Boulevard – disse indiferente enquanto sorria mais uma vez pra Tiago que retribuía com uma piscadinha...
YH: Najla, é o seguinte, vi seu extenso interesse pelo meu amigo aqui... Quer dançar com ele? Tenho certeza que Tiago adoraria... – a menina saiu do transe e me encarou surpresa, enquanto Tiago fingia uma tosse exagerada, quase lacrimejando...
TP: O... Como?
YH: Porque não vão dançar? A música está ótima!

Empurrei a menina pra cima dele. Ela pareceu se empolgar involuntariamente com a idéia, e antes que ele pudesse dizer algo, foi arrastado até a pista com ela.

Mas não sou beata, me criei na rua,
E não mudo minha postura só pra te agradar...

Sentei novamente, ainda mais irritada do que estava antes e fechei a cara vendo Tiago rodopiando a garota. Sam sentou-se ao meu lado sorrindo e acenando para Josh, que estava indo em direção às bebidas.

SW: Foi a melhor idéia que você já teve Yulli, a festa está realmente ótima, não está? Yull?
YH: Se você diz...
SW: O que foi? – ela percorreu a reta do meu olhar até chegar onde Tiago e a menina pulavam alegres no meio da pista e soltou um som de desaprovação... – porque você não vai lá e espanca ele? Pode bater por mim também, eu deixo!
YH: Quê? Não, eles parecem estar se divertindo...
SW: Sai dessa, quem tem que se divertir é você! Acaba com isso logo...
YH: É, vou acabar!

Levantei com um sorriso no rosto e fui até Brian Collin, um dos monitores da Corvinal que vez ou outra monitorava corredores comigo. Percebi que toda hora que olhava pra ele, ele estava me olhando com um sorriso estranho no rosto, e decidi ir chamar ele pra dançar. Brian se levantou rapidamente e me arrastou até a pista. As músicas lentas começaram a tocar. Olhei para os lados, Najla tinha seus dois grandes braços pegajosos de polvo em volta do Tiago, e este, lançava olhares nada agradáveis pros dois braços de Brian em volta da minha cintura me segurando mais perto dele. Coloquei meus braços em volta do seu pescoço e deixei me levar pelos passos leves do meu par.

Vim parar nessa cidade por conta das circunstâncias,
Sou assim desde criança, me criei meio sem lar,
Aprendi a me virar sozinha, e se eu to te dando linha é pra depois te abandonar...

A música rolava solta e eu só sentia ser guiada por alguém, quando fui separada desse alguém, um tanto quanto bruscamente. Tiago segurava a mão de Najla e empurrou ela para junto do Brian, então, me puxou pra junto dele e me beijou. Não sei o que aconteceu com ele, mas não tinha vontade de saber também. Me arrastou para o outro canto da pista e ficamos dançando colados por um longo tempo.

YH: Pensei que estivesse se divertindo com a menina...
TP: Ela é uma chata! Quando eu te falar que não quero nada com alguém, acredita, ok?
YH: Certo...
TP: Não gosto do Collin. Ele é o politicamente correto, sabe?
YH: É uma boa pessoa! Não devia ter empurrado a Najla pra cima dele!
TP: Eles vão se dar bem... Só queria te livrar dos papos chatos dele!
YH: Nem estávamos conversando! – Olhei atrevida para ele.
TP: Ok, queria dançar com você! Ela é realmente uma chata!
YH: Hum... Da próxima vez tento escolher uma mais legal!

Aprendi a me virar sozinha,
E se eu to te dando linha é pra depois te abandonar...

Quando o Salão Comunal esvaziou, Scott se levantou e foi seguido de Alice. Tiago se levantou e saiu com eles. Senti uma certa vontade de pedir pra ele ficar mais um pouco, mas conclui que era tudo sono e fui para o dormitório com Louise e Alex, as duas com caras que não enganavam ninguém. A festa havia funcionado como um verdadeiro catalisador de reações ou eu estava imaginando coisas?

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N.A: Música usada – Garganta, Ana Carolina.